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O que avaliar na Semiologia Neurológica?

1 ESTADO MENTAL

MEEM: Teste rápido de rastreio cognitivo, objetivando a identificação de demências (Lembre-se:


Essa escala não dá diagnóstico, mas identifica a possibilidade de um estado demencial!).
Pontuação (varia conforme escolaridade):
Máxima: 30 pontos
11 anos ou mais de escolaridade: 29 pontos
9-11 anos de escolaridade: 28 pontos
5-8 anos de escolaridade: 26 pontos
1-4 anos de escolaridade: 25 pontos
Analfabetos: 20 pontos
Observações: Deve-se evitar fornecer dicas durante a aplicação; Caso o paciente erre o cálculo,
ignorar a resposta e continuar a subtração do número correto.
Teste do Relógio:
Identifica o padrão de funcionamento frontal e frontotemporal;
O avaliador fornece ao paciente uma folha de papel em branco e solicita que ele desenhe o
mostrador de um relógio com os ponteiros indicando 11h e 10min.
Pontuação:
Desenho círculo correto: 1 ponto
Números na posição correta: 1 ponto
Ponteiros na posição correta: 1 ponto
Pontuação máxima: 3 pontos
Teste de Fluência Verbal:
Consiste em avaliar, em 1 min, o maior número de palavras verbalizadas de acordo com
determinada categoria;
Pode avaliar o componente semântico, quando solicitado maior número de palavras de
determinada categoria; ou avaliar o componente fonológico, quando é solicitado que o paciente fale
o maior número de palavras que se iniciam com determinada letra.
2 NERVOS CRANIANOS
I Olfatório
O examinador oferece aromas para o paciente identificar; importante testar narinas separadamente;
usar aromas familiares e não irritantes (ex. café, hortelã, etc).

II Óptico
Acuidade visual: Tabela de Snellen a 6m;

Campo visual: Campimetria por confrontação;

Fundoscopia: avaliação da retina com auxílio de oftalmoscópio.

III, IV e VI Oculomotor, Troclear e Abducente

Avaliar a motricidade ocular intrínseca e extrínseca:


Extrínseca: O examinador pede ao paciente que siga seu dedo com o olhar, sem movimentar a
cabeça. O examinador movimenta o dedo para ambos os lados e superiormente e inferiormente,
como se desenhasse um H ou X.
Intrínseca: Observar forma, diâmetro e simetria das pupilas; Realizar reflexo fotomotor direto e
consensual.
V Trigêmeo
Raiz motora: Investigar atrofia das regiões temporais e masseterinas; investigar desvio de
mandíbula à abertura da boca (em caso de alterações, a mandíbula desvia para o lado da lesão);
Pedir que o paciente simule mastigação e palpar regiões temporais e masseterinas, avaliando
contração, volume e simetria.
Raízes sensoriais (3 ramos): Com o paciente de olhos fechados, passar o chumaço de algodão em
regiões de inervação dos ramos oftálmico (testa), maxilar (bochecha) e mandibular (mandíbula).
VII Facial
Testa-se principalmente sua função motora, solicitando que o paciente realize mímicas faciais
(sorrir, franzir a testa, inchar bochechas com ar). Deve-se observar simetria.
VIII Vestibulococlear
Nervo coclear
Teste de Rinne: coloca-se o diapasão na região mastoide do paciente. Quando ele deixar de ouvir
a vibração, coloca-se o aparelho próximo ao conduto auditivo.
Positivo (normal): Paciente acusa continuação da percepção do som pelo meio aéreo.
Negativo: Transmissão óssea mais prolongada que a aérea.
Teste de Weber: Coloca-se o diapasão vibrante na linha média do crânio. O normal é que a vibração
seja sentida em ambos os lados. Na perda auditiva condutiva, o som será lateralizado para o lado
deficiente. Já na perda neurossensorial, o som será lateralizado para o lado que está normal.

