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FILOSOFIA

GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE

SÍLVIO GALLO
Licenciado em Filosofia pela PUC-Campinas.
Mestre e Doutor em Educação pela Unicamp.
Livre-docente em Filosofia da Educação pela Unicamp.
Professor associado da Faculdade de Educação da Unicamp.

FILOSOFIA

MÓDULO
O que somos?

O que somos?
criança surdocega, a se comunicar com o mundo que a cercava. A
segunda opção é o filme “O Garoto Selvagem” (dir: François Truf-

MÓDULO
faut, 1970). Ele narra a história de um garoto selvagem encontrado na
França no final do século XVIII e que após ser encontrado é enviado
O que somos? para uma instituição de ensino, onde um professor tenta civilizá-lo e
ensiná-lo a se comunicar com os outros. Ambos os filmes permitem
discutir o tema central do capítulo, qual seja, a forma como a lingua-
gem permite diferenciar os seres humanos dos animais.
Plano de aulas sugerido Para isso, é possível exibir trechos do filme em sala de aula e pro-
por uma discussão sobre a questão em seguida. Nesse caso, pode-se
Carga semanal de aulas: 1 questionar os alunos sobre a importância da linguagem na confi-
Número total de aulas do módulo: 8 guração da sociedade humana e no modo como essa capacidade
distingue os seres humanos de outros animais, mesmo aqueles que
elaboram sistemas de comunicação, como as abelhas. A partir dessa
Competências Habilidades discussão inicial, é possível apresentar a questão da linguagem ver-
c Compreender os elementos c Comparar pontos de vista bal enquanto um sistema simbólico e como uma forma de expres-
culturais que constituem as expressos em diferentes são artística. Finalmente, é importante destacar que o problema da
identidades fontes sobre determinado linguagem marcou a reflexão filosófica desde a Antiguidade, sendo
c Compreender a produção e o aspecto da cultura.
papel histórico das instituições c Interpretar historicamente e/
que diferentes filósofos abordaram essa questão e refletiram sobre a
sociais, políticas e econômicas, ou geograficamente fontes natureza da linguagem e o modo como esta determina as relações
associando-as aos diferentes documentais acerca de humanas.
grupos, conflitos e movimentos aspectos da cultura. Outra opção para iniciar a discussão sobre o tema da linguagem
sociais c Analisar a produção da
humana é propor a leitura e a discussão do trecho a seguir da obra de
memória pelas sociedades Aristóteles. Nele, o filósofo grego elabora uma teoria para explicar a
humanas.
razão pela qual os seres humanos são capazes de utilizar a linguagem
articulada, enquanto os animais não. Para isso, ele mobiliza argumen-
tos de ordem anatômica e defende que a própria forma do ser hu-
1. A LINGUAGEM E A CULTURA: mano já foi concebida de modo a lhe possibilitar o uso da linguagem.
MANIFESTAÇÕES DO HUMANO Nesse caso, ele naturaliza a linguagem como algo inerente à natureza
humana, enquanto esta permanece ausente nos outros animais:
Objeto do conhecimento O uso dos lábios em todos os animais, exceto no homem,
c Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade consiste em preservar e proteger os dentes, e por isso a forma
c Formas de organização social, movimentos sociais, pensamento específica pela qual os lábios são formados é relativa aos graus
político e ação do Estado de beleza e de perfeição da natureza dos dentes. No homem, os
Objeto específico lábios são macios e carnudos, capazes de se separarem. Seu
c Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na propósito, como nos outros animais, é proteger os dentes, mas
vida política e social também têm o propósito mais elevado de contribuir, juntamen-
c Cidadania e democracia na Antiguidade
te com outras partes, para a faculdade humana da fala. Pois
assim como a natureza fez a língua humana diferente da dos
outros animais, e como costuma ser sua prática, fez com que ela
AULA 1 Páginas: 4 e 5
servisse a dois diferentes propósitos, o paladar e a fala, o mesmo
se pode dizer em relação aos lábios, fazendo-os servir tanto para
O problema filosófico da linguagem a fala quanto para a proteção dos dentes. A fala consiste em uma
Objetivos combinação de letras, e a maioria delas seria impossível de pro-
nunciar se os lábios não fossem úmidos e se a língua não fosse
Analisar a importância da linguagem para a organização da expe-
como é. Pois algumas letras são formadas pelo fechamento dos
riência humana
lábios e outras pela aplicação da língua.
Estratégias MARCONDES, Danilo. Textos básicos de linguagem.
Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
Para iniciar a discussão sobre a linguagem, há dois filmes que po-
dem ser utilizados em sala de aula. A primeira opção é “O Milagre Para casa
de Anne Sullivan” (dir: Arthur Penn, 1962) que discute o tema da Proponha aos alunos que assistam o filme “Planeta dos Macacos:
linguagem como uma característica que define a humanidade a partir a origem” (dir: Rupert Wyatt, 2011) e reflitam sobre a maneira que o
da história da professora Anne Sullivan que ensinou Helen Keller, uma filme reflete sobre a questão da linguagem e seu papel de humaniza-

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ção dos seres vivos. Em seguida, produzam um texto argumentativo Estratégias
sintetizando esse tema. Além disso, solicite a realização da atividade Retome a questão da análise lógica da linguagem e explique que
4 da seção Em busca do conceito (p. 15). importantes vertentes da filosofia contemporânea se dedicaram a
problemas desse tipo, como o estruturalismo e a filosofia analítica.
AULA 2 Páginas: 6 e 7 Dessa maneira, o estudo da linguagem se ampliou e influenciou ou-
tros campos do saber, como as ciências humanas. Para aprofundar
Filosofia e linguagem na Antiguidade esse tema, destaque que um dos filósofos mais destacados no cam-
po do estudo da linguagem na filosofia contemporânea foi Ludwig
Objetivos Wittgenstein.
Identificar diferentes perspectivas sobre a linguagem na filosofia Nesse caso, apresente, em primeiro lugar, a forma como o filóso-
antiga fo austríaco abordou o problema da linguagem enquanto uma re-
Relacionar linguagem e política no pensamento de Aristóteles. presentação do mundo, destacando que ele enxergava a linguagem
como algo diferente da realidade, mas também como algo vinculada
Estratégias à realidade. Após apresentar essa ideia, é possível propor uma discus-
O objetivo dessa aula é apresentar e diferenciar diferentes perspec- são com os alunos de modo a analisar a famosa frase do filósofo que
tivas filosóficas em torno do problema da linguagem na Antiguidade. está destacada na página 07. A ideia é que os alunos debatam o sen-
Para isso, inicie apresentando a visão dos sofistas para o problema da tido dessa afirmação e a relacionem com a experiência cotidiana, ana-
linguagem. Nesse caso, é importante ressaltar que eles davam ênfase lisando como a ampliação dos nossos usos da linguagem permitem
ao problema da retórica e dos usos da linguagem como instrumento melhorar nossos pensamentos e nosso entendimento da realidade.
para convencimento. Dessa maneira, eles defendiam uma concepção Em seguida, destaque como o próprio filósofo modificou a forma
relativa da verdade e não viam a linguagem como uma forma de se como pensava a linguagem, elaborando o conceito de jogos de lin-
alcançar a verdade, mas como uma maneira de convencer os outros. guagem. Explique como esse conceito provocou uma ampliação na
Em seguida, destaque que essa posição foi criticada por outros maneira como ele entendia a estrutura da linguagem, inclusive pos-
filósofos gregos, como Platão e Aristóteles. Para o primeiro, a lingua- sibilitando a solução do problema do indizível. Além disso, por meio
gem pode ter usos diversos, alguns deles positivos, enquanto outros desse conceito é possível refletir sobre diferentes contextos e usos
seriam negativos. Com base nisso, apresente o conceito de dialéti- da linguagem, os quais determinam as regras do que pode ser dito e
ca, o qual seria a expressão do bom uso da linguagem como forma do que não pode ser dito. É possível estimular uma discussão sobre
de desenvolver o pensamento. Depois, apresente a maneira como significados concretos do conceito de jogos de linguagem e propor
Aristóteles concebeu o problema da linguagem destacando espe- aos alunos que apresentem casos nos quais é possível observar dife-
cialmente a questão da estrutura da linguagem, ou seja, a maneira rentes jogos de linguagem.
como determinadas regras permitem a construção de um discurso
verdadeiro. Foram estas regras que receberam o nome de lógica e Para casa
deram início a um importante campo de conhecimento. Solicite aos alunos que façam as atividades propostas no Texto 1 da
Finalmente, encerre a aula retomando a questão da linguagem seção Trabalhando com textos (p. 12-13). Caso julgue conveniente,
como o elemento que definia o ser humano no pensamento aristo- é possível discutir o texto previamente em sala de aula. Além disso,
télico por meio da discussão da citação da página 07. Nesse caso, é é possível solicitar aos alunos que discutam suas respostas coletiva-
possível associar o uso da linguagem com o surgimento da sociedade mente no início da próxima aula.
civil e o desenvolvimento do campo da política.

