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A BUSCA E APREENSÃO DE LIVROS NA XIX BIENAL DO

LIVRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: a


inconstitucionalidade do ato
Pedro Henrique Campos Hablich1
Aline Andrighetto2

No dia 05 de setembro de 2019, o então prefeito do Rio de Janeiro,


Marcelo Crivella, determinou o recolhimento de revistas em quadrinhos que
mostravam uma imagem de dois homens se beijando, na XIX Bienal do Livro
da cidade. A alegação do político para tal ato foi a de que apenas cumpria com
o previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente quando a revista, que
encontrava-se lacrada, não exibia aviso de conteúdo impróprio. O objetivo do
presente estudo é avaliar a atitude do prefeito e confrontá-la com o
entendimento trazido pelo Estatuto citado, legislação vigente e principalmente
pela Constituição Federal. O ponto central da presente questão gira em torno
do art. 78 do Estatuto da Criança e do Adolescente que exige que as
publicações contendo material impróprio devem estar com avisos deste
conteúdo. Acontece que a discussão torna-se muito mais moral do que
legislativa, dividindo opiniões entre quem acha uma simples ilustração de um
beijo entre pessoas do mesmo sexo algo inapropriado e quem não acha. A
metodologia utilizada foi a de revisão bibliográfica na legislação já citada, além
da análise das ações promovidas pelos envolvidos que tramitaram no Tribunal
de Justiça do estado do Rio de Janeiro e até mesmo no Supremo Tribunal
Federal. Os resultados da pesquisa demonstram que para entender o cerne do
problema é necessário um entendimento mais complexo da Constituição
Federal, principalmente de seus princípios, do que uma simples aplicação de
um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente. Tal mera aplicação
resultaria em infração ou não, dependendo da opinião pessoal de quem a
aplica sobre o conteúdo ali mostrado. Desta forma, princípios constitucionais
como o da liberdade, dignidade da pessoa humana, igualdade, entre outros,
devem ser aplicados à questão para entender que o ato demonstrado na
ilustração simboliza algo presente no cotidiano de todas as pessoas, incluindo
crianças e adolescentes, e não é considerado impróprio. O fato de não haver o
mesmo recolhimento de demais livros que trazem um simples beijo entre um
homem e uma mulher e não exibem um aviso de conteúdo impróprio (muito
menos estão lacrados) demonstra que a motivação para o ato do prefeito se
deu não pela ilustração, mas sim por esta ser entre duas pessoas do mesmo
sexo. Desta forma conclui-se que a motivação, por mais que tenha sido
justificada pela legislação, foi moral e, portanto, completamente em desacordo
com os princípios constitucionais, podendo até mesmo ser caracterizada como
censura, prática proibida (principalmente em se tratando de manifestação
artística) de acordo com o inciso IX, art. 5º e parágrafo segundo do art. 220 da
Constituição Federal. Sendo o ato do prefeito completamente inconstitucional,
corretas foram as decisões do STF na Suspensão de Liminar 1248 e na
Reclamação 36742, suspendendo a liminar do Tribunal de Justiça do estado do

1
Graduando do curso de Direito – UNICNEC.
2
Professora orientadora – UNICNEC.
X Mostra Integrada de Iniciação Científica – UNICNEC - 2019 Pág. 107
Rio de Janeiro que permitia a busca e apreensão dos livros, garantido assim a
livre manifestação artística e o direito de todos de amar.

Palavras-chave: Homofobia, Censura, Direito Constitucional, Estatuto da


Criança e do Adolescente.

X Mostra Integrada de Iniciação Científica – UNICNEC - 2019 Pág. 108

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