PORTUGUÊS TEORIA + ORIENTADAS

REVISE &
1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS RESPONDA

1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

Introdução
OS EQUÍVOCOS INICIAIS
Perceber as ideias de um texto aparentemente
é uma tarefa simples: basta ler. Mas, quando um
candidato a vestibular se depara com as questões Equívocos iniciais são os vícios que um indivíduo possui
de percepção das ideias do texto, muitas vezes em relação a fazer questões que exigem a percepção das
surgem dificuldades. E essas dificuldades podem ser ideias do texto.
claramente delineadas quando estudamos da forma
correta. EQUÍVOCO NÚMERO 01:

Neste capítulo, vamos abordar: É comum que as pessoas adotem a prática de ler o texto
várias vezes. A primeira leitura, para se “familiarizar” com ele.
1. os equívocos iniciais; E as outras para compreender o que ali se apresenta.
2. as terminologias “interpretação”, “intelecção”,
“compreensão” e “percepção”;
3. as diferentes tipologias textuais
4. as estratégias mais empregadas em questões de
percepção;
5. os erros mais comuns

Abordagem bastante cobrada em provas de vestibulares,

a percepção das ideias do texto requer do candidato um
olhar sobre o que o outro escreveu ou criou.
https://learnenglishteens.britishcouncil.org/skills/reading

Trata-se de um equívoco por dois motivos.

O primeiro deles é a falta de critérios para a leitura. Sem

critérios, o leitor observa o que quiser, acentua ou destaca
o que quiser. Assim, nem sempre a resposta escolhida será a
correta numa questão. Se cada um olha o que quiser, cada
um acha o que enxergar...

https://cliente.consistem.com.br/project/chaves-registradas/

Muitas vezes, essa habilidade é pouco exercitada e

confundida com outras habilidades. Perceber, interpretar,
analisar... cada uma das formas de abordagem pode levar
a resultados diferentes.

Neste capítulo, serão abordadas as peculiaridades de

cada tipo de abordagem, para que se possa otimizar a
resolução das questões e alcançar o resultado desejado! https://www.thinkwithgoogle.com/intl/en-apac/marketing-strategies/
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O segundo motivo é o tempo. Ler várias vezes vai levar

quanto tempo do tempo total de realização de uma prova?
E que garantia haverá de que essas várias leituras já
esgotaram todas as ideias?