IV e X Glossofaríngeo e Vago
Avaliar simetria do palato mole e posição da úvula durante fonação (paciente falando “A”), utilizando
um abaixador de língua; Reflexo do vômito.
XI Acessório
Avalia-se o volume e os contornos musculares do ECOM e trapézio; solicita-se ao paciente para
levantar os ombros contra a resistência do examinador e rotacionar a cabeça também contra a
resistência do examinador.
XII Hipoglosso
Avalia-se motricidade da língua; Solicitar ao paciente que movimente a língua para cima, para baixo
e para os lados; Solicitar ao paciente que empurre a bochecha com a língua contra a resistência
do examinador.

3 SISTEMA MOTOR
Tônus Muscular: Inicialmente verifica-se a existência ou não de achatamento das massas
musculares; Averigua-se o grau de consistência muscular, a qual se mostra aumentada em lesões
motoras centrais e diminuída nas periféricas (palpação); Imprimem-se movimentos naturais de
flexão e extensão de forma passiva. A amplitude do movimento é avaliada.
Força Muscular: Solicita-se que o paciente execute movimentos como: abrir e fechar as mãos,
estender e fletir o antebraço, abduzir e elevar o braço, fletir a coxa, todos ocorrendo contra a
resistência oferecida pelo examinador. O resultado deve ser registrado através da escala MRC:
4 SISTEMA SENSORIAL
Aplicam-se estímulos que ativem as diferentes vias relacionadas com cada tipo de sensibilidade;
Deve-se realizar questionamentos como: Está sentindo alguma coisa? O que? Em que local do
corpo?; Comparar os estímulos em áreas homólogas e também em vários locais do mesmo
segmento.
• Sensibilidade Tátil (algodão, pincel macio ou estesiômetro, se disponível);
• Sensibilidade Térmica (tubos de ensaio que contenham água quente e fria, lembre-se de
alternar os tubos para testar as duas temperaturas);
• Sensibilidade Dolorosa (material com ponta romba para que não sejam causados ferimentos,
fragmento de abaixador de língua pode ser utilizado);
• Sensibilidade Vibratória (diapasão em saliências ósseas);
• Sensibilidade de Pressão (compressão digital em qualquer parte do corpo, especialmente
massas musculares);
• Propriocepção (pergunta-se ao paciente a posição de algum membro em relação ao corpo).

5 REFLEXOS (vide tabela adiante)

6 COORDENAÇÃO E EQUILÍBRIO
Coordenação: aplica-se as provas index-nariz, index-index, calcanhar-joelho e prova dos
movimentos alternados (diadococinesia).
Equilíbrio: Solicita-se que o paciente fique em pé, com os pés juntos, olhando para frente. Em
seguida, ordena-se que ele feche os olhos (prova de Romberg).
7 SINAIS DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA (vide descrição adiante)

