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O que faz a garota mágica?

Uma análise semiolinguística de Sakura Kinomoto e Madoka


Kaname.
Beatriz B.C. MAIA1

1. Introdução
O mercado japonês de mangás possui uma vasta segmentação demográfica que
atende critérios não apenas etários, mas também de identidade de gênero. As histórias que
circulam dentro desses domínios discursivos que se organizam em torno do critério
demográfico são variadas e constituem diferentes gêneros que compõem uma constelação de
gêneros textuais. Um dos gêneros que circulam desde a década de 60 na demografia shoujo,
voltada ao público jovem feminino, é o Mahou shoujo, também referido como magical girl e
garota mágica.

Segundo Russel (2017), tratam-se de narrativas aventurescas que, ao


apresentarem garotas desajeitadas, brincalhonas e com baixo rendimento acadêmico, entram
em choque com a figura ideal feminina que se consolidou como um legado das políticas
educacionais e da literatura escrita por homens nos períodos Meiji e Taishou. As narrativas
desse gênero tendem a apresentar uma temática de aparente empoderamento a partir do
crescimento pessoal da protagonista que luta em defesa de algo como a justiça ou o amor.

Contudo, a figura da garota mágica tem sido apropriada por outras demográficas
como é possível observar na existência de obras como Puella Magi Madoka Magica, um
mangá seinen, ou seja, voltado ao público masculino adulto, e Mahou Shoujo Site, um
mangá shounen, voltado ao público jovem masculino.

Com o objetivo de compreender como essa figura é proposta por sua demografia
de origem e como ela é reestruturada em outras demografias, propomos uma análise
comparativa dos imaginários sociodiscursivos2 propostos pelas obras Sakura Card Captors

1
Mestranda em Estudos de Linguagem. Orientador(a) Profª Drª Rosane Santos Mauro Monnerat. Grupo de
pesquisa em Semiolinguística - Leitura, Fruição e Ensino. beacarv1@gmail.com.

2
Termo definido por Charaudeau (2017) como uma construção coletiva de ideias que se engendra por meio da
sedimentação de discursos. São muitas vezes investidos de ethos, pathos e logos, se organizando em sistemas de
pensamentos, criando valores, se depositando na memória coletiva e justificando a ação social.
e Puella Magi Madoka Magica ao apresentarem suas protagonistas enquanto garotas
mágicas.

2. Objetivos/Hipóteses
A transposição da garota mágica de uma demografia para outra implica uma
mudança de gênero textual que acaba por impor variações tanto na construção de caráter
(ethos) das personagens, quanto na forma em que a narrativa propõe a manipulação das
emoções (pathos) do público. Apesar dessas variações, as personagens ainda guardam traços
comuns que permitem que as vejamos dentro de uma mesma categoria. Assim, temos o
objetivo de:

Investigar quais os pontos de contato e divergência entre os ethos das


protagonistas dos três mangás escolhidos, Sakura e Aya.

Avaliar como essas características se organizam a fim de formar o imaginário


sociodiscursivo que corresponde a idealização da garota mágica.

3. Referências Bibliográficas

CLAMP. SAKURA CARD CAPTOR. SP: JBC, 2012

LUYTEN, Sonia B. Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra, 2011.

RUSSEL, N.R. Make-Up!: The Mythic Narrative and Transformation as a Mechanism for
Personal and Spiritual Growth in Magical Girl (Mahō Shōjo) Anime. Thesis: (Master of Arts)
- University of Victoria. 2017.

CHARAUDEAU, P. Os estereótipos, muito bem. Os imaginários, ainda melhor. Trad. André


Luiz Silva e Rafael Magalhães Angrisano. Entrepalavras, Fortaleza, 2017, v. 7, p.571-591,
jan./jun.

HANOKAGE, Puella Magi Madoka Magica. Tradução não oficial, 2012. Disponível em </
https://mangalivre.net/manga/mahou-shoujo-madoka-magica/131 > Acesso em: 18 de
outrubro, 2022.

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