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Clínica e Cirúrgica
2a edição
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA. i
ii © Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
Otorrinolaringologia
Clínica e Cirúrgica
2a edição
AROLDO MINITI
Professor Titular da Disciplina de Otorrinolaringologia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, FMUSP
OSSAMU BUTUGAN
Professor-Associado da Disciplina de Otorrinolaringologia
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, FMUSP
Miniti, Aroldo
Otorrinolaringologia: clínica e cirúrgica / Aroldo Miniti, Ricardo Ferreira Bento,
Ossamu Butugan. 2. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2000.
Vários colaboradores.
CDD-617-51
00-2643 NLM-WV
CHRISTIAN DEGUINE
Médico Otorrinolaringologista de Lille — França
IVAN MIZIARA
Médico Assistente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
MARCO ELIZABETSKY
Médico Assistente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
PRISCILA BOGAR
Médica Assistente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
ROLF GEMPERLI
Professor-Associado da Disciplina de Cirurgia Plástica e Queimados da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
SUNG HO JOO
Médico Assistente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
Chegamos ao século XXI e a Otorrinolaringologia, bem como demais áreas médicas e outras áreas
do conhecimento, vem tendo um enorme desenvolvimento advindo de novas técnicas obtidas com a
introdução da informática e da eletrônica. Novas drogas vêm sendo sintetizadas, estamos próximos
do domínio da genética que, sem dúvida, será a grande terceira onda da Medicina, assim como foi a
descoberta dos microorganismos como causadores de doenças no século XIX e dos antiinfecciosos no
século XX.
É com muita satisfação que lançamos a segunda edição, revisada e ampliada, do livro
Otorrinolaringologia Clínica e Cirúrgica, uma vez que a primeira se esgotou devido à grande procura,
principalmente nos bancos acadêmicos dos cursos de graduação, e pelos jovens que ingressavam na
especialidade. Esta é a razão deste livro básico, que tem o objetivo de introduzir a especialidade e
ser útil igualmente aos médicos de outras áreas que queiram obter conhecimentos em
Otorrinolaringologia.
Aroldo Miniti
Ossamu Butugan
Ricardo Ferreira Bento
Recebi a amável e agradável incumbência de prefaciar esta obra que reflete a experiência e a
didática de nossos distintos colegas de trabalho da nossa querida Clínica Otorrinolaringológica da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O convite estribou-se, naturalmente, no grau de estima e consideração dos companheiros e
grandes amigos da Clínica para com minha pessoa. Há algum tempo venho acompanhando o grande
interesse dos colegas no preparo dos capítulos que compõem este compêndio. Não foi fácil atingir esta
fase que representa praticamente o nível de maturidade dos conhecimentos adquiridos e necessários
para sua apresentação.
É fundamental encarecermos o grande esforço e o imenso trabalho dispensado para a execução
desta obra de grande utilidade de consulta.
Sua leitura será proveitosa aos alunos de graduação em medicina e áreas correlatas, médicos
residentes, médicos de outras especialidades e otorrinolaringologistas. Baseia-se em cursos
ministrados pelos autores na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, redigidos de
forma clara, didática, trazendo ensinamentos bastante atualizados. Representa mais uma obra que
muito beneficiará os que se dedicam ao estudo da otorrinolaringologia.
Os vários assuntos são tratados de maneira concisa, mas ao mesmo tempo abrangente, desde seus
fundamentos de anatomofisiologia, semiologia e de clínica a elementos de terapêutica clínica e
cirúrgica.
É motivo de júbilo podermos ver concretizar-se sob a forma de texto o dia-a-dia da nossa vida
universitária num hospital-escola, como o das Clínicas, em seu relacionamento constante médico-
paciente, professor-aluno.
Não há necessidade de enaltecermos o valor dos vários professores, sobejamente conhecidos, que
integram o corpo editorial deste livro, cujo sucesso será plenamente alcançado e que virá enriquecer
a literatura nacional sobre o assunto.
A Otorrinolaringologia, cada vez mais, se torna uma especialidade cujas fronteiras se alargam e
as áreas que abrange recebem um caráter multidisciplinar: o intercâmbio entre as especialidades afins,
como a Pediatria, Clínica-geral, Neurologia, Neurocirurgia, Cirurgia Plástica, Oftalmologia, entre
outras, é vital para melhor abordagem e tratamento das patologias desta área.
A Otorrinolaringologia dispõe, ainda, de outros profissionais envolvidos no diagnóstico,
tratamento e reabilitação de pacientes otorrinolaringológicos, como os da Fonoaudiologia,
Fisioterapia e a Terapia Ocupacional.
Este livro foi escrito com a finalidade de colaborar para que todas estas especialidades que tratam
os problemas relacionados à área, nas quais o próprio otorrinolaringologista se inclui, possam, em
uma linguagem acessível com um método de apresentação lógico, enriquecer os conhecimentos e
aumentar o intercâmbio multidisciplinar. Este livro não seria possível sem a preciosa colaboração dos
professores e médicos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo e, portanto, é um espelho da conduta do serviço.
O livro segue uma seqüência clássica em suas seções e capítulos e, por obedecer a esta disposição di-
dática, não há identificação do autor de cada parte, uma vez que há capítulos em que vários colaboradores
prestaram sua ajuda. Foi escrito de forma leve, concisa e objetiva para tornar sua leitura agradável.
É dividido em seis partes: Semiologia Otorrinolaringológica; O Nariz e os Seios Paranasais; O
Ouvido; A Cavidade Oral e a Faringe; A Laringe; e Tópicos Especiais, na qual é mais evidenciada a
interação multidisciplinar em temas específicos de interesse geral. Cada parte é dividida em capítulos
e precedida de um capítulo que trata dos princípios semiológicos gerais da especialidade. Cada um
segue dispondo sobre a embriologia, anatomia e fisiologia; a semiologia armada, as malformações,
as doenças alérgicas, infecciosas, os tumores e as reabilitações. Os tópicos especiais procuram se
aprofundar nos temas e abrangê-los de modo mais detalhado.
Esperamos que com este livro e suas futuras atualizações possamos estimular estudantes dos cursos
médicos a conhecerem a especialidade, internos e residentes a estudarem-na de modo prático, otorrino-
laringologistas a conhecerem novas abordagens diagnósticas e terapêuticas, ampliando a discussão
a colegas de outras especialidades afins a melhor inteirarem-se sobre patologias otorrinolarin-
gológicas, que são comuns em seu dia-a-dia, e a profissionais de outras áreas a aprimorarem suas
atividades.
É de nosso maior interesse que todos apreciem a leitura e que a mesma colabore para aprimorar
seus conhecimentos. Agradecemos profundamente a todos aqueles que direta e indiretamente
participaram de sua execução.
Aroldo Miniti
Ricardo Ferreira Bento
PARTE 3 — O OUVIDO, 75
9 Embriologia, Anatomia e Fisiologia do Ouvido, 77
10 Semiologia Armada em Otologia, 101
11 Malformações Congênitas do Ouvido, 133
12 Doenças do Ouvido Externo, 137
13 Doenças do Ouvido Médio e Mastóide, 149
14 Doenças do Ouvido Interno, 193
15 Reabilitação do Deficiente Auditivo, 225
16 Tumores do Osso Temporal, 227
Bibliografia, 443
Semiologia
Otorrinolaringológica
Princípios
Semiológicos Gerais
Orelha
O Nariz e os Seios
Paranasais
Fig. 2.1 Pirâmide nasal: 1. osso frontal 2. Fig. 2.2 Narina e cartilagem inferior: 1. parte
osso próprio 3. ramo ascendente do maxilar lateral da cartilagem inferior 2. parte medial da
superior 4. cartilagem superior 5. cartilagem cartilagem inferior 3. columela 4. narina
acessória 6. cartilagem inferior 7. maxilar 5. cartilagem septal 6. espinha nasal. (Modifi-
superior. (Modificado de Legent e col.) cado de Legent e col.)
Fossas Nasais
Revestimento
Seio Maxilar
DIAFANOSCOPIA OU T RANSILUMINAÇÃO
DOS S EIOS
Viscosidade
ENDOSCOPIA NASOSSINUSAL
Rinoscopia Endoscópica
Sinusoscopia
Malformações
das Fossas Nasais
Fig 4.2 Uma faixa de cartilagem ligando a espinha nasal anterior à lâmina perpendicular do etmóide
(zona K) é suficiente para evitar a queda do dorso nasal. Todo o restante pode ser retirado.
de septo nasal. É também conhecida como trás da crista do orifício piriforme. Tem-se
maxila-pré-maxila e tem um campo com assim dois túneis inferiores. O túnel su-
exposição de todo o septo. Faz-se a inci- perior esquerdo é unido com o túnel in-
são da mucosa até a cartilagem do lado ferior direito. Isto é feito desarticulando
direito (incisão hemitransfixante). A se- a articulação condrovomeriana e a união
guir, com bisturi procura-se expor a bor- da cartilagem à pré-maxila. Tem-se assim
da caudal da cartilagem septal e entra-se a visão de todas as articulações da carti-
no subpericôndrio do lado esquerdo. lagem septal com o vômer e pré-maxila
Faz-se o descolamento subpericondral e em toda a extensão que está totalmente
superiosteal do lado esquerdo e tem-se o desarticulada. Faz-se, a seguir, a união des-
túnel superior esquerdo. A seguir faz-se tes dois túneis com o túnel inferior es-
a exposição da espinha. Isto é feito com querdo. Desta maneira tem-se todo o septo
introdução de tesoura pela incisão hemi- para ser trabalhado; corrige-se o desvio;
transfixante atrás da columela, e com outras vezes retira-se e recoloca-se o septo
manobras adequadas forma-se uma bol- devidamente ressecado. Consegue-se desta
sa. Esta bolsa é alongada e vai de uma asa maneira respeitar a fisiologia e restabe-
nasal a outra deixando uma área fibrope- lecer a respiração nasal. Deve-se fazer um
riosteal anterior à espinha. Faz-se a ex- tamponamento nasal frouxo. Realizar
posição da espinha com o descolador. A curativo periódico para evitar sinéquias.
seguir faz-se o descolamento subperios- A técnica de Guillen é também uma
teal de ambos os lados da espinha para via de abordagem maxila-pré-maxila. É
Fig. 4.3 A face harmônica apresenta esta divisão em 5/5 na vertical e 3/3 na horizontal.
Rinites
Epistaxes
e Fraturas Nasais
Sinusites
Complicações Orbitoculares
pagação da infecção sinusal para a órbi-
Estas complicações antigamente eram ta pode ser por continuidade, por difu-
muito freqüentes por ocasião de uma são direta da infecção ou por desconti-
infecção nasossinusal. Porém, atualmente, nuidade, isto é, por extensão pela via
são mais raras, exceto na infância. A pro- sangüínea. Geralmente ocorre por conti-
nuidade para a órbita a propagação da
infecção por perfuração da lâmina óssea
pela etmoidite, sinusite frontal e sinusi-
te maxilar. Esta extensão do processo
infeccioso pode ocorrer por: propagação
do processo da mucosa sinusal ao osso e
esta osteíte alcançar a parede da cavidade
orbitária; propagação venosa (flebite);
deiscências congênitas da parede orbitária.
