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Campus Nilópolis

Licenciatura em Física

Magdiel Rodrigues da
Conceição

ELETROMAGNETISMO
COMTEMPORÂNEO: UMA
ANÁLISE COMPARATIVA
ENTRE MAXWELL E PROCA

Nilópolis
2022
2

MAGDIEL RODRIGUES DA CONCEIÇÃO

ELETROMAGNETISMO CONTEMPORÂNEO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA


ENTRE MAXWELL E PROCA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação


do Curso de Licenciatura em Física como cumprimento parcial
das exigências para a conclusão do curso.

Orientadora: Prof. Drª. Gabriella Andréa de Castro Pérez.

IFRJ – CAMPUS NILÓPOLIS

2o SEMESTRE / 2022
3

IFRJ – CAMPUS NILÓPOLIS

MAGDIEL RODRIGUES DA CONCEIÇÃO

ELETROMAGNETISMO CONTEMPORÂNEO: UMA


ANÁLISECOMPARATIVA ENTRE MAXWELL E PROCA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Coordenação do Curso de
Licenciatura em Física como cumprimento
parcial dasexigências para a conclusão do
curso.

Aprovado em dezenove de janeiro de

2023.Conceito: 10,0( dez ).

Banca Examinadora:

Prof. Drª. Gabriella Andréa de Castro Pérez (Orientadora / IFRJ – Campus Nilópolis)

Prof. Dr. Marco Adriano Dias (Examinador/ IFRJ – Campus Nilópolis)

Prof. Dr. Filipe Pereira Mesquita dos Santos (Examinador/ IFRJ – Campus Nilópolis)
4

Dedico este trabalho aos meus avós, Antônio


Lucas e Antônia Maria (in memoriam), que
continuam eternamente vivos em meu coração.
5

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos meus pais e aos meus irmãos por sempre me apoiarem. Em
especial minhas irmãs “Lili” e “Maninha”, que foram como mães durante toda minha
vida, principalmente no período da minha graduação.

À minha orientadora, Professora Gabriella Perez, que além do excelente exemplo de


profissional, se tornou uma grande amiga durante todo o curso e fez ser possível este
trabalho.

Ao professor Helayël, pesquisador do CBPF, pela confiança por me acolher como seu
aluno de IC durante boa parte da graduação, e por todos os ensinamentos, aos quais me
faltam palavras para expressar a gratidão, e que também tornou possível este trabalho.

Aos meus amigos Augusto, Gabriel Monteiro e Gabriel Barata, que o IFRJ me deu e levo
desde então para a vida com muito carinho.

Ao meu amigo Pablo Barreto, que além de uma casa (Roommate), durante este período
de graduação, também dividiu comigo a vida e o cuidado, se tornando minha segunda
família.

E por fim, agradeço a todos os professores do curso de Licenciatura em Física do Instituto


Federal do Rio de Janeiro campus Nilópolis pela formação e inspiração.

Com gratidão, a todos muito obrigado!


6

Porque se chamavam homens, também se


chamavam sonhos, e sonhos não envelhecem.
(Milton Nascimento, Lô Borges e Marcio
Borges)
7

DA CONCEIÇÃO, Magdiel. ELETROMAGNETISMO CONTEMPORÂNEO:


UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MAXWELL E PROCA. 30 p. Trabalho
de conclusão de curso. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de
Janeiro (IFRJ), Campus Nilópolis, Nilópolis, Rio de Janeiro,2023.

RESUMO

Sabemos que a eletrodinâmica de Maxwell abrange grande parte dos fenômenos


eletromagnéticos que conhecemos; no entanto ela não abrange todos os problemas
propostos pelo eletromagnetismo. Atualmente, com a descoberta de novos fenômenos
eletromagnéticos recentes se faz necessário a introdução de uma nova eletrodinâmica,
que apesar de vir de uma física mais fundamental até então conhecida pelo estudante de
graduação, ultrapassa a barreira que limita a eletrodinâmica de Maxwell. Esta
eletrodinâmica que estudaremos é conhecida como eletrodinâmica de Proca. Neste
trabalho, abordaremos esta eletrodinâmica de forma comparativa à eletrodinâmica de
Maxwell através de testes feitos matematicamente, e ressaltaremos a importância de se
estudar a mesma ainda na graduação.

PALAVRAS-CHAVE: Eletrodinâmica de Maxwell; Eletromagnetismo, Eletrodinâmica


de Proca; Teste.
8

DA CONCEIÇÃO, Magdiel. CONTEMPORARY ELECTROMAGNETISM: A


COMPARATIVE ANALYSIS BETWEEN MAXWELL AND PROCA. 30p.
Monograph of conclusion of course. Federal Institute of Education, Science and
Technology of Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Nilópolis, Nilópolis, Rio de Janeiro, 2023.

ABSTRACT

We know that Maxwell's electrodynamics covers most of the electromagnetic phenomena


that we know; however, it does not cover all the problems proposed by electromagnetism.
Currently, with the discovery of new recent electromagnetic phenomena, it is necessary
to introduce new electrodynamics, which despite coming from a more fundamental
physics hitherto known by the teaching student, surpasses the barrier that limits Maxwell's
electrodynamics. This electrodynamics that we will study is known as Proca's
electrodynamics. In this work, we will approach this electrodynamics in a comparative
way to Maxwell's electrodynamics through mathematical tests, and we will emphasize
the importance of studying it still in graduation.

KEY-WORDS: Maxwell electrodynamics; Electromagnetism, Proca Electrodynamics;


Test.
9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10

A ELETRODINÂMICA DE MAXWELL ..................................................................... 11

AS EQUAÇÕES DE MAXWELL ................................................................................. 11

OS POTENCIAIS 𝚽 e 𝑨 .............................................................................................. 13

TRANSFORMAÇÕES DE CALIBRE .......................................................................... 14

EQUAÇÕES DE MAXWELL E AS ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO


........................................................................................................................................ 17

EQUAÇÃO DE ONDA PARA O CAMPO 𝑩 ............................................................... 18

EQUAÇÃO DE ONDA PARA O CAMPO 𝑬 ............................................................... 19

LEI DA CONSERVAÇÃO DA CARGA ...................................................................... 20

A ELETRODINÂMICA DE PROCA ............................................................................ 22

AS EQUAÇÕES DE MAXWELL-PROCA .................................................................. 22

OS POTENCIAIS ........................................................................................................... 23

EQUAÇÕES DE PROCA E AS ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO ..... 25

EQUAÇÃO DE ONDA PARA O POTENCIAL 𝚽....................................................... 25

EQUAÇÃO DE ONDA PARA O POTENCIAL 𝑨 ....................................................... 26

DISCUSSÃO .................................................................................................................. 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 27

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 29
10

INTRODUÇÃO

O fenômeno eletromagnético está presente na Natureza desde a escala


submicroscópica até à escala cosmológica e, por isso, associa-se a diferentes campos de
estudo, como a Mecânica Quântica e a Relatividade Geral, estabelecendo conexões entre
as diversas áreas da Física.