Para casa AULA 4 Páginas: 10 a 12


Proponha aos alunos que elaborem um texto sintetizando os prin-
cipais temas discutidos em sala de aula e apontando as diferentes Linguagem e cultura
perspectivas sobre a linguagem na filosofia antiga. Objetivo
Relacionar linguagem e cultura
AULA 3 Páginas: 7 a 9 Conceituar cultura
Identificar as diferentes concepções de cultura propostas por Félix
A “virada linguística” Guattari
FILOSOFIA

Objetivos Estratégias
Analisar a relação entre a experiência da linguagem e a compreen- Retome a questão da linguagem enquanto uma expressão simbóli-
são do mundo no pensamento de Wittgenstein. ca e relacione isso com o conceito de cultura. Nesse caso, uma forma
Refletir sobre o conceito de jogos de linguagem na obra de Witt- de iniciar essa discussão é propondo aos alunos que elaborem uma
genstein. definição para o conceito e que apontem exemplos de situações nas
quais é possível evidenciar a produção de cultura. É possível que os

O que somos? 3
alunos apresentem definições que restringem o entendimento de Durante a discussão, é possível que os alunos retomem represen-
cultura apenas a exemplos daquilo que se convencionou chamar de tações do senso comum que enxergam o corpo como uma espécie
alta cultura. Porém, é importante alargar essa definição e relacionar a de invólucro que compreende a verdadeira essência do ser humana,
cultura com todo trabalho de produção humana. Vale frisar que toda uma espécie de alma ou de personalidade individual. Além disso, é
transformação da realidade pela ação humana implica na produção possível que destaquem que o corpo é marcado por uma existência
de cultura, por isso não é possível sustentar, de um ponto de vista fi- puramente biológica. Finalmente, outra concepção comum que pos-
losófico, a diferença entre uma cultura erudita e uma cultura popular. sivelmente será formulada pelos alunos é aquela do corpo enquanto
Em seguida, apresente a tripartição proposta pelo filósofo Félix uma máquina, que pode ser desenvolvida e melhorada por meio de
Guattari para o conceito de cultura e discuta os três sentidos que ele cuidados físicos e exercícios.
apresenta pro termo. Ao final, caso haja tempo, é possível propor a Ao final da discussão, aproveite as ideias levantadas pelos alunos
leitura e a discussão do Texto 2 da seção “Trabalhando com textos” para destacar que a filosofia também elaborou diferentes visões sobre
(p. 13-14), que aborda a questão da relação entre cultura e mercado- o corpo, as quais se transformaram ao longo da história. E muitas
ria de outra perspectiva filosófica, bem como proponha a discussão dessas visões filosóficas acabaram se consolidando no senso comum
da atividade 6 da seção Em busca do conceito (p. 15). A dissertação e estruturando a maneira como pensamos o corpo no presente. Com
solicitava nessa atividade deverá ser realizada em casa. base nisso, destaque que as próximas aulas tratarão dessa temática
e das diferentes maneiras que o pensamento filosófico abordou a
Para casa questão da corporeidade.
Solicite aos alunos que realizem as atividades 1, 2 e 3 da seção Além disso, professor, caso julgue conveniente, é possível ainda
Trabalhando com texto (p. 14). Além disso, proponha a realização propor uma discussão complementar nessa aula. Nesse caso, expli-
das atividades 01, 02, 03 e 05 da seção Em busca do conceito (p. 15). que que o tema da corporeidade não é exclusivo do pensamento filo-
sófico, mas se manifesta também em outras formas de pensamento,
como a ciência e a arte. Isso implica em diferentes maneiras de pensar
2. CORPOREIDADE, GÊNERO E a questão do corpo e sua marca na experiência humana.
SEXUALIDADE: FORMAS DE SER Para explorar isso, pode-se propor a análise e a discussão do poema
a seguir escrito por Carlos Drummond de Andrade. No texto, ele re-
Objeto do conhecimento flete sobre a experiência do corpo e sobre a tentativa do sujeito lírico
c Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade se desvencilhar de seu corpo. Porém, essa tentativa sempre fracassa,
evidenciando a dimensão corporal do sujeito lírico. Com base nisso, é
Objeto específico possível ler o poema em sala de aula e propor aos alunos que o ana-
c Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na
lisem, alargando a reflexão sobre a temática do corpo e suas relações
vida política e social
com diversas formas de pensamento:

AULA 5
AS CONTRADIÇÕES DO CORPO
Páginas: 17-18
Meu corpo não é meu corpo,
O problema filosófico da corporeidade é ilusão de outro ser.
Sabe a arte de esconder-me
Objetivos e é de tal modo sagaz
Caracterizar o pensamento mitológico; que a mim de mim ele oculta.
Comparar e diferenciar a Mitologia da Filosofia.
Meu corpo, não meu agente,
Estratégias meu envelope selado,
Inicie a aula lembrando que o tema da primeira parte do módulo meu revólver de assustar,
foi a questão da linguagem enquanto definidora da experiência hu- tornou-se meu carcereiro,
mana. Nesse caso, ressalte que um aspecto fundamental da questão me sabe mais que me sei.
é a dimensão simbólica que está profundamente presente na expe-
riência humana. Por conta disso, a questão da corporeidade também Meu corpo apaga a lembrança
precisa ser relacionada com essa dimensão simbólica da experiência que eu tinha de minha mente.
humana. Com base nessa breve introdução, proponha aos alunos que Inocula-me seu patos,
reflitam sobre a forma como pensamos o corpo em nossa sociedade. me ataca, fere e condena
Essa reflexão pode ser feita por meio de um debate em sala de aula por crimes não cometidos.
ou mesmo por escrito, com a leitura das produções individuais em
seguida. A proposta é que os alunos reflitam sobre a maneira como O seu ardil mais diabólico
nossa sociedade reflete sobre o corpo e valoriza determinados aspec- está em fazer-se doente.
tos em detrimento de outros. Joga-me o peso dos males

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que ele tece a cada instante AULA 6 Páginas: 18 a 20
e me passa em revulsão.
Uma história das visões do corpo na
Meu corpo inventou a dor Filosofia
a fim de torná-la interna,
integrante do meu id, Objetivos
ofuscadora da luz Comparar diferentes visões sobre o corpo na história da Filosofia
que aí tentava espalhar-se. Analisar a ruptura proposta por Espinosa no dualismo psicofísico.

Estratégias
Outras vezes se diverte
sem que eu saiba ou que deseje, A proposta dessa aula é apresentar, de forma panorâmica, diferen-
tes perspectivas filosóficas sobre o tema da corporeidade. É impor-
e nesse prazer maligno,
tante ressaltar que o problema da corporeidade percorre a história da
que suas células impregna,
filosofia e resultou na formulação de diferentes conceitos e aborda-
do meu mutismo escarnece.
gens filosóficas. Porém, uma forma importante de pensar a questão
do corpo surgiu na Antiguidade e teve uma longa duração na história
Meu corpo ordena que eu saia do pensamento filosófico, a questão da dualidade entre corpo e alma.
em busca do que não quero, Para explorar esse tema, apresente, em primeiro lugar, dois filósofos
e me nega, ao se afirmar importantes na construção dessa visão dualista: Platão e Aristóteles.
como senhor do meu Eu Nesse caso, é importante distinguir as duas posições, mas também
convertido em cão servil. destacar como em ambas a questão da dualidade se faz presente.
Em seguida, apresente a perspectiva de Espinosa, a qual rompe
Meu prazer mais refinado, com a ideia de dualismo e propõe uma visão não dualista do corpo
não sou eu quem vai senti-lo. humano. Nesse caso, destaque os principais elementos do modelo
É ele, por mim, rapace, espinosista de reflexão sobre o ser humano, baseado na noção de
e dá mastigados restos afecções e potência de agir, destacando que não existe uma sepa-
à minha fome absoluta. ração entre corpo e alma (que é denominada mente no sistema de
Espinosa), mas uma profunda integração entre ambas as dimensões
Se tento dele afastar-me, do ser humano. Finalmente, aponte que o avanço da neurociência
por abstração ignorá-lo, no presente tem reforçado as teses espinosistas e demonstrado a
necessidade de superar qualquer modelo dualista para refletir sobre
volta a mim, com todo o peso
a existência humana.
de sua carne poluída,
seu tédio, seu desconforto. Para casa
Solicite aos alunos que realizem as atividades 01 e 02 da seção Em
Quero romper com meu corpo, busca do conceito (p. 26).
quero enfrentá-lo, acusá-lo,
por abolir minha essência,
AULA 7 Página: 20 a 22
mas ele sequer me escuta
e vai pelo rumo oposto.
Novos conceitos na Filosofia do corpo
Já premido por seu pulso Objetivos
de inquebrantável rigor, Caracterizar as perspectivas de Merleau-Ponty e Foucault em torno
não sou mais quem dantes era: do problema do corpo.
com volúpia dirigida,
saio a bailar com meu corpo. Estratégias
ANDRADE, Carlos Drummond de. Corpo. São Paulo: A proposta dessa aula é apresentar duas perspectivas contempo-
FILOSOFIA
Companhia das Letras, 2015, edição digital sem paginação. râneas para pensar o problema da corporeidade. A primeira é aquela
proposta pelo filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. A segunda é
Para casa
aquela proposta por outro filósofo francês, Michel Foucault. Antes
Solicite aos alunos que realizem as atividades 04 e 05 da seção Em de iniciar a apresentação das ideias dos dois filósofos é importante
busca do conceito (p. 26). Caso julgue conveniente, é possível pro- destacar que a questão da corporeidade ganhou grande relevância
por a discussão dos resultados da atividade 04 em sala de aula, na no pensamento contemporâneo, sendo pensada por diversos filó-
próxima aula. sofos, resultando em diferentes perspectivas de análise da questão.