As complicações orbitoculares são
mais comuns no decurso de agudização
de sinusites agudas e mais raramente das
sinusites maxilares e esfenoidais.
As complicações infecciosas orbito-
culares podem ser: orbitárias, do globo ocu-
lar e dos nervos orbitários.
Complicações Orbitárias
Fig. 7.1 Via de abordagem supraciliar do seio
frontal 1. Incisão supraciliar da pele 2. Raios
X recortados do seio frontal direito 3. Seio frontal As complicações orbitárias podem ser
esquerdo. diagnosticadas pela anamnese, sintoma-
C ELULITE DA PÁLPEBRA
A BSCESSO DA P ÁLPEBRA
DACRIOCISTITE S UPURADA
Abscesso Extradural
C D
Fig. 8.1 A, B, C, e D Pólipo solitário de Killian na fossa nasal direita e nasofaringe. Radiografia revela
pólipo na fossa nasal, velamento seio etmoidal e maxilar direito e pólipo na nasofaringe.
Osteoma
C D
E F
Fig. 8.6 Nasofibroma juvenil. A e B CT axial e coronal tumor na fossa nasal, fossa pterigopalati-
na, nasofaringe e esfenóide. C e D angiografia seletiva, artéria maxilar interna (pré e pós-emboliza-
ção). E e F angiografia seletiva: artéria faríngea ascendente (pré e pós-embolização).
B C
Fig. 8.7 A, B e C Mucocele frontal direita. CT axial e coronal mostra lise do frontal e contorno orbitário.
Este tipo de tumor pode ocorrer nas damental para avaliação da localização e
fossas nasais e seios paranasais (etmóide, extensão do tumor (Fig. 8.9 A e B).
maxilar e esfenóide). O esclarecimento definitivo é feito pela
A sintomatologia é representada por histopatologia, onde o schwannoma pode
obstrução nasal, rinorréia, epistaxe e abau- ser classificado em Antoni A e Antoni B,
lamento. Os exames físico, otorrinolarin- de acordo com algumas características de
gológico e radiológico auxiliados pela neoplasia.
anamnese podem levar ao diagnóstico do O tratamento é cirúrgico e, dependendo
schwannoma, que é confirmado pela his- da localização e extensão do tumor, pode-se
topatologia. efetuar a exérese completa do schwannoma,
A tomografia computadorizada é fun- usando-se a via de acesso mais adequada.
Seio Maxilar
O Ouvido
Embriologia, Anatomia
e Fisiologia do Ouvido
A NATOMIA
Ouvido Médio
Devido a essas relações estreitas com para o plexo pterigóide e para o seio
grandes vasos e sistema nervoso central, petroso superior.
podemos entender a gravidade das com-
plicações infecciosas desta região. A inervação do ouvido médio é feita
Há cinco artérias que irrigam o ouvi- através do nervo glossofaríngeo (IX par
do médio e seus elementos. Quatro ramos craniano). Há também fibras simpáticas
da artéria carótida externa e um da arté- dos nervos carotídeos superior e infe-
ria carótida interna. Os ramos da caróti- rior que se originam no plexo carotídeo
da externa são: interno.
A artéria timpânica inferior, ramo da A drenagem linfática do ouvido mé-
faríngea ascendente. dio é semelhante à do ouvido externo, já
A artéria timpânica anterior, ramo descrita.
da artéria maxilar interna.
A artéria timpânica superior e arté- Ouvido Interno
ria petrosa, ramos da artéria meníngea
média. O ouvido interno, também chamado
A artéria estilomastóidea, ramo da ar- labirinto, pode ser dividido em anterior,
téria auricular posterior. O ramo da ca- correspondendo à cóclea; e posterior,
rótida interna é a artéria caroticotim- abrangendo canais semicirculares e ves-
pânica. Estes vasos se anastomosam no tíbulo. O ouvido interno é constituído por
nível do promontório da cóclea e da pa- duas porções distintas: labirinto membra-
rede medial do ouvido médio. A drena- noso, preenchido por endolinfa, conten-
gem venosa é realizada por meio de veias do células sensoriais e vasos; labirinto
que correm paralelas às artérias e drenam ósseo que é separado do anterior por
Escala média
Escala timpânica
Fig. 9.16 Órgão de Corti. 1 osso. 2 estria vascular. 3 ligamento lateral. 4 lâmina espiral.
5 fibras nervosas. 6 gânglio espiral. 7 membrana basilar. 8 pilares do túnel de Corti. 9 mem-
brana tectória. 10 células de Deiters. 11 células ciliadas internas. 12 células ciliadas externas. 13
membrana de Reissner (Modificado de Ba Huy e Bastion).
centro da cóclea, formando o ramo coclear nervo coclear. Devido a esses fatos pode-
e fazem sua primeira sinapse somente no mos concluir que as células ciliadas in-
núcleo coclear situado no tronco cerebral. ternas transmitem informações ao siste-
As células ciliadas são inervadas por dois ma nervoso central com muito mais pre-
tipos de neurônios, tipo I, correspondendo cisão espacial e temporal.
a 95%, e tipo II, a 5%. Os neurônios tipo I Os principais centros nucleares do
são bipolares, com seus processos peri- sistema auditivo ascendente são arranja-
féricos mielinizados. Os neurônios tipo II dos em pares bilateralmente, localizados
são pseudomonopolares, apresentando no pró-encéfalo, mesencéfalo e romben-
pouca ou nenhuma mielina em seus pro- céfalo (Fig. 9.17):
cessos periféricos. Cada célula ciliada pró-encéfalo: núcleo coclear (NC),
interna é inervada por 20 neurônios tipo I, complexo olivar superior (COS).
enquanto que cada neurônio tipo II iner- mesencéfalo: núcleo do lemnisco
va cerca de 10 células ciliadas externas. lateral (NLL), colículo inferior (CI).
Além disso, cada célula ciliada externa rombencéfalo: corpo geniculado
pode ser inervada por vários neurônios medial (CGM), córtex auditivo (CA).
tipo H, e esses fazem diversas sinapses
entre si. Como podemos notar, as célu- Passamos agora a descrevê-los separa-
las ciliadas externas, que correspondem damente.
a três quartos das células sensoriais, são O nervo coclear tem sua origem no
inervadas somente por 5% das fibras do glânglio espiral de Corti, que acompanha
Fig. 9.18 Labirinto ósseo. 1 cócIea. 2 canal semicircular superior. 3 canal semicircular pos-
terior. 4 canal semicircular lateral. 5 cruz comum. 6 janela oval. 7 janela redonda. 8 utrí-
culo. 9 sáculo (Modificado de Sobotta e Becker).
Fig. 9.19 Labirinto membranoso. 1 ducto coclear. 2 sáculo. 3 utrículo. 4 ducto endolin-
fático. 5 saco endolinfático. 6 canalículo coclear. 7 estribo na janela oval. 8 janela redonda. 9
canal semicircular posterior. 10 canal semicircular lateral. 11 canal semicircular superior (Modifi-
cado de Sobotta e Becker).
Semiologia Armada
em Otologia
Fig. 10.4 Audiograma tonal normal. Fig. 10.6 Audiograma tonal com perda do tipo
neurossensorial.
Hz Hz
Fig. 10.5 Audiograma tonal com perda do tipo Fig. 10.7 Audiograma tonal com perda do tipo
condutiva (GAP aéreo-ósseo). misto (condutivo e neurossensorial).
Distorção da Sensação
de Intensidade
T ESTES I MPEDANCIOMÉTRICOS
Fig. 10.9 Esquema da sonda do impedanciô-
A impedanciometria ou imitanciome- metro colocada vedando o vestíbulo do conduto
tria é uma forma de medida objetiva da auditivo externo.
Fig. 10.15 Emissões espontâneas obtidas numa pessoa jovem, do sexo feminino e com audição normal.
No quadro maior (amplitude spectrum) podem ser visualizadas três emissões. A de maior amplitude está
localizada na freqüência 1729,3Hz e com uma amplitude de 13dB NPS.
sim a resposta é uma expressão da cóclea incidência das EOAET especialmente nas
por inteiro, não informando a respeito de freqüências dominantes. Quando doentes
locais específicos. Assim não podemos com perdas semelhantes de audição fo-
determinar com segurança absoluta, quan- ram comparados com os de D.A.I.R., hou-
do existe uma perda auditiva, se esta é ve uma significante diferença no encon-
maior em graves ou em agudos. Sabemos tro de emissões naqueles com D.A.I.R.
através das publicações existentes (Bon- Assim sendo, as EOAET não são de-
fils & Uziel) que as EOAET podem ser pendentes de uma conservação global das
obtidas mesmo em perdas auditivas em células ciliadas externas, pois a preser-
redor de 30dB NA e são encontradas em vação da audição em algumas freqüências
cerca de 98% dos indivíduos com audi- pode gerar aquelas emissões, uma vez
ção normal. Sabe-se também que em que as regiões mais importantes na gera-
deficiências auditivas com conservação da ção das EOAET estão entre 1 e 2kHz (fre-
audição ao redor de 1kHz, elas podem ser qüência de ressonância do ouvido médio?).
obtidas mesmo que as perdas em outras Segundo Kemp, uma conclusão impor-
freqüências sejam maiores. Na maioria dos tante é que a presença da EOAET não
casos as EOAET são compostas de múl- quantifica as perdas auditivas, mas detecta
tiplas freqüências com diferentes latên- sua presença. Outros parâmetros como:
cias, limiares, amplitudes e duração. latência, duração e espectro de freqüên-
Pelo fato de as EOAET serem detecta- cia parecem ser de pouco interesse para
das em pessoas com audição essencial- aplicações clínicas até o momento.
mente normal, está sendo empregada na
avaliação de doentes que não conseguem Emissões Estímulo-Freqüência
responder adequadamente a uma audio- (EOAEF)
metria convencional e em screening.
Assim sendo, com certa precisão, pode- As emissões otoacústicas estímulo-fre-
mos dizer que a presença de EOAET in- qüência são geradas durante estímulo
dica uma audição com limiares melhores contínuo com um tom simples de baixa
que 30dB NA. intensidade. Em contraste com as EOAET
Deficiências auditivas induzidas pelo elas representam a resposta evocada mo-
ruído (D.A.I.R.) têm revelado redução da mentânea (steady-state). Especificamen-
Fig. 10.17 Gráfico amplitude spectrum que revela a amplitude da resposta das emissões produtos de
distorção obtidas a 1kHz quando o estímulo foi de 70dB NPS.
