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Auto da Barca do Inferno do sec.

XXI
Diabo
(no gozo) Me liga, vai…
Anjo
"Olha'm'esta"… ou este… que o sexo dos
À barca! À barca bela. anjos é discussão eterna…
Quem se portou bem
Pode entrar nela. Agente financeiro (equivalente ao
onzeneiro)

Diabo
Entra e olha para o Diabo
Içar vela!
Que quem se portou mal
Ag financeiro
Não entrará naquela.
Tenha a bondade de dizer
Para onde vai a barcaça
Anjo
(para o Diabo) Não me estejas a arremedar
Diabo
Coisa feia e horrorosa!
Não sou cliente seu
Mania de te pores a imitar!
Mas se quer saber
Demónio de cor-de-rosa.
Vai ter o que mereceu
E ao inferno vai ter
Diabo
Tens medo da desgarrada,
Ag financeiro
avezinha descolorada?
(dando um passo atrás) Credo! Que mal fiz eu?

Eu era feliz
Anjo
Trabalhava na cofidis
Cumpre a tua missão
Mas também era bom
Que a minha cumprirei
Quando estava na credibom
Não te armes em espertalhão
Ajudava as pessoas
Porque não te ligarei!
A comprarem o que queriam,
Elas é que não cumpriam!

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Diabo Dirigindo-se ao Anjo
(irónico) Mas que alma bondosa
E pessoa prestativa! Ag financeiro
Até tou chorosa (limpa falsas lágrimas) Para onde vai esta barca?
Com a pureza da Diva (faz-lhe uma vénia) Anjo
Esqueceste porém Para a esfera celestial
Das mentiras ardilosas Onde não entrarás
Das informações omitidas Portaste-te mal
Das cláusulas perigosas Rumo ao inferno irás
Que não eram prevenidas
Ag financeiro
Ag financeiro Mas eu já expliquei ao diabo
Não foi culpa minha Que não fiz nada por mal
A empresa assim mandou Ao fim e ao cabo
Que outro remédio tinha? Fui vítima financial!
Quem mandava era o patrão
Diabo Eu apenas obedecia
A culpa também morreu, E se dissesse que não
Evidentemente, solteira. Para o olho da rua ia!
Cada um arca com o que escolheu.
Poupa-me de conversa matreira! Anjo
Desculpas esfarrapadas
Ag financeiro Não venhas com tretas
(olhando a barca do anjo) As pessoas foram aldrabadas
Àquela barca me vou Com todas as tuas petas!
Que esta não me agrada.
Só te interessava angariar
Diabo Créditos bem chorudos
Ora vai que na volta cá te espero. Para depois ires cobrar
Juros absurdos

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Nunca ajudaste ninguém Diabo
Nem tiveste piedade (sai da barca e rodeia-o) Em alma, queres
dizer
Por isso, aqui no Além
Mais negra que alcatrão
Vais pagar pela maldade
Muito combustível tens para arder
E de fácil combustão!
Ag. Financeiro
(dirigindo-se à barca do diabo)
Político
Triste fado o meu
Eu sou um gajo porreiro pá!
Ao inferno condenada
Para o inferno vou eu
Diabo
Agora é que tou tramada!
(a gozar) Um porreiraço, pá
E bem apresentado (afaga-lhe o casaco)
Diabo
Vais muito bem ataviado
Ora entra depressinha
Sobe à barca, já!
Que vais bem acomodada
Vais ficar bem quentinha
Politico
Mas que bela churrascada!
Sai p’ra lá cornudo enfeitado
Contigo não vou viajar
Politico (equivalente ao nobre)
Vou ao outro lado
Procurar o meu lugar
Diabo
Diabo fica a rir enquanto o político vai à
Ora cá chegou Sua Senhoria Pedro José barca do anjo
Gaspar Cavaco das Relvas Portas!

Anjo
Político
Olha, olha quem chegou…
Em pessoa!
D. Aldrabão!

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Político Politico
Deve haver confusão Estou impressionado
Veja lá no computador Com a falta de piedade
Sou ilustre cidadão Devia ser perdoado
Dos portugueses defensor Não mereço a crueldade!