1
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
Melhor que ler várias vezes o texto é ler com eficiência
a primeira frase. E depois a segunda, a terceira...
Paulatinamente, cada uma delas vai tornando claras as
ideias do texto.
Se a primeira frase está sem clareza, não se avança
para a segunda.
www.shutterstock.com
Ah, e um detalhe: você vai perceber que as frases
seguintes necessitarão de um tempo menor de leitura,
por causa da progressão de ideias. Ou seja, ler bem
uma frase ajuda a avançar para as outras.
EQUÍVOCO NÚMERO 02
Há quem se proponha a ler um texto e utilize dois, três
marcadores coloridos para sublinhar as ideias principais.
O equívoco não está na utilização dos marcadores, mas
no excesso de ideias sublinhadas.
Muitas vezes o leitor acaba colorindo todo o texto. Nesse
caso, a intenção de destacar se torna ineficaz, porque um
texto todo colorido não destaca o principal.
Ex.:
Asejcflkjsdnfl,ekurjdflnvjdnl,ekdjfnlekdm-
fcljfnl,s,dnflcekrfmlrdkfnlcekrdkflkcdnflvrtirgjdvnlt.
kdjfgnlckfjdelr.,dkjgnlktdfdgkjvferl.sjt2o3lerijtvnp-
v4wile5irjtnvpoleirjtnfo3wilerjhtno3lerjtno3we5khtrg-
vnf4olrhtniwlue5tjrfkljdnglskdfjjgnvltkjertdfvnlgitek-
jgfvnlntkejrdgvlwenkjdgfnloejdrhgvnletkjgnoltekrjg.
Se a proposta é marcar apenas as ideias iniciais, observe
se elas se concentram na introdução, se estão nos tópicos
frasais, se estão isoladas em cada parágrafo.
Assim, a marcação colorida será funcional e contribuirá
para a resolução das questões.
EQUÍVOCO NÚMERO 03
Outro equívoco associado aos marcadores coloridos
é a proposta de se destacarem as palavras-chave.
Ao selecioná-las, muitas vezes se dá prioridade aos
substantivos.
2
Sublinhar apenas os substantivos não garante a
compreensão das ideias do texto, porque há outros
elementos importantes, como a coesão e a progressão
textual, que são construídas por meio de preposições e de
conjunções.
Observe este exemplo:
Texto
Café com pão ou café sem pão, não importa. O café
está na mesa do brasileiro cotidianamente e se alia aos
trabalhadores para tornar menos duro o trabalho.
Vamos considerar dois leitores. O leitor 01 se propõe a
marcar os substantivos como palavras-chave.
Café com pão ou café sem pão, não importa. O café
está na mesa do brasileiro cotidianamente e se alia aos
trabalhadores para tornar menos duro o trabalho.
Ao ler apenas os substantivos, que estão marcados, não
se alcançam ideias como a de que o pão pode ou não
acompanhar o café e como a de que o café é “aliado”.
Um segundo leitor faz as marcações de acordo com a
progressão de ideias:
Café com pão ou café sem pão, não importa. O café
está na mesa do brasileiro cotidianamente e se alia aos
trabalhadores para tornar menos duro o trabalho.
O critério de escolha desse segundo leitor permite
alcançar as ideias do texto de maneira mais satisfatória.
Como se observa, as palavras-chave não são apenas
os substantivos e, muitas vezes, nem todos eles devem ser
marcados.
Compreendidos esses equívocos iniciais, importa que
se observem as diferentes terminologias que envolvem
questões de texto: “interpretação”, “intelecção”,
“compreensão” e “percepção”.
AS TERMINOLOGIAS “INTERPRETAÇÃO”,
“INTELECÇÃO”, “COMPREENSÃO” E
“PERCEPÇÃO”
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
Ao longo da história da leitura dos textos, empregamos
os mais variados termos para designar esse exercício de
leitura: compreensão do texto, interpretação de texto,
intelecção de texto. A forma mais comum é a “interpretação
do texto”.
Interpretar pode ser considerada uma forma bastante
peculiar de o leitor expressar as ideias do texto, porque cada
indivíduo pode fazer a própria análise. As interpretações
podem ser diferentes, a depender de cada viés.
Por esse motivo, as questões abertas a respostas
pessoais ampliam as possibilidades de interpretação.
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
Ex.:
(FGV) Último trem da Cantareira
Estrada de ferro que ligava o centro da cidade à zona
norte foi desativada em 1964
O saudoso “‘trenzinho da Cantareira”, como era
carinhosamente chamado pelos paulistanos, fez sua última
viagem há 50 anos, conforme noticiou, na época, o jornal O
Estado.
Cantareira já não tem trem
O último trem da Cantareira saiu ontem à noite da
Estação do Areal, em consequência da extinção do ramal
por ato do governador do Estado. A supressão da linha foi
determinada pelas obras de construção da ponte “Cruzeiro
do Sul” – sobre o rio Tietê, e pela situação deficitária da
Estrada. Depois da retirada dos trilhos, o leito do ramal
deverá ser pavimentado e transformado em avenida.
O Estado de S. Paulo, 11/11/1964.
Eternizada pelo samba Trem das Onze, de Adoniran
Barbosa (embora não havia trem nesse horário), a estrada
de ferro conhecida como Tramway foi inaugurada em 1893
com a presença de autoridades e convidados ilustres.
O Estado de S. Paulo, 14/07/2014. Adaptado.
Leia o texto do samba citado na matéria jornalística e
depois responda.
Trem das onze
Não posso ficar nem mais um minuto com você / Sinto
muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã, / Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas / Só amanhã de manhã.
Além disso, mulher / Tem outra coisa,
Minha mãe não dorme / Enquanto eu não chegar,
Sou filho único / Tenho minha casa pra olhar
Não posso ficar.
Além de não ter existido o referido horário, segundo
informa a matéria citada, consta também que o compositor
jamais teria morado no bairro mencionado na letra do
samba e que, quando ele o compôs, sua mãe já era falecida.
A  Essas “inverdades” desmerecem ou diminuem o valor da
canção? Justifique sua resposta.
B  Do ponto de vista da construção poética, há alguma
razão especial para o autor ter optado pelo nome
“Jaçanã”? Explique.
Comentário da questão
A Fundação Getúlio Vargas - FGV, ao optar por
esse formato de questão, utilizou em seu enunciado
três estruturas que tornam clara essa orientação à
interpretação: “justifique sua resposta”, “há alguma
razão” e “explique”.
Essas estruturas certamente permitem diferentes
organizações de resposta e necessitam de um campo
para que o leitor apresente a sua resposta e as razões
para a escolha da resposta.
Sabe-se que, muito comumente, esse tipo de
questão não apresenta um “gabarito”, mas uma
“expectativa de resposta”.
Para a questão anterior, por exemplo, no
questionamento da letra “a” há uma probabilidade
maior de haver respostas indicando que as “inverdades”
não desmerecem a canção, mas nada impede que
alguém responda que sim, há desmerecimento. A
consideração de que essa resposta pode ser avaliada
como correta dependerá de sua associação com a
argumentação apresentada por quem elaborou a
resposta.
Sobre a letra “b)”, a pergunta “há alguma” permite
que se considere haver ou não. A solicitação da
justificativa também é um fator importante na
consideração da resposta.
Obviamente não se pode levar em consideração,
em perguntas analíticas, que qualquer resposta seja
considerada correta. Nesse caso, cada resposta revela
o grau de conhecimento e a capacidade de análise ou
de argumentação de quem apresenta a resposta.
Assim, empregar o termo “interpretação de texto”
nesse tipo de questão é mais conveniente, porque o
fator “subjetividade” é bastante presente.
Vale ressaltar que a questão das terminologias
não implica atenção maior: ser capaz de atender a
cada comando e ser eficiente nas respostas é o mais
importante quando a preocupação é prestar um
exame vestibular.
Para este estudo, adotamos a terminologia
“percepção das ideias do texto”, por ser mais objetiva
em relação a outras terminologias e por ser mais
específica em relação aos comandos das questões
dos vestibulares mais recentes.
INTELECÇÃO E COMPREENSÃO DE TEXTO
A intelecção é o ato ou o processo de compreensão do
texto, ou seja, de entendimento do texto. A diferença entre
interpretação, intelecção e compreensão é a subjetividade
possível no ato de interpretar. Na interpretação, diferentes
leitores podem apresentar diferentes considerações sobre
o texto.
Na intelecção ou na compreensão, o leitor se apresenta
mais como observador do que como analista de um texto.
Mas vale lembrar que as terminologias muitas vezes são
empregadas como sinônimas e que essa diferenciação
não é o mais importante numa prova. O importante é
saber separar a subjetividade e comprovar, marcando a
opção certa, que as ideias do texto foram entendidas,
compreendidas. O importante é perceber as ideias do texto.
PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
Perceber, percepção são palavras originadas das formas
latinas perceptio, perceptiōnis, percipere e apresentam o
prefixo “per-” e o radical “cap”.
3
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
“Per-” é empregado em outras palavras, como “perceber”,
“perpassar” e apresenta uma ideia que se associa a
atravessar, passar por, de se realizar algo “através de”. A raiz
“cap-” tem o sentido de “agarrar”.
De maneira bastante direta, poder-se-ia considerar que
“perceber” é “agarrar através de”. Assim, a percepção é a
ação de agarrar através de”. O leitor agarra as ideias do
texto através da leitura.
Percepção das ideias do texto é a ação de se alcançar
uma ideia através da leitura de um determinado texto.
A percepção das ideias de um texto compreende,
portanto, conhecer o texto, entender aquilo que o texto
apresenta, compreender as ideias presentes no texto.
De maneira prática, podemos pensar que seria
demonstrar que entendemos as ideias do texto. Essa é a
grande questão: o objetivo é mostrar que se entendeu o que
o texto apresenta.
Quando lê um texto, seja verbal ou não verbal, uma
pessoa faz a leitura do que está vendo. Essa leitura não é
feita de maneira isolada: ao ler, acaba-se utilizando aquilo
que o leitor traz de sua experiência para que se alcance
uma interpretação ou uma análise desse texto.
Sem perceber, o leitor pode, mentalmente, associar o
que está lendo ao que já possui de experiência ou ao que
já tem na memória. Assim, o resultado da leitura geralmente
é um “terceiro texto”, uma espécie de somatório do que já
pertencia ao leitor e do que ele está lendo.
EXPERIÊNCIA OU MEMÓRIA DO LEITOR + TEXTO SENDO
LIDO = TERCEIRO TEXTO
É nesse ponto que todo cuidado é pouco: o elaborador
da questão só conhece o texto lido, cria a questão a partir
dela, seleciona o gabarito a partir dela.
Se o leitor responde com o “terceiro texto”, ou seja, com
o que inclui a experiência própria, algo pode não dar muito
certo...
Acertar uma questão envolve, por consequente, ter
atenção ao texto – e separar o que não está nele, deletar
o que está na memória do leitor. Vamos a um exemplo?
Analisaremos uma questão da Vunesp, aplicada em 2014.
Ex.:
(VUNESP) Leia o texto para responder à questão.
Juros e marshmallows
Formação de poupança, taxa de juros, r>g, na agora célebre
formulação de Thomas Piketty. Expressos em economês,
esses conceitos têm algo de impenetravelmente abstrato.
Mas tudo isso pode se tornar um pouco mais compreensível
se recorrermos à psicologia.
4
Sob essa chave interpretativa, a taxa de juros é a
expressão monetária da recompensa diferida, ou melhor,
o prêmio que se paga à paciência. O sujeito que aceita
deixar de consumir já e guarda seu dinheiro recebe uma
gratificação por seu autocontrole. Essa faceta psicológica,
embora não dê conta de explicar todos os aspectos
da taxa de juros, ajudaria a compreender sua relativa
estabilidade. Historicamente, ela fica em torno dos 4% ou 5%
ao ano, que seriam o preço-base da impaciência humana.
O interessante é que a noção de recompensa diferida não
serve só para ajudar a entender a economia. [...]
(Hélio Schwartsman, Folha de S.Paulo, 13.07.2014. Adaptado)
Segundo o autor, a taxa de juros equivale
A  à expressão em termos monetários dos objetos de
consumo.
B  à soma de todos os valores guardados pelo sujeito que
não consome.
C  a uma gratificação dada a quem controla seu dinheiro
com paciência.
D  ao prêmio oferecido ao consumidor que pesquisa os
melhores preços.
E  a uma formulação matemática abstrata e inacessível ao
cidadão comum.
O comando da questão é bem claro: “Segundo
o autor”. Então não é segundo a matemática, não é
segundo o que o professor do leitor apresentou na
aula, não é segundo a opinião do leitor. Não se trata
de “achismo” também. É preciso localizar no texto a
informação.
E a definição do autor se encontra no trecho “a
taxa de juros é a expressão monetária da recompensa
diferida, ou melhor, o prêmio que se paga à paciência”.
Nesse caso, a letra (C) é a resposta correta, pois indica
que a taxa de juros equivale “a uma gratificação dada
a quem controla seu dinheiro com paciência”.
Se o leitor se deixa levar pelo que previamente
conheceu sobre taxa de juros, as letras (A), (B) e (E)
apresentam termos que podem induzir a uma escolha
equivocada: “termos monetários”, “soma de todos os
valores”, “formulação matemática abstrata”.
Esses termos pertencem ao campo semântico do
termo “taxa de juros” e o leitor pode ser induzido a
acreditar que a resposta está associada a eles. Uma
leitura do texto, focada apenas no texto, revela que o
autor considerou que a taxa de juros é uma recompensa
para aqueles que conseguem ser pacientes.
A resposta correta, consequentemente, é a que
apresenta essa ideia. E o cuidado de assinalar essa
questão não depende de ler o texto várias vezes,
tampouco de marcar coloridamente todos os
substantivos ou recobrar na memória conhecimentos
financeiros. É preciso reconhecer o que a voz autoral
do texto apresenta para o leitor.
A percepção das ideias do texto exige do leitor
excluir as próprias ideias.
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

