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05/05/23, 14:24 Exercícios - Turma de Fevereiro - Manuel Castells: A sociedade em rede

Turma de Fevereiro - Manuel Castells: …


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Manuel Castells e a Sociedade em rede


Objetivo
Nesta aula vamos entender os efeitos do desenvolvimento tecnológico na área da
informação e comunicação, nas relações sociais e na sociedade como um todo
Curiosidade
Apesar de discreto, Castells é reconhecido pela excelência de seu trabalho. Fa‐
moso pelo nível de exigência que tem de si e das equipes que integra, tornou-se
professor na Universidade de Paris com apenas 24 anos. Hoje é ministro da Univer‐
sidades da Espanha.
Teoria
Quem é Manuel Castells?
Manuel Castells Oliván nasceu em Hellín, em Albacete, Espanha, no dia 9 de feve‐
reiro de 1942. Licenciou-se na Universidade de Barcelona, em Direito e Economia,
na qual ingressou em 1958. Exilou-se em Paris, fugindo da ditadura franquista, em
1962, quando estudava sociologia. Foi aluno de Alain Tourraine. Nesse período, cir‐
culou nos meios intelectuais franceses, participando na discussão ativa e na ideali‐
zação do maio de 1968. Castells é um dos mais proeminentes sociólogos da con‐
temporaneidade, atuando principalmente na sociologia urbana.
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Sociabilidade em rede, tecnologia e TICs.
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Criador do conceito de Sociedade em rede, Castells discute pontos interessantes


sobre o que significa estar em rede e qual a interferência do desenvolvimento tec‐
nológico nas nossas formas de sociabilidade. Para tanto, o pensador estabelece
um esclarecimento sobre os conceitos de rede e tecnologia.

O que é rede? Rede é uma forma de organização social antiga. Vários pensadores
já trataram da sociabilidade em rede, como Norbert Elias, com a Rede de interde‐
pendência, ou Bruno Latour, com a Teoria do ator-rede. A metáfora da rede, ou te‐
cido, é muito útil para pensar a formação da sociedade, ainda mais uma sociedade
que tem como unidade o indivíduo. Pensando em uma rede, cada nó representa
um indivíduo, e a extensão da linha representa uma relação social. Temos redes de
amigos, há redes comerciais. Assim, podemos dizer que essa é uma rede de
socialibilidade.
A rede, obviamente, sofre interferência da tecnologia. Como tecnologia compreen‐
demos o conjunto de técnicas, habilidades, métodos e processos normalmente ori‐
entados ao alcance de um objetivo. Sendo assim, a tecnologia se torna o meio de
áreas ou domínios da atividade humana. Cada época desenvolve uma tecnologia,
conforme suas necessidades, e a transformação está relacionada com o supri‐
mento dessas necessidades. As tecnologias surgem então na forma que são exigi‐
das pela sociedade. Toda nova tecnologia tem um potencial transformador, mas
sua utilização e até seu surgimento depende da sociedade. Pense no controle do
fogo, na invenção da roda ou no surgimento da prensa de tipos móveis. A tecnolo‐
gia é um instrumento que possibilita, mas não determina o
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Indivíduos conectados por relações sociais podem ser comparados a uma rede de pesca,
com linhas e pontos de interseção

Assim chegamos às TICs, tecnologias de informação e comunicação que, graças


ao desenvolvimento tecnológico, permitem uma intensificação das relações e um
encurtamento das distâncias. O termo TIC remete a todo e qualquer tipo de tecno‐
logia que trate de informação e auxilie na comunicação, podendo ser na forma de
hardware, software, rede ou telemóveis em geral. São redes tecnológicas. As redes
de sociabilidade passam a se aproveitar das mídias sociais para acontecer, mas
não apenas das mídias.
Formação da sociedade em Rede
Se toda sociedade tem redes, então por que Sociedade em rede? Ora, porque as
redes de sociabilidade foram intensificadas por redes tecnológicas (microeletrô‐
nica, informática e telecomunicações), de tal forma que outras maneiras de estru‐
turação social se tornaram obsoletas. Entretanto, é preciso ressaltar que não se
trata de um determinismo tecnológico. O que há é uma interação dialética entre
tecnologia e sociedade. A tecnologia está cada vez mais incorporada à estrutura
da sociedade, mesmo que não possa determiná-la. A sociedade, por sua vez, usa a
nova tecnologia sem conseguir controlá-la.
Para compreender esse processo, é preciso entender que tecnologia não se res‐
tringe ao desenvolvimento tecnológico das sociedades modernas. A Sociedade em
rede se caracteriza por uma mudança na sua forma de organização social, possibi‐
litada pelo surgimento das TICs, num período de coincidência temporal com uma
necessidade de mudança econômica (como a globalização das trocas e movimen‐
tos financeiros) e social (como a procura de afirmação das liberdades e valores de
escolha
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Castells chama de redes históricas as redes como se manifestavam antes das