Fazendo uma análise nos currículos dos cursos de Bacharelado em Física e


Licenciatura em Física de algumas das principais faculdades do estado do Rio de Janeiro,
foi possível notar um padrão de organização em relação aos conteúdos de
eletromagnetismo contido nas literaturas utilizadas. O que leva a crer que nos cursos de
graduação é adotado como eletromagnetismo paradigmático ou principal - quando se
estuda mais de um - a Eletrodinâmica de Maxwell, que foi formulada entre 1863 e 1867,
quando J. C. Maxwell concluiu que a luz é uma onda eletromagnética.

No entanto, com o desenvolvimento de novas teorias quânticas a partir dos anos


1930, com o estudo de novos materiais como as cerâmicas supercondutoras, com a recente
tecnologia de campos eletromagnéticos muito intensos produzidos pelos recentes
LASERs altamente potentes, e com as novidades dos materiais de baixa dimensionalidade
em sistemas da Matéria Condensada como o grafeno - que nada mais é que uma camada
monoatômica de carbono retirada do grafite - a teoria eletromagnética teve que ser revista
e novas propostas não-Maxwellianas fizeram-se necessárias. Surge, assim, uma vigorosa
área de pesquisa no âmbito das extensões não-Maxwellianas do Eletromagnetismo.

Apesar de existir novas formulações capazes de atender e solucionar os


fenômenos propostos pelos eletromagnetismos não-convencionais, utilizando como base
de pesquisa os livros textos dos autores mais convencionais - como Moysés (1997),
Griffiths (2010), Young e Freedman (2015), Halliday (2009), Tipler (2006) entre outros
- observamos que grande parte dos cursos de graduação se atém a estudar apenas a
eletrodinâmica de Maxwell, abrindo mão de uma vasta literatura recente e de
compreender uma série de fenômenos atuais que nos cercam.

Enquanto isso, atualmente, podemos contar com cerca de 57 extensões além da


eletrodinâmica Maxwellianas, de acordo com os artigos catalogados no arXiv até março
de 2022; estando elas divididas em categorias como extensões não-lineares, extensões por
dimensionalidades entre outras.
11

Diante disso, proponho-me a fazer neste trabalho uma análise teórica e


comparativa da teoria eletrodinâmica de Maxwell (ensinada nos cursos de graduação na
disciplina Eletromagnetismo) com a eletrodinâmica de Maxwell-de Broglie-Proca
(MdBP). Tal escolha se justifica por MdBP ser uma extensão imediata à eletrodinâmica
de Maxwell, com a presença de um fóton massivo, porém sem o acréscimo de uma nova
física desconhecida aos estudantes de graduação. Para isso serão utilizados os mesmos
meios e métodos de estudo empregados no curso de graduação, como o teste da
conservação da carga elétrica, o estudo das equações no vácuo, teste da propagação da
onda eletromagnética no vácuo, entre outros, que também são utilizados na validação da
eletrodinâmica de Maxwell.
A partir disso pretendo mostrar a importância da eletrodinâmica de MdBP ser
ensinada nos cursos de graduação, uma vez que se trata de uma extensão recente e de
maior versatilidade, e que lida com fenômenos de uma física menos fundamental, como
o fenômeno da supercondutividade.
Portanto, partindo do eletromagnetismo tradicional descrito pelas equações de
Maxwell e por um conjunto de equações constitutivas, o presente estudo terá por
finalidade servir de base teórica para alunos de graduação ao se introduzirem no estudo
dessa nova eletrodinâmica aqui proposta. Também se propõe a servir de notas de cursos
para serem acrescentadas nos cursos de graduação, juntamente com a eletrodinâmica de
Maxwell, de forma comparativa, ao tratar matematicamente as equações de Maxwell, e
assim ser capaz de acrescentar novas discussões.
Ressalto que por se tratar de uma nova eletrodinâmica, ainda não possui um vasto
material a ponto de se fazer uma extensa revisão de literatura ou levantamento, assim
como feito nos cursos de graduação quando se trata de Maxwell. Por este motivo trarei
uma revisão de literatura mais direta neste trabalho; e farei pensando sua aplicação no
problema da supercondutividade, com o objetivo de servir de base teórica para futuras
pesquisas.

A ELETRODINÂMICA DE MAXWELL
AS EQUAÇÕES DE MAXWELL

O conjunto de equações de Maxwell, que originam a nossa eletrodinâmica


convencional, foi formulado a partir da hipótese de o fóton possuir uma massa nula.
Partindo desse princípio, torna-se válida a lei da força de Coulomb do inverso do
12

quadrado, e cria-se uma dependência entre a força eletrostática e uma distância, sendo ela
a distância entre o ponto onde se mede o campo e a fonte.
Baseando-se nessa dependência entre força e distância, Daniel Bernoulli, em
1760, teria sido o primeiro a sugerir uma expressão que relacionasse esses parâmetros;
mas ele baseava-se puramente em analogias (MACHADO, 2002). No entanto, era
necessário que fosse experimentalmente verificada. A verificação experimental direta da
lei de forças foi feita em 1785 por Charles Augustin de Coulomb com o auxílio de uma
balança de torção; instrumento inventado independentemente por ele e John Mitchell;
que foi depois empregado por Cavendish para medir a constante gravitacional
(NUSSENZVEIG, 1997).
O resultado obtido por Coulomb depois do experimento foi algo do tipo
𝑄1 𝑄2
𝐹2(1) = 𝑘 𝑟̂ (1)
(𝑟12 )² 12
Sendo k uma constante de proporcionalidade. Logo, a dependência entre a força
eletrostática e a distância segue uma lei do inverso do quadrado, conforme Cavendish e
Coulomb mostraram quantitativamente (JACKSON, 1975).
Diante disso, Maxwell propôs seu conjunto de equações que definem todo o nosso
eletromagnetismo usual; sendo essas equações válidas para qualquer meio e para campos
que variam no tempo.
Podemos então descrever esse conjunto de equações como sendo:
𝜌
⃗∇ ∙ ⃗E = [lei de Gauss] (2.1)
𝜀0

