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"VIAGEM" - 1 -

NOVELA: A VIAGEM

AUTORA: IVANI RIBEIRO

CO-AUTORA: SOLANGE CASTRO NEVES

CAPITULO 1

CENA 1 - SÃO PAULO - ESCRITÓRIO - INTERNA - TARDE

(CAM/ num cofre embutido em lugar de destaque. Nota: esse escritório só aparece no

primeiro capítulo).

CAM\ em Zoom, fechando nas MÃOS com luvas.

CAM\ em Zoom nas MÃOS abrindo um cofre lentamente. Desfocando CAM\ procura foco

CAM\ no CLOSE no interior do cofre. Vê-se um revolver ali.

CLOSE em ALEXANDRE que pega uma pequena caixa e abre. Tensão.

CAM\ em Panorâmica de Alexandre retirando papeis dentro da caixa.

CAM\ nele recolocando os papéis e procurando dinheiro, apressado. CAM/ em Travelling

passa à frente do cofre.

CAM\ em Plano Americano do tesoureiro que entra na sala.


Campo e Contra- Campo dos dois e Alexandre que reage e vai pra ele que o esmurra.

CAM\ na mão na luta dos dois homens.

CAM\ em Plongée do que ergue-se e agarra o outro.

Travilling lento\ na frente deles até o CLOSE da mão de ALEXANDRE pegando o

revolver dentro do cofre e atirando no outro.

SOM: TIRO

CAM/ no TESOUREIRO que cai e ALEXANDRE foge guardando o revolver (CLOSE) sob

o cinto num gesto inconsciente e sai correndo.


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CORTA

CENA 2 - RIO - INTERNA - ESCADARIA DA FIRMA - TARDE - CONTRA LUZ

CAM\ Plongeé na escadaria.

CAM\ Contra-plongée (detalhar os pés descendo os degraus aos saltos e depois a

expressão nervosa de ALEXANDRE.

CORTA

CENA 3 - RUA - AVENIDA PAULISTA - EXTERNA - TARDE

CAM/ Mostrar o EDIFICIO onde ALEXANDRE trabalha. Movimentação natural da rua em

horário de rush.

CAM/ em ALEXANDRE saindo do prédio quase correndo; dá um esbarrão em alguém

que quase cai ou chega a cair. DETALHAR que ele está em fuga e alarmado.

CAM/ ALEXANDRE que atravessa a rua correndo e sobe na moto, olhando

nervosamente para o prédio de onde saíra.

CAM/ nele que sai desabalado em meio ao tráfego.

CORTA

CENA 4 - ESCRITÓRIO ANTERIOR - INTERNA - TARDE

CAM/ sobre a figura de um homem (40 anos) caido ao chão junto ao cofre que está

aberto (TOMADA DO ALTO).

CAM/ em dois homens (extras que falam) preocupadíssimos curvados sobre o

TESOUREIRO caído que tem os olhos fechados. Um terceiro homem ( extra) entra na

sala rapidamente. O mais velho dos que estão socorrendo olha o que entra e diz com voz

firme:

HOMEM 1 Depressa ... chama uma ambulância!


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O EXTRA que entrara confirma e sai rapidamente.

HOMEM 2 (mais jovem, ao lado do tesoureiro caído) Olha ... ele tá

abrindo os olhos!

CAM/ no TESOUREIRO abrindo lentamente os olhos, Tensão no ar.

HOMEM 1 Foi um assalto ?

CAM/ no TESOUREIRO que com esforço nega lentamente.

CAM/ no HOMEM 1 que volta-se assustado para o HOMEM 2 (jovem).

HOMEM 2 (tenso) É alguém daqui!

CAM/ no TESOUREIRO que confirma com esforço. Muita tensão.

CORTA

CENA 5 - SÃO PAULO - RUAS DA CIDADE - EXTERNA - TARDE

CAM/ em ALEXANDRE de moto, fugindo e olhando para trás de vez em quando. Alguns
cortes mostrando a fuga dele.EXPLORAR CENA.

CORTA

CENA 6 - RUA - FRENTE PREDIO RESIDENCIAL (MÉDIA-ALTA) EXTERNA - TARDE

CAM/ em ALEXANDRE estacionando afobado diante do prédio, salta da moto, fala com

o porteiro e entra correndo. (Não há diálogo).

CORTA

CENA 7 - CORREDOR DO ELEVADOR - INTERNA - TARDE


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CAM/ ALEXANDRE entrando no elevador e descontrolado passa a mão pelos cabelos ...

ATENÇÃO: Ele não deve aparentar medo; é determinado e rebelde.

CAM/ nele que sai do elevador com passos firmes e decididos.

CORTA

CENA 8 - SÃO PAULO - ESCRITÓRIO - SEQUÊNCIA (só aparece neste capítulo)

CAM/ em geral panorâmica no grupo ao redor do TESOUREIRO dando chicote no

homem caído no chão. Close. CAM\ sai dele em chicote e focaliza um rapaz muito

nervoso.

SOM: SIRENE TOCANDO AO LONGE

HOMEM 2 (jovem, se abaixando) Graças a Deus ... ambulância chegô!

HOMEM 1 (firme) Ninguém toca nele ! (T) Está morto !

CLOSE no rosto do TESOUREIRO pálido, os olhos fechados.

CORTA

CENA 9 - RIO - SALA DO APTO. DE RAUL - INTERNA - TARDE


SOM CAMPAINHA INSISTENTE

CAM/ em ANDREZZA (esposa de Raul, irmão de Alexandre) atravessando a sala, ar

aflito diante do som intermitente da campainha.

NOTA: É um apartamento amplo, de classe média alta, bem mobiliado, mas sem

ostentação. Bom gosto e simplicidade.

ANDREZZA (abrindo a porta) Alexandre ... que pressa, hein ...

ALEXANDRE (nervoso) Meu irmão tá aí?

ANDREZZA (confirma surpresa) Tá no quarto ...


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CAM/ em ALEXANDRE que sai para o interior rapidamente e em ANDREZZA que

acompanha a saída do rapaz com ar preocupado ...