TICs. Elas são formas sociais flexíveis, adaptáveis e ágeis. São horizontais, e não
burocratizadas. Entretanto, essa configuração impede que redes históricas alcan‐
cem grandes feitos, tarefas muito complexas ou muito difíceis. Para a realização
desse tipo de tarefa, recorre-se a organizações centralizadoras (Estado, Igreja, In‐
dústria etc.). As redes se manifestavam majoritariamente na vida privada, enquanto
o mundo da produção, a organização política e outros âmbitos da sociedade exi‐
giam instituições verticais.
Com o advento das TICs, as redes antigas ultrapassam suas limitações de coorde‐
nação e descentralização e, sem perder suas características, passam a executar
tarefas muito complexas. Sempre pensamos nessas redes como modos de relação
e organização social, ligadas a movimentos sociais (para organização política) ou a
questões familiares (com forma de diminuir a distância). Mas um exemplo muito
claro das façanhas que as interações dessas redes são capazes de produzir é a
distribuição de softwares inteiramente livres como alternativas a sistemas operaci‐
onais ou pacotes de programas de escritório pagos. O sistema operacional
GNU/Linux (popularmente conhecido por Linux) pode, em muitos aspectos, ser
considerado mais seguro que outros sistemas, pois suas falhas são rapidamente
tratadas pela rede que o mantém. As TICs, então, se tornam a espinha dorsal da
sociedade em rede. Elas atuam como pilar de sustentação da sociedade, permi‐
tindo que a sociabilidade em rede se espalhe em todas as esferas da vida social,
tornando a sociedade uma sociedade em rede.
A sociedade em rede como fenômeno histórico
A sociedade em rede é um fenômeno global. Para Castells, inclusive, a Globaliza‐
ção é um conceito que identifica as transformações sociais que produzem a socie‐
dade em rede. Assim como a Globalização é um fenômeno geral, a sociedade em
rede se estabelece mundialmente. Mas aí pode-se afirmar que, para ser uma soci‐
edade em rede, uma sociedade deve ter acesso às TICs e que, se uma sociedade
não tem, ela não poderá ser enquadrada como tal. Para Castells, o que diferencia
cada sociedade é a sua adequação a esse novo momento histórico. Em compara‐
ção à etapa industrial do capitalismo, a sociedade industrial não era uma sociedade
majoritariamente industrializada, mas uma sociedade organizada, tendo a industri‐
alização
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prática paradigma.
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com listas é um fenômeno
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com sua lógica, mas não está disponível para todos como instrumento. Hoje, algu‐
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mas sociedades estão melhor adaptadas ao paradigma informacional, enquanto


outras não.
A sociedade em rede é um tipo de estrutura social em que a rede, como meio de
se relacionar, se tornou o fundamento dessa estrutura. Mas como Castells não
aceita em seu pensamento uma visão evolucionista, o sociólogo não faz um julga‐
mento de valor, afirmando que nossa sociedade é melhor ou pior. O desenvolvi‐
mento tecnológico não significa automaticamente uma melhoria da vida humana.
Muitos são os exemplos em que a ciência e o desenvolvimento tecnológico foram
usados como instrumento de opressão, dominação e destruição de pessoas. Cas‐
tells também rejeita a nomenclatura sociedade do conhecimento ou sociedade da
informação.
Todas as sociedades
sempre foram sociedades do conhecimento ou da informação. Afirmar que a socie‐
dade atual é a sociedade do conhecimento a descaracteriza, porque o conheci‐
mento sempre foi importante em todas as sociedades. Justificativas como “agora o
conhecimento está democratizado e ao acesso de todos” também é um equívoco.
Certamente sociedades de conhecimento democratizado não se surpreenderiam
com vazamentos como o Wikileaks ou o Panama Papers e não estariam expostas a
manipulações baseadas em dados, como o escândalo da Cambridge Analytica. Es‐
tamos longe do desenvolvimento das TICs, num determinado momento histórico,
em que estavam em pauta mudanças econômicas e sociais. O capitalismo se
transformou através das TICs, que passaram a ser o paradigma das mudanças so‐
ciais que reestruturaram o modo de produção. A revolução tecnológica centrada
na tecnologia da informação torna obsoleto o capitalismo industrial, sua lógica e
modo de organização. Assim surge o capitalismo informacional.
No capitalismo informacional, a informação é mercantilizada. A transmissão, o pro‐
cessamento e partilha das informações dentro da rede são os principais fatores de
geração de riquezas na sociedade em rede, que se

