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JURlSPRUDENCIA DOS TRIBUNAIS

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA -liSTA TELEFÔNICA


- UTIliDADE PÚBliCA

- Imunidade tributária (art. 19, lII, d, da CF). ISS - Listas te-


lefônicas.
A edição de listas telefônicas (catálogos ou guias) é imune ao
ISS (art. 19, IlI, d, da CF), mesmo que nelas haja publicidade pa-
ga.
Se a norma constitucional visou facilitar a confecção, edição e
distribuição do livro, do jornal e dos periódicos, imunizando-os ao
tributo, assim como o próprio papel destinado a sua impressão, é
de se entender que não estão exclufdos da imunidade os periódicos
que cuidam apenas e tão-somente de informações genéricas ou es-
pedficas, sem caráter noticioso, discursivo, literário, poético ou
filosófico, mos de inegável utilidade pública, como é o caso das
listas telefônicas.
Recurso extraordinário conhecido, por unanimidade de votos,
pe/o. letra d do permissivo constitucional, e provido, por maioria,
para deferimento do mandado de segurança.

SUPREMO !RIBUNAL FEDERAL

Recurso Extraordinário n 2 101.441


Recorrente: Guias Telemnicos do Brasil Ltda.
Recorrida: PIefeitura Municipal de Porto Alegre
Relator: Sr. Ministro Sydney Sanches

ACÓRDÃO RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acor- o Sr. Ministro Sydney Sanches: I. O ilustre Juiz
dam os ministros do Supremo Tribunal Federal, em Luiz MeUbio Uiraçaba Machado, Vice-Presidente
sessio plenária, na conformidade da ata do julga- do Egrégio Tribunal de Alçada do Estado do Rio
mento e das notas taquigrAficas, por unanimidade de Grande do Sul, ao deferir o processamento do pre-
votos, em conhecer do recurso, e, por maioria de sente recurso extraordinário, assim fundamentou
votos, dar-lhe provimento. sua decisão às fls. 314-6,22 volume:
Brasília, 4 de novembro de 1987 -Rafael Mayer, "Guias Telef&icos do Brasil LUla. ajuizou
Presidente. Sydney Sanches, Relator. mandado de segurança contra a Fazenda Municipal

R.Dir.adm., Rio de Janeiro, 177:51-89 julJset.1989


de Porto Alegre, pretendendo o reconhecimento de Geral, Dr. Mauro Leite Soares, no primeiro parecer
imunidade à cobrança do ISSQN relativa à edição do Ministério Ptiblico Federal, opinou pelo conhe-
do catálogo telefônico." cimento e provimento do apelo, verbis:
A ordem foi denegada em primeiro grau, sendo "As imunidades constitucionais dos arts. 19, in-
a sentença confirmada, por maioria de votos, pela ciso IH, 21 ou 23, possuem características pr6prias
Primeira Câmara Cível. Consigna a ementa do ac6r- em cada caso: ora serão restritivas; ora se condicio-
dão: narão a determinados requisitos; ora não se sujeita-
"Imunidade tributária. rão a quaisquer condições ou restrições. Porem deve
Empresa particular que presta serviço ao ptiblico ficar claro que as restrições ou as ressalvas sempre
editando catálogo telefônico no qual se insere publi- são expressamente previstas na pr6pria Lei Maior,
cidade e antincios remunerados não se enquadra na como se pode verificar nas hipóteses arroladas nas
imunidade tributária do art. 19. 111, d, da Constitui- alíneas a e c do inciso IH do art. 19, ou no § 6 2 do
ção Federal, com a redação da Emenda Constitucio- art. 21.
nal n2 1/69. Presente o fato impon!vel, a hip6tese de Não é, entretanto, o caso dos autos. A alínea d
incidência tributária do ISSQN é manifestamente daquele artigo contempla uma imunidade ampla,
clara. irrestrita, sem se referir a espécies de livros, jornais
Negaram provimento, por maioria, à apelação ou peri6dicos, sem exigir que tenham este ou aquele
interposta contra a sentença denegatória do manda- contetido ou forma, veiculem ou não propaganda ou
do de segurança impetrado por Guias Telefônicos publicidade. A disposição é abrangente, sem discri-
do Brasil Ltda., vencido o eminente Dr. Antônio minações.
Augusto Fernandes" (fls. 192). O intérprete, assim, não poderá reduzi-Ia ou
Irresignada, a empresa impetrante recorre ex- criar condições e restrições, sob pena de violar o seu
traordinariamente, com amRMO nas letras a e d do texto, desobedecer ao mandamento constitucional.
permissivo constitucional. E alegada ofensa ao art. Sem sombra de dúvida que lista telefônica é pe-
19, IH, letra d, da Constituição Federal, e negativa riodico, editado com o fun de prestar informações
de vigência do art. 12, da Lei n 2 6.874/80. Entende a ao público e facilitar o uso do telefone.
recorrente que o guia telefônico é peri6dico, segun- A atividade da recorrente é, portanto, a edição
do a significação que dá a este vocábulo a linguagem de guias telefônicos e somente usa a composição
usual; "tem uma função social, titil e imprescindível gráfica como meio necessário a prestar informações
à sociedade moderna. Presta-se um serviço de or- aoptiblico.
dem ptiblica, permitindo a comunicação entre as
pessoas ( ••• )"; que não desfigura esse aspecto o fato E se faz inserir nos catálogos, propaganda para
de veicular propaganda, pois o guia telefônico não efeito de remuneração, esta circunstância não des-
tem fim exclusivo de propaganda comercial. Por- natura a sua atividade-fun.
tanto, descabe a cobrança do imposto sobre serviços. Aliás, veja-se a prop6sito da matéria o ac6rdão
O recurso foi impugnado. A Procuradoria-Geral prolatado, em sessão plenária, no RE n2 87.049-1,
da Justiça opinou pela admissibilidade do recurso publicado no Dl de 12 set. 78, e o proferido no RE
extraordinário. n 2 91.662-8 (Primeira Turma), publicado no Dl, 28
nov. 80, em que patenteada ficou a interpretação de
2. Pela letra a não merece prosperar o recurso. que a imunidade é ampla, irrestrita.
O dispositivo constitucional invocado visa à Por todo o exposto, presentes a ofensa à Consti-
proteção e difusão da cultura nacional. J:< ~ tuição Federal e o dissídio pretoriano, merece se co-
julgadora entendeu que o catálogo telefônico nao se nheça e se dê provimento ao apelo extremo" (fls.
enquadra na previsão constitucional, in verbis: 335/6).
"Induvidoso que os catálogos confeccionados 4. Estando em andamento, na ocasião, o julga-
pela apelante não servem a esse objetivo. Embora mento do RE n2 104.563-9, que versava a tese aqui
instrumentos utilíssimos às comunicações telefôni- debatida, determinei se aguardasse sua conclusão, o
cas, disso não passam, pois não promovem a divul- que foi feito, juntando-se às fls. 348-91 "xeroc6-
gação de idéias ou pensamentos. Com efeito, a~rtl pia" do aresto ali proferido, sento relator para o
do rol de assinantes, s6 contém textos de propagan- acórdão o eminente Ministro Oscar Corrêa, votando
da" (fl. 199). também vencedores os Exmos. Srs. Ministros Néri
"(••. ) não há como entender-se um catálogo te- da Silveira e Rafael Mayer, vencidos o ilustre Mi-
lefônico como um jornal, um livro, um peri6dico ao nistro Octavio Gallotti e o relator do presente re-
abrigo da hip6tese de incidência (•••)" (fl. 206). curso, e ficando o julgado com a seguinte ementa:
Nesse ponto, pois, a irresignação encontra óbice
na Stimula n2 400. "Listas telefônicas. Conceito de peri6dicos (art.
3. Entretanto, a divergência jurisprudencial está 19, 111, d da Constituição Federal).
comprovada, uma vez que a recorrente apresentou O fato de ser peri6dica a publicação, por si s6,
ac6rdão em sentido contrário (Apelação n2 275.857, não lhe confere o direito à imunidade. Teleologia da
do Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, norma.
julgada em 30 de dezembro de 1980).
4. Isso posto, admito o recurso pela letra d. Vista No caso das listas telefônicas, conceituadas pelo
às partes para razões. O preparo será efetuado no § 12 do art. 12, do Decreto n 2 88.221, de 7 de abril
prazo do art. 545 do C6digo de Processo Civil. de Í983, como "publicações técnicas ~6dicas",
Publique-se e intimem-se" (fls. 314-6) mas de periodicidade fixada pelo Mmist&io das
2. O recurso subiu preparado, contra-arrazoado Comunicações (art. 4 2, n, do mesmo decreto), não
e arrazoado (fls. 319,320 e 322/3). há como privilegiá-las com a imunidade constitu-
3. Nesta instância, a ilustre Procuradora da Re- cional. Jurisprudência da Corte.
ptiblica, Ora. Edylcéa Tavares Nogueira de Paula, Recurso extraordinário conhecido, mas impro-
em parecer aprovado pelo eminente Subprocurador- vido" (Dl, 5 set. 86, Ementário n2 1.431-3).

