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° CONSENSO
DE GLAUCOMA PRIMÁRIO
DE ÂNGULO FECHADO

© 2012, Novartis. Setembro/12


Editores Participantes
JOSÉ PAULO CABRAL VASCONCELLOS MARCELO JORDÃO LOPES DA SILVA AUGUSTO PARANHOS JUNIOR JOÃO ANTONIO PRATA JR
Doutor em Medicina pela Universidade Estadual Mestre em Medicina pelo IASMPE, Doutor em Mestre, Doutor e Professor Livre Docente pela Univer- Oftalmologista Universidade Federal do Triângulo
de Campinas, Médico Assistente do Setor de Ciências Médicas pela UNICAMP, Doutor em Ciências sidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) Mineiro (UFTM). Professor Livre Docente pela
UNIFESP/EPM
Glaucoma do Hospital das Clínicas da UNICAMP, Médicas pela FMRP – USP, Médico Assistente ALBERTO JORGE BETINJANE
Professor da Pós-Graduação da UNICAMP e Chefe Departamento de Glaucoma HC-FMRP - USP Professor Associado e Livre Docente da Faculdade de MARCELO HATANAKA
do Laboratório de Genética em Oftalmologia da Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e Pro- Chefe do Serviço de Glaucoma da Divisão de Clínica
UNICAMP. VITAL PAULINO COSTA fessor do Curso de Pós Graduação da Faculdade de Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade
Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-
Doutor em Medicina e Professor Livre-Docente pela
FMUSP)
LISANDRO M. SAKATA Faculdade de Medicina da Universidade de São CARLOS AKIRA OMI MARCELO MENDONÇA
Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Paulo, Chefe do Setor de Glaucoma do Hospital das Mestre e Doutor em Oftalmologia pela UNIFESP/ Presidente do Instituto Glaukos de Pesquisa e Cirurgia
USP, Médico do Setor de Glaucoma do Hospital das Clínicas da UNICAMP e Professor da Pós-Graduação EPM. Médico colaborador do Serviço de Glaucoma da em Catarata e Glaucoma
Clínicas da Universidade Federal do Paraná da UNICAMP. UNIFESP/EPM
MARCELO PALIS VENTURA
CARLOS RUBENS LUCAS DE FIGUEIREDO Professor Associado de Oftalmologia da Universidade
Professor Colaborador do Curso de Pós-Graduação Federal Fluminense, UFF-RJ. Chefe do Serviço de
de Oftalmologia da Clínica de Olhos da Santa Casa de Oftalmologia da UFF-RJ. Mestre e Doutor pela Univer-
Belo Horizonte, MG sidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ

CARMO MANDIA JR. MAURÍCIO DELLA PAOLERA


Professor-Doutor Assistente da Faculdade de Ciências Professor Assistente da Santa Casa de São Paulo, Chefe
Médicas da Santa Casa de São Paulo do Setor de Glaucoma da Santa Casa de São Paulo

CHRISTIANE ROLIM DE MOURA PAULO AFONSO BATISTA DOS SANTOS


Mestre, Doutora e Pós-doutoranda pela UNIFESP/EPM Professor Adjunto-Doutor da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal da Bahia (UFBA);
CRISTIANO CAIXETA UMBELINO Mestre e Doutor pela Faculdade de Medicina de
Professor Assistente do Departamento de Glaucoma Ribeirão Preto (FMRPUSP)
da Santa Casa de São Paulo. Mestre em Medicina
Molecular pela Santa Casa de São Paulo PAULO AUGUSTO DE ARRUDA MELLO
Professor Associado e da Pós-Graduação do Depar-
EMILIO RINTARO SUZUKI JUNIOR tamento de Oftalmologia da UNIFESP/EPM – Setor de
Mestre em Medicina pela Santa Casa de Belo Horizonte - Glaucoma
MG; Assistente da Unidade de Catarata e Glaucoma da
Santa Casa de Belo Horizonte - MG RALPH COHEN
Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas
FELÍCIO ARISTÓTELES DA SILVA da Santa Casa de São Paulo
Doutor em Medicina pela Universidade de Wÿrzburg,
Alemanha; Professor Voluntário do Serviço de Glauco- REMO SUSANNA JUNIOR
ma da Santa Casa de Misericórdia – Belo Horizonte, MG Professor Titular da Clinica Oftalmológica da Universi-
dade de São Paulo
FRANCISCO EDUARDO LOPES DE LIMA
Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo RIUITIRO YAMANE
e Professor Afiliado da Universidade Federal de Goiás Professor Titular e Professor Livre-Docente de Oftal-
mologia da Faculdade de Ciências Médicas da Univer-
GERALDO VICENTE DE ALMEIDA sidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas Doutor e Mestre pela Universidade Federal do Rio de
da Santa Casa de São Paulo. Colaborador do Setor de Janeiro (UFRJ)
Glaucoma da UNIFESP/EPM
ROBERTO PEDROSA GALVÃO FILHO
HELOISA ANDRADE MAESTRINI Doutor em Medicina pela FMUSP
Doutora em Oftalmologia pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) ROGÉRIO JOÃO ALMEIDA TORRES
Chefe do Serviço de Glaucoma da Residência Médica
HOMERO GUSMÃO DE ALMEIDA em Oftalmologia do Hospital Angelina Caron
Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Uni- Mestrado pela Faculdade Evangélica do Paraná
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
SEBASTIÃO CRONEMBERGER SOBRINHO
IVAN MAYNART TAVARES Professor Titular de Oftalmologia da Faculdade de
Professor Adjunto de Oftalmologia, Orientador da Pós- Medicina da UFMG
Graduação e Chefe do Setor de Glaucoma, UNIFESP/
EPM, Doutor em Medicina, UNIFESP/EPM