Glossário de termos técnicos em semiologia neurológica


LINGUAGEM
Afasia (disfasia): É um distúrbio da linguagem, que inclui várias combinações de
comprometimento da capacidade espontânea de produzir, compreender e repetir a fala, além de
alterações da capacidade de leitura e escrita.
1. Afasia de Broca: Acomete área de Broca (área motora de expressão da fala).
2. Afasia de Wernicke: Acomete área de Wernicke (área sensitiva de compreensão da fala).
3. Afasia de condução: Acomete fascículo arqueado (trato de substância branca que conecta
área de Broca e de Wernicke). Nem compreende, nem expressa.
4. Afasia global: Acomete, de forma extensa, os principais locais anatômicos da linguagem
(compromete TODAS as modalidades de linguagem).
5. Afasia anômica: Pode ocorrer em consequência de uma lesão específica ou de uma
disfunção cerebral generalizada (déficit na capacidade de nomear).
6. Afasia transcortical motora: Acomete áreas circunjacentes à área de Broca (lobo frontal e
parietal).
7. Afasia transcortical sensitiva: Acomete áreas circunjacentes à área de Wernicke (lobo
temporal e parietal).
8. Afasia transcortical mista: Envolve o cérebro amplamente (apenas preserva a capacidade
de repetição do paciente).
Apraxia: Incapacidade de planejamento, consequentemente incapacidade de seguir instruções e
executar um ato intencional conhecido.
Agnosia: Incapacidade de reconhecer o significado de um estímulo sensorial.
Alexia: Perda da capacidade de ler, na ausência de déficit visual.
Dislexia: dificuldade de ler.
Agrafia: Perda da capacidade de escrever não decorrente de déficit motor ou de coordenação.
Disgrafia: dificuldade de escrever.
Discalculia: Dificuldade de aprendizado dos números, incapacidade de identificar sinais
matemáticos, montar operações, classificar números, entender princípios de medida,
sequenciação, compreender conceitos matemáticos, relacionar valores monetários.
Amusia: Perda da capacidade de compreensão musical.
ARTICULAÇÃO DA FALA
Disfonia: Alteração do volume, da qualidade ou da altura da voz, por exemplo, por distúrbios
laríngeos.
Afonia: Perda completa da voz.
Disartria: Uma deficiência que afeta apenas a fala, geralmente causada por doença cerebelar ou
por fraqueza ou espasticidade da musculatura da fala.
Anartria: Total incapacidade de articulação ocasionada por um defeito no controle da musculatura
periférica da fala.
Dislalia: No lalismo (lalação, “fala de bebê”), a fala é infantilizada, balbuciante e caracterizada por
imprecisão na pronúncia de algumas consoantes, sobretudo “R” e “L”. O portador da dislalia
pronuncia determinadas palavras de maneira errada, omitindo, trocando, transpondo, distorcendo
ou acrescentando fonemas ou sílabas a elas.
Disritmia: Alterações no ritmo da fala (gagueira).
Mutismo: é a total incapacidade de falar; geralmente o paciente parece não tentar falar nem emitir
sons. Pode ser psicogênico, mas pode ocorrer nas lesões do cérebro, do tronco encefálico e do
cerebelo.
PARES CRANIANOS
I Olfatório
Anosmia: Ausência de olfato;
Hiposmia: Diminuição do olfato;
Hiperosmia: Exagero do olfato;
Disosmia: Comprometimento ou alteração do olfato;
Parosmia: Perversão do olfato;
Prebiosmia: Diminuição do olfato decorrente do envelhecimento;
Cacosmia: Percepção de odores desagradáveis;
Croposmia: Cacosmia com odor fecal;
Agnosia olfatória: Sente o odor, mas não tem capacidade de identificá-lo ou interpretá-lo.
II Óptico
Acuidade visual:
-Diminuição da acuidade visual: Dificuldade de enxergar de forma nítida por catarata e erros
de refração, principalmente.
-Presbiopia: Diminuição da visão decorrente do envelhecimento.
Campo visual:
-Hemianopsia: Zona de falta de visão de metade do olho esquerdo ou direito. Pode ser
homônima: mesmo lado nos dois olhos; Pode ser heterônima: na região nasal ou temporal dos
olhos.
-Quadrantopsia: Zona de falta de visão de apenas um quadrante dos olhos.
Visão das cores:
-Discromatopsia: Alteração na percepção das cores.
Fundo de olho:
-Edema de papila: Muito encontrado na Hipertensão Intracraniana.
-Atrofia Óptica: Degeneração da via óptica (papila fica esbranquiçada).
II Oculomotor
Discoria: Irregularidades no contorno das pupilas.
Anisocoria: Desigualdade no tamanho das pupilas no reflexo fotomotor.
Midríase: Pupila dilatada.
Miose: Pupila puntiforme (contraída).
IV Troclear
Lesão do troclear: Desvio do olho para cima e para dentro e desvio compensatório da cabeça e