Anjo Anjo
(irritado) Olha lá! Mas tu pensas que o meu (impaciente) Vais sozinho ou queres que te
computador celestial é alguma tostadeira mande???
Magalhães? Não há engano nenhum!
Mentiste a torto e a direito
És um grande aldrabão!
Viveste à custa dos cidadãos
E enorme impostor
Aldrabaste em teu proveito
Roubaste até mais não
E lavaste daí as mãos!
Sem piedade e sem pudor!

Político
Politico
Saiba vossa senhoria
Mas que grande injustiça!
Que é difícil governar
Eu lutei por Portugal
Trabalho em demasia
Fiz sacrifícios, xiça!
Para pouco ganhar
E julgam-me mal?!

E criticas sempre a ouvir!


Anjo
Bocas foleiras da reacção
Ah pois fizeste muito mal
Para a imagem me denegrir
E de sacrifícios nada!
E eu perder a eleição
Nem um pingo de moral!
Vai-te alma desgraçada!
Anjo
Continuas com a aldrabice
Vai-te àquela barca
Alma desgraçada?
Que aqui não há lugar
Poço de vigarice
Com o castigo arca -
Vai-te àquela morada. (aponta para a barca
Chegou a hora de pagar. do diabo)
Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com
Político Diabo
E as missas assistidas? (vendo-o entrar)
E as esmolas que dei? Amigo, companheiro, palhaço
As promessas cumpridas Aqui chegaste, finalmente!
E terços que rezei? Venha daí um abraço
Bem apertado e quente
Anjo (sai da barca para o ir abraçar. O H. do
futebol recua com ar entre surpreso e
Já me estás a cansar! enojado)
Actos corrompidos
Fizeste-o para dissimular Homem do Futebol (um misto de Valentim
Loureiro e Pinto da Costa)
Os pecados cometidos
Alto e pára o baile!
Qu'inda não chegámos à Madeira
Político
Um diabo de xaile?!
Bem posso argumentar
Só pode ser brincadeira!
Que de nada queres saber
Resta-me ali embarcar (aponta para a barca do diabo)
Diabo
E no inferno arder…
(esfregando as mãos e fazendo um ar malandro)

Não faltará brincadeira


Dirige-se à barca do diabo
Nem almas pra subornar
Escolhe uma cadeira
Diabo
Junto a mim vais remar
Para que foste teimoso?
Entra sem demora
Homem do Futebol
Meu querido, meu jeitoso
Endoideceu, o capeta!
Em breve vamos embora
Nunca se viu coisa assim;
Parece uma borboleta!
Homem do Futebol (equivalente ao
enforcado) Afasta-te de mim!

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Diabo Homem do Futebol
Borboleta, borboleta Isso é falso! É mentira!
Borboleta ou libelinha Quem disse tal?
Deixa-te lá de treta Daqui ninguém me tira!
E anda p'ra minha beirinha. Nem a bem, nem a mal!

Homem do Futebol Anjo


À outra barca irei Aqui não mandas nada,
Coisa cornuda e esquisita Nem subornas ninguém
Contigo não embarcarei! A tua vida desregrada
(dirige-se ao anjo) É tua sentença no Além.

Anjo Homem do Futebol


O que vens aqui fazer? Subornar? Quem subornei?
O teu lugar é acolá (aponta para o diabo) Quem disse tal barbaridade?
Provem! Eu esperarei!
Homem do Futebol Tenho toda a eternidade.
Ainda agora cheguei
Já me mandas embora? Anjo
Nem sequer argumentei! Já me estás a aborrecer!
Que justiça é esta, ora? Vai-te à outra paragem
Lá lábia podes tu ter
Anjo Mas não te serve nesta viagem.
É preciso descaramento
P'ra falares de justiça. Foste um ás na corrupção
O teu departamento Ganhaste dinheiro desonesto
Sempre foi a injustiça. Foste vil por opção
Foste vigarista e aldrabão.

