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As pessoas sensíveis - análise

● “As pessoas sensíveis não são capazes / De matar galinhas / Porém


são capazes / De comer galinhas” - aqui somos capazes de presenciar
alguém que não é capaz de matar a dita galinha mas isso não as impede
de depois comer a galinha uma vez que não foram elas que foram
responsáveis por aquele ato; ou seja há aqui uma incoerência e também
a presença de uma ironia; e também é precisamente a utilização do
advérbio conectivo “Porém” com valor adversativo que evidencia a
intenção crítica do sujeito poético em relação à hipocrisia das pessoas
ditas “sensíveis”.

● “O dinheiro cheira a pobre e cheira / À roupa do seu corpo / Aquela


roupa / Que depois da chuva secou sobre o corpo / Porque não
tinham outra / Porque cheira a pobre e cheira / A roupa / Que depois
do suor não foi lavada / Porque não tinham outra” - nesta segunda
estrofe somos capazes de presenciar uma série de anáforas e
conseguimos facilmente perceber a origem do dinheiro que vem das
classes mas pobres, isto é, quem proporciona a riqueza de outras
classes é o pobre que acaba por ser explorado, dái o dinheiro cheirar a
pobre. E o pobre aqui referido é aquele que tem uma única roupa que
seca depois da chuva e mesmo depois do suor de trabalhar todo o dia
não foi lavada, ou seja, miséria.

● “Ganharás o pão com o suor do teu rosto / Assim nos foi imposto / E
não: / Com o suor dos outros ganharás o pão” - no primeiro verso
desta estrofe é nos apresentada uma citação bíblica, sendo que também
somos um país predominantemente cristão. E essa mesma citação quer
dizer que nós vamos ganhar o pão, o dinheiro, com o nosso próprio suor,
e não como já referi anteriormente, com o suor de terceiros, dos pobres.
E isso mesmo verifica-se neste último verso.
● “Ó vendilhões do templo / Ó construtores / Das grandes estátuas
balofas e pesadas / Ó cheios de devoção e de proveito” - como alguns
de nós sabem, os vendilhões do templo foram expulsos por Jesus na
chegada a Jerusalém porque estavam a desrespeitar o lugar sagrado, e
portanto a autora mantém esta lógica da referência bíblica para acusar
esta gente que, com o suor dos outros ganha o pão. O sujeito chega
mesmo a referir que eles são construtores de grandes estátuas balofas e
pesadas, balofas porque são vazias, mas pesadas de todos os pecados
que já cometeram. Já no verso a seguir também nos indica que estão
cheios de devoção e de proveito, ou seja, alguém que se aproveita, que
tira partido e que não são coerentes com os valores que defendem.

● “Perdoai-lhes Senhor / Porque eles sabem o que fazem” - aqui


presenciamos o nível cristão elevado ao extremo ou ironia de forma
reforçada, sendo que a referência bíblica aqui seria “Perdoai-lhes Senhor
/ Porque eles não sabem o que fazem”. Isto é, eles merecem,
supostamente ainda mais perdão do que quem peca ingenuamente, pois
estes estão sim, conscientes dos seus atos.

As pessoas sensíveis - observações

● classificação quanto às sílabas e número de estrofes


- é um poema constituído por 5 estrofes e com uma métrica muito irregular: na
primeira estrofe com rima cruzada; a segunda estrofe não tem rima; na terceira
estrofe rima emparelhada; na quarta e quinta estrofe sem rima.

● classificação quanto aos versos


- deparamo-nos na primeira, terceira e quarta estrofes, com uma quadra; na
segunda estrofe com uma nona; e na quinta estrofe com um dístico

● livro a que pertence a obra


- o poema pertence à obra denominada “livro sexto”
● crítica referente ao longo do poema
- com este poema a autora apresenta, de forma geral, uma crítica àqueles que
não se querem comprometer, àqueles que apenas presenciam e não se querem
envolver na realidade e que são hipócritas.

Banda desenhada - relacionar

encontramos aqui, três indivíduos que assistem a alguèm que se está a


afogar, apercebem-se e testemunham o que está a acontecer, e chamam a
atenção dos outros, com a intenção de esses mesmos outros fazerem algo
para o que está a acontecer, mas não agem. Sendo que eles próprios não
fazem nada mas acabam por julgar quem nada fez, isto é, não têm a
mínima consciência da sua capacidade de agir em prol do outro, e ainda
criticam quem também é assim, aqueles que agem com hipocrisia, como
vimos no poema.

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