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3.

2 INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DOS REAGENTES NO EQUILÍBRIO QUÍMICO

Foi verificada a coloração da solução obtida da mistura de 40 mL de solução de KSCN


(tiocianato de potássio) 0,01 mol/L (obtida pela diluição de 1:2 de 20 mL de uma solução de
KSCN 0,002 mol/L, de coloração incolor) – a qual foi vertida em um béquer de 50 mL, antes da
mistura – com 1,0 mL de solução de FeCl3 (cloreto férrico), cuja coloração era amarela. A
coloração dessa solução mistura apresentou aspecto laranja – tal cor revela a coloração do
complexo [FeSCN]2+, indicando o equilíbrio da reação 2, havendo velocidades iguais para ambos
os sentidos. Enfatiza-se que em cada um dos 4 tubos de ensaio tratados a seguir havia,
inicialmente, 4,0 mL da solução mistura em questão.

Fe3+ (aq) + SCN- (aq) ⇌ [FeSCN]2+ (aq) (Reação 2)

Fe3+ (aq) + 2SCN- (aq) ⇌ [Fe(SCN)2]+(aq) (Reação 3)

Após a adição de 4 gotas de solução de KSCN 0,10 mol/L ao tubo de ensaio 2, a coloração
do sistema teve seu tom intensificado (quando comparado ao tubo 1, que continha solução em
equilíbrio). Isso foi um indicativo de que a maior velocidade da reação ocorreu no sentido direto,
com a provável formação de [Fe(SCN)2]+ (como demonstra a reação 3), com exibição de
coloração vermelho alaranjado. Portanto, com a adição de solução de KSCN (que, em sistema
aquoso, está dissociado em K+ e SCN-) ao sistema, há consumo da espécie SCN-, para reduzir
parcialmente a concentração desta que foi aumentada, em busca de um novo estado de
equilíbrio químico. Com isso, é formado um complexo de coloração mais intensa (por possuir
mais SCN-). Por isso, o sistema passa a apresentar coloração mais forte.

Dosadas 4 gotas de solução de cloreto férrico (FeCl 3) 0,10 mol/L no tubo de ensaio 3, a
coloração do sistema passou a ser um vermelho alaranjado de tom menos intenso que o
observado no tubo 2, após a perturbação que este sofreu. Essa alteração foi, provavelmente,
decorrente do aumento da velocidade da reação 2 no sentido direto, para que houvesse
consumo parcial do íon Fe3+ (oriundo da solução de cloreto férrico adicionada – em solução
aquosa, FeCl3 se dissocia em Fe3+ e 3Cl- e, por isso, há aumento da concentração de Fe3+), a fim
de atingir novo estado de equilíbrio. Assim, o provável complexo formado era [FeSCN] 2+, numa
concentração maior que na situação inicial de equilíbrio, o que pode justificar a coloração
vermelho alaranjado menos intensa que a observada no tubo 2 após perturbação, porém mais
intensa que a observada no tubo 1 (que se encontrava em estado de equilíbrio).

Considerando o produto da reação entre cloreto férrico e tiocianato de potássio,


destaca-se que a composição dele “depende principalmente das quantidades relativas de ferro
e de tiocianato presentes” (VOGEL, 1981, p. 274). Assim, podem ser formados complexos
distintos, como [FeSCN] 2+, [Fe(SCN)2]+, [Fe(SCN)4] - , [Fe(SCN)5] 2- e [Fe(SCN)6] 3-. Com base nisso,
infere-se que a baixa concentração de KSCN (0,01 mol/L) que foi misturada à solução de FeCl 3,
no preparo da solução no béquer, interferiu na coloração do produto formado com a reação que
passou a ocorrer após essa mistura (sendo formado o menor complexo que poderia ser obtido
com tal reação, [FeSCN] 2+, tendo este coloração menos intensa), obtendo-se a coloração de
equilíbrio do sistema em observação (laranja).

Utilizando esse mesmo raciocínio, a justificativa para a solução apresentar coloração


vermelho alaranjado mais intenso após a adição de KSCN ao sistema, quando comparado com
o vermelho alaranjado exibido após a adição de FeCl3, é que há a substituição dos ligantes do
aquoíon [Fe(H2O)6]3+ (formado após hidrólise do cátion Fe3+), sendo as moléculas de H2O
substituídas por SCN-, formando um complexo com mais SCN- ([Fe(SCN)2]+) no caso do aumento
de KSCN do meio. Assim, a concentração de SCN- está associada a diferentes graus de
substituição dos ligantes H2O por SCN-, o que causa a mudança na intensidade da cor da solução.
O mesmo não ocorre quando se adiciona FeCl3 ao sistema, visto que este não aumenta a
concentração de íons tiocianato do meio.

Acrescentado um pequeno cristal de cloreto de potássio (KCl) ao tubo de ensaio 4, não


foi observada mudança na coloração da solução presente neste tubo (quando comparado ao
tubo de referência, que era o tubo 1, o qual continha o sistema em equilíbrio químico). Assim,
conclui-se que os íons K+ e Cl- (existentes nessa forma pois o sistema era aquoso) não exerceram
influência no equilíbrio químico, por serem íons espectadores – por este motivo, também não
foram representados nas reações 2 e 3, que apresentam equações iônicas do sistema.

No item “anexos”, a tabela 2 apresenta os resultados discutidos acima.