O que somos? 5
Em seguida, para explicar a inovação teórica de Merleua-Ponty é im- caso, para refletir de um ponto de vista filosófico sobre o tema da
portante apresente brevemente a maneira como René Descartes se sexualidade é necessário mais uma vez retomar a questão do meca-
posicionou diante do tema da dualidade do ser humano e suas teses nicismo. Em uma perspectiva mecanicista, a sexualidade seria uma
mecanicistas. A partir disso, é possível apresentar o conceito de corpo dimensão puramente corporal e natural. Porém, as experiências hu-
próprio, o que abre caminho para a reflexão sobre a experiência de manas, como discutido nas aulas anteriores, vão muito além de uma
sermos um corpo no mundo. pura dimensão mecânica do corpo. Por isso, não é possível pensar a
Em seguida, apresente outra perspectiva para a questão da corpo- sexualidade apenas por meio de uma dimensão mecânica.
reidade, aquela formulada por Foucault. Nesse caso, é importante Com base nisso, é possível explicar que a sexualidade está pro-
destacar a maneira como este filósofo pensou o problema do corpo fundamente relacionada com a dimensão cultural e simbólica da
enquanto o local de atuação de poderes. Por meio disso, é possível experiência humana, por isso pode-se dizer que ela opera no cru-
introduzir a questão do poder disciplinar e sua relação com diferentes zamento entre natureza e cultura. E como discutido nas primeiras
instituições. Durante a discussão desse conceito, é possível solicitar aulas do bimestre, o espaço da cultura é justamente o espaço de
aos alunos que reflitam sobre a experiência disciplinar na qual eles transformação operada pela ação humana sobre a realidade. Assim, é
também estão inseridos, aproximando a discussão filosófica do uni- importante destacar em sala de aula que a experiência da sexualidade
verso cotidiano. não é natural, mas se manifesta a partir da constante produção de
Finalmente, para encerrar essa questão, é possível propor a discus- novos valores simbólicos.
são da letra da música “O corpo” de Paulinho Moska (p. 21-22). Caso Para aprofundar isso, é necessário, em primeiro lugar, destacar a
seja possível, toque a canção em sala de aula e, em seguida, proponha maneira como Foucault analisou o tema da sexualidade no ocidente,
a discussão da letra, relacionando esta com os temas debatidos em especialmente a questão das duas visões sobre o sexo. Isso ajuda a en-
sala de aula. tender a dimensão cultural de nossas experiências sobre sexualidade
e a forma como elas se transformam a partir das experiências sociais
Para casa que se desenvolvem ao longo do tempo.
Solicite aos alunos que realizem as atividades do Texto 1 da seção Em seguida, é importante apresentar o conceito de gênero e indi-
Trabalhando com textos (p. 24-25), a atividades 03 da seção Em bus- car como esse conceito é uma tentativa de ir além da pura dimensão
ca do conceito (p. 26) e as atividades da seção A filosofia na história biológica para refletir sobre a experiência da sexualidade. Por meio
(p. 28-29). Professor, caso julgue conveniente, solicite aos alunos que dele, torna-se possível pensar essa experiência como o resultado do
entreguem suas respostas dessa última atividade e discuta as ideias cruzamento de aspectos biológicos e culturais da existência humana.
elaboradas em sala de aula. Finalmente, é importante explicitar com clareza a maneira como a
reflexão sobre gênero possibilitou a formulação das teses de Simo-
AULA 8
ne Beauvoir sobre a condição feminina e sua famosa afirmação de
Página: 22 a 24
que não se nasce mulher, mas torna-se mulher. Para aprofundar essa
O problema filosófico da sexualidade questão, é possível propor a leitura e a discussão do Texto 2 da seção
“Trabalhando com textos” (p. 25-26).
Objetivos
Para casa
Refletir sobre a sexualidade a partir de uma perspectiva filosófica
Analisar as contribuições de Michel Foucault para o problema da Solicite aos alunos que realizem as atividades 06, 07 e 08 da seção
sexualidade Em busca do conceito (p. 26-27), bem como as atividades do Texto
Conceituar gênero 2 da seção “Trabalhando com textos” (p. 26) e da seção Um diálogo
Relacionar o conceito de gênero com o pensamento de Simone com história e sociologia (p. 30-31). As atividades dessa última se-
Beauvoir ção podem ser entregues de modo a avaliar o desenvolvimento do
trabalho durante o módulo e ser utilizada como um instrumento
Estratégias de avaliação. Nesse caso, caso julgue conveniente, discuta com os
Inicie a aula destacando que um tema diretamente relacionado alunos brevemente a proposta da seção e, após a entrega, retome as
com a questão da corporeidade é a questão da sexualidade. Nesse questões trabalhadas em sala de aula.

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8 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


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O que somos? 9
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10 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


ANOTAÇÕES

FILOSOFIA

O que somos? 11
ANOTAÇÕES

12 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


FILOSOFIA
GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE

SÍLVIO GALLO
Licenciado em Filosofia pela PUC-Campinas.
Mestre e Doutor em Educação pela Unicamp.
Livre-docente em Filosofia da Educação pela Unicamp.
Professor associado da Faculdade de Educação da Unicamp.

FILOSOFIA

MÓDULO
Por que e como agimos?

Por que e como agimos?


Após a exibição do filme, proponha aos alunos que debatam a
maneira como ele formula o problema dos valores, bem como sobre

MÓDULO
o significado do próprio conceito de valor. Para isso, uma questão
importante a ser analisada é se os valores que orientam o compor-
Por que e como agimos? tamento humano possuem um significado universal e invariável ou
se ele deve ser entendido de forma histórica, de acordo com o con-
texto social no qual foi elaborado. Ao final, destaque que a proposta
do capítulo é refletir sobre diferentes concepções filosóficas para o
problema dos valores, especialmente por meio da análise das ideias
Plano de aulas sugerido de Platão, Nietzsche e Jean-Paul Sartre.
Carga semanal de aulas: 1
Número total de aulas do módulo: 16 Para casa
Solicite aos alunos que realizem a atividade 1 da seção Em busca
do conceito (p. 18).
Competências Habilidades
c Compreender os elementos c Comparar pontos de vista AULA 2 Páginas: 5 a 7
culturais que constituem as expressos em diferentes
identidades fontes sobre determinado O problema dos valores no pensamento de
c Utilizar os conhecimentos aspecto da cultura.
históricos para compreender c Interpretar historicamente e/ Platão
e valorizar os fundamentos da ou geograficamente fontes
cidadania e da democracia, documentais acerca de Objetivos
favorecendo uma atuação aspectos da cultura. Discutir a questão dos valores no pensamento platônico
consciente do indivíduo na c Analisar a importância dos Relacionar o conceito de cidade justa com a tripartição dos tem-
sociedade valores éticos na estruturação peramentos da alma
política das sociedades.
Estratégias
O tema dessa aula é a questão dos valores no pensamento platô-
1. OS VALORES E AS ESCOLHAS nico. Para analisar essa questão é necessário iniciar apresentação a
concepção de cidade justa para o filósofo grego. Nesse caso, esclarece
Objeto do conhecimento o significado da expressão justa e associe isso com o desenvolvimen-
c Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade to das capacidades racionais do ser humano e a possibilidade de se
buscar o autoconhecimento. Assim, a cidade justa seria aquela na
Objeto específico
qual seus cidadãos encontrariam meios para desenvolver o caráter
c Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na
vida política e social racional de si mesmo. A partir disso, é possível introduzir a questão
c O problema dos valores no pensamento filosófico da tripartição dos temperamentos da alma e dos comportamentos
humanos. Além disso, associe também a questão da tripartição da
alma com o tema da tripartição das classes sociais que formariam a
AULA 1 Páginas: 4 e 5 cidade justa.
Por meio dessa exposição geral do pensamento platônico, é possí-
O problema dos valores e das escolhas vel introduzir o tema da virtude como o supremo valor dessa cidade
justa. Agir bem e de acordo com o valor da justiça é agir segundo as
Objetivos capacidades racionais da alma. Dessa maneira, pode-se destacar que
Analisar a questão filosófica dos valores Platão entende o valor como uma categoria universal, estruturada
em torno do uso da razão. Explique que essa concepção de valor
Estratégias
como uma categoria universal vai ser duramente criticada por outros
A proposta da primeira aula é apresentar o problema filosófico filósofos, como será abordado na próxima aula.
do valor. Para isso, a sugestão é apresentar cenas do filme “Ágora” Ainda na questão da cidade justa e seus valores, é possível propor
(Alejandro Amenábar, 2009) no qual há uma reflexão sobre o conflito uma discussão em sala de aula em torno dessa temática, propondo
de valores discordantes e o posicionamento individual diante des- aos alunos que debatam o que seria uma cidade justa no presente e
se conflito. Outra possibilidade de filme é selecionar cenas da obra quais seriam os valores que deveriam modelar a ação de seus cida-
“O que você faria?” (Marcelo Piñeyro, 2005) para abordar a mesma dãos. Essa discussão, possivelmente, vai evidenciar a existência de inú-
questão. Em ambos os casos, é importante selecionar momentos nos meras concepções distintas de cidade justa entre os alunos. A ideia
quais a questão dos valores fica bastante clara e que permitam iniciar não é promover um consenso, mas estimular a reflexão e destacar
a discussão em sala de aula. justamente que o conceito de valor pode assumir diferentes conota-