CAM/ em GUIOMAR que surge do interior por outra porta com expressão assustada.

GUIOMAR Quem era ...

ANDREZZA O Alexandre ... Queria falar com o Raul ...

GUIOMAR Nossa ... e precisava arrebentar a campainha ! (T) Vai ver ...

correu pro banheiro ...

CAM/ em ANDREZZA tensa, ignora a brincadeira da mãe e movimenta-se na direção por

onde ALEXANDRE entrara.

ANDREZZA (T) É coisa mais séria, mãe... Ele tava com uma cara tão

esquisita ...

GUIOMAR (T) Esse rapaz não tem um pingo de juízo ! (suspira) Coisa

boa ele não aprontou ...

CAM/ no olhar preocupado entre as duas.

CORTA

CENA 1O - QUARTO DE RAUL (DE CASAL) INTERNA - TARDE

SOM: SEM MUSICA

CAM/ em RAUL diante de ALEXANDRE. É o irmão mais velho do rapaz. RAUL está

atônito; a porta do quarto está aberta.

RAUL Mas fugir ... só por causa de uma briga !

CAM/ ALEXANDRE fecha nervosamente a porta do quarto. Encara RAUL.

ALEXANDRE Tou dizendo que feri o cara, meu! Tenho que

puxar o carro!

RAUL (zonzo) Feriu ... com o quê?


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ALEXANDRE Agora eu não tenho tempo pra falar ... (T) Nessas alturas... a

policia tá atrás de mim!

CAM/ em RAUL que se movimenta, nervoso ...

RAUL Alexandre ... escuta aqui ...

ALEXANDRE (corta brusco) Raul! Eu tou precisando de grana ... me

descola o dinheiro ... e eu me mando por uns tempos ... até a

coisa esfriar ...

RAULFugir não resolve ... (T) Que tipo de ferimento foi ...

ALEXANDRE(se movimenta) O cara escamou ... foi sem querer!

RAUL(insiste) Sem querer COMO!

ALEXANDRE(exasperado) Não me enche, pô!

RAUL(severo, agarra-o) Prá te ajudar ... eu QUERO saber TUDO! (T) Voce

disse que discutiu com o tesoureiro da firma, certo?

CAM/ ALEXANDRE que movimenta-se confirmando. Ele não quer contar a verdade para

o irmão. RAUL o rodeia, atento. Conhece as debilidades de ALEXANDRE, suas

fraquezas.

RAUL(acusa, lento) Ele te flagrou roubando ... voce reagiu...

CAM/ ALEXANDRE não responde. CORTES. RAUL começa a intuir a verdade e o


segura forte, apertando-lhe o braço.

(sibila, furioso) Voce vai me contar A

VERDADE ... Pode começar!

ALEXANDRE(nervoso, alto) Me solta! Se não quer ajudar ... fala logo!

CAM/ no movimento de ALEXANDRE que revela o revólver escondido na sua cintura e o

olhar horrorizado de RAUL. CLOSE no movimento rápido de RALU que arranca a arma

da cintura do irmão.

CAM/ recua, mostrando os irmãos se enfrentando ... RAUL segura o revólver na mão,

perplexo ... ALEXANDRE olha-o, possesso.


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CAM/ A um movimento surge o revolver. DETALHAR o revolver na cintura de

ALEXANDRE. CAM/ no olhar de RAUL que está olhando o revolver. CAM/ no revolver.

CAM/ CLOSE da mão de RAUL que pega o revolver rapidamente. CAM/ recua, mostra

os dois irmãos.

CORTA-

CENA 11 -

RUA - FRENTE DO EDIFICIO - EXTERNA - TARDE

CAM/ na ambulância enfermeiros recolhendo o ferido ... o corpo coberto por um lençol.

MOSTRAR o carro de policia e os policiais que acompanham a saída da ambulância.

CORTA

CENA 12 -

CENTRO DO RIO - FORUM - EXTERNA - TARDE

CAM/ em TEO descendo as escadas com uma MULHER JOVEM (ele é advogado e ela

é sua colega).

CAM/ em DINÁ que o espreita à distância, com expressão ciumenta. CAM/ nela que se

aproxima decidida e o segura pelo braço.


DINA(sorriso forçado) Olha só quem eu encontrei ... o meu maridão!

TÉO(sem graça, surpreso) Oi Diná! (apresenta) Esta é minha colega ... dra.

Marina ... Minha mulher ... Diná!

CAM/ Elas se cumprimentam ...

DINAQue coincidência ... precisei vir aqui no centro ...

TEOSe eu pudesse te levava de volta pra locadora... mas tenho uma

audiência agora ...

MARINA(extra que fala, estende a mão) E eu estou atrasada ... Foi um

prazer.
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CAM/ MARINA que se volta e sai. DINÁ acompanha-a com olhar ciumento.

DINÁ (sibilando) Perua senvergonha!

TÉO (baixo) Voce tá doida! A Marina é uma

mulher séria ...

DINÁ (irônica) Muuuuito ... (rancor) Tava dando

em cima de voce ... que eu vi!

TÉO (paciente) Ela é mulher de um colega ...

DINÁ E daí ... Fica até mais fácil ... (vira-se de dedo

em riste) Eu vi muito bem ... ela tava

jogando aquele charme .prá cima de voce ...

(irritada) E o dr. Téo bem que tava

gostando ...

CAM/ em TÉO que abaixa a mão da mulher, com gesto brusco.

TÉO Pára com isso ... chega!

CAM/ em TÉO que se volta e sai andando apressado.

CAM/ em DINÁ, aflita, em voz alta.

DINÁ Ei ... esperaaaa !

TÉO (sem se voltar, irritado) Eu não posso


demorar !

CAM/ em DINÁ que sai correndo e pega-o pelo braço, humilde ...

DINÁ Não briga comigo, amor ...

TÉO(irritado) Não dá mais prá aguentar teu ciúme, Diná! Eu

tou ficando cansado!