O edifício azul que se localiza na avenida

central foi construído há oitenta anos.
AS DIFERENTES TIPOLOGIAS TEXTUAIS O engenheiro responsável pela obra
Exposição
inaugurou o crescimento vertical da
cidade e trouxe, na época, o que havia
de mais moderno em construção civil.
As questões popularizadas como questões de
“interpretação de texto” não são questões uniformes, que Vá até a avenida central e observe
exigem as mesmas habilidades sempre. Essas questões o prédio azul. Nele, você encontrará
Injunção mais do que vê inicialmente. Observe a
apresentam diferentes enfoques, a depender de como as
fachada, analise a estrutura. Dedique-se
ideias do texto se apresentam e a depender, ainda, da a estudar o que vê.
intenção de quem elaborou a questão.
Como você observou, apesar de serem textos sobre
Por esse motivo, é muito importante conhecer as a mesma edificação, cada um se apresenta de maneira
estratégias empregadas nas questões em que se objetiva distinta. Por esse motivo, é importante reconhecer a
analisar a habilidade geral de percepção das ideias do tipologia textual na hora de fazer as questões.
texto.
Observe na tabela os tipos de texto e as abordagens
DIFERENTES TIPOS DE TEXTO mais frequentes nas questões:
Uma abordagem de percepção das ideias pode TIPOLOGIA TEXTUAL
se apresentar em todos os tipos de textos – narrativo,
descritivo, dissertativo, injuntivo ou expositivo.
Características Abordagens
Tipo de texto
Identificar a tipologia textual no início da leitura contribui principais frequentes
para a apreensão das estruturas do texto e para a Percepção de
percepção das ideias. focos narrativos,
apresenta
de especificidades
enredo, narrador,
Um mesmo elemento pode ser objeto de composição de da linguagem
Narrativo personagens,
diferentes tipos de texto. Vamos considerar um edifício para empregada,
espaço e tempo
compor diferentes tipos de texto: progressão textual
das ações.
e caracterização
da narrativa.

Intenção das
apresenta escolhas lexicais,
Descritivo características do percepção das
elemento descrito. estratégias
empregadas.

apresenta um Reconhecimento
ponto de vista das partes do
e, quando texto e percepção
Dissertativo/ argumentativo, da voz autoral
dissertativo- um discurso de e da polifonia,
Freepik.com argumentativo convencimento reconhecimento
sobre a ideia das ideias
defendida. apresentadas no
Era uma tarde sombria, e as janelas
texto.
do edifício permaneciam fechadas.
Apenas a janela do quarto da Amanda apresenta
Narração estava aberta, com as cortinas leves e informações
esvoaçantes querendo voar. A Amanda Reconhecimento
sobre o tema, traz
estava lá, debruçada, de olhinhos abertos Expositivo das partes do
conhecimento ao
para todos os movimentos da rua. texto.
leitor de forma
O edifício é composto de cinco andares, objetiva.
cada um com quatro apartamentos
Descrição orienta o leitor e o
amplos. Sua fachada é tradicional, feita
de revestimento comum, em tons de azul. leva à ação.
Percepção da
Apresenta formas
O edifício é o mais antigo da rua e intenção do
verbais no modo
deve ser preservado da forma como foi Injuntivo texto e de ideias
imperativo
Dissertação construído. Além disso, é preciso expor associadas à ação
e pronomes
não apenas aos seus moradores, mas a orientada.
direcionados ao
toda a comunidade a sua história. interlocutor.
O prédio azul deve ser tombado, uma vez
que se trata de edifício que representa A questão a seguir apresenta um poema, ou seja, um
dissertação o marco zero do crescimento vertical texto em verso que apresenta uma abordagem de aspecto
argumentativa da cidade. Trata-se de um patrimônio dissertativo por meio de elementos narrativos e descritivos.
histórico e deve ser preservado como
memória coletiva.

5
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

A o questionamento em torno da própria existência

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

humana.
B o avanço tecnológico da humanidade.
QUESTÃO 01 C o domínio do homem sobre o sistema solar.
D o processo de humanização dos planetas.
O homem; as viagens E a capacidade humana de desbravar o desconhecido.

O homem, bicho da Terra tão pequeno

chateia-se na Terra AS ESTRATÉGIAS MAIS EMPREGADAS EM
lugar de muita miséria e pouca diversão, QUESTÕES DE PERCEPÇÃO
faz um foguete, uma cápsula, um módulo.
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua Nas várias tipologias textuais e nos vários gêneros
pisa na Lua textuais, as ideias e as informações se apresentam de
planta bandeirola na Lua formas diversas, e as questões sobre a percepção das
ideias podem exigir diferentes olhares:
experimenta a Lua
coloniza a Lua
• análise geral das ideias de um texto;
civiliza a Lua,
• reconhecimento da ideia principal;
humaniza a Lua. • localização de ideias específicas;
• análise de um parágrafo apenas;
Lua humanizada: tão igual à Terra. • análise de um trecho ou de uma frase;
O homem chateia-se na Lua. • progressão das ideias;
Vamos para Marte! - ordena a suas máquinas. • compreensão de termos.
Elas obedecem, o homem desce em Marte.
pisa em Marte. ANÁLISE GERAL DAS IDEIAS DE UM TEXTO
experimenta
coloniza Um texto pode apresentar um propósito geral e, mesmo
civiliza subdividindo-se em áreas menores, apresentar um aspecto
humaniza Marte com engenho e arte. central.

Marte humanizado, que lugar quadrado. Observe o texto a seguir:

Vamos a outra parte? (...)
Parece estranho que o ser humano esteja tão mais esperto
O homem funde a cuca se não for a Júpiter quanto estúpido. Falo de esperteza porque as descobertas
Proclamar justiça com injustiça, (...) e os avanços do conhecimento nas mais diversas áreas são
imensuráveis. Mas o tamanho da estupidez não fica para
trás... Como pode o homem, que já sabe o que é poluir,
Outros planetas restam para outras colônias.
que já sabe o que é ser sustentável, não apenas continuar
O espaço todo vira terra-a-terra
degradando, mas conseguir aumentar essa destruição?
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
Sim, é isso mesmo! Se o cara lá dos anos de 1800 não sabia
Só para te ver? (...) que jogar lixo no rio prejudicava tudo e todos, o de 2021 já
mas que chato é o Sol, falso touro sabe... e continua jogando. Quem é pior? Nós, claro!
espanhol domado.
As áreas de mangue têm sido degradadas ao longo dos
Restam outros sistemas fora últimos anos mais do que no passado. Se o mangue era
Do solar a colonizar prejudicado pelo pescador que retirava lenha pra cozinhar,
Ao acabarem todos, o de hoje é destruído pela expansão imobiliária. Se o
Só resta ao homem caranguejo diminuía por causa de sua comercialização, hoje
(estará equipado ?) ele rareia porque sufoca entre esgoto e sacolas plásticas.
A dificílima, dangerosíssima viagem O mangue é de uma riqueza absurda... e absurdo é saber
de si a si mesmo disso e acabar com ele. Acabar com a faixa litorânea que
pôr um pé no chão dá suporte à terra e ao mar... Acabar com tudo quando já
do seu coração. se sabe que vai acabar com tudo!
Experimentar,
colonizar, O autor do texto emprega diferentes estratégias e passa
civilizar, por ideias menores para poder alcançar a atenção do leitor
humanizar. e persuadi-lo a respeito de seu ponto de vista. Mas, no
O homem geral, sua ideia central pode ser sintetizada em uma única
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas frase: o homem, mesmo conhecendo os problemas oriundos
a perene insuspeitada alegria da degradação ambiental, continua degradando.
De con-viver.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. As impurezas do branco. Rio de Janeiro, Essa é a ideia geral do texto, a mais ampla. Quando um
José Olympio, 1974. p. 20-22.) texto é abstrato e o percurso da leitura passa por reflexões,
a tendência da questão é buscar do leitor o reconhecimento
(UFRRJ) A temática central do poema de Carlos Drummond do propósito geral do texto.
de Andrade é

6
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

Na questão a seguir, o comando solicita a identificação da E tão custosas

síntese do texto. Que não se contentam com os tafetás
São tantas as joias com que se adornam
Que parecem chovidas em suas cabeças e gargantas
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

As pérolas rubis diamantes

QUESTÃO 02
Do progresso à bioética
A emergência do termo 1bioética refere-se a uma
mudança profunda no modo como a cultura ocidental
pensa seu próprio futuro. A Modernidade - compreendendo
aqui o período que vai da Revolução Francesa até a queda
do muro de Berlim - concebia-se a si mesma como limitada
no tempo e como limitações das experiências subjetivas. Os
conceitos de revolução, liberação e progresso derivavam
desse modo de pensar. Em todos eles, emergia a imagem de
uma humanidade heroica, conquistadora, uma humanidade
cujo dever era o de transgredir as limitações do presente
para realizar-se no futuro.
No imaginário cultural sobre a tecnologia em nossa
atualidade, o que predomina não é a existência de
limites culturais ao que os indivíduos podem fazer. Ao
contrário, o sentimento geral é o de que estamos podendo
demais, tornando decisivo não a transgressão, mas o
estabelecimento de limites sobre o que podemos fazer com
nossas tecnologias. Pensamos o fim de nossa cultura não
como necessidade histórica de libertação do homem, mas
como extinção, como uma possibilidade originada em nosso
controle sobre a natureza, aí incluído o nosso corpo. Deste
modo, concebemos a humanidade como uma vítima virtual
de si mesma porque ela ainda não controla seu controle.
VAZ, Paulo. “O Futuro da Genética”. In: Nas fronteiras do contemporâneo.
Rio de Janeiro: Mauad: FUJB, 2001, pp. 138-139.
(UFRJ) Entre as afirmativas a seguir, indique a que melhor
sintetiza as ideias do texto.
A A substituição da crença da Modernidade no progresso
do gênero humano pela bioética implica sensibilidade
diferente para as atuais ações éticas e políticas em
relação à tecnologia.
B A preocupação com a bioética limita-se às experiências
subjetivas anteriores à queda do muro de Berlim, crença
Tudo são delícias
Não parece esta terra senão um retrato
Do terreal paraíso
ANDRADE, O. de. Poesias completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1971. 5a ed., p.144. In: MAIA, J. D. Literatura: textos & técnicas. São Paulo:
Ática, 1995, p. 27.
1 louçãs: elegantes, graciosas.
(UFRJ) Os dois últimos versos sintetizam a ideia central do
poema, porque
A ironizam o materialismo feminino através da contradição
presente em “terreal paraíso”.
B valorizam a beleza das mulheres brasileiras que se
enfeitam com muitas joias.
C comparam a terra brasileira a um paraíso devido às suas
jazidas de pedras preciosas.
D ressaltam a semelhança entre as riquezas materiais da
terra brasileira e as do próprio paraíso.
E comprovam ser a vaidade feminina acessível só aos
detentores de “paraísos” financeiros.
Reconhecimento da ideia principal
É possível que haja textos que apresentam uma ideia
principal e outras secundárias. Nesse caso, pode-se exigir
do leitor a identificação da ideia principal.
Um texto dissertativo, por exemplo, pode apresentar
diversas formas de desenvolvimento, como a apresentação
de uma ideia e a argumentação sobre ela ou a contra-
argumentação. Há ainda textos que apresentam diferentes
subtemas em seus parágrafos.
Observe o texto em verso da questão a seguir e a
orientação para se extraírem dele duas perspectivas
diferentes:
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

nos conceitos de revolução, liberação e progresso.

C A mudança profunda no modo como a cultura ocidental
pensa seu próprio futuro começou no período da QUESTÃO 04
Revolução Francesa e terminou com a queda do muro de
Berlim.
D O imaginário cultural sobre a tecnologia em nossa O homem; as viagens
atualidade é formado pelos conceitos de revolução,
liberação e progresso sem considerar limites para a O homem, bicho da Terra tão pequeno
transgressão. chateia-se na Terra
E A preocupação com a bioética tomou o lugar de nossa lugar de muita miséria e pouca diversão,
crença anterior no progresso do gênero humano, não faz um foguete, uma cápsula, um módulo.
implica o estabelecimento de limites sobre a tecnologia. toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
A mesma solicitação é feita nesta questão. pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
ORIENTADA experimenta a Lua
RESOLUÇÃO

coloniza a Lua
QUESTÃO 03 civiliza a Lua,
humaniza a Lua.

Civilização pernambucana Lua humanizada: tão igual à Terra.

O homem chateia-se na Lua.
As mulheres andam tão louçãs1 Vamos para Marte! - ordena a suas máquinas.

7
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

Elas obedecem, o homem desce em Marte.

ORIENTADA

RESOLUÇÃO
pisa em Marte.
experimenta
coloniza
QUESTÃO 05
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte. (UFRRJ) Leia as estrofes, de Paulo César de Souza.

