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Resumo
Pouco material têm se produzido acerca da temática “luto perinatal”, apesar do alto
onde foram selecionados 7 estudos para análise. As intervenções elencadas nesta revisão
Abstract
Little material has been produced on the theme of perinatal mourning, despite the high
rate of gestational and neonatal deaths. Therefore, the present study aimed to list the possible
psychotherapeutic interventions for this type of mourning. This is a scope review based on
the Joanna Briggs Institute methodology and the PRISMA recommendation. PubMed and
Google Scholar databases were used, where 7 studies were selected for analysis. The
Resumen
Poco material se ha producido sobre el tema del duelo perinatal, a pesar de la alta tasa
de muertes gestacionales y neonatales. Por lo tanto, el presente estudio tuvo como objetivo
enumerar las posibles intervenciones psicoterapéuticas para este tipo de duelo. Esta es una
PRISMA. Se utilizaron las bases de datos PubMed y Google Scholar, donde se seleccionaron
evidencia de efectividad y pueden ser consideradas para la práctica clínica, observando las
Introdução
neonatal até 28 dias de vida (Woods & Woods, 1997). Segundo o Painel de Mortalidade
Infantil do Ministério da Saúde (2021) ocorreram, no ano de 2021, 74.010 óbitos fetais e
neonatais. Diante desta informação, ressalta-se sobre a importância de um olhar mais acurado
aos pais que estão na condição de luto em virtude destas perdas (Mercer, 2002) .
No que diz respeito a experiência da perda, Doka (2016) pontua que todos que
experimentar as emoções relacionadas ao luto. Na verdade, luto e amor são dois conceitos
que caminham juntos, de acordo com Parkes (2022). O entendimento do luto é ampliado
quando se analisa a natureza do ato de se vincular e de se ter afeto, haja vista que o luto se
apresenta como o resultado de um vínculo que se formou durante a vida (Parkes, 2022).
são considerados normais após o falecimento de alguém cujo afeto se fazia presente (Worden,
2013). Worden (2013) destaca que existe um padrão no que se refere às características do luto
professora Maria Helena Franco (2000). Tais aspectos fazem emergir sentimentos profundos
e singulares que são carregados durante um longo período de tempo e que causam impacto
não somente no âmbito individual, mas também no ambiente familiar e social (Franco, 2000).
O luto ocorre de forma individual, ou seja, é uma experiência que ocorre de pessoa
para pessoa. Apesar da presença dos sentimentos pesados e intensos, o luto é uma
(Luz, 2021).
tonalidades e, além disso, se misturam. Além disso, o autor pontua que o luto traz consigo
outros tipos de perda além da própria pessoa que se despediu. Isso significa que a perda
influenciava o seu entorno. Dá-se o nome de “perda secundária” para esta visão de luto
(Parkes, 1998).
A luz dos conceitos supracitados, verifica-se que o luto é uma experiência natural de
um indivíduo que sofreu com o rompimento de um vínculo afetivo. Contudo, em alguns casos
esta experiência pode não encontrar espaços para processamento. Para estas situações,
Diante desta realidade, algumas perdas não são validadas e o luto não é experimentado e
processado corretamente. Como consequência, muitas pessoas não são assistidas
adequadamente, uma vez que muitos profissionais não observam a necessidade de realizar
precisam de um espaço para vivência são escanteados e deixadas de lado. Sendo assim, a
experiência do luto torna-se uma caminhada solitária e sem o devido auxílio para este
percurso e, além disso, o próprio enlutado percebe-se como indigno para ter sentimentos
alheio e trata-se do fracasso de uma sociedade que não se permite olhar para o sofrimento
enquanto uma experiência singular e multifatorial. Além disso, trata-se do não exercício de
validar e acolher sofrimentos que são genuínos, autênticos e importantes para quem vive. Ao
contrário, tais aspectos são ignorados e não tratados corretamente (Casellato, 2015).
No caso do luto perinatal, a morte do bebê é negada, segundo Iaconelli (2007), uma
vez que para os outros tipos de morte, existem rituais e tratativas que atribuem a esta perda o
status de morte: o corpo é vestido, limpo e velado em uma cerimônia. Contudo, para
recém-nascidos falecidos isto não é oportunizado da mesma forma pois os pais não são
consultados no que tange aos rituais que podem ser criados (Iaconelli, 2007). A escuta a estes
enlutados não ocorre da mesma forma, como se estes não tivessem perdido um filho(a). Na
verdade, o que se registra é exatamente isso: o que se perdeu foi a gestação e não um filho(a)
(Iaconelli, 2007).
Neste cenário, se estabelece uma condição de trauma para aqueles que vivem o luto
perinatal, haja vista que a dor ocasionada pela perda não encontra espaço para ser vivida
(Iaconelli, 2007). É um cenário de não compreensão, onde a ordem natural da vida não se
observa, pois o que ocorreu foi a partida de um filho antes do próprio pai (Iaconelli, 2007).