⃗∇ × 𝐸⃗ = −𝜕𝑡 𝐵
⃗ [lei de Faraday] (2.2)

⃗∇. 𝐵
⃗ = 0 [lei de Gauss para o magnetismo] (2.3)

⃗∇ × 𝐵
⃗ = 𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝜇0 𝐽 [lei de Ampere-Maxwell]
(2.4)

A lei de Gauss é apenas uma expressão, em uma forma diferencial, da lei de


Coulomb das forças entre cargas (FEYNMAN, 2019), onde 𝜌 é a densidade volumétrica
de carga e 𝜀0 é a constante de permissividade elétrica no vácuo. A interpretação física da
lei de Faraday é que um campo magnético variável com o tempo produz um campo
elétrico (que não é mais eletrostático) (NUSSENZVEIG, 1997). Ou seja, de acordo com
13

a quantidade de linhas de campo que entram ou saem de uma determinada superfície,


podemos induzir tensão elétrica. Já a lei de Gauss para o magnetismo é um modo formal
de afirmar que os monopolos magnéticos não existem (HALLIDAY, 2009). Por fim, a lei
de Ampere-Maxwell, que afirma que tanto uma corrente de condução quanto um fluxo
magnético variável induzem um campo elétrico (YOUNG et al, 2015).
As leis de Maxwell são completamente equivalentes entre si e devem ser
complementadas pela equação de continuidade (MACHADO, 2002)

⃗ .𝐽 = 0
𝜕𝑡 𝜌 + ∇ (3)

À medida em que as leis de Maxwell expressam a forma como cargas e correntes


produzem campos, a força de Lorentz

𝐹 = 𝐸⃗ 𝑞 + 𝑣 𝑞 × 𝐵
⃗ (4)

expressa os efeitos produzidos pelos campos elétricos e magnéticos sobre cargas.


Logo, toda a vastidão de fenômenos do eletromagnetismo está contida nesse
pequeno conjunto compacto de equações, cuja validade vai além do eletromagnetismo
clássico (MACHADO, 2002).

OS POTENCIAIS 𝚽 e ⃗𝑨
Para facilitar a manipulação das equações e obter um número menor de equações
de segunda ordem, utilizaremos o potencial escalar Φ e o potencial vetor 𝐴. Para
introduzir tais objetos, devemos considerar as equações de Maxwell homogêneas, ou seja,
aquelas que não dependem de fontes, sendo elas as equações 2.2 e 2.3.
De acordo com o cálculo vetorial, uma vez que um campo possua divergência nula
em todo o espaço, podemos escrevê-lo como o rotacional de um potencial vetorial; ou
seja ⃗∇ ∙ 𝐵
⃗ = ⃗∇ ∙ (∇
⃗ × 𝐴) = 0. Logo, o campo magnético pode ser expresso da seguinte

maneira:

⃗ =∇
𝐵 ⃗ ×𝐴 (5)

Podemos substituir a equação 5 na equação 2.2 (lei de Faraday) e obteremos a


seguinte equação:

⃗∇ × 𝐸⃗ = −𝜕𝑡 ⃗∇ × 𝐴 (6)
14

⃗∇ × 𝐸⃗ = ⃗∇ × (−𝜕𝑡 𝐴)
⃗ × (𝐸⃗ + 𝜕𝑡 𝐴) = 0

Considerando a propriedade ⃗∇ × ⃗∇𝜙 = 0, podemos reescrever a equação 6 na


forma 𝐸⃗ + 𝜕𝑡 𝐴 = −∇
⃗ 𝜙, e obteremos a seguinte equação para o campo elétrico:

𝐸⃗ = −∇
⃗ 𝜙 − 𝜕𝑡 𝐴 (7)

Sendo o sinal negativo apenas uma convenção técnica, sem nenhum significado
físico.
As equações obtidas em função dos potenciais são importantes no cálculo do
campo eletromagnético produzido por cargas não estacionarias. Apesar de que na
eletrodinâmica clássica somente os campos são as quantidades observáveis diretamente,
é bem mais simples calcular os potenciais e logo depois, através deles, calcular os campos
𝐸⃗ e 𝐵
⃗ , do que calcular diretamente os campos.

TRANSFORMAÇÕES DE CALIBRE
Ao tratarmos o campo eletromagnético devemos atentar a uma simetria muito
importante e fundamental, a simetria de gauge. Tal simetria é gerada através da não
modificação dos campos elétrico e magnético enquanto os potenciais vetor e escalar são
modificados de forma particular.
Suponhamos que na tentativa de modificar o potencial vetor somemos a ele uma
⃗ . Teríamos então um novo potencial definido por:
outra função vetorial Λ

⃗⃗⃗ ⃗
𝐴′ = 𝐴 + Λ (8)

De acordo com a equação 5 o campo magnético associado a esse potencial vetor


seria dado por

⃗⃗⃗
𝐵′ = ⃗∇ × ⃗⃗⃗
𝐴′ (9)

⃗⃗⃗⃗ ⃗
𝐵 ′ = ⃗∇ × 𝐴 + ⃗∇ × Λ
⃗⃗⃗⃗ ⃗
⃗ + ⃗∇ × Λ
𝐵′ = 𝐵
15

Para que essa modificação sugerida não altere o campo magnético, de modo que
⃗⃗⃗⃗ ⃗ = 0;
⃗ , devemos somar a 𝐴 uma função vetorial que respeite a condição ⃗∇ × Λ
𝐵′ = 𝐵
logo, de acordo com as propriedades do cálculo vetorial, a única forma disso acontecer é
⃗ = ∇𝜆, onde 𝜆 é uma função escalar qualquer. Desse modo podemos afirmar que
sedo Λ
⃗ é invariante sob a transformação
𝐵

𝐴 → ⃗⃗⃗
𝐴′ = 𝐴 + ∇𝜆 (10)

