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Perturbaçõ es da linguagem verbal 2019

Perturbações da linguagem verbal.


A linguagem verbal é o modo de comunicação e representação mais utilizado. Embora a
comunicação seja possível sem esta forma de linguagem. A comunicação não se limita à
linguagem verbal (falada/escrita), pode utilizar qualquer um dos nossos sentidos. Contudo, a
linguagem verbal é o instrumento ou meio de comunicação e representação por excelência.
Através da comunicação, da linguagem, os indivíduos expressam sentimentos, ideias,
pensamentos ,mas ao mesmo tempo podem captar as mensagens produzidas pelos outros. O
principal sentido da comunicação /linguagem consistirá em facilitar as relações do indivíduo com
o seu meio envolvente.
Para que a linguagem sirva como instrumento de comunicação é necessário um emissor/receptor
que, utilizando um código comummente aceite, envie uma mensagem a um receptor/emissor
através de um meio ou canal de comunicação num determinado contexto referencial.
Entendemos por linguagem, a faculdade exclusivamente humana que serve para a representação,
expressão e comunicação de pensamentos ou ideias mediante um sistema de símbolos. A
linguagem é aquela função complexa que permite expressar e perceber estados afectivos,
conceitos, ideias, por meio de sinais acústicos ou gráficos.
A linguagem verbal aparece como algo intrínseco no ser humano e inseparável da comunicação,
cumprindo diversas funções. Rondal e Bredart (1991), tomando como referencia as funções
(instrumental, reguladora, interactiva, pessoal, heurística, imaginativa ou criativa e informativa),
que Halliday (1982) estabelece como básicas na linguagem, agrupam-se em duas macro -funções
essenciais:
 Função ideocorrepresentativa: representação da realidade, criatividade, análise da
informação, conceptualização.
 Função interpessoal, conotativa: intercâmbio de informação regulação de condutas (a
própria e a alheia).
Mas aquisição e desenvolvimento da linguagem implicam:

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 Aprender a combinar fonemas, palavras e frases em sequências compreensíveis para os


outros.
 Conhecer e compartilhar os significados elaborados socioculturalmente por uma
determinada comunidade linguística.
 Saber utilizar correctamente as regras gramaticais que estruturam as relações forma -
função na linguagem.
Em consequência, a complexa actividade da linguagem pode ser alterada por razoes diversas
(ausência de código comum, deficiência de articulação, alterações da mensagem …), dado
conjunto de órgãos que intervêm na produção e compreensão verbal.
Alterações da linguagem verbal
As realizações linguísticas de um indivíduo estão determinadas por múltiplas componentes que,
de forma simplificada, poderiam agrupar-se assim;
a) Variáveis exógenas
b) Variáveis endógenas.
Ambas as componentes aparecem relacionadas com as diferentes capacidades humanas
(cognitivas, afectivas, motoras, de relação interpessoal e inserção social). O desenvolvimento
integral dos indivíduos será facilitado ou alterado consoante essas variáveis forem positivas ou
negativas.
Convêm recordar que qualquer alteração laríngea ocasiona perturbações na emissão da voz. Dos
quatro elementos constitutivos do som (intensidade, tom, timbre e duração), os três primeiros
têm a sua origem na laringe.
As alterações da voz são relativamente frequentes na idade escolar, afectando metade das
crianças dos cinco/seis anos até à puberdade.
Muitas vezes as alterações da voz são devidas ao seu uso inadequado quer por excesso ou
defeitos da sua emissão (hipertonia/hipotonia).
Entre as causas que podem gerar alterações podemos assinalar as bronquites crónicas, asma,
adenóides, laringites. Por vezes têm etiologia traumática (acidentes, sustos…) ou ambiental

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(elevação da voz em situações de muitos ruídos e barulho…) e, inclusive, (pólipos, nódulos…).


Outras vezes ainda são de causa orgânica (malformações laríngeas, inflamações …)
Podemos dividi-las em:
Disfonia: é uma alteração da voz que pode afectar qualquer das suas características (intensidade,
altura, timbre) devido a uma perturbação orgânica ou a uma incorrecta utilização da voz.
Afonia: é a ausência total de voz, embora temporariamente.
Pela sua frequência convêm assinalar uma variante da disfonia: é a rinofonia (alteração da
ressonância) que pode ser aberta, em virtude de um insuficiente encerramento do véu do palato
com escape nasal, ou fechada, em consequência de uma obstrução nasal. A rinofonia aberta
costuma dar lugar à rinolália abertas (nasalizam-se os fonemas orais surdos e os sonoros são
produzidos com excesso de ressonância nasal).
Alterações da articulação
Por entre as alterações da articulação vamos destacar três problemas específicos:
Dislalias: são perturbações na articulação de um ou vários fonemas, por substituição, omissão,
acrescentamento ou distorção dos mesmos.
Classificação etiológica de Pascual (1988):
a) Dislalia evolutiva: o conjunto dos órgãos que intervêm na articulação precisa de suficiente
maturação neuromotora para pronunciar correctamente os diferentes fonemas. Nos primeiros
anos de vida (até aproximadamente aos quatro anos) as crianças não são capazes de articular
correctamente alguns fonemas devido à etapa de desenvolvimento linguístico em que se
encontram. Este tipo de dislalia, também chamada fisiológica, costuma desaparecer com o tempo
sem apresentar problemas de maior. Poderá ser feita uma intervenção preventiva tendo em conta
a realização de exercícios respiratórios, exercícios dos lábios e língua, e de sopro.
b) Dislalia auditiva: a criança que não ouve bem não articula correctamente. A deficiência
auditiva está na origem da dislalia auditiva, embora as crianças com graves défices auditivos
apresentem ainda outras alterações da linguagem. A intervenção da terapeuta da fala centrar-
se-á em actividades que impliquem exercícios de discriminação auditiva e conseguir um

