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Resumo
elementos de seu cotidiano. Os fluidos estão por toda a parte em nossas vidas,
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2 Porque ensinar física a partir de analogias?
dos do cérebro físico, obtendo assim resultados muito relevantes e que devem
famoso Salman Khan, muito inspirado por esses resultados, faz uma ótima
reflexão em seu conhecido livro “Um mundo, uma escola“ [9]. Ele toma como
saberes em nossos cérebros. Claro que todo este processo e a forma como
física não permanente que ocorre em nossos cérebros, mas como tornar esse
nossas mentes? Kandel vai dizer que para fixar uma informação o ideal é
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e temas em módulos e “caixas“ desconectadas, ela induz o aluno a memorizar
aquilo como algo completamente novo e que pouco se relaciona com o mundo
real, essa abordagem tem uma consequência bem conhecida por todos os
de uma pessoa e facilita que esta absorva muito conhecimento nessa fase da
vida, ainda que um adulto não tenha tamanha facilidade, se ele tiver feito
muitas conexões ao longo de sua vida o aprendizado ainda poderá ser esti-
nunca deixar de ser estudantes, que tanto educam como são educados.
complementar para que conforme se aprenda algo novo, também seja consoli-
tos reforça que aquele saber aprendido seja em sala de aula ou em ambiente de
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tal conhecimento obtido a tanto custo só porque a prova já acabou não parecera
tismo acabam por se tornarem verdadeiras caixas pretas para os alunos que
uma solução para tal problemática discutiremos nas próximas seções a lei de
3 A lei de Faraday
devemos voltar no tempo até o começo do século XIX, quando surgiu uma
dada por Michael Faraday em 1831. Faraday era um jovem brilhante, muito
imaginativo e por conta disso se tornou um dos mais memoráveis físicos expe-
de voltagem num fio ao move-lo em relação a um Imã ou outro fio que carrega
eletricidade. Na era da cibernética em que vivemos este efeito pode não pa-
recer tão impressionante, mas o leitor percebera que o efeito descoberto por
Faraday esta nas bases do conhecimento humano e que sem essa descoberta
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não teríamos construído esse mundo cibernético e utópico que vemos hoje.
Podemos entender melhor o que isso quer dizer observando a figura abaixo.
efeito carrega grande significância física e histórica, pois durante muito tempo
mas com um simples circuito e um Imã pode-se observar a conexão entre estes
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que deu origem à teoria eletromagnética, a qual é a base para a compreensão
que compõem a bobina com a voltagem induzida nesta. De forma que quanto
mais espiras houverem maior sera a voltagem induzida para um mesmo campo
magnético variante na região. O leitor pode estar pensando que isto viola o
já adiantamos que este fenômeno em nada viola tal principio, uma vez que a
para faze-lo, seja ao mover um Imã ou passando corrente num sistema elétrico
de espiras demanda maior energia, devemos supor que a entidade que varia
induz voltagem alguma num circuito ou fio próximo. É a variação deste campo
que induz tal efeito. Isso explica porque um Imã parado em relação a uma
bobina não produz efeito algum sobre esta, mas quando movemos um em
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aumenta-se o numero de espiras da bobina. Esse fato foi bem explicado pelo
e Lenz. Ora, dissemos que a lei de Faraday estabelece uma relação entre a
∆ϕ
ϵ=
∆t
∆ϕ
ϵ=N
∆t
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∆ϕ
ϵ = −N (1)
∆t
a carregar um sinal elétrico senoidal que pode ser usado para alimentar um
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A energia elétrica que usamos em nossas casas também foram geradas
em nosso cotidiano.
4 A lei de Faraday-Maxwell
campo vetorial que atravessa uma certa área A. De forma que podemos definir
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máximo quando o campo é paralelo à normal da área e torna-se zero conforme
ficam perpendiculares.