Fig. 10.19 O audiococleograma, gráfico obtido quando mantemos a mesma intensidade do estímulo
variando as freqüências. Assim teremos um gráfico que representa a resposta da cóclea nas freqüências
audiométricas.
reflete de modo bastante adequado o grá- Doentes que, por sofrerem de doenças
fico audiométrico. Não podemos compará- as mais variadas, apresentam dificulda-
lo a uma audiometria tonal, pois nesta, de na informação numa audiometria con-
quando o paciente levanta a mão afirman- vencional, mesmo aqueles simuladores
do uma resposta, na realidade estamos podem ser detectados com facilidade.
obtendo uma quantidade enorme de in- b. Crianças pequenas e mesmo lac-
formações. O tom puro segue várias vias tentes:
auditivas até a córtex e o paciente ao Estas podem ter sua audição coclear
levantar o braço revela a integração au- avaliada de modo objetivo, rápido e eco-
ditiva motora, mostrando a coordenação nômico, podendo inclusive substituir a
adequada à resposta. No audiococleogra- audiometria de tronco cerebral ou eletro-
ma as respostas são objetivas e apenas a cocleografia, que tomam mais tempo e são
cóclea, em especial as células ciliadas mais dispendiosas. Em recente trabalho,
externas e o ouvido médio (as emissões verificamos a superioridade do audioco-
viajam da cóclea para o canal auditivo cleograma sobre as emissões transitórias,
externo através do conjunto tímpano os- em recém-nascidos de berçário, pois este
sicular) estão sendo analisados. Daí a primeiro permite uma análise da cóclea
importância de se fazer antes uma tim- em freqüências específicas. O teste pode
panometria, pois, a presença de pressões ser facilmente realizado de maneira rá-
negativas alteram de modo significativo pida após a indução do sono fisiológico
as amplitudes dos produtos de distorção pós-prandial.
(Osterhammel et al.), assim como quais- c. Acompanhamento de doentes que
quer alterações do OM. utilizam drogas ototóxicas. As alterações
O estudo dos produtos de distorção da na amplitude das otoemissões podem
emissões otoacústicas tem várias aplica- preceder alterações auditivas mais graves
ções clínicas: (Lonsbury-Martin et al.). As células cilia-
a. Avaliação auditiva de doentes difí- das externas são as primeiras a serem le-
ceis de testar: sadas pelos ototóxicos. Assim, parece ser
Fig. 10.21 Audiococleograma de uma paciente portadora de surdez súbita por neurinoma do VIII par.
Notamos amplitudes de respostas próximas ao normal nas freqüências de 750Hz e 1 e 2kHz, enquanto a
audiometria tonal revelava profunda perda de audição sensório-neural.
Fig. 10.22 Audiococleograma de um paciente que apresentou surdez súbita por hidropsia endolinfáti-
ca. Nota-se uma discreta redução nas amplitudes dos produtos.
Fig. 10.23 Esquema do posicionamento do eletrodo tipo agulha no promontório da cóclea através da
membrana timpânica.
ms
Fig. 10.25 Curvas correspondentes a uma eletrococleografia normal, realizadas até o limiar.
Fig. 10.28 Curvas eletrococleográficas correspondentes a uma surdez de condução. Nota-se o aumento
da latência da curva I.
dB
dB
dB
dB
dB
dB
dB
dB
ms
Fig.10.30 Audiometria de tronco cerebral normal, onde se nota a consistência da curva V até o limiar.
Fig. 10.31 Audiometria de tronco cerebral com sinais de patologia condutiva à esquerda e normal à
direita. Nota-se o aumento da latência da curva V com manutenção do intervalo I-V.
100dB
I
90dB V
80dB
Fig. 10.32 Audiometria de tronco cerebral com sinais de patologia retrococlear. Nota-se o alargamento
do intervalo I-V com manutenção da latência da curva I.
Fig. 10.33 Audiometria de tronco cerebral com sinais de patologia de tronco cerebral em nível de co-
lículo inferior. No caso, uma esclerose múltipla. Nota-se a alteração morfológica da curva V com as demais
curvas normais.
Tomografia Computadorizada
Malformações Congênitas
do Ouvido
Doenças do Ouvido
Externo
OTOMICOSE
Fig. 13.1 Mecanismo pelo qual a obstrução mecânica intrínseca da tuba auditiva que apresenta obstru-
ção funcional (a) pode determinar atelectasia da membrana timpânica e ouvido médio (b), ou otite média
aguda bacteriana (c) ou estéril otite secretora (d) (Modificado de Bluestone e Stool 1982).
A OMA acomete com maior freqüên- Fig. 13.11 Otite média aguda.
cia crianças com quadro de infecção das
vias aéreas superiores e que logo desen-
volvem otalgia. As crianças menores que
não sabem localizar a dor se apresentam
com choro constante, irritação geral ou
letargia, diminuição do apetite, podendo
apresentar vômito ou diarréia.
A febre geralmente é freqüente. A dor
aumenta durante os movimentos de de-
glutição.
Em crianças maiores e nos adultos a
sensação de plenitude auricular, sensação
de ruídos pulsáteis síncronos com a pul-
sação traduzem a presença de secreções Fig. 13.12 Otite média aguda, com abaulamento
no ouvido médio. da membrana do tímpano.
Tratamento
Fig. 13.17 Perfuração timpânica marginal. Fig. 13.18 Perfuração timpânica atical.
Fig. 13.25 Seqüência de miringoplastia: A perfuração timpânica; B escarificação das bordas da per-
furação; C levantamento do retalho timpanomeatal; D colocação do enxerto sob o retalho e a
perfuração; E volta do retalho à posição com a perfuração fechada.
Fig. 13.29 Ossículo interposto entre o cabo do Fig. 13.31 Bigorna moldada interposta entre
martelo até a platina do estribo. o cabo do martelo e o estribo.
Cirurgia do Colesteatoma
Doenças do Ouvido
Interno
Intracanal
Fig. 14.1 Aparelho de amplificação sonora re- Fig. 14.2 Aparelho de amplificação sonora
troauricular. intracanal.
M OLDES
Fig. 14.3 Aparelho de amplificação sonora São materiais plásticos moldados para
convencional. conduzir o som amplificado do receptor
do AAS para dentro do canal auditivo com
bastante eficiência. Os moldes vedam a
molde, mas sim através de um vibrador
orelha para que a amplificação seja pro-
que está dentro da própria haste dos
tegida, modificam as características ele-
óculos (Fig. 14.4).
troacústicas do AAS e pretendem possuir
caráter estético. Eles são normalmente
Cross (Contralateral Routing
confeccionados em silicone, acrílico ou
of Offside Signals)
polímeros de borracha.
Este tipo de AAS caracteriza-se pelo
envio contralateral de sinais ao ouvido.
TUBO PLÁSTICO
Indica-se este AAS quando se verifica uma
Comumente utilizado, possui 2mm de
perda auditiva apenas em um lado, sen-
diâmetro em toda a sua extensão.
do que o outro lado apresenta limiares
Há vários tipos de tubos que muito
auditivos normais. Usualmente estes in-
auxiliam a condução do som do AAS.
divíduos necessitam de localização sonora
e, portanto, este AAS auxilia estes casos.
ELETROACÚSTICA E P SICOACÚSTICA
GANHO A CÚSTICO
É a faixa definida entre o nível no qual Numerosas vantagens têm sido postu-
o indivíduo pode apenas perceber a qua- ladas para o uso de adaptação binaural:
lidade do sinal até o nível onde o sinal É capaz de localizar fontes sonoras
se torna desconfortável acusticamente. mais eficientemente.
Dois fatores psicoacústicos devem ser Se beneficia da inteligibilidade e
relacionados à limitação de saída eletro- discriminação da fala, principalmente na
acústica do AAS. Um deles é o nível de presença de ruídos competitivos.
intensidade no qual um estímulo auditi- O limiar absoluto é decrescido de
vo torna-se desconfortável, referido como 3db (Hirsh, 1950).
o nível de desconforto auditivo (LDL). O Apresenta melhor perspectiva au-
outro é o risco de se produzir uma per- ditiva, balanço espacial e tolerânicia, a
da auditiva adicional como o resultado da sons intensos.
superexposição do sistema auditivo a
estímulos muito intensos. O aspecto mais importante da locali-
zação espacial é o movimento da cabeça.
NECESSIDADE DO AAS
ESCOLHA DO O UVIDO
Do ponto de vista auditivo, o determi-
nante básico da necessidade de amplifica- Com exceção da amplificação binau-
ção é a sensibilidade auditiva (Tabela 14.2). ral, uma decisão deve ser tomada com
Este guia não se aplica aos casos de relação ao ouvido a ser protetizado. Se
perda auditiva apenas nas freqüências os ouvidos não forem bilateralmente
agudas, pois necessitam de amplifica- iguais, o pior ouvido deveria ser benefi-
ção nas altas freqüências a fim de pro- ciado se este for bom o suficiente para se
porcionar audibilidade para as consoan- beneficiar do uso de AAS e se o melhor
ouvido for bom o suficiente para funci-
onar parcialmente sem amplificação.
Tabela 14.2 Deve-se levar em consideração os se-
Guia Geral da Relação entre a Perda guintes itens:
Auditiva e a Necessidade de Amplificação Se um ouvido estiver dentro e o
Baseada na Média de Tons Puros (PTA)
outro fora da área de grande satisfação,
ou no Limiar de Recepção de Fala (SRT)
no Melhor Ouvido protetize o ouvido que está dentro da área.
Se ambos os ouvidos estiverem
Perda auditiva Necessidade dentro da área de grande satisfação,
em db: para protetize o ouvido que estiver mais pró-
1969 Normas amplificação
ximo de 60db.
do ANSI
Protetize o ouvido que tiver confi-
0,25 Nenhuma necessidade guração audiométrica mais plana, ou
25-40 Necessidade ocasional apresentar melhor habilidade de discri-
40-50 Necessidade freqüente minação, ou ainda, que apresentar maior
55-80 Área de grande satisfação
faixa dinâmica.
80+ Grande necessidade-ajuda
parcial Considere a preferência do pacien-
te, lembrando que a maior parte das
ANSI = Instituto Nacional Americano pessoas prefere o AAS no seu ouvido di-
de Padronização. reito.