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Índice

1. Conceito
1.1 - Processo de fechamento angular primário 6
2. Classificação baseada na evolução da doença 6
2.1 - Suspeito de fechamento angular primário 6
2.2 - Fechamento angular primário 6
2.3 - Glaucoma primário de ângulo fechado 7

3. Classificação do processo de fechamento angular por sintomas 7


3.1 - Forma aguda 8
3.2 - Forma intermitente 8
3.3 - Forma crônica 8

4. Diagnóstico diferencial do processo de fechamento angular primário 8

5. Mecanismos de fechamento angular primário 9


5.1 - Bloqueio pupilar 9
Prefácio 5.2 - Íris em Platô (Plateau) 9
O glaucoma primário de ângulo fechado é uma das principais causas de cegueira no mundo. Apesar do 5.3 - Fechamento angular induzido pelo cristalino 10
glaucoma primário de ângulo fechado acometer aproximadamente 1/3 dos pacientes com glaucoma no 5.4 - Associação de mecanismos 10
mundo, esta condição causa a cegueira em um número semelhante ao glaucoma primário de ângulo aberto.
Destaques do consenso 10
Estes números demonstram o grau de agressividade dessa forma da doença, que precisa ser identificada e
tratada adequadamente. O 2o Consenso de Glaucoma Primário de Ângulo Fechado, elaborado pela Sociedade Conceito, classificação e mecanismos 10
Brasileira de Glaucoma, reuniu 31 especialistas de todo o país para discutir as particularidades desse subtipo 6. Epidemiologia 11
de glaucoma. A classificação da doença foi atualizada e passou a incluir o que hoje é aceito por toda a
comunidade oftalmológica mundial. Ao final do Consenso, propomos um fluxograma baseado nessa mesma 7. Fatores de risco para fechamento angular primário 11
classificação e que visa facilitar as tomadas de decisão diante de pacientes com suspeita de fechamento 7.1 - Demográficos 11
ocular, fechamento angular primário e glaucoma primário de ângulo fechado. Esperamos que a leitura desse
7.2 - O
 culares 12
livro seja de utilidade a todos que se dedicam ao atendimento de pacientes com glaucoma.
José Paulo Cabral Vasconcellos 8. Avaliação clínica 12
8.1 - A
 valiação da profundidade periférica da câmara anterior
Lisandro M. Sakata pela classificação de Van Herick 12
8.2 - Gonioscopia 13
Marcelo Jordão L. Silva

Vital Paulino Costa 9. Sinais de fechamento angular primário agudo prévio 15


9.1 - Biomicroscópicos 15
9.2 - Gonioscópicos 16
9.3 - Fundoscópicos 17

10. Exames complementares 17


10.1 - Testes provocativos 17
10.2 - Biomicroscopia ultra-sônica (UBM) 17
10.3 - Pentacam e OCT de segmento anterior 17
Destaques do consenso 17
Epidemiologia, fatores de risco e avaliação clínica 17

11. Estratégias de tratamento 18


11.1 - Suspeita de fechamento angular primário 18
11.2 - Fechamento angular primário 18
11.3 - Glaucoma primário de ângulo fechado 20

Destaques do consenso 21
Tratamento 21

4 5
pela periferia da íris, o que leva ao aumento agudo da PIO e aos sintomas característicos.
Na atual classificação, o termo “glaucoma” se restringe a olhos que já apresentam sinais
de neuropatia óptica glaucomatosa. Olhos que apresentam sequelas deste quadro clínico
1.Conceito agudo mas sem sinais de neuropatia glaucomatosa são caracterizados como olhos com
“fechamento angular agudo primário”. Por outro lado, olhos com sequelas de fechamento
angular agudo primário e sinais de neuropatia glaucomatosa são classificados como
1.1 - Processo de fechamento angular primário “glaucoma primário de ângulo fechado com episódio(s) prévio(s) de fechamento angular
agudo primário”.
É o mecanismo pelo qual existe um fechamento parcial ou completo do ângulo da câmara Obs: O termo “glaucoma agudo” pode permanecer no consenso durante este período de transição.
anterior, decorrente de condições anatômicas que propiciam aposição ou adesão da periferia
da íris à sua parede externa (goniossinéquias), com frequente elevação da pressão intraocular
(PIO) de forma aguda, intermitente ou crônica. O processo de fechamento angular primário 2.3 - Glaucoma primário de ângulo fechado
pode levar, eventualmente, ao desenvolvimento da neuropatia óptica glaucomatosa.
Esta condição é caracterizada pelas alterações encontradas nos indivíduos com fechamento
angular primário, associadas à presença de neuropatia óptica glaucomatosa e/ou defeito
campimétrico compatível com glaucoma.1