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Edifício luxuoso espelha habitações precárias no centro do Rio de Janeiro. Foto: Francisco
Pereira

coaduna com o sistema de produção capitalista. As mudanças dessa fase do capi‐


talismo ainda estão em curso. Como ocorrem num cenário de desigualdade, e a
principal característica das TICs é intensificar as relações sociais, há um desenvol‐
vimento desigual e global, face cruel da globalização, que permite a existência de
segmentos e territórios hiper desenvolvidos, ao lado de bolsões de pobreza e mi‐
séria. Por essa perspectiva, as mudanças tecnológicas não se restringem aos limi‐
tes do desenvolvimento econômico, e tornam-se responsáveis por modificações
sociais tão agudas que redefinem as relações entre gêneros, grupos familiares e a
biografia dos indivíduos.
Impactos da sociedade em rede
Numa sociedade em rede, não é possível manter a competitividade sem aderir à
rede. Isso porque elas resultaram num aumento exponencial da produtividade. As‐
sim como as mudanças na fonte de energia transformaram inexoravelmente a
forma como as empresas se organizavam, a utilização de TICs são incontornáveis
no mundo empresarial atual. Pense em todas as transações feitas diariamente ou
na mineração de bitcoins – impossíveis sem as TICs. Isso também impacta na orga‐
nização dos Estados-nação. A soberania tem sido frequentemente relativizada em
nome da solução de problemas cada vez maiores. De empresas transnacionais a
atentados terroristas, várias situações atravessam o território e questionam a so‐
berania nacional. Os Estados-nacionais são especialmente desafiados nessa nova
disposição dialética.
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No âmbito do trabalho, a estabilidade e a previsibilidade deram lugar à flexibili‐


dade, mobilidade e requalificação. Castells afirma que as mudanças tecnológicas
não provocam desemprego, mas readequações no mercado de trabalho. Para ele,
há o fenômeno do achatamento, no qual existe um grande número de postos de
alta qualificação e também uma proliferação de postos de muito pouca qualifica‐
ção, eliminando postos de qualificação intermediária. Passa a ser exigido do traba‐
lhador uma autogestão de sua atividade. Aqueles trabalhadores que não se ade‐
quarem a essa disposição estão sujeitos a perder seu emprego para máquinas ou
para trabalhadores de outros países com mão-de-obra.
As TICs alteraram a forma como os indivíduos se relacionam. Não só intensificando
o contato afetivo, mas na estrutura relacional em si. Por exemplo, um pai pode con‐
trolar o deslocamento de um filho, através do telefone, ou assistir a seu bebê por
uma câmera instalada na creche. Muito se especula sobre um individualismo criado
pela sociedade em rede, mas não são as TICs que criaram o individualismo, o indi‐
víduo como conceito e unidade social existe, pelo menos, desde a Reforma Protes‐
tante. Não nos vemos mais como classe social, como pobre, rico, ou como gênero,
como profissional, como homem ou mulher, nos vemos como “eu”, pessoa.
Além disso, uma sociedade organizada na ideia de indivíduo não é essencialmente
individualista. Nós podemos nos integrar, decidir que queremos salvar a natureza
ou combater a pobreza. A diferença é que fazemos isso a partir da noção de indiví‐
duo. Castells afirma que a forma de sociabilidade de nossa sociedade é a de indiví‐
duos conectados. Não há o indivíduo isolado, portanto não há o individualismo. Aí
entra a internet, porque ela é perfeita para que indivíduos se conectem sem se per‐
derem. Assim as TICs intensificam as relações nessa sociedade do indivíduo, con‐
forme seus interesses.
Caminhos para sociedade em rede
O setor público é decisivo para o bom funcionamento da sociedade em rede. Os
Estados precisam se reorganizar, a fim de descentralizar e desburocratizar o poder.
Um Estado em rede permite a participação ativa dos indivíduos, e tem um grande
potencial emancipatório. Ele precisa estar protegido dos sequestros de interesses
individuais de diversos atores políticos não comprometidos com a coisa pública,
empresas multinacionais e pessoas. O autor entende que o Estado assume o papel
fundamental
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desenvolver ou paralisar
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mesmo sem
determiná-la, pode estimulá-la ou freá-la.
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Hoje, o desenvolvimento da sociedade em rede é excludente. É necessário o esta‐


belecimento de políticas públicas de alcance global que integre a população à soci‐
edade em rede. A criatividade e a inovação são cruciais. Direitos de propriedade in‐
telectual, por exemplo, deveriam ser encerrados, e deveria haver incentivo legal ao
conhecimento compartilhado.
O sistema educacional também deve ser reformulado. Não há mais espaço na soci‐
edade para uma escola responsável pelo acúmulo da informação. Na escola, agora,
o que ocorre é a produção do conhecimento em si, e não o contato com a informa‐
ção. A informação está em todo lugar. Segundo estudo citado por Manuel Castells,
mais de 90% de toda a informação do mundo está digitalizada. O papel da escola é
o de transformar essa informação em conhecimento, o que ocorre pela interação.
Essa situação é urgente, porque o pensador afirma ainda estarmos num modelo
escolar herdado da Idade Média. Nos EUA e Europa, cerca de 30% dos estudantes
abandonam o Ensino Médio. Se a Escola não abandonar seu lugar de poder na so‐
ciedade e se apegar à sua função social (a de formar pessoas), ela corre o risco de
se tornar obsoleta.
Estranhou essa explicação?

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