CLÍNICA DE ZUMBIDOS
Questionário
Nome:_______________________________________________________________________________________
Último Primeiro Idade
Endereço:____________________________________________________________________________________
Telefone
1. Meu zumbido em sua forma atual já dura:
(faça um círculo em volta da letra apropriada)
a. menos de 1 ano
b. 1 a 2 anos
e. 2 a 3 anos
d. 3 a 5 anos
e. mais do que 5 anos
2. Antes da minha forma atual de zumbido eu apresentava um zumbido leve por _____ anos.
número
4. A gravidade do meu zumbido, quando está em seu período pior, de acordo com a escala abaixo é
representada pelo número:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
______________________________________________________________________
zumbido leve zumbido moderado zumbido grave
7. Indique na escala abaixo a tonalidade do seu zumbido. Se você conhece piano, imagine como
se estivesse diante de um teclado do mesmo.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
______________________________________________________________________
tonalidade baixa tonalidade média tonalidade alta
12. Verifique qualquer dos itens abaixo que produz alívio no seu zumbido:
a. ouvir rádio ou televisão
b. ruídos de tráfego
c. som de água correndo (exemplo: chuveiro)
d. medicamentos (__________________ espécie)
e. mudanças de altitude
f. outras
13. Sofreu alguma vez algum traumatismo craniano? SIM NÃO (Faça um círculo)
Se positivo, ficou inconsciente? SIM NÃO (Faça um círculo)
Há quanto tempo foi o acidente? __________________ anos
14. Você tem se exposto a sons intensos? SIM NÃO (Faça um círculo)
Explique sucintamente ________________________________________________________________________
15. Presentemente você trabalha ou está exposto a sons intensos? SIM NÃO (Faça um círculo)
Explique sucintamente ________________________________________________________________________
16. Você usa protetor auricular em presença de sons intensos? SIM NÃO (Faça um círculo)
17. Você já usou alguma vez uma prótese auditiva? SIM NÃO (Faça um círculo)
Se já usou, você a usa atualmente? SIM NÃO
19. O zumbido lhe atrapalha para dormir? SIM NÃO (Faça um círculo)
20. Se você usa uma prótese auditiva, como ela afeta seu zumbido?
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
21. Você toma qualquer tipo de medicamento? SIM NÃO (Faça um círculo)
Reabilitação do Deficiente
Auditivo
Tumores do Osso
Temporal
A Cavidade Oral
e a Faringe
Fig. 17.3 1 saliência lingual lateral; 2 tubérculo ímpar; 3 eminência hipobranquial; 4 saliên-
cia da epiglote; 5 orifício da laringe; 6 saliência das aritenóides; 7 epiglote; 8 forame cécum;
9 amígdala palatina; 10 corpo da língua (Modificado de Junqueira e Zago).
Doenças
da Cavidade Oral
Eritema Polimorfo
É o tipo mais comum. Sua incidência Uma das apresentações mais raras de
é maior nos judeus e nas populações pênfigo. É semelhante ao vulgar, exceto
mediterrâneas. Não há distinção de sexo que, após a ruptura da bolha, se produz
e a idade de preferência situa-se entre os uma hiperplasia papilomatosa do epité-
40 e 70 anos. lio, sendo às vezes confundido com algu-
A lesão característica é a bolha, que mas formas de carcinoma verrucoso.
cobre grandes extensões da pele e das
mucosas (Fig. 18.9). Dependendo da es- Penfigóide Benigno das Mucosas
tatística, em 30% a 60% dos casos há
acometimento mucoso, sendo que em Doença rara que se caracteriza por le-
cerca de 20% deles, esta pode ser a úni- sões bolhosas nas mucosas bucal e con-
ca manifestação da doença. juntival. A idade de maior incidência é
As bolhas na cavidade oral se rompem ao redor dos 60 anos. Embora de etiolo-
rapidamente, deixando úlceras superfici- gia desconhecida, dente em mau estado
ais grandes e dolorosas. Provocando-se de conservação e o uso de próteses den-
uma tensão lateral na bolha com a pon- tárias podem ser desencadeantes da for-
ta dos dedos, pode-se eliminar o reves- mação da bolha.
timento epitelial da mesma: é o sinal de A evolução clínica da doença, após a
Nikolsky. ruptura das bolhas e conseqüente forma-
O índice de mortalidade é alto, em ção de úlceras, caminha para a cicatriza-
torno de 50% a curto prazo. Não há tra-
tamento curativo até o momento, obten-
Classificação
B CRÔNICAS
Adenoidite crônica
Amigdalite crônica
Anginas Inespecíficas
Amigdalite Lingual
Amigdalite Crônica
Schwannomas e Neurofibromas
Fig. 20.4 Carcinoma de células escamosas do
Aparecem como tumores submucosos lábio inferior.
A Laringe
CAPÍTULO 21 285
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
286 CAPÍTULO 21
CAPÍTULO
Embriologia, Anatomia
e Fisiologia da Laringe
CAPÍTULO 21 287
interna e mediana através do ligamento
tireoepiglótico.
Cartilagens aritenóides: são duas
pequenas cartilagens em forma de pirâ-
mide que se articulam no bordo póstero-
superior da cartilagem cricóide e possuem
uma apófise vocal e outra muscular. Es-
tão conectadas à cartilagem epiglote pe-
los ligamentos ariepiglóticos e à cartila-
gem tireóide pelos ligamentos tireoarite-
nóideos, também conhecido como ligamen-
tos vocal e ventricular. Entre o ligamento
vocal e a borda superior da cartilagem cri-
cóide existe a membrana triangular ou
conus elástico. Entre o ligamento ventri-
cular e o ariepiglótico existe a membra-
na quadrangular.
Cartilagens corniculadas e cuneifor-
mes: são em número de quatro e se lo-
calizam superiormente às cartilagens
aritenóides como um prolongamento su-
perior. Fig. 21.1 Musculatura intrínseca da laringe (visão
posterior). 1 músculo ariepiglótico. 2 músculo
interaritenóideo (porção oblíqua). 3 músculo inte-
A musculatura é dividida em intrín-
raritenóideo (porção transversa) 4 músculo cricoari-
seca e extrínseca: tenóideo posterior (Modificado de Freche e Cornec).
Musculatura intrínseca tem origem
e inserção na própria laringe e é consti-
tuída pelos seguintes músculos (Fig. 21.1): posteriores. Os cricotireóideos aumentam
Cricoaritenóideo lateral (par): da a tensão das pregas vocais.
borda superior lateral da cartilagem cri- Musculatura extrínseca ou acessória,
cóide até o processo muscular da arite- que inclui músculos envolvidos na ele-
nóide. vação e depressão da laringe, e aqueles
Cricoaritenóideo posterior (par): da que se originam de estruturas cervicais
face posterior da cartilagem cricóide até e se inserem na laringe.
o processo muscular da aritenóide. Músculos supra-hióideos (elevam a
Interaritenóideo (único): da face laringe): digástrico, genio-hióideo, estilo-
posterior da aritenóide até o mesmo lo- hióideo, estilofaríngeo e tireo-hióideo.
cal da aritenóide oposta. Músculos infra-hióideos (abaixam
Tireoaritenóideo (par): forma a prega a laringe): esternotireóideo, esterno-hiói-
vocal e se insere na cartilagem tireóide deo, omo-hióideo.
e no processo vocal da cartilagem arite- Músculos da faringe: constritor in-
nóide. Sua porção medial é chamada de ferior da faringe, que pode ser dividido
músculo vocal. nos músculos tireofaríngeo (origina-se na
Cricotireóideo (par): da superfície rafe mediana da faringe e se insere na borda
anterolateral da cartilagem cricóide até a posterior e lateral da cartilagem tireóide)
borda inferior da cartilagem tireóide. e cricofaríngeo (origina-se na rafe media-
na e se insere na cartilagem cricóide). Am-
Os músculos adutores (aproximam as bos atuam estreitando a luz da faringe.
pregas vocais) são: os cricoaritenóideos
laterais, os interaritenóideos e o múscu- Para melhor estudarmos a anatomia
lo tireoaritenóideo. Os músculos que fa- interna da laringe podemos dividi-la em
zem abdução são os cricoaritenóideos três andares:
288 CAPÍTULO 21
Supraglote: compreendida entre a Estrutura da Prega Vocal
borda superior da epiglote, pregas arie-
piglóticas e cartilagens aritenóides e o A prega vocal é constituída por ele-
bordo superior das pregas vocais. Essa mentos que lhe conferem uma estrutura
cavidade assim delimitada é chamada ves- dupla: um corpo e uma cobertura.
tíbulo laríngeo. As bandas ventriculares O corpo é formado pelo músculo e
ou falsas pregas vocais são pregas mucosas ligamento vocal, que são estruturas que
que apresentam no seu interior os liga- podem ser consideradas rígidas no mo-
mentos ventriculares. Têm função de pro- mento da fonação, tanto pela adução e
teção durante a deglutição, não interfe- tensionamento das pregas vocais (gerada
rindo na fonação. Entre as pregas vesti- pela contração dos músculos intrínsecos)
bulares e as vocais existe uma depressão como pela contração do próprio múscu-
denominada de ventrículo de Morgani. lo vocal.
Glote: é o espaço delimitado entre os A cobertura é a mucosa da prega vo-
bordos superior e inferior das pregas vocais. cal, formada pelo epitélio e pela lâmina
Infraglote: é a porção mais inferior própria. Como são frouxamente conecta-
da laringe, situada abaixo das pregas vo- dos ao ligamento e músculo vocal, apre-
cais (Fig. 21.2). sentam grande mobilidade e elasticidade.
Desta forma, embora o corpo seja uma
A mucosa laríngea é constituída por estrutura rígida, temos uma cobertura
epitélio pseudo-estratificado cilíndrico extremamente móvel, capaz de vibrar sob
ciliado, com exceção das pregas vocais, ação do fluxo aéreo expiratório.
que apresentam epitélio estratificado Seu aporte vascular é feito por três
pavimentoso, também encontrado na face pedículos: artéria laríngea superior e la-
posterior da epiglote e anterior das ari- ríngea ântero-inferior, ramos da tireóidea
tenóides. superior, e artéria laríngea póstero-inferior,
ramo da tireóidea inferior. A drenagem
linfática na supraglote é particularmen-
te rica, decaindo em quantidade na infra-
glote e praticamente inexistindo na glote.