2.Classificação baseada
na evolução da doença
Esta classificação sugere um continuum da doença, em que o processo de fechamento
3.Classificação do processo de
angular e o da neuropatia óptica glaucomatosa representam alterações associadas. Assim, o
termo “glaucoma” se restringe a indivíduos que apresentam lesão no nervo óptico.1 fechamento angular por sintomas
2.1 - Suspeito de fechamento angular primário O processo de fechamento angular pode se manifestar através de três formas clínicas: aguda,
intermitente e crônica. 2

Termo utilizado para o indivíduo sob risco de sofrer o processo de fechamento angular
primário. 3.1 - Forma aguda
A identificação desta condição se baseia na impossibilidade de se observar, à gonioscopia, a Manifestação clínica mais agressiva/sintomática do processo de fechamento angular,
porção pigmentada da malha trabecular em 180o ou mais, sem manobras complementares, geralmente unilateral.
em posição primária do olhar, em ambiente escuro, com fenda luminosa estreita e sem
iluminar a pupila para evitar a abertura do ângulo.
Sintomas:
Não há vestígios pigmentares de aposição iridotrabecular prévia (imprint), goniossinéquias • Dor ocular intensa
ou neuropatia óptica glaucomatosa, e os níveis de PIO encontram-se dentro dos limites da • Cefaléia, em geral, hemicrânia e ipsilateral
normalidade.1 • Visão turva
• Visão de halos coloridos
• Náusea e vômitos
2.2 - Fechamento angular primário
Sinais:
É o termo utilizado quando o indivíduo já apresenta sinais do processo de fechamento angular • PIO elevada, frequentemente acima de 40 mmHg
primário. • Redução da acuidade visual
• Edema de córnea, predominantemente epitelial
Nesta condição, além das alterações gonioscópicas observadas nos indivíduos com suspeita • Midríase média paralítica ou pupila hiporreativa
de fechamento angular, encontram-se imprint ou goniossinéquias e/ou aumento da PIO. • Câmara anterior rasa
Entretanto, não há neuropatia óptica glaucomatosa.1 • Abaulamento periférico da íris (íris bombée)
A evolução do “suspeito de fechamento angular” para o “fechamento angular primário” pode • Fechamento angular geralmente em 360o
ocorrer na presença ou não de sintomas. • Hiperemia conjuntival com injeção ciliar
• Tyndall inflamatório e/ou pigmentar
Comentário: o termo “glaucoma agudo” foi substituído pelo termo “fechamento angular
primário agudo”. Esta apresentação clínica representa a forma mais sintomática do processo OBS: o disco óptico pode apresentar edema, com congestão venosa e/ou hemorragia em chama de vela
de fechamento angular, em que o trabeculado filtrante é obstruído, de maneira abrupta, associados.

6 7
3.2 - Forma intermitente • Fechamento angular facogênico
> Intumescência
> Subluxação
Quadro clínico semelhante ao da forma aguda, porém com manifestações mais brandas e • Bloqueio ciliar
recorrentes, que se resolvem espontaneamente. > Glaucoma maligno
> Cintagem escleral
Sintomas: > Panfotocoagulação
• Visão de halos, dor ocular e/ou cefaléia ipsilateral leve no momento da crise > Oclusão de veia central da retina
> Fistula carótido cavernosa
Sinais: • Cistos de íris e/ou corpo ciliar
• PIO elevada durante as crises, mas normal entre as crises • Tumores intraoculares
• Imprint • Secundário a cirurgia vítreorretiniana
• Presença ou não de goniossinéquias • Trauma ocular
• Câmara anterior rasa • Efusão ciliocoroidéa
> Esclerite posterior
3.3 - Forma crônica > Secundário ao uso de drogas, como o topiramato.

Representam os casos em que o processo de fechamento angular ocorre de maneira


assintomática.
Obs: esta classificação refere-se à sintomatologia e não ao tempo de duração da doença.

Sintomas:
• Ausentes
5.Mecanismos de
Sinais: fechamento angular primário
• PIO elevada ou normal
• Presença ou não de goniossinéquias 5.1 - Bloqueio pupilar
• Possível concomitância de fechamento angular intermitente ou agudo
• Câmara anterior rasa
É o mecanismo responsável pela grande maioria dos casos de fechamento angular primário.
Comentários: Nas diferentes apresentações clínicas baseadas nos sintomas, pode-se Nesta condição, o fluxo do humor aquoso através da pupila para a câmara anterior é dificultado,
observar ou não neuropatia óptica glaucomatosa. A presença da lesão no nervo óptico fazendo com que a pressão na câmara posterior se torne maior do que na câmara anterior.
depende da susceptibilidade individual e da duração e intensidade de PIO elevada. Este processo é induzido pela midríase, farmacológica ou não. Como resultado, a periferia da
Um paciente pode migrar de uma categoria para outra com o tempo, dependendo da íris é projetada anteriormente, com consequente fechamento do ângulo da câmara anterior. 2
evolução das alterações anatômicas e/ou intervenções realizadas.
O aumento da resistência ao fluxo do humor aquoso através da pupila é causado por um
Ex: Paciente com a forma crônica que eventualmente desenvolve um fechamento angular
conjunto de forças no segmento anterior que resultam em contato da superfície posterior da
agudo, ou um paciente com a forma aguda que, mesmo após a iridectomia, passa a
íris com a superfície anterior do cristalino de intensidade suficiente para dificultar a passagem
apresentar a forma crônica.
do humor aquoso pela pupila.