pescoço para o lado sadio
V Trigêmeo
Lesão do trajeto: Déficits parciais de sensibilidade do
território do ramo afetado.
Lesão nos núcleos: Perda de funções exclusivas
daquele núcleo.
Neuralgia do trigêmeo:
-Essencial: Paroxismos, breve duração, com
pontos de gatilho;
-Sintomática: Secundária a doenças prévias,
com dor mais contínua e sem paroxismos.
VI Abducente
Lesão do abducente: Estrabismo convergente e
incapacidade de abduzir o olho.
VII Facial
Figura 1 Lesão do Nervo Facial
Paralisia facial periférica: Lesão do nervo motor inferior ou do próprio nervo (homolateral a lesão e
acomete toda a metade da face). Acompanhado de:
-Lagoftalmo: Déficit do músculo orbicular do olho, ocasionando seu fechamento incompleto.
-Sinal de Bell: Rotação do olho para cima e para fora + lagoftalmo.
Paralisia facial central: Lesões supranucleares (contralateral à lesão e acomete andar inferior da
face).
VIII Vestibulococlear
Coclear
-Hipoacusia: Diminuição da audição.
-Presbiacusia: Diminuição da audição decorrente do envelhecimento.
-Surdez de condução: Diminuição ou perda da audição por via aérea, com conservação ou
exaltação da óssea (Prova de Rinne negativa e prova de Weber com lateralização para o lado
lesado).
-Surdez de percepção: Diminuição ou perda da audição por via aérea e óssea. (Prova de
Rinne positiva e prova de Weber com lateralização para o lado não afetado).
Vestibular
-Vertigem: Sensação subjetiva de rotação do corpo em torno de si mesmo ou de
deslocamento de objetos circunvizinhos.
-Nistagmo: Oscilações repetidas e involuntárias rítmicas de um ou ambos os olhos em
algumas ou todas as posições.
IX e X Glossofaríngeo e Vago
Sinal da cortina de Vernet: Paralisia unilateral do glossofaríngeo (repuxamento global para o lado
não afetado da hemifaringe e da rafe mediana).
XI Acessório
Hemiplegia e Paralisia bilateral (abordado adiante) do esternocleidomastoideo (ECOM) e trapézio.
XII Hipoglosso
Paralisia facial central: Desvio da língua, quando pedido para pôr para fora, para o lado da lesão.
FORÇA MUSCULAR
Fraqueza: Diminuição da força motora.
Paresia: Déficit da motricidade voluntária dos músculos.
Plegia ou Paralisia: Perda completa do controle motor voluntário.
Monoparesia: Fraqueza de um membro.
Monoplegia: Paralisia de um membro.
Paraparesia braquial: Fraqueza dos membros superiores.
Paraplegia braquial: Paralisia dos membros superiores.
Paraparesia ou paralisia crural: Fraqueza ou paralisia dos membros inferiores.
Hemiparesia: Fraqueza de um hemicorpo.
Hemiplegia: Paralisia de um hemicorpo.
Hemiparesia ou hemiplegia desproporcionada: Quando um dos segmentos (face, braço e perna) é
mais afetada do que os outros.
Hemiparesia ou hemiplegia proporcionada: Quando não há diferença de proporção entre os
segmentos.
Tetraparesia ou tetraplegia: Fraqueza ou paralisia de todos os quatro membros.
Hemiparesia ou hemiplegia cruzada (alternada): Quando um nervo craniano é afetado de um lado
da face, havendo hemiparesia ou hemiplegia do lado oposto do corpo (visto em lesões de tronco,
antes da decussação das fibras do trato corticoespinal).
Fraqueza difusa: Acomete múltiplos músculos do corpo.
Fraqueza localizada: Acomete um músculo ou um grupo de músculos inervado por um determinado
nervo ou toda uma extremidade.
TÔNUS MUSCULAR
Atonia: Perda de tônus muscular, promovendo quedas.
Distonia: Contração involuntária muscular sustentada, promovendo torção e posturas anormais.
Hipotonia: Perda de manutenção reflexa do tônus (presente na síndrome do neurônio motor inferior
ou até, na fase aguda ou deficitária da síndrome do neurônio motor superior).
-Hipertonia Espástica: Faz parte da fase de liberação da síndrome do neurônio motor superior.
Caracterizada por hipertonia elástica e eletiva.
-Elástica: Resistência aumenta à medida que a movimentação passiva vai sendo feita e volta
ao estado inicial após o término da ação do examinador (como no sinal do canivete - perda súbita
da resistência no final da movimentação passiva da articulação).
-Eletiva: ocorre em grupos musculares específicos (como os extensores da perna e flexores
dos braços - posição de Wernicke-Mann após AVC).
-Hipertonia Plástica: Ocorre em lesões da substância negra ou globo pálido (Doença de Parkinson,
ex.). Caracterizada por ser global e plástica.
-Global, pois acomete todos os grupos musculares.