Podemos expressar um novo campo elétrico em função da mudança de potencial


aplicando a transformação da equação 10 na equação 7, e teremos

⃗⃗⃗⃗ ⃗ 𝜙 ′ − 𝜕𝑡 ⃗⃗⃗
𝐸 ′ = −∇ 𝐴′
⃗⃗⃗⃗ ⃗ 𝜙 ′ − 𝜕𝑡 (𝐴 + ∇𝜆)
𝐸 ′ = −∇
⃗⃗⃗⃗ ⃗ (𝜙 ′ + 𝜕𝑡 𝜆) − 𝜕𝑡 𝐴
𝐸 ′ = −∇ (11)

Desse modo, para o campo elétrico permanecer invariante, devemos impor que o
potencial escalar 𝜙 seja

𝜙 → 𝜙 ′ = 𝜙 − 𝜕𝑡 𝜆 (12)

A essas transformações contidas nas equações 10 e 12 damos o nome de


transformações de calibre. Uma vez que são os campos, e não os potenciais, que trazem
consigo significado físico, podemos dizer que os campos vetoriais são invariantes sob as
transformações de calibre, e essa invariância é chamada de invariância de calibre.
Uma relação comum na eletrodinâmica, que ajuda a tornar as equações um pouco
mais simples e esteticamente mais elegantes, é o calibre de Lorentz, que tem a
característica de ser invariante sob as transformações relativísticas para os potenciais 𝜙 e
𝐴. Isso implica que essa condição é matematicamente escrita na mesma forma em
qualquer sistema de referência inercial.
1
⃗∇. 𝐴 + 𝜕𝜙=0 (13)
𝑐2 𝑡
De posse da equação 13, podemos voltar às equações de Maxwell 2.1 e 2.4 que
nos darão a relação entre os potenciais e as fontes 𝜌 e 𝑗.
Começamos substituindo a equação 7 na equação 2.1 e teremos
16

𝜌
⃗ . (−∇
∇ ⃗ 𝜙 − 𝜕𝑡 𝐴) =
𝜀0
𝜌
⃗ . 𝐴) =
−∇2 𝜙 − 𝜕𝑡 (∇
𝜀0 (14)

Temos na equação 14 uma equação que relaciona os potenciais às fontes. Agora,


podemos multiplicar toda a equação 2.4 por 𝑐 2 e reescrever da seguinte maneira

𝑐 2 ⃗∇ × 𝐵
⃗ = 𝑐 2 𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝑐 2 𝜇0 𝑗

1 1
𝑐 2 ⃗∇ × 𝐵
⃗ = 𝑐2
2
𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝑗
𝑐 𝜀0

1
𝑐 2 ⃗∇ × 𝐵
⃗ = 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝑗 (15)
𝜀0

⃗ e 𝐸⃗ pelos termos com os potenciais, usando as


Podemos agora substituir 𝐵
equações 5 e 7
𝑗
⃗ × (∇
𝑐2∇ ⃗ × 𝐴) − 𝜕𝑡 (−∇
⃗ 𝜙 − 𝜕𝑡 𝐴) = (16)
𝜀0

Podemos usar a identidade algébrica ⃗∇ × (∇


⃗ × 𝐴) = ⃗∇(∇
⃗ . 𝐴) − ∇2 𝐴 para

reescrever o primeiro termo da equação 16 e obter


𝑗
⃗ (∇
𝑐2∇ ⃗ . 𝐴) − 𝑐 2 ∇2 𝐴 + 𝜕𝑡 ∇
⃗ 𝜙 + 𝜕𝑡2 𝐴 = (17)
𝜀0

Fazendo o uso da liberdade para escolher arbitrariamente o divergente de 𝐴,


podemos escolher algo de modo que as equações para os potenciais 𝜙 e 𝐴 sejam
desacopladas, mas mantenham a mesma forma e sejam tratadas em pé de igualdade, e
para isso usaremos
1
⃗∇. 𝐴 = − 𝜕 𝜙 (18)
𝑐2 𝑡
Substituindo a equação 18 na equação 17 teremos
1 𝑗
𝑐 2 ⃗∇ (− 𝜕𝑡 𝜙) − 𝑐 2 2
∇ 𝐴 + 𝜕𝑡
⃗∇𝜙 + 𝜕𝑡2 𝐴 =
𝑐2 𝜀0
17

𝑗
(−𝜕𝑡 ⃗∇𝜙) − 𝑐 2 ∇2 𝐴 + 𝜕𝑡 ⃗∇𝜙 + 𝜕𝑡2 𝐴 =
𝜀0

𝑗
−𝑐 2 ∇2 𝐴 + 𝜕𝑡2 𝐴 =
𝜀0

1 2 𝑗
∇2 𝐴 − 2
𝜕𝑡 𝐴 = (19)
𝑐 𝜀0 𝑐 2

A equação para o potencial 𝜙 tomara a mesma forma que a equação 19


1 2 𝜌
∇2 𝜙 − 𝜕𝑡 𝜙 = (20)
𝑐2 𝜀0
As equações 19 e 20, juntamente com a equação 18 (condição de Lorentz),
formam um conjunto de equações que equivalem à todas as equações de Maxwell.

EQUAÇÕES DE MAXWELL E AS ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO


VÁCUO
Quando os campos não variam com o tempo, é correto analisá-los de forma
separada, ou seja, devemos descartar as interações dos campos elétricos e magnéticos.
Porém, quando esses campos variam, eles deixam de ser independentes.
Sabemos que quando um dos campos varia com o tempo ocorre uma indução do
outro campo na região do espaço adjacente ao campo que está variando. De acordo com
YOUNG (2015), somos levados a considerar a possibilidade da ocorrência de uma
perturbação eletromagnética constituída por campos elétricos e magnéticos variando com
o tempo e que pode se propagar de uma região do espaço para outra (2015, p.411). Espera-
se que tal perturbação produza características de uma onda, portanto é apropriado chamá-
la de onda eletromagnética.
A situação mais simples para fazer o estudo das ondas eletromagnéticas é
considerá-las propagando-se no vácuo. Sendo assim, não teríamos cargas e nem correntes,
o que implica em uma densidade volumétrica de carga nula 𝜌 = 0 e uma densidade de
corrente também nula 𝑗 = 0.
Desse modo, teremos as equações de Maxwell da seguinte maneira

