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A DANÇA COMO CONTEÚDO DAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA

PERSPECTIVA A PARTIR DOS PARÂMETROS CURRICULARES


NACIONAIS

Ana Gabriela Alves Medeiros


Soraya Ramini Sena Santos

Resumo: Embora, a dança esteja inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais de


Educação Física, ainda é possível perceber sua ausência nas escolas.Deste modo, o 85
presente estudo teve como objetivo analisar, a partir dos Parâmetros Curriculares
Nacionais, as possibilidades de se trabalhar a dança nas aulas de Educação Física no
Ensino Fundamental. Para tanto, foram analisados os Parâmetros Curriculares
Nacionais de Educação Física para o Ensino Fundamental. Verificou-se que os PCNs
oferecem possibilidades de trabalhar a dança nas aulas de Educação Física, elencando
os tipos de dança, ritmos, brincadeiras cantadas, enfatizando a valorização da cultura
local e do conhecimento que os alunos possuem.

1. INTRODUÇÃO

A dança como conteúdo escolar inserido nas aulas de Educação Física pode ser
trabalhada em vários aspectos trazendo benefícios para o educando emocionalmente,
fisicamente, intelectualmente e socialmente, auxiliando de maneira positiva a
construção do conhecimento do individuo em relação a cultura corporal do movimento,
a promoção da saúde e o resgate de aspectos históricos e sócio cultural.
O conteúdo dança enfrentou dificuldades para adentrar à educação escolar, neste
percurso, a dança esteve atrelada à datas comemorativas como: folclore, dias das mães,
festas juninas, entre outras atividades extracurriculares (SILVEIRA, 2008). A inclusão
da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se, sobretudo, por meio da
compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com
potencialidades educativas.
Nesse sentido, é importante que os professores de Educação Física estejam
preparados para objetivar o conteúdo da dança na escola contribuindo para a aquisição
do conhecimento sobre as verdadeiras características e benefícios que ela pode trazer
para o desenvolvimento integral do aluno.
Entretanto, ainda é possível perceber a ausência da dança nas escolas devido à
barreiras como: falta de conhecimento e preparo dos professores de Educação Física
com relação ao conteúdo dança, falta de recursos materiais e de espaço físico para
realização das aulas, preconceito dos discentes, docentes e da sociedade em relação ao
conteúdo dança. Alguns profissionais optam por não trabalhar a dança em suas aulas,
por não saberem como interagir com este conteúdo e/ou por não considerar a dança tão
importante para o desenvolvimento dos alunos quanto os outros conteúdos da Educação
Física (PERES, RIBEIRO, JUNIOR, 2001).
Desde que a dança foi incorporada ao bloco das atividades rítmicas e expressivas
dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Educação Física, esta obteve uma
certa legitimidade, devendo ser atribuído a ela o mesmo valor pedagógico que os demais
conteúdos como os jogos, as lutas, as ginásticas e os esportes. No entanto, o que se
observa é que as prerrogativas concebidas ao conteúdo dança na escola são deixados de

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lado no cotidiano escolar. A dança raramente é tratada como conteúdo dentro das
escolas, como um componente que pode proporcionar ao aluno o conhecimento de si e
de sua capacidade expressiva (BRASILEIRO, 2006).
Apesar da existência de concepções metodológicas para se trabalhar com o
conteúdo dança dentro das relações da mesma com a educação, ainda assim alguns
professores, especialmente de Educação Física, sentem dificuldades no trato pedagógico
com o tema.
De tal modo, o presente estudo teve como objetivo analisar quais são as
possibilidades de se trabalhar a dança nas aulas de Educação Física a partir dos 86
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Fundamental para a disciplina de
Educação Física. Tal documento é referência para a organização curricular no ensino
básico brasileiro. Para tanto, utilizou-se uma metodologia qualitativa de cunho
exploratório das fontes consultadas para uma melhor compreensão do tema estudado.
Este estudo pautou-se na pesquisa documental, a qual consiste no tratamento
analítico de documentos conservados em arquivos públicos e/ou de instituições
privadas. Neste contexto, o documento analisado neste estudo consiste nos Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental, especificamente da Educação Física.
Este documento foi idealizado em 1994 pelo Ministério da Educação e do Desporto, que
através da Secretaria de Ensino Fundamental, mobilizou professores e pesquisadores de
cada área para construir os PCNs.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais encontram-se acessíveis no portal do
Ministério da Educação (MEC): www.portal.mec.gov.br. Além disso, ainda é possível
encontrar estes documentos em algumas escolas que possuem a coletânea com todos os
volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Ensino
Médio enviados pelo Ministério da Educação a cada escola após sua publicação.
Desse modo, observando-se sua relevância no contexto escolar e sua
conectividade com este estudo, foram selecionados para análise os PCNs de Educação
Física referentes aos 1º e 2º ciclos, publicados em 1997, e os PCNs referentes aos 3º e 4º
ciclos, publicados em 1998, abrangendo assim todo o ensino fundamental.