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registo adequado da voz, assim como a correcção dos fonemas mal emitidos e aquisição dos
inexistentes.
c) Dislalia orgânica: as perturbações da articulação, cuja etiologia é devida a malformações
dos órgãos da fala (lábios, língua, palato…) são conhecidas por disglosias ou dislálias
orgânicas.
d) Dislalia funcional: consiste numa alteração devida ao mau funcionamento dos órgãos
articulatórios, sem que exista qualquer causa orgânica.
Entre os factores etiológicos que podem originar dislálias funcionais, podemos referir:
Insuficiência controlo psicomotor.
Dificuldades de discriminação auditiva.
Deficiência intelectual.
Perturbações espacio-temporais.
Factores diversos relacionados com o meio ambiente (familiares, ambientais…).
Disglosias
São perturbações na articulação dos fonemas (substituições, omissões, distorções,
acrescentamentos) devido a lesões físicas ou malformações dos órgãos periféricos da fala.
Causas podem ser diversas. Consoante o órgão afectado assim podemos falar de:
a) Disglosias labiais: lábio leporino, freio labial superior, fenda do lábio inferior, paralisia
facial, macrostomia, feridas labiais, nevralgia do trigémeo.
b) Disglosias mandibulares: ressecção dos maxilares, atresia mandibular, disostosis
maxilofacial, hereditariedade.
c) Disglosias dentais: próteses, ortodôncia.
d) Disglosias linguais: glossectomia macroglosia, paralisia da língua
e) Disglosias do palato: fenda palatina, palato em ogiva, perfurações palatinas, palato curto.
Disartrias

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São perturbações da articulação e da palavra devido a lesões no SNC, que afectam a articulação
de todos os fonemas em cuja emissão intervém a zona lesionada. O caso mais grave é a anartria
ou incapacidade para articular os fonemas das palavras.
Em função das lesões do SNC podemos distinguir as seguintes formas de disartria:
a) Disartria flácida: localiza-se a nível do neurónio motor inferior, provocando uma serie de
dificuldades como afecção da língua, hipernasalação, respiração arquejante, diminuição
dos reflexos musculares. A nível linguístico as principais alterações encontram-se na
fonação, ressonância e prosódia.
b) Disartria espástica: a sua localização centra-se no neurónio motor superior e as principais
manifestações são a espasticidade, alterações emocionais, lentidão da fala, alterações
respiratórias. A prosódia e a articulação aparecem especialmente alteradas.
c) Disartria atáxica: localiza-se no cerebelo. As suas principais manifestações serão os
movimentos imprecisos, alterações da marcha e do equilíbrio, alterações prosódicas,
fonemas prolongados. A fonação, a prosódia e a articulação estão alteradas.
d) Disartria hipocinetica: a lesão situa-se no sistema extrapiramidal, manifestando-se por
movimentos lentos, limitados e regidos.
e) Disartria hipercinetica: localiza-se no sistema extrapiramidal, apresentando movimentos
involuntários e evidentes alterações linguísticas a nível da fonação, ressonância, prodódia
e articulação.

Alterações da fluência verbal: gaguez


É uma alteração no ritmo da fala e da comunicação, caracterização por uma serie de repetições
ou bloqueios espasmódicos durante a emissão do discurso.
Os sintomas que caracterizam esta perturbação são diversos, e a intensidade vária segundo os
casos, o interlocutor, o conteúdo do discurso, o contexto, etc. As manifestações disfémicas
podem ser agrupadas em três categorias:

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1. Aspectos linguísticos: uso de “muletas”, abuso de sinónimos, discurso incoerente,


desorganização entre o pensamento e a linguagem.
2. Aspectos comportamentais: mutismo, retraimento, ansiedade, evitar a conversa, bloqueios.
3. Aspectos corporais e respiratórios: tiques, espasmos, alteração respiratória, rigidez facial.
Alguns destes sintomas costumam aparecer cedo (por volta dos três anos) e com processos
diferentes de desenvolvimento de individuo para individuo.
A verdadeira gaguez poderá situar-se por volta dos dez anos, pelo que se torna aconselhável
uma intervenção da terapeuta da fala, com implicação da família na terapia.
Os factores etiológicos determinantes de uma tensão espasmódica da fala são múltiplos, pelo
que as diferentes teorias explicativas da gaguez – orgânicas, neuroses, ansiedade e
aprendizagem.
Numa perspectiva sintomatologia podemos diferenciar três tipos de gaguez:
Gaguez clónica, com repetições silábicas e ligeiros espasmos repetitivos.
Gaguez tónica, com bloqueios iniciais e fortes espasmos.
Gaguez mista, que apresenta a sintomatologia das duas anteriores.
Nesta perturbação da fala, a intervenção terapêutica deve incidir na formação de frases curtas e
simples emitidas lenta e ritmicamente.