3.3 EQUILÍBRIO CrO4 2- /Cr2O7 2-

As soluções de K2Cr2O7 (dicromato de potássio) e K2CrO4 (cromato de potássio)


possuem colorações laranja e amarelo, respectivamente. Tais cores são decorrentes dos ânions
formados na dissociação desses compostos em solução aquosa – Cr2O7 2- (íon dicromato) e
CrO4 2- (íon cromato) –, que as apresentam.

Assim, havia dois tubos de ensaio relacionados a esse experimento: o tubo 1 (contendo
2,0 mL de solução de K2Cr2O7 0,10 mol/L, de coloração laranja) e o tubo 2 (que continha 2,0 ml
de solução de K2CrO4 0,10 mol/L, de cor amarela). As conversões de cromato em dicromato e
vice-versa, tratadas abaixo, são possíveis devido à reversibilidade da reação que envolve esses
dois ânions.

Reação ocorrida ao ser adicionado NaOH (meio básico):

2 CrO₄²¯ + H₂O ⇌ CrO₇²¯ + 2OH¯ (Reação 4)

Reação ocorrida ao ser adicionado HCl (meio ácido):

2 CrO₄²¯ + 2H⁺ ⇌ CrO₇²¯ + H₂O (Reação 5)

Após 8 gotas de solução de hidróxido de sódio (NaOH) de concentração 1,0 mol/L terem
sido adicionadas, uma a uma (alternadamente) – havendo homogeneização a cada adição – a
cada tubo de ensaio, a coloração da solução contida no tubo 1 (dicromato de potássio) foi
modificada de laranja para amarelo. Enquanto isso, a solução do tubo 2 (cromato de potássio)
teve sua cor amarela mantida.

Dessa forma, depreende-se que a reação 4 foi deslocada no sentido inverso, de consumo
parcial da concentração de hidroxila (OH¯) que foi adicionada (uma vez que NaOH em solução
aquosa se dissocia em Na⁺ e OH¯), havendo conversão de íons dicromato em cromato (como
demonstra e reação 3). Então, em meio básico (pH acima de 6,0) passou a haver predominância
do ânion cromato (CrO4 2-), cuja coloração é amarela. Isso ocorre porque o íon cromato
apresenta maior estabilidade em soluções básicas e, assim, a concentração dele é maior nesse
tipo de solução, fazendo com que o meio adquira a cor desse ânion (amarelo).

Após esse experimento, um novo foi realizado. Adicionadas 6 gotas de ácido clorídrico
(HCl) 0,10 mol/L em cada tubo (havendo homogeneização e adição alternada de gotas), a
coloração da solução de dicromato de potássio (contida no tubo 1) voltou a ser laranja; não
houve alteração na cor da solução de cromato de potássio, presente no tubo 2. Entretanto, após
ser realizada a adição de mais 7 gotas da solução de HCl 0,10 mol/L ao tubo 2, a solução presente
neste tubo apresentou cor laranja.

Portanto, entende-se que, em solução ácida (pH abaixo de 6,0) – propiciada pela adição
de ácido clorídrico (HCl), o qual, em solução aquosa, libera íons H ⁺ que acidificam o meio –, a
espécie predominante é o ânion dicromato (CrO₇²¯). Isso ocorre porque os íons dicromato são
mais estáveis em meio ácido.

Houve, no tubo 1, a conversão dos íons cromato (que após a adição de NaOH eram
predominantes) em íons dicromato, cuja coloração é laranja. Destaca-se que foi necessária a
adição de 13 gotas de solução de ácido clorídrico (HCl) ao tubo de ensaio 2 (em comparação
com o tubo 1, que recebeu 6 gotas), até que a cor da solução fosse modificada para laranja, pois
esse meio estava mais alcalino (sendo necessária, portanto, a neutralização e posterior
acidificação). Em ambos esses últimos casos, houve o deslocamento da reação 5 no sentido
direto, de consumo parcial da concentração de íons H⁺ que foi adicionada ao meio, havendo
produção de CrO₇²¯ (dicromato).

Na tabela 3, indexada no item “anexos”, podem ser encontradas as relações das


informações discutidas neste último item de discussões.

4. CONCLUSÕES

Com esta prática, puderam ser identificados (qualitativamente) deslocamentos de


equilíbrio em diferentes sistemas, com a observação dos efeitos que perturbações distintas
(relacionadas a concentrações de reagentes e temperatura) causavam às reações consideradas.

Portanto, reconheceu-se que, após sofrer uma influência externa, um sistema que
estava em equilíbrio químico sai desse estado, mas busca atingir um novo estado de equilíbrio,
“fazendo o inverso da perturbação”. Sendo assim, o princípio de Le Chateliêr foi comprovado e
observado nos experimentos realizados.

5. BIBLIOGRAFIA

VOGEL, A.I. Química Analítica Qualitativa. Editora Mestre Jou. 5ª edição, 1981. p.30; p. 31; p.
274; p. 282.
6. ANEXOS

Tabela 1. Alteração de temperatura no sistema.

Tubos Temperatura aproximada (em ºC) Coloração


1 25 Violáceo
Etapa 1
2 100 Azul
3 0 Rosa
Etapa 2
2 0 Rosa
3 100 Azul

Tabela 2. Adição de reagentes ao sistema

Tubos Ensaio Coloração do sistema


1 Padrão Laranja
2 Adição de KSCN Vermelho alaranjado mais intenso
3 Adição de FeCl3 Vermelho alaranjado menos intenso
4 Adição de KCl Laranja

Tabela 3. Predominância de íons CrO4 2- ou Cr2O7 2-

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