Diante desta realidade, Iaconelli (2007) destaca a importância dos pais enlutados participarem
abordado, principalmente, as formas de intervenção para aqueles que passam pelo luto
Método
pesquisas no que se refere a intervenções em luto perinatal. O presente estudo foi realizado
com base nos Principais Itens para Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-análises: a
terapêuticas para o luto perinatal? Diante desta questão, discorreu-se sobre as intervenções
que contemplem intervenções para o luto perinatal. Foram incluídos artigos, não
limite temporal, elegeu-se estudos que estivessem no período de 2012 a 2022 e não houve
estratégia de busca, a pesquisa foi realizada com o descritor “Perinatal Grief Intervention” na
PubMed. No Google Acadêmico, utilizou-se o mesmo descritor, com o filtro “no título do
artigo” selecionado.
A extração dos elementos mais importantes de cada estudo foi sistematizada em uma
planilha do Google Docs, para a organização dos artigos. Considerou-se para esta planilha os
aceitação ou não do estudo), objetivo do estudo, desenho, período gestacional cuja perda
Tabela 1
Nível de evidência e Grau de Recomendação
NÍVEL DE EVIDÊNCIA GRAU DE RECOMENDAÇÃO
1.a – Revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados
controlados.
Nível 1: Estudos 1.b – Revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados
experimentais controlados e outros desenhos de estudo.
1.c – Ensaio clínico randomizado controlado.
1.d – Pseudo ensaio clínico randomizado controlado
2.a – Revisão sistemática de estudos quase experimentais.
Nível 2: Estudos quase 2.b – Revisão sistemática de estudos quase experimentais e
experimentais outros desenhos de menor evidência.
2.c – Estudo prospectivo controlado quase experimental.
2.d – Pré-teste e pós-teste ou estudo de grupo controle
histórico/retrospectivo.
3.a – Revisão sistemática de estudos de coortes comparáveis.
3.b – Revisão sistemática de coortes comparáveis e outros
Nível 3: Estudos analíticos desenhos de estudo de menor evidência.
observacionais 3.c – Estudo de coorte com grupo controle.
3.d – Estudo caso controle.
3.e – Estudos observacionais sem um grupo controle
4.a – Revisão sistemática de estudos descritivos.
Nível 4: Estudos descritivos 4.b – Estudo transversal.
observacionais 4.c – Séries de casos.
4.d – Estudo de caso
Resultados
todos foram lidos na íntegra. Após análise, 7 artigos foram excluídos em virtude de não
estarem dentro dos critérios de elegibilidade, uma vez que apresentaram intervenções não
prático da técnica psicoterápica. Por fim, obteve-se um total de 7 estudos elegíveis para a
Analisar a
Mindfulness-based
eficácia de uma
intervention for
intervenção
perinatal grief in rural Roberts et al. Quali -
EUA baseada no Mindfulness 2.C
India: improved mental (2016) Quantitativo
Mindfulness
health at 12 months
adaptada a
follow-up
cultura indiana
Mindfulness-based Analisar a
Intervention for eficácia de uma
Perinatal Grief intervenção
Roberts et al. Quali -
Education and EUA baseada no Mindfulness 2.C
(2016) Quantitativo
Reduction among Poor Mindfulness
Women in Chhattisgarh, adaptada a
India: a Pilot Study cultura indiana
Características das Publicações
Intervenções
Rocha, J., Nunes et al (2018) retrata a intervenção da terapia cognitiva narrativa para
mulheres que precisaram interromper a gravidez devido a uma condição clínica. O prisma
utilizado na referida terapia refere-se ao conjunto de histórias que lançam a base e tornam-se
centraliza sua atuação nas narrativas destas histórias bem como o significado atribuído a elas
(Morgan, 2006). Busca-se analisar quais são as histórias “rasas” e “superficiais" relatados
pelos pacientes, a fim de analisar, sob a luz de outras histórias, conclusões alternativas para
Escala Zung e a Escala de Luto Perinatal, nos primeiros 15 dias após a interrupção. A
avaliação foi repetida 06 meses após a perda. De forma geral, a intervenção se mostrou
TERAPIA INTERPESSOAL
considera este aspecto como um dos principais fatores para problemas psíquicos. Sob o
conflitantes, a fim de abrir novos vínculos que possibilitem ao sujeito sair de um estado de
estruturou a intervenção com o objetivo de: 1. saber administrar a reação dos outros quanto a
explorar possibilidades de dar continuidade ao vínculo com o filho que faleceu (Johnson et
al., 2016).
temáticas a seguir foram abordadas em, pelo menos, três oportunidades: 1. Os sentimentos do
luto; 2. Entender o que aconteceu; 3. Atravessar o luto com os outros; 4. Honrar a memória
controle cuja terapia adotada abordou a “Coping With Depression” que, basicamente, aborda
Medical Professionals Providing Care, que é uma cartilha criada pelo US Departament of
Health Resources and Services Administration com instruções e princípios para situações de
luto perinatal .
sugere os seguintes princípios para intervenção com mães que estiveram neste contexto: 1.