Sujeito sem predicados

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Abjeto
Vamos a outra parte? (...) Sem voz
Passivo
O homem funde a cuca se não for a Júpiter Já meio pretérito
Proclamar justiça com injustiça, (...) Vendedor de artigos indefinidos
Procura por subordinada
Outros planetas restam para outras colônias. Que possua alguns adjetivos
O espaço todo vira terra-a-terra Nem precisam ser superlativos
O homem chega ao Sol ou dá uma volta Desde que não venha precedida
De relativos e transitivos
Só para te ver? (...)
Para um encontro vocálico
mas que chato é o Sol, falso touro Com vistas a uma conjugação mais que perfeita
espanhol domado. E possível caso genitivo.
SOUZA, Paulo César de. In: MANDRYK, D. “Prática de redação para
estudantes universitários”. Petrópolis: Vozes, 1987. p. 277.
Restam outros sistemas fora
Do solar a colonizar
A opção que apresenta expressões do texto referentes,
Ao acabarem todos, respectivamente, às ideias de casamento e geração de
Só resta ao homem filhos, é
(estará equipado ?)
A dificílima, dangerosíssima viagem A conjugação mais que perfeita; caso genitivo.
de si a si mesmo B caso genitivo; subordinada.
pôr um pé no chão C encontro vocálico; conjugação mais que perfeita.
do seu coração. D subordinada; caso genitivo.
Experimentar, E subordinada; conjugação mais que perfeita.
colonizar,
ANÁLISE DE UM PARÁGRAFO APENAS
civilizar,
humanizar. Muitas vezes, a solicitação do comando da questão é
O homem a localização da ideia central de um parágrafo específico.
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas A habilidade envolvida nesse tipo de abordagem é a
a perene insuspeitada alegria capacidade de se separarem as ideias do texto e de se
De con-viver. localizar um aspecto específico.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. As impurezas do branco. Rio de Janeiro,
José Olympio, 1974. p. 20-22.) Essa solicitação geralmente é feita em textos com uma
ideia central e ideias menores, como se fossem subtópicos.
(UFRRJ) O poema de Carlos Drummond de Andrade permite
estabelecer, claramente, um confronto de ideias sintetizado Nesse caso, o leitor da questão pode encontrar a
pela oposição: indicação do parágrafo já no comando, o que facilita a
resolução. Quando não há a indicação do parágrafo, o leitor
A conquistas espaciais do homem X desconhecimento da precisa reconhecer essa ideia para responder à questão.
própria natureza humana.
B chegada do homem à Lua X necessidade de conhecer ANÁLISE DE UM TRECHO OU DE UMA FRASE;
novos planetas.
C progresso tecnológico X destruição do meio ambiente. Quando o texto apresenta uma ideia central e a divide em
D chegada do homem à Lua X volta em tomo do Sol. ideias menores, é comum que a questão faça a abordagem
E chegada do homem a Marte X incapacidade humana de de uma das ideias menores apenas. Esse tipo de questão
conviver com seu semelhante. se parece bastante com a abordagem de um parágrafo
determinado.
LOCALIZAÇÃO DE IDEIAS ESPECÍFICAS
A diferença é o fato de ela não se concentrar em um
A solicitação de ideias específicas é comum em textos parágrafo específico, mas em um trecho específico ou em
que apresentam uma dificuldade maior de leitura, por se uma frase.
tratar de questões muito abstratas ou mesmo de textos
com frases sintaticamente mais complexas. Observe o comando desta questão: há um trecho do
texto e a solicitação de que se reconheça a ideia desse
A questão aqui apresentada exige essa percepção: fragmento.

8
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
QUESTÃO 06
Do progresso à bioética
A emergência do termo 1bioética refere-se a uma
mudança profunda no modo como a cultura ocidental
pensa seu próprio futuro. A Modernidade - compreendendo
aqui o período que vai da Revolução Francesa até a queda
do muro de Berlim - concebia-se a si mesma como limitada
no tempo e como limitações das experiências subjetivas. Os
conceitos de revolução, liberação e progresso derivavam
desse modo de pensar. Em todos eles, emergia a imagem de
uma humanidade heroica, conquistadora, uma humanidade
cujo dever era o de transgredir as limitações do presente
para realizar-se no futuro.
No imaginário cultural sobre a tecnologia em nossa
atualidade, o que predomina não é a existência de
limites culturais ao que os indivíduos podem fazer. Ao
contrário, o sentimento geral é o de que estamos podendo
demais, tornando decisivo não a transgressão, mas o
estabelecimento de limites sobre o que podemos fazer com
nossas tecnologias. Pensamos o fim de nossa cultura não
como necessidade histórica de libertação do homem, mas
como extinção, como uma possibilidade originada em nosso
controle sobre a natureza, aí incluído o nosso corpo. Deste
modo, concebemos a humanidade como uma vítima virtual
de si mesma porque ela ainda não controla seu controle.
VAZ, Paulo. “O Futuro da Genética”. In: Nas fronteiras do contemporâneo.
Rio de Janeiro: Mauad: FUJB, 2001, pp. 138-139.
(UFRJ) Ao afirmar que “a emergência do termo bioética
refere-se a uma mudança profunda no modo como a
cultura ocidental pensa seu próprio futuro”, o autor do texto
reporta-se ao fato de a bioética
A analisar o futuro da cultura ocidental sem emitir
julgamentos.
B incentivar as transgressões dos ocidentais sobre o futuro
da humanidade.
C reprimir a emergência de mudanças culturais no Ocidente.
D reformular os parâmetros do pensamento ético ocidental
sobre a vida.
E aperfeiçoar as conquistas tecnológicas na área da
Biologia.
Nesta outra questão, o recorte é ainda mais específico: a
ideia concentrada no pronome: “o pronome oblíquo assume
o valor semântico de posse em”.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
QUESTÃO 07
O texto a seguir foi retirado do último capítulo do romance
LUCÍOLA, de José de Alencar. Nele o romancista narra os
momentos finais vividos pela heroína, ao lado de Paulo, o
seu amado.
1. De joelhos à cabeceira eu suplicava-lhe que bebesse o
remédio que a devia salvar.
(...)
O dia se passou na cruel agonia que só compreendem
aqueles que ajoelhados à borda de um leito viram finar-
se gradualmente uma vida querida.
2. Quebrado de fadiga e vencido por uma vigília de tantas
noites, tinha insensivelmente adormecido, sentado como
estava à beira da cama, com os lábios sobre a mão
gelada de Lúcia e a testa apoiada no encosto do leito.
O sono foi curto, povoado de sonhos horríveis; acordei
sobressaltado e achei-me reclinado sobre o peito de
Lúcia, que se sentara de encontro às almofadas para
suster minha cabeça ao colo, como faria uma terna mãe
com seu filho.
3. Mesmo adormecido ela me sorria, me falava, e cobria-
me de beijos:
4. - Se soubesses que gozo supremo é para mim beijar-te
neste momento! Agora que o corpo está morto e a carne
álgida, não sente nem a dor nem o prazer, é a minha
alma só que te beija, que se une à tua e se desprende
parcela por parcela para embeber em teu seio.
5. E seus lábios ávidos devoravam-me o rosto de carícias,
bebendo o pranto que corria abundante de meus olhos:
6. Se alguma coisa me pudesse salvar ainda, seria esse
bálsamo celeste, meu amigo!
7. Eu soluçava como uma criança.
8. - Beija-me também, Paulo. Beija-me como beijarás um
dia tua noiva! Oh! agora posso te confessar sem receio.
Nesta hora não se mente. Eu te amei desde o momento
em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias
que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida
se conta por instantes, amo-te em cada momento por
uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com
todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te
amar enfim por toda a eternidade.
9. A voz desfaleceu completamente, de extenuada que ela
ficara por esse enérgico esforço. Eu chorava de bruços
sobre o travesseiro, e as suas palavras suspiravam
docemente em minha alma, como as dulias dos anjos
devem ressoar aos espíritos celestes.
(ALENCAR, José de. Lucíola. Rio, Ática, 1992. p. 124-126.)
(UFRRJ) O pronome oblíquo assume o valor semântico de
posse em
A “(...) achei-me reclinado sobre o peito de Lúcia (...)” (par.2)
B “ Mesmo adormecido ela me sorria (...)” (par.3)
C “E seus lábios ávidos devoraram-me o rosto de carícias
(...)” (par.5)
D “Se alguma coisa me pudesse salvar ainda (...)” (par.6)
E “Beija-me como beijarás um dia tua noiva!” (par.8)
PROGRESSÃO DAS IDEIAS
O enfoque na progressão das ideias representa a análise
do desenvolvimento adotado pelo autor do texto. Um texto
pode iniciar com um fato, por exemplo, de modo que o
próprio fato seja abandonado ou substituído por uma ideia
mais ampla. Nesse caso, percebe-se que o fato foi uma
“desculpa” para que a temática central fosse abordada.
Nas duas questões a seguir, é claro esse recorte: a
primeira apresenta uma abordagem inicial; a segunda
remete a outra parte do texto.
9
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

• a palavra ou expressão pode ter um sentido que o

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

próprio texto atribui a ela.

