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AULA
Energia potencial em 3-D:
o potencial gravitacional
Metas da aula
Apresentar a condição necessária e suficiente
para que uma força seja conservativa;
introduzir os conceitos de campo e potencial gravitacionais;
estabelecer a lei de Gauss da gravitação e discutir suas
aplicações e conseqüências mais importantes.
objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
• determinar se uma dada força é ou não conservativa;
• calcular a energia potencial para uma dada força, incluindo aqui
saber especificar o caminho de integração conveniente;
• saber quando e como utilizar a lei de Gauss para calcular
o campo gravitacional.
Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

POR QUE O ESPAÇO TEM TRÊS DIMENSÕES?

Nós vivemos em um espaço tridimensional. Isso significa que


precisamos de três números para representar a posição de um ponto no
espaço, por exemplo: latitude, longitude e altura acima do nível do mar.
Mas por que o espaço não tem duas, quatro ou algum outro número
de dimensões? Na verdade, em teorias atuais, o espaço teria nove ou
dez dimensões, mas seis ou sete das direções estariam compactadas, tão
pequenas que ainda não teríamos meios de observá-las, restando três
dimensões grandes e quase planas. Por que, então, restam três dimensões
perceptíveis e não duas?
Existe uma resposta curiosa para esta última pergunta baseada
no princípio antrópico. O princípio antrópico afirma que o universo
é do jeito que é, pelo menos em parte, porque nós existimos. Consideremos,
por exemplo, nossa forma. Topologicamente, somos equivalentes a um
toro, representado na imagem a seguir:

Figura 5.1: Um toro.

Nosso sistema digestivo é externo ao nosso corpo. Um intestino


que atravessasse um animal bidimensional o dividiria em dois
(Figura 5.2).
Portanto, duas dimensões espaciais não são suficientes
para seres vivos tão complexos como nós. Por outro lado, se o
espaço tivesse quatro ou mais dimensões, a força gravitacional
entre dois corpos diminuiria mais rapidamente à medida
que eles se afastassem um do outro. Como conseqüência, os
planetas não teriam órbitas estáveis ao redor de seus sóis.
Ou eles cairiam no sol, ou escapariam para a escuridão e frio
externos e não teríamos tido a chance de existir. A situação
seria, na verdade, ainda mais desfavorável: as órbitas dos
Figura 5.2: Um animal bidimensional elétrons nos átomos também não seriam estáveis e a matéria
teria dificuldade para digerir comida.
como conhecemos não existiria. Claro que este assunto não é

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MÓDULO 1
tão simples assim. Ele está sendo apresentado apenas como curiosidade.

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Se você quiser conhecer mais sobre esse tema, sugerimos que leia o livro

AULA
O universo numa casca de noz, de Stephen Hawking, editora Arx, 2002.
No espaço tridimensional, a força gravitacional varia com o
inverso do quadrado da distância (a força eletrostática também). Devido
a esta dependência com o inverso do quadrado da distância, uma grande
simplificação ocorre: para os propósitos de gravidade uma esfera age do
mesmo modo que uma massa puntiforme em seu centro. Assim, também,
a força gravitacional entre duas esferas é a mesma que se elas fossem
substituídas por duas massas puntiformes. Caso contrário, descrever, por
exemplo, o movimento dos planetas seria uma tarefa bem complicada.
A força gravitacional é uma força conservativa, podendo, portanto,
como já definimos antes em 1-D, ser derivada de uma energia potencial.
Nesta aula você verá, no entanto, que, em três dimensões, depender só
da posição é uma condição necessária, mas não é condição suficiente
para que uma força seja conservativa.
A formulação de uma lei de força do inverso do quadrado da
distância pode ser feita de uma forma compacta e poderosa por meio da
lei de Gauss. Para isso, vamos introduzir a noção de campo vetorial e o
conceito de fluxo de uma quantidade vetorial. Também, introduziremos
o potencial, uma quantidade escalar e, portanto, mais simples, a partir da
qual podemos calcular o campo.

CONSERVAÇÃO DA ENERGIA EM 3-D

Os conceitos de trabalho e de energia potencial em três dimensões


são ligeiramente mais complicados que em uma dimensão, mas as idéias
gerais são as mesmas. Assim, do mesmo modo que na Aula 2, na qual
tratamos do caso 1-D, partimos da segunda lei de Newton que agora
r r
toma a forma vetorial F = ma , e vamos considerar forças que depen-
r rr
dem somente da posição, isto é, F = F(r ) . Em coordenadas cartesianas

dvx dvy dv
m = Fx , m = Fy , m z = Fz (5.1)
dt dt dt

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Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

Multiplicando estas equações por vx , vy , vz , respectivamente,


obtemos

d 1 2 d 1 2 d 1 2
 mvx  = Fx vx ,  mvy  = Fy vy ,  mvz  = Fz vz (5.2)
dt  2  dt  2  dt  2 

e somando estas equações, temos

d 1 1 1 2
 mvx + mvy + mvz  = Fx vx + Fy vy + Fz vz
2 2
(5.3)
dt  2 2 2 

ou r r
d 1 2
 mv  = F ⋅ v (5.4)
dt  2 

Multiplicando a Equação (5.4) por dt e integrando, obtemos

1 1 t2 r r
mv22 − mv12 = ∫ F ⋅ vdt (5.5)
2 2 t1

r r r r r r
Como vdt = dr e sendo F =uma
ma função de r1, epodemos
r2 escrever o
lado direito da Equação (5.5) como uma integral de linha:

r2 r
r
1 1 r
T2 − T1 = mv22 − mv12 = ∫r F ⋅ dr (5.6)
2 2 r1

onde a integral deve ser tomada ao longo da trajetória seguida pela


r r
partícula entre os pontos r1 e r2 . Esta integral é simplesmente o traba-
lho realizado sobre a partícula quando ela se move ao longo do caminho
r r
considerado entre os pontos r1 e r2 . A Equação (5.6) é a forma integra-
da do teorema trabalho-energia.
Em uma dimensão, o fato de a força depender somente da posição
é uma condição necessária e suficiente para que ela possa ser derivada de
uma energia potencial. A energia potencial é definida como o trabalho
realizado pela força quando a partícula vai de uma posição x até algum
ponto de referência xs:
xs
V (x) = ∫ F (x′)dx′ (5.7)
x

Em 1-D só existe um caminho ou trajetória entre x e x0 : uma reta.