5.2 - Íris em Platô (Plateau)


4.Diagnóstico diferencial Nesta situação, o fechamento angular é devido a uma maior espessura da periferia da íris,

do processo de fechamento sua inserção mais anterior e/ou posicionamento mais anterior dos processos ciliares.2-5 Nessa
condição, o ângulo é fechado pela periferia da íris, mesmo na presença de uma iridectomia

angular primário patente (síndrome da íris em platô), quando da dilatação pupilar farmacológica ou não.2
Tipicamente, esses olhos apresentam câmara anterior de profundidade normal na região
central, em contraposição à câmara rasa na periferia e ângulo estreito.2-4 A gonioscopia
• Glaucoma neovascular de indentação pode revelar uma dupla corcova. Este mecanismo pode estar associado ao
• Uveíte hipertensiva bloqueio pupilar.4-5
• Bloqueio pupilar secundário
A síndrome de íris em platô é incomum. Seu diagnóstico definitivo é feito quando ocorre
> Uveítes
aumento da PIO provocado pelo fechamento angular agudo em um olho com iridectomia
> Lente intraocular
patente.
> Vítreo

8 9
2. A
 classificação baseada na evolução da doença deve ser complementada
pela presença ou não de sintomas e pelos mecanismos envolvidos no
Figura 1. Foto gonioscópica demonstrando processo de fechamento angular.
a dupla corcova. Comentário: A presença de sintomas e os diferentes mecanismos de fechamento angular
Sob indentação, ocorre uma posteriorização podem ser relevantes para tomada de decisão clínica e terapêutica frente a pacientes com
do plano da íris seguindo o contorno da face fechamento angular primário.
anterior do cristalino; entretanto, na periferia,
a íris volta a se anteriorizar, pois segue o
contorno da face anterior dos processos
ciliares, que se encontram anteriorizados.

6. Epidemiologia
Segundo estimativas baseadas em estudos epidemiológicos, o glaucoma de ângulo fechado
5.3 - Fechamento angular induzido pelo cristalino representa um terço de todos os casos de glaucoma primário no mundo. Em 2020, estima-se
que existirão 21 milhões de indivíduos com glaucoma de ângulo fechado, contra 58 milhões
de indivíduos com glaucoma de ângulo aberto. Apesar de menos prevalente, o número
Apesar do componente facomórfico caracterizar um fechamento angular secundário, é de indivíduos cegos por glaucoma de ângulo fechado é semelhante quando comparado
frequente que o cristalino participe em graus variáveis da patogenia do fechamento angular com o número de indivíduos cegos por glaucoma de ângulo aberto (3.9 vs. 4.5 milhões de
primário. Nesta condição, o aumento do diâmetro ântero-posterior do cristalino pode, indivíduos).1, 5-7
mecanicamente, facilitar o fechamento angular agudo ou crônico em olhos anatomicamente
A maioria dos casos de glaucoma de ângulo fechado apresenta a forma assintomática da
predispostos.
doença, ou seja, o indivíduo apresenta o processo de fechamento angular crônico, sem nunca
apresentar nenhum sinal ou sintoma de fechamento angular (agudo ou intermitente).1, 5-7
5.4 - Associação de mecanismos Este dado epidemiológico reforça a necessidade de realizar uma busca ativa dos casos
de fechamento angular através da avaliação biomicroscópica da câmara anterior central e
periférica, e da gonioscopia.
A combinação dos diferentes mecanismos de fechamento angular primário em um mesmo
olho é comum. É importante repetir a gonioscopia após a iridectomia para verificar a presença Existem poucos estudos sobre a prevalência do glaucoma no Brasil. Recentemente, estudo
de outros mecanismos além do bloqueio pupilar.4-5 realizado na região Sul do país, avaliou 1636 indivíduos acima de 40 anos, e observou
uma prevalência de glaucoma de ângulo fechado de 0,7% (95% IC, 0,3-1,1), enquanto a de
glaucoma de ângulo aberto foi de 2,4% (95% CI 1,7-3,2).8 Assim, um em cada 4 pacientes com
glaucoma no Brasil teria glaucoma de ângulo fechado. Entretanto, é importante ressaltar
que a população deste estudo não é representativa do Brasil devido a heterogeneidade da
miscigenação e da diferente distribuição dos grupos étnicos em cada região do país. Mais e
melhores estudos são necessários para avaliar a prevalência do glaucoma no Brasil.