⃗∇ ∙ ⃗E = 0 [lei de Gauss] (21.1)


18

⃗∇ × 𝐸⃗ = −𝜕𝑡 𝐵
⃗ [lei de Faraday] (21.2)

⃗ .𝐵
∇ ⃗ = 0 [lei de Gauss para o magnetismo] (21.3)

⃗∇ × 𝐵
⃗ = 𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 𝐸⃗ [lei de Ampere-Maxwell] (21.4)

⃗⃗
EQUAÇÃO DE ONDA PARA O CAMPO 𝑩
⃗ primeiramente devemos tomar
Para encontrarmos a equação de onda do campo 𝐵
o rotacional da equação 21.4
⃗∇ × (∇
⃗ ×𝐵
⃗ ) = 𝜇0 𝜀0 ⃗∇ × 𝜕𝑡 𝐸⃗

De acordo com a identidade usada anteriormente


⃗ × (∇
∇ ⃗ ×𝐵
⃗)=∇
⃗ (∇
⃗ .𝐵
⃗ ) − ∇2 𝐵

Podemos escrever
⃗∇(∇
⃗ .𝐵
⃗ ) − ∇2 𝐵
⃗ = 𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 (∇
⃗ × 𝐸⃗ )

Substituindo a equação 21.3 no termo à esquerda, e a equação 21.2 no termo à


direita da equação acima, teremos
⃗ = −𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡2 𝐵
−∇2 𝐵 ⃗
Organizando teremos
⃗ = ⃗0
⃗ − ∇2 𝐵
𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡2 𝐵

⃗ = ⃗0
(𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡2 − ∇2 )𝐵 (22)

Podemos notar que a equação 22 possui a forma vetorial e satisfaz a equação de


onda unidimensional abaixo
1 2 𝜕𝑡2 (23)
( 𝜕 − )𝑓 = 0
𝑣 2 𝑡 𝜕𝑥 2

O espaço vazio comporta a propagação dessa onde eletromagnética viajando a


uma velocidade dada por
1
𝑐= (24)
√𝜇0 𝜀0
Considerando os valores de 𝜇0 e 𝜀0 e substituindo na equação 24 teremos
19

1
= 2,99 × 108 𝑚/𝑠
√𝜇0 𝜀0
que corresponde a velocidade da luz, c.
A descoberta de que a luz é uma onda eletromagnética não nos surpreende hoje
em dia, porém na época de Maxwell sim, uma vez que nessa época outras formas de ondas
ainda não tinham sido produzidas.
De acordo com MACHADO, os valores obtidos por Maxwell para a velocidade
de onda eletromagnética foi calculado em 1861, ao passo que a primeira experiência em
que se produziram ondas eletromagnéticas diferentes da luz ocorreu em 1887 (2006,
p.304). E segundo GRIFFITHS, 𝜇0 e 𝜀0 entraram na teoria no início, e são medidas que
incluem bolas de cortiça, baterias e fios, e, no entanto, segundo a teoria de Maxwell, pode-
se calcular c a partir dos dois números (2010, p.262).

EQUAÇÃO DE ONDA PARA O CAMPO ⃗𝑬


Para encontrarmos a equação de onda do campo 𝐸⃗ faremos o mesmo


procedimento anterior. Primeiramente devemos tomar o rotacional da equação 21.2

⃗∇ × (∇
⃗ × 𝐸⃗ ) = −𝜕𝑡 (∇
⃗ ×𝐵
⃗)

Utilizando a mesma identidade vetorial utilizada para a equação de onda do campo


⃗ , teremos
𝐵

⃗ (∇
∇ ⃗ . 𝐸⃗ ) − ∇2 𝐸⃗ = −𝜕𝑡 (∇
⃗ ×𝐵
⃗)

Substituindo a equação 21.1 no termo à esquerda, e a equação 21.4 no termo à


direita da equação acima, teremos

−∇2 𝐸⃗ = −𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡2 𝐸⃗

Organizando teremos

𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡2 𝐸⃗ − ∇2 𝐸⃗ = ⃗0

(𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡2 − ∇2 )𝐸⃗ = ⃗0 (25)

Tendo o conhecimento da equação 24 podemos reescrever a equação 25 da


seguinte maneira
20

1 (26)
( 2 𝜕𝑡2 − ∇2 ) 𝐸⃗ = ⃗0
𝑐

O que evidencia que o campo 𝐸⃗ também satisfaz a equação da onda


unidimensional, e também podemos afirmar que no espaço vazio a propagação dessa onda
eletromagnética também viaja a uma velocidade c.
Podemos substituir a equação de onda pelo termo d’Alembertiano (□) e teremos
⃗ e 𝐸⃗ .
uma forma mais simplificada para as equações de onda dos campos 𝐵
⃗ =0
□𝐵
□𝐸⃗ = 0

LEI DA CONSERVAÇÃO DA CARGA


As leis de conservação são descritas através das equações de continuidade; sendo
a lei de conservação da carga elétrica a primeira e mais simples das leis de conservação
que podem ser obtidas através das equações de Maxwell. Ela é o paradigma para todas as
leis de conservação.
Para encontramos a equação da continuidade, primeiro devemos derivar a equação
2.1 em relação ao tempo
𝜕𝑡 𝜌
⃗∇ ∙ 𝜕𝑡 ⃗E = (27)
𝜀0
Agora devemos aplicar o divergente na equação 2.4

⃗∇. (∇
⃗ ×𝐵
⃗ ) = 𝜇0 𝜀0 ⃗∇. 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝜇0 ⃗∇. 𝐽

De acordo com a seguinte identidade vetorial


⃗ . (∇
∇ ⃗ ×𝐵
⃗)=0

Teremos

𝜇0 𝜀0 ⃗∇. 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝜇0 ⃗∇. 𝐽 = 0 (28)

Substituindo a equação 27 na equação 28 teremos


𝜕𝑡 𝜌
𝜇0 𝜀0 + 𝜇0 ⃗∇. 𝐽 = 0
𝜀0
⃗ .𝐽 = 0
𝜇0 𝜕𝑡 𝜌 + 𝜇0 ∇

Dividindo toda a equação acima por 𝜇0 teremos


21

⃗ .𝐽 = 0
𝜕𝑡 𝜌 + ∇ (29)

Sendo a equação 29 nossa equação de continuidade para a carga elétrica.