-Plástica, pois tem uma resistência constante à movimentação passiva da articulação e, ao
terminar a movimentação passiva, a articulação permanece na posição que foi deixada (como no
sinal da roda denteada - diminuição e aumento intermitente da resistência, dando a impressão de
estar movimentando uma roda denteada, ou uma catraca).
Asterixe: Incapacidade de manter o tônus muscular normal. Visto, principalmente, nas
encefalopatias hepáticas. Ao manter os braços estendidos, o lapso no tônus postural pode fazer as
mãos caírem e se recuperarem rapidamente, fazendo um movimento oscilatório.
MARCHAS ANORMAIS
Ataxia cerebelar
Ocorre por acometimento dos mecanismos de coordenação no cerebelo e de seus sistemas de
conexão. A incapacidade de caminhar em tandem (pé em frente ao outro em linha reta) pode ser o
único sinal de ataxia leve. A parada ou a virada súbita podem revelar marcha cambaleante. Na
doença mais grave, a marcha é desajeitada, cambaleante, instável, irregular, vacilante, titubeante
e de base larga, e o paciente pode oscilar para o lado, para trás ou para a frente.
Ataxia sensorial
Ocorre quando o sistema nervoso é privado das informações sensoriais, principalmente
proprioceptivas, necessárias para coordenar a marcha. O paciente não tem consciência da posição
dos membros inferiores no espaço, ou mesmo do corpo inteiro, exceto a propiciada pelo sistema
visual, e torna-se extremamente dependente de estímulos visuais para a coordenação.
Hemiparesia espástica
Pode ser causada por uma lesão que interrompa as vias corticoespinais para metade do corpo, na
maioria das vezes por AVC. O paciente tem uma postura hemiparética, com o braço flexionado,
aduzido e rodado medialmente e a perna estendida. Ao caminhar, o paciente mantém o braço bem
junto ao corpo, rígido e flexionado; estende-o com dificuldade e não o balança da maneira normal.
Ele mantém a perna rígida em extensão e flexiona-a com dificuldade. A cada passo, ele pode
inclinar a pelve para cima no lado acometido para auxiliar a levantar os dedos do chão (elevação
do quadril) e balançar todo o membro em um semicírculo ao redor do quadril (circundução).
Marcha em tesoura
Esse padrão de marcha ocorre em pacientes com espasticidade grave das pernas. É observado
em pacientes com diplegia espástica congênita (doença de Little, paralisia cerebral) e distúrbios
relacionados e nas mielopatias crônicas causadas por distúrbios como esclerose múltipla e
espondilose cervical. É basicamente a marcha hemiplégica bilateral que afeta as pernas. Há tensão
característica dos adutores do quadril, o que causa adução das coxas, de maneira que os joelhos
podem se cruzar, um na frente do outro, a cada passo (marcha em tesoura). A marcha tem uma
base estreita demais, com passos rígidos e arrastados, puxando as duas pernas e arrastando os
dedos.
Marcha espástico-atáxica
Alguns distúrbios neurológicos causam acometimento das vias corticoespinais e proprioceptivas
(ex. doença sistêmica combinada por deficiência de vitamina B12 ou esclerose múltipla), resultando
em marcha com características de espasticidade e ataxia. O componente atáxico pode ser
cerebelar ou sensorial. A marcha foi descrita como “em sacudidelas” ou “saltitante”, com
movimentos trêmulos, aos saltos, para cima e para baixo.
Marcha parkinsoniana
A marcha, na maioria das síndromes parkinsonianas acinético-rígidas, é caracterizada por rigidez,
bradicinesia e perda de movimentos associados. O paciente tem postura curva, com a cabeça e o
pescoço para a frente e os joelhos flexionados; os membros superiores são flexionados nos
ombros, cotovelos e carpos, mas os dedos geralmente são estendidos. A marcha é lenta, rígida e
arrastada; o paciente caminha com passos miúdos. Outras características são aceleração
involuntária (festinação), diminuição da oscilação dos braços, rotação do corpo em bloco, hesitação
inicial e congelamento ao encontrar obstáculos como portas.
Distúrbios da marcha do lobo frontal
Vários distúrbios da marcha foram atribuídos à disfunção dos lobos frontais. As lesões do lobo
frontal, ou das conexões do lobo frontal com os núcleos da base e o cerebelo, podem causar um
distúrbio da marcha caracterizado por postura levemente fletida, passos curtos e arrastados, base
larga e incapacidade de integrar e coordenar os movimentos dos membros inferiores para a
deambulação normal. Há dificuldade específica com o início e a virada. Alguns são mal