Mas em 3-D existe um número infinito de caminhos entre duas posições
r r r
r1 e r2 . Para que o potencial V(r ) tenha um significado e tenha alguma
utilidade, ele deve ser bem definido. Isto é, ele deve ser independente do

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MÓDULO 1
percurso. Como no caso 1-D, nós chamamos a força associada com tal

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potencial força conservativa. Vejamos, então, que tipos de forças 3-D

AULA
são conservativas. Podemos afirmar o seguinte:
r r
Dada uma força F (r ) , uma condição necessária e suficiente para
que o potencial,
r r r
r
r r
V (r ) = − ∫r F(r ’) ⋅ dr (5.8)
r0

seja bem definido, isto é, independente da trajetória, é que o rotacional


r r
de F (r ) seja igual a zero, isto é,
r r (5.9)
∇×F = 0
r r
Primeiro vamos mostrar que ∇ × F = 0 é uma condição neces-
sária para independência de trajetória. Em outras palavras, “Se
r r r r
V(r ) é independente de trajetória, então ∇ × F = 0 ”. Se V(r ) é indepen-
dente de trajetória, então é legal escrever a forma diferencial da
Equação (5.8). Isto é,

r r r
(r ) = − F ⋅ dr = − ( Fx dx + Fy dy + Fz dz )
dVdV (5.10)

Lembre-se de que na Termodinâmica, escrevemos dQ porque a quanti-


dade de calor Q depende do processo (trajetória). Não existe uma
diferencial exata dQ . Mas uma outra expressão para dV é

r ∂V ∂V ∂V
(r ) =
dVdV dx + dy + dz (5.11)
∂x ∂y ∂z

As duas equações anteriores devem ser equivalentes para dx, dy


e dz arbitrários. Portanto, devemos ter

 
( F , F , F ) = −  ∂∂Vx , ∂∂Vy , ∂∂Vz 
x y z (5.12)
 

ou seja, a força é o gradiente do potencial,


r r (5.13)
F = − ∇V

Portanto,
r r r r
∇ × F = − ∇ × ∇V = 0 (5.14)

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porque o rotacional do gradiente é identicamente zero, como você


r r
pode verificar explicitamente. Assim nós mostramos que ∇ × F = 0 é
uma condição necessária. Vamos mostrar que ela é suficiente, isto é,
r r r
“Se ∇ × F = 0 , então V(r ) é independente do caminho”.
A prova de suficiência segue imediatamente do teorema de Stokes
que diz o seguinte:
rr r r rr r
Ñ∫ F(r ) ⋅ dr = ∫ ( ∇ × F(r )) ⋅ dA
C S
(5.15)

r r
Aqui, C é uma curva arbitrária que fazemos passar por r0 e r1 .
r
S é uma superfície arbitrária que tem C como fronteira e d A tem
módulo igual a um elemento infinitesimal de área em S, e direção
ortogonal a S.
r r
A Equação (5.15) diz que, se ∇ × F = 0 em todo lugar, então
r r
Ñ∫ F ⋅ dr = 0
C
para qualquer curva fechada. Mas, olhando a Figura 5.3,

r r r
r r r r0 r
r
r r
r r r rr r r
Ñ∫
C
F ⋅ dr = ∫r0 (1)
r F ⋅ dr + ∫r (2)
r F ⋅ dr = ∫r0 (1) ⋅ dr − ∫rr0 (2) F ⋅ dr (5.16)
r F

r r
Logo, se Ñ∫ ⋅ dr = 0 , a Equação (5.16) nos diz que
C
F

r
r r r rr r r
∫ r
r0 (1)
F ⋅ dr = ∫r F ⋅ dr
r0 (2)
(5.17)

r r
para dois caminhos arbitrários (1) e (2) ligando r e r0 .

Figura 5.3: Curva fechada vista como a soma de dois caminhos.

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MÓDULO 1
Voltando à Equação (5.6), quando a força é conservativa, podemos

5
então escrever o trabalho como

AULA
r
r2 r r r0 r
r
r r2 r
r
r

r
r1
F ⋅ dr = ∫r F ⋅ dr + ∫r F ⋅ dr
r1 r0
r r
r
r2 r
r (5.18)
r1 r
= − ∫r F ⋅ dr + ∫r F ⋅ dr
r0 r0
r r
= V (r1 ) − V (r2 )
e, então, vemos que
r r r r (5.19)
T2 − T1 = V (r1 ) − V (r2 ) ⇒ T2 + V (r2 ) = T1 + V (r1 )

que é a expressão da conservação da energia mecânica E = T + V.

FORÇAS CENTRAIS

Um exemplo importante de força conservativa é a força central.