QUESTÃO 08 Pode-se, em textos em verso, destacar apenas um dos

versos – o que equivale a “trecho”, em vez de termo.
“Ciúme, como lidar com esse veneno
Observe as seguintes questões:
Marido apaixonado desconfia que a mulher, linda, o
trai com um amigo. A mulher é honesta, o amigo é sincero, ORIENTADA

RESOLUÇÃO
mas o marido só enxerga à sua volta indícios da traição
inexistente. Por fim, transtornado, mata a mulher e se mata. QUESTÃO 10
A tragédia, no seu cruel desenrolar, é velha como o mundo.
Assim foi descrita magistralmente por William Shakespeare,
no século XVII, no texto em que Otelo, o general mouro, Primaveras na Serra
mata a doce Desdêmona. Antes dele e depois dele, homens
e mulheres mataram (e matam) pelo mesmo motivo: o ciúme, Claridade quente da manhã vaidosa.
um sentimento insano, paranoico, doente, insuportável para O sol deve ter posto lente nova,
quem sente e doído, perigoso, para quem é alvo dele. A e areou todas as manchas,
morte é uma atitude extrema, mas as tragédias clássicas para esperdiçar luz.
acabam sendo a melhor tradução para a força destruidora
e devastadora desse sentimento. A realidade, o verniz Dez esquadrilhas de periquitos verdes
civilizatório ou, simplesmente, a sobrevivência do bom senso receberam ordem de partida,
mesmo que o cotovelo doa colocam freios em boa parte deixando para as araras cor de fogo,
das pessoas que dele sofrem - por isso, e só por isso, as ruas o pequizeiro morto.
não estão coalhadas de corpos adúlteros ou apaixonados E a árvore, esgalhada e seca, se faz verde,
desprezados.” (...) vermelha e castanha, entre os mochoqueiros,
(VEJA: 14/06/2000) braúnas, jatobás e imbaúbas do morro,
na paisagem que um pintor daltônico
(UFRRJ) A narração que dá início ao texto aborda um tema pincelou no dorso de um camaleão.

A ausente nas obras clássicas. E o lombo da serra é tão bonito e claro,

B recorrente na literatura universal. que até uma coruja,
C cultivado pelas elegias pastoris. tonta e míope na luz,
D inerente a qualquer manifestação literária. com grandes óculos redondos,
E próprio da literatura socialmente engajada. fica trepada no cupim, o dia inteiro,
imóvel e encolhida, admirando as cores,
fatigada, talvez, de tanta erudição...
ORIENTADA
RESOLUÇÃO

ROSA, João Guimarães. Magma. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 141.

QUESTÃO 09 (UFRRJ) “E a árvore, esgalhada e seca, se faz verde,”

(UFRRJ) O comentário sobre o ciúme chama a atenção do O verso destacado demonstra que, no ambiente
leitor para reconstruído poeticamente pelo texto:

A a ação inibidora das convenções sociais. A até mesmo a morte é matéria para a continuidade da
B a influência maléfica de uma obra literária. vida.
C os perigos do verniz civilizatório para o homem. B a morte é desprezada pela exuberância e naturalidade
D o adultério, como tema constante das tragédias gregas. da vida.
E a importância do século XVII para a literatura brasileira. C não há espaço para a vida humana, só para a vida
selvagem.
COMPREENSÃO DE TERMOS. D o verde é a cor predominante porque é sinônimo de vida.
E a morte vai estar sempre presente, sobrepondo-se à vida.
É comum que um texto inteiro seja apresentado ao
candidato para que se enfoque, na questão, apenas um ORIENTADA
RESOLUÇÃO

«detalhe» do texto, uma palavra ou expressão contida nele.

QUESTÃO 11
Quando uma questão aborda essas palavras ou
expressões, a intenção é verificar a compreensão do
candidato em relação às ideias expressas pelo termo que (UFRRJ) Nos versos “na paisagem que um pintor daltônico /
se destaca. pincelou no dorso de um camaleão.”, predomina a imagem
da
Sobre palavras ou expressões, o leitor precisa
compreender duas situações: A eloquência.
B estabilidade.
• a palavra ou expressão pode ser empregada comumente C liberdade.
com um sentido específico;

10
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

D mutação. Certamente no cotidiano o leitor dificilmente ouvirá a

E ilustração.
PALAVRAS E EXPRESSÕES COMUMENTE EMPREGADAS
As palavras ou expressões que as pessoas ouvem e
falam no cotidiano podem ser usadas em textos e podem
expressão “com as meias no pescoço”, que, pelo contexto,
tem uma ideia clara: atrasado, sem terminar as coisas.
Expressões desse tipo se apresentam esclarecidas no
próprio texto.
ORIENTADA

RESOLUÇÃO
ser o enfoque de uma questão.

No Brasil, há palavras e expressões de uso nacional e há QUESTÃO 13

aquelas usadas regionalmente.
Além disso, é preciso observar que essas palavras
ou expressões podem cair em desuso ou mesmo serem
empregadas sem que o leitor compreenda a sua origem.
Há expressões como “depois que Maria chegar da lenha”,
“ainda não caiu a ficha”, “agora é tarde, Inês é morta” ou “é
show de bola”, muitas vezes de fácil compreensão no uso
cotidiano, mas sem uma referência exata de sua criação.
A questão seguinte orienta o candidato a observar o uso
de um termo.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
(UFRJ) Leia o trecho abaixo:
“Há forte tendência para desumanizar o trabalho,
procurando cada qual, na atividade que exerce, tirar o
máximo de proveitos, lícitos ou ilícitos (aliás, é esta uma
distinção que se vai esmaecendo!), e dar o menos possível
de sua pessoa.”
Sobre a passagem entre parênteses, é correto afirmar:
A o autor a aproveita para explicar o que seja lícito e o que
seja ilícito.
B como ALIÁS é uma partícula de inclusão, o autor não
interrompe o raciocínio.

C a distinção a que se refere o autor é sobre tipos de

atividades.
QUESTÃO 12 D a distinção a que se refere o autor é sobre tipos de
proveitos.
E serve para enfatizar que a distinção é cada vez mais
Vivemos numa cultura marcada pelo individualismo
nítida.
afetivo e prático. Vivemos sob um sistema socioeconômico
globalizado que prioriza o lucro e a produtividade em Na próxima questão, o comando leva o candidato a
prejuízo das pessoas. As consequências são sentidas por compreender que uma expressão pode representar a
todos nós, e mais duramente pelos pobres. síntese do texto:

A lógica do mercado decreta friamente que eles são

ORIENTADA
RESOLUÇÃO

um estorvo, não deveriam ter filhos e melhor seria se

simplesmente não existissem. Seus rostos famintos nos
incomodam, seus filhos miseráveis nos revoltam. QUESTÃO 14
MIRANDA, Mário de F. “Promover a vida”. In: O GLOBO. 12 de dezembro de
2002. p. 6.
(UFRRJ) Leia com atenção o trecho abaixo.
(UFRJ) Quanto ao uso de “simplesmente”, no texto, é correto “Os governantes passaram a dizer que a culpa não era
afirmar que indica uma deles, era da taxa de juros, de alguma crise no exterior, da
falta de investimentos externos, das dívidas financeiras, ou
A solução definitiva. qualquer outra circunstância administrativa, porque não
B atitude de inconformismo. sentiam a obrigação de cuidar do povo.”
C reprovação ao modo de vida dos povos. BUARQUE, Cristovam. “O tamanho do coração”. In: O GLOBO. 16 de
dezembro de 2002. p. 7.
D reprovação às coisas simples de qualquer natureza.
E atitude de compaixão pelo modo de vida simples.
Agora, relendo o texto, indique nele a palavra ou expressão
PALAVRAS E EXPRESSÕES DE SENTIDO ESPECÍFICO DO que sintetize o trecho lido acima.
TEXTO
A individualismo afetivo.
Quando uma palavra ou expressão apresenta sentido B rostos famintos.
específico no próprio texto, a leitura é reveladora desse C o lucro e a produtividade.
sentido. D prejuízo das pessoas.
E lógica do mercado.
Observe o seguinte texto:
PERCEPÇÕES DIFERENTES: O AUTOR DO TEXTO,
Marcos ia ao campo de futebol com as meias no pescoço. O AUTOR DA QUESTÃO RELATIVA AO TEXTO E
Sempre atrasado, sempre sonolento, sempre a terminar PERCEPÇÃO DO LEITOR
de se arrumar... Passou a infância e a adolescência assim.
E cresceu. E se formou. Empregou-se, casou, enfileirou os
filhos e se aposentou. Um dia, olhando os filhos já criados, Partindo dessa ideia, pode-se considerar que as pessoas
percebeu que apenas um deles puxara ao pai, a fazer tudo podem apresentar diferentes análises e interpretações
“com as meias no pescoço”. numa aula, em um exercício ou numa questão. O leitor,