A conservação da carga elétrica é válida globalmente, ou seja, a energia total
presente no universo não se altera. No entanto, a conservação também é válida de forma
local, ou seja, se em um volume V existe uma certa quantidade de cargas, qualquer
variação nessa quantidade de cargas deve ser observada como uma quantidade igual de
cargas que passou para dentro ou para fora do volume V (MACHADO, 2006).
Se integrarmos a equação de continuidade em uma região especial de volume V
teremos

∫ 𝑑 3 𝑥 𝜕𝑡 𝜌 = − ∫ 𝑑 3 𝑥 ⃗∇. 𝐽
v v

Podemos retirar a derivada da integral


𝑑
∫ 𝑑 3 𝑥 = − ∫ 𝑑 3 𝑥 ⃗∇. 𝐽
𝑑𝑡 v v

Como a carga elétrica contida no volume V pode ser calculada como uma integral
sobre a densidade de carga, teremos

𝑄 = ∫ 𝑑3𝑥 𝜌
v

Portanto podemos escrever


𝑑𝑄
⃗ .𝐽
= − ∫ 𝑑3𝑥 ∇
𝑑𝑡 v

Pelo teorema de Gauss podemos relacionar a integral volumétrica da divergência


de um campo vetorial com um fluxo do mesmo sobre a superfície que delimita a fronteira
dessa região, logo

∫ 𝑑 3 𝑥 ⃗∇. 𝐽 = ∫ 𝑑Σ⃗. 𝐽
v S

Onde S é a fronteira da região especial do volume V e 𝑑Σ⃗ é o elemento de área


orientado na direção normal à superfície de integração. Reescrevendo a equação teremos
22

𝑑𝑄
+ ∫ 𝑑Σ⃗. 𝐽 = 0
𝑑𝑡 S
(30)

De acordo com a equação acima a variação da quantidade de carga em uma região


de volume V corresponde ao fluxo de carga sobre a superfície S. Portanto, qualquer
mudança no valor da quantidade de carga na região V deve ser compensada pelas cargas
que atravessam a superfície S.

A ELETRODINÂMICA DE PROCA
AS EQUAÇÕES DE MAXWELL-PROCA
Por muito tempo o fóton sem massa foi quase unanimidade entre físicos; como
sabemos, a base da eletrodinâmica de Maxwell foi formulada de acordo com a ideia de
um fóton de massa nula. No entanto, não existe uma evidência experimental precisa o
suficiente para comprovar, de forma definitiva, essa hipótese. De acordo com JACKSON
as experiências da lei do inverso do quadrado são enunciadas às vezes em termos de um
limite superior para a massa do fóton (1975, p.4); sendo assim, o limite mais restritivo
para a massa é da ordem de
𝑚𝛾 ≲ 1,78 × 10−54 𝑘𝑔

Com isso vemos que a massa não é nula, apenas menor que um valor limite; o que
nos abre margem para explorar novos cenários onde o fóton possui massa não-nula, e
suas implicações. Por outro lado, um fóton massivo não pode mais ser acomodado em
nossa eletrodinâmica convencional; e a invariância de gauge passa a ser abandonada, uma
vez que está diretamente ligada ao fato de o fóton não possuir massa.
Ao abandonar-se a invariância de gauge, espera-se o surgimento de um parâmetro
de massa na teoria; uma vez que o propagador dessa eletrodinâmica agora é descrito por
um fóton massivo. Os efeitos desse propagador de massa não-nula são incorporados ao
eletromagnetismo por um novo conjunto de equações, ainda válidos para qualquer meio
e para campos que variam no tempo; e a esse novo conjunto de equações damos o nome
de equações de Maxwell-Proca e tomam a seguinte forma
𝜌
⃗ ∙ 𝐸⃗ + ξΦ =
∇ (31.1)
𝜀0

⃗ × 𝐸⃗ = −𝜕𝑡 𝐵
∇ ⃗ (31.2)
23

⃗∇ ∙ 𝐵
⃗ =0 (31.3)

⃗ ×𝐵
∇ ⃗ + ξ𝐴 = 𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝜇0 𝑗 (31.4)

Note que esse novo conjunto de equações, que caracteriza a eletrodinâmica de


Proca, apresenta termos novos quando comparadas às equações de Maxwell. De imediato
podemos notar que as equações que possuem fonte (eq. 31.1 e 31.4) são alteradas pela
presença de um parâmetro massivo; enquanto as equações que não possuem fontes (eq.
31.2 e 31.3) permanecem inalteradas.
Além da presença do parâmetro massivo ξ, podemos notar também a presença dos
potenciais Φ e 𝐴, que diferente das equações de Maxwell, nas de Proca, assumem um
significado físico real, mediante ao parâmetro de massa, ou seja, podemos observar.
Anteriormente vimos que as equações de Maxwell eram invariantes sob as
transformações de calibre, no entanto, a aparição dos potenciais nas equações de Proca
quebra essa simetria de calibre, fazendo com que essa eletrodinâmica não seja mais
invariante de gauge. Sendo assim, não podemos transformar os potenciais vetor e escalar
sem modificar as equações dessa nova eletrodinâmica.

OS POTENCIAIS
Esse novo conjunto de equações que define a eletrodinâmica de Proca é oriundo
de modificações na teoria eletromagnética de Maxwell, assim sendo, as relações entre os
campos e os potenciais continuam válidas, logo podemos considerar
𝐸⃗ = −∇
⃗ 𝜙 − 𝜕𝑡 𝐴
⃗ =∇
𝐵 ⃗ ×𝐴
Podemos mais uma vez derivar das equações a conservação das cargas.
Deriva-se a equação 31.1 em relação ao tempo e teremos
1
⃗∇𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝜉𝜕𝑡 Φ = 𝜕𝜌
𝜀0 𝑡
Logo
1
⃗∇𝜕𝑡 𝐸⃗ = 𝜕 𝜌 − 𝜉𝜕𝑡 Φ (32)
𝜀0 𝑡

Agora aplica-se o divergente na equação 31.4 e obteremos


24

⃗∇. (∇
⃗ ×𝐵
⃗ ) + 𝜉∇
⃗ . 𝐴 = 𝜇0 𝜀0 ⃗∇. 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝜇0 ⃗∇. 𝑗

