Carl Menger Léon Walras Alfred Marshall Contextualização O período entre meados da década de 1840 e 1873 foi um período de rápida expansão econômica em quase toda Europa. A industrialização se fazia presente tanto na Europa continental quanto nos Estados Unidos. A Inglaterra passou por um surto de crescimento industrial, com a indústria pesada e, principalmente, a indústria de bens de capital sendo a mais dinâmica. Em toda esfera capitalista do Atlântico Norte, esse rápido crescimento industrial foi acompanhado de um grau cada vez maior de concentração de capital. De poder industrial e de riqueza. No início da década de 1870, o capitalismo estava começando a assumir uma forma modificada - um sistema econômico dominado por centenas ou milhares de empresas colossais nas esferas importantes da indústria, das finanças, dos transportes e do comércio. Contextualização As relações sociais entre as pessoas, nessa nova forma de capitalismo, começaram a assumir duas formas bastante distintas. Na empresa gigantesca, as relações sociais assumiram um forma hierárquica e burocrática. As corporações eram organizações sociais piramidais, nas quais cada estrato era rigidamente controlado e coordenado pelo estrato acima dele. Todos os atos individuais ou processos econômicos e produtivos dentro da empresa era integrados e coordenados de modo racional, calculado. O objetivo dos capitalistas permanecia inalterado: maximização do lucro e a acumulação de capital. Economia Neoclássica
A denominada revolução marginalista ocorreu em torno de 1870, e foi produto da
publicação quase simultânea das obras de três pensadores: Willam Stanley Jevons (Inglaterra), Léon Walras (Suíça) e Carl Menger (Áustria). Essas obras lançaram os fundamentos teóricos e metodológicos da atual ciência econômica. Do ponto de vista metodológico, a mais destacada ideia é a de que o discurso econômico deve ser pautado pela matemática para que a ciência econômica possa, de fato, aspirar a ser conhecimento científico. Tal reivindicação é proeminente em Jevons e Walras. O primeiro chega a afirmar que a ciência é um ramo da matemática e sugere a alteração de seu nome Political Economy (Economia Política) para Economics (Economia), próximo às denominações de outras ciências naturais como Physics (Física), Mathematics (Matemática). E é assim que a Ciência Econômica é conhecida hoje: Economia. Economia Neoclássica O Neoclassicismo apresentou-se sob a forma de importantes escolas, dentre as quais se destacaram: a Escola de Viena ou Escola Psicológica Austríaca, a Escola de Lausanne ou Escola Matemática, a Escola de Cambridge e a Escola Sueca. Jevons, Menger e Walras, considerados fundadores da Escola Neoclássica, explicaram de maneira lógica e independente a interdependência das atividades econômicas, dando à Economia uma estrutura científica não alcançada pelos teóricos do liberalismo econômico. Apoiados, principalmente nos autores Thünen, Gossen e Cournot, que deram início à substituição do valor trabalho, pela perspectiva do valor utilidade, em Betham, Say e Senior, que reforçaram estes propósitos, Jevons, Menger e Walras tiveram, nos autores acima citados e em outros os fundamentos de suas doutrinas. A Teoria da Utilidade Marginal e da Troca, de Jevons. A Teoria da Utilidade justificou para Jevons a formação dos preços dos bens. As mercadorias têm valor de uso, por isto adquirem preços, e o valor de troca ou de preços possui o mesmo significado. Rejeitou o valor trabalho, incorporado ao preço da mercadoria, trabalhou com os conceitos de utilidade total e marginal e afirmou que os indivíduos extraem utilidades do consumo de mercadorias, para maximizarem suas satisfações. Jevons estava interessado apenas nos preços. Restringiu-se, convicta e orgulhosamente, sua análise econômica à esfera da circulação – ao mercado. As pessoas, para Jevons, só tinham duas características que as definiam como agentes econômicos: além do mais, todas as pessoas possuíam duas características. A primeira característica era que elas extraíam utilidade do consumo de mercadorias: “Qualquer coisa que um indivíduo deseje...tem de ser vista por ele como possuidora de utilidade” A Teoria da Utilidade Marginal e da Troca, de Jevons. A segunda característica era que todas as pessoas eram maximizadoras racionais e calculistas, e o comportamento de maximização racional e calculista era o único elemento da ação humana a ser estudado em economia: “Satisfazer as nossas ao máximo possível, com o mínimo de esforço – procurar obter a maior quantidade do que desejamos em troca do mínimo de coisas indesejáveis – em outras palavras, maximizar o prazer é o problema da Economia.”