A inervação motora da laringe é ma-
téria até hoje não muito bem determina-
da. Apesar de a inervação ser feita por
ramos do nervo vago existe uma contro-
vérsia questionando-se se a inervação é
direta das fibras do nervo vago ou atra-
vés de fibras incorporadas ao vago pelo
ramo interno do nervo espinhal. Porém,
a distribuição periférica, importante na
anatomia cirúrgica do pescoço, se dá desta
forma:
O nervo laríngeo inferior ou recorrente
(ramo do nervo vago) inerva todos os
músculos intrínsecos da laringe, exceto
o cricotireóideo, que é inervado pelo la-
Fig. 21.2 A Região supraglótica. 1 face la- ríngeo superior. O nervo recorrente tem
ríngea da epiglote; 2 prega ariepiglótica; 3 anatomia diversa em relação ao lado es-
ligamento ventricular; 4 banda ventricular; 5 querdo e direito. O direito origina-se no
ventrículo laríngeo. B Região glótica; 6 prega nervo vago, contorna a artéria subclávi-
vocal; 7 ligamento vocal; 8 músculo tireoa-
ritenóideo (vocal). C Região infraglótica; 9
ca, dirige-se paralelamente à cúpula pleu-
membrana cricotireóidea; 10 cartilagem cricóide; ral e curva-se superiormente para retor-
11 traquéia (Modificado de Freche e Cornec). nar ao pescoço e atingir a laringe. O es-
CAPÍTULO 21 289
querdo, após originar-se no vago, contorna Trígono anterior: é delimitado pelo
o arco aórtico e se dirige superiormente bordo inferior da mandíbula, linha me-
em direção ao pescoço, até atingir a la- diana do pescoço e bordo anterior do
ringe. O conhecimento desta distribuição esternocleidomastóideo. Nesse trígono
é essencial em cirurgia, e no diagnóstico encontramos diversas estruturas impor-
diferencial das paralisias laríngeas. tantes:
O nervo laríngeo superior, após origi- glândula submandibular: parcial-
nar-se no nervo vago, divide-se nos ramos mente encontrada abaixo da mandíbula;
interno e externo. O ramo externo é motor, glândula parótida: sua porção infe-
e inerva o músculo cricotireóideo. rior é parcialmente encontrada na região
Quanto à inervação sensitiva, o ramo cervical;
interno do laríngeo superior, que pene- artéria carótida comum, divide-se
tra na laringe através da membrana tireo- no nível da quarta vértebra cervical, em
hióidea, é responsável pela sensibilida- interna e externa. A carótida interna não
de da mucosa até as bandas ventriculares, emite ramos no pescoço, apresenta uma
sendo o restante inervado pelo nervo re- dilatação em sua inferior chamada seio
corrente. carotídeo. A carótida externa encontra-se
A laringe é um órgão relacionado com em posição anteromedial à carótida inter-
as estruturas do pescoço, e para a com- na, tornando-se póstero-lateral à medida
preensão global da região devemos conhe- que progride em sentido cranial. Nesse
cer as bases da anatomia cervical. trajeto emite os seguintes ramos:
tireóidea superior
Pescoço lingual
facial
Costuma-se dividir o pescoço em duas occipital
regiões, denominadas trígonos anterior e auricular posterior
posterior (Fig. 21.3). São separados pelo faríngea ascendente
músculo esternocleidomastóideo, que tem temporal superficial
sua origem na clavícula e esterno, indo maxilar
se inserir no processo mastóideo. Esses veia jugular externa: sua porção
músculos, conjuntamente, fazem a flexão superior está no trígono anterior, e quando
da cabeça, enquanto isoladamente têm cruza o músculo esternocleidomastóideo
a função de lateralização e rotação da ganha o trígono posterior;
mesma. veia jugular anterior: nasce da con-
Trígono posterior (ou lateral): é de- fluência de veias contidas na região su-
limitado pelo bordo anterior do trapézio, pra-hióidea, desce próxima aos músculos
bordo posterior do esternocleidomastóideo infra-hióideos comunicando-se entre si
e clavícula. Nessa região encontra-se: através do arco venoso jugular, terminan-
nervo acessório: responsável pela do assim na veia jugular externa ou veia
inervação dos músculos trapézio, ester- subclávia;
nocleidomastóideo e ventre posterior do veia jugular interna: essa veia é a
digástrico; continuação do seio sigmóide, drena o
plexo cervical superficial: envolvi- encéfalo, face e pescoço. É acompanha-
do na inervação sensitiva do pescoço. da pelas carótidas interna e comum me-
plexo braquial: formado pelos ra- dialmente;
mos ventrais dos nervos cervicais C5, C6, nervo glossofaríngeo: é responsável
C7 e C8; pela inervação sensitiva da língua e farin-
vasos subclávios: dentre seus ramos, ge, motora do músculo estilofaríngeo e
o de maior importância no pescoço é a também apresenta ramos para a parótida.
artéria tireóidea inferior, que por sua vez Apresenta trajeto entre a artéria carótida
origina a artéria laríngea inferior, e a veia interna e veia jugular interna, destacan-
jugular externa. do-se os seguintes ramos principais:
290 CAPÍTULO 21
nervo timpânico fibras cervicais que acompanham o hipo-
ramo faríngeo glosso (alça do hipoglosso). Agem conjun-
ramos linguais tamente para abaixar a laringe, o osso
nervo vago: é basicamente aferen- hióide e o assoalho da boca.
te, apresentando trajeto no interior da
bainha carotídea, entre as artérias caró- Fáscias Cervicais
tida interna e comum e veia jugular in-
terna. Seus ramos de maior importância As fáscias cervicais facilitam o desli-
no pescoço são: zamento das diversas estruturas umas
ramo auricular sobre as outras, permitindo os movimen-
ramos faríngeos tos cervicais e a deglutição (Fig. 21.4).
nervo laríngeo superior fáscia superficial: está localizada logo
nervo laríngeo inferior (recorrente) abaixo da pele, envolvendo o músculo
nervo hipoglosso: cruza a artéria platisma;
carótida interna, veia jugular interna e fáscia profunda: é dividida em três
nervo vago. Tem a função da inervação camadas:
motora da língua; externa (ou superficial): situa-se logo
nervo frênico: é formado pela jun- abaixo do platisma, revestindo todas as
ção das raízes dos nervos C4 e C5. Tem estruturas do pescoço como um colar.
trajeto descendente, sendo coberto pela Delamina-se para envolver cada um dos
veia jugular interna e esternomastóideo, músculos cervicais;
abaixo da camada interna da fáscia cer- média: engloba as estruturas vis-
vical profunda. Inerva o diafragma e se- cerais;
rosas do tórax e abdome. interna (ou profunda): circunda os
músculos profundos do pescoço e vérte-
Músculos Infra-Hióideos bras cervicais.
CAPÍTULO 21 291
cionando-se anteriormente com a traquéia profundos, ou indiretamente através de
e nervos laríngeos recorrentes, posterior- uma cadeia de linfonodos superficiais. Os
mente com a coluna vertebral e lateralmen- linfonodos superficiais estão localizados
te com as artérias carótidas, veias jugu- ao longo da veia jugular externa e da veia
lares e glândula tireóide. jugular anterior. Os linfonodos profundos
Traquéia: é recoberta na sua porção são divididos em vários grupos:
anterior pelo istmo da glândula tireóide retrofaríngeos
(no nível do segundo, terceiro e quarto submandibulares e submentonianos
anéis), pelas veias tireóideas inferiores, jugulares superiores (jugulodigástricos)
artéria tireóidea ímã, arco venoso jugu- jugulares médios
lar e músculos infra-hióideos (Fig. 21.5). jugulares inferiores
Tireóide: possui dois lóbulos ligados espinais acessórios
entre si por um istmo. Possui uma cáp- paratraqueais e pré-traqueais
sula fibrosa aderente e juntamente com
traquéia e esôfago é envolvida pela cama- FISIOLOGIA
da média da fáscia cervical profunda. Na
sua superfície posterior podemos encontrar A laringe apresenta quatro funções
de duas a seis glândulas paratireóides. básicas, que são a proteção das vias aé-
reas inferiores, a fonação, a respiração e
Drenagem Linfática a fixação da caixa torácica.
Embora a respiração seja uma função
Todos os tecidos da cabeça e pescoço essencial da laringe, filogeneticamente,
drenam diretamente para os linfonodos sua principal função é a proteção das vias
aéreas inferiores. A fonação é uma fun-
ção adaptativa, que se desenvolveu pos-
teriormente.
Quando há a deglutição dos alimen-
tos, a laringe se fecha para que líquidos
ou sólidos não se encaminhem para a
traquéia. Para este mecanismo contribuem
as pregas vocais, as bandas ventriculares,
a epiglote e as cartilagens aritenóideas.
Através de um reflexo gerado pela via
aferente do nervo glossofaríngeo (IX) que
inerva a parede posterior da faringe, a
base da língua e os pilares amigdalianos,
a respiração cessa imediatamente quan-
do os alimentos tocam essas regiões.
Quando há passagem de alimentos para
a traquéia é imediatamente desencadea-
do o reflexo da tosse, com a finalidade
de removê-los.
A laringe tem importante participação
no reflexo tussígeno, pois ao desenca-
Fig. 21.5 1 músculo trapézio; 2 músculo
esplênico; 3 músculo levantador da escápula;
dear o reflexo ela se abre para permitir uma
4 músculos eretores espinais; 5 músculo es- rápida inspiração de ar, para em seguida
caleno póstero-medial; 6 músculo escaleno se fechar, levando a um grande aumento
anterior; 7 músculo esternocleidomastóideo; 8 da pressão intratorácica, que ao atingir seu
glândula tireóide; 9 traquéia; 10 esôfago; 11 ápice faz com que haja uma rápida aber-
artéria carótida comum; 12 veia jugular in-
terna; 13 nervo vago; 14 plexo cervical; 15
tura da laringe, fazendo com que o ar
nervo espinal acessório (Modificado de Daniel escape de maneira explosiva para expe-
O. Graney). lir o elemento estranho.
292 CAPÍTULO 21
No soluço há uma participação simi- A vibração das pregas vocais ocorre
lar no que diz respeito à fase inspirató- pela combinação desses fatores e even-
ria, seguido de um brusco fechamento das tos. Inicialmente o indivíduo inspira, re-
pregas vocais, produzindo um som carac- tendo ar dentro dos pulmões. Em segui-
terístico. da, aproxima as pregas vocais da linha
No ato de bocejar há uma rápida ina- mediana (pregas aduzidas). Inicia então
lação de ar, com abertura total das pre- a expiração, criando um fluxo aéreo que
gas vocais, que ficam abduzidas e permi- encontra a resistência das pregas vocais
tem toda a passagem de ar possível. aduzidas (resistência glótica), resultando
A fonação é caracterizada pela emis- em um aumento da pressão subglótica.
são sonora. Os sons são produzidos por Quando essa pressão vence a resistência
vibração das pregas vocais e são ampli- glótica, cria um fluxo de ar de alta velo-
ficados e modificados produzindo a voz cidade através das pregas vocais. Dois
pelas câmaras ressonadoras da boca, fa- mecanismos então ocorrem: existe queda
ringe, nariz e tórax. A voz é então modi- da pressão subglótica e a criação de uma
ficada pela ação da faringe, língua, lábios região de baixa pressão na glote. Devido
e estruturas correlatas sendo produzida à força elástica das pregas vocais e ao
a fala. efeito de Bernoulli, que aspira essa mu-
cosa móvel (cobertura), ocorre a aproxi-
Mecanismo de produção da voz mação da mucosa de ambas pregas vocais
na linha mediana, fechando totalmente a
A voz é produzida pela vibração da glote. Nesse momento é interrompido o
mucosa das pregas vocais. Para que isso fluxo aéreo com conseqüente aumento
ocorra é necessário que exista seu posi- da pressão subglótica. Quando essa pres-
cionamento na linha mediana, mobilidade são vence a resistência glótica, desloca la-
teralmente a mucosa das pregas vocais,
da sua mucosa e um fluxo de ar através
reiniciando o fluxo aéreo de alta veloci-
delas. O movimento exalatório dos órgãos
dade, que resulta na reaproximação des-
respiratórios fornece esse fluxo de ar.