Destaques do Consenso
Conceito, classificação e mecanismos
7. Fatores de risco para
1. A
 classificação baseada no processo de evolução da doença representa o
padrão de referência mundial. fechamento angular primário
Comentário: Esta classificação não é definitiva e apresenta limitações como, por exemplo,
não considerar a presença de sintomas e os diferentes mecanismos de fechamento
7.1 - Demográficos
angular envolvidos em cada caso. Entretanto, sua adoção permite uma uniformidade na
caracterização dos indivíduos nas diferentes fases do processo de fechamento angular, o 1. Idade, em geral, acima de 50 anos
que é importante para aplicação dos resultados de estudos clínicos randomizados sobre o 2. Sexo feminino
processo de fechamento angular. Estes estudos encontram-se em andamento, e utilizam 3. Ascendência oriental
esta classificação.
4. História familiar
10 11
7.2 - Oculares 8.2 - Gonioscopia
1. Câmara rasa O exame deve ser realizado em sala escura. As seguintes perguntas devem ser respondidas:
2. Ângulo estreito
3. Comprimento axial menor que a média 1. A porção pigmentada do trabeculado é visível? Em qual extensão?
4. Diâmetro corneano menor que média 2. A íris toca a malha trabecular?
5. Curvatura corneana maior que média 3. Em caso negativo, existem evidências de contato prévio? (sinéquias anteriores periféricas
6. Hipermetropia ou impressão iriana na parede do ângulo irido-corneano (imprint)
7. Cristalino volumoso 4. Em caso afirmativo, o contato é reversível à indentação? (se for reversível, trata-se de toque
aposicional, se não for reversível, trata-se de toque devido a goniossinéquias)
5. Em caso negativo, qual a extensão circunferencial das sinéquias?

A. Princípios para uma boa gonioscopia:


8. Avaliação clínica 1. Anestesia tópica
A detecção de pacientes sob risco de fechamento angular primário deve ser realizada através 2. Sala escura
da avaliação biomicroscópica da câmara anterior central e periférica. 3. Usar feixe de luz de 1 mm de altura, estreito e mantê-lo longe da pupila
Nos pacientes com suspeita de fechamento angular primário, o exame oftalmológico deverá 4. Paciente em posição primária do olhar
incluir refração, tonometria de aplanação e biomicroscopia do segmento anterior e posterior.
5. Não inclinar a lente
6. Usar corte óptico para identificar a Linha de Schwalbe (figura 3)
8.1 - Avaliação da profundidade periférica da câmara anterior
7. Após avaliar toda a circunferência do ângulo, aumentar a iluminação para a gonioscopia
pela classificação de Van Herick dinâmica (indentar e manipular a lente)
8. Pedir ao paciente para olhar em direção ao espelho
1. Grau I: Profundidade da câmara anterior (PCA) < 1/4 da espessura da córnea (EC)
2. Grau II: PCA entre 1/4 e 1/2 (EC)
3. Grau III: PCA entre 1/2 e 1 (EC)
4. Grau IV: PCA > 1 (EC)
Figura 3. Desenho esquemático da
anatomia do ângulo irido-corneano.
Esta classificação é uma forma de avaliação indireta do ângulo e não substitui a gonioscopia.
Nos pacientes com suspeita de fechamento angular (graus I e II da classificação de Van
Observar quando a linha de perfil
Herick), a propedêutica deverá necessariamente ser complementada com gonioscopia.
anterior é interrompida. Aí, localiza-se
a linha de Schwalbe.
Figura 2. Avaliação da profundidade da câmara anterior periférica
pelo método de Van Herick.
Imagem cedida pelo Dr. Homero G. de Almeida.

B. Lentes para Gonioscopia

1. Lente de Zeiss/Possner/Sussmann (de indentação)


 L
 entes de indentação são essenciais para avaliação de olhos com suspeita de fechamento
angular. Estas lentes apoiam-se sobre a córnea, não necessitam de interface viscoelástica e
permitem realizar a gonioscopia de indentação: ao serem pressionadas contra o olho, deslocam
A = grau IV, B = grau II, C = grau I. Foster et al9 sugerem que a profundidade da câmara posteriormente o diafragma iridocristaliniano, possibilitando a diferenciação entre um fechamento
anterior periférica seja graduada em valor percentual da espessura da periferia da córnea angular aposicional e um fechamento por sinéquias anteriores periféricas (figura 4).
(A = 100%, B = 50%, C = 5%).
12 13
Figura 4. A gonioscopia
9.Sinais de fechamento angular
de indentação permite
o exame do recesso do
primário agudo prévio
seio camerular, mesmo
em olhos de ângulo 9.1 - Biomicroscópicos
estreito.
1. Íris: atrofia setorial (figura 6), pupila dilatada não responsiva (figura 7), distorção pupilar
(Esquema cedido pelo Dr. Homero
Gusmão de Almeida). (figura 8), sinéquias posteriores (figura 9).

2. Cristalino: Glaukomflecken (opacidade capsular ou subcapsular anterior do cristalino


2. Lente de Goldmann associada à necrose focal do epitélio da capsula anterior pós fechamento angular primário
 P
 ara usar a lente de Goldmann, há necessidade de viscoelástico entre a lente e a córnea. agudo) (figura 9).
Apoiando-se no limbo, essa lente não permite indentação e pode transmitir pressão sobre
a periferia da córnea, estreitando o seio camerular. Por outro lado, manobras podem ser
realizadas para romper o contato aposicional entre a íris e o trabeculado. A mudança do
olhar em direção ao espelho permite ao observador vencer a convexidade da íris para melhor
visibilizar as estruturas do ângulo. Por outro lado, a presença de uma força de vácuo entre a
lente e o olho pode levar à abertura artificial do ângulo. Figura 6. Atrofia setorial de íris pós-crise aguda.