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5. Da juntada da cópia do acórdão foram cienti- eliminação da concorrência pelos meios alfandegá-
ficadas as partes (fls. 392-4), seguindo-se novo pro- rios."
nunciamento do Ministério Público Federal, agora No mesmo sentido a observação de Oáudio Pa-
representado pelo ilustre Procurador da República, checo: "A alínea c do inciso V, do art. 31, beneficia
Dr. Moacir Antonio Machado da Silva, ainda com com a imunidade aos impostos o papel destinado ex-
aprovação do eminente Subprocurador-Geral, Or. clusivamente à impressão de jornais, periódicos e li-
Mauro Leite Soares, com retificação do anterior- vros. Novamente sobressaem neste dispositivo o
mente emitido, verbis: apreço e o objetivo constitucional de eslÍmulo à
"Alega a recorrente, em síntese, que: a) a lista cultura, à informação e, por intermédio de ambos, à
telefônica é editada anualmente e entregue gratui- liberdade de pensamento" (TrauuJo das constitui-
tamente aos assinantes dos telefones, só sendo co- çóes brasileiras. 1965. v. 4, p. 324).
brado um preço remuneratório em caso de destaque Em edição mais recente, ajustada à Emenda n2 1,
de seus nomes e marcas na própria lista; b) trata-se de 1969, destaca mais amplamente Aliomar Bale-
de serviço de interesse público, sendo que a propa- eiro:
ganda inserida em seu texto tem por fmalidade di- "A imunidade do art. 19, III, d, da Emenda n2
minuir o custo da obra em relação ao grande námero 1/1969 traz endereço certo à proteção dos meios de
de assinantes; c) a Constituição não faz nenhuma comunicação de idéias, conhecimentos e informa-
restrição, considerando abrangidos pela imunidade ções, enfim de expressão do pensamento, como ob-
todos os tipos ou periódicos, seja qual for o teor das jetivo predpuo.
informações veiculadas; d) o vodbulo periódico Livros, jornais e periódicos são os verculós uni-
tem a significação que lhe dá a linguagem corrente, versais dessa propagação de idéias no interesse so-
de publicação reiterada de tempos em tempos; e) áal da melhoria do mvel intelectual, técnico, moral,
está hoje superada a orientação fIXada no RMS n!! poIrtico e .humano da comunidade. Não há regime
17.804 (RTJ, 47/240), visto que, em julgados poste- democrático, como o que a Constituição expressa-
riores, o Supremo Tribunal Federal tem entendido mente adota (arts. 12 e § 12, 151, I; 152, I, 153, §§
que a imunidade estabelecida na Constituição é am- 82 e 36; 154 etc.), se não houver livres debates e am-
pla, abrangendo as publicações periódicas, que plas informações sobre todos os interesses a respeito
transmitam informações de interesse da coletivida- dos negócios da coletividade."
de" (RE n 2 87.049. RTJ, 87/611; RE n2 86.026, Acrescenta Aliomar Baleeiro que o papel e o
RTJ, 841270; RE n 2 71.307 ,RTJ, 61/455). formato conveJlcional não bastam para caracterizar
o livro, o jornal e o periódico, se as publicações e
A questão central em lide está em defIDir o al- gravações não se destinam a esses fms específicos,
cance da expressão "periódicos" contida no art. 19, excluindo-se, portanto, da imunidade "os que ser-
n 2 m, alínea d, da Constituição Federal. vem apenas à propaganda comercial, ou profissional
Nessa controv&sia, pedimos vênia para alinhar que requesta clientela ou serve aos interesses priva-
entre os que dão à aludida expressão significado dos de empresas ou prestadores autônomos de servi-
compatrvel com a finalidade da regra constitucional. ços". Após considerar que a inserção de anúncios
Já no regime da Constituição de 1946, cujo art. 31, não ilide a imunidade dos livros, jornais e periódi-
V. letra c, vedava à União, aos estados, ao Distrito cos, que cumpram a fmalidade imanente à regra
Federal e aos municipios "lançar imposto sobre pa- constitucional, assinala o autor:
pel destinado exclusivamente à impressão de jor- "Mas não é livro, jornal ou periódico, para esse
nais, periódicos e livros", o eminente Ministro efeito jundico, o catálogo impresso de mercadorias,
Aliomar Baleeiro, em obra clássica, já delineava o os almanaques, boletins, estatutos, cartazes,posters,
exata alcance dessa imunidade, destacando a ratio avulsos etc., que as fumas industriais ou comerciais
juris do preceito constitucional (Limitoçóes constitu- distribuem quer entre seus subordinados, quer ao
cionais Q() poder de tributor. 2. ed. 1960. p.191): público.
"O inciso c do art. 31, V, protege objetivamente" O STF já decidiu que o corpulento guia ou indi-
a coisa apta ao fim, sem referir-se à pessoa ou enti- cador telefônico ainda que utiUssimo acervo de in-
dade. Veda imposto sobre 'papel destinado exclusi- formações (no Brasil já publicou a Constituição e
vamente à impressão de jornais, peri6djcos e livros'. dados históricos; nos EUA existem os das 2flIIldes
A Constituição alveja duplo objetivo, ao estatuir cidades nas bibliotecas públicas).Não é "livro para
essa imunidade: amparar e estimular a cultura atra- gozo da imunidade do papel em que o lmprimem'
vés dos livros, periódicos e jornais; garantir a liber- (AC. de 5.12.67, reI. D. Falcão,RTJ, 471240).
dade de manifestação do pensamento, o direito de Mas decidiu-se, por outro lado, que os editores e
aitica e a propaganda partidária. Em ambos os as- revistas técnicas (no caso, a Dirigentes, de São Pau-
pectos do objetivo se refletem os mesmos principios lo) estão imunes ao imposto municipal de serviços
dos arts. 133, 134, 141, 144, 166,174 e outros do por força do dispositivo constitucional (Agr. Instr.
Estatuto Supremo. n2 56.889-SP, de 24 de abril de 1973)."
Quando Jorge Amado defendeu essa franquia, na Ora, o catálogo telefônico não se destina a vei-
Constituinte de 1946, o interesse cultural ocupa o cular idéias de interesse cultural, de modo que não
centro de sua argumentação. O imposto encarece a pode ser considerado periódico, para os efeitos do
matéria-prima do livro, não apenas pela carga fis- art. 19, m, alínea d, da Constituição Federal.
cal, que se adiciona ao preço, mas também pelos Na vigência da Lei n2 351, de 1948, que isentava
seus efeitos extrafiscais, criando, em certos casos, a importação do papel destinado à impressão de li-
monopólios em favor do produtor protegido adua- vros, a egrégia Primeira Turma do Supremo Tribu-
neiramente. Se o papel importado for tributado com nal Federal, ao julgar o RMS n2 17.804-CB,relata-
intenção protecionista, sempre advogada pelos cír- do pelo Exmo. Sr. Ministro Djaci Falcão, decidiu
culos industriais interessados, o sucedâneo nacional que não estava abrangido na regra isencional o guia
terá seu preço elevado até o mvel que lhe permite a telefônico. Em seu voto, o eminente relator trans-

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creveu o pronunciamento do Exmo. Sr. Ministro mo publicações t6cnicas, mas essa qualificação não
Cunha Mello, segundo o qual o catálogo telefônico, tem evidentemente nenhum caráter vinculativo para
destinado à divulgação ou publicidade de interesse a definição do alcance da norma constitucional. Por
comercial, não se compreendia no alcaACe da lei, outro lado, tal classificação não significa que se te-
que teve como finalidade, evidenciada na discussão nha considerado o catálogo como publicação que
travada por ocasião de sua feitura, o favorecimento presta informações de contel1do técnico, como
dos livros* revistas e jornais de divulgação provei- acentuou o Exmo. Sr. Ministro Oscar Corrêa, nesta
tosa para o regime, para' a instituição e para a cultura passagem de seu voto:
nacional. "Não me parece tenha a invocação o alcance que
Nesse mesmo precedente, salientou o eminente se lhe emprestou: a classificação t6cnica significa
Ministro Oswaldo trigueiro: apenas que deve obedecer a certas condições especí-
"Está claro, assim, que a lei distingue dois tipos ficas, tecnicamente estabelecidas no contrato, obje-
de livros; os de leitura de qualquer natureza, lança- tivando a padronização desse tipo de publicações.
dos ou não no comércio do ramo, e os volumes des-
tinados a mera divulgação ou publicidade de inte-
( ...)
Basta a leitura desse item para verificar o alcance
resse comercial. Nesta 111tima classe parecem-me in- da expressão publicação t6cnica periódica do § I!! do
clutdos os catálogos em geral, editados por casas de art. I!!; é técnica, porque obedece a certas conve-
comércio. Tenho como fora de dl1vida que um ca- niências de realização ( •••)"
tálogo telefônico ê publicação que se destina, tipi- Está demonstrada a divergência, porem, com
camente, à divulgação de interesse comercial das o julgado do Primeiro Tribunal de Alçada Civil, que
empresas concessionárias de serviço telefônico:' efetivamente considerou abrangida na imunidade
A e2l'égia Segunda Turma, aliás, ao julgar oRE constitucional a publicação de listas telefônicas (fls.
n!! 87.633, relatado pelo eminente Ministro Djaci 298-300).
Falc40, decidiu que os catálogos telefÔnicos não Em face do exposto, o parecer é no sentido de
constituem periódicos para os efeitos da imunidade que se conheça do recurso para negar-lhe provi-
constitucional, pois não se destinam a veicular pen- mento" (fls. 396-402).
samentos e idéias (RTJ, 89n78). 6. Depois disso, pedi dia para julgamento mas a
No presente julgamento do RE n!! 104.563-SP, egrégia Primeira Turma, por sugestão de seu ilustre
em que se debatia a mesma questão jurídica, a egré- e atual Presidente, Ministro Moreira Alves, que não
gia Primeira Turma decidiu que os catálogos de te- havia participado do acórdão anterior, houve por
lefones não se compreendem no conceito de "peri6- bem remeter os autos ao egrégio Plenário (arts. 11,
dicos", a que se refere o art. 19, llI, d, da Constitui- parágrafo linico e 22, parágrafo linico, do Regi-
ção Federal, não sendo imunes, portanto, ao im- mento Interno do Supremo Tribunal Federal).
posto sobre serviços. E o relatório.
Em seu voto, o eminente Ministro Oscar Corrêa
deu relevo ao sentido teleológico da norma constitu- VOTO
cional, com apoio em Aliomar Baleeiro e nos prece-
dentes do Supremo Tribunal Federal. Recusando a O Sr. Ministro Sydney Sanches (Relator):
periodicidade da publicação, referida no art. I!! da 1. O dissídio, entre <> v. acórdão récórrido (fls.
Lei n!! 6.874, de 1980, e no Decreto n!! 88.221, de 192-205, I!! volume) e o proferido pelo egrégio I!!
1983, como requisito suficiente para reconheci- Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, na Apelação
mento da imunidade, acentuou S. Exa.: n!! 275.857-SP (fls. 298-300), está perfeitamente
"Não me preocupa, dilta "enia, o texto desses demonstrado pela recorrente a partir de fl. 248, item
diplomas, que não importam definição do texto 4.3, a fl. 251, com observiDcia do disposto no
constitucional, mas procuram, isso sim, apenas esta- art. 322 do RI e da Slimula nl! 291 do STF. -
belecer as condições a que devem obedecer essas Ambos os julgados decidiram a respeito da inci-
publicações e s6 a elas se referem. dência, ou não, do ISS, na edição de listas telefÔni-
Com efeito, a Lei n!! 6.874180 apenas estabele- cas. O recorrido entendeu que sim. O paradigma que
ceu que 'a empresa exploradora de serviços p11blicos não. Em circunstâricias idênticas ou assemelhadas.
de telecomunicação é obrigada a divulgar, periodi- 2. Sendo assim, nem é necessário verificar se há
camente, a relação de assinaturas, nas condições de- dissídio também entre o aresto impugnado e outro
finidasem regulamento' (art. I!!). paradigma do STF (RTJ, 841270).
Nada mais. Nem se diga que as informações que . 3. Eníun, pela letra d, o RE, no caso, é de ser
veiculam são importantes e periódicas. Não há ne- conhecido.
gar. Mas, a prevalecer este argumento, imunes - e E conhecido, a causa há de ser julgada como de
pela mesma razão - estariam os catálogos e almana- direito (art. 324 do RI e Sámula n!! 456).
ques anuais e as agendas, de toda ordem, que apre- 4. Como constou do relatório, quando do julga-
sentam, informações da maior importância e são mento do RE n!! 104.563-9-SP, pela egrégia Tur-
peri6dicas. " ma, a 8 de abril de 1986, prevaleceu, por maioria de
Não está, por igual, caracterizada a divergência votos, o entendimento defendido pelo ilustre Mi-
com o RE n!! 86.026 (RTJ, 84n70). Esse precedente nistro Oscar Corrêa (relator para o acórdão), com
referiu-se a revista técnica de divulgação especiali- aprovação dos eminentes Min1stros N&i da Silveira
zada em assuntos bancários e econômicos, que não é e Rafael Mayer, vencidos o douto Ministro Octavio
o caso do catálogo telefônico. Revista técnica, pri- Gallotti (relator sorteado) e o ora relator.
vilegiada pela imunidade constitucional, só pode Quando da remessa dos presentes autos ao jul-
considerar-se a que preste informações de natureza .gamento da turma, estava meu voto propenso a se-
1écnica, o que não é o caso do catál0Alo de telefones. guir a orientação da douta maioria, como é da tradi-
~ certo que o § I!! do art. 1- do Decreto n!! ção da Casa, em face de precedentes. Mas como o
88.221, de 1983, conceitua as listas telefÔnicas co- insigne Ministro Rafael Mayer já não se encontra na

