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OS CAMPOS
O DAS QUINAS
O DOS CASTELOS
Os Deuses vendem quando dão.
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
Compra-se a glória com desgraça.
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
Ai dos felizes, porque são
E toldam-lhe românticos cabelos
Só o que passa!
Olhos gregos, lembrando.
A Europa jaz, posta nos cotovelos: O mito é o nada que é tudo. Se a alma que sente e faz conhece
O mesmo sol que abre os céus Só porque lembra o que esqueceu,
De Oriente a Ocidente jaz, fitando, É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus, Vivemos, raça, porque houvesse
E toldam-lhe românticos cabelos
Vivo e desnudo. Memória em nós do instinto teu.
Olhos gregos, lembrando.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo. Nação porque reencarnaste,
O cotovelo esquerdo é recuado;
Sem existir nos bastou. Povo porque ressuscitou
O direito é em ângulo disposto. Por não ter vindo foi vindo
Ou tu, ou o de que eras a haste —
Aquele diz Itália onde é pousado; E nos criou.
Assim se Portugal formou.
Este diz Inglaterra onde, afastado, Assim a lenda se escorre
A mão sustenta, em que se apoia o rosto. A entrar na realidade.
Teu ser é como aquela fria
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade Luz que precede a madrugada,
Fita, com olhar esfíngico e fatal, De nada, morre. E é já o ir a haver o dia
O Ocidente, futuro do passado. Na antemanhã, confuso nada.
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo O homem e a hora são um só Que enigma havia em teu seio
O plantador de naus a haver, Quando Deus faz e a história é feita. Que só génios concebia?
E ouve um silêncio múrmuro consigo: O mais é carne, cujo pó Que arcanjo teus sonhos veio
É o rumor dos pinhais que, como um trigo A terra espreita. Velar, maternos, um dia?
De Império, ondulam sem se poder ver.
Mestre, sem o saber, do Templo Volve a nós teu rosto sério,
Arroio, esse cantar, jovem e puro, Que Portugal foi feito ser, Princesa do Santo Gral,
Busca o oceano por achar; Que houveste a glória e deste o exemplo Humano ventre do Império,
E a fala dos pinhais, marulho obscuro, De o defender, Madrinha de Portugal!
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar. Teu nome, eleito em sua fama,
É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.
III. QUINAS
D. DUARTE REI DE PORTUGAL D. FERNANDO INFANTE DE PORTUGAL
D. PEDRO REGENTE DE PORTUGAL
Meu dever fez-me, como Deus ao mundo. Deu-me Deus o seu gládio porque eu faça
Claro em pensar, e claro no sentir,
A sua santa guerra.
A regra de ser Rei almou meu ser, É claro no querer;
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Em dia e letra escrupuloso e fundo. Às horas em que um frio vento passa Indiferente ao que há em conseguir
Por sobre a fria terra.
Que seja só obter;
Firme em minha tristeza, tal vivi. Dúplice dono, sem me dividir,
Pôs-me as mãos sobre os ombros e
Cumpri contra o Destino o meu dever. doirou-me De dever e de ser —
Inutilmente? Não, porque o cumpri. A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome Não me podia a Sorte dar guarida
Dentro em mim a vibrar. Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma. Calmo sob mudos céus,
Cheio de Deus, não temo o que virá, Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Pois, venha o que vier, nunca será
Tudo mais é com Deus!
Maior do que a minha alma.
IV. A COROA
D. JOÃO INFANTE DE PORTUGAL D. SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL NUN’ÁLVARES PEREIRA
Não fui alguém. Minha alma estava Louco, sim, louco, porque quis grandeza Que auréola te cerca?
estreita
Qual a Sorte a não dá. É a espada que, volteando,
Entre tão grandes almas minhas pares,
Não coube em mim minha certeza; Faz que o ar alto perca
Inutilmente eleita,
Por isso onde o areal está Seu azul negro e brando.
Virgemmente parada;
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Mas que espada é que, erguida,
Minha loucura, outros que me a tomem Faz esse halo no céu?
Porque é do português, pai de amplos
mares, Com o que nela ia. É Excalibur, a ungida,
Querer, poder só isto: Sem a loucura que é o homem Que o Rei Artur te deu.