C. Documentação/Classificação gonioscópica Imagem cedida por Dr. João Antônio Prata Jr.

Existem diversas classificações para os achados gonioscópicos, que do ponto de vista prático
pouco contribuem para as decisões clínicas, principalmente pela subjetividade do exame. A
classificação baseada nas estruturas visíveis ao exame é simples e intuitiva para os oftalmologistas.
A documentação dos achados gonioscópicos pode ser feita de maneira descritiva ou através do
uso de desenhos esquemáticos (figura 5).
Quando se utilizam desenhos esquemáticos, é importante descrever todas as características Figura 7. Pupila dilatada não responsiva pós-crise aguda.
observadas à gonioscopia. O contato irido-trabecular está presente quando não se observa o
Imagem cedida por Dr. Roberto Freire Santiago Mata.
trabeculado posterior e as linhas de perfil posterior da córnea (endotelial) e da íris se encontram.

Figura 5. Desenho esquemático de um olho mostrando as estruturas visíveis em cada


quadrante, com e sem indentação.

As goniossinéquias são representadas por uma linha que corresponde à sua localização e
extensão, e logo acima, descreve-se a estrutura visível à gonioscopia (altura da goniossinéquia). Figura 8. Distorção do contorno pupilar pós-crise aguda.

Imagem cedida por Dr. Roberto Freire Santiago Mata.


Gonioscopia de não-indenção Gonioscopia de indenção

LS TA EE
TA EE
LS LS TA
EE
EE
LS EE Figura 9. Sinéquias posteriores e Glaucomflecken
pós-crise aguda.
LS – linha de Schwalbe, TA – trabeculado anterior, EE – esporão escleral. Imagem cedida por Dr. Roberto Freire Santiago Mata.

Imagem cedida por Dr. Lisandro Sakata.

14 15
9.2 - Gonioscópicos 9.3 - Fundoscópicos

1. Imprint (figura 10). O disco óptico pode apresentar aumento da escavação, ou edema com congestão venosa
e/ou hemorragia em chama de vela associados.
2. Sinéquias anteriores periféricas (figura 11 e figura 12).

Figura 10. Foto gonioscópica


de imprint na parede do ângulo
irido-corneano.
10. Exames complementares
Imprint representa vestígios
pigmentares da íris na parede 10.1 - Testes provocativos
do ângulo irido-corneano
secundário a episódio de
fechamento angular prévio. O uso de teste provocativo (prono posição em quarto escuro) é controverso. Existe risco
de provocar crise de fechamento angular primário agudo. Testes negativos não excluem a
Imagem cedida por possibilidade de fechamento angular primário.
Dr. Marcelo Hatanaka.

10.2 - Biomicroscopia ultra-sônica (UBM)


É útil nos casos suspeitos de cisto de íris, alterações do corpo ciliar, íris em Platô ou quando
o exame de gonioscopia é inviável devido à opacidade de meios.

Figura 11. Sinéquias anteriores periféricas.

Imagem cedida por Dr. Roberto Freire Santiago Mata.


10.3 - Pentacam e OCT de segmento anterior

Podem ser utilizados para a avaliação objetiva do ângulo da câmara anterior sem contato com
o globo ocular. No entanto, não fornecem imagem adequada do corpo ciliar. Mais estudos
são necessários para determinar o real papel destes exames de imagem no processo de
decisão na prática clinica diária.