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C (⃗B) = ∑ Bk ∆Sk cosθk (3)
k
Caso o nosso campo elétrico fosse perturbado, por exemplo por um Imã
e dessa forma os Ek não seriam todos idênticos, pelo contrario, seriam di-
não nula, isto é, C (⃗E) ̸= 0. Neste caso campo passa a ser chamado de rotacional.
nenhuma corrente induzida, uma vez que o potencial elétrico atuando em cada
diferença de potencial elétrico induzida no fio caso haja circulação não nula
nas linhas de campo elétrico da região. Esse fato nos motiva a escrever uma
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ϵ = C (⃗E)
∆ϕ(⃗B)
C (⃗E) = − (5)
∆t
grande significado físico. Basicamente ela evidencia uma das mais relevantes
tismo e eletricidade. Nas próximas seções veremos que esta descoberta pode ser
5 A analogia Hidrodinâmica
vidas. Desde a água que bebemos até o Ketchup que colocamos no lanche são
chamados de fluidos. Ora, mas é claro que eles são bem diferentes entre si,
O Ketchup, por exemplo, tem uma viscosidade muito maior que a da água, é
por isso que ele demora para sair do fundo do pote e chegar até nosso delicioso
aberta cair, ou quando abrimos a torneira para lavar as mãos. Para ter uma
“fluem“ pela pista sem grande dificuldade. Um fluido viscoso por sua vez,
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pode ser visto como uma fila para compra de ingressos de um Show lotado,
A turbulência tem especial importância para a nossa analogia. Ela pode ser
terior, um fluido pouco turbulento é como uma maratona, onde todos “fluem“
pode ser comparado com um terminal de ônibus lotado, cada pessoa vai numa
estão por toda a parte em nossas vidas, sempre que vemos redemoinhos, no
turbulento.
pode-se faze-lo também para estes campos associados aos fluidos. Dessa forma,
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região de área A da seguinte forma:
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Dessa forma, pela regra da mão direita o vórtice da esquerda tem o vetor de
direita tem vorticidade apontando para dentro do plano. Um bom teste para
maioria das vezes eles são muito instáveis e cessam rapidamente. Pensando
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∆ϕ(⃗
ω)
C (⃗a) =
∆t
tempo. Portanto, quando algum ente causa distúrbios no fluido ideal, vê-se
surgir redemoinhos, cuja circulação se opõe à variação imposta pelo ente. Dessa
apêndice B.
Figura 6: No lado esquerdo (azul) um objeto altera a direção do fluido. No lado direito (vermelho)
surge um redemoinho cuja circulação se opõe àquela imposta pelo objeto. Fonte: [5]
Agora que entendemos porque os vórtices que surgem nos fluidos podem
∆ϕ(⃗
ω)
C (⃗a) = − (6)
∆t
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camente, os fluidos se comportam de forma muito semelhante aos campos
magnético.
Haralambos [10].
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Figura 7: a) Representação de um tubo de vórtice circular formado ao redor de um volume de
fluido que fora deslocado. b) Representação das linhas de campo magnético ao redor
de uma corrente elétrica. Fonte: Autoria Própria.
são apenas uma bacia grande com água, um objeto para causar turbulência
produzidos.
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Figura 8: Tubo de vórtice semi-circular produzido ao mover uma colher de sopa numa bacia
cheia de água. Fonte: Autoria Própria.
zido apenas agitando a água com uma colher de sopa. A bacia usada é feita
apropriada e etc...
uso de aparatos como bussolas, fios e solenoides não exibem o fato de que
vorticidade.
que num primeiro momento parece nada ter em comum com a hidrodinâmica.
Por isso, essa analogia pode ter grande valia ao permitir que os educandos
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tenham algum paralelo palpável entre seu cotidiano e a teoria eletromagnética.
7 Conclusão
aproveitar a experiência que todos temos com fluidos ao longo da vida como
magnéticos. Visto que muitas vezes mesmo bons alunos saem do ensino médio
menos algum mecanismo por trás desses fenômenos. Para exemplificar como
entretanto ressalta-se que muitas outras estratégias podem ser utilizadas, tanto
Essa abordagem carrega o risco dos alunos desenvolverem uma visão mais
próxima das teorias etéreas do século XIX do que da forma mais moderna
é problematico, uma vez que os saberes escolares são uma simplificação dos
saberes científicos.