Atender a pedidos especiais da mãe, como, por exemplo, batismo ou orações. 4. Conceder um
pacote de sementes para a paciente levar para casa; 5. Conceder um urso de pelúcia macio; 6.
Demais recordações físicas do bebê que partiu; 7. Realização de uma cerimônia de nomeação
2015).
grupo de intervenção foram comparados a um grupo de pacientes cuja perda foi tratada
apenas com cuidados para dor física. Constatou-se que os aspectos “luto ativo” e “dificuldade
houve a constatação de um escore menor para o grupo de intervenção (Johnson et al., 2015).
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL
da TCC clássica a 5 mulheres que sofreram perda perinatal. Segundo Rangé (2011), a terapia
consiste em apresentar ao enlutado sobre o que se esperar para o percurso do luto. Neste
readaptar o sujeito em sua rotina de vida (Rangé, 2011). Para tanto pondera-se a criação de
rituais de despedida e transição (cartas de despedida, etc). Além disso, visa-se monitorar os
(Rangé, 2011).
sentimentos e emoções; VII - Exposição com avaliação de outras narrativas para a perda; VIII
possui grupo controle para comparação. Os resultados foram analisados através do Perinatal
Grief Scale que demonstrou redução nos sintomas de luto para alguns participantes. Contudo,
quantidade de sessões para a prática clínica desta intervenção (Bennett, S. M et al, 2012).
MINDFULNESS
Trata-se de uma técnica que visa auxiliar o enlutado(a) a plena atenção ao presente e
no aqui e agora. Nossa mente atenta-se em situações passadas e em aspectos futuros que, se
Discussão
Este estudo veio corroborar com a temática luto perinatal e lutos não reconhecidos,
haja vista que contempla possíveis intervenções para enlutados(as) que não possuem
validação social para a vivência deste processo crucial da existência humana. As intervenções
contempladas neste estudo englobam técnicas para diferentes contextos e situações. Além
que contemplem intervenções para o luto perinatal. Na presente revisão, foram selecionados
apenas 7. Provavelmente, esta realidade esteja atrelada ao fato do luto perinatal estar dentro
das perdas que não são reconhecidas socialmente. Doka (2016) salienta que as perdas não
reconhecidas socialmente, como o luto perinatal, não possuem espaço para que haja a
emoções que partem de uma quebra de afeto não encontram reconhecimento, validação e
acolhimento dentro de uma sociedade que não reconhece certas perdas (Doka, 2016).
Identificou-se três estudos com máximo nível de evidência - 1.C, isto é, experimentos
acerca do agonizante processo do luto. Isso ocorre por intermédio de uma revisão das
“histórias” ocorridas em relação ao luto bem como uma reflexão mais aprofundada das
mesmas (Rocha et al., 2018). Neste interím, Rangé (2012) destaca a necessidade de
seguir em frente.
desenvolvimento de uma conexão com a pessoa que faleceu. Importante ressaltar que a
intervenção retratada nesta revisão foi aplicada em grupo (Johnson et al., 2016), o que
contribui para uma validação das dores e sofrimentos em conjunto com outras pessoas que
enfrentam este mesmo processo, haja vista que trata-se de um luto não reconhecido
socialmente. Desenvolver e manter uma conexão duradoura com quem partiu é um elemento
de grande importância para a psicoterapia do luto e trata-se de uma das tarefas do luto
Providing Care (Johnson et al., 2015) traz a luz a aplicação de um protocolo no contexto de
isto é 2.C, segundo a classificação da JBI, pois não possuem grupo controle para comparação
de resultados. No entanto, consolidam técnicas elementares para o contexto clínico, uma vez
Considerações Finais
cujo reconhecimento social não acontece. Em outras palavras, os pais cujo filho(a) faleceu
necessário para o enfrentamento deste momento. Esta realidade ocorre devido aos
estereótipos socialmente construídos, haja vista que, nesta situação, não se reconhece o luto
como a criação de um vínculo e, neste sentido, o vínculo gestacional não é suficiente para que
os pais passem pelo momento do luto. Na realidade, os pais enlutados são forçados a
Além disso, a literatura oferece poucas opções para intervenções a esta classe de
enlutados. Pouco se fala sobre este assunto quando o assunto perda gestacional é
mencionado. Na realidade, o que prevalece são os estereótipos sociais do tipo: “você é muito
nova(o), ainda pode ter outros filhos”, “pelo menos você não teve tanta convivência” ou,
contexto onde os mesmos também tornam-se não conhecedores desta temática, o que revela a
apresenta algumas intervenções que podem auxiliar na prática clínica no contexto de luto
perinatal. Neste sentido, as intervenções aqui apresentadas podem ser melhor verificadas a
saúde estar ciente das peculiaridades do luto perinatal. Mais importante ainda, destaca-se a
luto perinatal.
profissional, a fim de criar um espaço com maior entendimento e empatia para com o
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