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presidâlcia da tunDa, e, sim, na do Tribunal, e o viço público de telefonia, em que o interesse pre-
douto Ministro Moreira Alves, que a preside atual- ponderante seja a consulta do telefone".
mente, ainda não votara sobre o tema, a remessa dos Trata-se, como se vê, de publicação pericSdica,
autos ao egrégio Plenário pennite e até recomenda não 86. de fato, como em função do regime jurfdico
que mantenha meu entendimento anit:rior, até que que disciplina a sua edição, não havendo como re-
1Ddos os nobres integrantes da Corte manifestem cusar-lhe enquadramento na imunidade tributma
o seu. inséulpida na Constituição (art. 19, m, d).
5. O ilustre Ministro Octavio Gallotti, ao profe- A tal imunidade, o "plenário desta Corte, apre-
rir, como relator sorteado, seu voto no RE n!! ciando o Recurso Extrai)rdinirio n!! 87.049, deu
104.563-9-SP, assim o fundamentou (fls. 352-5 - amplo atendimento, afastando exegese restritiva
2!! volume, dos presentes autos): . que implique a incidf:ucia de impostos sobre a ativi-
"O Sr. Ministro Octavio GaIJotti (Relator): dade tutelada pela Lei Maior.
A questão presente ao tnbunal diz respeito Afi- Deixou-se, então, igualmente assentado, que a
xação dos limites da imunidade tributária imcrita no circunstância de os impressos arrolados no disposi-
art. 19, m, d, da Constituição e mereceu, da parte tivo constitucional serem também vetculos de ando-
do ac6rdão recorrido, solução oposta Aadotada por cios e propaganda não lhes retira a imunidade, que
tribunais de outras unidades da Federação (Santa tem, como objetivo, a redução dos custos de produ-
Catarina. GoiAs e Distrito Federal), como se vê dos ção e comen:ia1izaçio. Salientou, na oportunidade,
arestos acostados, na Integra, às fls. 1.417-36, cujas o eminente Ministro Moreira Alves, em voto vence-
ementas reproduzo: dor:
"Mandado de Segurança - Recurso - Duplo "Ora, é notdrio que os jornais somente podem
grau de jurisdição - Livros e peri6dicos - ISS - ser vendidos pelos preços por que o são em virtude
Imunidade tributária - Aplicação do art. 19, m,le- de terem a sua manUlenÇio derivada, precipuamen-
tra d, da Constituição Federal (Emenda Constitucio- te, da propaganda estampada em suas folhas.
nal n!! 1/69). Não fora isso, e mister" seria o encarecimento
A imunidade estabelecida na Constituição Fe- sensivel de seu preço de venda.
deral é ampla. Abrange os serviços prestados pela Da( a razão por que a propaganda diwlgada pe-
empresa editora de listas telefônicas na transmissio los jornais e isso a par da circunstincia de que não
de andocios e propagandas" (ACMS n!! 1.990, deixa ela de ser uma informação aos leitores se tor-
TJCS, Rei. Des. Joio Martins). nou atividade indispens4vel a eles. Passou a ser ser-
"ISS - Listas telef6nicas - Imunidade em face viço que lhes é Insito, ao lado da comunicaçio das
do que edita o art. 19, m, letra d, da Constituição noticias e da diwlgação de comentários, cóticas e
Federal. As listas telefônicas são publicações que trabalhos culturais de toda ordem" (KTJ, 87/611).
aparecem a intervalos iguais, para a diwlgação de A linha de raciocínio, entio desenvoMda, é
informações indispensáveis ao público em geral e, perfeitamente adequada ao caso em exame, ao con-
como tal, não podem deixar de ser consideradas co- siderar-se que a lista telefônica, como periddko ne-
mo peri6dicos, no exato sentido em que este vocá- cess4rio Autilização do serviço pdblico de telefonia,
bulo é empregado no artigo suso mencionado. De- não tem a sua natureza alterada pela inserção de
cisão monocrática confirmada" (TJGO, OOJ n!! andncios que possibilitam a participação da iniciati-
393, Rei. Des. Homero Sabino de Freitas). va privada na consecução de uma atividade cujo in-
teresse para os usuários e o pdblico em geral se
"Mandado de Segurança preventivo para asse-
gurar direito a isenção fiscal ameaçada por ato noti- apresenta evidente.
. Se a lista telefÔnica integra a categoria dos pe-
ficatdrio administrativo. ri6dicos, pela regularidade de sua edição e se, pela
A edição de guias telefÔnicos, em convênio com definição da legislação ordiniria, visa, primordial-
a Telebrasnia, constitui publicação peri6dica, nos mente, A diwlgação de informações indispensáveis,
termos da norma constitucional de isenção tributária não há que se cogitar da sua exclusAo do alcance da
(art. 19, m, d), que não faz distinçio, com o empre- regra constitucional.
go da expressão em seu texto, quanto Afreqüência, A Cumpre distinguir a ímalidade protegida (diwl-
forma ou à sua finalidade. gação de informações sobre assinantes), do meio
Os contratos para inserção de matéria publicilá- acess6rio utilizado para persegui-la (veiculação de
ria nos catMogos não se consideram prestação de publicidade), que de nenhum modo desnatura a
serviço, fato gerador do ISS, e sim atividade de imunidade assegurada pela· Constituição, seja o
custeio que se destina A distribuição gratuita aos andocio inserido em livro, seja jornal ou outro pe-
usuários do serviço telefllnico" (TJDF, REO n!! 330, riódico.
Rei. Des. Manoel Coelho). Conheço do recurso pela letra d e dou-lhe pr0-
Em face da patente divergência jurisprudencial, vimento, para cassar a segurança" (fls. 352-5).
o conhecimento do recurso, pela aHnea d do per- 5. Havendo pedido vista dos autos (do RE n!!
missivo constitucional é o acesso natural da contro- 104.563-9-SP) proferi meu voto com a seguinte
vérsia à sede do Supremo Tribunal. fundamentação (fls. 357-64 dos presentes autos):
A empresa que explora serviços pdblicos de Te- Estatui o art. 19, inciso I1I, letra d, da Constitui-
lecomunicações é obrigada, segundo a Lei n!! 6.874, ção Federal: é vedado 1 UniIo, aos estados, ao Dis-
de 13 de dezembro de 80, art. I!! "a diwlgar perio- trito Federal e aos municfpios instituir impostos so-
dicamente a relação de assinantes, nas condições bre o livro, o jornal e os peri<Sdicos, assim como o
definidas em regulamento" • papel destinado Asua impressão.
Ao regulamentar o citado diploma legal, o De- A Lei n!! 6.874, de 3 de dezembro de 1980, atri-
creto n!! 88.221/83, conceituou as listas em causa bui A empresa exploradora de serviços p4blicos de
"como publicações técnicas peri6dicas, destinadas A telecomunicações a edição de listas telefÔnicas, di-
diwlgação de informações sobre assinantes do ser- zendo no art. 12:

55
"A empresa exploradora de serviços ptiblicos de estabelecido para os fins da disciplina da liberdade
telecomunicações é obrigada a divulgar, periodica- de manifestação do pensamento e de informações.
mente, a relação de assinaturas. nas condições defi- O que conta no que diz respeito l questão ora
nidas em regulamento" (fi. 1391). examinada, é que, na prescrição legal ar menciona-
A letra c, do § 2l!, do art. I ~ diz que a lista por da, se inclui o periódico no gênero a que pertence os
ordem de endereços dos assinantes deve ser publica- jornais e revistas, uma vez que outra coisa não quer
da bienalmente. dizer o art. 3l!, § 4l!, quando se refere a empresas que
E o art. 2l! determina que tal empresa contrate editarem jomais, revistas ou outros periódicos.
com terceiros a edição ou divulgação (fi. 1391). No caso relatado pelo Ministro Leitão de Abreu,
A autora. ora recorrente, é um desses tercerros, se procurava saber se uma revista técnica pode ser
que contrata com empresas exploradoras de serviços incluída entre os periódicos a que alude a letra d do
pdblicos de telecomunicações a edição e divulgação inciso III do art. 19 da Constituição Federal e se en-
de listas telefônicas (contratos l fi.). tendeu que sim, por unanimidade (RTJ, 72/189).
O Decreto nl! 88.221, de 7 de abril de 1983, re- O entendimento foi reiterado no julgamento do
gulamenta a Lei nl! 6.874180. RE nl! 86.026-SP, relator o Exmo. Sr. Ministro
E no § Il! esclarece: Djaci Falcão, para revistas técnicas ou cientfficas
"As 1istas telefônicas, sob qualquer forma ou (RTJ, 81/270), com invocação não scS daquele prece-
denominação, se conceituam como publicações téc- dente (RE nl! 77.867-SP -RTJ, 721189), mas tam-
nicas peri6dicas, destinadas l divulgação de infor- bém de outro, relatado pelo saudoso Ministro Alio-
mações sobre assinantes do serviço póblico de tele- mar Baleeiro (Ag. nl! 56.889).
fonia, em que o interesse preponderante seja a con- Aqui, no caso dos autos, nem é preciso perquirir
suta do n4mero de telefone" (fi. 1392). na hermenêutica se a lista telefônica pode ser consi-
As listas trazidas com a impetração do mandado derada uma "revista técnica" •
de segurança guardam essa finalidade e, por conse- O próprio Decreto nl! 88.221, de 7 de abril de
guinte, devem ser consideradas "publicações técni- 1983, no art. Il!, § Il!, a conceitua como publicação
cas periódicas" • técnica periódica.
A conceituação, expressa no decreto, que regu- 4. O v. acórdão recorrido, para manter a denega-
lamenta a lei, não destoa do tratamento constitucio- ção da segurança, no caso dos autos, fez as conside-
nal de imunidade tributária conferida a livros, jor- rações seguintes:
nais e periódicos, assim como ao papel destinado "O Pret6rio Excelso, no Recurso de Mandado de
a sua impressão. Segurança nl! 17.804-GB, pela sua Primeira Turma,
Aliás, o significado comum de periódico, se- já decidiu que 'o guia telefônico, por conter além
gundo Laudelino Freire, é o de publicações que dos endereços dos assinantes, publicidade comer-
aparecem a intervalos iguais. cial, não goza da isenção preVISta na Lei nl! 351, de
Isso foi lembrado no voto do eminente Ministro 1948'. E bem verdade que se trata de acórdão anti-
Leitão de Abreu, como relator do RE nl! 77.867-SP go, que decidiu questão sob a égide da Carta Magna
(RTJ, 73/189), quando assinalou l página 193: de 1946, mas as definições dltdas por ele, atraves-
"A regra hennenêutica, para determinar, na es- sando os tempos, ajustaram-se aos dispositivos da
pécie, a acepção do vocábulo periódico, no texto nova Constituição. E o que se verifica no voto do
constitucional, é a regra comum: cumpre perquirir eminente Ministro Oswaldo Trigueiro: 'Está claro,
se o legislador constituinte usou esse termo no seu assim, que a lei distingue dois tipos de livros: os de
significado usual, comum, ou se quis atribuir-lhe leitura de qualquer natureza, lançados ou não no
sentido peculiar que a ciência ou a técnica lhe em- comércio do ramo, e os volumes destinados a mera
presta. Parece evidente que o sentido desse vocábu- divulgação ou publicidade de interesse comercial'.
lo, no caso vertente, deve ser pedido ao uso comum, Nesta última classe parecem-me inclurdos os catálo-
ao significado usual que a lfngua corrente lhe con- gos em geral, editados por casas de comércio. Tenho
fere. como fora de dl1vida que um catálogo telefônico é
Ora, no seu significado comum, ligado l idéia de públicação que se destina, tipicamente,l divulgação
publicação, periódico é termo que indica "publica- de interesse comercial das empresas concessionárias
ção que aparece a intervalos iguais (Laudelino de serviço telefônico" Revista Trimestral de Juris-
Freire. Dicion4rio dLlllngua portuguesa, vb. periódi- prudência, 471240).
co). Caldas Aulete, Dicion4rio contempordneo dLl Daí porque, ao contrário do que sustentou a im-
IIngua portuguesa - quanto l mesma palavra, regis- petrante, não apresenta o menor interesse para o
tra este sentido:' jornal, revista, almanaque etc., que desfecho da questão o fato de prestar ela um serviço
que se publica em dias fixos e determinados. Assi- ptiblico obrigat6rio de orientação aos usuários de
nala, por sua vez, Aurélio Buarque de Holanda, no telefones e ao pl1blico em geral, gratuitamente, nos
Pequeno dicion4rio brasileiro de /Ingua portuguesa, casos enumerados na Lei nl! 6.874, de 3 de dezem-
acerca, também, do termo periódico: "designativo bro de 1980. Este serviço, contudo, não é prestado
da obra ou publicação que aparece em tempos de- sem nenhuma retribuição, como evidenciam os
terminados; jornal com dias fixos para a sua publi- contratos anexados l inicial, pois além da publicida-
cação" . de cobrada dos assinantes, os catálogos telefônicos
"Esse mesmo sentido" - prossegue o Ministro também se destinam a incentivar o uso do telefone,
Leitão de Abreu - "é consignado na Lei nl! 5.250, 9 aumentando a receita da empresa que o explora.
de fevereiro de 1967, que regula a liberdade de ma- Assim, não resta dl1vida de que eles constituem
nifestação do pensamento e de informações." "São volumes impressos para a divulgação e publicidade
empresas jornalísticas, para os fins da presente lei" de interesse exclusivamente comercial, sem qual-
- preceitua o art. 3l!, § 4l!, desse ato legislativo "a- quer contel1do ideológico ou cultural que os tomem
queles que editarem jornais, revistas ou outros pe- equiparáveis aos livros, definidos como obras de
riódicos". Não importa que a definição se haja aí contel1do literário, artfstico ou cientffico, ou então

56
com jomais, revistas ou pericSdicos de idêntico con- Leitão de Abreu, vencidos os ministros Xavier de
teMo. Albuquerque e Soares Muiíoz.
Em suma, não é porque o cadIogo ou lista tele- Na oportunidade, o Ministro Cunha Peixoto
fônica seja fisicamente parecido com o livro ou re- ponderou:
vista, ou então porque seja publicado periodica- "Nenhum jornal pode viver sem andncio. Então,
mente, que se lhe pode estender a citada imunidade, se tributarmos os andDcios, tornaremos letra morta o
pois isso constituiria uma interpretação literal do dispositivo constitucional" (ft.TJ, 87/610).
referido dispositivo constitucional, totalmente 8. A situação não é diversa com relação la listas
inadmi&<d'vel. telefônicas pericSdicas, que scS se tomam viáveis com
Incensurável, portanto, o decreto de denegação a publicidade paga pelos assinantes.
da segurança" (fls. 1379-81). 9. De resto, o propcSsito da norma constitucional
5. Não procedem, porem, daUl ve1lÚl, os argu- é inquestionavelmente o de baratear a impressio e
mentos deduzidos no aresto ora impugnado. divulgação de livros, jornais e pericSdicos, não se
No julgamento do Recurso em Mandado de Se- podendo excluir destes as listas telefÔnicas, com sua
gurança n!! 17.804-GB, relatado pelo ilustre Minis- imensa utilidade social, por seu caráter informatiw
tro Djaci Falcão, a 5 de dezembro de 1967, somente sobre telefones de hospitais, pronto-lIOCOIlO, repar-
se levou em consideração a legislação ordinária tições pdblicas de toda esp6cie (policiais, judiciárias
existente l época (Lei n!! 351, de 1948), que tratava etc.), empresa de transportes ferroviirios, rodoviá-
de isençio e apenas em favor de livro e nos termos rio, aerovimo, comércio em gerai e sobre os prcS-
ali expressos (ares. I!! e 2!!). prios telefones de particulares e profissionais libe-
Por isso o v. aresto assim se ementou: rais.
"O Guia Telefônico, por conter, além dos !m- Como ficou dito,· a imunidade constitucional,
dereços dos assinantes, publicidade comercial, não alEm de ampla, nesse ponto, ficou mais clara, com o
goza da isençio prevista na Lei n!! 351, de 1948" tratamento dado pela lei e pelo decreto, já referidos,
(ftTJ,47/24O). la listas em questão, como publicações técnicas pe-
No caso dos autos, porem, já se trata de normas ricSdicas.
jurídicas supervenientes, ou seja, da. letra d do inI:iso 10. Por tudo isso e pelo mais que ficou dito no
m, do art. 19, da Constituição Federal de 1967 l6cido parecer do Procurador da Repdblica, Or. Mi-
(Emenda n!! 1 de 1969), que veda a instituição de guel Frauzino Pereira, aprovado pelo ilustre Sub-
imposto sobre livro, jomal e pericSdicos, assim como procurador-GeraI, Or. Mauro Leite Soares, e, so-
sobre o papel destinado l impressão •. bretudo, no brilhante wto do eminente Ministro
A impressão das listas é pericSdica, por lei. Octavio Gallotti, tambEm conheço do recurso e lhe
E o decreto, que a regulamentou, as considera dou provimento para conceder a segurança" (fls.
publicações técnicas pericSdicas. 357-64).
6. Igualmente não procede, daUl ve1lÚl, a objeção 6. Seguiriam-se os doutos votos dos eminentes
do v. accSrdão recorrido, no sentido de que o serviço ministros Oscar Corrêa, Néri da Silveira e Rafael
da autora, ora recorrente, "não é prestado sem ne- Mayer, que, por ora, me dispenso de ler ao eFgio
nhuma retribuição, pois, além da publicidade co- plenário, por estar certo de qÍJe suas excelf:ocias fa-
brada dos assinantes, os cadIogos telefônicos tam- rão uso da palavra e os reproduzirão aqui para per-
bém se destinam a incentivar o uso do telefone. au- feito entendimento da Corte.
mentando a teceitá da empresa que o explora" (fi. ~novo, po~, a ementa do julgado, que lhe
1380). expnme a essmcia:
Nos jornais, que são igualmente pagos, também "Listas telefônicas. Conceito de pericSdicos (art.
há publicidade e incentivo a sua aquisição e nem por 19, m, d, da Constituição Federal).
isso deixam de gozar da imunidade da letra d do in- O fato de ser pericSdica a publicação, por si scS,
ciso m, do art. 19, da Constituição Federal. não lhe confere o direito l imunidade. Teleologia da
Igualmente os livros são vendidos e neles com norma.
freqiiência há publicidade de outros. E nem por isso No caso das listas telefÔnicas, conceituadas pelo
deixam de se beneficiar da mesma norma constitu- § I!!, do art. I!!, do Decreto n!! 88.221, de 7 de abril
cional. de 1983, como 'publicações técnicas peri6dicas',
7. Por outro lado, a veiculação de propaganda e mas de periodicidade fixada pelo Ministério das
publicidade nos jomais, livros e revistas nunca foi Comunicações (art. 4!!, lI, do mesmo decreto), nio
empecilho ao recOnhecimento da imunidade em hã como privilegiã-Ias com a imunidade constitu-
questio no Supremo Tribunal Federal. cional. Jurisprudência da Corte.
Assim, por exemplo: Recurso extraordinário conhecido, mas impro-
"Jomais e pericSdicos - ISS - Imunidade Tribu- vido" (fi. 348 destes autos).
tária (exegese do art. 19, m, d, da Emenda Consti- 7. Permito-me, porEm, insistir na idEia de que as
tucional n!! 1/1969). listas telefÔnicas são pub1icaç6es técnicas pericSdi-
A imunidade estabelecida na Constituição é am- cas, como está ex~ na lei e no decreto referidos.
pla, abrangendo os serviços prestados pela empresa E, aliás, sua própria natureza o evidencia: nIo há
jornalÍ$tica na transmissão de andncios e propagan- d4vida de que são publicações; de conteddo técnico-
da. informatiw extremamente dtil; e precisam ser re-
Recurso extraordinário não conhecido" (RE n!! publicadas a certos perfodos, sob pena de perderem
87.049-SP, relator Ministro Cunha Peixoto - Tri- sua prcSpria finalidade, dificultando sobremaneira as
bunal'Pleno - 13.4.1978). telecomunicações. E a periodicidade fixada pelo
Acompanharam o relator os ministros Moreira Minist&:io das Comunicações, segundo as conve-
Alves, Cordeiro Guerra, Rodrigues Alckmin, ni&lcias do serviço pdblico, não deixa de ser perio-
Thompson Flores, Djaci FalcIo, Antonio Neder e dicidade scS por isso.