sa mucosa novamente. Esse mecanismo
Para que ocorra vibração das pregas
ocorre sucessivamente, cerca de 100 a 250
vocais deve existir duas forças antagôni-
vezes por segundo, gerando um som cha-
cas agindo alternadamente: essas forças
mado de voz.
são de abertura (pressão subglótica) e de O som produzido na glote é transfor-
fechamento (elasticidade da prega vocal mado em voz através do efeito de resso-
e efeito Bernoulli). De acordo com a teo- nância do trato vocal. A intensidade da
ria de Bernoulli, quando existe a passa- voz é aumentada normalmente por um au-
gem de um fluxo aéreo de alta velocida- mento da pressão subglótica (esforço expi-
de através das pregas vocais na linha ratório) associado com o fechamento mais
mediana (aduzidas), cria-se uma região de intenso da glote. O tom da voz pode ser
baixa pressão que aspira a mucosa das mes- elevado (voz mais aguda) principalmente
mas. Quanto mais móvel for a mucosa, pelo aumento da tensão das pregas vocais.
maior o papel do efeito Bernoulli no fe- A fixação da caixa torácica é auxilia-
chamento da glote durante o ciclo vi- da pelo fechamento da laringe, de modo
bratório. a prender o ar na árvore traqueobrônquica
A estrutura histológica da prega vocal e aumentar sua pressão com a contração
humana favorece sua vibração, pois é dos músculos abdominais e torácicos. Esta
constituída por uma estrutura de corpo- pressão é importante em funções fisioló-
cobertura. O corpo, representado pelo gicas como a tosse, defecação, micção, vô-
músculo e ligamento vocal, é rígido, e é mito e durante o trabalho de parto. É im-
coberto por uma mucosa muito móvel, portante também em movimentos como
pouco aderida a ele. pular, subir e tracionar.
CAPÍTULO 21 293
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294 CAPÍTULO 21
CAPÍTULO
Semiologia Armada
em Laringe
Malformações Congênitas
e Paralisias Laríngeas
Estenose Subglótica
Geralmente há um espessamento do
tecido da região subglótica, e em alguns
casos pode haver um estreitamento da
própria cartilagem cricóide. Estenoses
mais intensas requerem correção cirúrgica,
enquanto casos menos severos podem ser
corrigidos pelo próprio crescimento da
A
criança, em função do aumento do lume
endolaríngeo, com o desaparecimento dos
sintomas por volta de um ano e meio de
idade. É necessária a realização e manu-
tenção de traqueostomia, até a resolução
do quadro (Fig. 23.1).
Membranas Congênitas
Cistos Congênitos
B
Geralmente situados na base da língua,
das pregas aritenoepiglóticas ou bandas Fig. 23.1 A e B Imagens de estenose subgló-
ventriculares, podem provocar obstrução tica. A) Xerorradiografia; B) Planigrafia.
Doenças Infecciosas
e Inflamatórias da Laringe
CAPÍTULO 24 307
e requerem intubação orotraqueal ou tra- aparecimento de membranas diftéricas de
queostomia. A resolução do processo coloração levemente acinzentada, de di-
ocorre em cerca de quatro dias, com re- fícil remoção, que recobrem as amígda-
dução do edema da supraglote e reesta- las, o palato mole, faringe e laringe, po-
belecimento da permeabilidade da via dendo causar obstrução respiratória. O
aérea. diagnóstico é confirmado pela presença
do Corynebacterium diphtheriae em es-
Laringotraqueobronquite Aguda fregaço do material. O tratamento preco-
nizado é a injeção da antitoxina diftéri-
É o processo inflamatório da subglo- ca e a manutenção da via respiratória per-
te e traquéia, sendo também conhecida meável, através de intubação ou traque-
como crupe agudo. O agente etiológico é ostomia. Antes de se administrar o soro
viral, geralmente causada pelo adenoví- antidiftérico, deve-se realizar prova de
rus, vírus influenza ou parainfluenzae. Em sensibilidade intradérmica: se esta for
geral, acomete lactentes, podendo ocor- positiva, deve-se evitar a administração
rer até os três anos de idade. Inicialmente intravenosa. A dose usual gira ao redor
manifesta-se como quadro de infecção das de 30.000 unidades, metade aplicada por
vias aéreas superiores e febre, acometendo via endovenosa neutralizando rapidamen-
a laringe após um a três dias, com rou- te as toxinas e, a outra metade, pela via
quidão e tosse. Sua instalação é insidio- intramuscular, atingindo o nível máximo
sa, evoluindo com estridor inspiratório em sangüíneo somente em 24 horas. A admi-
cerca de 60% dos casos, podendo causar nistração de antibióticos (penicilina ou
dispnéia grave. A radiologia mostra estrei- eritromicina) também é recomendada.
tamento da subglote e da traquéia proxi-
mal. Nos quadros leves, o tratamento está Corpo Estranho na Laringe
baseado no uso de corticóide em aeros-
sol somado à administração de corticói- É importante ressaltar que o principal
de por via oral (dexametasona, por exem- diagnóstico diferencial das laringites agu-
plo). Naqueles casos de maior gravidade, das é a presença de corpo estranho na
o paciente deve ser internado e receber laringe, traquéia ou brônquio. A sintoma-
corticóide por via intravenosa, nebuliza- tologia respiratória é semelhante, mas
ção com máscara aberta, terapia antibió- estão ausentes a febre e os sintomas de
tica profilática, além de cuidadosa vigi- toxemia, decorrentes do processo infec-
lância respiratória. Diferentemente da epi- cioso.
glotite aguda, poucos pacientes necessita- Cabem aqui, portanto, algumas obser-
rão de intubação (cerca de 1% a 7%). Quan- vações a esse respeito. Qualquer corpo
do necessário a intubação deve ser rea- estranho à laringe requer imediata inter-
lizada com a cânula mais fina possível venção, sendo uma situação de emergên-
para evitar ao máximo o trauma sobre a cia médica. Se o paciente não estiver com
subglote inflamada, pois a extubação dificuldade respiratória aguda, não se
geralmente é tardia e difícil (requerendo deve tentar retirar o corpo estranho sem
nova intubação em cerca de 20% a 30% condições adequadas para qualquer inter-
dos casos), e pode levar a seqüelas como venção de urgência, pois o deslocamen-
estenose em cerca de 5% dos casos. to do objeto pode obstruir totalmente a
laringe. São encontrados os mais diver-
Crupe Diftérico sos corpos estranhos, desde balas e do-
ces até grandes pedaços de alimentos, que
É uma infecção grave, muito rara atu- podem obstruir a laringe e levar à morte
almente, devido à vacinação obrigatória. por asfixia. Nestes casos, a primeira me-
Esta infecção manifesta-se por dor de dida a ser tomada logo após o acidente
garganta, disfagia, estridor inspiratório e é o posicionamento do paciente com a
tosse improdutiva. Caracteriza-se pelo cabeça para baixo, comprimindo seu tó-
308 CAPÍTULO 24
rax para que o ar seja expelido rapidamen- tência endurecida, a fonoterapia pode ser
te, o que força a eliminação do corpo insuficiente para sua regressão, estando
estranho. Se a manobra for infrutífera e indicada a exérese dos nódulos, através
o paciente estiver fora do âmbito hospi- de microcirurgia endolaríngea. A fonote-
talar, deve ser introduzida uma agulha rapia pós-operatória é obrigatória para se
grossa na região da membrana cricotire- evitar recidiva.
óidea, ou mesmo realizar-se uma crico-
tireoideostomia com qualquer objeto cor- Pólipo de Prega Vocal
tante. Nessa região a abertura da laringe
é mais fácil e rápida, e não existem es- Tem etiologia inflamatória, seja em
truturas vasculares importantes. Posteri- conseqüência do abuso vocal (trauma
ormente à retirada do corpo estranho, sob fonatório) ou por agressões crônicas como
condições ideais, se desfaz a cricotireoi- tabagismo, refluxo gastroesofágico etc. É
deostomia. uma degeneração edematosa da mucosa
vocal, embora possam existir lesões he-
L ARINGITES C RÔNICAS mangiomatosas ou mixomatosas. Sua sin-
tomatologia é similar à dos nódulos.
As laringites com evolução crônica são Geralmente é unilateral e pode situar-se
mais comuns na idade adulta. São oca- em qualquer porção da prega vocal, mes-
sionadas, em geral, pelo uso inadequado mo nas superfícies superior ou inferior da
da voz e pelo abuso no consumo de ci- mesma. O tratamento consiste em sua
garros e de álcool. A proximidade anatô- remoção cirúrgica através da microcirurgia
mica da laringe em relação ao esôfago da laringe, podendo ou não necessitar de
proximal e hipofaringe também a torna fonoterapia pós-operatória.
suscetível a patologias que ocorram nes-
sas áreas, tendo especial importância o Edema de Reinke
refluxo gastroesofágico. O refluxo gastro-
esofágico tem sido freqüentemente iden- Surge pelo acúmulo de líquido edema-
tificado como fator etiológico de disfonia toso no espaço subepitelial das pregas
crônica, também em crianças. A presen- vocais, denominado espaço de Reinke.
ça de refluxo pode ser confirmada pela Sua causa mais provável é a agressão
monitoragem do pH esofágico por 24 crônica da laringe, principalmente pelo
horas. As laringites crônicas também tabagismo em excesso. É mais freqüente
podem ser decorrentes de doenças espe- no sexo feminino.
cíficas, de doenças micóticas e, ainda, das À laringoscopia observa-se edema di-
moléstias auto-imunes. fuso de toda prega vocal, que se encon-
tra recoberta por um tecido epitelial fino
Nódulos de Pregas Vocais e translúcido, acarretando uma disfonia
persistente com voz grave.
São espessamentos bilaterais das pre- O tratamento inclui a suspensão do
gas vocais situados nos terços anterior ou fator irritativo e a administração de cor-
médio, geralmente simétricos. Resultam ticóides inalatórios. Entretanto, via de re-
de um trauma de vibração das pregas gra, é necessário tratamento cirúrgico por
vocais, resultantes de um esforço fonató- microcirurgia endolaríngea, com incisão
rio. Levam a quadro disfônico persisten- da mucosa ao longo do ligamento vocal,
te que piora com o uso excessivo da voz. aspirando-se o conteúdo líquido do espaço
O tratamento consiste em repouso vocal de Reinke e efetuando-se a ressecção do
e terapia fonoterápica para educar a fo- excesso de mucosa. Mesmo em casos de
nação, reduzindo o trauma. Reavaliações edema bilateral, pode-se proceder à remo-
periódicas mostram se está ocorrendo ção cirúrgica bilateral desde que não se
involução dos nódulos. Naqueles nódu- remova a mucosa da comissura anterior,
los mais antigos e fibrosos, com consis- para se prevenir a formação de sinéquias.