compreendidos e a relação entre eles é obscura. Em alguns, a “disfunção” do lobo frontal foi
atribuída ao envelhecimento normal.
Com frequência, alguns distúrbios da marcha incluídos nessa categoria são apraxia da marcha,
marcha da hidrocefalia de pressão normal (HPN), marcha de pequenos passos e marcha cautelosa
(senil).
Marcha de pequenos passos
A marche à petit pas (marcha de pequenos passos) é semelhante à do parkinsonismo, porém sem
a rigidez e a bradicinesia. A locomoção é lenta, e o paciente caminha com passos muito curtos,
delicados, arrastados e um tanto irregulares. O comprimento do passo pode ser menor do que o
comprimento do pé. Com frequência, há perda dos movimentos associados. Esse tipo de marcha
pode ser observado em pessoas idosas normais, mas também ocorre em pacientes com disfunção
hemisférica cerebral difusa, sobretudo com acometimento dos lobos frontais.
Apraxia da marcha
É a perda da capacidade de usar apropriadamente as pernas para caminhar, sem prejuízo
demonstrável da sensibilidade, fraqueza, incoordenação motora ou outra explicação aparente. A
apraxia da marcha é observada em pacientes com lesões cerebrais extensas, sobretudo dos lobos
frontais. É manifestação comum da hidrocefalia de pressão normal (HPN) e pode ocorrer em
neoplasias do lobo frontal, doença de Binswanger, demência frontotemporal e outros distúrbios
causadores de disfunção difusa do lobo frontal.
Marcha da hidrocefalia de pressão normal
A dificuldade da marcha geralmente é o sintoma inicial e mais importante. As principais alterações
são marcha lenta, de base alargada, com passos curtos e arrastados, todas manifestações
inespecíficas e compensações naturais observadas em pacientes com vários distúrbios da marcha.
Varia de dificuldade leve, na qual há apenas marcha cautelosa ou dificuldade de marcha em
tandem, a intensa, quando o paciente não consegue andar sem ajuda. Isso foi denominado apraxia
da marcha. As manifestações em comum com outros distúrbios da marcha do lobo frontal incluem
diminuição da velocidade, do comprimento da passada e da altura do passo.
Marcha cautelosa
Também chamada de senil, é observada em pacientes idosos que não têm doença neurológica,
mas estão inseguros quanto ao equilíbrio e aos reflexos posturais. A marcha assume as
características observadas quando uma pessoa saudável caminha sobre uma superfície gelada:
diminuição da velocidade, encurtamento dos passos e alargamento da base. A distância pé-solo
não diminui e o paciente não arrasta os pés. Não há dificuldade para iniciar a marcha nem
congelamento.
Marcha escarvante
Paciente levanta muito uma das pernas ou as duas durante as fases da passada, como se estivesse
subindo degraus, embora a superfície seja plana. A marcha escarvante pode ser uni ou bilateral.
As causas comuns de pé em gota e marcha escarvante unilaterais são paralisia do nervo fibular e
radiculopatia de L5. As causas de pé em gota e marcha escarvante bilaterais incluem esclerose
lateral amiotrófica, doença de Charcot-Marie-Tooth e outras neuropatias periféricas intensas e
algumas formas de distrofia muscular.
Marcha miopática
Também chamada de anserina, ocorre quando há fraqueza dos músculos do cíngulo do membro
inferior, na maioria das vezes causada por miopatia e mais caracteristicamente por distrofia
muscular. Se os músculos flexores do quadril forem fracos, poderá haver lordose acentuada. Os
músculos abdutores do quadril são essenciais para a estabilização da pelve durante a marcha. O
sinal de Trendelenburg é a queda anormal da pelve no mesmo lado da perna em fase de balanço
causada por fraqueza do abdutor do quadril. Quando a fraqueza é bilateral, há balanço exagerado
da pelve e consequente marcha anserina.
Marcha hipercinética
Em distúrbios como coreia de Sydenham, doença de Huntington, outros tipos de coreia transitória
ou persistente, atetose e distonia, os movimentos anormais podem tornar-se mais acentuados
durante a marcha, e as manifestações da doença são mais evidentes.
A marcha pode acentuar não só as hipercinesias, mas também as anormalidades da força e do
tônus associados. Na doença de Huntington, a marcha pode ser grotesca, dançante ou saltitante
com numerosos movimentos estranhos. Os movimentos distais na atetose e os movimentos
proximais na distonia podem ser acentuados durante a marcha, e em ambos há caretas associadas.