57
Nem me convenço, data maxima venia, de que o d) a propaganda é espécie do gênero informação;
conteddo informativo das Listas Telefônicas, em a Constttuição não afasta, pelo contrário, prestigia,
suas várias e conhecidas espécies, seja desprezível com a imunidade, toda e qualquer informação vei-
para os efeitos da imunidade em Questão (art. 19, culada por periódicos, sejam elas gratuitas ou remu-
1lI, d, da CF), que abrange objetivamente o livro, o neradas. Se o intérprete limitá-Ias às gratuitas, fica-
jornal e os periódicos, sem qualificações subjetivas, ria sem aplicabilidade o dipositivo imunit6rlo;
assim como o papel. Não posso desconsiderar, datD e) não estão sujeitos ao imposto sobre serviços de
venia, a imensa utilidade social de uma lista de te- qualquer natureza os valores provenientes da inser-
lefones páblicos e particulares. ção de destaques ou de andncios, por refletirem in-
Menos ainda me impressiono com a circunstân- formação I'nsita aos peri6dicos. Deles são parte inte-
cia de as listas conterem também material publicitá- grante, indissociável. A remuneração é fator irrele-
rio pago, pois esse expediente é utilizado, natural- vante para subtraí-lo ao campo da imunidade. Fosse
mente, para possibilitar a gratuidade de seu forne- a imunidade circunscrita às comunicações (informa-
cimento aos assinantes. ções) gratuitas e, em rigor, seria despicienda a dis-
Aliás, também os jornais e revistas técnicas 56 posição constitucioal, porque não há tributo sem
podem ser vendidos por preço menor, exatamente base de cálculo" (fls. 293-5).
porque a publicidade comercial lhes propicia uma 9. O ilustre tributarista Ives Gandra da Silva
compensação financeira. E é da jurisprud~ia da Martins, ora patrono da recorrente, no memorial
Casa que os jornais e revistas, mesmo assim, são que me enviou (e suponho, também aos senhores
imunes ~ tributação, obviamente no interesse da di- ministros), detEm-se sobre o cariter objetivo da
vulgação de idéias, pensamentos e também simples imunidade, sobre sua extensão às informações dteis
informações. contidas em livros, jornais e periódicos, trazendo,
8. Encontra-se nos presentes autos, trazido Pela ainda, em reforço da sustentação, a palavra autori-
recorrente, parecer do ilustre Prof. Geraldo Ataliba, zada dos eminentes ministros Cordeiro Guerra e
assim intitulado: ISS - Tributação de andncios e Cunha Peixoto, cujos pareceres meticulosos e con-
destaques em listas ou guias telefOnicos. Inadmissi- vincentes, fundados em boa doutrina e jurisprudên-
bilidade, em face da vedação constitucional (fls. cia, foram anexados àquela peça de defesa.
252-95). 9.1 Destaco do parecer Cordeiro Guerra alguns
A primeira parte do estudo é dedicada à discri- t6picos: .
minação constitucional de rendas; à imunidade 1. "17. Argumenta-se no sentido de que os li-
JRSSUposto negativo de rendas; à imunidade no vros, guias, catálogos ou listas de telefones não
texto supremo; ao significado usual de "periódi- transmitem idéias ou pensamentos, porém, cont!m
cos", à linguagem normativa; ao significado cons- notícias e informações sem as quais as comunicações
titucional de "periódico"; e ao legislador como in- humanas por via telefônica seriam praticamente im-
térprete da Constituição. possíveis, ou extremamente diffceis, onerando o
E a segunda parte ao estudo do caso concreto, às custo do serviço pl1blico."
conclusões e as respostas aos quesitos (fls. 252 e 2. "34. Livro de telefone, meio de facilitar a
segs.).
comunicação e transmissão de id6as entre os ho-
8.1 Destaco do parecer os t6picos das conclusões mens, 56 poderia conter as informações e notícias
e das respostas aos quesitos (fls. 293-5), verbis:
que são a sua razão de ser. De fato, não se pode exi-
"lO. Conclusões gir de um livro de telefones que noticie ou informe
A consulente edita peri6dico, designado de lista aos usuários do serviço páblico coisa diversa do
ou de guia telefônico. Como tal veicula informa- nome, endereço e o nI1mero dos telefones dos assi-
ções, tanto da espécie noticiada, como da categoria nantes do serviço de utilidade páblica. As tábuas de
propagandística. Ambas são componentes integrati- logarittnos publicam somente logaritmos; os bole-
vas do peri6dico. Logo, ambas ao abrigo, inatingí- tins meteorol6gicos registram dados sobre o clima, e
vel pela tributação, ex vi da imunidade. Edita peri6- nem por isso deixam de ser livros. Excluído que
dico porque o faz com reiteração no tempo, até por fosse o livro de telefones da imunidade ampla e ob-
imperativo legal, satisfazendo integralmente o sen- jetiva, em p?uco tempo instituir-se-ia a censura aos
tido, conteúdo e alcance que o vocábulo tem na livros, diV1dindo-os em bons e maus, prenhes ou
Constituição. Veicula ou propaga informações, faltos de idéias por via da tributação discriminada
gratuitas ou remuneradas. Ambas são I'nsitas aos pe- por critérioS subjetivos dos julgadores quanto ao
riódicos em geral, inclusive os por ela editados. mérito ou conteddo das publicações. Por isso, as re-
Logo, não está sujeita ao imposto sobre serviços vistas pornográficas circulam livremente, imunes
de qualquer natureza. aos tributos; por que nAo se admitir que os livros te-
11. Resposta aos quesitos lefônicos estejam imunes à tributação s6 porque
a) o vocábulo 'periódico', empregado pela preenchem a sua precípua e socialmente relevante
Constituição, no art. 19, I1I, d, tem a significação finalidade assegurando o direito de informação?"
que lhe dá a linguagem usual, corrente: qualquer 3. "48. Finalmente, negada a imunidade no ca-
publicação, reiterada de tempos em tempos; so, onerar-se-iam os custos de produção dos livros
b) inequivocamente, o legislador ordinário, ao telefônicos de forma significativa e, em conseqüên-
versar a matéria~ considerou as 'Iistas ou guias' co- cia, o editor teria que majorar a sua remuneração.
mo periódicos, extraindo o exato sentido que foi Conforme o caso, poder-se-ia inclusive temer que
atribuído ao vocábulo pelo texto constitucional; as concessionárias ou tiv~Jue arcar com parte
c) a Constituição não faz nenhum tipo de distin- desse custo adicional ou re -lo ao usuário dos
ção ou restrição, considerando incluídos no campo seus serviços, exatamente o que hoje se pretende
da imunidade todos .Os tipos de peri6dicos, em qual- evitar."
quer conteúdo, seja qual for o teor ou finalidade das 9.2 O memorial Ives Gandra e os pareceres Cor-
informações veiculadas; deiro Guerra e Cunha Peixoto lembram ac6rdlio da

58
egrégia Segunda Turma, relatado pelo· eminente Usou da palavra o Dr. José Paulo Sepálveda Perten-
Ministro Carlos Madeira, em que se adota interpre- ce, Procurador-Geral da República.
lação ampla para as imunidades, "de modo a trans- Presidência do Sr. Ministro Néri da Silveira.
parecerem os princfpios e postulados nela consagra- Presentes à sessão os Srs. Ministros Djaci Falcão,
dos" (RE n2 102.141-1). Moreira Alves, Oscar Corrêa, Aldir Passarinho,
9.3 Lembra, por sua vez, a recorrente, decisão Francisco Rezek, Sydney Sanches, Octavio Gallotti,
singular do eminente Ministro Djaci Falcão, que Carlos Madeira e Célio Borja. Ausente, justificada-
considerou razoável (Súmula n 2 400) o entendi- mente, o Sr. Ministro Rafael Mayer, Presidente.
mento de que cabe a imunidade tributma, quanto ao Procurador-Geral da República, o Dr. José Paulo
ISS, na "atividade consistente na confecção, edição, Sep61veda Pertence.
impressão e distribuição de listas telefônicas" (A- BrasOia, 26 de agosto de 1987 - Albeno Vero-
gravo de Instrumento n2 85.856-0-SP - fi. 304 nese Aguiar, Secretário.
destes autos).
9.4 O parecer Cunha Peixoto, depois de detido VOTO (VISTA)
estudo sobre a natureza jurídica das listas telefôni-
cas, acrescenta: O Sr. Ministro Célio Borja: O Sr. Ministro Sydney
"lO. Mas em termos práticos, sejam livros, re- Sanches inicia o seu relat6rio transcrevendo o refe-
vistas técnicas ou periódicos, merecem o mesmo rido despacho do vice-presidente do Tribunal de
tratamento tributmo, já que a nonna constitucional Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, no qual a
ampara os meios de divulgação de informação espe- hip6tese dos autos é descrita. Relembro-o:
cífica." "Guias Telefônicos do Brasil Ltda. ajuizou
"12. As listas telefônicas sobre ser um livro e mandado de segurança contra a Fazenda Municipal
um periódico, de grande utilidade, é suporte de um de Porto Alegre, pretendendo o reconhecimento de
serviço páblico." imunidade à cobrança do ISSQN relativa à edição
"13. Por outro lado, negar a imunidade ao livro do catálogo telefônico.
ou lista telefônica é onerar o custo de produção, A ordem foi denegada em primeiro grau, sendo
quer da lista, seja do pr6prio serviço páblico em ar- a sentença confirmada, por maioria de votos, pela
repio dos princípios que informam a Constituição Primera Câmara Cível. Consigna a ementa do ac6r-
nesse particular, urna vez que seu prop6sito, como dão:
adverte o Ministro Sydney Sanches (RE n2 104.563) "Imunidade tributária.
'é inquestionavelmente o de baratear a impressão e Empresa particular que presta serviço ao páblico
divulgação de livros, jornais e periódicos, não se editando catálogo telefônico no qual se insere publi-
podendo excluir destes as listas telefônicas, com sua cidade e anáncios remunerados não se enquadra na
unensa utilidade social." imunidade tributária do art. 19,III,d,daConstitui-
lO. Concluo o voto, enfatizando: se o art. 19, IH ção Federal, com a redação da Emenda Constitucio-
d, da CF, buscou facilitar a confecção, edição, im- nal n2 1/69. Presente o fato imponível, a hipótese de
pressão e distribuição do livro, do jornal e dos pe- incidência tributária do ISSQN é manifestamente
ri6dicos, imunizando-os ao tributo, assim como o clara. Negaram provimento, por maioria, à apelação
pr6prio papel destinado a sua impressão, não me interposta contra a sentença denegat6ria do manda-
parece razoável, data maxima venia, entender-se do de segurança impetrado por Guias Telefônicos
que estão excluídos da imunidade os livros, os jor- do Brasil Ltda., vencido o eminente Dr. Antônio
nais e os periódicos que cuidam apenas e tão-so- Augusto Fernandes" (fls. 192).
mente de informações genéricas ou específicas, sem Irresignada, a empresa impetrante recorre ex-
caráter noticioso, discursivo, literário, poético ou traordinariamente, com amparo nas letras a e d do
filosófico, mas de inegável utilidade pública. permissivo constitucional. E alegada ofensa ao art.
11. Por todas essas razões, pelas demais deduzi- 19, 111, letra d, da Constituição Federal, e negativa
das pela recorrente às fls. 216-51, no memorial e de vigência do art. 12, da Lei n2 6.874/80. Entende a
nos pareceres já referidos, peço vênia para manter, recorrente que o guia telefônico é peri6dico, segun-
em plenário, o ponto de vista antes sustentado na do a significação que dá a este vocábulo a linguagem
turma, até Que este, sabiamente, como sempre, fir- usual; "tem uma função social, átil e imprescindível
me sua posição. à sociedade moderna. Presta-se um serviço de or-
dem páblica, permitindo a comunicação entre as
12. E, então, conheço do recurso e lhe dou pro- pessoas (...)", Que não configura esse aspecto o fato
vimento para deferir o mandado de segurança. de veicular propaganda, pois o guia telefônico não
É meu voto. tem fim exclusivo de propaganda comercial. Por-
tanto, descabe a cobrança do imposto sobre serviços.
EXTRATO DA ATA O recurso foi impugnado. A Procuradoria-Geral
da Justiça opinou pela admissibilidade do recurso
RE n2 101.441-RS - ReI.: Min. Sydney San- extraordinário.
ches. Recte.: Guias Telefônicos do Brasil Ltda. 2. Pela letra a não merece prosperar o recurso.
(Advs.: Celso Alves Feitosa, Carlos Robichez O dispositivo constitucional invocado visa à
Penna, Ives Gandra da S. Martins, Luiz Carlos Bet- proteção e difusão da cultura nacional. A Câmara
tiol, Rosa Maria M. Brochado e outros). Recda.: julgadora entendeu que o catálogo telefônico não se
Prefeitura Municipal de Pono Alegre (Adv.: Wal- enquadra na previsão constitucional, in verbis:
kirio Ughini Benoldo). "Induvidoso que os catálogos confeccionados
Decisão: Pediu vista o Ministro Célio Borja, pela apelante não servem a esse objetivo. Embora
após o voto do Ministro-Relator, que conhecia e da- instrumentos utiHssimos às comunicações telefôni-
va provimento ao recurso para conceder o mandado cas, disso não passam, pois não promovem a divul-
de segurança. Falou pela Recte. o Dr. Ives Gandra. gação de idéias ou pensamentos. Com efeito, além