DINÁ (acariciando-o) Tá legal, paixão ... Me perdoa

... Eu juro que não faço mais ... (T) É que

eu ti amo muito, Téo ... se aproxima, insinuante)

Eu te adoro ...
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CAM/ em DINÁ que o enlaça e beija-o apaixonadamente, em meio às pessoas que

passam e olham curiosas ...

CORTA

CENA 13

S.P. - QUARTO DE RAUL - INTERNA - TARDE

CAM/ em RAUL ainda com o revólver e em ALEXANDRE, aparentando exaustão ...

SOM:SEM MUSICA

ALEXANDRETá legal ... Eu vou te contar como aconteceu.(T) Tá sabendo ...

tô de dívida até o pescoço ... Pensei que se eu pudesse

descolar uns dólares ... (volta-se rápido) Mas eu ia devolver o

dinheiro!

RAUL(seco) Acredito ...

CAM/ ALEXANDRE respira fundo. Ele sabe que se não falar, o irmão não o ajudará ...

ALEXANDRE(nervoso) Ninguem ia descobrir ... e com o tempo ... eu repunha

os dólares, tá entendendo ...

CAM/ em ALEXANDRE e a expressão de censura em RAUL.

O tesoureiro tinha saido ... e eu fiquei sozinho ...


RAUL De repente ... ele voltou, não foi?

ALEXANDREFoi! Mas eu atirei sem querer ... nem sei como ele tá ... Só sei ...

que preciso dá o fora ... sumir do mapa!

CAM/ no rosto tenso de RAUL ... ALEXANDRE finge submissão.

ALEXANDRE(ansioso) Olha, cara ... eu tenho que me mandar ... a minha

mina tá me esperando ... Ela nem desconfia do que tá

acontecendo ... é uma garota legal pra caramba!

CORTA
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CENA 14

PRAÇA DA CIDADE - EXTERNA - TARDINHA

CAM/ em LISA esperando ALEXANDRE que está atrasado. Ela anda de um lado para o

outro, charmosa, simples ... Olha o relógio.

ALEXANDRE (a voz de Alexandre em OFF) Eu vou propor pra ela ... a gente

vai prá um lugar bem longe ... e junta os trapos por lá ...

RAUL (ironia, a voz em OFF) Com voce fugindo

da polícia ...

A voz de ALEXANDRE continua em OFF, ignorando a interrupção.

A gente se vira ... Ela

trabalha

desde criança ... não tem medo da dureza ...

CAM/ em LISA esperando aflita que ALEXANDRE chegue.

CORTA

CENA 15

QUARTO DE RAUL - INTERNA - TARDE - SEQUÊNCIA

CAM/ em RAUL e ALEXANDRE, ambos se movimentam.


ALEXANDRECom a .... do meu lado ... eu juro que vou criar juizo, Raul!

CAM/ em RAUL cético. ALEXANDRE continua, agitado.

ALEXANDREEsta foi a última vez ... Nunca mais vou incomodar ninguem da

família!

RAUL(frio) A mesma ladaínha de sempre ...

ALEXANDREDesta vez é pra valer, pô!

RAULVoce esqueceu que feriu um homem ... (rápido) Pode ser que tenha até

matado ...

ALEXANDRE(rápido) Eu não matei ninguem!


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RAUL(sombrio) Quem pode garantir?

ALEXANDREQualé, Raul ... parece que tá torcendo prá eu me ferrar! (T) Tu é

meu irmão, cara ... tem que me dar uma fôrça!

RAUL(frio) Acho que ... desta vez você foi longe demais. NÃO!

ALEXANDRE(o segura) Eu prometo ... Assim que a coisa acalmar ... volto e

me apresento na polícia! JURO!

CLOSES. RAUL incredulo. ALEXANDRE o agarra, angustiado.

ALEXANDRENão posso mais perder tempo! Me dá a grana!

RAUL(o encara seco) NÃO!

CLOSES e TOMADAS fortes.

CORTA

COMERCIAL-

CENA 16 -

QUARTO DE DINÁ - INTERNA - TARDINHA

CAM/ no Quarto alinhado e de BOM GOSTO, sóbrio e elegante. DINÁ surge do banheiro,

vestida com um elegante roupão, escovando os cabelos molhados , charmosa. Diná e a

mãe são muito unidas, há muita afinidade , carinho e intimidade entre elas.)
CAM/ em D. Sinhá (sua mãe) entrando no quarto.

SOMSEM MUSICA

SINHÁQuer dizer que hoje voce armou outro ba-fá-fá com o Téo ...

DINÁ(sacudindo os cabelos molhados) E queria que eu fizesse o quê, mãe !

(T) Trocasse três beijinhos com a piranha ...

D.MAROCAEra uma colega de trabalho ... Vai acabar perdendo teu marido

por causa dessa ciumeira ...

CAM/ em DINÁ que se movimenta, bem humorada.

DINAJá passou ... A gente vai até jantar fora ...


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D.MAROCAAh ... Por isso que veio mais cedo ...

DINAA Carmem é ótima ... me substitue direitinho ...

D.MAROCA(marota) Até que enfim arrumou uma ajudante do seu agrado ...

Custou heim, DINÁ !

DINAUma recepcionista tem que ser educada ... simpática ...

D.MAROCA(gozadora) E feia ! (T) Prá trabalhar com voce, minha filha ...

Bonita não serve.

DINÁ olha a mãe, amuada ...

DINATambém não exagera ... (T) Tudo bem que eu sou exigente, mas ...

MAROCAAquela Katia, coitada ... tão boazinha ... voce despediu ... à toa ...

DINA(vem nervosa) Como ... à toa ! Quando ela via o meu marido ... ficava

toda derretida !

MAROCAE a Nancy ... porque voce pôs na rua ...

DINÁ se movimenta, indignada.

DINÁSerá possível, mãe ! (T) O Teo botava os pés na sala ...

ela corria pra servir um cafézinho!

MAROCAQuer saber de uma coisa, Diná (pausa) voce tem ciúme até da tua

sombra ... isso, sim !


CAM/ em DINÁ que, terna empurra a mãe para a porta.