11
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
sendo aluno ou candidato a vestibular, torna-se convidado
a observar o texto de acordo com a ótica apresentada pelo
professor que elaborou a questão, ou pelo comando da
questão.
Aí está a diferença entre fazer uma análise pessoal ou
analisar a partir da perspectiva adotada pelo professor
ou pelo autor do texto. Temos aí pelo menos três leituras: a
leitura do leitor a partir da sua percepção, a leitura do leitor
a partir da percepção do professor e a leitura do leitor a
partir da percepção do autor.
Quando o leitor lê a partir da sua percepção não há
uma resposta única – por isso, as questões tendem a ser
discursivas.
Se nós estamos diante de uma percepção a partir da
ótica do professor quem vai nos indicar como observar o
texto é o próprio professor ou o comando da questão.
É hora de analisar mais um exemplo!
Ex.:
(ENEM) Texto I
A língua ticuna é o idioma mais falado entre os indígenas
brasileiros. De acordo com o pesquisador Aryon Rodrigues,
há 40 mil índios que falam o idioma. A maioria mora ao
longo do Rio Solimões, no Alto Amazonas. É a maior nação
indígena do Brasil, sendo também encontrada no Peru e
na Colômbia. Os ticunas falam uma língua considerada
isolada, que não mantém semelhança com nenhuma
outra língua indígena e apresenta complexidades em sua
fonologia e sintaxe. Sua característica principal é o uso de
diferentes alturas na voz.
O uso intensivo da língua não chega a ser ameaçado pela
proximidade de cidades ou mesmo pela convivência com
falantes de outras línguas no interior da própria área ticuna:
nas aldeias, esses outros falantes são minoritários e acabam
por se submeter à realidade ticuna, razão pela qual, talvez,
não representem uma ameaça linguística.
Língua Portuguesa, n. 52, fev. 2010 (adaptado).
Texto II
Riqueza da língua
“O inglês está destinado a ser uma língua mundial em
sentido mais amplo do que o latim foi na era passada e o
francês é na presente”, dizia o presidente americano John
Adams no século XVIII. A profecia se cumpriu: o inglês é hoje
a língua franca da globalização. No extremo oposto da
economia linguística mundial, estão as línguas de pequenas
comunidades declinantes. Calcula-se que hoje se falem de
6.000 a 7.000 línguas no mundo todo. Quase metade delas
deve desaparecer nos próximos 100 anos. A última edição
do Ethnologue – o mais abrangente estudo sobre as línguas
mundiais –, de 2005, listava 516 línguas em risco de extinção.
Veja, n. 36, set. 2007 (adaptado).
Os textos tratam de línguas de culturas completamente
diferentes, cujas realidades se aproximam em função do(a)
12
A  semelhança no modo de expansão.
B  preferência de uso na modalidade falada.
C  modo de organização das regras sintáticas.
D  predomínio em relação às outras línguas de contato.
E  fato de motivarem o desaparecimento de línguas
minoritárias.
A questão em análise apresenta dois textos,
publicados em revistas. Cada texto apresenta a ideia
de seu autor. No primeiro, há informações sobre a
língua ticuna; no segundo apresentam-se a expansão
da língua inglesa e a previsão de desaparecimento de
mais 500 línguas nos próximos 100 anos.
No comando da questão, apresenta-se a
perspectiva do autor da questão, que aproxima
os dois textos e compreende haver entre eles uma
relação de similaridade. Observe-se que nenhum dos
autores fez essa comparação. Nesse caso, o leitor
não fará uso da própria opinião nem da opinião dos
autores, mas deverá adotar a perspectiva do autor da
questão para encontrar uma resposta adequada – no
caso, a letra D.
Ambos os textos poderiam servir de observação em
relação a outros apontamentos, feitos pelos próprios
autores ou mesmo pelo leitor, mas não é esse o caso.
Para cada perspectiva, uma questão diferente
Você já compreendeu que nós temos três tipos de
questões para fazer: uma é aquela em que se vai perguntar
o que você entendeu do texto ou que você acha do texto.
Na outra, questiona-se o que o autor do texto apresenta,
as ideias dele.
Uma terceira abordagem diz respeito ao recorte que o
autor da questão faz sobre o texto.
COMANDOS MAIS COMUNS
É importante que você reconheça o tipo de questão que
está fazendo. Quando a questão exige que você demonstre
que percebeu as ideias do texto, os comandos comuns –
principalmente na prova do ENEM – são:
• o texto evidencia que;
• o texto sugere que;
• no texto, o autor;
• de acordo com o texto;
• partindo do texto, observa-se que;
• no texto, a narrativa conduz o leitor a compreender;
• o texto relata.
Observe como o comando da questão a seguir é
bastante específico nesse sentido:
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
QUESTÃO 15
(UFJF-PISM) Numa entrevista publicada na Folha Ilustrada,
em 14 de marco de 2005, o escritor mineiro Luiz Ruffato disse
o que está transcrito abaixo:
“Estou indo de certa forma na contracorrente da
literatura contemporânea brasileira. Ela tende ou para
o neonaturalismo ou para uma literatura que chamo de
‘egótica’, muito centrada no eu. Tento caminhar em outra
seara, a da literatura realista, que no meu entender não é
otimista nem pessimista. Ela estabelece uma reflexão sobre
o real a partir do real.”
De acordo com o que disse Luiz Ruffato em sua entrevista,
o conceito de “realismo contemporâneo” que ele defende
pode ser explicado em qual das alternativas abaixo?
A Um realismo excessivamente elaborado, que busca o
máximo de verossimilhança, mesmo que, para tanto, a
verdade seja sacrificada no texto.
B Um realismo totalmente descompromissado das
questões fundamentais do seu próprio tempo, com vistas
a fortalecer uma ideia de ficção baseada somente na
experimentação com a linguagem.
C Um realismo que parta do real cotidiano para
compreender a realidade, cuidando de tomar certo
distanciamento da matéria para não tomá-la de forma
demasiado personalista.
D Um realismo de combate, fruto das reflexões profundas
do escritor acerca da realidade, com vistas a assumir
uma postura de orientação para as tomadas de posição
pelo leitor.
E Um realismo indiferente, cujo único compromisso é com
a literatura que se alimenta de testar os seus próprios
limites.
ERROS MAIS COMUNS
Perceber as ideias do texto, então, precisa de mais
atenção em relação ao tipo de questão que nós estamos
fazendo.
https://www.vecteezy.com/free-vector/search
Os erros mais comuns dizem respeito a empregar as
próprias ideias ou experiências na hora de responder as
questões.
A pergunta não é “O que você acha disso?”, mas “Você
entendeu o que o autor do texto acha disso?”.
Muitas vezes, acontecem três análises que levam ao erro:
a extrapolação do texto, a redução de uma ideia do texto
e a inferência.
O leitor extrapola o texto quando vai além do que o texto
apresenta. Geralmente isso acontece porque o leitor soma
o texto à própria experiência e acaba criando o “terceiro
texto”.
Na redução, é comum que o leitor se detenha a um
aspecto citado no texto, quando a questão exige uma
observação mais ampla.
No caso da inferência, o erro se concentra em não se
certificar de que o comando exige apenas o que pode ser
apontado no texto, em vez de se chegar a uma ideia a partir
dele.
Também é comum que a questão apresente ideias
trocadas em relação ao texto.
Observe os comandos das seguintes questões.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
QUESTÃO 16
Atenção ao comando, que solicita o reconhecimento
do que se encontra no texto: “segundo a concepção de
Hobbes”.
Quando Jean-Jacques Rousseau desenvolveu a teoria
do contrato social em obra clássica, não estava sendo
o primeiro a afirmar que o Estado surge de um acordo de
vontades. Antes dele, Thomas Hobbes já desenvolvera
teoria semelhante. Existe, porém, um foco de divergência
entre estes autores: se ambos consideram o homem primitivo
vivendo num estado selvagem, passando à vida em
sociedade mediante um pacto comum a todos, exatamente
como se cria uma sociedade civil ou comercial, vale frisar
que Rousseau imaginava uma convivência individualista,
mas cordial, vivendo os homens pacificamente, sem atrito
com seus semelhantes, ao contrário de Hobbes, para quem,
em célebre tirada, “o homem é lobo do próprio homem”
(homo homini lupus). Considerava Hobbes que o homem era
um ser anti-social por natureza, e seu “apetite social” seria
o fruto da necessidade da vida comunitária, fiscalizada
por um aparato social gigantesco destinado a impor a
ordem, o Estado, enfim. A este aparato Hobbes denominava
“Leviatã”. Esta palavra, de origem bíblica, designava um
monstro mitológico que habitava o rio Nilo e devorava
as populações ribeirinhas, tal como, segundo Hobbes, o
Estado faz com seus súditos...
ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. 2a ed. rev. e aum. São
Paulo: Saraiva, 2000. p. 18/19.
(UFRJ) O Estado, segundo a concepção de Hobbes, é
A um organismo mitológico.
B uma sociedade civil ou comercial.
C um monstro aquático.
D um organismo repressor.
E um ser imaginário.
13
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO
ERREI... O QUE É QUE EU FAÇO?
A percepção das ideias do texto é um
exercício que exige também observação sobre as
questões que você erra e sobre por que você está
errando. A partir da correção da questão, atente-
se à resposta escolhida e investigue por que essa
resposta está errada.
Compreender o que o comando seleciona para a
abordagem da questão pode ser um caminho para evitar
erros.
Observe três questões, cada uma com uma abordagem
diferente sobre o mesmo texto: na primeira enfocam-se as
ideias do texto; na segunda faz-se um recorte específico; e
na última aborda-se um termo.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
QUESTÃO 17
Resistência
Não sei onde anda aquele projeto de lei do deputado
Aldo Rebelo sobre a proteção da língua portuguesa - o que
é um mau sinal. Ele teria que estar sendo mais discutido. A
intenção do deputado é boa, mas as críticas ao projeto, do
pessoal da linguística principalmente, deveriam estar sendo
ouvidas no debate que não está havendo.
Eu acho que o uso de estrangeirismos como “delivery”
em vez de “entrega” decorre de uma falta generalizada de
senso do ridículo, sobre o qual não se legisla, mas esta é
uma visão fatalista. Os linguistas dizem que a língua é uma
coisa viva, que é impossível e impraticável decretar que o
português falado hoje é o definitivo e como tal deve ser,
para todos os efeitos, tombado. Alegam que a lei, com suas
multas e punições, restringiria o estudo de dialetos e idiomas
regionais de origem estrangeira ou não, cuja rica variedade
tem mais valor cultural do que qualquer uniformização
imposta. O assunto é amplo. A discussão também deveria
ser.
A ideia é proteger o português do inglês, que nos invade
pelo colonialismo comercial e pelos neologismos da cultura
do computador (parece que já estão usando até o verbo
“downloadar”), e que seria uma espécie de vocabulário
avançado da dominação total a que nos submeteriam.
Mas dos Estados Unidos também vêm bons exemplos de
flexibilidade prática na questão da língua, como o uso
do espanhol na propaganda e na educação em áreas
de grande imigração “hispânica”, contra os protestos da
direita, que quer proteger o inglês. O problema é diferente,
mas a xenofobia linguística é parecida.
Por que não tratar as palavras em inglês que nos
incomodam como imigrantes na nossa língua, resignados
à sua inevitabilidade e respeitando a sua identidade,
sabendo que cedo ou tarde elas serão assimiladas e com
o passar do tempo perderão até o sotaque? A resistência
à dominação americana tem que vir em outros setores,
com outra disposição e outra mentalidade. Sobre os quais
também não se legisla.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. O Globo: Rio de Janeiro, p. 7, 1 de julho 2001.
14
(UFRRJ) Sobre o texto de Veríssimo, é correto afirmar que
A a citação dos Estados Unidos é gratuita, não
representando um referencial importante, podendo este
país ser substituído por qualquer outro de língua inglesa.
B aborda tema essencialmente linguístico, sendo
periféricas as observações que faz sobre as relações
político-econômicas entre países.
C discorda da opinião dos linguistas, achando que sua
concepção de língua encontra obstáculos em outros
países que são vítimas de invasão.
D aborda a questão política da invasão cultural e se serve
de uma de suas manifestações para demonstrar a
possibilidade de superação do problema.
E coloca a questão da invasão linguística no contexto da
dominação cultural e entende que ambas não têm tido a
atenção que mereceriam.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
QUESTÃO 18
(UFRRJ) Há no texto uma comparação entre Brasil e Estados
Unidos, quanto à questão dos estrangeirismos. Sobre esse
assunto foram feitas as seguintes afirmações:
I. Nos EUA existe uma crença já generalizada de que
palavras estrangeiras só vêm enriquecer o idioma
nativo.
II. Nos EUA, como também aqui, há reações de repúdio a
palavras estrangeiras, por questões de protecionismo
linguístico/cultural.
III. Justamente do país de onde vêm atualmente os
estrangeirismos que lotam nosso vocabulário, vem
também um exemplo de tolerância ao que é estrangeiro.
IV. O Brasil deveria, segundo o texto, praticar a mesma
xenofobia linguística existente nos EUA, pois é
protegendo a cultura nacional que se constrói um país
desenvolvido.
Estão corretas as afirmativas
A II, III e IV.
B II e IV.
C I, III e IV.
D I e III.
E II e III.
ORIENTADA
RESOLUÇÃO
QUESTÃO 19
(UFRRJ) Em “... é impossível e impraticável decretar que
o português falado hoje é definitivo e como tal deva ser,
para todos os efeitos, TOMBADO.”, o vocábulo destacado
significa:
A derrubado.
B resguardado.
C legalizado.
D registrado.
E valorizado.
 1. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO | 1.1 PERCEPÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO

GABARITO

QUESTÕES ORIENTADAS

01 A 02 A 03 A

04 A 05 A 06 D

07 C 08 B 09 A

10 A 11 D 12 A

13 D 14 E 15 C

16 D 17 E 18 E

19 B

Acertos Erros Rendimento %

TOTAL DE ACERTOS
Total Total
19 Rendimento %
Questões Acertos

15