Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. INTRODUÇÃO
A dança como conteúdo escolar inserido nas aulas de Educação Física pode ser
trabalhada em vários aspectos trazendo benefícios para o educando emocionalmente,
fisicamente, intelectualmente e socialmente, auxiliando de maneira positiva a
construção do conhecimento do individuo em relação a cultura corporal do movimento,
a promoção da saúde e o resgate de aspectos históricos e sócio cultural.
O conteúdo dança enfrentou dificuldades para adentrar à educação escolar, neste
percurso, a dança esteve atrelada à datas comemorativas como: folclore, dias das mães,
festas juninas, entre outras atividades extracurriculares (SILVEIRA, 2008). A inclusão
da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se, sobretudo, por meio da
compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com
potencialidades educativas.
Nesse sentido, é importante que os professores de Educação Física estejam
preparados para objetivar o conteúdo da dança na escola contribuindo para a aquisição
do conhecimento sobre as verdadeiras características e benefícios que ela pode trazer
para o desenvolvimento integral do aluno.
Entretanto, ainda é possível perceber a ausência da dança nas escolas devido à
barreiras como: falta de conhecimento e preparo dos professores de Educação Física
com relação ao conteúdo dança, falta de recursos materiais e de espaço físico para
realização das aulas, preconceito dos discentes, docentes e da sociedade em relação ao
conteúdo dança. Alguns profissionais optam por não trabalhar a dança em suas aulas,
por não saberem como interagir com este conteúdo e/ou por não considerar a dança tão
importante para o desenvolvimento dos alunos quanto os outros conteúdos da Educação
Física (PERES, RIBEIRO, JUNIOR, 2001).
Desde que a dança foi incorporada ao bloco das atividades rítmicas e expressivas
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física, esta obteve uma
certa legitimidade, devendo ser atribuído a ela o mesmo valor pedagógico que os demais
conteúdos como os jogos, as lutas, as ginásticas e os esportes. No entanto, o que se
observa é que as prerrogativas concebidas ao conteúdo dança na escola são deixados de
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
lado no cotidiano escolar. A dança raramente é tratada como conteúdo dentro das
escolas, como um componente que pode proporcionar ao aluno o conhecimento de si e
de sua capacidade expressiva (BRASILEIRO, 2006).
Apesar da existência de concepções metodológicas para se trabalhar com o
conteúdo dança dentro das relações da mesma com a educação, ainda assim alguns
professores, especialmente de Educação Física, sentem dificuldades no trato pedagógico
com o tema.
De tal modo, o presente estudo teve como objetivo analisar quais são as
possibilidades de se trabalhar a dança nas aulas de Educação Física a partir dos 86
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Fundamental para a disciplina de
Educação Física. Tal documento é referência para a organização curricular no ensino
básico brasileiro. Para tanto, utilizou-se uma metodologia qualitativa de cunho
exploratório das fontes consultadas para uma melhor compreensão do tema estudado.
Este estudo pautou-se na pesquisa documental, a qual consiste no tratamento
analítico de documentos conservados em arquivos públicos e/ou de instituições
privadas. Neste contexto, o documento analisado neste estudo consiste nos Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, especificamente da Educação Física.
Este documento foi idealizado em 1994 pelo Ministério da Educação e do Desporto, que
através da Secretaria de Ensino Fundamental, mobilizou professores e pesquisadores de
cada área para construir os PCNs.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais encontram-se acessíveis no portal do
Ministério da Educação (MEC): www.portal.mec.gov.br. Além disso, ainda é possível
encontrar estes documentos em algumas escolas que possuem a coletânea com todos os
volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Ensino
Médio enviados pelo Ministério da Educação a cada escola após sua publicação.
Desse modo, observando-se sua relevância no contexto escolar e sua
conectividade com este estudo, foram selecionados para análise os PCNs de Educação
Física referentes aos 1º e 2º ciclos, publicados em 1997, e os PCNs referentes aos 3º e 4º
ciclos, publicados em 1998, abrangendo assim todo o ensino fundamental.
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
e seu conteúdo os esportes, identificando-se cada vez mais como educador, cujos
conteúdos são as manifestações da cultura corporal de movimento como um todo.
Notoriamente, a dança surge da essência do ser humano, do seu interior, daquilo
que ele é, daquilo que ele sente e de tudo o que ele viveu a partir da sua existência.