Esta é definida como uma força que aponta radialmente e cujo módulo
depende somente de r
rr
F(r ) = F(r)^r (5.20)

r r
Vamos mostrar explicitamente que ∇ × F = 0 para uma força
r r
∇×F =
central. Primeiro note que 0 ser escrita como
pode

r x y z ^
F(x, y, z) = F(r)r^ = F(r)  ^i + j^ + k  (5.21)
r r r 


onde ^iˆ, ^jˆ e k são os unitários nas direções x, y e z, respectivamente.
Agora,
∂r ∂ x + y + z
2 2 2
x (5.22)
= =
∂x ∂x r

e, similarmente,
∂r y
=
∂y r (5.23)

∂r z
= (5.24)
∂z r
r r
para y e z. Tomemos, por exemplo, a componente z de ∇ × F = 0

r r ∂Fy ∂Fx
(∇ × F)z = − (5.25)
∂x ∂y

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Temos que
∂Fy ∂ (F / r ) d  F  ∂r xy d  F 
=y =y   =  
∂x ∂x dr  r  ∂x r dr  r 
(5.26)
∂Fx ∂ (F / r ) d  F  ∂r yx d  F 
=x =x   =  
∂y ∂y dr  r  ∂y r dr  r 
r r
onde usamos as Equações (5.22) e (5.23). Assim, ( ∇ × F )=z =0 0. Do mesmo
modo para as componentes x e y.

As forças centrais são importantes porque estão em toda parte,


já que a força de Coulomb e a força gravitacional são centrais. Também
são importantes do ponto de vista histórico, pois foi para explicar o
movimento sob a ação da força gravitacional que Newton formulou
a Mecânica. Estudaremos o movimento sob uma força central,
detalhadamente, mais adiante em nosso curso.
Ao tratar de forças centrais, é conveniente usar coordenadas polares
esféricas (r, θ, φ) definidas como na Figura 5.4 ou pelas equações

x = r senθ cosφ , y = r senθ senφ , z = r cosθ (5.27)

Figura 5.4: Coordenadas polares esféricas.

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MÓDULO 1
Para calcular a energia potencial correspondente a uma força central,

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escolhemos um caminho de integração como indicado na Figura 5.5:

AULA
Figura 5.5: Caminho de integração para uma força central.

r r r r
Tomamos um ponto qualquer de referência r0 ,ee r1integramos de r0 até
e r1
r r r r
e r1
r0 primeiro ao longo de um raio (C1) que parte de r0 , ecujas
r1 coordenadas
são (r0 , θ0 , φ0 ) e vai até o ponto (r0 , θ0 , φ0 ) e depois, ao longo de um círculo
(C2) de raio r em torno da origem, até o ponto (r, θ, φ). Ao longo de C1,
r
dr = rdr
ˆ
e
r r r
∫ C1
F ⋅ dr = ∫ F(r)dr
r0

Ao longo de C2,
r
dr = θˆr dθ + φˆ r senθ dφ
e r r
∫C2
F ⋅ dr = 0
Assim, r r
V (r ) = V (r) = − ∫ F(r)dr
r0

Note que a energia potencial de uma força central é uma função


somente de r.

ENERGIA POTENCIAL GRAVITACIONAL DE UMA ESFERA

A força gravitacional sobre uma partícula puntiforme de


massa m, localizada a uma distância r de uma partícula puntiforme
de massa M, é dada pela lei de Newton da gravitação,

r GMm ^
F(r) = − r (5.28)
r2

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onde o sinal menos indica que a força é atrativa. Qual será a força se a
massa puntiforme M for substituída por uma esfera de raio R e massa
M? Se a esfera tiver uma distribuição esfericamente simétrica de massa,
ou seja, se sua densidade for uma função só de r, então a resposta é que
continua sendo − GMm / r 2 . Para os propósitos da gravidade, é como
se toda a massa da esfera estivesse em seu centro. Nós vamos usar este
resultado quando estivermos estudando o movimento dos planetas.
Para provar este resultado, é muito mais fácil primeiro calcular
a energia potencial devido a uma esfera e depois tomar a derivada para
obter a força em vez de calcular a força explicitamente. Isto porque a
energia potencial é um escalar, enquanto a força é um vetor. É suficiente
demonstrar o resultado para uma casca esférica fina, uma vez que uma
esfera é a soma de muitas de tais cascas. Para isso, vamos dividir a casca
em anéis, como mostra a Figura 5.6. Seja R o raio da casca e P o ponto
onde queremos calcular o potencial, a uma distância r de seu centro.

a b

Figura 5.6: Método de calcular a energia potencial de uma casca esférica. Em (a), a
casca é dividida em anéis. E em (b) mostramos as distâncias relevantes.

A área do anel entre θ e θ + dθ é ( 2π R senθ ) Rdθ e, assim, uma vez


que cada elemento de massa do anel está a uma mesma distância de P,
a energia potencial de uma massa m em P devido ao anel é

Gmσ ( 2π R senθ ) Rdθ


dV (r) = − (5.29)
l

onde σ = M 4π R2 é a densidade de massa da casca e

( Rsenθ ) + ( r − R cosθ ) = R2 + r 2 − 2rR cosθ


2 2
l=

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MÓDULO 1
A energia potencial total em P é, portanto,

5
AULA
π 2πσ GR2 m sen θ dθ
V (r) = − ∫
(5.30)
0
R2 + r 2 − 2rR cosθ
2πσ GRm π
=− R2 + r 2 − 2rR cosθ
r 0

Nós agora devemos considerar dois casos. Se r > R, então nós temos

2πσ GRm G(4π R2σ )m GMm


V (r) = − ((R + r) − (r − R)) = − =− (5.31)
r r r

que é a energia potencial devida a uma massa puntiforme M localizada


no centro da casca, como desejado. Se r < R, então nós temos:

2πσ GRm G (4π R2σ ) m GMm


V (r) = − ((R + r) − (R − r)) = − =− (5.32)
r R R

que é independente de r.
Uma vez que encontramos V(r), podemos achar a força como
r r
F = −∇V . Em coordenadas polares esféricas,
r ∂ 1 ∂ 1 ∂
∇ = rˆ + θˆ + φˆ (5.33)
∂r r ∂θ rsenθ ∂φ

Então, r dV (r) GMm


F = − rˆ =− rˆ, se r > R (5.34)
dr r2
e
r
F = 0, se r < R (5.35)

Uma esfera é a soma de muitas cascas esferas e, portanto, se o ponto


P está fora da esfera, então a força em P é − GMm rˆ , onde M é a mas-
2
r
sa total da esfera. Este resultado vale mesmo que as cascas tenham
densidades diferentes (mas cada uma deve ter densidade uniforme).
Se o ponto P está dentro de uma dada esfera, então a única matéria
relevante é a massa dentro de uma esfera concêntrica através de P, porque
todas as camadas fora desta região dão força zero. A matéria fora de P,
para os fins de gravidade, é como se não estivesse lá.