Destaques do Consenso
Epidemiologia, fatores de risco e avaliação clínica
Figura 12. Foto gonioscópica demonstrando um ângulo irido-corneano fechado
por goniossinéquias após a iridectomia. 1. A
 identificação dos indivíduos sob risco de fechamento angular primário representa um
passo importante para minimizar as taxas de cegueira causada pelo glaucoma primário de
Existem pigmentos na linha de Schwalbe, que podem simular o trabeculado ângulo fechado.
posterior. Observa-se à direita da foto uma parte do ângulo que se encontra 2. A
 avaliação da profundidade central e periférica da câmara anterior é útil para identificar
aberto, onde é possível ver o trabeculado posterior e o esporão escleral. indivíduos com suspeita de fechamento angular.
3. A gonioscopia de indentação é o exame essencial para avaliação do ângulo irido-corneano.
Imagem cedida por Dr. Lisandro Sakata.
4. Os métodos de imagem do segmento anterior não substituem a gonioscopia.
16 17
a gonioscopia demonstrar a persistência de fechamento angular aposicional, deve-se
considerar a possibilidade de íris em platô e a necessidade de tratamentos adicionais para
abrir o ângulo: mióticos de baixa concentração (pilocarpina a 0,5% ou 1,0%) uma a três
11. Estratégias de Tratamento vezes ao dia e/ou iridoplastia periférica com laser (figura 13).
 iridoplastia periférica pode ser realizada com laser de argônio ou de diodo com disparos
A
de contração na extrema periferia da íris em 360º com intervalos entre as aplicações
11.1 - Suspeita de fechamento angular primário (18-20 aplicações nos 360º.): 500µm, 200-400 mW e 0,5 segundos. Para a obtenção
da melhor visibilização da periferia da íris, deve se utilizar previamente ao procedimento
A necessidade de tratamento dos suspeitos de fechamento angular primário é questionável, pilocarpina 2%, além de lente de Abraham ou Goldmann.
pois existem dados limitados sobre a história natural da doença10-11, e não existe estudo clínico
adequado para verificar a relação eficácia vs. segurança da iridectomia ou outra modalidade Figura 13- Gonioscopia de olho pós-iridectomia que permaneceu com ângulo
terapêutica.12 fechado antes e após iridoplastia.
Indicar o tratamento em todos os indivíduos suspeitos de fechamento angular primário
significaria tratar desnecessariamente um grande número de indivíduos que não irão Note abertura do ângulo, mesmo sem indentação.
desenvolver o processo de fechamento angular de fato. Entretanto, a gravidade de
comprometimento da função visual associada a uma crise de fechamento angular primário
agudo e/ou ao desenvolvimento de um GPAF deve ser ponderada. A avaliação dos fatores de
risco oculares, epidemiológicos, sistêmicos, sócio-culturais e ambientais deve ser considerada
na indicação da iridectomia com laser.13
Para o seguimento do paciente, além do exame oftalmológico, a avaliação gonioscópica do
ângulo deve ser realizada de rotina e, comparada com exames anteriores para detecção de
mudanças na anatomia. Deve-se orientar o paciente sobre os sinais e sintomas secundários
a um fechamento angular primário e a importância do seguimento clínico no diagnóstico e
tratamento desta condição. O surgimento de sintomas ou sinais de fechamento angular ou a Imagem cedida por Dr. Rui Schimiti e Dr. Eduardo Lacerda.
identificação de sinais gonioscópicos de fechamento angular constituem indicação absoluta
de iridectomia. 4. Trabeculectomia
Se, a despeito dos procedimentos a laser e do tratamento clínico, a PIO permanecer
elevada em um valor de risco para instalação do dano glaucomatoso ao disco óptico,
11.2 - Fechamento angular primário pode ser indicada trabeculectomia. As cirurgias não penetrantes estão contraindicadas
nestes casos.
A. Não Agudo
5. Remoção do cristalino
A remoção do cristalino deve ser considerada quando existe opacidade de cristalino com
1. Iridectomia
baixa visão e componente lenticular, podendo ser associada com a trabeculectomia.
O
 tratamento do paciente com fechamento angular primário inclui a realização de
iridectomia bilateral, de preferência com YAG-laser. 2,14,15 Este procedimento visa prevenir o
bloqueio pupilar e é relativamente fácil em indivíduos sem edema de córnea e sem edema B. Agudo
do estroma iriano. Após miose induzida por pilocarpina 2%, utiliza-se a lente apropriada
(ex. Abraham) para magnificação da imagem e para evitar dispersão da energia do laser. O A crise de fechamento angular primário agudo representa a forma mais sintomática do
laser deve ser ajustado com uma potência de 5 a 8 mJ e direcionado a uma cripta periférica, processo de fechamento angular e é uma urgência oftalmológica. Todo indivíduo que sofre
preferencialmente superior (figura 11). Também é possível realizar esse procedimento uma crise de fechamento angular primário agudo necessita de tratamento para reverter o
utilizando laser de argônio: mira de 50µm, 700 a 1000 mW de potência e duração de 0,02 processo de fechamento angular no olho afetado e para impedir que o mesmo ocorra no
a 0,2 segundos. A utilização de ambos os lasers, argônio seguido de YAG, é uma opção que olho contralateral.
pode diminuir a ocorrência de hemorragia. O objetivo do tratamento é interromper a crise de fechamento angular primário o mais rápido

A iridectomia periférica incisional está indicada na impossibilidade de realização do possível. O tratamento clínico do fechamento angular agudo inclui o uso concomitante das
procedimento com laser. A incisão na córnea deve ser perpendicular ao plano iriano para seguintes medicações:
facilitar o prolapso da íris.
1. Tratamento Clínico
2. Tratamento Medicamentoso
Após a iridectomia, quando a PIO permanecer elevada com risco de dano glaucomatoso ao •A
 gentes hiperosmóticos: manitol a 20% por via intravenosa: de 1,5 a 2 g/kg de peso
disco óptico, está indicado o tratamento clínico com medicação tópica para redução da PIO. (80 a 100 gotas/minuto) ou glicerina 50% gelada via oral: 1,5 g/kg de peso. Em relação aos
agentes hiperosmóticos orais, deve-se levar em consideração que muitos desses pacientes
3. Iridoplastia podem apresentar náusea e vômitos, o que dificulta o uso da glicerina. As condições
No seguimento do paciente, além dos cuidados citados anteriormente, se após a iridectomia, clínicas cardiorrespiratórias e cerebrais do paciente devem ser avaliadas. As medicações
18 19
hiperosmóticas podem alterar as condições hemodinâmicas de pacientes muitas vezes
idosos, de tal modo que uma monitorização clínica adequada é fundamental. A presença
de insuficiência renal e/ou insuficiência cardíaca podem representar contraindicações
absolutas para uso do manitol, assim como o diabetes representa uma contraindicação
relativa ao uso de glicerina.
Destaques do Consenso
• Inibidores da anidrase carbônica: acetazolamida 250 mg via oral de 6 em 6 horas. Pode-se
iniciar com uma dose de ataque de 500 mg. Insuficiência renal e anemia falciforme são Tratamento
contraindicações absolutas para uso da acetazolamida.