59
do rol de assinantes, só contém textos de propagan- seus serviços, exatamente o que hoje se pretende
da" (fl. 199). evitar."
"(•••) não há como entender-se um catálogo te- O memorial I ves Gandra e os pareceres Cordeiro
lefônico como um jornal, um livro, um periódico, Guerra e Cunha Peixoto lembram acórdão da egré-
ao abrigo da hipótese de incidência (•••)" (fl. 2(6). gia Segunda Turma, relatado pelo eminente Minis-
Nesse ponto, pois, a irresignação encontra óbice tro Carlos Madeira, em que se adota interpretação
na Sl1mula n2 400. ampla para as imunidades, "de modo a transpare-
3. Entretanto, a divergência jurisprudencial está cerem os princípios e postulados nela consagrados"
comprovada, uma vez que a recorrente apresentou (RE n 2 102.141-1).
acórdão em sentido contrário (Apelação n 2 275.857, Lembra, por sua vez, a recorrente, em decisão
do Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, singular do eminente Ministro Djaci Falcão, que
julgada em 30 de dezembro de 1980). -considerou razoável (Sl1mula n2 4(0) o entendi-
4. Isso posto, admito o recurso pela letra d. Vista mento de que cabe a imunidade tributária, quanto ao
às partes para razões. O preparo será efetuado no ISS, na "atividade consistente na confecção, edição,
prazo do art. 545 do Código de Processo Civil. impressão e distribuição de listas telefônicas"
"Publique-se e intimem-se" (fls. 314-6). (Agravo de Instrumento n~ 85.956-0-SP - fls. 304
Depois de alinhar os argumentos das partes e destes autos).
historiar os precedentes do Supremo Tribunal Fe- O parecer Cunha Peixoto, depois de detido estu-
deral, o eminente relator concluiu o seu voto com as do sobre a natureza jurídica das listas telefônicas,
seguintes considerações: acrescenta:
"O ilustre tributarista Ives Gandra da Silva "lO. Mas em termos práticos, sejam livros, re-
Martins, ora patrono da recorrente, no memorial vistas técnicas ou periódicos, merecem o mesmo
que me enviou (e suponho, também aos Srs. Minis- tratamento tributário, já que a norma constitucional
tros), detém-se sobre o caráter objetivo da imunida- ampara os meios de divulgação de informação espe-
de, sobre sua extensão às informações áteis contidas cífica....
em livros, jornais e periódicos, trazendo, ainda, em "12. As listas telefônicas sobre ser um livro e
reforço da sustentação, a palavra autorizada dos um periódico, de grande utilidade, é suporte de úm
eminentes Ministros Cordeiro Guerra e Cunha Pei- serviço p&lico".
xoto, cujos pareceres meticulosos e convincentes, "13. Por outro lado, negar a imunidade ao livro
fundados em boa doutrina e jurisprudência, foram ou lista teleC6nica é onerar o custo de produçio,
anexadas àquela peça de defesa. quer da lista, seja do próprio serviço p&lico, em
Destaco do parecer Cordeiro Guerra alguns tópi- arrepio dos principios que informam a Constituição
cos: neste particular, uma vez que seu propósito, como
1. "17. Argumenta-se no sentido de que os li- adverte o Ministro Sydney Sanches (RE n2 104.563)
vros, guias, catálogos ou listas de telefones não é inquestionavelmente o de baratear a impressão e
transmitem idéias ou pensamentos; porém, contêm divulgação de livros, jornais e periódicos, niio se
nottcias e informações sem as quais as comunicações podendo excluir destes as listas telefônicas, com sua
humanas por via telefônica seriam praticamente im- imensa utilidade social.
possíveis, ou extremamente difíceis, onerando o Concluo o voto, enfatizando: se o art. 19, IH, d,
custo do serviço páblico." da CF, buscou facilitar a confecção, edição, im-
2. "34. Livro de telefone, meio de facilitar a pressão e distribuição do livro, do jornal e dos pe-
comunicação e transmissão de idéias entre os ho- riódicos, imunizando-os ao tributo, assim como o
mens, só poderia conter as informações e notícias próprio papel destinado a sua impressão, não me
que são a sua razão de ser. De fato, não se pode exi- parece razoável, data maxima venia, entender-se
gir de um livro de telefones que noticie ou informe que estão excluídos da imunidade os livros, os jor-
aos usuários do serviço páblico coisa diversa do nais e os periódicos que cuidam apenas e tão-so-
nome, endereço e o námero dos telefones dos assi- mente de informações genéricas ou específicas, sem
nantes do serviço de utilidade páblica. As tábuas de caráter noticioso, discursivo, literário, poético ou
logaritmos publicam somente logaritmos; os bole- filosófico, mas de inegável utilidade páblica.
tins meteorológicos registram dados sobre o clima, e Por todas essas razões, pelas demais deduzidas
nem por isso deixam de ser livros. Excluído que pela recorrente às fls. 216-51, no memorial e nos
fosse o livro de telefones da imunidade ampla e ob- pareceres já referidos, peço vênia para manter em
jetiva, em pouco tempo instituir-se-ia a censura aos plenário, o ponto de vista antes sustentado na turma,
livros, dividindo-os em bons e maus, prenhes ou até que este, sabiamenete, como sempre, firme sua
faltos de idéias, por via da tributação discriminada posição.
por critérios subjetivos dos julgadores quanto ao E, então, conheço do recurso e lhe dou provi-
mérito ou conteádo das publicações. Por isso, as re- mento para deferir o mandado de segurança."
vistas pornográficas circulam livremente, imunes Estou de inteiro acordo com a conclusão do voto
aos tributos; por que não se admitir que os livros te- do Sr. Ministro Sydney Sanches e com a sua funda-
lefônicos estejam imunes h tributação só porque mentação.
preenchem a sua precípua e socialmente relevante Peço licença aS. Exa. para aduzir as razões do
finalidade assegurando o direito de informação?" meu convencimento.
3. "48. Finalmente, negada a imunidade no ca- A Constituição Federal contempla o livro, o jor-
so, onerar-se-iam os custos de produção dos livros nal e os periódicos, destacadametne, duas vezes:
telefônicos de forma significativa e, em conseqüên- para tomá-los imunes h tributação (art. 19,111, d) e h
cia, o editor teria que majorar a sua remuneração. licença da autoridade (art. 153, § 82).
Conforme o caso, poder-se-ia inclusive temer que Penso que, no nosso sistema juspublicfstico, a
as concessionárias ou tivessem que arcar com parte imunidade tributária do livro, do jornal e dos perió-
desse custo adicional ou repassá-lo ao usuário dos dicos é ancilar da liberdade de opinião e de inforrna-