2 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


ções e implicar em avaliações muito diferentes para o problema da “não-eu” — e este Não é seu ato criador. Esta inversão do olhar
justiça e do comportamento adequado. que estabelece valores — este necessário dirigir-se para fora, em
vez de voltar-se para si — é algo próprio do ressentimento: a
Para casa moral escrava sempre requer, para nascer, um mundo oposto e
Solicite aos alunos que realizem a atividade 2 da seção Em busca exterior, para poder agir em absoluto — sua ação é no fundo
do conceito (p. 18). reação. O contrário sucede no modo de valoração nobre: ele age
e cresce espontaneamente, busca seu oposto apenas para dizer
AULA 3
Sim a si mesmo com ainda maior júbilo e gratidão — seu con-
Páginas: 8 e 9
ceito negativo, o “baixo”, “comum”, “ruim”, é apenas uma ima-
A historicidade dos valores gem de contraste, pálida e posterior, em relação ao conceito
básico, positivo, inteiramente perpassado de vida e paixão,
Objetivos “nós, os nobres, nós, os bons, os belos, os felizes!”. Os “bem-
Identificar os principais elementos da crítica aos valores universais -nascidos” se sentiam mesmo como os “felizes”; eles não tinham
na obra de Nietzsche de construir artificialmente a sua felicidade, de persuadir-se
Conceituar vontade de poder dela, menti-la para si, por meio de um olhar aos seus inimigos
(como costumam fazer os homens do ressentimento); e do mes-
Estratégias mo modo, sendo homens plenos, repletos de força e portanto
Inicie a aula retomando a questão da universidade dos valores no necessariamente ativos, não sabiam separar a felicidade da ação
pensamento platônico. Destaque que essa tradição filosófica desem- — para eles, ser ativo é parte necessária da felicidade (...) —
penhou um papel importante na história do pensamento filosófico, tudo isso o oposto da felicidade no nível dos impotentes, opres-
porém também recebeu críticas, especialmente na obra de filósofos sos, achacados por sentimentos hostis e venenosos, nos quais
contemporâneos. Um exemplo disso é a obra do filósofo alemão Frie- ela aparece essencialmente como narcose, entorpecimento, sos-
drich Nietzsche. Com base nisso, destaque a maneira como ele elabo- sego, paz, “sabbat”, distensão do ânimo e relaxamento dos
rou uma crítica dos valores universais e defendeu a historicidade dos membros, ou, numa palavra, passivamente. Enquanto o homem
valores. Isso significa que a ideia de justiça, por exemplo, não é universal, nobre vive com confiança e franqueza diante de si mesmo (...),
mas assume diferentes sentidos de acordo com o contexto histórico ou o homem do ressentimento não é franco, nem ingênuo, nem
social. Além disso, é possível discutir a maneira como a ideia de justiça honesto e reto consigo. Sua alma olha de través; ele ama os re-
pode ser utilizada como uma forma de justificar a dominação de um fúgios, os subterfúgios, os caminhos ocultos, tudo escondido
grupo sobre o outro, já que ela pode expressar aquilo que é justo para lhe agrada como seu mundo, sua segurança, seu bálsamo; ele
um grupo e prejudicial para outro, mas ainda assim ser apresentada entende do silêncio, do não-esquecimento, da espera, do mo-
como uma característica universal e válida para ambos os grupos. mentâneo apequenamento e da humilhação própria. Uma raça
Em seguida, introduza a questão da “moral do rebanho” e a dis- de tais homens do ressentimento resultará necessariamente mais
tinção entre duas “vontades de poder” e a questão da força e da inteligente que qualquer raça nobre, e venerará a inteligência
afirmação da vontade. Por meio dessa distinção é possível discutir numa medida muito maior: a saber, como uma condição de
como os valores são fabricados, já que eles estão relacionados com existência de primeira ordem, enquanto para os homens nobres
a vontade de poder forte e com a vontade de poder fraca, além de ela facilmente adquire um gosto sutil de luxo e refinamento —
ser possível relacionar as ideias desse filósofo com a crítica às formas pois neles ela está longe de ser tão essencial quanto a completa
autoritárias de poder. É importante destacar que quando Nietzsche certeza de funcionamento dos instintos reguladores inconscien-
fala em vontade de poder, isso não significa exclusivamente o poder tes, ou mesmo uma certa imprudência, como a valente precipi-
político. Um artista, por exemplo, que cria uma obra de arte, está ex- tação, seja ao perigo, seja ao inimigo, ou aquela exaltada impul-
pressando essa vontade. Assim, os indivíduos fortes não são aqueles sividade na cólera, no amor, na veneração, gratidão, vingança,
que dominam os outros, mas aqueles que afirmam sua própria força na qual se têm reconhecido os homens nobres de todos os tem-
e criam a partir dessa afirmação. pos. Mesmo o ressentimento do homem nobre, quando nele
Professor, para aprofundar a distinção entre a vontade de poder for- aparece, se consome e se exaure numa reação imediata, por isso
te, chamada por Nietzsche como valoração nobre, e a vontade de po- não envenena: por outro lado, nem sequer aparece, em inúme-
der fraca, chamada de valoração escrava da moral, é possível consultar ros casos em que é inevitável nos impotentes e fracos. Não con-
o texto complementar a seguir. Ele pode ser utilizado para fornecer seguir levar a sério por muito tempo seus inimigos, suas des-
FILOSOFIA
subsídios em sala de aula ou mesmo para discussão com os alunos: venturas, seus malfeitos inclusive — eis o indício de naturezas
A rebelião escrava na moral começa quando o próprio res- fortes e plenas, em que há um excesso de força plástica, mode-
sentimento se torna criador e gera valores: o ressentimento dos ladora, regeneradora, propiciadora do esquecimento (...). Um
seres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos, e que homem tal sacode de si, com um movimento, muitos vermes
apenas por uma vingança imaginária obtêm reparação. Enquan- que em outros se enterrariam; apenas neste caso é possível, se
to toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já for possível em absoluto, o autêntico “amor aos inimigos”.
de início a moral escrava diz Não a um “fora”, um “outro”, um Quanta reverência aos inimigos não tem um homem nobre!

Por que e como agimos? 3


— e tal reverência é já uma ponte para o amor... Ele reclama Estratégias
para si seu inimigo como uma distinção, ele não suporta inimi- A proposta dessa aula é apresentar as bases do pensamento sar-
go que não aquele no qual nada existe a desprezar, e muito a triano para entender a maneira como esse filósofo francês analisa
venerar! Em contrapartida, imaginemos “o inimigo” tal como o a questão do valor. Para iniciar, é importante explicitar a influência
concebe o homem do ressentimento — e precisamente nisso fenomenológica que marcou a obra desse autor e a forma como
está seu feito, sua criação: ele concebeu “o inimigo mau”, “o essa perspectiva analisa o problema da consciência. Com base nisso,
mau”, e isto como conceito básico, a partir do qual também é possível explicar a afirmação sartriana de que o ser humano é um
elabora, como imagem equivalente, um “bom” — ele mesmo!... ser consciente e a maneira como a noção de falta é essencial para
Referência: NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. São Paulo: entender o problema do valor e da vontade. Para explorar essa ideia,
Companhia das Letras, 2009, p. 26-28.
é possível apresentar a canção de Zeca Baleiro presente nas páginas
11 a 13. Professor, caso seja possível, é interessante tocar a música
AULA 4 Páginas: 9 e 10 e depois discutir a letra com os alunos, traçando relações entre a
questão do desejo e da falta e como isso evidencia a questão do
A crítica nietzschiana à inversão dos valores valor como uma falta. Finalmente, com base nisso tudo, é necessário
introduzir o conceito de transcendência, destacando a maneira como
Objetivo o filósofo o relacionada com a produção de valor durante o processo
Refletir sobre a inversão dos valores na perspectiva nietzschiana de superação de si mesmo.
Analisar o papel do ressentimento na crítica da moral proposta por Toda essa problemática fornece as bases para a crítica sartriana de
Nietzsche uma moral universal. Para o filósofo francês todo valor e toda moral
possui uma dimensão puramente individual, não sendo caracteri-
Estratégias
zada por regras universais ou que podem ser aplicadas em todas as
O objetivo dessa aula é continuar explorando as ideias de Nietzs- situações. Na realidade, a ação humana se organiza a partir da trans-
che em torno do problema dos valores. Nesse caso, retome a dis- cendência e dos valores que se constituem nesse processo. Por isso,
cussão da aula anterior e, em seguida, destaque que para o filósofo toda moral é relativa e precisa ser pensada no contexto em que o
alemão há duas fontes principais para explicar a inversão dos valores comportamento moral é realizado.
fracos e fortes. A primeira está relacionada com a tradição socrática-
-platônica da imortalidade da alma. A segunda está relacionada com
o cristianismo e seus preceitos morais. Explore essas duas tradições AULA 6 Páginas: 14 a 16
e relacione ambas com as propostas nietzschianas. É importante ar-
ticular isso com a distinção entre “caráter ativo” e “caráter reativo” e A liberdade no pensamento de Sartre
como eles produzem sistemas de valores distintos. Nesse caso, isso
Objetivos
permite retomar ideias discutidas na aula anterior, como a moral do
escravo e a moral dos nobres. Relacionar o problema do valor e da liberdade na obra de Sartre
Aproveite para discutir o trecho da obra de Nietzsche presente Estratégias
na página 10 e propor aos alunos que reflitam sobre a questão do
Retome a questão do valor no pensamento de Sartre e reforce a
ressentimento e suas implicações morais. Depois, analise a questão
questão da consciência na produção de valores. Lembre os alunos
das duas felicidades e a inversão da noção de bom e ruim pela noção
que o valor, na filosofia sartriana, deixa de constituir um ser em si
de bem e mal. Finalmente, introduza a ideia de transvaloração dos
mesmo, ou seja, um parâmetro universal e que se aplica a todos para
valores e a defesa que Nietzsche faz de uma crítica radical da moral
se tornar uma dimensão da consciência, um resultado da própria
visando a construção de novos valores para o mundo.
ação da consciência. Dessa forma, não é possível defender a existên-
Para casa cia de valores que são aplicáveis a todos ou em qualquer contexto.
Solicite aos alunos que realizem a atividade 3 da seção Em busca A busca de valores universais seria um exemplo daquilo que Sartre
do conceito (p. 18). chamou de má-fé, ou seja, uma forma de autoengano. Isso porque
quando dizemos que os valores são universais, estamos tentando
abrir mão da responsabilidade da construção de nossos próprios
AULA 5 Páginas: 10 a 15 valores. É como se pudéssemos justificar nossas ações a partir de
critérios que não são nossos.
O problema do valor no pensamento Porém, de acordo com o pensamento sartriano, todo valor é sem-
sartriano pre uma produção da nossa própria estrutura da consciência, por isso
sempre somos responsáveis por aquilo que fazemos. Por essa razão
Objetivos que Sartre afirma que somos condenados a ser livres, ou seja, sempre
Identificar as bases do pensamento sartriano faremos nossas próprias escolhas morais e teremos que arcar com as
Analisar as críticas de Sartre aos valores universais consequências de nossos atos e decisões. Essa questão é essencial para
analisar a questão da moral e do valor na obra de Sartre, já que sua

