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1 ASPECTOS HISTÓRICOS
Muitos desses reinos formados pelos povos bárbaros dominavam áreas em que a
população romana ainda se fazia presente e conservava determinados aspectos de sua
cultura, mesmo após a queda do Império. Houve, deste modo, um intenso choque entre
etnias, que resultou numa influencia recíproca entre romanos e germânicos, fazendo-se
perceber, igualmente, no Direito.
O modo de vida não pôde, portanto, resistir intacto ao declínio de toda estrutura
que o assegurava e garantia, fazendo com que, desse modo, muito do costume bárbaro
acabasse sendo incorporado à população subjugada. Sendo assim, devido a essa
pluralidade, os germânicos conservaram muitos dos aspectos jurídicos romanos por terem
respeitado, em parte, o Direito original de cada etnia.
Cabe ressaltar, por sua vez, que a Igreja católica, constituindo religião oficial do
extinto império, ganhava cada vez mais força e conquistava um maior número de adeptos
de origem germânica. Detinha o conhecimento intelectual da época e dominava o único
direito medievo aplicado universalmente: o direito canônico.
Desta maneira, é importante ressaltar, ainda, o seguinte aspecto retratado por Luís
Renato Vedovato [3] (2009, p. 161) acerca do tema, que tem suscitado tantas discussões
recentes, embora constitua fenômeno social presente ao longo de toda a história da
humanidade, desde a pré-história (com a formação de comunidades que, impregnadas
pela religião plural, continham inúmeras formas de Direito), passando também pelos
direitos cuneiformes (cujo conjunto de sistemas jurídicos existia em regiões e períodos
dissemelhantes), e sendo contemplado, de maneira mais clara e evidente, durante a Idade
Média, marcado, por exemplo, pelo caráter consuetudinário devido variedade de normas
decorridas de cada uma das esferas de poder.
É importante ressaltar que quando tratamos do povo germânico não estamos nos
referindo a uma unidade cultural e étnica. Na verdade, o que existia eram diversos povos
que, apesar de apresentarem costumes e modos de vida semelhantes, possuíam umas
determinadas peculiaridades. Algumas delas organizavam-se em tribos, outras, já mais
complexas, chegaram a constituir reinos, cada qual governado por um rei próprio,
mantendo tal estrutura desde período antecedente às invasões.
Dito isso, fica claro que, devido a essas diferenças sócio culturais de cada reino
bárbaro, o direito germânico não estava disposto de maneira uniforme. Por ser
predominantemente consuetudinário, variava de acordo com os costumes de cada reino
bárbaro. Desse modo, cabe aqui ressaltar, que não podemos tratar de um direito
germânico único, mas sim dos aspectos gerais que marcavam o ordenamento jurídico
desses povos. Tratando sobre o tema, assevera John Gilissen [4] (2003, p. 162) que “O
direito das etnias germânicas era essencialmente consuetudinário. De fato, não havia um
direito germânico, mas sim uma variedade de costumes, mais ou menos diferentes,
vivendo cada povo segundo seu próprio direito tradicional.”
É possível redimensionar, assim, que ele foi um dos principais responsáveis por
âmbitos, como o do Direito Privado, por exemplo. Isso vai decorrer, em suma, dos
tribunais eclesiásticos que julgavam não somente religiosos, mas passaram também às
infrações contra a religião católica, assim como as feitiçarias e heresias, até os casos de
adultério, contratos, juramentos, testamentos, usuras, disciplinando matrimônios, e casos
familiares, formulando ainda a teoria da personalidade jurídica.
Portanto, torna-se clarividente que, na realidade, não havia nítida distinção entre
o que era sacramento do que era jurisdição religiosa, mostrando-se, então, as leis como
regras comuns e abstratas, mas que deveriam ser dotadas de aspecto vinculante.
Já numa abordagem mais interna, nas palavras de José Fábio Rodrigues Maciel[8]
(2011, p. 111),
“As fontes desse direito estão dispostas nos decretos dos concílios (reuniões de
bispos ou de bispos e nobres), nas constituições ou estatutos aprovados nos sínodos
(assembleias eclesiásticas) regionais, nos decretos e constituições pontifícias. Estas
últimas, no decorrer do processo de concentração do poder no papado, fruto de uma
analogia entre o papa e o imperador, passam a ser mais numerosas e a gozar de maior
importância. Diante da quantidade da produção normativa das autoridades religiosas,
tornou-se imperioso uma organização dos textos canônicos…”
“O direito romano, até por sua complexidade e sua força, não poderia deixar de
ser utilizado na Idade média e, levando-se em consideração a diferença profunda entre o
direito romano e o dos invasores, a superposição do direito desses últimos sobre a
população romana e romanizada seria impossível.”
É óbvio que esse direito não sobreviveria intacto ao declínio da civilização que o
originou. Perdeu muito de sua força, porém foi essencial como influência a determinados
reinos bárbaros, os quais tomaram seus códigos como base para a compilação de seus
costumes, a fim de consolidá-los e torná-los agradáveis aos olhos da população.
Desse modo, aquele povo ainda conviveu com as práticas de seu direito original,
principalmente nas regiões do sul da Gália e nas penínsulas Ibérica e Itálica, as quais
ainda hoje possuem ordenamentos jurídicos de inspiração predominantemente
romanística.
Inclui-se, entre os códigos de leis copilados, muitos textos inspirados nos romanos
clássicos, principalmente as codificações do Império de Teodósio II, que permaneceu
como principal base do conhecimento jurídico da época. Surgem, assim, as coleções como
a Lex Burgundionum, legislação do reino dos Burgúndios, de inspiração romana. E a mais
influente, a Lex Romana Visigothorum, do reino dos visigodos, a qual chegou a ser
reformada e passou por adaptações, sendo considerada a principal compilação do direito
romano vulgar ou bárbaro.
CONCLUSÃO
Torna-se claro, após o exposto, que o período iniciado com a queda do Império
Romano do Ocidente, foi fortemente marcado pela descentralização do poder, desse
modo, não apresentando uma unidade em seu ordenamento jurídico, motivo pelo qual foi
marcante o pluralismo jurídico, que se caracteriza, principalmente, pela coexistência de
aspectos do direito clássico do extinto império, em choque com o direito consuetudinário
bárbaro, e além do direito canônico, o qual ampliava sua influencia devido o aumento do
número de adeptos da religião católica.
Diante desse conflito normativo, durante esse período cada povo era regido por
seu próprio direito de origem, em casos mais complexos, avaliava-se que norma deveria
ser aplicada, desse modo apesar de existirem diferentes ordenamentos jurídicos,
dependendo das peculiaridades de cada caso um se sobressaia.