DINÁ Tudo bem ... lingua de trapo! (T) Eu só não

brigo com voce ... porque hoje eu tou de bem

com a vida! (sorri, enlevada) Vou sair pra

jantar ... com meu ma-ra-vi-lho-so maridinho

... a minha noite vai ser de- li-ci-o-sa ...

D. SINHÁ (saindo) Tomara que ele não

encontre nenhuma conhecida ... (T) Senão ... o

tempo fecha !
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CAM/ em DINÁ que continua rindo e empurrando-a de leve.

DINÁ Essa, não ... Ter que aturar desafôro de

velha implicante ... não dá ...

CAM/ em D. SINHÁ, que mais que depressa tira o aparelho auditivo, deixando claro que

não quer mais escutar ...

MAROCAPode falá ... eu não tô escutando nada ...

DINÁ (rindo e falando mais alto ) tá

ficando muito espertinha pro meu gôsto!

CAM/ em DINÁ caindo na risada e dá um tapinha no bumbum da mãe, enquanto a

despenteia com ternura e alegria. Ambas riem. Enfatizar a intimidade que reina entre

mãe e filha.

CORTA

CENA 17

QUARTO DE RAUL - INTERNA - TARDINHA

SOMSEM MUSICA

CAM/ tomadas de RAUL e ALEXANDRE. RAUL firme e determinado.

ALEXANDRE(seco) Eu ... me entregar! Tá maluco !


RAUL(baixo, firme) ALEXANDRE ... Nós vamos sair daqui diréto pra polícia.

(T) Voce vai contar EXATAMENTE como tudo aconteceu!

ALEXANDRE (se movimenta) Nem morto ...

RAUL Eu sabia ... cansei de te avisar! Largou a

faculdade ... não pára em emprego nenhum

... deve dinheiro prá todo mundo ...

ALEXANDRE(seco e agressivo) Nada de sermão! (T) Qué saber ... já encheu,

tá! Não vai por bem ... eu pego a grana na marra!

CAM/ em ALEXANDRE vai até o paletó de RAUL que está sobre a cadeira, tira a carteira
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do irmão (DETALHAR), rapidamente e começa a pegar todo o dinheiro. RAUL vem

irritado.

RAULLarga isso!

ALEXANDRE(olha as notas com desdem) Tanto papo ... por essa mixaría ...

(cínico) Deixa de ser muquirana, Raul! Me descola umas

verdinhas ...

CAM/ em RAUL que tenta se controlar.

RAULALEXANDRE ... eu telefono pro Téo ... a gente vai prá Polícia ... afinal,

foi um acidente ...

CAM/ ALEXANDRE o empurra.

ALEXANDRETá esquecendo que eu não sou primário ... (T) Pego uma cana

preta! NÃO VOU!

RAUL(ansioso) Fugir vai ser muito pior! Pensa bem ... (segura-o) (T) E se o

cara tiver morto?!

ALEXANDRE(irritado) Azar dele!

RAUL(brusco) Não, senhor ... azar teu! (T) Vai tá encrencado pro resto da

vida!

CAM/ RAUL vai rápido para a porta, tenta sair e trancar ALEXANDRE que o alcança
rápido; RAUL empurrado-o para dentro do quarto.

RAUL(fúria) Daqui você não sai!

CAM/ em ALEXANDRE que dá um safanão violento em RAUL jogando-o no chão. RAUL

cai e ALEXANDRE sai correndo do quarto.

CORTA

CENA 18

PRAÇA - EXTERNA - TARDINHA

CAM/ em ALEXANDRE que chega, desce da moto e vem para LISA que corre ao
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encontro dele, feliz. Ele a abraça, beijam-se e ele corresponde ao beijo distraído,

nervoso.

LISAQue demora, Alê ! Pensei que nem viesse mais ...

ALEXANDRE(ânsia) Lisa ... aconteceu uma coisa ... eu tenho que viajar

urgente ! (T) Voce vem comigo?

LISA(pasma) Hoje ...

ALEXANDREAgora!

CAM/ LISA atônita. ALEXANDRE abraça-a forte.

ALEXANDRENão dá prá te explicar ... mas a gente se amarra assim que

chegar lá !

LISA (apreensiva) Lá ... onde ...

ALEXANDRE Não interessa ... o que

importa é que eu não vivo sem voce ! (T) Como eu

não sei quando volto ... (beija-a no rosto)

Vou te levar comigo!

LISAMas ...

ALEXANDRE(tapa-lhe a boca com um beijo) Depois ... agora eu não tenho

tempo prá conversar ... vou ter que cuidar de uns problemas
práticos! (T) Enquanto eu falo com o meu cunhado ... voce vai

pra casa, junta a tua roupa e se toca pro aeroporto. (T) Fica

lá me esperando ... (tenta sorrir, num esgar nervoso) bem

comportadinha ...

LISA(nervosa) ALEXANDRE ... se o meu pai não estiver em casa ... tenho que

esperar ... Eu não posso viajar ... assim ...

ALEXANDRE(nega) Ei, garota ... Qual é o grilo ? (T) É só deixar um bilhete ...

explicando ... (T) chegando lá ... manda o enderêço. (abraça-

a) Lisa, eu NÃO vou SEM voce !


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LISA(nervosa) Não vai ... mas ... ir prá ONDE! O que aconteceu!

ALEXANDRE(mil beijinhos) Só te peço uma coisa ... CONFIA em mim! (T)

Então ... a gente se vê em Cumbica ... (T) Tá limpo ?

CLOSES entre eles. LISA ansiosa, aflita. ALEXANDRE controlado passa a mão no rosto

dela, carinhoso e cheio de amor.

ALEXANDRE(baixo pede) Garota ... eu ti amo, sabia ... e vou ti fazer MUITO

feliz! (T) Posso contar com você ? (T) Eu preciso muito do teu

amor, Lisa ...

CAM/ em LISA que confirma, após rápida hesitação. Eles se abraçam e se beijam num

misto de desespero, esperança e amor ...