Marchas associadas à fraqueza focal


Além da marcha escarvante, a fraqueza limitada a outros grupos musculares pode causar
dificuldades de marcha. Na paralisia dos músculos gastrocnêmio e sóleo, o paciente é incapaz de
ficar de pé sobre os dedos dos pés e de dar a partida para iniciar a fase de balanço com a perna
afetada. Isso pode causar marcha de passos arrastados, sem flexibilidade.
Na fraqueza do músculo quadríceps (ex. neuropatia femoral), há fraqueza da extensão do joelho,
e o paciente só consegue aceitar o peso sobre o membro afetado com sustentação do joelho. Ao
caminhar, o joelho é mantido rígido, com tendência à queda se houver flexão do joelho. O paciente
tem menos dificuldade para caminhar para trás do que para a frente.

Marcha tanolante
Também denominada marcha tabética. Para se locomover, o paciente mantém o olhar fixo no chão;
os membros inferiores são levantados abrupta e explosivamente, e, ao serem recolocados no chão,
os calcanhares tocam o solo de modo bem pesado. Com os olhos fechados, a marcha apresenta
acentuada piora, ou se torna impossível. Indica perda da sensibilidade proprioceptiva por lesão do
cordão posterior da medula. Sua principal causa é a Neurossífilis.

Marcha cerebelar ou ebriosa


Ao caminhar, o doente ziguezagueia como um bêbado. Esse tipo de marcha traduz incoordenação
de movimentos em decorrência de lesões do cerebelo.
REFLEXOS
Profundos:

Superficiais:

REFLEXOS PATOLÓGICOS
Sinal de Babinski: Resposta de extensão dos dedos, principalmente do hálux e abertura em leque
dos outros dedos. Estímulo da superfície plantar a partir do calcanhar, subindo lateralmente até
próximo ao último pododáctilo, tomando direção medial até base do hálux.
Suscedâneos mais usados:
-Chaddock: Estimula-se a face lateral do pé em vez da sola (muito usado na pediatria);
-Oppenheim: Examinador arrasta os dedos contra a superfície ântero-medial da tíbia do
paciente da região abaixo do joelho até o tornozelo (muito usado na ortopedia).
Reflexo de preensão: Após estimulação tátil da superfície palmar do paciente, ocorre preensão dos
dedos do examinador pelo paciente e a tentativa de retirada, aumenta a preensão (lesões do lobo
frontal).
Reflexo palmomentoniano: É a contração do músculo mentual e orbicular da boca, a partir de
estímulo firme na eminência tenar da mão (pode aparecer em indivíduos normais, porém fraco).
Sinal de Hoffmann: Análogo do Babinski nos membros superiores. A mão do paciente deve estar
relaxada. Examinador segura mão do paciente e com a outra mão segura o dedo médio e faz flexão
abrupta da parte distal do dedo. A resposta é a flexão dos outros dedos da mão e adução do
polegar.
COORDENAÇÃO
Dissinergia: Falta de velocidade e habilidade na realização de movimentos que requerem a
atividade coordenada de diversos grupos musculares;
Dismetria: Erros no julgamento e avaliação da distância, velocidade, força e direção do movimento;
Disdiadococinesia: Incapacidade de realizar movimentos repetidos rápidos ou movimentos
alternados rápidos;
Tremor Intencional: Movimentos espasmódicos irregulares ao executar um movimento com uma
finalidade. Aumentam amplitude a medida que se aproximam do alvo;
Tremor postural: Ocorre quando o paciente mantém algum segmento corporal, conscientemente
parado;
Ataxia: Alteração do equilíbrio;
Ataxia estática: Se manifesta em posição parada;
Ataxia motora: Se manifesta em movimentos.
MOVIMENTOS ANORMAIS
Transtornos hipocinéticos
Bradicinesia: Lentidão do movimento;
Rigidez: Aumento da resistência ao movimento passivo de uma articulação.
Transtornos hipercinéticos
Tremores: Oscilações relativamente rítmicas e involuntárias por todo o corpo
Coreia (dança): Movimentos involuntários bruscos e rápidos, sem obedecer a nenhum ritmo.
Atetose: Hipercinesias mais lentas, prolongadas e de maior amplitude do que a coreia e há
contorção dos membros, tronco, cabeça, face ou língua.
Balismo: Movimentos de arremesso violentos, súbitos, de grande amplitude e incessantes. Podem
ocorrer em um hemicorpo, caracterizando o hemibalismo.
Fasciculações: Movimentos finos, rápidos que aparecem com a contração de um feixe de fibras
musculares (podem aparecer na síndrome do neurônio motor inferior).
Fibrilações: Contrações finas limitadas a uma única fibra muscular ou a um grupo de fibras menores
que as das fasciculações.
Mioclonia: Contrações musculares súbitas e breves (~200ms). “Susto”.
Clônus: Abalos musculares com intervalos regulares de menos de 1 a 2 segundos.
Espasmos: Contrações involuntárias do músculo que são mais sustentadas do que as mioclonias.
SENSIBILIDADE
Alodinia: Sensação dolorosa por um estímulo inócuo;
Analgesia: Ausência de sensibilidade à dor;
Hipoalgesia: Redução da sensibilidade dolorosa;
Hiperalgesia: Exacerbação da sensibilidade dolorosa;
Anestesia: Ausência de qualquer sensação;
Disestesias: Alteração da sensibilidade;
Hiperestesia: Aumento da intensidade ou duração da sensação após estímulo;
Hipoestesia: Diminuição da sensibilidade;
Parestesia: Sensações espontâneas, desagradáveis (dormência, formigamento, picada ou
queimação);
Esterognosia: Capacidade de identificar objeto pelo tato;
Grafestesia: Capacidade de identificar desenho traçado sobre a pele;
Barognosia: Capacidade de identificar pesos diferentes;
Hipopalestesia: Diminuição da sensibilidade vibratória.
SINAIS MENÍNGEOS
Decorrem de acometimentos que produzem tensão sobre as raízes nervosas espinais inflamadas
e hipersensíveis e os sinais resultantes são posturas que reduzem essa distorção das raízes.
Sinal de Brudzinski: Mantendo-se a flexão do pescoço por alguns segundos, há flexão dos
membros inferiores;
Sinal de Kernig: Coxa e joelho a 90 graus e tentativa de extensão do joelho com consequente dor
e resistência ao movimento;
Sinal de Laségue: Semelhante ao Kernig, porém com a perna estendida (usado para avaliar
irritação de raízes em radiculopatia lombossacra).
POSTURAS ANORMAIS CORRELATAS A COMA E ME
Decorticação (ilustração A na figura abaixo): Postura de flexão dos membros superiores –
especificamente cotovelos e punhos – e de extensão de membros inferiores. Este é geralmente
produzido por lesões do trato corticoespinal ou hemisfério cerebral.
Descerebração (ilustração B na figura abaixo): Extensão dos membros inferiores e superiores
acompanhada de adução, extensão e rotação interna dos ombros, cotovelos e punhos. Este padrão
ocorre comumente após lesões bilaterais no mesencéfalo e na ponte.

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