60
ção e que esta abrange as formas impressas de A derradeira consideração dirige-se ao argu-
IJ"'msmissão e difusão de qualquer forma de conhe- ~nto tirado das exp~ livros, jornais· e peri6-
cimento. ~~, e~ontradas, assun, no rol das garantias cons-
É possível que o intérprete dos textos constitu- IltuclOD81S, como na norma do 3rt. 19, 111, d, CF.
cionais referidos se impressione com a superficiali- Livros, jornais ou periódicos gozam da mesma
dade das informações veiculadas por uma lista tele- tutela especial que privilegia a prestação de infor-
fônica e, assim, predisponha-se a excluí-la do rol maçées expressamente mencionada no 3rt. 153,
das publicações merecedoras da proteção do § ~, do § 82 , da Constituição. Tal como eles, insuscetfvel de
art. 153, e, conseqilentemente, da imunidade pres- regulação preventiva para efeito de classificar e ex-
crita no art. 19,111, d, todos da Constituição. cluir.
Tal procedimento afigura-se-me, todavia, in- Qualquer publicação que tenha forma de livro,
compatível com a natureza proibit6ria de uma e ou- de jornal ou de periódico e preste informações está,
tra cláusula, pois ao tolher ?t autoridade do Estado o a duplo título, protegida, já porque é livro, jornal ou
poder de submeter ?t sua licença a transmissão e a periódico, já porque presta informações.
veiculação de conhecimento ou informação, o cons- Se em alguns ordenamentos estrangeiros é pos-
tituinte retirou-lhe a faculdade de ditar discrimen sível discutir a natureza e extensão da tutela da li-
entre os diferentes tipos de informação, impedindo- berdade de manifestação do pensamento, para res-
o de classificá-las, seja para efeitos civis ou políti- tringi-la ?t divulgação ou comunicação de idéias,
cos, administrativos ou tributários, a umas impondo este não é o caso do Brasil.
contribuições, a outras isentando. Pelos d. fundamentos do voto do Sr. Ministro-
Barbalho, comentando o § 12, art. 72, da Cons- Relator e pelas razões que aduzi, conheço do recurso
tituição de 1891, lembra que duas formas há de re- e dou-lhe provimento para deferir a segurança.
gular o exercício da (liberdade de) imprensa: o pre-
ventivo e o repressivo, respectivamente, a licença
prévia e os regulamentos administrativos e a incri- EXTRATO DA ATA
minação e a penalização do abuso. E conclui:
"O primeiro, visando acautelar a sociedade RE n 2 101.441-RS - Rei.: Min. Sydney San-
quanto a abusos possíveis tornou-se asfixiante, me- ches. Rcte.: Guias Telefônicos do Brasil Ltda.
ticuloso, vexatório (•••) A Constituição por maior (Advs.: Celso Alves Feitosa, Carlos Robichez Pena,
cautela, quis proibi-lo ?ts legislaturas ordinárias e Ives Gandra da S. Martins. Luiz Carlos Bettiol,
prescreveu o segundo, dnico admissível em um re- Rosa Maria M. Brochado e outros). Rcda.: Prefei-
gime liberal" (Constituição Federal brasileira - co- tura Municipal de Porto Alegre (Adv.: Walkirio
menttJrios. Rio de Janeiro, 1902. p. 320). Ughini Bertoldo).
Cuidando-se de cláusula proibitória, portanto, Decisão: Pediu vista o Ministro Carlos Madeira.
haveria que distinguir, como recomenda Cooley, se após os votos dos Ministros Relator e Célio BOfja.
a proibição é aplicável ?t União, apenas, ou se - es- que conheciam e davam provimento ao recurso para
1I:ndendo-se, também, aos estados e, no caso brasi- conceder o mandado de segurança.
leiro, aos demais entes públicos territoriais - retira Presidência do Sr. Ministro Rafael Mayer. Pre-
de todos os poderes públicos nacionais e locais a sentes ?t sessão os Srs. Ministros Djaci Falcão, Mo-
atribuição.vedada que se considera reservada ao po- reira Alves, Néri da Silveira. Oscar Corrêa, Francis-
vo (Treatise on lhe ConstitutionaJ Lmtations Bos- co Rezek, Sydney Sanches. Octavio Gallotti. Carlos
ton, 1890. p. 28). Madeira e Célio Borja. Ausente. justificadamente. o
Sr. Ministro Aldir Passarinho. Procurador-Geral da
No caso do jornal, do livro e do peri6dico, a Repdblica. o Or. José Paulo Sepdlveda Pertence.
censura e, mais induvidosamente, a imposição fiscal Brasfiia, 9 de setembro de 1987 - Dr. AJbeno
são poderes proibidos a todas as esferas de governo e Veronese Aguiar, Secretário.
reservadas, assim, ao povo ou ao Constituinte.
Ponha-se em relevo a norma do art. 19,111, d, da VOTO (VISTA)
Constituição Federal, que toma líquido, em matéria
de transmissão ou divulgação de informações, o di- O Sr. Ministro Carlos Madeira: Debate-se, no
reito ?t indenidade tributária que, nos Estados Uni- presente recurso. sobre a extensão da imunidade tri-
dos da América, resulta de interpretação construtiva butária prevista no 3rt. 19, m, d, da Constituição ?t
da primeira emenda ?t sua Constituição e tem con- lista telefônica. •
tornos bem mais restritos (Grosjean v. American O eminente Ministro Sydney Sancbes. relator
Press Co., 297 us 233 (1936). In: Konvitz.BiIlofri- concluiu seu voto enfatizando que "se o 3rt. 19. In:
ghts reader. New York, Ithaca, 1954. p. 233 e segs). d, da CF buscou facilitar a confecção. edição. im-
Parece-me, assim, claro que proibida ?t autori- pressão e distribuiçlio do livro. do jornal e dos pe-
dade a regulação preventiva da prestção de informa- riódicos, imunizando-os ao tributo, assim como o
ções (§ 82, art. 153, CF) veda-se, necessariamente, o próprio papel destinado a sua impressão, nlio parece
discrimen entre essas, para classificá-las em catego- razoável, data maxima venia, entender-se que estão
rias diversas: protegidas ou não protegidas. Se- exclu(dos da imunidade os livros, os jornais e os pe-
gue-se, a meu sentir, que o mesmo há de aplicar-se?t riódicos que cuidam apenas e tão-somente de in-
atividade tributária da União, dos estados e dos mu- formações genéricas ou específicas. sem caráter no-
nicípios. A dnica discriminação subtraída dessa re- ticioso, discursivo. literário. ~co ou mosófico,
gra geral, pelo constituinte, é a propaganda de mas de inegável utilidade pública."
guerra e subversão da ordem ou de preconceitos de Entre os periódicos que contem infonflações de
religião, de raça ou de classe, e as publicações e ex- utilidade pública está, a seu ver, a lista telefônica.
1I:riorizações contrárias ?t moral e aos bons costumes Já o eminente Ministro Célio Borja. em seu
(art. 153, § 82 , injine). douto voto. acentuou:

61
,,~ poss{vel que o intérprete dos textos constitu- I, p. 79). Equiparava ele a lista telefônica à forma
cionais referidos (art. 19, m, d, e 153, § 82, da do livro ou do peri6dico, mas distinguia o conteúdo
Constituiçio), 'se impressione com a limitadfssima daquele do destes.
abrangência das informações veiculadas por uma O que se contém na lista telefônica, com efeito,
lista telefÔnica e, assim, predisponha-se a exclu{-Ia são informações necessárias ao uso da rede de co-
do rol das publicações merecedoras da proteção do § municações por ela abrangida. São as figurações
82 do art. 153 e, conseqüentemente, da imunidade obrigat6rias ou opcionais dos assinantes, ~gundo
prescrita no art. 19,111, d, todos da Constituição'. a linguagem da Portaria n2 189, de 20 de outubro de
Tal procedimento afigura-se-me, todavia, in- 1983, do Ministério das Comunicações. É um guia
compatfvel com a natureza proibit6ria de uma e ou- para a utilização de um serviço público de irrecusá-
tra cláusulas, pois ao tolher hutoridade do Estado o vel importância.
poder de submeter à sua licença a transmissão e a Ora, o conceito de informação, {nsito no § 82 do
veiculação de conhecimento ou informação, o cons- art. 153 da Constituição, tem maior amplitude. A
tituinte retirou-lhe a faculdade de ditar discrimen garantia da prestação de informações independen-
entre as informações, impedindo-o de classificá-Ias, temente de censura correlaciona-se com a liberdade
seja ~ efeitos civis ou polfticos, administrativos de Imprensa.
ou tnbutários, a uma impondo contribuições, a ou- Freitas Nobre, nos Comentários à Lei de Im-
tras isentando." prensa, lembra a definição de Fernando Termn, se-
Arrematando seu voto, diz o ilustre ministro: gundo a qual a informação "é o conjunto de condi-
"Qualquer publicação que tenha forma de livro, ções e modalidades de difusão para o público (ou
de joroal ou de peri6dico e preste informações, está colocado à disposição do pdblico), sob formas apro-
a duplo tftulo protegida, já porque é livro, joroal ou priadas, notícias ou elementos de conhecimento,
peri6dico, já porque presta informações." idéias ou opiniões". E para Lucien Solal "a infor-
Conclui S. Exa. por acompanhar o ministro-re- mação é a comunicação ao público, por um meio
lator. qualquer, dos pensamentos e das opiniões".
Relembro Amilcar de Araújo Falcão, ao dizer
que "o que caracteriza as imunidades é a circunstân- Acrescenta o político e escritor patrício que a
cia de que com elas o constituinte procura resguar- Declaração Universal dos Direitos do Homem,
dar, assegurar ou manter inc61umes certos princf- adotada pela Assembléia das Nações Unidas em
pios, idéias-força ou postulados que consagra como 1948, reafirma em seu art. 19 "que todo indiv{duo
preceitos básicos do regime politico, a incolumidade tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o
de valores éticos e culturais que o ordenamento po- que implica o direito de não ser perturbado pelas
sitivo consagra e pretendde manter livres de even- suas opiniões bem como o de procurar receber e
tuais interferências ou perturbações, inclusive pela distribuir sem consideração de fronteÍf"as, as infor-
via oblfqua ou indireta das tributações" (In: RDA, mações e idéias por todo e qualquer meio de ex-
66/369). E o Ministro Célio Borja identifica, com
pressão" (op. cito p. 8-9).
precisão, os preceitos básicos do nosso regime, que A propria lei de imprensa - Lei n2 5.250, de 9 de
são protegidos pela imunidade tributária do art. 19, fevereiro de 1967 - já traz o conceito corrente de
111, d, da Constituição, a liberdade de manifestação informação, ao dizer, na. sua ementa, que "regula
de pensamento, de convicção politica ou filos6fica, a liberdade de manifestação do pensamento e de in-
bem como a prestação de informações. A esses pre- formação". E o seu art. 12 prescreve:
ceito poder-se-ia acrescentar as normas programáti- "Art. 12 É livre a manifestação do pensamento e
cas dos arts. 179 e 180 da Constituição, que assegu- a procura, o recebimento e a difusão de infofIIll<Ções
ram a liberdade das ciências, artes e letras e põem a ou idéias, por qualquer meio, e sem dependência de
cultura sob o amparo do Estado. censura, respondendo cada um, nos termos da lei,
Não obstante se trate de imunidade objetiva, que pelos abusos que cometer." •
comporta interpretação ampla, cabe definir o que A liberdade de informação, portanto, compre-
ela protege a tftulo de prestação de idformações. Na ende a liberdade de informar e ser informado: a
Constituinte de 1946, a imunidade tributária do pa- primeira coincide com a liberdade de manifestação
pei destinado à impressão de jornais, peri6dicos e li- de pensamento, pela palavra, por escrito ou por
vros, visava não 56 a estimular a difusão cultural, qualquer outro meio de difusão; a segunda indica
como a reforçar o direito ao livre exercfcio da liber- o interesse da Coletividade em que os cidadãos este-
dade de imprensa e de manifestação, ou, como dizia jam informados de modo a exercer conscientemente
Baleeiro, o direito de cr{tica e propaganda polftica. as liberdades pdblicas.
Em aula magna proferida num curso de especia-
lização de direito tributário, em 1978, explicou o Não tem a lista telefônica esse conteúdo e essa
saudoso ministro as razões politicas da imunidade função. Da{ porque, embora reconheça a utilidade
do papel, inscrita na Constituição de. 1946, el~ subs- pública das informações que presta, restrita ao ser-
titufa a isenção, com a qual, no regime antenor, se viço público a que se vincula, não creio esteja prote-
manejava a importação do papel como meio de coa- gida pela imunidade tributária em favor dos livros,
ção à Imprensa. peri6dicos e jornais.
A Constituição de 1967 ampliou a imunidade ao A questão de se tratar ou não de peri6dico é, em
livro, ao joroal e peri6dicos, mas Baleeiro advertia relação à lista telefônica, secundária. O que tem re-
que, na interpretação do dispositivo, "não se pode levo, para a decisão quanto ao cabimento ou não da
considerar o volume de papel de impressão, o volu- imunidade tributária pleiteada, é a natureza das in-
me de propaganda. Não é a lista telefÔnica que vai formações nela contidas. Não sendo manifestação de
merecer essa imunidade, ou um catálogo de qual- pensamento ou de opinião, mas meras indicações de
quer firma. A Constituição protege meios de divul- serviço, não se alçam à exclusão da competência tri-
gação do conhecimento" (Rev. de Dir. Tributário, n2 butária.