CORTA

CENA 19

QUARTO DE DINA - INTERNA - TARDINHA

CAM/ em GERAL mostra DINÁ elegante, pronta para sair, dando os ultimos retoques no

espelho.

SOMBATIDINHAS NA PORTA

DINAEntra!
CAM/ na criada que entra.

GLORIA(baixo) Dona Diná ... tem um homem querendo falar com a senhora!

DINAPede pra mamãe atender. Tou ocupada ...

CAM/ em GLORIA vacilante, assustada.

DINAQue foi, Glória (pausa) É alguém ... que eu conheço?

GLORIA(vacila) Ele diz que é da polícia ...

DINA(supresa, intrigada) Polícia?! (rápida) Espera!

DINA(meia voz vindo) A mamãe viu o homem chegar ...

GLORIA(nega) A dona Sinha tá no quintal ... cuidando das rosas.


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DINA(ansiosa) Vai lá ... inventa alguma coisa ... e não deixa ela perceber nada

...

CAM/ GLORIA obedece e sai.

CAM/ em DINÁ saindo do quarto, expressão preocupada.

CORTA

CENA 20

SALA DA CASA DE DINÁ - INTERNA - NOITINHA

CAM/ em DINÁ entrando (Geral). CAM/ no Delegado parado no meio da sala.

DINABoa tarde ...

DELEGADOBoa tarde ... A sra. é parente do Alexandre Veloso?

DINA (atenta) Eu sou irmã dele ... (T) Algum problema ?

DELEGADO(confirma) Eu quero falar com o seu irmão ... é possível ?

DINA(ansiosa nega) Ele não mora aqui!

DELEGADO(confirma) Eu sei ... mas gostaria de saber se ele está.

DINA(nega, preocupada) Não ... Faz dias que nem aparece. (T) Aconteceu ...

alguma coisa ?

DELEGADOO Alexandre Veloso é suspeito de tentativa de roubo ... e


assassinato!

CLOSE em DINÁ estupefata. Ela olha para os lados receiosa que a mãe entre. O

Delegado estende-lhe um papel (mandado de busca).

DELEGADO(frio) A sra. vai nos dar licença, mas ... vamos ter que revistar a

casa!

DINAEle não está ... eu já disse! (ansia) Meu sr. ... a minha mãe ... (respira)

ela mora comigo ... eu não quero que ela saiba! (T) Por

favor ...

DELEGADO Sinto muito ... mas temos que cumprir com o nosso dever.
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CAM/ DELEGADO faz um sinal para fora e na porta surgem dois homens que entram

também. Vão para o interior. DINA visivelmente preocupada, corre para o telefone e

disca.

DINA(pausa razoavel) Alô? (meia voz) Téo ? Sou eu ... Amor ... aconteceu

uma coisa horrivel!

CORTA

CENTA 21

ESCRITORIO DE TEO - INTERNA - TARDINHA

CAM/ em TEO ao telefone. É advogado, trabalha numa sala bem montada. DETALHAR

uma foto de DINÁ e uma bela menina (5 a 8 anos) sobre a sua mesa. TEO ouve atento

ao que a esposa lhe diz.

TEO (baixo) Roubo e assassinato! Mas que loucura ...(pausa)

Heim? (pausa) Não ... aqui ele não apareceu ...

CORTA para DINA.

DINAEu vou tentar tirar a mamãe de casa. Ela não pode saber disso ... de jeito

nenhum! (T) Olha ... depois em vou pr' ai ...

CAM/ em DINÁ pousando o fone com expressão preocupada.


CORTA

CENTA 22

ESCRITORIO DE TEO - INTERNA - TARDINHA

SOMSEM MUSICA

CAM/ dá GERAL, mostra o escritorio de TEO, que muito nervoso, vai até a janela, espia

e volta, preocupado. PAUSA. TEO de costas.

SOMRUIDO DE PORTA QUE SE FECHA

TEO volta-se e ALEXANDRE está ali, nervoso parado na porta.


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TEO(frio) O que voce quer ...

ALEXANDRETEO ... (tenso) Eu tô precisando de dinheiro!

CAM/ TEO abre a carteira e mostra o pouco dinheiro a ALEXANDRE, só algumas notas

(DETALHAR).

ALEXANDRE(tenso e agressivo) Eu não tou falando dessa porcaria! Eu

preciso de dólares ... pelo menos 20 mil dólares!

TEO(se movimenta) Só pode tá louco ... Eu não tenho essa quantia comigo ...

ALEXANDRE(seco e apressado) Não me enrola, Teo ! É urgente ... Eu preciso

fugir! Me meti numa bruta enrascada ... Procurei o Raul, ele

não quiz me ajudar.

TEO(frio e controlado) O negócio é o seguinte, Alexandre ... a polícia tá atrás

de voce. Tua irmã acabou de me telefonar ... o delegado deu

uma busca lá em casa ... revirou tudo ! Sua prisão é uma

questão de horas.

CAM/ ALEXANDRE movimenta-se, nervoso.

ALEXANDREQuer dizer que tá todo mundo sabendo ...

TEO(confirma grave) Tá ...

ALEXANDRE(nervoso) Eu tou me mandando ... vou desaparecer por uns


tempos ... ninguem vai botar a mão em mim!

TEO(corta) Pára de delirar ... a polícia não vai te dar sossêgo ... Eles te acham

nem que seja no inferno!

ALEXANDRE(revolta) Desgraçado ... até parece que voce tá gostando de me

ver nesse sufôco!

CAM/ TEO aproxima-se, lento.

TEOO tesoureiro morreu ... Voce MATOU um homem, Alexandre !

ALEXANDRE(nega) Eu só feri ...

TEO MATOU ... e vai ter que responder por isso !


"VIAGEM" - 20 -

ALEXANDREVê o dinheiro que eu te pedi ... depressa! (suplicando) Teo ...

pelo amor de Deus! (segura Teo) Voce lida com muito dolar ...

que eu sei ... me arranja 20 mil ...

CAM/ TEO o olha friamente.

TEOEu não tenho !