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Homem do Futebol Apresentadora de televisão (equivalente
Brizida Vaz)
Calúnias, isso sim!
Isso não é verdade.
Diabo
É inveja de mim,
Olha a minha querida
Da minha integridade!
Codrilheira de primeira
Levaste muito má vida
Anjo
Foste uma grande alcoviteira!
(apita-lhe o mostra-lhe o cartão vermelho)
Ordem de expulsão!
Apresentadora
Vai-te já embora.
Olá coisa rosada!
Nesta embarcação
Ai! Activia tem de tomar
Ficas do lado de fora.
Olhe-me essa barriga inchada!
Vai ver que a vai regular…
Homem do Futebol
(caminhando para a barca do diabo)
Diabo
Não me resta alternativa
Deixa-te de publicidade
À outra barca me vou.
Daqui não levas nada
Poço de futilidade!
Diabo (rindo)
Entra e fica calada!
Eu sabia que voltavas
Entra que vais a remar
Apresentadora
Pensavas que compravas
Não, não, calada não!
O anjinho de altar?
Que eu gosto de falar
(pegando no IPAD)
E na televisão
Segredos revelar
Ora… inferface entrar…
Palavra-passe inserida…
Agora vou publicar
Os erros da tua vida.

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Vou ali ao outro lado Na outra barca irás
Que aqui não me agrada Com o capeta anafado
Adeus diabo anafado Lá, lugar encontrarás
A outra barca me aguarda. Para ti apropriado.

Diabo fica a ri enquanto ela se dirige ao anjo Diabo (para o anjo)

A chamar-me anafado???
Anjo olhando para o computador Seu anjinho papudo!
Que vens aqui fazer? Já tou irritado!
Não é aqui o teu lugar Seu anjinho bolachudo!
Pelo que estou a ver
Ao inferno vais parar. Apresentadora (olhando para um e outro)

Contem os segredos
Apresentadora Vamos, digam tudo
Mas se não matei ninguém! Dos ódios e dos medos
E se nada eu roubei Entre o anjo e o cornudo
Pessoas ajudei também
E diversão lhes dei! Anjo e Diabo (ao mesmo tempo)

Caluda!
Não é justo, portanto,
Para o inferno me mandar Diabo
Haverá aí um canto Não insistas mais
Onde me possa acomodar Aqui viajarás
É aqui que vais (aponta para uma cadeira)

Anjo E aqui remarás


Tu estás é a incomodar
Alma pecaminosa Apresentadora dirige-se ao seu lugar

Toca a andar! Entra a freira e olha para o diabo muito


espantada
Ó fútil e vaidosa

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Freira Freira
Jesus, Maria, José Mas que coisa inusitada
Não estou a acreditar! A meus olhos se apresenta
São meus olhos (esfrega os olhos) Esta figura enfeitada
Que me estão a enganar! Cor-de-rosa e magenta…

Esta não é a imagem Diabo


Que conheço do demónio Inusitada ou não
Quem é este personagem? Aqui vais subir
Valha-me Santo António! Esta embarcação
Te vai servir
Diabo
Eu sou o que eu quiser Freira
Porque sou o diabo Vade retro satanás!
Se na bolha me der Cornudo enfeitado
Sou soldado ou cabo Não me levarás
A nenhum lado!
Ou sou um machão
Ou um toureiro Eu fui uma religiosa
Um engatatão A Deus temente
Ou um engenheiro Levei vida rigorosa
Fui alma crente
Escolho a profissão
Ou a personalidade Esta barcaça não serve
A minha imaginação Aí não me vou sentar
É a minha vontade! O Senhor me conserve
Longe desse lugar

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Diabo
Não te armes em santinha A Deus foste temente
Que também tens pecados Ajudaste necessitados
Então os da cozinha! Não de todo inocente…
Tenho-os aqui bem apontados (aponta para Tens aqui alguns pecados.
o IPAD)

Freira
Freira
É verdade que me excedi
Não nego meus pecados
Nos bolos e docinhos
Mas meu anjo, perdoai
Mas também me arrependi
Depois de contabilizados
E partilhava os bolinhos!
Um castigo dai

Com aquele anjo vou falar


Anjo
E confessar meus pecados
Foste rainha das doçarias
Ele me há-de perdoar
Era compota e marmelada
E manter-nos afastados (faz gesto de afastamento
entre ela e o diabo) Eram filhós, azevias

Vai à barca do anjo Sericaia e encharcada


E tu, tudo comias!