4 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


crítica da universalidade dos valores acaba situando toda decisão AULA 7 Página: 16
moral no campo da liberdade individual. Ao mesmo tempo em que
isso parece criar uma situação na qual todas as escolhas são legítimas, Retomando a questão
ela também obriga o indivíduo a assumir toda responsabilidade por
suas ações. Objetivos
Nesse caso, é possível propor uma discussão em sala de aula so- Discutir as diferentes perspectivas filosóficas em torno do proble-
bre a questão da liberdade e dos valores, destacando as implicações ma do valor
práticas dessa perspectiva. A ideia é que os alunos reflitam sobre o
significado dessa liberdade e o que significa afirmar que não existem Estratégias
valores prévios capazes de organizar nossas decisões individuais. Essa A proposta dessa aula é retomar as questões discutidas anterior-
discussão pode ser feita oralmente e sintetizada na forma de um tex- mente em torno da problemática dos valores. Para isso, uma possibi-
to escrito. Além disso, professor, caso deseje aprofundar o debate em lidade seria selecionar e exibir um dos filmes da seção “Sugestão de
torno desse tema, é possível consultar o texto complementar a seguir, leituras e de filmes” (p. 20), em seguida propor a discussão da obra a
no qual o filósofo explicita uma das teses centrais de seu pensamento, partir das questões trabalhadas anteriormente, especialmente a ques-
a questão da liberdade na constituição da experiência humana: tão da universalidade ou a historicidade dos valores. Caso não haja
O homem, tal como o existencialista o concebe, se não é tempo para a exibição integral do filme, é possível selecionar trechos
definível, é porque de início ele não é nada. Ele só será em se- ou mesmo propor aos alunos que vejam o filme integralmente em
guida, e será como se tiver feito. Assim, não há natureza huma- casa para que seja discutido em sala de aula.
na, pois não há Deus para concebê-la. O homem é não apenas Outra possibilidade de atividade é propor aos alunos que elaborem
tal como ele se concebe, mas como ele se quer, e como ele se uma curta cena dramática que retome questões e problemas relacio-
concebe depois da existência, como ele se quer depois desse nados com os valores e as decisões humanas trabalhados nas aulas
impulso para a existência, o homem nada mais é do que aquilo anteriores. Nesse caso, os alunos podem ser reunidos em pequenos
que ele faz de si mesmo. Tal é o primeiro princípio do existen- grupos para elaborar as cenas e, posteriormente, apresentá-las aos
cialismo. É também o que se chama a subjetividade, e que nos colegas. Ao final, é importante que ocorra um debate para discutir
reprovam sob esse mesmo nome. Mas, que queremos dizer com os temas trabalhados nas cenas. Essa proposta pode ser realizada
isso, senão que o homem tem mais dignidade que a pedra ou em duas aulas, de modo a que todos os grupos possam participar e
que a mesa? Pois nós queremos dizer que o homem primeiro apresentar suas ideias.
existe, isto é, que ele é de início aquele que se lança para um
porvir, e que é consciente de se lançar no porvir. O homem é Para casa
de início um projeto que se vive subjetivamente, ao invés de ser Solicite aos alunos que realizem as atividades 5 e 6 da seção Em
um musgo, uma podridão, um couve-flor; nada existe antes busca do conceito (p. 18). A atividade 5 pode ser utilizada como um
desse projeto; nada está no céu inteligível, e o homem será aqui- dos instrumentos de avaliação das atividades desenvolvidas ao longo
lo que ele tiver projetado ser. Não o que ele quiser ser. Pois o do módulo.
que entendemos vulgarmente por querer é uma decisão cons-
ciente e que é para a maior parte de nós posterior àquilo que AULA 8 Páginas: 16 a 18
fizemos de nós mesmos. Posso querer aderir a um partido, es-
crever um livro, casar-me, tudo isso é uma manifestação de uma Trabalhando com textos
escolha mais original, mais espontânea do que aquilo que cha-
mamos vontade. Mas se verdadeiramente a existência precede Objetivos
a essência, o homem é responsável por aquilo que ele é. Assim, Ler e analisar textos filosóficos
o primeiro passo do existencialismo é colocar todo homem de
posse daquilo que ele é e fazer cair sobre ele a responsabilidade Estratégias
total por sua existência. E, quando nós dizemos que o homem A proposta da aula é analisar os textos da seção “Trabalhando com
é responsável por si mesmo, não queremos dizer que o homem textos” (p. 16-18). Para isso, solicite aos alunos para que leiam inicial-
é responsável por sua estrita individualidade, mas que ele é mente os textos de forma individual. Em seguida, proponha uma
responsável por todos os homens. discussão coletiva das principais ideias exploradas nos dois textos.
SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Após essa discussão, solicite aos alunos que respondam as atividades
São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 05-06.
FILOSOFIA
dos textos. Estas respostas podem ser feitas de modo que possam
Para casa ser entregues e utilizadas como um instrumento de avaliação do tra-
Solicite aos alunos que realizem a atividade 4 da seção Em busca balho ao longo do módulo. Finalmente, para encerrar a discussão,
do conceito (p. 18). é possível retomar as questões e discutir oralmente, de modo que
todos possam se posicionar em torno dos temas e refletir sobre suas
próprias posições.

Por que e como agimos? 5


Para casa AULA 10 Páginas: 22 e 23
Solicite aos alunos que realizem a atividade 7 da seção Em busca
do conceito (p. 18-19). Aristóteles e a ética como ação para a
felicidade
2. ÉTICA: POR QUE E PARA QUÊ? Objetivos
Apresentar os principais elementos do pensamento aristotélico
Objeto do conhecimento sobre a Ética
c Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade Diferenciar ciências teoréticas e ciências práticas
Objeto específico Estratégias
c Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na Inicie a aula retomando brevemente as formulações socráticas sobre
vida política e social
c O problema filosófico da Ética
a ética e a questão da cidade justa, discutidas no capítulo anterior.
Em seguida, explique que Aristóteles também se dedicou a analisar a
questão da Ética na Antiguidade. Para iniciar a análise dessa questão,
AULA 9 Páginas: 21 e 22 apresente a divisão entre ciências teoréticas e ciências práticas no pen-
samento desse filósofo. Nesse caso, explique que a Ética faz parte das
Colocando o problema ciências do segundo grupo, junto com a economia e a política. Res-
salte também os campos que cada uma dessas ciências se dedicava.
Objetivos Com base nisso, apresente as características gerais da Ética, que
Refletir sobre a questão ética na vida cotidiana pode ser sintetizada como um saber que busca ensinar a viver de
Identificar as perspectivas principais para o problema da ética na acordo com o caráter de cada um. Assim, a Ética seria um saber que
filosofia ocidental pode ser aprendido e que está relacionado com a limitação dos ape-
tites. Destaque também a questão dos humores e como isso afetava
Estratégias o comportamento individual na perspectiva aristotélica. Finalize a
Inicie a aula propondo aos alunos para que observem a imagem da aula explorando detalhadamente a questão do aprendizado do agir
página 21. Peça para que eles a descrevam e discutam a situação que ético e proponha aos alunos que discutam de que forma eles julgam
ela representa. Com base nessa discussão inicial, ressalte que existem que pode ser possível aprender a bem agir e a viver de forma feliz em
diversas maneiras dos indivíduos conduzirem suas próprias vidas e nosso cotidiano.
agirem no mundo e na suas relações com os outros. Os problemas
relacionados com esse tipo de ação são analisados por um uma área AULA 11 Páginas: 24
da filosofia que recebeu o nome de ética. Antes de iniciar a reflexão
propriamente sobre o campo da ética, proponha aos alunos que re- A felicidade como supremo bem
flitam sobre os questionamentos da página 21. Proponha aos alunos
que debatam coletivamente os questionamentos e se posicionem Objetivos
diante dessas questões. Explique que, em casa, eles deverão elaborar Relacionar a felicidade com o supremo bem
um texto retomando essas questões. Refletir sobre diferentes concepções de felicidade
Depois de finalizada essa discussão, analise a diferença entre ética e
moral e a forma como essa temática foi elaborada na filosofia antiga Estratégias
e destaque que surgiram duas perspectivas principais para analisar Inicie a aula explorando a noção de ética para Aristóteles como
a questão da ética e a forma como os indivíduos conduzem suas um modo de ensinar bons costumes e a formar o bom caráter nos
vidas: uma que ressalta a busca pela felicidade e outra que ressalta a indivíduos. Sendo assim, destaque que o filósofo grego entendia que
questão do dever. os indivíduos não nascem éticos, mas precisam atravessar um longo
processo de formação. Para explorar em detalhes esse tema, discuta
Para casa
com os alunos o Texto Complementar a seguir. Trata-se de um frag-
Solicite aos alunos que elaborem um texto argumentativo em tor- mento da Ética a Nicômaco no qual Aristóteles reflete sobre a ética
no das questões debatidas coletivamente em sala de aula. enquanto um saber formativo que só pode ser alcançado após um
longo trabalho de aprendizado e contemplação.
Em seguida, introduza a temática da felicidade no pensamento de
Aristóteles. Explique os quatro ideais diferentes de felicidade identi-
ficados pelo pensador grego e destaque a maneira como ele refuta
essas concepções, apontando que elas não permitem aos indivíduos
alcançarem o supremo bem, que se bastaria por si próprio. Assim, a
única coisa que poderia ser realmente chamada de felicidade seria

6 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


aquilo que se bastaria por si próprio e que não depende das contin- alcançada quando o indivíduo consegue agir sempre de acordo com
gências da vida, como é o caso da riqueza e da honra. Para finalizar as virtudes intelectuais, já que estas são a expressão máxima da ca-
a aula, proponha aos alunos que reflitam sobre a felicidade como pacidade racional da alma humana.
supremo bem e que produzam um curto texto explicando o que Para finalizar a aula, compare e diferencie o prazer da felicidade,
seria esse supremo bem para eles. Esse texto pode ser entregue e ressaltando que ainda que o prazer seja um bem e que deva ser
utilizado como um dos instrumentos de avaliação do trabalho ao procurado, ele não pode ser confundido com a felicidade em si
longo do módulo. mesma. Finalmente, destaque o papel das leis na criação de hábi-
É, por isso, que dizemos acertadamente que nem o boi tos virtuosos nos indivíduos e como uma forma de produzir uma
nem o cavalo nem nenhum dos animais é feliz; na realidade, sociedade na qual os indivíduos aprendem a agir eticamente ao
nenhum deles é capaz de tomar parte numa atividade daquele longo de suas vidas.
gênero. Por essa mesma razão não se pode dizer que uma crian-
ça é feliz, porque uma criança não tem ainda idade para ser Para casa
capaz de agir, em situações daquela natureza. Para se ser feliz, Solicite aos alunos que realizem a atividade 2 da seção Em busca
é, então, necessário, tal como dissemos, tanto uma excelência do conceito (p. 32).
completa como uma existência completa. É que há muitas
transformações e acasos de diversas proveniências ao longo da AULA 13 Páginas: 26 e 27
vida, e é possível a quem prosperou cair, já na velhice, em si-
tuações de grande adversidade. O feliz possuirá a estabilidade Kant e a ética como ação segundo o dever
procurada na felicidade e permanecerá assim ao longo da sua
vida. Levará à prática e terá na pura contemplação sempre, ou Objetivos
durante mais tempo do que todos os outros, aquelas coisas res- Contextualizar as ideias de Kant
peitantes à excelência e suportará o mais nobremente possível Associar a filosofia ética de Kant com a noção de dever
tudo o que aconteça a respeito do que quer que seja. (p. 32-33)
Estratégias
Para casa Inicie a aula destacando que a reflexão sobre a Ética passou por
Solicite aos alunos que realizem a atividade 1 da seção Em busca uma grande transformação no século XVIII, quando o filósofo alemão
do conceito (p. 32). Immanuel Kant propôs uma concepção de ética baseada na noção
de intenção e não mais pela noção de finalidade. Isso possibilitou a in-
AULA 12 Páginas: 24 a 26 trodução do conceito de dever na base da ação ética dos indivíduos.
Em seguida, contextualize a obra de Kant no século XVIII e apresente
A felicidade como exercício da faculdade brevemente seus principais trabalhos em torno da questão ética.
racional da alma Em seguida, apresente os conceitos de razão teórica e razão prática
e explique as diferenças entre ambos. Ressalta que para Kant é a razão
Objetivos prática que desempenha o papel de legislar sobre a vontade e organi-
Refletir sobre a concepção aristotélica de alma zar as ações humanas. Explique também que a vontade é concebida
Associar a felicidade com o uso racional das faculdades da alma no de forma distinta por Kant, que ressalte seu caráter racional e capaz
pensamento aristotélico de ser conduzida de maneira a seguir leis, especialmente aquelas leis
que não nos são impostas pela sociedade.
Estratégias Com base nisso, explique o conceito de autonomia e sua relação
Inicie a aula retomando a questão do supremo bem e destaque com o conceito de liberdade, bem como sua diferença da hetero-
que para entender o significado desse conceito para Aristóteles é nomia. Nesse caso, explique que uma das principais aplicações da
necessário, em primeiro lugar, analisar a maneira como ele concebe o razão prática é promover a autonomia e a liberdade, evitando a ne-
funcionamento da alma humana. Diferentemente de Platão, Aristóte- cessidade da imposição de uma autoridade que nos é exterior e que
les vai dizer que a alma é única, mas com funções variadas. Destaque limitaria nossa liberdade.
as diferentes funções da alma e ressalte que a mais importante, na
perspectiva do filósofo grego, é a faculdade racional da alma. Por
Para casa
conta disso, agir bem seria agir de acordo com a dimensão racional Solicite aos alunos que realizem a atividade 3 da seção Em busca FILOSOFIA
da alma, dotando o comportamento de ações virtuosas, como a pru- do conceito (p. 32).
dência e a autonomia.
Assim, para entender o supremo bem é necessário compreender
sua profunda associação com a vida virtuosa. Explique que Aristó-
teles divide as virtudes em dois tipos: as práticas ou morais e as in-
telectuais. Caracterize essas formas diferentes de virtudes e relacione
isso com a ação sobre o mundo, ressaltando que a felicidade seria