ALEXANDRE(desesperado) Tá legal ... Então dez ... (T) Menos que isso não

dá ... 10 mil, TEO ... só 10 ! (alto gritando)

CAM/ em TEO que se mantém frio e impassível.

TEO Voce tá me pedindo, Alexandre ... prá dar

cobertura a um assassino. (T) Se isso for

descoberto ... eu perco a licença

profissional ...

ALEXANDRE já inteiramente descontrolado se aproxima, suplicante.

ALEXANDRE Ninguem NUNCA vai descobrir ... eu

te dou a minha palavra de honra, Teo!

TEO (frio) Cara ... voce sempre levou

a Diná no bico ... a mim, não! (T) Olha ... eu


marquei uma reunião no fim do expediente no

escritório de um colega ... aqui mesmo no

prédio. Já tou em cima da hora. Me espera ... e a

gente vê o que faz ...

CAM/ em ALEXANDRE que o agarra, agressivo, desesperado.

ALEXANDRE Eu já perdi muito tempo! Se pensa

que vai me armar alguma mutreta ...

TEO(o afasta, controlado) Deixa de ser bobo, cara ... Esse

prédio tá cheio de segurança ... Se eu estalar UM dedo ...


"VIAGEM" - 21 -

voce não sai daqui. (T) Entre outras coisas ... vou tentar

resolver o teu problema.

CAM/ em TEO que o olha, se volta e sai. ALEXANDRE olha-o se afastar, sem ação. Da

porta, TEO pára e se volta.

TEO Eu só vou fazer isso ... pela Diná. Tua

irmã tá sofrendo muito ...

CAM/ em ALEXANDRE que dá um sorriso amargo. TEO sai e apenas encosta a porta.

CORTA

CENA 23

SALA DE RAUL - INTERNA - TARDINHA

CAM/ em RAUL vestindo o paletó apressado, ANDREZZA e GUIOMAR por perto.

ANDREZZAMeu bem ... deixa eu ir com voce ...

RAUL(nega) É melhor ficar fora disso, bem. Eu não demoro ...

GUIOMARRAUL ... o que vai acontecer com o teu irmão ...

RAUL(tenso) Ele tem que se entregar ...

GUIOMAR(geme) Que loucura, meu Deus!

RAUL Tenho certeza que ele vai atrás do TEO ... Eu vou até o
escritório dele ...

RAUL vai saindo, rapido, preocupado, nervoso.

ANDREZZAQualquer coisa ... me liga!

SOMTELEFONE TOCA EM CIMA

CAM/ RAUL vai saindo e ANDREZZA atende.

ANDREZZAAlô? (pausa) É ela. (pausa) TEO! (pausa) Tá, sim. Espera um

pouco ...

CAM/ RAUL que vem e pega o fone.

RAUL(grave, preocupado) Alô, TEO ... Eu tava indo pr'ai. (pausa) Hein?
"VIAGEM" - 22 -

(pausa) No teu escritório! (nervoso) Escuta! Voce tem que ...

(pausa ouve) Sim ... Eu sei ... Faz o seguinte: segura ele

aí até eu chegar! (pausa)

CAM/ nas duas mulheres atentas. RAUL ouvindo, atento.

RAULMuito bem! Chego em 15 minutos! Tchau! (desliga).

(Para as duas) O ALEXANDRE tá lá ... quer dinheiro pra fugir. O Téo inventou

uma reunião e ele acreditou. (procura na lista telefonica).

ANDREZZAO que voce tá pensando em fazer, Raul ...

CAM/ em RAUL que levanta os olhos da lista e a encara, sério.

RAULAvisar a polícia.

CORTA

COMERCIAL-

CENA 24

ESCRITORIO DE TEO - INTERNA - TARDINHA

CAM/ Escritorio vazio, a porta aberta e DINA entra preocupada, nervosa, movimenta-se

procurando.

DINATeo? ... Teo ... Voce tá aí?

CAM/ em DINÁ que afasta-se para outra porta. CAM/ em ALEXANDRE que surge por
trás e a segura pelo braço. DINÁ volta-se assustada. Dá um pequeno grito.

DINAAiiii! (volta-se) ALEXANDRE! ... que susto ...

CAM/ em ALEXANDRE.

DINÁMeu irmão ... O que é que voce aprontou, meu Deus ...

ALEXANDRETeu marido me disse que a polícia já teve lá atrás de mim ...

DINA(confirma desespêro) (T) ô, meu Deus ... ALEXANDRE, como que isso

foi acontecer !

CAM/ ALEXANDRE movimenta-se.

ALEXANDRE(tenso) Eu não tive culpa ! Mas fica fria ... Vou sumir de vista ! (T)
"VIAGEM" - 23 -

O Teo foi descolar uma grana prá mim ... Eu tomo um avião

pro Norte ... pro sul ... qualquer lugar serve ...

DINA(chorando) Voce matou um homem, Alexandre ! (T) Era seu colega ...

não era?

ALEXANDRE(nervoso) Foi sem querer ... Foi tudo muito rápido ...

CAM/ em TEO que entra e vê os dois.

DINA(chora, nervossíssima) Teo ... que coisa horrivel ...

ALEXANDRE(ansioso) Como é ... descolou a grana!

CAM/ em TEO que confirma levemente, vem e abraça DINÁ.

TEOVoce tá muito nervosa ... Vai pra casa ... eu não demoro ...

DINA olha-o e se vira para o irmão, vacilante.

TEO(carinhoso) DINÁ ... faz o que eu tou te pedindo. Vai pra casa ...

DINA vacila, despede-se do irmão abraça-o e beija-o carinhosa, com

desespêro.

DINAVai com Deus, Alexandre ... Manda notícias ...

ALEXANDRE(confirma)

DINAEu vou ficar rezando muito por voce ... (suspira) Não sei nem o que

pensar ...
ALEXANDRE(abraça-a) Logo a coisa esfria ... Vai dar tudo certo.

DINA(ansiosa) E a mamãe, Alexandre ... O que é que eu vou falar pra ela ...

ALEXANDREDiz que eu precisei viajar ... inventa qualquer coisa ...