Assim, corroboramos com Marques (2003, p. 47) ao afirmar que
Vale salientar que conhecer o percurso histórico e social que a dança transcorreu
é de fundamental relevância para a compreensão deste conteúdo.
A dança percorreu um longo trajeto até ser inserida no contexto escolar. Essa
inclusão da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se por meio da
compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com
potencialidades educativas.
A partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a dança
passa ser um conteúdo no currículo escolar brasileiro. De acordo com PCNs (BRASIL,
1997) a dança deve oportunizar a valorização de diversas escolhas de interpretação e
criação, em sala de aula e na sociedade, e pode também situar e compreender as
relações entre corpo, dança e sociedade.
As propostas para trabalhar a dança na escola são amplamente refletidas e
discutidas, especialmente na área da Educação Física, visto que este conteúdo ainda é
negligenciado, reduzindo o seu papel pedagógico e suas diversas contribuições para a
educação do aluno.
A dança é, sem dúvida, uma das maiores catalisadoras da manifestação e
expressão do movimento humano. No âmbito educativo da Educação Física, ela é
pedagógica e ensina tanto quanto os esportes, jogos e brincadeiras. A dança pode (e
deve) ser usada como meio de crítica social para o questionamento de valores
preestabelecidos, padrões repetitivos e modismos.
Os autores da atualidade reforçam o valor da dança, no ensino escolar, desde a
educação infantil até o ensino médio. Segundo Cunha (1992, p. 76), "somente a escola,
através do emprego de um trabalho consciente de dança, terá condições de fazer emergir
e formar um indivíduo com conhecimento de suas verdadeiras possibilidades corporal-
expressivas."
Nanni (2001) explica que as ações estabelecidas nas aulas de dança na escola
devem ser de progressões pedagógicas. Além disso, as atividades devem abranger as
diversas habilidades motoras como: andar, correr, saltitar, equilibrar, rodopiar, girar,
rolar, deslizar dentre outras, sempre partindo do simples para o complexo, do
espontâneo para o construído.
Embora haja diversos aspectos a serem explorados na Educação Física através
do conteúdo dança, no contexto atual constata-se que muitos professores sentem
dificuldades no trato pedagógico com o tema. Em um estudo elaborado por Carvalho et
al (2012, p. 50) evidenciou-se que a dança é considerada pelos profissionais e
estudantes de Educação Física muito importante no meio educativo, no entanto, a
maioria tem dificuldades em aplicá-la "em razão a preconceitos, deficiências na
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
formação da graduação, ausência de infraestrutura escolar, por não estar no
planejamento curricular da sua escola ou por falta de afinidade com ela."
Contudo, é preciso refletir esta prática, pois os alunos não podem ser
prejudicados aprendendo apenas aquilo com o que sues professores tem mais afinidade,
ou os mesmos conteúdos em todos os anos escolares. Deve-se, portanto, explorar ao
máximo as vivências corporais possíveis.
Por isso, é importante que os professores, especialmente os de Educação Física,
busquem recursos para o desenvolvimento dos conteúdos, sobretudo a dança, tais como
cursos, livros, artigos, além de trocar informações com outros colegas de trabalho, a fim 88
de buscar alternativas que objetivem a inclusão da dança em suas aulas, e a partir de sua
criatividade pessoal tornar esse processo de inserção algo natural.
A dança na escola não deve ter a intenção de formar profissionais, bailarinos, e
sim possibilitar um contato mais efetivo de se expressar criativamente através do
movimento. O professor não deve ensinar o aluno como se deve dançar, mas
proporcionar o conhecimento e a vivência da expressividade. Com isso, deve-se evitar
demonstrar os movimentos, criando condições para que o aluno se movimente
livremente.
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
e ritmo" (BRASIL, 1998, p. 71). A respeito disso, pode-se considerar a perspectiva de
Fux (1983) ao relatar que a experiência com o corpo promove o reconhecimento do
ritmo interno, onde é gerada a comunicação com o interior, o corpo sendo devidamente
motivado deve compreender a intenção dos movimentos.
Do ponto de vista dos PCNs, a dança é considerada uma prática corporal que
deve ser vivenciada nas aulas de Educação Física. Através da dança, o indivíduo pode
buscar conhecer a si próprio, sua capacidade expressiva para se comunicar, interagir e
construir seu processo de aprendizagem e desenvolvimento humano. Além disso, a
dança possibilita o desenvolvimento da autonomia, da consciência crítica e do potencial 89
criativo dos educandos.