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A Apêndice A: Derivação da analogia
∂⃗u
ω × ⃗u − ∇Φ
= −⃗ (7)
∂t
seguinte forma:
P u2
Φ= +
ρ 2
∂
(∇ × ⃗u) = ∇ × (−⃗
ω × ⃗u)
∂t
⃗
∂ω
−→ = ∇ × (−⃗
ω × ⃗u) (8)
∂t
expressão 7 abaixo:
∂⃗u
∇ · (⃗
ω × ⃗u) = −∇ · − ∇2 Φ
∂t
∇ · ⃗u = 0, temos que:
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ω × ⃗u) = −∇2 Φ
∇ · (⃗
⃗ × ⃗u = ⃗a
ω
forma integral:
⃗
∂ω
= ∇ × (−⃗a)
∂t
⃗
ZZ ZZ
⃗ =− ∂ω ⃗
−→ (∇ ×⃗a) · d A · dA
∂t
I ZZ
∂ ⃗
−→ ⃗a · d⃗L = − ⃗ · dA
ω (9)
∂t
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incompressível. A tabela abaixo apresenta as grandezas análogas no eletromag-
no presente trabalho.
Hidrodinamica Eletromagnetismo
⃗a ⃗E
⃗
ω ⃗B
⃗u ⃗
A
Φ V
I
C (⃗u) = ⃗u · d⃗L
I ZZ
∇Φ · d⃗L = ∇ × (∇Φ) · d A
⃗ =0
∂d⃗L
Lembrando-se que ∂t = 0 e que a integral fechada de um gradiente é nula,
Dd⃗L 1
I I I
⃗u · = ⃗u · (d⃗L · ∇)⃗u = ∇(⃗u2 )· = 0
Dt 2
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Dessa forma, fica evidente que a circulação total da região de fluido em
DC (⃗u)
=0 (11)
Dt
I ZZ ZZ
C (⃗u) = ⃗u · d⃗L = ⃗ =
(∇ × ⃗u) · d A ⃗ = ϕ(⃗
⃗ · dA
ω ω)
Dϕ(⃗
ω)
=0
Dt
∂ϕ(⃗
ω)
→ + ⃗u · ∇ϕ(⃗
ω) = 0
∂t
∂ϕ(⃗
ω) ∂ϕ(⃗
ω) ∂ϕ(⃗
ω) ∂ϕ(⃗
ω)
→ = − ux + uy + uz (12)
∂t ∂x ∂y ∂z
vorticidade num ponto, tem-se uma variação no gradiente desse fluxo. Assim
Referências
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[2] Laxmi Ashrit. Electromagnetic induction – theory, application, ad-
electromagnetic-induction-theory/.
[3] Tullinge Triangelpojkar BTK. Sista träningen för säsongen blir den 11 juni,
2018. https://www.svenskalag.se/ttp-btk-grp1/nyheter/1165328/
sista-traningen-for-sasongen-blir-den-11-juni.
sciencedirect.com/topics/engineering/starting-vortex.
2010.
[8] Eric R Kandel and Robert D Hawkins. The biological basis of learning
10(6):1428–1437, 1998.
edu/~vadim/Classes/2017f/Faraday.pdf.
25
[12] Karl Sims. Fluid flow tutorial, 2018. https://www.karlsims.com/
fluid-flow.html.
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Avaliação do Orientador
Dezembro 2021
E-mail: oicram@unicamp.br
2 Comentários:
Daniel mostrou que, além de ser um estudante muito bom no curso de Física, tem cultura
geral ampla, aproveitou bem a cultura humantistica que recebem os alunos da licenciatura. Ele
escreve com facilidade e perfeição, produzindo um texto muito agradável de ler. Esta
estratégia, de criar um gancho entre eletrodinâmica e a cotidiana mecânica de fluídos para o
ensino do Eletromagnetismo, é muito boa. Noto que as experiências que negaram a existência
de um éter, como a de Michelson-Morley, negaram a existência de um éter com certas
propriedades que foram conjeturadas, mas sempre podemos associar o eletromagnetismo a
um éter que seria um fluido diferente, com propriedades especiais, no sentido daquele
colocado por Dirac (Nature, v.168, pages 906-907). Sem pensar em fluidos e vórtices não há
como interpretar de forma concreta os campos do eletromagnetismo e suas relações, tal é o
mesmo que afastar do Eletromagnetismo a sua musa inspiradora. Esta brilhante proposta de
Daniel, o emprego da analogia entre eletromagnetismo e mecânica de fluidos para ensinar o
eletromagnetismo, vai permitir um melhor entendimento desta disciplina, que hoje é
apresentada de forma fantasmagórica no ensino médio, sem que o aluno entenda quase nada.
3 Assinatura:
4 Assinatura do Orientador: