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Rodrigo Casagrande
Em 2004, temos o primeiro uso oficial, digamos assim, da sigla ESG (em inglês
Environmental, Social and Governance), em uma iniciativa chamada Who Cares Wins, liderada
pela ONU (Organização das Nações Unidas) em parceria com as instituições financeiras de
vários países. O termo foi cunhado a partir de uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi
Annan aos CEOs dos 50 maiores bancos mundiais que consistia em discutir e identificar formas
criativas e inovadoras de envolver o tema no mercado financeiro. No mesmo ano nasceu o
“Princípios de Investimento Responsável” (PRI), movimento em prol da responsabilidade
corporativa que enfocava os investidores. O PNUMA e o Pacto Global da ONU convidaram
os maiores investidores institucionais da época para estabelecerem diretrizes de investimentos
responsáveis, e, dentre seus compromissos e condutas, incorporou os aspectos (ESG) às análises
de investimento e tomadas de decisão.
As razões que levam as organizações a se moverem em direção aos preceitos do ESG são
as mais diversas: magnetismo junto a investidores e bancos de fomento; novos comportamentos
de compra de potenciais clientes; atração perante talentos que desejam vincular seus valores
pessoais com os propósitos organizacionais; e os mecanismos de enforcement, que podem gerar
multas pesadas para as organizações que descumprirem regulamentos, normas e leis.
Green bonds são instrumentos de dívida que possuem as mesmas características que os
títulos de crédito tradicionais como maturidade, taxa de retorno, cupons, vencimento e rating
de crédito. Eles podem ser emitidos tanto por instituições públicas, quanto por instituições
privadas, seja de capital público ou privado. A característica chave desse ativo é que os recursos
arrecadados através da sua emissão devem, obrigatoriamente, ser destinados a projetos
relacionados com a sustentabilidade e que promovam algum tipo de benefício socioambiental
(CURI, 2021).
Green bonds, por essa perspectiva, estão conectados com os preceitos da Economia
Verde: por meio desses títulos, organizações, bancos ou governos conseguem captar recursos
para projetos necessariamente voltados para a sustentabilidade, tais como energia renovável,
eficiência energética, gestão de resíduos, transporte de baixo carbono, projetos florestais. Os
títulos também podem ser usados para financiar projetos com benefício social, como a melhora
da saúde e dos serviços sociais (SAFATLE; CABRAL, 2015). No Brasil, green bonds podem
ser emitidos a partir de instrumentos como: Cédula de Produtor Rural (CPR), Certificado de
Recebíveis do Agronegócio (CRA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), dentre
outros.
Dados da International Capital Markets Association1(ICMA) evidenciam que o mercado
de dívida sustentável é composto pelos social bonds, sustainability bonds, sustainability bonds
e green bonds, estes respondendo por 40% do valor total arrecadado por bonds sustentáveis.
As primeiras emissões estruturadas de green bonds ocorreram em 2007, por iniciativa do
European Investment Bank (EIB) e do World Bank. Foram emitidos 600 milhões de euros em
resposta à demanda de fundos de pensão por projetos com adicionalidades socioambientais, que
geram benefícios compartilhados com a sociedade. Em 2017 foi a vez de o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fazer a sua primeira emissão de US$ 1 bilhão
(R$ 5 bilhões). Esses recursos, que foram adquiridos por investidores internacionais, puderam
ser utilizados para financiar novos parques solares e eólicos no Brasil.
Lançar títulos verdes indica o comprometimento da organização com aspectos
socioambientais e ajuda a construir uma boa imagem, ampliando o acesso a uma gama maior
1
A ICMA é uma associação sem fins lucrativos, com escritórios em Zurique, Londres, Paris e Hong Kong.
Desempenha um papel central crucial no mercado, fornecendo padrões e recomendações orientados pelo setor para
emissão, negociação e liquidação em renda fixa internacional e instrumentos relacionados e prioriza quatro áreas
principais do mercado de renda fixa – primária; secundário; recompra e garantia; e verde, social e sustentável.
2
No Bradesco, a operação está inserida na meta anunciada pelo banco, em junho de 2021, de direcionar R$ 250
bilhões a setores e ativos de impacto socioambiental positivo por meio dos seus negócios até 2025. A meta
considera a concessão de crédito para atividades classificadas como de contribuição positiva, produtos e serviços
financeiros com foco socioambiental para pessoas físicas e jurídicas, além de assessoria na estruturação de
soluções de crédito e dívida atreladas a critérios ambientais, sociais e de governança.
fóssil para biogênica em seu processo produtivo e aumentar a participação do biometano para
20% no total de gás consumido nas fábricas, em processos como o de pintura das carrocerias
(VW BRASIL, 2022).
Parece haver um entendimento de que existem duas linhas para se enfrentar o
aquecimento global: fazendo o controle das emissões de gases de efeito estufa para tentar
minimizar seus efeitos e criando resiliência contra os impactos atuais e futuros da mudança
climática. Todos esses movimentos custam dinheiro, uma vez que a descarbonização das
operações pode significar a completa reestruturação das cadeias de valor e isso demanda
investimentos nada triviais.
REFERÊNCIAS
CURI, J. A. A. Finanças Sustentáveis: Uma análise pela ótica do mercado de Green Bonds brasileiro.
Monografia de Final de Curso – Departamento de Economia – PUC Rio, 2021. Disponível em:
http://www.econ.puc-rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/Joao_Arthur_Aguiar_Curi_Mono_21.1.pdf.
Acesso em 28.01.2022.
FINK, L. D. Carta de Larry Fink aos CEOs em 2022: o poder do capitalismo. BlackRock. Disponível
em: https://www.blackrock.com/br/2022-larry-fink-ceo-letter.
HILL, J. Environmental, social, and governance (ESG) investing: a balanced analysis of the theory
and practice of environmental, social, and governance. Cambridge: Academic Press, 2020.
KYNGE, J. The ethical investment boom. Financial Times. Setembro, 2017. Disponível em:
www.ft.com/content/9254dfd2-8e4e-11e7-a352-46f43c5825d.Acesso em: 26.12.2021.
PWC. The economic realities of ESG. Outubro, 2021. Disponível em: www.pwc.com/economic-
realities-of-ESG. Acesso em: 29.12.2021.
SAFATLE, A; CABRAL, M. Navegue pelas finanças do futuro. In: Finanças sustentáveis. P22_ON
FGV EASP – Centro de Estudos em Sustentabilidade. Dezembro, 2015. Disponível em:
https://eaesp.fgv.br/producao-intelectual/p22-financas-sustentaveis. Acesso em 29.12.2021.
YOSHIDA, C.Y.M. Construção da cultura da sustentabilidade à luz dos ODS e dos princípios ESG.
In: Finanças Sustentáveis: ESG, Compliance, Gestão de Riscos e ODS, organizado por Projeto
Conexão Água do MPF e ABRAMPA. 2022, p. 42-69. Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/publicacoes/14960-financas-sustentaveis-esg-compliance-gestao-de-
riscos-e-ods. Acesso em: 20.01.2022.
VW BRASIL. VW fecha acordo com Bradesco para dívida com metas ESG. Disponível em:
https://www.vwnews.com.br/news/1369. Acesso em: 15.02.2022.