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A constitucionalização do Direito Administrativo é um fenômeno que se caracteriza pela aplicação dos

princípios e valores constitucionais à interpretação e à atuação da Administração Pública. Esse


movimento implica uma releitura dos institutos e conceitos tradicionais do Direito Administrativo, como
a supremacia do interesse público, a legalidade estrita, a discricionariedade e a presunção de
legitimidade dos atos administrativos.

Neste artigo, pretendemos analisar as causas, as consequências e os desafios da constitucionalização do


Direito Administrativo, bem como as suas implicações para o processo administrativo e o serviço público.
Para isso, utilizaremos como referência os estudos de autores como Paulo Bonavides, Celso Antônio
Bandeira de Mello, Gustavo Binenbojm, entre outros.

## Causas da constitucionalização do Direito Administrativo

A constitucionalização do Direito Administrativo é um reflexo das transformações ocorridas no Estado e


na sociedade ao longo do século XX. Entre essas transformações, podemos destacar:

- A crise do Estado liberal e do positivismo jurídico, que levou à superação da ideia de que a Constituição
era apenas uma declaração política de direitos e que a lei era a única fonte do direito.

- A ascensão do Estado social e do constitucionalismo democrático, que conferiu à Constituição uma


força normativa e uma superioridade hierárquica sobre as demais normas jurídicas, bem como
reconheceu a existência de direitos fundamentais de segunda e terceira geração, relacionados aos
direitos sociais, econômicos e culturais e aos direitos de solidariedade.

- A expansão das funções administrativas do Estado, que passou a intervir mais intensamente nas
relações sociais e econômicas, assumindo novos papéis como regulador, fomentador, prestador de
serviços públicos e promotor do desenvolvimento.

- A exigência de maior participação popular e controle social sobre a atuação estatal, que implicou uma
maior democratização da Administração Pública e uma maior transparência e accountability dos agentes
públicos.

Esses fatores levaram à necessidade de adequar o Direito Administrativo aos princípios e valores
consagrados na Constituição, bem como de garantir a efetividade e a concretização dos direitos
fundamentais nas relações jurídico-administrativas.
## Consequências da constitucionalização do Direito Administrativo

A constitucionalização do Direito Administrativo trouxe diversas consequências para o ordenamento


jurídico-administrativo, entre as quais podemos citar:

- A redefinição da ideia de supremacia do interesse público sobre o interesse privado, que deixou de ser
entendida como uma prerrogativa absoluta da Administração Pública para se tornar um princípio que
deve ser ponderado com os direitos fundamentais dos administrados. Assim, o interesse público passou
a ser concebido como o resultado da harmonização dos interesses individuais e coletivos envolvidos na
relação jurídica administrativa.

- A superação da clássica concepção do princípio da legalidade como vinculação positiva do


administrador apenas à lei formal, para abranger também a vinculação negativa à Constituição e aos
seus princípios. Desse modo, o administrador não pode agir contra legem (contra a lei), mas também
não pode agir praeter legem (além da lei) ou infra legem (abaixo da lei), devendo respeitar os limites
materiais impostos pela Constituição.

- A possibilidade de controle judicial do mérito do ato administrativo e sua motivação, que decorre da
exigência de conformidade dos atos administrativos com os princípios constitucionais. Assim, o juiz pode
verificar se o ato administrativo foi praticado com proporcionalidade, razoabilidade, moralidade,
impessoalidade, entre outros critérios. Além disso, o administrador deve motivar

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