DINA(ansiosa) O Teo vai te arranjar um ótimo advogado criminalista ... (T) Aí

voce volta ... e se apresenta ...

ALEXANDRE(ironico) Tá O.K ... (beija-a)

DINA(abraça-o novamente) Não esquece de mandar o enderêço ... (beija-o

algumas vezes) Se precisar de alguma coisa ... escreve ...

ALEXANDRE abraça a irmã e a afasta. Ela sai rapidamente.


"VIAGEM" - 24 -

TEO(acusador) Ela adora você!

ALEXANDRE(frio) Bom ... agora vamos falar de negócios ...

TEO vai para o telefone. Ele tem que tomar o tempo de ALEXANDRE.

TEOMeu amigo vai me arranjar o dinheiro ... Ele não demora. (T) Enquanto

isso tenho que dar uns telefonemas ... coisa rápida ...

CAM/ em TÉO que pega uma agenda, olha um número e começa a discar.

ALEXANDRE(nervoso) Quanto tempo ainda vai demorar ! Eu tava crente que

voce ia aparecer com a grana ! (se movimenta, irritado) Ela já

deve tá me esperando no aeroporto ...

CAM/ em Teo que o olha curioso.

TEO Ela quem ? (T) Quem tá te esperando ...

ALEXANDRE se movimenta, impaciente e o encara.

ALEXANDRE(T) A minha garota ... ela tá comigo ... pro que dér ... e viér!

CORTA

CENA 25

QUARTO DE LISA - INTERNA - TARDINHA

CAM/ em Tomadas de LISA que enfia algumas roupas na mala, vestidos, sapatos, blusas
etc., nervosamente. Decidiu que vai acompanhar ALEXANDRE; quer se casar com ele.

Vai fechar a mala, lembra-se de outra coisa e coloca o objeto na mala. O quartinho é

pobre. Ela mora em sobradinho modesto, com dois quartos e uma pequena malinha.

CORTA

CENA 26

JARDIM DA CASA DE DINA - EXTERNA - TARDINHA

CAM/ D. MAROCA recolhendo as podas e galhos da roseira. CAM/ numa menina só de

calcinhas fazendo bolinhos de barro ... É PATTY, filhinha de Diná e Téo. CAM/ em

ESTELA (a irmã de Diná) que entra e vem beijá-la carinhosa ...


"VIAGEM" - 25 -

ESTELA Meu Deus ... que sujeira! (T)

Tá parecendo uma porquinha!

CAM\ em PATTY que distribui bolinhos de barro para as duas.

PATTY Quem qué brigadeiro ... tá

quentinho ... Acabei de fazer

MAROCA (pegando um) Ummmm ... Tá

gostoso ... mas precisa caprichar mais ... Brigadeiro

tem que ser bem pequenininho!

CAM/ em GLORIA (a empregada) que surge.

GLORIA Patty ... vamos tomar banho!

(T) Sua mãe já tá chegando ...

PATTY Eu só tomo banho ... se eu vestir

o meu vestido novo ...

ESTELA Vai, Patinha ... e depois volta

bem bonita prá titia ver

CAM/ em GLORIA que sai com PATTY e as duas olham sorrindo.

ESTELAEla tá cada dia mais bonitinha! E aí, mãe ... tudo bem? A DINÁ tá lá dentro? Eu

trouxe as bijouterias pra ela vender na


locadora ...

D. MAROCAConseguiu boa freguesia, heim filha... todo mundo gosta das coisas que

voce faz ...

ESTELA(sorri) Eu vou ver a Diná ...

D. MAROCASua irmã saiu. (T) Tava com uma pressa ... Nem falou comigo ...

CORTA

CENA 27

SALA DE DINA - INTERNA - TARDE


"VIAGEM" - 26 -

CAM/ ESTELA e D. MAROCA sentam-se. ESTELA com um pacote.

D. MAROCAEla deve ter ido em algum lugar aqui perto ...

quem sabe foi arrumar o cabelo ... Ia sair jantar fora com o Téo. (T) E a Bia ... como vai?

ESTELA(suspira) Cada vez mais teimosa ...

D.MAROCA(sorri itencional) Tem a quem puxar ...

ESTELAMas eu nunca te agredi ... sempre te respeitei ...

D.MAROCA(brinca) Pois, sim ... (T) Quem nunca me deu uma resposta mal criada até

hoje ... foi a DINÁ !

CORTA

CENA 28

ESCRITORIO DE TEO - INTERNA - TARDINHA

SOMSEM MUSICA

CAM/ em TEO desligando o telefone e ALEXANDRE ansioso, os nervos à flor da pele,

olhando frequentemente para a janela, agitado. De repente, ALEXANDRE olha pra fora e

reage nervoso e alarmado.

ALEXANDRE Essa não! O Raul entrou no predio! Ele pensa que eu vim prá cá ...

TEOViu os telefonemas que eu dei? Meu colega foi em casa ... ia tambem procurar um
amigo. (T) A situação tá preta ... não é

qualquer um que dispõe de um dinheiro

desses.

CAM/ ALEXANDRE receioso afasta-se para trás da porta.

ALEXANDREDespista o Raul ! Não fala que eu tou aqui!

TEO(firme) Ele é teu irmão, Alexandre ... só quer te ajudar.

ALEXANDRE(rápido) É nada! Ele tá a fim que eu me entregue ... já te contei! Me

ajuda ... dá um jeito do Raul sair logo ...

Se ele perguntar ... nega que eu estive


"VIAGEM" - 27 -

aqui!

TEO(grave e frio) O seu irmão tem razão, Alexandre!

ALEXANDRE(aspero) Não sou nenhuma besta! Se me entregar, tô perdido! O Raul é um

chato ... um idiota! (rápido) Olha ... dá

um jeito dele se mandar daqui... eu vou

me esconder!

ALEXANDRE corre para o banheiro e abre a porta. CAM/ mostra a pia do banheiro e

Alexandre fechando a porta.

CAM/ em RAUL que entra na sala, rápido.