CAPÍTULO 24 309
Laringite Crônica Inespecífica anatomopatológico e da hibridização in
situ. O tratamento consiste em remoção
Neste processo ocorre metaplasia do por microcirurgia endolaríngea, que deve
tecido epitelial normal da laringe para te- ser o mais cuidadosa possível, visando
cido epidermóide queratinizado. As glân- prevenir os processos cicatriciais que po-
dulas mucosas sofrem atrofia. As altera- dem determinar a formação de sinéquias
ções observadas neste processo ocorrem e estenose endolaríngea. A utilização do
de modo mais difuso que naqueles men- laser cirúrgico, para vaporização das le-
cionados anteriormente. sões papilomatosas, apresenta bons resul-
O paciente apresenta disfonia e tosse tados neste aspecto. Em geral, são neces-
seca persistentes. Ao exame laringoscó- sárias repetidas intervenções cirúrgicas em
pico, observa-se congestão generalizada face das freqüentes recidivas do papiloma.
da laringe e espessamento das pregas A manutenção do traqueostoma em cri-
vocais. Os agentes irritantes são os mais anças com quadros acentuados de papi-
variados possíveis, destacando-se o fumo, lomatose ocasiona importante retardo na
os poluentes atmosféricos, a ingestão de aquisição e/ou desenvolvimento da fona-
álcool, a fonação inadequada, a irritação ção, comprometendo seu aprendizado
causada tanto pela presença de secreção escolar.
purulenta da sinusopatia crônica quan- Além da papilomatose juvenil existe
to pela bronquite, a presença de refluxo o papiloma do adulto, caracterizado por
gastroesofágico etc. O tratamento básico lesões isoladas, de evolução lenta e pro-
é a eliminação do fator desencadeante e, gressiva. Não são observadas diferenças
como medidas terapêuticas gerais, o uso histológicas entre ambos, entretanto ra-
de antiinflamatórios e fluidificantes de ramente há recidiva do papiloma do adul-
secreção. Em relação ao refluxo gastroe- to e sua evolução é menos agressiva. Deve-
sofágico, o controle dietético mostra-se se sempre atentar para possibilidade de
útil, embora geralmente seja necessária a malignização dos papilomas. O papel do
utilização de medicamentos antagonistas HPV na carcinogênese de tumores da
H1 e H2, bloqueadores de bombas de pró- cabeça e pescoço e, em especial, da la-
tons, além de drogas gastrocinéticas. ringe, ainda permanece controverso. Es-
tudos recentes têm demonstrado que o
Papilomatose Laríngea HPV16-DNA pode ser detectado em
cerca de 30% dos casos de carcinoma
Esta patologia é caracterizada pela epidermóide da laringe, enquanto o
presença de tumorações benignas na la- HPV18-DNA, surge em cerca de 8% dos
ringe, associadas principalmente ao pa- casos. Tais dados reforçam a necessidade
pilomavírus humano (HPV) dos tipos 6 de um cuidadoso acompanhamento dos
e 11-DNA. Apresenta uma forma juvenil, pacientes portadores de papilomatose
que é mais agressiva e recidivante. O laríngea.
papiloma juvenil acomete crianças em
diversas faixas etárias, ocasionando dis- Úlcera e Granulomas de Contato
fonia e obstrução respiratória alta de
intensidade variável, desde o estridor São lesões ulceradas ou granulomato-
inspiratório até a completa oclusão da sas que ocorrem na região do processo
fenda glótica, sendo necessária a realiza- vocal da cartilagem aritenóide. Suas prin-
ção de traqueostomia. Muitas vezes, o cipais causas são a fonação intensa e
papiloma também acomete a traquéia e forçada com trauma fonatório. Irritantes
os brônquios. crônicos da laringe, como refluxo gastro-
O diagnóstico é realizado através do esofágico, álcool e tabaco tendem a favo-
exame laringoscópico, que evidencia a recer seu surgimento. Existe traumatismo
presença de lesões múltiplas em cachos da mucosa que recobre o processo vocal
de uvas, sendo confirmado pelo exame das cartilagens aritenóides, criando uma
310 CAPÍTULO 24
região de pericondrite com formação de pesquisa dos bacilos no escarro e o exa-
tecido cicatricial ou de granulação. O me radiológico do tórax. Vale a pena sa-
tratamento consiste em fonoterapia para lientar que o teste de Mantoux tem pou-
reduzir o trauma fonatório, corticóides co valor naqueles pacientes com HIV/
inalatórios e remoção de fatores agres- Aids, pois a sensibilidade deles ao teste
sores como cigarro, álcool e refluxo gas- é bastante reduzida.
troesofágico. Em casos rebeldes ao trata-
mento pode ser necessário a remoção Lues Laríngea
cirúrgica.
É causada pelo Treponema pallidum,
Granulomas Laríngeos Traumáticos sendo rara atualmente. A laringe apresen-
ta lesões eritematosas difusas devidas à
São devidos principalmente à reação lues secundária e terciária. O diagnóstico
tecidual ocasionada pela presença de é confirmado através da biópsia e de exa-
sonda de intubacão endotraqueal por me sorológico positivo (VDRL e FTA-ABS).
período prolongado. As primeiras altera- O tratamento é feito pela administração
ções teciduais surgem cerca de duas ho- de penicilina benzatina intramuscular.
ras após a intubação e podem adquirir
caráter evolutivo, mesmo após a extuba- Outras Doenças Granulomatosas
ção do paciente. Formam-se granulomas,
mais freqüentemente na comissura pos- A sarcoidose, o escleroma e a hanse-
terior da região glótica (local de maior níase também podem acometer a laringe,
contato da sonda de intubação), poden- ocasionando quadro clínico semelhante
do haver evolução até estenose laríngea, aos anteriores, sendo o tratamento de
com perda das funções desse órgão. Se eleição a terapêutica da doença de base.
isso ocorrer, há necessidade de abordagem
cirúrgica para a remoção das sinéquias e Micoses Laríngeas
o restabelecimento da luz da laringe. É
importante ressaltar que a realização de São doenças raras, destacando-se em
traqueostomia, dentro de um prazo má- nosso meio a blastomicose. Esta se carac-
ximo de cinco a sete dias de intubação, teriza por ocasionar disfonia e tosse, por
evitaria o surgimento de tais seqüelas. vezes acompanhadas de hemoptise. Leva
a um processo granulomatoso endolarín-
L ARINGITES E SPECÍFICAS geo com ulcerações. O tratamento inclui
o uso de drogas antimicóticas que levam
Tuberculose Laríngea ao controle da moléstia. Entretanto, com
a resolução do quadro existe formação de
É causada pelo Mycobacterium tuber- fibrose, levando com freqüência à este-
culosis. Geralmente a tuberculose larín- nose laríngea, que muitas vezes necessi-
gea é secundária à tuberculose pulmonar. ta de correção cirúrgica.
Todavia, em pacientes com infecção pelo Outras micoses também devem ser
HIV, é comum a sua ocorrência mesmo lembradas, tais como: a histoplasmose, a
sem comprometimento pulmonar. Afeta actinomicose e a candidíase.
os tecidos das regiões glótica e supragló- Micoses laríngeas, ocorrendo isolada-
tica de maneira difusa, determinando um mente e de modo mais abrupto, podem
aspecto edemaciado e congesto; às vezes, surgir no paciente imunodeprimido; to-
pode surgir como lesão isolada, especi- davia, são mais comuns como extensão de
almente no nível glótico. Leva à disfonia uma micose disseminada. Tais casos costu-
e tosse persistentes. O diagnóstico é rea- mam ser observados em pacientes com Aids,
lizado através da biópsia endolaríngea, leucemias e outros tipos de câncer, pa-
com cultura para bacilos álcool-ácido cientes em uso prolongado de corticoste-
resistentes (BAAR). Também são úteis a róides e quimioterápicos e pacientes com
CAPÍTULO 24 311
doenças sistêmicas crônicas, como diabe- Outras Doenças Auto-Imunes
tes mellitus e doenças pulmonares severas.
Mais raramente podem comprometer
Doenças Auto-Imunes a laringe, dentro do contexto de um qua-
dro sistêmico, o lúpus eritematoso sis-
Artrite Reumatóide têmico, poliomiosite, poliarterite nodosa,
amiloidose, granulomatose de Wegener
As articulações cricoaritenóideas po- e pênfigo vulgar. Os sintomas são seme-
dem ser acometidas pela artrite, ocasio- lhantes aos anteriores e o tratamento é o
nando paresia ou até mesmo paralisia da da doença de base, além da correção
prega vocal acometida, resultando em cirúrgica de possíveis seqüelas endola-
disfonia e em grau variável de dispnéia. ríngeas.
312 CAPÍTULO 24
CAPÍTULO
Tumores da Laringe
Epidemiologia
Fig. 25.1 Radiografia simples de laringe, mos-
Os tumores malignos de laringe per- trando um tumor glótico.
Tumor Infraglótico
Técnica Diagnóstica
Patologia
Sarcomas da Laringe
Técnica cirúrgica:
Fig. 25.5 Área a ser ressecada na laringecto-
Paciente sob anestesia geral, traque-
mia supraglótica.
ostomizado.
Incisão horizontal da pele, com
prolongamento lateral para dissecção do até o bordo superior (cortar em ângulo
pescoço. reto para que não se modifique a região
Dissecção do plano muscular sub- a ser dissecada internamente).
platismal. Os músculos supra-hióideos são
Incisão da musculatura no nível do incisados ao longo do bordo superior do
bordo superior da tireóide, expondo-se o osso hióide, corno maior ipsilateral até
pericôndrio, que a seguir também é sec- corno menor contralateral; se a valécula
cionado, expondo-se a cartilagem. não estiver acometida, pode-se preservar
Retalho musculopericondral inferior a mucosa acima do corno maior (alguns
é preparado com descolador ou rugina, autores preferem a retirada total do hi-
até o bordo inferior da cartilagem tireói- óide para não haver massa palpável no
de (deve-se tomar cuidado na preserva- controle pós-operatório).
ção do pericôndrio, que será utilizado na A incisão da mucosa faríngea pode
reconstrução). ser feita através de visão endoral ou por
Marcação da incisão da cartilagem transluminação, para localização do tu-
com azul-de-metileno, logo acima do ní- mor primário. Inicialmente, ressecar pelo
vel das pregas vocais, tomando-se o cui- lado não acometido pelo tumor, procuran-
dado de não incisar a comissura anterior. do-se garantir margem de segurança ade-
A comissura está no ponto médio entre quada. Prolonga-se a incisão até a arite-
a incisura da cartilagem tireóidea e seu nóide e região posterior do ventrículo, e
bordo inferior. A incisão da cartilagem com cautela prosseguir-se, anteriormen-
estende-se até o bordo posterior da mes- te, paralelo às pregas vocais, até a por-
ma, do lado do tumor, e do outro lado, ção média da cartilagem tireóide, acima
prolonga-se alguns milímetros, lateralmen- da comissura anterior, unindo esta inci-
te, quando então, toma direção ascendente são com a feita previamente, pela face
T2
Reabilitação Vocal
Tópicos Especiais
CAPÍTULO 27 333
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
334 CAPÍTULO 27
CAPÍTULO
Massas Cervicais
Higroma Cístico
CAPÍTULO 27 335
sões podem ser tratados com infiltração
de substâncias esclerosantes ou através da
criocirurgia, porém, com possibilidade de re-
cidiva (Fig. 27.2).