Por que e como agimos? 7


AULA 14 Páginas: 28 e 29 ser utilizada como um dos instrumentos de avaliação do trabalho
desenvolvido ao longo do módulo.
O imperativo categórico Para o esclarecimento, porém, nada é exigido além da li-
berdade; e mais especificamente a liberdade menos danosa de
Objetivos todas, a saber: utilizar publicamente sua razão em todas as di-
Conceituar imperativo categórico mensões. Mas agora escuto em todos os cantos: não raciocineis!
Relacionar o imperativo categórico com a criação de uma ética O oficial diz: não raciocineis, exercitai-vos! O Conselho de Fi-
universal no pensamento de Kant nanças: não raciocineis, pagai! O líder espiritual: não racioci-
neis, crede! (um único senhor no mundo pode dizer: raciocinai
Estratégias o quanto quiser, e sobre o que quiser; mas obedecei!) Por todo
Inicie a aula explicando a relação entre o comportamento indivi- canto há a restrição da liberdade. E qual restrição serve de obs-
dual e o comportamento universal no pensamento de Kant. Desta- táculo para o esclarecimento? Qual não o impede e até mesmo
que que o filósofo alemão defende que para a formação da comuni- o sustenta? Respondo: o uso público do entendimento deve ser
dade humana é necessário a existência de um princípio comum que livre em qualquer momento, e só ele pode gerar o esclarecimen-
oriente as ações individuais. A base desse princípio comum é a lei to entre os seres humanos; o uso privado do mesmo pode fre-
racional. Isso garante a universalidade desse princípio, que pode ser quentemente ser bastante restrito, sem que, todavia, o progres-
seguido por todos os indivíduos em todas as sociedades humanas. so do esclarecimento seja, por isso, impedido. Compreendo,
Com base nisso, introduza o conceito de imperativo categórico e o porém, como uso público da razão aquele que é feito por al-
diferencie de valores morais disseminados nas sociedades humanas. guém, como douto, perante o mundo letrado. Por uso privado,
Ressalte que o imperativo exige uma universalidade superior àquela entendo aquele que o douto pode fazer em um posto civil ou
dos valores morais. Em seguida, explique os três princípios que regu- público. Contudo, para algumas ocupações, que lidam com as-
lam o imperativo moral. Explique também que o imperativo moral suntos de interesse geral, faz-se necessário um mecanismo por
é um princípio que regula como devemos agir, retomando com isso meio do qual alguns membros da comunidade precisam se
a noção de dever formulada na aula anterior. Para finalizar a aula, comportar passivamente, para que, com uma unanimidade ar-
analise e diferencie o comportamento heterônimo e autônomo em tificial, possam ser conduzidos pelo governo em prol de fins
torno do problema do assassinato. Destaque que Kant entendia que públicos, ou para que ao menos estes fins públicos sejam pre-
um indivíduo só se conduziria de forma autônoma quando agisse servados. Neste caso, seguramente, não é permitido raciocinar;
sempre segundo o princípio do imperativo categórico e não por con- é necessário obedecer. Mas, na medida em que essa peça da
ta de regras ou proibições morais e costumeiras. engrenagem se veja simultaneamente como membro de uma
comunidade, ou mesmo da própria sociedade civil mundial,
Para casa que, como douto, dirige-se ao público, seguindo seu próprio
Solicite aos alunos que realizem a atividade 4 da seção Em busca entendimento por meio de seus escritos, ele pode raciocinar o
do conceito (p. 32). quanto quiser, sem que sejam prejudicadas as ocupações em
que está inserido parcialmente como membro passivo. Seria
AULA 15 Página: 30 muito prejudicial se um oficial, ao receber uma ordem de seu
superior, começasse a questionar explicitamente a conveniência
O agir ético e a saída da menoridade ou utilidade dessa ordem; ele deve obedecer. É uma questão de
justiça, por outro lado, que não se lhe proíba de, como douto,
Objetivos fazer observações que serão apresentadas ao julgamento públi-
Conceituar menoridade co a respeito dos equívocos no serviço militar. O cidadão não
Conceituar maioridade pode se recusar a pagar os impostos que lhe cabem; a recusa
Refletir sobre a maioridade no mundo contemporâneo veemente de cumprir tais tarefas, caso sejam levadas adiante,
pode inclusive ser punida como escândalo (posto que poderia
Estratégias gerar ampla desobediência civil). Pelo mesmo motivo não age
Explique os conceitos de menoridade e maioridade para o filósofo contra os deveres do cidadão aquele que, como douto, se ex-
alemão Immanuel Kant e destaque o papel do conhecimento e do pressa publicamente a respeito da improcedência e injustiça
livre-pensamento no processo de passagem da menoridade para a dessas incumbências. Da mesma maneira, um sacerdote deve
maioridade. Em seguida, proponha a leitura e a discussão do texto da pregar para seus alunos de catecismo e para sua comunidade
página 30. Caso deseje aprofundar essa questão, é possível utilizar o seguindo o credo da Igreja a que serve, pois foi essa a condição
Texto Complementar a seguir para debate em sala de aula. Trata-se pela qual foi acolhido por ela. Mas, como erudito, ele tem toda
de outro fragmento da obra de Kant sobre a questão da maioridade. a liberdade, na verdade a obrigação, de participar ao público
Ao final da aula, debate com os alunos o que significaria viver hoje na seus pensamentos bem-intencionados e cuidadosamente fun-
condição de maioridade e como agir de forma livre em nosso mundo. damentados sobre o que há de falho naquele credo e fazer pro-
Essa discussão será retomada na atividade para casa, a qual poderá postas para a criação de melhorias na instituição religiosa e

8 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


clerical. Não há nada aqui que possa pesar em sua consciência. AULA 16 Páginas: 31 e 32
Pois o que ele prega em função de seu posto como representan-
te da Igreja é algo que ele não pode ensinar como bem entende, Trabalhando com textos
algo determinado em nome e a partir da prescrição de um ou-
tro. Ele dirá: nossa igreja ensina isto e aquilo; esses são os fun- Objetivos
damentos cabais dos quais ela se serve. De preceitos que ele Ler e analisar textos filosóficos
mesmo não subscreveria com plena convicção, depreende re-
gras úteis para a sua comunidade, e nisso pode se comprometer, Estratégias
uma vez que não é de todo impossível que ali se esconda a A proposta da aula é analisar os textos da seção “Trabalhando com
verdade; todavia, não pode haver ali nada que contradiga sua textos” (p. 31-32). Para isso, solicite aos alunos para que leiam inicial-
religião interior. Pois caso se desse tal contradição ele não po- mente os textos de forma individual. Em seguida, proponha uma
deria prestar seu serviço de consciência limpa; precisaria renun- discussão coletiva das principais ideias exploradas nos dois textos.
ciar. Desta maneira, como professor contratado, a utilização que Após essa discussão, solicite aos alunos que respondam as atividades
faz de sua razão perante sua comunidade é meramente um uso dos textos. Estas respostas podem ser feitas de modo que possam
privado, uma vez que, por maior que seja sua dimensão, trata-se ser entregues e utilizadas como um instrumento de avaliação do tra-
de um encontro doméstico. Frente a esta situação, ele não é li- balho ao longo do módulo. Finalmente, para encerrar a discussão,
vre como sacerdote, nem deve sê-lo, pois executa instruções de é possível retomar as questões e discutir oralmente, de modo que
outrem. Por outro lado, como douto que fala ao público — no- todos possam se posicionar em torno dos temas e refletir sobre suas
meadamente, o mundo —, aí incluído o sacerdote que faz uso próprias posições.
público de sua razão, ele goza de liberdade irrestrita para se
servir da própria razão e falar por si mesmo. O fato de os tuto- Para casa
res do povo (em assuntos religiosos) deverem retornar à condi- Solicite aos alunos que realizem a atividade 7 da seção Em busca
ção de menoridade é uma tolice que gera a perpetuação das do conceito (p. 33).
tolices.
Referência: KANT. Resposta à pergunta: Que é Esclarecimento?.
In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2007, arquivo digital sem paginação.

Para casa
Solicite aos alunos que realizem a atividade 5 e 6 da seção Em busca
do conceito (p. 32-33).

FILOSOFIA

Por que e como agimos? 9


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Por que e como agimos? 11


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12 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


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FILOSOFIA

Por que e como agimos? 13


ANOTAÇÕES

14 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


ANOTAÇÕES

FILOSOFIA

Por que e como agimos? 15


ANOTAÇÕES

16 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


FILOSOFIA
GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE

SÍLVIO GALLO
Licenciado em Filosofia pela PUC-Campinas.
Mestre e Doutor em Educação pela Unicamp.
Livre-docente em Filosofia da Educação pela Unicamp.
Professor associado da Faculdade de Educação da Unicamp.

FILOSOFIA

MÓDULO
Problemas contemporâneos

Problemas contemporâneos
o filme aos alunos. Nesse caso, é possível selecionar trechos princi-
pais ou, caso seja possível, exibi-lo integralmente aos alunos. Ao final
da aula, proponha aos alunos que elaborem, como tarefa de casa,
MÓDULO um texto sintetizando as principais ideias trabalhadas no filme, bem
Problemas contemporâneos como de que modo a obra aborda o problema político da violência e
da formação de regimes totalitários, bem como a questão do uso da
violência como uma forma de luta contra regimes injustos. Explique
que na próxima aula, esse tema será debatido coletivamente.
Plano de aulas sugerido Para casa
Carga semanal de aulas: 1 A tarefa de casa é a realização do texto solicitado no final da aula.
Número total de aulas do módulo: 8
AULA 2 Página: 4

Competências Habilidades Violência e política


c Compreender os elementos c Comparar pontos de vista
culturais que constituem as expressos em diferentes Objetivos
identidades fontes sobre determinado Analisar a relação entre violência e política.
c Utilizar os conhecimentos aspecto da cultura.
históricos para compreender c Interpretar historicamente e/ Estratégias
e valorizar os fundamentos da ou geograficamente fontes
A proposta da aula é organizar um debate coletivo em torno do
cidadania e da democracia, documentais acerca de
favorecendo uma atuação aspectos da cultura. problema da violência e da política. Para isso, inicie propondo aos
consciente do indivíduo na c Identificar registros de alunos que retomem a trama do filme e apresentem os principais
sociedade práticas de grupos sociais no elementos fornecidos pela obra para uma reflexão em torno dessa
tempo e no espaço. problemática. Em seguida, solicite aos alunos para que reflitam so-
bre as duas questões propostas na página 04. A ideia é que todos
debatam coletivamente essas questões e apresentem seus pontos
1. QUAIS SÃO OS DESAFIOS POLÍTICOS de vista sobre o tema. Finalmente, uma terceira etapa da discussão
CONTEMPORÂNEOS? é propor uma relação dessas ideias com o mundo contemporâneo.
Questione os alunos sobre situações nas quais é possível refletir sobre
a relação entre violência e política, bem como sobre a legitimidade do
Objeto do conhecimento uso da força com o objetivo de modificar os regimes políticos ou a
c Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade
organização de uma sociedade. É importante que os alunos apontem
Objeto específico exemplos para reforçar a argumentação e a defesa dos seus pontos
c Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na de vista. Ao final da discussão, solicite aos alunos que elaborem uma
vida política e social dissertação sobre o tema da relação entre violência e política, a qual
c Problemas políticos contemporâneos
deverá ser finalizada em casa. Este texto pode ser utilizado como
um dos instrumentos de avaliação das atividades desenvolvidas ao
AULA 1
longo do módulo.
Página: 4
Para casa
Colocando o problema A tarefa de casa é a elaboração da dissertação a partir dos temas
Objetivos discutidos em aula.
Analisar a representação fílmica sobre a relação entre violência
e política. AULA 3 Páginas: 5 a 7

Estratégias O conceito de Império no pensamento de


A proposta da aula é fornecer elementos para iniciar a reflexão em Antonio Negri
torno da questão dos desafios políticos contemporâneos. Para isso, a
Objetivos
ideia é apresentar o filme V de Vingança. Esse consiste em um filme
de ficção científica que se passa em um futuro distópico, no qual os Conceituar império;
seres humanos são governados por um governo totalitário e violen- Conceituar produção biopolítica.
to. Diante disso, um militante anarquista passa a utilizar estratégias
violentas para lutar contra o regime. A ideia seria, nessa aula, exibir

2 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


Estratégias construção efetiva de uma democracia global. Aponte exemplos
Inicie a aula explicando que um dos pensadores contemporâneos concretos de posturas que combatem a ação do Império em nosso
que refletiu sobre os desafios políticos em nosso mundo é o filósofo mundo e as relacione com os conceitos trabalhados e discutidos ao
italiano Antonio Negri. Para isso, ele elaborou o conceito de Império. longo da aula.
Para analisar esse conceito, explique a questão da passagem da era Professor, caso deseje aprofundar a reflexão em torno da obra de
moderna para a era pós-moderna e a transformação que isso impli- Antonio Negri, é possível consultar o Texto Complementar a seguir.
cou nas relações de soberania. Nesse caso, compare a organização Trata-se de uma entrevista concedida pelo filósofo ao jornal brasileiro
do Estado-nação com a organização da estrutura que esse filósofo Zero Hora em 2014. Ela pode fornecer subsídios para as discussões
chamou de Império. É importante analisar de forma detalhada as em sala de aula ou mesmo ser lida e discutida com os alunos:
quatro características principais desse tipo de organização política. O senhor define multidão como um conjunto de singula-
Além disso, relacione a ação do Império com a questão da produção ridades que não é representável, sendo ao mesmo tempo sujei-
biopolítica, que implica em uma tentativa de governo de todos os to e produto da prática coletiva. Como essa multidão se organi-
aspectos da vida social. za, num mundo marcado pela crescente fragmentação? O que
Durante a discussão da questão do Império, é importante aproxi- provoca o levante da multidão, como ocorreu no Brasil em ju-
mar o conceito filosófico de situações concretas, destacando situa- nho de 2013?
ções políticas de conflito nas quais é possível observar a ação dos Antonio Negri – A multidão se organiza em torno dos
mecanismo do Império, bem como exemplos cotidianos de situações eventos do momento, nos quais uma linguagem comum se ex-
nas quais a vida individual é regulamentada por mecanismos políti- pressa. Uma linguagem comum que nasce da indignação e do
cos mais amplos, especialmente a questão do controle por meio de protesto, do cansaço de sempre se encontrar em situações que
instrumentos tecnológicos e outros recursos que permitem a apro- não têm saída. É exatamente como antes era com a classe ope-
ximação dos dispositivos de poder da vida cotidiana dos indivíduos. rária. A multidão se organiza à base de paixões que caminham
Finalmente, para encerrar a aula, proponha a análise e a discus- junto com a resistência e com tentativas de construções de uma
são da canção Fora da ordem (p. 05-06). Para isso, caso seja possível, perspectiva de uma nova via de solução dos problemas. Não há
apresente a canção e, em seguida, proponha a discussão da letra e a muita diferença do ponto de vista entre a multidão e todos os
relacione com a temática do Império. outros movimentos que nascem da base de necessidades ou
anseios fundamentais de se viver e produzir. Mas há um outro
Para casa elemento que é a singularidade. Quando a multidão se move,
Solicite aos alunos que realizem a atividade 1 da seção Em busca nunca é simplesmente uma massa, é uma riqueza plural de
do conceito (p. 14). elementos de questionamentos de vida. É claro que aqui nasce
um problema de organização. Há um grande problema de uni-
AULA 4 Página: 7 e 8 dade, de articulação dos movimentos, em meio a muitas singu-
laridades. Mas esta é também a riqueza, a beleza do processo
A democracia da multidão que vivemos.
Como as manifestações de junho de 2013 no Brasil se in-
Objetivos serem no contexto internacional? Em que medida são parte do
Refletir sobre o conceito de democracia da multidão. mesmo ciclo de reações como a Primavera Árabe e o Occupy
Wall Street e em o que expressam de singularidade?
Estratégias Negri – É difícil precisar. Os movimentos surgem a partir
Inicie a aula retomando o conceito de império. Analise brevemen- de um clamor por democracia substancial. É claro que no Brasil
te a maneira como o império se constitui a partir do próprio meio teve um estranho curto-circuito entre um discurso político que
social, bem como o aspecto de abertura desse tipo de organização foi pregado por Lula, pelo PT, aos jovens, e depois esse discur-
política para a diversidade social, funcionando de maneira distinta so se encontrou diante de obstáculos, como o custo da passa-
de um regime totalitário. Essa temática deve ser relacionada com a gem do ônibus. Isso foi interpretado como uma espécie de pro-
questão do gerenciamento de conflitos e as questões do direito de vocação, como esses enormes gastos com os megaeventos, esses
polícia e direito de intervenção que acompanham a ação do poder gastos que parecem não dizer respeito à vida das pessoas. É
do Império. Em seguida, é necessário analisar a questão da atuação preciso considerar também que a multidão está inserida em um
do Império como uma ação virtual, capaz de interferir em conflitos processo vital e metropolitano. Pode se dizer que a classe ope-
FILOSOFIA
em diferentes regiões do mundo. rária estava para a fábrica como a multidão hoje está para a
Em seguida, introduza a questão da multidão e as possibilidades metrópole. A multidão tem essa sensibilidade particular aos
de organização desse tipo de coletividade a partir da instauração do serviços metropolitanos, o bem-estar nas metrópoles contem-
Império. Apresente as duas estratégias concebidas por Negri para porâneas e, portanto, vai em busca dessas coisas. Assim nasce
combater a ação desse tipo de organização política, a postura críti- a luta, a resistência, mas, também, uma proposta de felicidade.
ca e desconstrutivista e a postura construtivista ético-política, bem Há uma característica geral que vai da Espanha ao Egito, à Tur-
como a maneira como tais posturas podem abrir caminho para a quia, e ao Brasil: essa tonalidade alegre na luta, numa multidão