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LEI DE GAUSS

A lei de força do inverso do quadrado da distância pode ser


reformulada de uma maneira muito elegante, compacta e poderosa
chamada lei de Gauss. Precisaremos do conceito de campo e da definição
do fluxo deste campo através de uma superfície.
Para introduzir o conceito de campo vetorial, consideremos a
atração gravitacional da Terra, que vamos supor esférica, sobre uma
partícula fora dela. A força depende tanto da massa da partícula sendo
atraída quanto de sua localização relativa ao centro da Terra. Esta força
atrativa dividida pela massa da partícula depende somente da Terra e da
localização do objeto atraído.
r Podemos, portanto, atribuir a cada ponto
r F
=
do espaço um vetor g dado por
m
r
r F
g= (5.36)
m
ou

r GM
g = − 2 T rˆ (5.37)
r

Assim, nós podemos imaginar uma coleção de vetores por todo o espaço,
em geral diferentes em módulo e direção em cada ponto do espaço, e
que define a atração gravitacional da Terra sobre uma partícula teste
localizada numa posição qualquer. A totalidade de tais vetores é chamada
campo, e os próprios vetores são chamados intensidades do campo.

Figura 5.7: Superfície gaussiana envolvendo a Terra.

122 CEDERJ
MÓDULO 1
Considere agora uma esfera com o centro no centro da Terra e

5
raio maior que o raio da Terra, Figura 5.7. Usando a convenção de que

AULA
r aponta radialmente para fora, então a componente
a direção positiva
rF
radial de g =multiplicada pela área total da superfície da esfera, nos dá
m
uma quantidade Φ definida como:

GMT
Φ = 4π r 2 g(r) = −4π r 2 = −4π GMT (5.38)
r2

Φ é o fluxo do campo gravitacional através da superfície da esfera. Note


que este resultado é independente de r.

a b

Figura 5.8: (a) Superfície gaussiana envolvendo uma partícula de massa M. Existe
um fluxo gravitacional resultante devido à massa M. (b) Superfície gaussiana não
envolvendo M. O fluxo resultante neste caso é zero.

Vamos agora considerar o caso de uma superfície gaussiana


fechada, que tenha uma forma qualquer, rodeando uma massa M,
(Figura 5.8.a). Se em um ponto arbitrário nesta superfície, a normal
r r
r θ com r0, ecomo
à superfície faz um ângulo r1 mostrado, nós podemos
rF
decompor o campo g =em componentes ortogonais, uma paralela à
m
superfície e outra ao longo da r normal. Só a componente normal
r F
=
contribui para o fluxo de g através da superfície. Deste modo, o ele-
m
mento de fluxo através do elemento de área dA é

r r GM
d Φ = g ⋅ dA = − 2 cosθ dA (5.39)
r

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Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

r r r
Agora, dA cosθ / ré igual à projeção de d A perpendicular a r0, e or1 quo-
2

ciente dA cosθ / r 2 é o elemento de ângulo


d Φ =sólido,
−GMd Ω , subentendido em
M por dA. Assim, podemos escrever
d Φ = −GMd Ω (5.40)
r
r F
=
O fluxo total de g através da superfície, definido deste modo, é então
m
d Φ = −GMd Ω . Mas isto significa
obtido integrando-se sobre todas as contribuições
simplesmente incluir o ângulo sólido completo, 4π. Temos, portanto,

r r
Φ = Ñ∫ g ⋅ dA = −GM Ñ∫ dΩ = −4π GM (5.41)
A

exatamente como para uma esfera. Se a massa estiver fora da superfície


gaussiana, o resultado é bastante diferente. Desta vez, o cone de
d Φ =ângulo
pequeno −GMd Ω intercepta a superfície duas vezes (Figura 5.8.b).
A contribuição para o fluxo é dada por
 dA cosθ dA2 cosθ 2 
d Ω = −GM  1 2 1 + 
 r1 r22  (5.42)
= −GM ( − d Ω + d Ω )
=0
O fluxo total é zero neste caso. Note que os resultados (5.41) e (5.42)
são uma conseqüência direta do fato de a força seguir uma lei do inverso
do quadrado da distância exata.
Estes resultados são facilmente generalizados para uma distribuição
de massa qualquer:
r r
Ñ∫ A
g ⋅ dA = −4π GMtotal (5.43)

onde M total é a massa dentro da região envolvida pela superfície


fechada A. Esta é a Lei de Gauss (você já deve ter percebido que tudo
isso é igual ao que você já sabia, lá do eletromagnetismo).

Exemplo 5.1: suponha que a Lua seja uma esfera de densidade


uniforme de raio RL e massa ML. Imagine um túnel reto, cavado através
da Lua passando por seu centro.

124 CEDERJ
MÓDULO 1
5
AULA
ML

Figura 5.9: Túnel através da Lua. Também mostramos a superfície gaussiana para
o cálculo do campo.

