Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Passados quase dois anos da celebração do acordo de R$ 37,6 bilhões entre o governo
de Minas e a Vale S.A, cujo objetivo seria a reparação dos danos causados pelo
rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em 2019, atingidos da bacia do Rio
Paraopeba e da represa de Três Marias criticam a destinação dada ao recurso.
“É uma mega obra, de interesse das empresas e do Zema, que não repara os atingidos,
ameaça fontes de água na região metropolitana e em comunidades remanescentes
quilombolas. Além disso, o traçado passa por municípios já atingidos pelo rompimento,
como Betim e Brumadinho, só aumentando os danos. Ou seja, mais atingidos na região",
avalia.
1/4
Para ele, a mineradora buscava dar segurança jurídica aos seus investidores, sobretudo
estrangeiros, e, ao mesmo tempo, o governador viu no acordo uma oportunidade
eleitoreira.
“Não dava para os investidores conviverem com incertezas sobre como e quando a
mineradora seria punida pelo Estado brasileiro. Da parte da Vale, é daí que nasce o
acordo. Já para Zema, o objetivo era se promover eleitoralmente, por isso ele usou muito
essa questão durante a campanha”, argumenta Marcelo.
2/4
que contaminou o rio, famílias ribeirinhas passaram a conviver com a fome e a falta de
água.
“Animais de pequeno e grande porte estão morrendo. O meio ambiente está adoecido,
assim como nós, atingidos. A violência aumentou muito e hoje não temos mais
segurança de viver como vivíamos antes do crime bárbaro, premeditado e repetitivo da
Vale”, relata Eliana.
A pescadora ainda afirma que os atingidos têm dificuldade de acessar até mesmo o valor
do acordo destinado às indenizações e auxílios individuais.
“A empresa criminosa entrou no território e o dividiu. Para alguns, ela não negou o
auxílio, mas a grande maioria não teve acesso ao direito. Além disso, até hoje a Vale não
pagou a indenização”, denuncia.
Reparação ou propaganda?
A dura realidade relatada pelas famílias não é a mesma transmitida pela Vale e pelo
governo de Minas nos programas de televisão e rádio. Para Fernanda, do MAB, a
reparação que está em curso é a “reparação da propaganda”.
“Ao mesmo tempo em que nega direitos, [a Vale] não reconhece os atingidos e terceiriza
a responsabilidade para outras executoras. Faz muita propaganda de obras e programas
sociais, sem reparar os danos individuais, coletivos e ambientais”, avalia.
3/4
Do total de quase R$ 40 bilhões, o anexo 1.3 do acordo garante R$ 2,5 bilhões para
projetos de políticas públicas nos municípios ao longo da bacia do Paraopeba e da
represa de Três Marias, e o anexo 1.1 destina R$ 3 bilhões para projetos voltados às
comunidades atingidas.
Além do baixo valor, os atingidos relatam que para participarem do processo de definição
da destinação do recurso são enfrentados uma série de desafios.
“Para a garantia do recurso do anexo 1.3 para obra de interesses dos atingidos, por
exemplo, tivemos de enfrentar propostas que iriam beneficiar empresários. Chegou a ir
para votação, graças a Deus não passou. Também enfrentamos segundas intenções de
políticos”, relata Francisco Hélio dos Santos, membro da Comissão de Atingidos de São
José do Buriti, distrito de Felixlândia.
“Mais de 20 pessoas quando foram votar constavam que já tinham votado. Eu chamei a
Polícia Militar e fiz um boletim de ocorrência, para caso houvesse algum problema”,
conta.
O outro lado
Procurado pela reportagem para comentar sobre o tema, o governo de Minas enviou
uma nota, por meio da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag). No
texto, é reforçado que as instituições de Justiça também participaram da construção do
acordo de reparação aos danos provocados pelo rompimento da barragem da Vale, em
Brumadinho, e que o Termo de Reparação tem como “o foco principal as comunidades e
as pessoas atingidas”.
4/4