Pela identidade vetorial, sabe-se que ⃗∇. (∇


⃗ × 𝐴) = 0 , logo, substituindo teremos

⃗ . 𝜕𝑡 𝐸⃗ + 𝜇0 ∇
𝜇0 𝜀0 ∇ ⃗ . 𝑗 = 𝜉∇
⃗ .𝐴 (33)

Substituindo a equação 32 na equação 33, teremos


1
𝜇0 𝜀0 ( 𝜕𝑡 𝜌 − 𝜉𝜕𝑡 Φ) + 𝜇0 ⃗∇. 𝑗 = 𝜉∇
⃗ .𝐴
𝜀0
𝜇0 𝜕𝑡 𝜌 − 𝜉𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 Φ + 𝜇0 ⃗∇. 𝑗 = 𝜉∇
⃗ .𝐴

𝜇0 𝜕𝑡 𝜌 + 𝜇0 ⃗∇. 𝑗 = 𝜉∇
⃗ . 𝐴 + 𝜉𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 Φ
1
𝜇0 𝜕𝑡 𝜌 + 𝜇0 ⃗∇. 𝑗 = 𝜉 ( 𝜕 Φ + ⃗∇. 𝐴)
𝑐2 𝑡
De acordo com a equação acima, se temos 𝜉 ≠ 0; para que a conservação da carga
seja mantida, pela equação da continuidade

𝜕𝑡 𝜌 + ⃗∇. 𝑗 = 0 (34)

temos que cumprir a seguinte condição subsidiária


1
𝜕 Φ + ⃗∇. 𝐴 = 0 (35)
𝑐2 𝑡
Note que a conservação da carga elétrica é um problema aparente na
eletrodinâmica de Proca.
Pode-se observar que há uma espécie de violação da equação de continuidade para
a carga elétrica, porém sabe-se que conservação da carga elétrica é uma propriedade
bastante desejável a partir de um ponto de vista físico, então para compatibilizar essa lei
de conservação com a eletrodinâmica de Proca, deve-se impor a condição subsidiária
presente na equação 35 sobre os potenciais Φ e 𝐴.
Nota-se então que a equação da continuidade para a carga elétrica surge como um
subproduto da condição que foi imposta pela equação 35.
Observa-se ainda que a condição subsidiária possui a mesma forma que a equação
de calibre de Lorentz (eq.13) discutida anteriormente. Porém, apesar disso, a condição de
calibre de Lorentz aparece como resultado de uma arbitrariedade da eletrodinâmica de
Maxwell; ou seja, uma escolha que se podia adotar. Já no caso da eletrodinâmica de Proca
ocorre uma violação da simetria de calibre, logo a condição subsidiaria aparece como
uma imposição necessária para a conservação da carga elétrica.
25

EQUAÇÕES DE PROCA E AS ONDAS ELETROMAGNÉTICAS NO VÁCUO


De forma análoga ao que foi feito nas equações eletromagnéticas de Maxwell,
tentaremos encontrar uma equação de onda para as equações eletromagnéticas de Proca,
porém, desta vez, em função dos potenciais. Para isso, devemos tomar as equações no
vácuo, como feito anteriormente no caso da eletrodinâmica de Maxwell. Portanto,
teremos o seguinte conjunto de equações

⃗ ∙ 𝐸⃗ + ξΦ = 0
∇ (36.1)

⃗∇ × 𝐸⃗ = −𝜕𝑡 𝐵
⃗ (36.2)

⃗ ∙𝐵
∇ ⃗ =0 (36.3)

⃗ ×𝐵
∇ ⃗ + ξ𝐴 = 𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 𝐸⃗
(36.4)

EQUAÇÃO DE ONDA PARA O POTENCIAL 𝚽


Para encontrarmos a equação de onda para o potencial Φ, devemos inicialmente
substituir na equação 36.1 o campo 𝐸⃗ em função dos potenciais (eq.7); teremos então
⃗∇ ∙ (−∇
⃗ Φ − 𝜕𝑡 𝐴) + ξΦ = 0

−∇2 Φ − 𝜕𝑡 ⃗∇. 𝐴 + ξΦ = 0
1
Da condição subsidiária (eq.35) podemos tirar que ⃗∇. 𝐴 = − 𝑐 2 𝜕𝑡 Φ, substituindo

na equação acima teremos


1 2
−∇2 Φ + 𝜕 Φ + ξΦ = 0
𝑐2 𝑡
Organizando a equação teremos
1 2
( 𝜕 − ∇2 + 𝜉) Φ = 0 (37)
𝑐2 𝑡
Substituindo com o operador d’Alembertiano, teremos a seguinte equação
simplificada
(□ + 𝜉)Φ = 0
Nota-se que assim como na eletrodinâmica de Maxwell, a equação 37, da
eletrodinâmica de Proca, possui a forma de uma equação de onda unidimensional.
26

EQUAÇÃO DE ONDA PARA O POTENCIAL ⃗𝑨


Para encontramos a equação de onda para o potencial 𝐴, devemos inicialmente
⃗ e o campo 𝐸⃗ em função dos potenciais. Teremos
substituir na equação 36.4 o campo 𝐵
então
⃗ × (∇
∇ ⃗ × 𝐴) + 𝜉𝐴 = 𝜇0 𝜀0 𝜕𝑡 (−∇
⃗ Φ − 𝜕𝑡 𝐴)

Usando a identidade vetorial que diz


⃗∇ × (∇
⃗ × 𝐴) = ⃗∇. (∇
⃗ . 𝐴 ) − ∇2 𝐴

Teremos então
1
⃗ . (∇
∇ ⃗ . 𝐴) − ∇2 𝐴 + 𝜉𝐴 = ⃗ Φ − 𝜕𝑡 𝐴)
𝜕 (−∇
𝑐2 𝑡
Utilizando a condição subsidiária (eq.35)
1 1 1
⃗∇. (− 𝜕𝑡 Φ) − ∇2 𝐴 + 𝜉𝐴 = − 2 𝜕𝑡 ⃗∇Φ − 2 𝜕𝑡2 𝐴
𝑐 2 𝑐 𝑐
1 2
2
𝜕𝑡 𝐴 − ∇2 𝐴 + 𝜉𝐴 = 0
𝑐
Organizando temos
1 2
( 𝜕 − ∇2 + 𝜉) 𝐴 = 0 (38)
𝑐2 𝑡
Simplificando com o operador d’alembertiano, temos
(□ + 𝜉)𝐴 = 0
Também podemos notar que a equação 38 possui forma de uma equação de onda
unidimensional. Disso podemos concluir que o fóton de Proca se propaga como uma onda
massiva.