•P
 ilocarpina 2% colírio: 1 gota de 15 em 15 minutos por 3 vezes, depois de hora em hora 1. A
 iridectomia a laser é o procedimento de primeira escolha para o tratamento do processo
nas primeiras três horas e depois de 6 em 6 horas. O efeito miótico da pilocarpina ocorre de fechamento angular.
em níveis pressóricos abaixo de 40 mmHg, quando o músculo esfíncter da pupila passa a 2. Nos
 casos de fechamento angular primário agudo, não existem evidências que comprovem
responder à droga. a superioridade da paracentese de CA e iridoplastia em relação ao tratamento clássico
com manitol, acetazolamida e pilocarpina. O uso destas modalidades de tratamento
• Maleato de timolol 0,5% colírio: 1 gota de 12 em 12 horas. pode ser considerado em casos cujo o tratamento clássico não é efetivo, possível, ou está
contraindicado. Todos estes tratamentos devem ser seguidos de iridectomia a laser.
•T
 artarato de brimonidina colírio: 1 gota de 12 em 12 horas em pacientes que apresentam
contraindicação ao timolol. 3. A
 gonioscopia deve ser repetida após a iridectomia para verificar o grau de abertura
angular, presença, extensão, altura das goniossinéquias, e a presença de componentes
•C
 olírio de corticosteroide (prednisolona ou dexametasona): 1 gota de 2 em 2 horas nas adicionais do processo de fechamento angular.
primeiras 24 horas, posteriormente reduzido de acordo com a reação inflamatória. Este 4. O
 uso de pilocarpina em baixa concentração e a iridoplastia periférica a laser podem ser
tratamento clínico clássico interrompe a crise em grande parte dos casos nas primeiras indicadas em olhos com fechamento angular aposicional persistente após a iridectomia,
horas, usualmente acompanhado de redução da PIO, miose e abertura do ângulo a porém são mandatórios em olhos que aumentam a extensão do fechamento sinequial
gonioscopia.16 após a iridectomia.
5. A
 trabeculectomia deve ser realizada para o controle da PIO em olhos com fechamento
2. Depressão central da córnea angular primário ou glaucoma primário de ângulo fechado cujo tratamento clínico ou a
laser foram insuficientes.
Associada ao tratamento medicamentoso, pode-se realizar depressão central da córnea
utilizando-se o cone do tonômetro, lente de indentação ou cotonete, com o intuito de abrir 6. A
 remoção do cristalino deve ser considerada quando existe opacidade de cristalino com
o ângulo. baixa visão e componente lenticular, podendo ser associada com a trabeculectomia.
7. E
 xistem evidências limitadas quanto à eficácia da goniossinequiálise no tratamento de
3. Paracentese de câmara anterior pacientes com glaucoma primário de ângulo fechado.

É uma opção para reduzir temporariamente a PIO e possibilitar a realização de outros


procedimentos, como a iridectomia a laser.17-18 Cuidados devem ser tomados no sentido de
evitar complicações, como toque no cristalino e infecção.
Uma vez fora da crise de fechamento angular primário agudo, o tratamento segue da mesma
maneira exposta no item anterior.

11.3 - Glaucoma primário de ângulo fechado


O tratamento inicial inclui iridectomia bilateral com laser associada, na grande maioria das
vezes, ao tratamento medicamentoso. Além de evitar o bloqueio pupilar, ambos têm como
objetivo a manutenção de uma PIO dentro de valores que reduzam a chance de progressão
da neuropatia óptica glaucomatosa. Procedimentos adicionais, respeitando as mesmas
orientações de tratamento descritas no fechamento angular primário, como iridoplastia,
trabeculectomia e remoção do cristalino devem ser considerados quando não se obtiver o
controle do GPAF.19-20
O seguimento do paciente com GPAF deve ser mais rigoroso, pois esta forma de glaucoma
tem mais chance de evoluir para a cegueira do que o glaucoma primário de ângulo aberto.

20 21
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in medically controlled chronic angle closure glaucoma with cataract. Ophthalmology 2008;115:2167- o contato irido-trabecular está presente quando as linhas de perfil posterior da córnea (endotelial) e da íris se
2173 e2. encontram na parede do ângulo e ainda não é possível ver o trabeculado posterior.

A presença de sintomas relacionados com o fechamento angular pode ser difícil devido a sua subjetividade.
Agradecimentos A avaliação correta destes sintomas depende da habilidade do examinador em questionar detalhes (como a
À Novartis/Alcon Laboratórios pelo suporte para a realização desse Consenso. intensidade e tempo de duração), assim como confirmar a exclusão dos diagnósticos diferenciais, que podem
causar sintomas inespecíficos como dor ocular e baixa acuidade visual.
À Sra. Bete Fruchi, secretaria da Sociedade Brasileira de Glaucoma, pelo auxílio na comunicação e organização,
fundamentais para a conclusão desse Consenso.

22 23
© 2012, Novartis. Setembro/12

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