Vamos mostrar que o movimento de objetos ao longo desse túnel,


sob a ação da gravidade, seria harmônico simples. Para isso é preciso
r r
e r1 a
calcular a força sobre um objeto no túnel, em uma posição r0. Como
distribuição de massa é esfericamente simétrica, podemos usar a lei de
Gauss para determinar o campo. Com a superfície gaussiana mostrada
na Figura 5.9, temos:

Φ = 4π r 2 g(r) = − 4π GM (5.44)

onde M é a massa envolvida pela superfície

ML 4π 3 ML 3
M= ⋅ r = 3 r (5.45)
4π / 3RL3 3 RL

Substituindo este resultado na Equação (5.44), achamos

GML
g(r) = − r (5.46)
RL3

A força sobre uma partícula de massa m a uma distância r do centro


é então
f (r) = mg(r) = −kr (5.47)
onde a constante k é dada por
Gm ML (5.48)
k=
RL3
O movimento é, portanto, harmônico simples, com um período

2π m RL3
T= = 2π = 2π (5.49)
ω k GML

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Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

Para encerrar, vamos apresentar a forma diferencial da lei de


r
Gauss. Seja ρ (r ) uma distribuição de massa qualquer. Então, a massa
total dentro de uma superfície gaussiana nesta distribuição é

Mtotal = ∫ ρ dV (5.50)
V

onde V é o volume envolvido pela superfície gaussiana. Por outro lado,


podemos usar o teorema da divergência para escrever

r r r r
Ñ∫ A
g ⋅ dA = ∫ ∇ ⋅ gdV
V (5.51)

Substituindo as Equações (5.50) e (5.51) na expressão da lei de Gauss,


(5.43), obtemos:
r r
∇ ⋅ g = − 4π Gρ (5.52)

Esta é a lei de Gauss na sua forma diferencial.

RESUMO
r r
Uma força é conservativa se ∇ × F = 0 . A energia potencial associada a
r r r r r
r
r
F =é FV(r(r) )r = − ∫r F(r ’) ⋅ dr, sendo o valor da integral independente do caminho
r0
r r r r
escolhido para ir de r0 reaté r
0 e1 r1. Você deve escolher o caminho de integração que

for mais conveniente (no sentido de simplificar os cálculos). As importantes forças


r
centrais, F = F (r) r , são conservativas. Para uma força central que varie com o
inverso do quadrado da distância, vale a lei de Gauss, e vice-versa. Para o campo gra-
r r
vitacional, a lei de Gauss pode ser escrita na forma integral,
r r Ñ∫ A
g ⋅ dA = − 4π GM ,
ou na forma diferencial, ∇ ⋅ g = − 4π Gρ . Esta última fornece uma equação
diferencial para o potencial gravitacional, a equação de Poisson.

126 CEDERJ
MÓDULO 1
PROBLEMAS

5
AULA
5.1. Quais destas forças são conservativas? Encontre o potencial
para aquelas que são.
(a) Fx = ayz + bx + c, Fy = axz + bz, Fz = axy + by , onde a, b
e c são constantes arbitrárias.
. − x , Fy = ln z, Fz = e − x + y / z
(b) Fx = −ze
r
(c) F = arˆ / r

5.2. Mostre que a auto-energia gravitacional de uma esfera


uniforme de massa M e raio R é

3 GM 2
V =− (5.53)
5 R

Obs.: A auto-energia é o trabalho que um agente externo teve de


realizar para colocar juntas todas as partículas, que formam o objeto,
trazendo-as desde o infinito. Aqui estamos considerando somente a parte
gravitacional.

5.3. Se o campo gravitacional é independente da distância radial


dentro de uma esfera, encontre a função descrevendo a densidade
ρ = ρ (r) da esfera.

5.4. A Equação de Poisson. O vetor campo gravitacional


r r
g (r ) de uma distribuição de massa é definido como sendo a força por
r r
unidade de massa sobre uma partícula no ponto r0. eComor1 a força é
igual a menos o gradiente da energia potencial, vemos que a energia
potencial gravitacional por unidade de massa, ou simplesmente potencial
gravitacional, que vamos representar por ϕ, é uma função tal que
r r
g = −∇ϕ .
(a) Mostre que ϕ obedece à equação de Poisson,

∇ 2ϕ = 4π Gρ (5.54)
r
(b) Mostre que o potencial ϕ (r ) de uma distribuição de massa
r
ρ (r ) é dado por
r
r Gρ (r ’)
ϕ (r ) = − ∫ r r dV ’ (5.55)
r − r’

CEDERJ 127
Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

5.5. Considere o potencial gravitacional

GM
ϕ (r) = − (5.56)
r 2 + a2

Determine a distribuição de massa ρ (r) correspondente a esse


potencial.

5.6. Uma pequena rocha esférica coberta de areia aproxima-se


radialmente de um planeta. Seja R o raio do planeta e ρp sua densidade.
A densidade da rocha é ρr. Quando a rocha chega suficientemente
próxima do planeta, a força de maré tendendo a arrancar a areia da
rocha será maior que a força gravitacional atraindo a areia para a rocha.
A distância d na qual os dois efeitos são iguais é chamada limite de
Roche. Mostre que
1/ 3
 2ρ 
d = R P 
(5.57)
 ρr 

5.7. Este problema ajuda a explicar a distribuição de massa em


aglomerados globulares, que são aglomerados (quase) esfericamente
simétricos de estrelas. Suponha que um grande número N de objetos
puntiformes esteja se movendo sob a ação de suas atrações gravitacionais
mútuas. Vamos adotar o seguinte modelo para o aglomerado: todos os
objetos possuem massas iguais a m e energias cinéticas iguais e, portanto,
velocidades iguais v. Cada um move-se numa órbita circular em torno
do centro de massa comum do sistema. N é suficientemente grande de
modo que a densidade de massa ρ(r) possa ser considerada constante.
Encontre ρ(r).