2. DANÇA, EDUCAÇÃO FÍSICA E PARÂMETROS CURRICULARES


NACIONAIS

A dança foi forma de expressão de vários acontecimentos que marcaram épocas


na humanidade, desenvolveu-se e sofreu transformações sob influências de interesses
sociais, políticos, econômicos e religiosos de acordo com determinados períodos. Ainda
na atualidade observamos esta influência no dia a dia dos alunos com o que eles trazem
para sala de aula, as músicas e danças do momento e da cultura em que estão inseridos.
O que se percebe é que os professores de Educação Física atuantes na escola muitas
vezes não possuem subsídios suficientes para realizarem um trabalho eficaz com a
dança. Fazendo-se necessário então que estes professores conheçam e compreendam as
possibilidades de inserção do conteúdo dança em suas aula.
Diversos estudos, como o de Carvalho et al (2012), mostram que a dança ainda
não é incorporada efetivamente nas aulas de Educação Física e muitos professores ainda
não conhecem sua importância e benefícios. De tal modo, o professor de Educação
Física deve se libertar do estereótipo de que seu único espaço de atuação são as quadras

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e seu conteúdo os esportes, identificando-se cada vez mais como educador, cujos
conteúdos são as manifestações da cultura corporal de movimento como um todo.
Notoriamente, a dança surge da essência do ser humano, do seu interior, daquilo
que ele é, daquilo que ele sente e de tudo o que ele viveu a partir da sua existência.
Assim, corroboramos com Marques (2003, p. 47) ao afirmar que

O conhecimento da história da dança, portanto, também fornece parâmetros


para que a criação dos alunos em sala de aula não seja etnocêntrica, racista
e/ou sexista. [Assim] o aluno poderá perceber a multiplicidade de concepções 87
de corpo, tempo e espaço dos diversos movimentos artísticos, trabalhando-as
e articulando-as as suas criações.

Vale salientar que conhecer o percurso histórico e social que a dança transcorreu
é de fundamental relevância para a compreensão deste conteúdo.
A dança percorreu um longo trajeto até ser inserida no contexto escolar. Essa
inclusão da dança como um conteúdo a ser tratado na escola deu-se por meio da
compreensão de que a dança é uma manifestação cultural, social e corporal com
potencialidades educativas.
A partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a dança
passa ser um conteúdo no currículo escolar brasileiro. De acordo com PCNs (BRASIL,
1997) a dança deve oportunizar a valorização de diversas escolhas de interpretação e
criação, em sala de aula e na sociedade, e pode também situar e compreender as
relações entre corpo, dança e sociedade.
As propostas para trabalhar a dança na escola são amplamente refletidas e
discutidas, especialmente na área da Educação Física, visto que este conteúdo ainda é
negligenciado, reduzindo o seu papel pedagógico e suas diversas contribuições para a
educação do aluno.
A dança é, sem dúvida, uma das maiores catalisadoras da manifestação e
expressão do movimento humano. No âmbito educativo da Educação Física, ela é
pedagógica e ensina tanto quanto os esportes, jogos e brincadeiras. A dança pode (e
deve) ser usada como meio de crítica social para o questionamento de valores
preestabelecidos, padrões repetitivos e modismos.
Os autores da atualidade reforçam o valor da dança, no ensino escolar, desde a
educação infantil até o ensino médio. Segundo Cunha (1992, p. 76), "somente a escola,
através do emprego de um trabalho consciente de dança, terá condições de fazer emergir
e formar um indivíduo com conhecimento de suas verdadeiras possibilidades corporal-
expressivas."
Nanni (2001) explica que as ações estabelecidas nas aulas de dança na escola
devem ser de progressões pedagógicas. Além disso, as atividades devem abranger as
diversas habilidades motoras como: andar, correr, saltitar, equilibrar, rodopiar, girar,
rolar, deslizar dentre outras, sempre partindo do simples para o complexo, do
espontâneo para o construído.
Embora haja diversos aspectos a serem explorados na Educação Física através
do conteúdo dança, no contexto atual constata-se que muitos professores sentem
dificuldades no trato pedagógico com o tema. Em um estudo elaborado por Carvalho et
al (2012, p. 50) evidenciou-se que a dança é considerada pelos profissionais e
estudantes de Educação Física muito importante no meio educativo, no entanto, a
maioria tem dificuldades em aplicá-la "em razão a preconceitos, deficiências na

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formação da graduação, ausência de infraestrutura escolar, por não estar no
planejamento curricular da sua escola ou por falta de afinidade com ela."
Contudo, é preciso refletir esta prática, pois os alunos não podem ser
prejudicados aprendendo apenas aquilo com o que sues professores tem mais afinidade,
ou os mesmos conteúdos em todos os anos escolares. Deve-se, portanto, explorar ao
máximo as vivências corporais possíveis.
Por isso, é importante que os professores, especialmente os de Educação Física,
busquem recursos para o desenvolvimento dos conteúdos, sobretudo a dança, tais como
cursos, livros, artigos, além de trocar informações com outros colegas de trabalho, a fim 88
de buscar alternativas que objetivem a inclusão da dança em suas aulas, e a partir de sua
criatividade pessoal tornar esse processo de inserção algo natural.
A dança na escola não deve ter a intenção de formar profissionais, bailarinos, e
sim possibilitar um contato mais efetivo de se expressar criativamente através do
movimento. O professor não deve ensinar o aluno como se deve dançar, mas
proporcionar o conhecimento e a vivência da expressividade. Com isso, deve-se evitar
demonstrar os movimentos, criando condições para que o aluno se movimente
livremente.

3. A PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA A


DANÇA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Diante da escassez de bibliografia e documentos nacionais sobre a dança na


escola, ainda temos muito sobre o que discutir, restringindo-nos a apreciar e analisar os
materiais produzidos. Sendo assim, embora os PCNs tenham sido produzidos na década
de 1990, compreendemos que a proposta apresentada é de suma sua importância para a
elaboração dos currículos estaduais e municipais, fazendo um diálogo com as propostas
já existentes, incentivando a discussões pedagógicas internas das escolas e a elaboração
de projetos educativos, subsidiando o desenvolvimento pedagógico dos professores.
A proposta dos PCNs abrange a construção de um currículo que envolva os
aspectos cognitivo, motor, social, cultural e afetivo a serem explorados no ensino
fundamental e ensino médio. Neste sentido, uma das maneiras de se possibilitar
estes objetivos na disciplina de Educação Física é através da expressão de movimentos
ligados a cultura corporal. Dentro desse universo de produções da cultura corporal de
movimento, incluem-se os jogos e brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas e as
lutas.
A dança nos PCNs de Educação Física está inserida no bloco de conteúdos das
atividades rítmicas e expressivas. Neste contexto, pode se dizer que a dança não se
reduz à parte motora do movimento, sem, contudo, desmerecer as atividades
exclusivamente motoras. Porém, atrelado ao movimento, não se pode negligenciar o
caráter artístico da dança, onde há o desenvolvimento estético, com grande carga
expressiva da movimentação corporal.
Saraiva (2005, p. 73) corrobora com esta asserção ao dizer que a dança é "uma
atividade essencialmente artística", em que são veiculados elementos como a
criatividade e a expressividade. Nesse sentido, a Educação Física deve valer-se destes
aspectos estéticos e expressivos ao trabalhar com a dança no contexto escolar.
Vale ressalta que “em principio, é relevante sublinhar que toda as práticas da
cultura corporal de movimento, mais ou menos explicitamente, possuem expressividade

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e ritmo" (BRASIL, 1998, p. 71). A respeito disso, pode-se considerar a perspectiva de
Fux (1983) ao relatar que a experiência com o corpo promove o reconhecimento do
ritmo interno, onde é gerada a comunicação com o interior, o corpo sendo devidamente
motivado deve compreender a intenção dos movimentos.
Do ponto de vista dos PCNs, a dança é considerada uma prática corporal que
deve ser vivenciada nas aulas de Educação Física. Através da dança, o indivíduo pode
buscar conhecer a si próprio, sua capacidade expressiva para se comunicar, interagir e
construir seu processo de aprendizagem e desenvolvimento humano. Além disso, a
dança possibilita o desenvolvimento da autonomia, da consciência crítica e do potencial 89
criativo dos educandos.
O trabalho com o corpo possibilita conhecimento de si e dos outros, gera na
pessoa que dança maior estabilidade na relação dor e prazer, e o conhecimento dos
limites de seu corpo. Assim, as aulas de Educação Física deve possibilitar ao aluno
conhecer as diversas manifestações dançantes, as movimentações corporais e suas
possibilidades, tornando-se crítico e criativo. Logo, o aluno não só aprende a reproduzir
movimentos, mas também, aprende a transformá-los.
Os PCNs legitimam a dança como uma prática, mas também como uma
manifestação cultural, visto que abrange movimentos corporais e expressa significados
e sentidos do contexto em que está inserida. Essa perspectiva sinaliza para uma
concepção de que a dança transmite significados e expressa valores culturais.
Entretanto, de acordo com Ehrenberg (2003, p. 125)

o que encontramos no interior das escolas, quando não movimentos


mecânicos reproduzidos pelos alunos em função de uma data comemorativa,
são danças ditas folclóricas (...), mas ainda sendo reproduzidas sem
interpretação de valores e significados.

O fato é que para compreender as possibilidades de aprendizagem que este


conteúdo pode produzir quando trabalhado com significância é necessário que os
professores venham escolher o caminho correto para a consecução dos seus objetivos
educacionais.
Entretanto, para que a proposta curricular tenha o efeito desejado pelo professor,
enriquecendo sua prática e servindo como instrumento transformador é imprescindível
que este não aceite propostas já pré-determinadas sem antes questioná-la, discutí-la,
compreendê-la e modificá-la, adaptando-a sempre que necessário.
Os PCNs apontam que no 1º ciclo de escolarização (1ª e 2ª série) tem-se como
característica marcante a diferenciação das experiências e competências de movimento
de meninos e meninas. Com relação a este aspecto Marques (2003), referindo-se a sua
participação na elaboração dos PCNs, relata a dificuldade de inserir a dança com o
preconceito ao gênero, visto que a nossa sociedade é machista e a dança é tida como
“coisa de mulher”. Marques (2003, p. 41) expõe que "relacionar-se com o corpo, sentir,
emocionar-se, intuir, ter prazer, são características humanas muitas vezes inaceitáveis
em uma sociedade machista e logocêntrica como a nossa.”
Analisando a escola hoje nos faz acreditar que ainda existem preconceitos em
relação a alguns esportes e conteúdos trabalhados na Educação Física, pois meninos e
meninas quando chegam à escola já tem interiorizado parte dos padrões de
comportamentos discriminatórios, considerado-os naturais, mesmo que sejam fatos
culturais, construídos socialmente.

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Deste modo, a escola deve oferecer parâmetros para sistematização e
apropriação crítica, consciente e transformadora da dança, tendo assim, o papel de não
reproduzir, mas de instrumentalizar e de construir conhecimento em/através da dança
para com seus alunos.
Segundo Verderi (2000, p.50) "na elaboração do plano de ensino, estamos
preocupados na educação do movimento consciente de nossos alunos, e o foco principal
está em estimular as crianças a criar e recriar suas atividades”. Nesta perspectiva os
PCNs para o segundo ciclo (3ª e 4ª séries) enfatizam que
90
Nas atividades rítmicas e expressivas é possível combinar a marcação do
ritmo com movimentos coordenados entre si. As manifestações culturais da
própria coletividade ou aquelas veiculadas pela mídia podem ser analisadas a
partir de alguns conceitos de qualidade de movimento como ritmo,
velocidade, intensidade e fluidez; podem ser aprendidas e também recriadas.
Da mesma forma, as noções de simultaneidade, seqüência e alternância
poderão também subsidiar a aprendizagem e a criação de pequenas
coreografias (BRASIL, 1997, p. 47)

No segundo ciclo é de se esperar que os alunos já tenham incorporado a rotina


escolar, atuem com maior independência e dominem uma série de conhecimentos. Nesta
etapa da escolaridade deve ocorrer a apreciação das mais diversas manifestações da
cultura corporal, incluindo mais aspectos e detalhes.
Para o trato com a dança no segundo ciclo, os PCNs apontam que os alunos
devem participar na execução e criação de coreografias simples; participar em danças
pertencentes a manifestações culturais e coletivas ou de outras localidades, que estejam
presentes em seu cotidiano; apreciar e valorizar a dança como expressão devido a seus
aspectos culturais, sociais ou de gênero (BRASIL, 1997).
Dentro desta perspectiva ressaltamos a importância de se criarem novas
possibilidades para facilitar a expressão original de cada aluno e dar a eles o sentido de
grupo social, à medida que lhes permitam se reconhecerem como agentes que
vivenciam, refletem e constroem sua cultura.
É a partir das experiências vividas na escola que se tem a oportunidade de
questionar e intervir na sociedade, podendo superar os modelos pré-estabelecidos,
ampliando a sensibilidade no modo de perceber o mundo. Assim, compreendemos que o
papel da dança vai além do que o conhecimento construído em sala de aula, ela pode
intervir de maneira significativa na produção de novos conhecimentos fora do contexto
escolar.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reconhecemos as críticas e limitações dos PCNs, tais como: a falta de


ancoragem na realidade social, na educação pública e na Educação Física, pressupondo
um aluno, um professor e uma escola ideais; a articulação de aspectos incompatíveis de
tendências pedagógicas numa única proposta curricular de ensino; e a manutenção do
pensamento etapista no trato dos conteúdos, apesar da organização dos ciclos
(TAFFAREL, 1997).
No entanto, consideramos que os PCNs podem se constituir em mais uma
possibilidade de consulta e orientação aos professores com relação a sua prática

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pedagógica. Contudo, este documento não deve ser analisado como um modelo pronto e
acabado para a educação, o que não seria mesmo possível, mas sim, um material
disponível para reflexão, discussão e auxílio para a construção do plano de ensino das
escolas.
Com relação ao trabalho com a dança nas aulas de Educação Física, os PCNs
oferecem possibilidades de temas a serem abordados, elencando os tipos de dança,
ritmos, brincadeiras cantadas, enfatizando a valorização da cultura local e do
conhecimento que os alunos já possuem. Inserida no bloco de conteúdos Atividades
Rítmicas e Expressivas, a dança deve promover a vivência e percepção da manifestação 91
corporal, enfatizando o movimento com sons e música, no sentido de oportunizar a
expressão e a educação rítmica, desenvolvendo de forma simultânea o domínio motor,
cognitivo e afetivo-social.
O intuito da Educação Física ao trabalhar com a dança deve considerar o
educando como um todo que se movimenta, pensa, age e sente, que explora a prática de
atividades, que libera as sua emoções e que percebe o que seu corpo é capaz de fazer,
para, a partir daí, desenvolver todas as sua potencialidades.
Considera-se então que as aulas de Educação Física ao desenvolver o conteúdo
dança devem ser ministradas como qualquer outra aula, sendo necessário para isso
considerar os objetivos estabelecidos e a disposição do professor para que a aula
aconteça, atribuindo a devida importância a este conteúdo desde o planejamento da aula
até a sua execução e avaliação.
Por fim, espera-se que estas reflexões impulsionem novas ideias e discussões,
sobretudo no aprofundamento da dança no contexto escolar, visando ressaltar a
relevância do conhecimento a cerca deste conteúdo, quebrando paradigmas que a
norteiam devido as dificuldades, preconceitos e restrições que permeiam a realidade do
processo educativo.

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