5/1/23, 12:56 PM 1º de Maio tem uma das piores conjunturas para indústria - 30/04/2023 - Camila Rocha - Folha

Camila Rocha (/colunas/camila-rocha/)

Doutora em ciência política pela USP e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento

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1º de Maio ocorre com uma das piores conjunturas

para o trabalho fabril
Além da queda na taxa de sindicalização, mundo do trabalho que deu origem a lideranças
sindicais como Lula perde espaço a cada dia

30.abr.2023 às 15h25

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2023/05/01/)

Lula (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/lula/) e Bolsonaro (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/jair-

bolsonaro/)podem ter no dia 1º de Maio um palco político privilegiado. Enquanto Lula

avalia discursar na comemoração organizada por sete centrais sindicais no Vale do

Anhangabaú, Bolsonaro deve tentar exaltar apoiadores reunidos na Agrishow
(https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/04/agrishow-cancela-cerimonia-de-abertura-apos-polemica-com-governo-

lula.shtml),
em Ribeirão Preto, ignorando a importância da data para os
trabalhadores.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/camila-rocha/2023/04/1o-de-maio-ocorre-com-uma-das-piores-conjunturas-para-o-trabalho-fabril.shtml 1/4
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Contudo, a despeito do simbolismo do Dia do Trabalho para Lula e para o PT, a

celebração ocorre em meio a uma das piores conjunturas para os trabalhadores
brasileiros. Para além da queda na taxa de sindicalização e, portanto, de
arrecadação dos sindicatos, acentuada pela reforma trabalhista
(https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/reforma-trabalhista/), o mundo do trabalho que deu origem a

lideranças sindicais como Lula perde mais espaço a cada dia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante café da manhã com jornalistas no Palácio do
Planalto - Pedro Ladeira - 6.abr.2023/Folhapress

Os geógrafos Marco Antonio Mitidiero Junior e Yamila Goldfarb, em estudo

produzido para a Fundação Friedrich Ebert, apontam que, entre os anos de 2015 e
2020, foram fechadas cerca de 17 fábricas por dia no Brasil.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/camila-rocha/2023/04/1o-de-maio-ocorre-com-uma-das-piores-conjunturas-para-o-trabalho-fabril.shtml 2/4
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Além disso, a redução da participação do setor industrial na formação do PIB

(https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/pib/) (Produto Interno Bruto) brasileiro desde os anos

1980 é brutal. Em 1985, a indústria respondia por 47,9% do PIB, em 2005 caiu para
28,4%, em 2013 para 24,8%, e em 2019 para 22%. Inclusive, vale registrar que,
ainda que a queda na exportação de manufaturados seja global, a tendência é mais
acentuada no Brasil.

Em 2010, auge do lulismo, Lula procurou ser otimista. Durante um discurso

realizado em uma solenidade de formatura de novos diplomatas do Instituto Rio
Branco, o ex-sindicalista afirmou que "as commodities estão ficando mais valiosas
do que os tais produtos manufaturados". A despeito de ter lembrado que, anos
antes, dizia que o Brasil não poderia continuar sendo um exportador de produtos
básicos e precisava vender mais bens industrializados, afirmou que, agora, o
mundo precisava de mais comida, e "o Brasil é quem tem a competência de
produzir muito mais comida".

Passados 13 anos, o predomínio do agronegócio aponta para uma alarmante

reprimarização da economia nacional. A produção se concentra em poucos
produtos básicos exportados para poucos países, criando uma dupla dependência.
Em 2020, a China (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/china/) comprou
(https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/04/china-compra-quase-metade-da-soja-colhida-em-areas-desmatadas-na-mata-

cerca de 60% da soja brasileira, e, em troca, nos vendeu produtos

atlantica.shtml)

industrializados, como máscaras e respiradores durante a pandemia, os quais não

fomos capazes de produzir internamente. Ao mesmo tempo, a despeito da
propaganda de que o agro alimenta o Brasil, importamos em grandes quantidades
alimentos como trigo, peixes, tubérculos e até mesmo arroz, base de nossa
alimentação.

Além disso, Mitidiero e Goldfarb, ao analisarem a balança comercial, a balança de

pagamentos e os créditos recebidos pelo agronegócio, somados aos incentivos
fiscais, à baixa arrecadação de impostos e ao constante perdão e renegociação de
dívidas, mostram que a conta não fecha. Ou seja, para além do apoio explícito ao
golpismo (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/cristina-serra/2022/11/agro-e-golpe.shtml) bolsonarista, do uso
intensivo de agrotóxicos banidos em outros países, e dos enormes danos causados

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/camila-rocha/2023/04/1o-de-maio-ocorre-com-uma-das-piores-conjunturas-para-o-trabalho-fabril.shtml 3/4
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à natureza e à saúde da população, economicamente, o agronegócio recebe muito

e contribui pouco.

Assim, em meio à celebração do aumento do salário mínimo

(https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/04/governo-preve-salario-minimo-de-r-1389-em-2024-com-ganho-real-pelo-2o-ano-

para R$ 1.320 de um lado, e à exaltação às armas e à criminalização do

seguido.shtml)

MST (https://www1.folha.uol.com.br/folha-topicos/mst/) de outro, o país segue sem um projeto

sustentável de futuro para as próximas gerações.

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