5.8. Matéria escura em galáxias. Acredita-se hoje que a maior


parte da matéria do Universo seja escura, ou seja, não pode ser detectada
pela radiação que emite (ou deixa de emitir). Sua presença é inferida
indiretamente, a partir dos movimentos de objetos astronômicos.
Considere, por exemplo, as curvas de rotação das galáxias. Para
fazer uma curva de rotação, calcula-se a velocidade de rotação de
estrelas ao longo do comprimento de uma galáxia, medindo seus
deslocamentos Doppler.

128 CEDERJ
MÓDULO 1
(a) Supondo que a distribuição de massa da galáxia possa ser

5
aproximada como esférica, mostre que a velocidade de uma estrela em

AULA
uma órbita de raio r (distância da estrela ao centro da galáxia) é

GM (r)
v (r) = (5.58)
r

onde M(r) é a massa no interior da órbita.


(b) Se a massa da galáxia está concentrada na sua parte visível,
então devemos esperar que v (r) ∝ 1 / r para distâncias bem além do
raio visível. Em vez disso, astrônomos observam que a velocidade cresce,
tendendo a um valor constante entre 100 e 200 km/s. Assim, para
grandes distâncias, muito além do raio da galáxia, sua massa continua
crescendo. M(r) cresce linearmente com r. Considere a galáxia espiral
M33. Sua massa visível é M = 4 × 10 M e , onde Me = 1, 989 × 1030 kg
10

é a massa do Sol. A uma distância de 10 kpc a velocidade observada é de


120 km/s, enquanto o valor previsto é de 40 km/s. Encontre a razão
entre a massa da matéria escura, Md e a massa observada Mo. Qual foi
o valor de M(r) usado para obter a velocidade de 40 km/s?

5.9. Considere um anel circular fino, uniforme, de raio a e


massa M. Uma massa m é colocada no plano do anel. Encontre uma
posição de equilíbrio e determine se ela é estável.

5.10. Qual é o potencial gravitacional dentro e fora de uma camada


esférica, de densidade uniforme ρ, raio interno b e raio externo a?

SOLUÇÕES
r r  ∂Fz ∂Fy  ˆ  ∂Fx ∂Fz  ˆ  ∂Fy ∂Fx 
5.1. Devemos calcular ∇ × F =  −  i + −  j +  ∂x − ∂y  k̂
 ∂y ∂z   ∂z ∂x   
Fy   ∂Fx ∂Fz  ˆ  ∂Fy ∂Fx 
 iˆ +  −  j +  ∂x − ∂y  k̂ para cada uma das forças.
z   ∂z ∂x   
∂Fz ∂Fy ∂Fx ∂Fz
(a) − = ax + b − (ax + b) = 0 , − = ay − ay = 0 ,
∂y ∂z ∂z ∂x

∂Fy ∂Fx
− = az − az = 0
∂x ∂y

CEDERJ 129
Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

r r
r rr r
A força é conservativa. No cálculo deV (r ) = − ∫r F(r ′) ⋅ dr ′, vamos
r0
r
escolher r0 = 0 e o caminho, mostrado na Figura 5.10,

Figura 5.10

r ˆ r ˆ r ˆ
C1 → dr ′ = idx ′, y′ = 0, z ′ = 0; C2 → dr ′ = jdy ′, x′ = x, z ′ = 0 C3 → dr ′ = kdz ′, x′ = x
r ˆ r ˆ
; C2 → dr ′ = jdy ′, x′ = x, z ′ = 0 C3 → dr ′ = kdz ′, x′ = x, y′ = y . Então,
r
V (r ) = − ∫ Fx ’dx′ − ∫ Fy ’ dy′ − ∫ Fz ’dz ′
C1 C1 C1
x y z
= − ∫ (bx′ + c)dx′ − ∫ 0 dy′ − ∫ (axy + by) dz ′
0 0 0

1
= − bx 2 − cx − axyz − byz
2

(b) ∂Fz − ∂Fy = 1 − 1 = 0 , ∂ Fx ∂Fz


− = −e− x + e− x = 0 ,
∂y ∂z z z ∂z ∂x
∂Fy ∂Fx
− = 0 − 0 = 0 e a força é conservativa. O potencial é determinado
∂x ∂y r
tomando-se o ponto de referência r0 = (0, 0, 1) . Temos então,

r x y z y
V (r ) = ∫ e − x ’dx′ − ∫ 0 dy′ − ∫  e − x +  dz ′
0 0 1
 z′ 
= 1 − e − e ( z − 1) − y ( ln z − ln 1)
−x −x

= 1 − ze − x − y ln z

(c) As componentes da força são

ax ay az
Fx = , Fy = 2 , Fz = 2
x +y +z
2 2 2
x +y +z
2 2
x + y2 + z2

130 CEDERJ
MÓDULO 1
ax ay az
Fx = , Fy = 2 , Fz = 2

5
x +y +z
2 2 2
x +y +z
2 2
x + y2 + z2

AULA
Assim,
∂Fz ∂Fy ax2y ay2 x
− =− − =0
∂y ∂z ( x + y + z ) ( x + y2 + z2 )
2 2
2 2 2 2

∂Fx ∂Fz ∂Fy ∂Fx


e por simetria, − = 0, − = 0 e a força é conservativa.
∂z ∂x ∂x ∂ y
r
Aqui poderíamos ter observado que F = arˆ / r é uma força central
que, como mostramos no texto, é conservativa. A energia potencial,
é dada por
r r a
V (r ) = − ∫ dr = − a ln r
1 r

5.2. Uma esfera pode ser vista como um número muito grande
de camadas concêntricas, desde r = 0 até r = R. Imagine que você vá
juntando massa, camada por camada, para formar a esfera. A variação
na energia potencial quando uma camada de raio r espessura dr é trazida
desde o infinito (onde tomamos o zero da energia potencial) e colocada
na sua posição na esfera é
GM (r) dM (5.59)
dV = −
r

onde dM = ρ (4π r 2 dr) e M(r) é a massa integrada de todas as camadas


precedentes
4π 3 (5.60)
M(r) = ρ r
3

(a auto-energia da camada pode ser ignorada no limite dr → 0 ).


Portanto,
4π 3
G (ρ r ) ρ (4π r 2 dr)
dV = − 3
r (5.61)
e
G (4πρ )2 R G(4πρ )2 5
V =−
3 ∫0
r 4 dr = −
15
R (5.62)

Agora,
M 3M
ρ= = (5.63)
(4 / 3)π R3 4π R3

CEDERJ 131
Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

e assim, 3M 2
G (4π ) 2
V =− 4π R3 R5 = − 3GM (5.64)
15 5R

O fato de a auto-energia gravitacional ser negativa indica que o sistema


é gravitacionalmente ligado. A constante G, porém, é muito pequena
(G = 6, 67 × 10−11 N ⋅ m2 / kg 2 ) e esta energia de ligação, para obje-
tos do dia-a-dia, é desprezível quando comparada às ligações químicas,
de origem elétrica.

5.3. Para uma distribuição esfericamente simétrica de massa,


a lei de Gauss diz que
4π r 2 g(r) = − 4π GM(r) (5.65)
ou
GM(r)
g(r) = − (5.66)
r2

onde M(r) é a massa total contida até o raio r:

r
M(r) = ∫ ρ (r ′)4π r ′2 dr ′
0 (5.67)
Para que g(r) seja constante,

GM (r)
= g0 = constante
r2 (5.68)
Então,
r
g0 r 2 = G∫ ρ (r ′)4π r ′2 dr ′ (5.69)
0

Diferenciando ambos os lados desta equação com relação a r,

2 g0 r = 4π Gρ (r) r 2
(5.70)
e resolvendo para ρ(r), encontramos

 g 1
ρ (r) =  0  (5.71)
 2π G  r

Logo, ρ(r) é inversamente proporcional a r.

5.4. (a) Vimos que o vetor campo obedece à lei de Gauss


r r
∇ ⋅ g = −4π Gρ
(5.72)

132 CEDERJ
MÓDULO 1
r r
Inserindo g = − ∇ϕ no lado esquerdo desta equação, obtemos

5
r r

AULA
∇ ⋅ g = −∇ ⋅ ∇ϕ = −∇ 2ϕ (5.73)
e a Equação (5.72) torna-se

∇ 2ϕ = 4π Gρ (5.74)

Quando o lado direito da Equação (5.74) é igual a zero, o


resultado, ∇ 2ϕ = 0 , é a famosa equação de Laplace.
(b) Referindo-se à Figura 5.11, o potencial no ponto P devido ao
elemento de massa dm é, por definição,

Gdm
dϕ = − r r (5.75)
r − r′

r r
Agora, o elemento de massa na posição r ′ é dm = ρ (r ′)dV ′ e, assim,
integrando sobre toda a distribuição, temos o resultado procurado
r
r Gρ (r ′)
ϕ (r ) = − ∫ r r dV ′ (5.76)
r − r′

Figura 5.11

5.5. Solução: se este é um potencial gravitacional, ele deve


satisfazer a equação de Poisson. O laplaciano em coordenadas polares
esféricas é

1 ∂ 2 ∂  1 ∂  ∂  1 ∂2
∇2 =  r  +  sen θ  + (5.77)
r 2 ∂r  ∂r  r 2 senθ ∂θ  ∂θ  r 2 sen2θ ∂φ 2

CEDERJ 133
Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

Como o potencial depende somente de r, temos que

−5 / 2
1 ∂  2 ∂ϕ  2 ∂ϕ ∂ 2ϕ 3GM  r2 
∇ϕ= 2
2
 r  = + =  1 +  (5.78)
r ∂ r  ∂r  r ∂ r ∂ r 2 a3  a2 

Substituindo na equação de Poisson, ∇ 2ϕ = 4π Gρ , obtemos para a den-


sidade de massa −5 / 2
 3GM   r2 
ρ (r) =  3 
1+ 2  (5.79)
 4π a   a 

Esta é distribuição de densidade de Plummer e é usada como um


modelo analítico (toy model) para aglomerados globulares ou galáxias.
O perfil da densidade está no gráfico da Figura 5.12.

Figura 5.12

A constante a é chamada raio de Plummer. A descrição de galáxias elípticas


pelo modelo de Plummer é muito pobre porque as observações dessas
galáxias mostram uma divergência da densidade próxima ao centro.

5.6. Seja d a distância entre o centro da rocha e o centro


do planeta e seja r o raio da rocha (que não é dado, mas sabemos
que r << d)

Figura 5.13

134 CEDERJ
MÓDULO 1
A diferença entre a força exercida pelo planeta sobre uma partícula

5
de massa m no centro da rocha e uma partícula de mesma massa na

AULA
superfície da rocha é

FFmaré = − GMm + GMm


(d + r ) (5.80)
marØ 2 2
d

GMm    GMm 
−2
r 2r  2GMmr
= 2 1 −  1 +  ; 2 1−1+  =
d   d  d  d d3

F maré é a chamada força de maré longitudinal. Já a força exercida pela


rocha sobre a partícula de massa m em sua superfície é

GMr m
FR = (5.81)
r2

Fazendo F maré = FR , obtemos para d:

2M 3
d3 = r (5.82)
Mr

Para uma esfera uniforme de massa M e densidade ρp e raio R,

4
M= π R3 ρP (5.83)
3

Similarmente,
4 3
Mr = π r ρr (5.84)
3

Logo, 4
2 π R3 ρP

d = 3
3
r 3 = R3 P (5.85)
4 3 ρr
π r ρr
3
ou
1/ 3
 2ρ  (5.86)
d = R P 
 ρr 

5.7. Solução: cada partícula move-se em uma órbita circular.


A gravidade é responsável pela aceleração centrípeta:

r v2
g (r) = − r^ (5.87)
r

CEDERJ 135
Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

Por outro lado, usando a lei de Gauss com uma superfície gaussiana
esférica de raio r, concluímos que

r GM (r) ^
g(r) = − r (5.88)
r2

onde M(r) é a massa total das estrelas no interior da superfície gaussiana.


Igualando as duas expressões, obtemos

r
v 2 r = GM(r) = G∫ ρ (r ′)4π r ′2 dr ′ (5.89)
0

Lembrando que v é constante, diferenciando os dois lados em relação


a r, achamos

v 2 = Gρ (r) 4π r 2 (5.90)
ou,
v2 1
ρ (r) = (5.91)
4π G r 2

A densidade cai como l / r2

5.8. (a) Veja a dedução no Problema (5.7), Equação (5.89).


(b) A razão entre as massas é
2
Mdark  vobs  2
 120 
=  =   =9 (5.92)
Mo  v prev  40 
 

ou seja, 90% da massa é de matéria escura. Da expressão do item (a),

rv 2 10 × 3, 08 × 1016 m × 16 × 108 m2 / s2
M(r) = = = 3, 7 × 106 Me (5.93)
G 6, 67 × 10−11 m3 / s2 ⋅ kg

5.9. Por simetria, sabemos que a massa colocada no centro do


anel está em equilíbrio porque ela está rodeada uniformemente de massa.
Para saber se o equilíbrio é estável, precisamos deslocá-la da posição
de equilíbrio. Vamos colocar a massa m em um ponto a uma distância
r' do centro e escolher o eixo x como sendo ao longo desta direção
(ver Figura 5.14).

136 CEDERJ
MÓDULO 1
5
AULA
Figura 5.14

A energia potencial é dada por

dM Gm ρ a
dV = − Gm =− dφ (5.94)
b b

onde ρ = M / 2π a e dM = ρ adφ . A distância b entre dM e m é


1/ 2
r r   r ′  2 2r ′ 
b = r − r ′ = (a2 + r ′2 − 2ar ′ cos φ )1 / 2 = a 1 +   − cos φ  (5.95)
  a  a 

Para calcular a energia potencial, precisamos do valor de 1/b


quando r' << a. Usando a expansão

n ( n + 1) ξ 2
(1 + ξ )
−n
= 1 − nξ + + ... (5.96)
2

podemos escrever

−1 / 2
a   r ′  2r ′ 
2

= 1 +   − cos φ 
b   a  a 
2
1   r ′  2r ′  3   r ′  2 2r ′ 
2

= 1 −   − cos φ  +   − cos φ  + ...


2  a  a  8  a  a  (5.97)

Substituindo na Equação (5.94) e integrando, obtemos

 r′
2π  1  r′ 
2

V (r ′) = −Gm ρ ∫ 1 + cos φ +   (3 cos2 φ − 1) + ... dφ (5.98)
0
 a 2 a  
 1  r ′ 2 
= −2π Gm ρ 1 +   + ...
 4  a  

CEDERJ 137
Mecânica | Energia potencial em 3-D: o potencial gravitacional

ou,
−GmM  1  r ′  
2

V (r ′) =  1 +   + ... (5.99)
a  4  a  

A posição de equilíbrio é dada por

dV −GmM 1 r ′
=0= + ... (5.100)
dr ′ a 2 a2

e portanto r' = 0 é uma posição de equilíbrio. Calculando a derivada


segunda de V,

d 2V −GmM (5.101)
= + ... < 0
dr ′2 2a3

e o ponto de equilíbrio é instável.

5.10. A massa total da camada é

4
M= πρ ( a3 − b3 ) (5.102)
3

Vamos aproveitar a simetria esférica do problema para usar a lei


de Gauss para determinar o campo gravitacional.

Figura 5.15

138 CEDERJ
MÓDULO 1
Tomando uma superfície gaussiana esférica de raio r > a e com o centro

5
no centro da casca, temos

AULA
r GM
4π r 2 g = −4π GM ⇒ g = − 2 rˆ (5.103)
r

Em seguida, traçamos uma superfície gaussiana com raio b < r < a.


Neste caso,

4 r 4πρG  b3 
4π r 2 g = − 4π G πρ ( r 3 − b3 ) ⇒ g = −  r −  rˆ (5.104)
3 3  r2 

Finalmente, a lei de Gauss aplicada a uma superfície gaussiana de raio


r < b dá:
r (5.105)
4π r 2 g = 0 ⇒ g = 0

Agora vamos calcular o potencial ϕ(r), fazendo ϕ (∞) = 0. Temos


que, para r > a,

r r dr ′ GM
ϕ (r) = − ∫ g(r ′) dr ′ = GM ∫ ⇒ ϕ (r) = − (5.106)
∞ ∞ r ′2 r

Para b < r < a,


4πρ G r  b3 
3 ∫a 
ϕ (r) − ϕ (a) =  r ′ −  dr ′
r ′2  (5.107)
4πρ G  1 2 b b  3 3
=  (r − a ) +
2
− 
3 2 r a

(
Então, sabendo que ϕ (a) = − GM / a = − (4π Gρ / 3a) a3 − b3 , chegamos )
ao seguinte resultado:

 a 2 b3 r 2 
ϕ (r) = −4πρG  − − 
 2 3r 6  (5.108)

Finalmente, para r < b como o campo é igual a zero, ϕ (r) − ϕ (b) = 0


e assim,
ϕ (r) = −2πρG ( a2 − b2 ) (5.109)

CEDERJ 139

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