Freira
Anjo bondoso e divinal Bolo conventual

A ti te venho pedir Delícias de Frei João

Livrai-me daquele mal (aponta para o diabo) Biscoitos do Cardeal

Deixa-me contigo ir Pastéis de Feijão!

Anjo (consultando o computador) Freira

Ora deixa-me cá ver… Sei bem que fui gulosa

Teu cadastro celestial… E muito me empanturrei

Vamos lá saber Perdoai alma bondosa

O teu historial 1000 Pai Nossos rezarei

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Anjo Anjo
Também não foste obediente Lá isso é verdade
Nos cabelos tinhas vaidade Eras pessoa bondosa
Na hábito escondias um pente Cheia de humanidade
Feia tentação da futilidade Com os outros cuidadosa

Freira Espero que aprendas a lição


Não conseguia resistir Vou dar-te passagem
Ao impulso de me pentear Sobe à embarcação
Ver o cabelo a reluzir Irás nesta viagem
E frente ao espelho passar
Entra na barca

Mas depois, arrependida


Rezava e pedia perdão Vendedora/compradora de ouro (equivalente
ao judeu)
Para não ser acometida
De novo pela tentação
Diabo
Trazes máquina de calcular
Tomai em conta, porém
Muita falta te vai fazer
As minhas boas acções
Muitos pecados tens de somar
Nunca desprezei ninguém
E sem deduções a fazer
E consolei corações

Vendedora
Ajudei quem precisava
Já pareces o Vitor Gaspar
Pratiquei a caridade
A impor tanta austeridade
Se tinha, dava
A querer tudo taxar
Se não tinha, inventava
Sem pingo de piedade

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Nada deves à simpatia
E sobra-te arrogância Vendedora
Tens um ar que até arrepia E que sina será esa
Feio até à última instância! De que estás a falar?
Olha aqui esta peça (mostra um colar)
Não me agradas mesmo nada Podemos negociar?
Portanto vou-me embora
Vou à barca ali ancorada (aponta para o anjo) Anjo
Vou-me daqui para fora Ou és estúpida… perdoai Senhor!
Ou finges não perceber
Diabo Aqui não vais embarcar
Lá ir, irás Põe-te mas é a mexer!
Mas voltarás
Eu esperarei Vendedora
E te embarcarei Na terra tinha de trabalhar
Escolhi esta profissão
Vendedora (dirigindo-se ao anjo) De com ouro negociar
Vais para que paragem O que fiz na perfeição
Figura de branco vestida?
Qual o preço da viagem? Anjo
Também com perfeição
Anjo Enganaste muita gente
De nada te serve o dinheiro Nunca tiveste correcção
Nem prata, ouro ou platina Roubaste impunemente
Nem a riqueza do mundo inteiro
Te safam da tua sina Vais ter de pagar agora
Todo o mal praticado
Chegou a tua hora
Vai-te daqui embora

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Vendedora Diabo
Só mais uma coisinha Eu não disse que voltavas
Se me é permitido Negociante pecadora?
E as obras na capelinha E que aqui embarcavas
Do meu bolso oferecido? Minha gentil senhora?

Não posso descontar Entra a juíza que olha o diabo e faz uma
cara enjoada e dirige-se logo ao anjo
As obras de caridade?
Não servem para me perdiar
Juíza
Aqui na eternidade?
Ora dizei-me então
Onde me sentarei
Anjo
Dada a minha condição
As obras que fizeste
À frente viajarei
Foste depois descontar
Aquilo que deste
Anjo (olhando em silêncio para a juíza)
Foste sempre recuperar

Juíza
Malabarismos financeiros
Não posso acreditar
Para no imposto descontar
Que seja um anjo surdo!
Tens actos matreiros
Tenho que gesticular? (gesticula)
Não se podem perdoar
Mas que tamanho absurdo!

Vendedora
Anjo
Terei pois de voltar
Nem surdo nem loiraça!
Àquela embarcação
Não respondo a palermices
Afasta-te da barcaça
Junta-te ali às misses (aponta p barca diabo)

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Juíza Dá-me um minuto e apenas um
Agora fui eu que não ouvi! Tens toda a eternidade
Impossível que tal tenhais dito! Ad argumentandum tantum
Deve ter sido algo que bebi Ad causam, a verdade!
Não, não, não acredito!
Anjo
Anjo Não me venhas com o latinório
Podes acreditar, meritíssima Para me tentares baralhar
Ouviste tudo perfeitamente Não quero saber de palanfrório
Agora vai-te, impuríssima! De nada te vou ilibar.
Arrogante e indigníssima!
Juíza
Juíza Condenas-me, pois, a arder
Condenada sem julgamento? Ad infinitum no inferno
Sem ter feito alegações? Sem sequer quereres saber
Espere lá um momento! Do meu lado justo e terno
Ora valha-me o Camões!
Fui alma mater exemplar
Anjo animus adjuvanti tive
Deixa o Camões sossegado E tu vais-me escorraçar?
Que não tem nada a ver Cruelmente me condenar!
Não é para aqui chamado
E tu põe-te a mexer! Anjo
E ela a dar-lhe, hein? "Bazat da qui para
forum, que irritari a mim estás". Gostaste do
Juíza meu latinorum? Percebesti ou queris que te
faça um desenho?
Insisto em ser ouvida!
Em poder alegar
Juíza vai à barca do diabo
Não vou ser corrida
Sem poder falar!

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Diabo Entra comerciante (equivalente ao parvo)
e que é meio surda
Escusavas de tanto andar
Podias ter vindo directamente
O diabo vendo-a chegar dirige-se ao Anjo
Não sei pra que te foste cansar
Entravas aqui, simplesmente
Diabo
Esta estava prevista?...
Juíza
Minha condição social
Comerciante
Merece outro tratamento
Qual revista?
Isto parece um arraial (refere-se à barca)
Ó senhores! Que tormento!
Anjo (para o diabo)
Não estava no programa…
Mas o anjo mandou-me embora
Sem a mínima consideração
Comerciante
Morri eu em muito má hora!
No Politeama??
Maldito ataque de coração!

Diabo
Diabo
Ai que estamos tramados
Cala-ta e entra e sem latinório!
Que ela não ouve nada
(para a comerciante) Estamos atrasados!
Juíza entra na barca
Ali irás bem acomodada (aponta uma
cadeira)

Comerciante
Não ouvi nada, não senhor
Se assim o posso chamar.
Isto sai-me cada "estapor"!

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Diabo Comerciante
Isso! Insulta-me à vontade Pois eu estava a vender
Que assim vais embarcar Quando chamaram por mim
Nesta barca da ruindade Pisei a banana sem ver
Que ao inferno vai parar Baldei-me e catrapim!

Comerciante Bati com a cabeça no chão


Não te estou a gozar E não me "alembro" de nada
Estou a falar a verdade Chego aqui e topo com o palhaço (aponta o
diabo)
Vai-te mas é catar!
Que parece uma jarra enfeitada.
E não me venhas azucrinar!

Anjo
Diabo (falando alto)
Pois morreste por imprevisto
Toca mas é a entrar
Vida longa tinhas para viver
Que quero depressa partir
Agora vamos resolver isto
E já me estás a empatar
(Vê o computador) Ora deixa-me cá ver…

Comerciante
Recebi um e-mail superior
Vai mas é bugiar! (faz um manguito)
Com as devidas recomendações
Eu nem gosto de encarnado!
Ora sobe se faz favor
Não sei como vim aqui parar
Foram divinas instruções
Vou perguntar àquele lado

É a recompensa merecida
Anjo
Pela tua vida honesta
Já sei o que vais perguntar
Trabalhosa e sofrida
E eu já te vou responder
Nenhuma dúvida resta
Deixa-me só verificar (Vê o computador)

Pois… foi sem querer…

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com


Comerciante
É pra subir à barcaça?
Nem ouvi nem percebi nada
Mas já me dói a carcaça
de estar aqui especada

Anjo faz sinal para ela subir

Anjo toca a sirene


Diabo toca a sirene
Apaga a luz

Autor: Eugénia Conceição * e-mail: mafaldaoutubro@hotmail.com

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