Cisto Dermóide
Cisto Branquial
336 CAPÍTULO 27
DE O RIGEM I NFECCIOSA
Adenite Tuberculosa
CAPÍTULO 27 337
periormente pela mucosa do assoalho da
boca e língua e, inferiormente, pela mus-
culatura que se estende da mandíbula ao
osso hióide. A infecção nesse espaço
ocorre em geral pela contigüidade de
infecções dentárias dos molares e pré-
molares. A região submandibular apresen-
ta sinais flogísticos acompanhados de
intensa celulite; a língua é deslocada em
direção ao palato, há muita dor à deglu-
tição, trismo, febre alta e prostração do
paciente. É também chamada de angina
de Ludwig.
O tratamento consiste em antibiotico-
terapia sistêmica e drenagem da coleção
purulenta.
Mononucleose Infecciosa
338 CAPÍTULO 27
Quemodectomas Adenomegalia Cervical Metastática
CAPÍTULO 27 339
© Direitos reservados à EDITORA ATHENEU LTDA.
340 CAPÍTULO 27
CAPÍTULO
Traqueostomia
Trauma Maxilofacial
Paralisia Facial
Periférica
Fig. 30.1 Esquema do nervo facial, seus ramos e locais de inervação. 1 Forame estilomastóide. 2
Distribuição motora na musculatura da face. 3 Inervação motora da glândula salivar submandibular. 4
Inervação, sensitiva dos dois terços anteriores da língua. 5 Inervação motora da glândula lacrimal. 6
Inervação motora do músculo do estribo. 7 Gânglio geniculado. 8 Poro acústico interno. 9 Tronco
cerebral. 10 Núcleo do nervo no tronco cerebral. 11 Estribo. 12 Nervo petroso superficial maior.
13 Ramo do estribo. 14 Nervo corda do tímpano. 15 Segmento intracraniano que atravessa a fossa
posterior craniana. 16 Primeiro segmento ou labiríntico. 17 Segundo segmento ou timpânico. 18
Terceiro segmento ou mastóideo. 19 Segmento extratemporal (Modificado de Alford e cols.).
Fig. 30.2 Esquema do segmento extratemporal do nervo facial e seus ramos. 1 Nervo auricular posterior.
2 Ramo para o músculo digástrico. 3 Tronco do nervo. 4 Ramo para o processo estilóide. 5
Ramo cervical. 6 Ramo mandibular. 7 Ramo cervicofacial. 8 Ramo temporofacial. 9 Ramo tem-
poral. 10 Ramo zigomático. 11 Ramo bucal (Modificado de Wilson-Pauwels e cols.).
DIAGNÓSTICO
Grau I: Normal
Função facial normal em todas as áreas
As etiologias são:
Virais.
Bacterianas inespecíficas.
Específicas.
Virais
Neurinoma do Nervo
Acústico
Fig. 31.1 Tomografia computadorizada de ossos temporal mostrando o alargamento do conduto audi-
tivo interno à direita em relação ao esquerdo.
Glândulas Salivares
Face Anterior
Face Posterior
tídea superficial e profunda e apresenta
a forma de um prisma quadrangular. Relação, de fora para dentro:
No compartimento parotídeo encontra- músculo esternocleidomastóideo à
mos a glândula parótida, vasos e nervos. cuja bainha está aderida;
A glândula parótida é a mais volumosa apófise mastóide;
das glândulas salivares. ventre posterior do músculo digás-
Encontra-se aderida à loja em diver- trico;
sos pontos, o que aumenta a dificuldade apófise estilóide.
de retirada.
Para melhor compreensão de sua ana- Face Superior
tomia, passamos a descrever suas relações:
De fora para dentro:
Face Externa articulação temporomandibular;
parede inferior da porção cartilagino-
Corresponde aos planos superficiais sa e óssea do conduto auditivo externo.
(pele, tecido subcutâneo, aponeurose
superficial). Face Inferior
Ultra-sonografia
Fig. 32.6 Tomografia computadorizada de glându- Fig. 32.7 Ultra-sonografia de glândula salivar
la salivar mostrando tumor de glândula parótida. mostrando imagem cística.
Fissuras
Labiopalatinas
direita
completa
esquerda
unilaterais
direita
incompleta
Fissuras esquerda
pré-forame
incisivo bilaterais completa ou incompleta de ambos
os lados, ou incompleta de um lado
e completa de outro
medianas (raras)
direita
Fissuras transforame unilaterais
incisivo (fissuras esquerda
labiopalatinas) bilaterais
lábio, com pontos separados de categute são superior deverá ser praticada medi-
atraumático, cromado 4-0 (Fig. 33.2B); as almente (Fig. 33.2C). Os retalhos X e Y
margens das incisões libertadoras dos são transpostos completando-se a sutura
sulcos gengivolabiais são suturadas de cutânea. Finalmente, os retalhos muco-
maneira análoga. sos do vermelhão das vertentes são im-
O plano muscular é suturado com dois bricados e suturados entre si, com pon-
ou três pontos de náilon 5.0. tos separados de fio de náilon 6.0 atrau-
A sutura do plano cutâneo é feita com mático (Figs. 33.2D e 33.2E).
fio de náilon atraumático 5.0, por meio de A técnica mundialmente mais aceita
pontos separados. Inicialmente dá-se um é a técnica de Millard, que resulta em
ponto no nível do vestíbulo nasal, reparan- lábio com aparência mais natural e com
do-se o fio com uma pinça hemostática. boa simetria nasal (Fig. 33.3).
A seguir dá-se outro ponto no nível da
linha cutaneomucosa, de modo a ficar TÉCNICA DE MILLARD
restabelecida a sua continuidade; imedia-
tamente acima destes, dá-se outro pon- I Demarcação dos pontos de refe-
to, que também é reparado (Fig 33.2C). rência
A distância entre este último ponto e o a) Na interseção da crista filtral, do
colocado no vestíbulo nasal é que cons- lado são com a linha cutaneomucosa (2).
tituirá a linha central da plástica em Z, b) Na linha cutaneomucosa da vertente
a ser executada no plano cutâneo e ava- medial, correspondente ao ponto media-
liada segundo a diferença de altura en- no do arco-de-cupido. Transferência da
tre o lado são e o lado em reparação (Fig. distância correspondente aos dois pontos
33.2C). demarcados para a linha cutaneomuco-
Avaliando-se o alongamento que se sa da margem da fenda labial (4).
deseja, as incisões restantes do Z são c) A distância entre os pontos 3 e 4 é
demarcadas com tinta, sendo que a inci- transferida para a vertente lateral, ini-
A idade ideal para ser realizado é entre Retalho faríngeo primário: enquanto a
oito e 11 anos, à erupção dos dentes fala é excelente com reparações, incorporan-
decíduos e quando há condições de tra- do retalho faríngeo com o procedimento
zer os dentes para baixo através do osso. primário, ocorre que aproximadamente 70%
dos casos desenvolvem fala normal sem
Técnicas de Reparação do Palato o retalho faríngeo e que seriam submetidos
a procedimento cirúrgico desnecessário.
Não existe nenhuma intenção de se Desta maneira, não é indicado pela
discutir todas as técnicas de reparação do maioria dos cirurgiões como método pri-
palato. Elas podem ser divididas simples- mário.
mente entre aquelas com alongamento do
palato (ex.: V-Y) e aquelas sem alonga- Pós-operatório
mento (ex.: Von Langenbeck).
As duas técnicas mais utilizadas são Excluindo-se as medidas gerais de
a de Von Langenbeck (Fig. 33.8) e a de rotina, os cuidados locais de limpeza da
Veau-Wardifi-Uner (Fig. 33.9). Aparente- ferida operatória e retirada de pontos
mente não há diferença significativa en- deverão ficar a cargo dos próprios médi-
tre as duas técnicas quanto ao resultado cos ou de enfermagem familiarizada com
em relação à fala, quando é realizada a a especialidade.
reparação das fissuras do palato secun- Consideram-se de maior importância
dário apenas. os cuidados locais.
As técnicas que promovem alongamen- A retirada dos pontos de sutura do
to do palato (V-Y) têm resultado superior lábio é feita do quinto ao sétimo dia,
e nas fissuras completas (Figs. 33.8, 33.9 cuidadosamente, procurando não trauma-
e 33.10). tizar a ferida.
Noções Básicas
de Antibioticoterapia
25-90.000u/kg/dia
Oxacilina EV 50-300mg/kg/dia 6/6
Axefilcefuroxima Ceftriaxona
1a Escolha Outras
Ouvido Médio
Seios Paranasais
Continua
1a Escolha Outras
Diabéticos
Herpes-vírus (infecções graves) Aciclovir
Garganta
Laringe/Brônquios/ Traquéia
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9. Archard HO, Roebuck NF & Stanley HR. 6:609-874, 1973.
A antranílico, 50
clavulâmico, 156
Abóbada palatina, 14 crômico, 44
Abscesso(s) etacrínico, 210
cerebral, 55, 56, 145 glandulares, 401
da pálpebra, 53 graxos, 98
extradural, 55, 56 nalidíxico, 198
intraconal ou orbitário, 54 nicotínico, 223
intracranianos, 176 propiônico, 50
parafaríngeo, 338 tricloroacético, 44, 145, 148
periamigdaliano, 273 Acidose metabólica, 342
retrofaríngeo, 343 Acrocefalossindactilia, 242
subdural, 55, 56 Actina, 111
subperiosteal, 54 Actinomicose, 311
Absorção óssea, 369 Acúfenos, 382
Acalmia, 168 Acuidade auditiva, queda súbita da, 199
Acantose, 243 Acumetria, 174
Acesso cirúrgico Acupuntura, 378
de Caldwell-Luc, 61 Acústico, tumor do, 211
endonasal, 62, 65 Addison, doença de, 256
paralátero-nasal, 65 Adenite tuberculosa, 337
transfaríngea, 65 Adenoamigdalite crônica, 264
transpalatina, 65 Adenocarcinoma, 281
Acidente(s) da mucosa oral, 279
automobilísticos, fraturas nasais por, 45 de pulmão, 371
da região cervical, 211 de rim, 371
de trabalho, 139 Adenoflegmão
Ácido(s) laterofaríngeo, 268
aminados, 98 retrofaríngeo, 268