Problemas contemporâneos 3
constituída de singularidades. Não existe uma tentativa de ser pelo trabalho flexível e móvel, cada vez mais precário, sem con-
igual ao outro nos comportamentos, mas sim de enriquecer tratos, ao mesmo tempo em que é ultraqualificado. E esse novo
cada um com aquele pouco de felicidade, de alegria e de lingua- proletariado se une àqueles que são os extratos mais pobres da
gens, que circulam na mesma forma da luta. sociedade, aqueles que são excluídos pela crise do Estado de
O senhor propõe a alegria como um dos elementos da luta bem-estar social. Então nos encontramos diante de uma nova
política, defendendo que os militantes inventem novas formas forma de organização. Por exemplo, na sociedade, se assiste à
de se manifestar em vez de adotar uma nostalgia daquele tempo construção de uma série de formas de cooperação novas, que
“em que se sabia o que devia ser feito”. Mas ao mesmo tempo a nascem em contraste com à velha tradição do velho movimen-
violência tem aparecido como um aspecto importante das ma- to operário, socialista. Aí surge o que nós chamamos de movi-
nifestações. Como se relacionam esses dois aspectos, a alegria e mento sindicalista social, que não é mais sindicalismo de fábri-
a violência? ca, é um sindicalismo da sociedade. Um exemplo disso são os
Negri – A alegria e a violência não andam juntas, mas cada grandes movimentos para defender saúde pública, como os
país tem a polícia que merece. O problema é que aqui a polícia “Mareas” na Espanha. A reivindicação do transporte público em
é acostumada a matar os negros, os pobres. Uma coisa que São Paulo também poderia ser uma demonstração disso. E a
precisa ser dita, que é inútil esconder, é que o Brasil nunca teve construção não é simplesmente quantitativa, é sobretudo qua-
uma guerra externa, mas tem uma guerra civil interna contra a litativa. No nível político, uma das coisas mais impressionantes
sua população, que é organizada pelo Exército. Quando se lê durante as eleições na Europa, que envolveram 300 milhões de
que se um militar que ocupa uma favela e comete um desres- votantes, não foi tanto o nascimento de grupos xenófobos e
peito vai ser julgado por um tribunal militar, é uma coisa que é parafascistas, que já se sabia que existiam, mas, pelo contrário,
totalmente fora dos direitos humanos. a emergência de grupos de esquerda democrática radical, como
A violência é inseparável das manifestações? por exemplo, na Espanha, na Grécia, na Itália, na Alemanha.
Negri – A violência nas manifestações é natural, sempre Em termos de perspectiva de futuro, para onde essa mul-
acontece. A polícia sabe perfeitamente quando pode isolar a tidão caminha?
violência e quando incitar a violência. Eu organizei muitas e Negri – Não há um determinismo. Eu não chamo isso de
grandes manifestações nos anos 1960/1970 e sabíamos perfei- futuro. Há um porvir. Existe um tempo aberto diante de nós,
tamente quando a polícia iria atacar ou não. Sabíamos quando que depende de para onde caminhamos, que quer dizer encon-
usar a violência e quando não usar. A violência sempre existiu, trar o algoritmo de conjunção desta rede enorme de atos, de
mas a violência não é a violência do povo, a violência é sempre gestos e de linguagem que constituem a multidão. É a multidão
do poder. O Estado é baseado na violência. As polícias na Di- que comanda a história. Esse é o conceito fundamental.
namarca e na Inglaterra não usam armas, por exemplo. Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/proa/noticia/2014/06/
antonio-negri-e-a-multidao-que-comanda-a-historia-4520222.html. Acesso em:
O senhor afirma que a multidão, por não ser representável, 15 dez. 2016.
teria uma face monstruosa, como um monstro revolucionário.
Esse monstro costuma ser temido, mas o senhor afirma que ele Para casa
carrega novas e potentes de vida. Como a sociedade deve con- Solicite aos alunos que realizem a atividade 2 da seção Em busca
viver com esse monstro? do conceito (p. 14).
Negri – O problema é que a sociedade está em transforma-
ção muito veloz e muito profunda. As sociedades são sempre
AULA 5 Páginas: 8 e 9
um pouco monstruosas. O monstro é a metamorfose da popu-
lação, no nosso caso, que nós podemos verificar do ponto de
vista político, do ponto de vista moral, do ponto de vista da
A política como “partilha do sensível”
arte. Se você se dá conta de que está diante de um fenômeno Objetivos
monstruoso, que é a crise da soberania, esses são problemas
Identificar os principais elementos da reflexão política de
enormes e monstruosos, no sentido de que são novidades que
Jacques Rancière.
não havíamos previsto. É claro que existem forças conservado-
ras que têm medo daquilo que não conseguem prever. Têm Estratégias
medo de tudo aquilo que muda. A proposta dessa aula é analisar as ideias do filósofo francês Jacques
Com a mudança dos antigos modos de produção pelo tra- Rancière. Para isso, inicie a aula abordando a análise que ele faz da
balho imaterial, o senhor aponta a necessidade de novas formas questão da política enquanto desentendimento. Nesse caso, compare
de organização política. O que está nascendo a partir do conjun- essa proposta com a visão de política de Aristóteles e Hobbes, dife-
to de manifestações? renciando a maneira como Rancière enfatiza justamente aquilo que
Negri – Não sei. Por exemplo, na Europa, não há dúvida era considerado como o contrário da ação política para pensadores
que começam a nascer novas formas de política, nas quais, é clássicos. Em seguida, analise a diferença entre política e polícia e a
muito interessante isso, se unem os pobres e os “precários”, proposta de ampliar o conceito de polícia como aquilo que garante
dentro dessa crise capitalista. O “precariado” é caracterizado a organização da ordem social. Por outro lado, destaque também a

4 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


maneira como ele defende a redução do conceito de política a uma AULA 7 Páginas: 12 a 14
situação exclusiva, qual seja, a questão de colocar em pé de igualdade
qualquer se falante com os demais. Trabalhando com textos
A partir disso, analise a maneira como esse filósofo realiza uma
crítica radical a nossa noção de democracia, que é baseada na noção Objetivos
de igualdade entre todos. Porém, isso implica sempre na exclusão Ler e analisar textos filosóficos.
daqueles que são considerados diferentes. Nesse caso, é importante
apresentar exemplos de situações de exclusão no campo político de Estratégias
pessoas que se enquadram na noção de diferença, destacando que A proposta da aula é analisar os textos da seção “Trabalhando com
ainda que vivamos em uma situação de igualdade formal, a prática textos” (p. 12-14). Para isso, solicite aos alunos para que leiam inicial-
da democracia não é garantida a todos. Por essa razão, a noção de mente os textos de forma individual. Em seguida, proponha uma
desentendimento e de política como a ação de colocar todos em discussão coletiva das principais ideias exploradas nos dois textos.
pé de igualdade é uma forma de aprofundar o funcionamento da Após essa discussão, solicite aos alunos que respondam as atividades
democracia e garantir a participação política de todos. dos textos. Estas respostas podem ser feitas de modo que possam
ser entregues e utilizadas como um instrumento de avaliação do tra-
Para casa balho ao longo do módulo. Finalmente, para encerrar a discussão,
Solicite aos alunos que realizem a atividade 3 da seção Em busca é possível retomar as questões e discutir oralmente, de modo que
do conceito (p. 14). todos possam se posicionar em torno dos temas e refletir sobre suas
próprias posições.
AULA 6 Páginas: 9 a 11
Para casa
Democracia e dissenso Solicite aos alunos que realizem as atividades 6, 7, 8, 9 e 10 (p. 14-
18). Professor, caso julgue conveniente, solicite aos alunos que apre-
Objetivos sentem as respostas da atividade 9 na próxima aula, conforme a pro-
Identificar os principais elementos da reflexão política de posta dessa atividade.
Jacques Rancière.
AULA 8 Página: 14 a 18
Estratégias
Retome a questão do desentendimento no pensamento de Ran- Discussão dos resultados do ano letivo
cière e relacione isso com a ideia de que a política consiste na partilha
do mundo entre as inúmeras multiplicidades que fazem parte desse Objetivos
mundo. Além disso, retome também a questão da igualdade como Discutir os resultados alcançados ao longo do ano letivo.
o ponto de partida da política, sendo que isso é fundamental para a
promoção da emancipação dos indivíduos. Nesse caso, é importan- Estratégias
te esclarecer o significado dessa expressão e contrapô-la à ideia de A proposta dessa aula é realizar um balanço das atividades rea-
uma sociedade pedagogizada, na qual os indivíduos não precisam lizadas ao longo do ano letivo, já que essa é a última aula do ano.
se emancipar. Para isso, proponha aos alunos que discutam e retomem as princi-
Em seguida, é fundamental analisar detalhadamente a ideia de que pais ideias, conceitos e temas analisados ao longo do ano. Proponha
a democracia não se constrói a partir do consenso, mas pelo dissen- também aos alunos que avaliem o trabalho, os principais avanços,
so. Apresente exemplos dessa diferença e ressalte que para o pleno as principais dificuldades e outras questões relacionadas com o
exercício da democracia ocorrer, a manifestação do dissenso existente aprendizado e as discussões coletivas em sala de aula. Finalmente,
entre os múltiplos setores da sociedade é fundamental. Questione proponha aos alunos que avaliem a si próprios, tanto do ponto de
os alunos sobre o que significaria falar em dissenso, por exemplo, em vista individual, quanto da participação coletiva nas aulas e atividades
uma situação de debate e decisão dentro da sala de aula, ou mesmo propostas. Professor, caso julgue pertinente, solicite aos alunos que
na escola. Além disso, questione também como evitar que o dissenso elaborem um texto avaliando essas questões e destacando as princi-
se transforme em um conflito violento entre grupos com objetivos pais contribuições da disciplina de Filosofia para a formação escolar
distintos. Essa reflexão pode ser sintetizada a partir da elaboração de ao longo desse ano. FILOSOFIA
um texto argumentativo em torno dessa questão e das ideias deba-
tidas em sala sobre o pensamento de Rancière.

Para casa
Solicite aos alunos que realizem as atividades 4 e 5 da seção Em
busca do conceito (p. 14).

Problemas contemporâneos 5
ANOTAÇÕES

6 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE


ANOTAÇÕES

FILOSOFIA

Problemas contemporâneos 7
ANOTAÇÕES

8 GUIA DO PROFESSOR | 2ª SÉRIE

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