Alterações da linguagem
Vamos falar de três perturbações fundamentais:
1. Mutismo
Esta perturbação consiste no total desaparecimento da linguagem, de forma repentina ou
progressiva. Pode seguir-se a um forte choque emocional, ser de tipo histérico, provocado por
doença laríngea ou aparecer em certos dias.
 Mutismo neurótico: trata-se, na maioria dos casos, de um mutismo parcial ou electivo
associado frequentemente a outras manifestações. Se persistir para além dos seis anos

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provoca limitações importantes, tanto a nível escolar como social. O mutismo total é
raro.
 Mutismo psicótico: quando a criança tem entre 3 e 6 anos o seu quadro clínico
assemelha-se ao de uma criança autista. Pode ser provocado por um incidente febril ou
por um afastamento do meio a que está habituada.

2. Atraso no desenvolvimento da linguagem

É um termo genérico utilizado para englobar os atrasos na aquisição e/ou desenvolvimento da


linguagem, sem que existam sintomas de défices intelectuais, sensoriais ou motores. Trata-se de
crianças cujo processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem não se realiza segundo as
etapas consideradas “normais” que é costume estabelecer para determinar os marcos do
desenvolvimento linguístico infantil.
Entre as características que podemos assinalar nas crianças com atrasos no desenvolvimento da
linguagem, salientamos:
 Aparecimento das primeiras palavras depois dos dois anos de idade.
 A associação de palavras não aparece até por volta dos três anos de idade.
 Vocabulário ainda reduzido aos quatro anos.
 Desinteresse em comunicar.
 Compreensão da linguagem superior à expressão.
 Imaturidade na dominância lateral.
Podemos encontrar a classificação segundo diversos graus de severidade, os atrasos simples da
linguagem.

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 Os que apresentam dificuldades de articulação associados a uma alteração na construção de


frases e/ou tensões de índole afectivo/emocional. O problema nestes casos costuma ser
temporário, não definitivo e espontaneamente ultrapassado.
 Quando as dificuldades de articulação estão associadas a um desenvolvimento verbal lento,
com défices de vocabulário e de memória auditiva. Este grupo requer tratamento
especializado.
 Quando as perturbações articulatórias estão associadas a défices na articulação e
compreensão verbal. Também estes precisam tratamento especializado.
A etiologia que desencadeia esta alteração linguística é muito variada. De uma forma simples
agrupamos algumas das causas que podem originar este problema:
1. Variações relativas ao ambiente familiar:
Superprotecção familiar
Abandono familiar
Separações, insultos, morte de um membro da família.
Défices linguísticos.
2. Variáveis socioculturais:
Falta de estruturação linguística.
Baixo nível sociocultural
Situações de bilinguismo mal integrado.
Outras variáveis:
Factores hereditários e outros.
3. Afasias
São perturbações de origem cerebral em que se verifica uma dificuldade ou incapacidade para
a linguagem verbal ou escrita, sem que haja lesão das vias auditivas ou motoras implicadas na
fonação; a expressão compreensão linguística está, em maior ou menor grau, afectadas.

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Geralmente, a afasia tem sido definida (Nieto, 1990) como um problema de linguagem
provocado por uma alteração no hemisfério cerebral, cuja função principal é o processamento do
código linguístico.
As crianças com esta perturbação têm dificuldade na sequencialização de estímulos ou
acontecimentos encadeados.
Ao falarmos desta perturbação nas crianças podemos estabelecer uma distinção entre a afasia
adquirida e afasia congénita, que seria a afasia antes da linguagem.
A afasia de desenvolvimento ou disfasia (seja expressiva ou receptiva), pode ser limitada pelas
seguintes características:
Dificuldades para interpretar a linguagem verbal.
Descoordenação motora geral.
Fala difícil de entender.
Linguagem telegráfica, ecolália.
Hemiplegia (ocasionalmente).
O atraso da fala pode variar em função da patologia orgânica.
Apresentamos a classificação mais tradicional, tendo em conta as áreas afectadas:
a) Afasia sensorial ou receptiva: a lesão situa-se na zona de wernicke. Os indivíduos que
sofrem deste tipo de afasia não compreendem o significado das palavras, mas podem
falar, embora com dificuldade.
b) Afasia motora ou expressiva: a lesão verificada na zona de Broca. Neste caso, o indivíduo
compreende o significado das palavras, mas não pode expressar-se
c) Afasia mista: trata-se de uma lesão extensa que afecta tanto as áreas motoras como as
áreas receptivas da linguagem.

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