O trabalho com o corpo possibilita conhecimento de si e dos outros, gera na
pessoa que dança maior estabilidade na relação dor e prazer, e o conhecimento dos
limites de seu corpo. Assim, as aulas de Educação Física deve possibilitar ao aluno
conhecer as diversas manifestações dançantes, as movimentações corporais e suas
possibilidades, tornando-se crítico e criativo. Logo, o aluno não só aprende a reproduzir
movimentos, mas também, aprende a transformá-los.
Os PCNs legitimam a dança como uma prática, mas também como uma
manifestação cultural, visto que abrange movimentos corporais e expressa significados
e sentidos do contexto em que está inserida. Essa perspectiva sinaliza para uma
concepção de que a dança transmite significados e expressa valores culturais.
Entretanto, de acordo com Ehrenberg (2003, p. 125)
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
Deste modo, a escola deve oferecer parâmetros para sistematização e
apropriação crítica, consciente e transformadora da dança, tendo assim, o papel de não
reproduzir, mas de instrumentalizar e de construir conhecimento em/através da dança
para com seus alunos.
Segundo Verderi (2000, p.50) "na elaboração do plano de ensino, estamos
preocupados na educação do movimento consciente de nossos alunos, e o foco principal
está em estimular as crianças a criar e recriar suas atividades”. Nesta perspectiva os
PCNs para o segundo ciclo (3ª e 4ª séries) enfatizam que
90
Nas atividades rítmicas e expressivas é possível combinar a marcação do
ritmo com movimentos coordenados entre si. As manifestações culturais da
própria coletividade ou aquelas veiculadas pela mídia podem ser analisadas a
partir de alguns conceitos de qualidade de movimento como ritmo,
velocidade, intensidade e fluidez; podem ser aprendidas e também recriadas.
Da mesma forma, as noções de simultaneidade, seqüência e alternância
poderão também subsidiar a aprendizagem e a criação de pequenas
coreografias (BRASIL, 1997, p. 47)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
pedagógica. Contudo, este documento não deve ser analisado como um modelo pronto e
acabado para a educação, o que não seria mesmo possível, mas sim, um material
disponível para reflexão, discussão e auxílio para a construção do plano de ensino das
escolas.
Com relação ao trabalho com a dança nas aulas de Educação Física, os PCNs
oferecem possibilidades de temas a serem abordados, elencando os tipos de dança,
ritmos, brincadeiras cantadas, enfatizando a valorização da cultura local e do
conhecimento que os alunos já possuem. Inserida no bloco de conteúdos Atividades
Rítmicas e Expressivas, a dança deve promover a vivência e percepção da manifestação 91
corporal, enfatizando o movimento com sons e música, no sentido de oportunizar a
expressão e a educação rítmica, desenvolvendo de forma simultânea o domínio motor,
cognitivo e afetivo-social.
O intuito da Educação Física ao trabalhar com a dança deve considerar o
educando como um todo que se movimenta, pensa, age e sente, que explora a prática de
atividades, que libera as sua emoções e que percebe o que seu corpo é capaz de fazer,
para, a partir daí, desenvolver todas as sua potencialidades.
Considera-se então que as aulas de Educação Física ao desenvolver o conteúdo
dança devem ser ministradas como qualquer outra aula, sendo necessário para isso
considerar os objetivos estabelecidos e a disposição do professor para que a aula
aconteça, atribuindo a devida importância a este conteúdo desde o planejamento da aula
até a sua execução e avaliação.
Por fim, espera-se que estas reflexões impulsionem novas ideias e discussões,
sobretudo no aprofundamento da dança no contexto escolar, visando ressaltar a
relevância do conhecimento a cerca deste conteúdo, quebrando paradigmas que a
norteiam devido as dificuldades, preconceitos e restrições que permeiam a realidade do
processo educativo.
REFERÊNCIAS
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.
EHRENBERG, M.C. A dança como conhecimento a ser tratado na Educação Física
escolar: aproximações entre formação e atuação profissional. 2003.129 f. Dissertação
(Mestrado em Pedagogia do Movimento) Faculdade De Educação Física,Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2003.
Anais do V Congresso Nordeste de Ciências do Esporte. Guanambi, Bahia, Brasil, setembro, 2014.
ISSN: 2179-815X. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.