DISCUSSÃO
Ao compararmos as equações da eletrodinâmica de Maxwell com a
eletrodinâmica de Proca, notamos a presença do parâmetro de massa 𝜉. Tal parâmetro
tem sua interpretação física dada através da equação da dispersão que não é tratada neste
trabalho. Porém podemos observar que quando 𝜉 = 0, temos de volta as equações da
eletrodinâmica de Maxwell; ou seja, temos uma eletrodinâmica baseada em um fóton de
massa nula.
Como já foi falado anteriormente, a base de toda a eletrodinâmica Maxwelliana
foi construída sobre o conceito do fóton de massa nula, no entanto, a eletrodinâmica de
27

Proca, que possui o fóton com massa finita, possui sua importância na descrição de alguns
fenômenos físicos, como o caso da supercondutividade.
Sabemos que os materiais supercondutores possuem pelo menos dois tipos de
comportamento quando expostos a campos magnéticos externos. Nos condutores do tipo
I não há penetração de fluxo magnético, o que configura o estado Meissner; já os
condutores do tipo II possuem regiões onde o fluxo é completamente expulso do interior
da amostra (efeito Meissner), e regiões onde começa a haver penetração de linhas de fluxo
magnético, o que configura um estado misto.
Pode-se então inferir, através de cálculos, que o campo magnético presente no
interior de um supercondutor é limitado por um comprimento de penetração que só
permite que o campo eletromagnético penetre até certa profundidade. Isso está
diretamente associado à massa do fóton e é obtido de maneira consistente através da teoria
da eletrodinâmica de Proca.
De modo geral podemos afirmar que os fenômenos físicos descritos pela
eletrodinâmica de Maxwell e pela eletrodinâmica de Proca conversam entre si respeitando
um certo limite, sendo esse limite o momento em que a massa do fóton é considerada
nula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho analisamos a eletrodinâmica de Proca, de forma matemática,
comparando-a com a eletrodinâmica de Maxwell. Observamos a questão do fóton
massivo e uma de suas aplicações; a supercondutividade.
Os supercondutores estão associados a vários avanços da área da eletrônica, da
energia elétrica e até mesmo dos transportes. Possuem diversos tipos de aplicações; dentre
elas está a criação de fios supercondutores para construção de bobinas que tornariam
capaz gerar campos magnéticos intensos. Tais bobinas são aplicadas em diversas áreas
como em aparelhos de ressonância magnética na área da saúde, nos projetos de Maglev
na área do transporte, entre outros. Também há aplicações mais complexas que fogem do
escopo deste trabalho; como a óptica quântica.
Podemos afirmar, de modo geral, que a supercondutividade faz parte do futuro do
desenvolvimento de diversas áreas; e por esse motivo devemos atentar para o estudo de
teorias que explicam seu fenômeno. Sabendo que a teoria de Proca contribui para o estudo
dos supercondutores, se faz necessário inclui-la já nos cursos de graduação; visto que não
se faz presente nos currículos analisados para a composição deste trabalho.
28

A eletrodinâmica de Proca trabalha em uma escala onde a teoria de Maxwell não


se aplica mais, porém, como vimos no decorrer do trabalho, a eletrodinâmica de Maxwell
deve servir de base para se estudar a teoria de Proca, pois a teoria de Proca trata de uma
eletrodinâmica que apesar de nova, não trabalha com uma nova física desconhecida dos
estudantes de graduação, porém envolve fenômenos atuais que fogem da física mais
fundamental estudada na graduação.
Visto a importância de se adquirir novos conhecimentos que fujam do tradicional
presente nos livros-textos base dos cursos de graduação, estudar essa eletrodinâmica se
torna essencial, já que preenche lacunas deixadas ao se estudar determinados fenômenos
que são vistos de forma superficial na graduação, como é o caso do efeito Meissner nos
supercondutores.
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REFERÊNCIAS

BRITO, Gustavo P.; HELAYËL-NETO, José A. Notas de Curso: Teorias de Calibre


Via Equações de Maxwell. Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Rio de Janeiro, 2017.

FEYNMAN, Richard P.; LEIGHTON, Robert B.; SANDS, Matthew. Lições de física de
Feynman: A edição do novo milênio. Porto Alegre: Bookman, 2019.v.2

GONÇALES, Eslley S. A Massa do Fóton e a Eletrodinâmica de Proca. 2008. 54f.


Dissertação de Mestrado – Instituto de Física Teórica. Universidade Estadual Paulista,
São Paulo.

GONÇALVES, André O. O. O Fóton Massivo em Supercondutores. 2012. 65f.


Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Física. Universidade Federal
do Espírito Santo, Vitória.

GRIFFITHS, David J. Eletrodinâmica. 3. ed. São Paulo: Pearson Universidades, 2010.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos de Física: Eletromagnetismo. 8. ed. Rio


de Janeiro: LTC, 2009. v.3.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R. Fundamentos de Física: Óptica e Física Moderna. 8.


ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. v.4.

HELAYËL-NETO, José A. Curso Especial Ministrado Como Atividade de Extensão


Para Estudantes de Graduação: Eletromagnetismo Contemporâneo. Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas, Rio de Janeiro, 2019.

HERDY, Wallace M. A Eletrodinâmica de Maxwell-Proca e o Fóton Massivo. 2010.


78f. Monografia – Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Fundação Técnico Educacional
Souza Marques, Rio de Janeiro.

JACKSON, John D. Eletrodinâmica Clássica. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara


Dois. 1983.

MACHADO, Kleber D. Teoria do eletromagnetismo. Ponta Grossa: Editora UEPG,


2002. v.2.
30

MACHADO, Kleber D. Teoria do eletromagnetismo. Ponta Grossa: Editora UEPG,


2006. v.3.

NUSSENZVEIG, Herch M. Curso de Física Básica: Eletromagnetismo. 1. ed. São


Paulo: Editora Blücher, 1997. v.3.

YOUNG, Hugh D. et al. Física III: Eletromagnetismo. 14. ed. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2015.

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