RAULCadê o meu irmão, Téo ... onde é que ele tá !

CORTA

CENA 29

ESCRITORIO DE TEO - BANHEIRO - INTERNA - TARDINHA

CAM/ em ALEXANDRE atento à conversa.

RAUL(nervoso OFF) O ALEXANDRE precisa se entregar, Téo ! Fugir é pior! Só vai

agravar ainda mais a situação!

(desalento) Esse cara tem minhoca na


cabeça! Fala em fugir como se fosse

fácil. (T) Fugir prá onde? Não chega nem

na esquina ... a polícia põe as mãos

nele! Voce é advogado ... tenho ou não

tenho razão!

TEOClaro! Foi o que eu disse a ele ... mas ele não me ouviu.

CAM/ TEO aponta com a cabeça na direção do banheiro, indicando o lugar que ele se

escondera.

RAUL (OFF, autoritária) ALEXANDRE ... Sai daí!


"VIAGEM" - 28 -

CORTA

CENA 30

BANHEIRO - INTERNA - TARDINHA

CAM/ ALEXANDRE furioso, indignado ouvindo as pancadas na porta.

RAUL(OFF) ALEXANDRE ... SAI DAÍ!

CORTA

CENA 31

RUA EM FRENTE AO PREDIO DE TEO - EXTERNA - TARDINHA

CAM/ A Polícia aguardando a saida de ALEXANDRE.

CORTA

CENA 32

ESCRITORIO DE TEO - INTERNA - TARDE

CAM/ em TEO que está perto de RAUL.

RAUL ALEXANDRE ... eu sei que voce tá aí dentro! Prá fora ... anda!

PAUSA. ALEXANDRE aparece na porta, irritado e olha com indignação

para Teo.
TEO(firme, calmo) Fugir vai ser pior prá voce ...

ALEXANDRE(ódio) Traidor ... desgraçado! (avança contra ele) Eu ... trouxa ... Confiei em

voce! Mas vou acabar com a raça de

voces dois ... palhaços!

RAUL(corta) ALEXANDRE ... A polícia foi avisada.

CAM/ em ALEXANDRE com ódio e revolta.

ALEXANDRESó me diz uma coisa ... Como soube que eu tava aqui?

TEO(firme) Eu liguei pra ele. (T) Não tinha nenhuma reunião marcada ...

ALEXANDRE furioso e TEO tenta se explicar ...


"VIAGEM" - 29 -

TEODar cobertura a um criminoso poderia me custar muito caro! (T) Não seria justo ...

Alexandre ... sujar o meu nome... destruir

a minha carreira... por um crime que

VOCE cometeu! Afinal, eu sou advogado

...

ALEXANDRE(grita) Às custas da minha irmã! Ela que te fez estudar!

TEOIsso não vem ao caso!

RAULMe dá esse revolver ...

ALEXANDRE(apontando a arma) Não sei qual dos dois é o mais sujo ... (ódio) Um dia ...

a gente acerta as contas.

CAM/ ALEXANDRE vê a chave do carro na escrivaninha, pega-a rapidamente e

apontando o revolver sai.

TEOSeria loucura te ajudar a fugir!

ALEXANDRENão enche! (pra TEO) Abre essa porta!

TEO vai na direção da porta e a abre e ALEXANDRE sai, rápido.

CORTA

CENA 33

FRENTE AO PREDIO DE TEO - EXTERNA - TARDINHA


CAM/ ALEXANDRE entrando no carro de TEO, dá partida e sai pela garagem do prédio à

toda. Quando se dão conta da fuga, os carros saem em sua perseguição.EXPLORAR A

CENA.

CORTA

CENA 34

RUA QUALQUER - PERSEGUIÇÃO - EXTERNA - TARDE

CAM/ Carros da polícia perseguindo o Carro de ALEXANDRE. Polícia atira no pneu do

carro de ALEXANDRE e este capota varias vezes até que os carros fazem um circulo no

de Alexandre . Os polociais descem armados, chegam perto e prendem ALEXANDRE


"VIAGEM" - 30 -

tentando sair do carro.

CORTA

CENA 35

DELEGACIA - INTERNA - NOITE

CAM/ em ALEXANDRE sendo empurrado para dentro da Delegacia e levado para uma

cela e jogado dentro de uma . EXPLORAR A CENA.

CORTA

CENA 36

GRANDE E LUXUOSO ESCRITORIO DE ADVOCACIA - INTERNA - DIA

CAM/ Sai do jornal sobre a mesa. Retrato de Alexandre com os dizeres: ASSASSINOU O

TESOUREIRO PARA ROUBAR.

CAM/ mostra RENATO lendo o jornal e a SECRETARIA dele ali. CAM/ em DINA que

entra.

SECRETARIA(OFF) Ele não pode atender ...

DINA(OFF) Eu preciso falar com ele!

SECRETARIA(OFF) Dr. Renato está ocupado ... sinto muito ...

DINA(OFF) (nervosa) A mim ele tem que atender ... É urgente!


CAM/ em DINA que entra no escritorio.

DINA O sr. é o Dr. Renato Jordão.

CAM/ RENATO ergue-se e DINA olha o jornal que ele tem nas mãos...

DINATou vendo que já leu a noticia ... Esse aí é o meu irmão ...

RENATO(surpreso) Alexandre Veloso!

DINAEle não é culpado ... foi um acidente. (T) Me indicaram o seu nome como a única

pessoa capaz de salvar o meu irmão ...

o Alexandre é como uma criança ... Ele

é tão bom ... nunca mataria alguém de


"VIAGEM" - 31 -

propósito ... (chorosa e suplicante) Dr.

Jordão ... Ele está preso ... O sr. tem

filhos?

RENATO Tenho dois ...

DINAEm nome de seus filhos eu lhe peço: defenda o meu irmão ...

CAM/ DINA segura nele, chorosa.

RENATO(pausa, frio e calmo) Se depender de mim ... ele vai apodrecer na cadeia ....

CAM/ Explorar a expressão de DINA.

SOLANGE.:

FIM DO CAPITULO 1 * *

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