O erro dos economistas anteriores – segundo Jevons – estava na incapacidade
de distinguirem a utilidade total extraída por uma pessoa através do consumo de uma certa quantidade de alguma mercadoria e o “grau final de utilidade” extraído pelo consumidor até o último pequeno incremento dessa mercadoria. A Teoria da Utilidade Marginal e da Troca, de Jevons. Embora muitas vezes, fosse verdade, que a utilidade total poderia continuar aumentando à medida que se fosse consumida uma quantidade maior da mercadoria, o “grau final de utilidade...acabaria diminuindo com o aumento da quantidade consumida”. Era nesse “grau final de utilidade” ou “utilidade marginal” que Jevons estava interessado. Esse princípio da utilidade marginal decrescente deveria tornar-se a pedra fundamental da redefinição neoclássica do utilitarismo. Se a utilidade total extraída do consumo de uma mercadoria dependia da quantidade consumida, isso podia ser expresso como uma função matemática: UT= 𝑓(𝑄) A Teoria da Utilidade Marginal e da Troca, de Jevons. A primeira derivada da função da utilidade total dá a utilidade marginal com qualquer quantidade consumida determinada. A função de utilidade total era maximizada quando a quantidade era aumentada a ponto de a utilidade marginal ser igual a zero. Isso significava apenas que, para maximizar a utilidade obtida com o consumo de determinada mercadoria, dever-se-ia consumir a mercadoria até se ficar saciado, isto é, até não se poder obter mais utilidade de outro pequeno incremento da mercadoria. O principal adendo de Jevons às ideias dos economistas utilitaristas anteriores pode ser resumida por suas próprias palavras: “A natureza da riqueza e do valor é explicada pela consideração de quantidades infinitamente pequenas de prazer e de dor” “Afirmo que todos os autores sobre Economia têm de ser matemáticos para poderem ser científicos”. A Teoria da Utilidade Marginal, dos Preços e da Distribuição da Renda, de Menger. A revolução mengeriana consistiu, essencialmente, no deslocamento da finalidade dos estudos econômicos quanto à preocupação com a riqueza (ou com a maneira como a riqueza é produzida, distribuída e consumida), típica dos autores clássicos, passando à análise econômica das necessidades dos homens, sua satisfação e valoração subjetiva dos bens. Constatou que os homens apresentam escalas de preferência decorrentes de motivos variados. Com base no estudo das escalas de preferência de um indivíduo em relação a vários bens, da consideração das limitações que a natureza impõe, do confronto das escalas de preferência dos sujeitos econômicos entre si, e de outros fatores, Menger procurou reconstruir a atividade econômica. A Teoria da Utilidade Marginal, dos Preços e da Distribuição da Renda, de Menger. Buscou Menger uma teoria do valor que explicasse a importância atribuída subjetivamente pelos indivíduos aos bens, fundamentando o valor sobre a utilidade de um bem que existe uma quantidade limitada (noção de margem) e sobre sua aptidão para satisfazer as necessidades dos agentes econômicos. Em sua teoria rejeitou o uso de equações matemáticas e expressou suas teorias verbalmente com o auxílio de exemplos numéricos. Sua descrição da utilidade total e da utilidade marginal era semelhante à de Jevons. Ilustrou o princípio com uma tabela numérica. A Teoria da Utilidade Marginal, dos Preços e da Distribuição da Renda, de Menger. Nº DE TIPO DE MERCADORIA UNIDADES I II III IV V VI VII VIII IX X CONSUMID AS 1 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 2 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 3 8 7 6 5 4 3 2 1 0 4 7 6 5 4 3 2 1 0 5 6 5 4 3 2 1 0 6 5 4 3 2 1 0 7 4 3 2 1 0 8 3 2 1 0 9 2 1 0 10 1 0 11 0 A Teoria da Utilidade Marginal, dos Preços e da Distribuição da Renda, de Menger. “Suponhamos que a escala da coluna I expresse a importância, para um indivíduos, da satisfação de sua necessidade de alimento, e que essa importância diminua de acordo com o grau de satisfação já atingido, e que a escala do volume V expresse, da mesma forma, a importância de sua necessidade de fumo. É evidente que a satisfação de sua necessidade de alimento, até um certo grau de saciedade, tem, sem dúvida, uma importância maior para esse indivíduo do que a satisfação de sua necessidade de fumo. Mas, se sua necessidade de fumo já estiver satisfeita até um determinado grau de saciedade (se por exemplo, uma satisfação maior ainda de sua necessidade de alimento só tiver, para ele, a importância cujo valor é 6), o consumo de fumo começa a ter para ele, a mesma importância que a maior satisfação de sua necessidade de alimento. O indivíduo, portanto, se esforçará, a partir deste ponto, para equilibrar a satisfação de sua necessidade de fumo e a satisfação de sua necessidade de alimento.” A Teoria da Utilidade Marginal, dos Preços e da Distribuição da Renda, de Menger. Menger explicou os preços com base na oferta e demanda. A perspectiva da utilidade via o processo de fixação de preços de modo inteiramente diverso: a oferta e a demanda determinavam os preços e eram, por sua vez, explicadas pela utilidade. Portanto, a utilidade era o determinante último dos preços dos bens de consumo. Os preços dos fatores de produção - terra, capital, trabalho- também eram determinados por sua oferta e demanda. Sua oferta era determinada pelos cálculos de utilidade, feitos por seus proprietários, e sua demanda era determinada por sua produtividade na geração de bens de consumo e pela utilidade obtida pelos consumidores através do consumo dessas mercadorias. Assim, de acordo com a perspectiva da utilidade, os salários, a renda da terra e os lucros eram, pelo menos parcialmente, determinados pelos preços dos bens de consumo. A Teoria da Utilidade Marginal, dos Preços e da Distribuição da Renda, de Menger. De seu princípio de utilidade marginal decrescente, Menger deduziu a lei da demanda: a quantidade de uma mercadoria que as pessoas estavam dispostas a comprar dependia do preço da mercadoria, e a quantidade demandada e o preço eram inversamente relacionados. A discussão de Menger sobre a oferta foi menos adequada. De modo geral, ele considerava a oferta uma quantidade preexistente, que já estava em mãos do vendedor. Este guiando-se pela maximização da utilidade, resolvia quais as quantidades que queria vender, a cada preço. A combinação dos desejos de comprar e de vender determinava os preços. A Teoria do Equilíbrio Geral de Walras. A contribuição mais importante e duradoura de Walras para a teoria econômica foi sua teoria do equilíbrio econômico geral. Teoria geral da determinação dos preços – todos os preços teriam de ser determinados simultaneamente, tanto pelo total das unidades e todos os consumidores quanto pelas inter-relações que existissem entre todos os mercados. O requisito puramente lógico para essa teoria do equilíbrio geral era (em todos os sistemas teóricos em que diversas variáveis desconhecidas têm de ser determinadas simultaneamente) que o número de variáveis desconhecidas fosse igual ao número de equações independentes a serem usadas na determinação das variáveis. Pela teoria do equilíbrio geral, de Walras, todos os preços e quantidades trocadas deveriam ser explicados. A Teoria do Equilíbrio Geral de Walras. Haviam três fatores institucionais importantes na teoria de Walras: Em primeiro lugar, vinha a aceitação das leis existentes da propriedade e de sua distribuição como moralmente justas. Neste caso, ele afirmou, simplesmente, que a propriedade é uma apropriação legalizada ou de conformidade com a justiça. Em segundo lugar, supunha que a economia fosse formada exclusivamente por firmas pequenas e relativamente sem poder e que existisse uma concorrência perfeita. Embora percebe-se que o princípio da livre concorrência não era aplicável de maneira generalizada aos monopólicos, ignorou inteiramente estes últimos, ao discutir o equilíbrio geral. Em terceiro lugar, simplesmente, partia do pressuposto de que as pessoas tinham curvas de utilidades marginais mensuráveis. Alfred Marshall Considerava a economia como o estudo da “humanidade nos negócios comuns da vida”, ou seja, ciência do comportamento humano e não ciência da riqueza. Diferentemente de seus contemporâneos neoclássicos, procurou tornar suas análises acessíveis ao grande público mediante um estilo simples e claro, evitando as exposições matemáticas. A complexidade do sistema econômico e a diversidade de motivos do comportamento humano levaram Marshall a criar técnicas para o estudo sistemático da economia, por meio da redução do número de variáveis a proporções manejáveis e da criação de um método de mensuração do comportamento. Assim como Jevons e Menger, Marshall formulou a noções de utilidade marginal decrescente e as condições necessárias para a maximização da utilidade do consumidor através da troca. Alfred Marshall A partir de Marshall determinou uma curva de demanda individual. A curva de demanda total por qualquer mercadoria era, simplesmente a soma das curvas de demandas individuais. “Toda queda, por menor que seja, do preço de uma mercadoria de uso geral aumentará suas vendas totais, mantendo-se inalteradas as outras coisas”. Quase todas as suas teorias eram análises de equilíbrio parcial, em que ele examinava apenas os mercados de todas as outras mercadorias, ignorando as interligações desses mercados e os mercados de todas as outras mercadorias. A maximização da utilidade, por meio de ajustes marginais de quantidades de mercadorias compradas e vendidas, era possível, pela teoria neoclássica, por causa da possibilidade de substituição de qualquer mercadoria por outras mercadorias. Se o preço de uma mercadoria aumentasse, o custo em que o consumidor teria de incorrer para obter utilidade dessa mercadoria aumentaria. Alfred Marshall Quando o custo de uma mercadoria aumentava, o consumidor substituía parte do consumo da mercadoria mais cara por quantidades de outras mercadorias. Desse modo, reduziria a compra da mercadoria cuja utilidade marginal era mais cara e aumentava a compra das outras mercadorias cuja utilidade marginal era, para ele, relativamente menos custosa. Teoria da Firma O problema da firma segundo Marshall era idêntico ao dos indivíduos. A firma queria maximizar o lucro. O problema de maximização da firma seria essencialmente idêntico ao da família se os fatores de produção fossem substituíveis no processo de produção de renda, da mesma maneira que os bens de consumo era substituíveis na geração de utilidade. Alfred Marshall Assim, uma das contribuições mais importantes de Marshall para a teoria econômica utilitarista foi a introdução de dois conceitos intimamente relacionados: O primeiro era de que os empresários tentavam reduzir os custos de produção substituindo um fator por outro. O segundo conceito era de que, quando a firma aumentava a quantidade usada de um fator (por exemplo, trabalho) em relação à quantidade usada de outro fator (por exemplo, capital) o incremento marginal acrescentado à produção total em cada aumento adicional equivalente ao primeiro fator (trabalho) começaria, a partir de determinado ponto, a diminuir: “a noção do emprego marginal de qualquer fator de produção implica...uma tendência de haver um retorno decrescente de seu maior emprego”.