62
Data venia dos ministros Sydney Sanches e Cé- Rosa Maria M. Brochado e outros). Recda.: Prefei-
lio Borja, cujos votos ilustram o debate da causa, tura Municipal de Porto Alegre (Adv.: Wa1Idrio
não çonheço do recurso. Ughini Bertoldo).
Eomeu voto. Decisão: Pediu vista o Ministro Oscar Correa,
após os votos dos Ministros Relator, Célo Barja.
VOTO Octavio Gallotti e Francisco Rezek, que conheciam
e davam provimento ao recurso, e dos votos dos Mi-
O Sr. Ministro Octa..w GaJJotti: Peço vênia, Sr. nistros Carlos Madeira e Aldir Passarinho, que dele
Presidente, ao eminente Ministro Carlos Madeira, não conheciam.
para acompanhar o voto proferido pelo eminente Presidência do Sr. Ministro Rafael Mayer. Pre-
Ministro Sydney Sanches, também seguido pelo sentes à sessão os Srs. Ministros Djaci Falcão Mo-
eminente Ministro Célio Borja. reira Alves, Néri da Silveira, Oscar Corrêa, Aldir
Continuo pensando, em coerência com o voto Passarinho, Francisco Rezek, Sydney Sanches, Oc-
vencido que proferi no precedente julgado pela tur- tavio GalIotti e Carlos Madeira. Ausente, justifica-
ma, ao qual teve o eminente relator a gentileza de damente, o Sr. Ministro Célio Borja. Procurador-
referir, que, diversamente do que sucede com as Geral da República, Substituto, o Or. Aristides Jun-
isenções, a imunidade comporta um entendimento queira Alvarenga.
amplo, em primeiro lugar. Em segundo, julgo que, Brasília, 24 de setembro de 1987 - Dr. Alberto
além do interesse cultural em sentido estrito, a imu- Veronese Aguiar, Secretário.
nidade prevista no art. 19, m, d, da Constituição,
atende ao interesse da divulgação de informações VOTO (VISTA)
em geral. Por último, considero que tal imunidade é
objetiva e que não comporta jufzo subjetivo sobre o O Sr. Ministro Oscar Corrêa: I. Como salientei
valor literário ou cultural da obra, sobre a sua mo- ao pedir vista dos autos, após os votos declarados,
ralidade ou sobre a exatidão dos conceitos nela ex- levei em conta dois aspectos: 1. ter proferido voto
pressos. em sentido contrário, na Primeira Turma, no RE n~
Assim, Sr. Presidente, com a vênia do Sr. Mi- 104.563; 2. estar mantida, até agora, no projeto de
nistro Carlos Madeira, concordo com o eminente Constituição que se vota na Assembléia Nacional
relator. Constituinte, redação idêntica à vigente, o que va-
loriza, ainda mais, a importãncia da interpretação
VOTO que lhe der este STF, para as questões futuras.
2. Na Primeira Turma, vencidos os eminentes
O Sr. Ministro Francisco Rezek: Faz algum tem- Ministros Octavio GalIotti (relator inicial) e Sydney
po que, na Segunda Turma, a alínea d do inciso m Sanches, decidiu-se, segundo se vê da ementa (fi.
do art. 19 da Constituição veio à mesa num debate . 348): -
que resultou na tomada de decisão majoritária. Par- "Listas telefônicas. Conceito de periódicos (art.
tilhei com o eminente Ministro Cordeiro Guerra o 19,111, d, da Constituição Federal).
entendimento, afinal vitorioso, de que essa norma O fato de ser periódica a publicação, por si só,
não deve comportar interpretação restritiva. não lhe confere o direito à imunidade. Teleologia da
Penso escolher da literalidade dessa alínea a con- norma.
clusão de que as listas telefônicas estão alcançadas No caso das listas telefônicas, conceituadas pelo
por quanto ela prescreve. Não há dúvida de que, § I~ do art. I~, do Decreto n~ 88.221, de 7 de abril
gramaticalmente, a lista telefônica ~ uma publica~ de 1983, como 'publicações técnicas periódicas',
ção, e é uma publicação periódica. Para que evitasse mas de periodicidade fixada pelo Minist&io das
a conclusão que a literaIidade da norma me impõe, Comunicações (art. 4~, 11, do mesmo decreto), não
seria preciso que forte argumento resultante do las- há como privilegiá-las com a imunidade constitu-
tro histtSrico da norma, da pesquisa da vontade do cional. Jurisprudência da Corte.
constituinte, ou do quadro social reinante tanto me Recurso extraordinário conhecido, mas impro-
impusessem. Nada disso ocorre. Pelo contrário, vido."
observo que não é possfvel restringir o beneficio .3. Trazida a questão ao plenário, renova-se o
sem incorrer no abono de injustiças e incongruên- julgamento, com toda a amplitude, reafirmando-se
cias de monta. as posições iniciais dos eminentes ministros e deba-
Parece-me que a interpretação não-restritiva - tida amplamente a questão.
não direi, absolutamente, que esta seja uma inter- Relembro, por isso, o voto que então proferi e
pretação extensiva - melhor condiz com a literali- que, segundo entendo, não recebeu contestação vá-
dade da alínea d, e ainda com seu propósito. lida dos até aqui enunciados.
Não vejo argumento bastantemente sólido para Disse no meu voto:
que exclua as listas telefônicas da categoria que a lei "I. A questão que neste recurso se decide diz
maior pretende beneficiar. Nestes termos, pedindo respeito, em sentido amplo - como lembrado pelo
vênia a quem pensa de modo diverso, acompanho eminente relator - 'à fIXação dos limites da imuni-
também o eminente ministro relator. Conheço do dade tributária inscrita no art. 19, m, d, da Consti-
recurso e lhe dou provimento. tuição Federal', ou, mais J"Stritamente, ao sigaifi-
cado, abrang~ia e limites dos periódicos, que na-
EXTRATO DA ATA quele artigo se indica.
Cuida-se de saber, em úl, ima análise, se a publi-
RE n~ IOl.44I-RS - Rei.: Min. Sydney San- cação -listas telefônicas - se ncIui entre os periódi-
ches. Recte.: Guias Telefônicos do Brasil Ltda. cos, como tal, favorecida pel, imunidade tributária,
(Advs.: Celso Alves Feitosa, Carlos Robichez Pena, o que o acórdão recorrido neg u e os votos dos emi-
Ives Gandra da S. Martins, Luiz Carlos Bettiol, nentes Ministros Octavio GalIotti (relator) e Sydney

63
Sanches acolheram, conhecendo do recurso e dan- ls listas em questão, como publicações técnicas pe_
do-lhe provimento." riódicas:'
No seu voto, o eminente relator, desde logo, re- 4. Confesso, Sr. Presidente, que não obstante o
conheceu a divergência jurisprudencial com arestos peso dos argumentos expendidos e a própria autori-
de Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal; e, a se- dade dos que os enunciaram, pareceu-me dever
guir, submetendo a acurado exame os textos da Lei examinar, com as minhas fracas forças, o tema, se-
n2 6.874, de 3 de dezembro de 80 - art. 12 , e De- gundo penso dependente da fixação do que é peri6-
ereto n 2 88.221/83, conclui que são listas, como no dico, nos estritos termos do 8ft. 19, lU, d, da Cons-
Decreto n2 88.221/83 se declara, 'publicações técni- tituição Federal de 1969.
cas peri6dicas ( •••)' e afmna que o plenário desta A norma, como é sabido, surgiu no art. 31, V, c,
Corte. da Constituição Federal de 1946, que vedou l
'( •••) apreciando o Recurso Extraordinário n2 União, aos estados, ao Distrito Federal e aos muni-
87.049, deu amplo entendimento, afastando exegese cfpios:
restritiva que implique a incidência de impostos so- "V -lançar imposto sobre
bre a atividade tutelada pela Lei Maior. ( ...)
Deixou-se, então, igualmente assentado, que a c) papel destinado exclusivamente l impressão
circunstância de os impressos arrolados no disposi- de jornais, periódicos e livros."
tivo constitucional serem também veículos de anún- Dar passou, ampliada, l Constituição de 1967
cios e propaganda não lhes retira a imunidade, que (8ft. 20, lU, d) e se manteve, com a mesma redação
tem, como objetivo, a redução dos custos de produ- desta no 8ft. 19, lU, d, da Emenda Constitucional
ção e comercialização (••.)." 1/69.
Daí, encerra suas considerações assegurando: . 5. Como n0rn:t~ de imunidade - favor legal -
"Alinha de raciocfnio, então desenvolvida, é mterpreta-se restntivamente, pelo que vale exami-
perfeitamente adequada ao caso em exame, ao con- nar-lhe o alcance.
siderar-se que a lista telefônica, como peri6dico ne- Desde logo, emito minha concordância com os
cessário l utilização do serviço público de telefonia,
não tem a sua natureza alterada pela inserção de eminentes ministros relator e Sydney Sanches
quanto a que a veiculação de propaganda ou publi-
anúncios que possibilitam a participação da iniciati- cidade nos jornais, livros e revistas não impede o re-
va privada na consecução de uma atividade cujo in- conhecimento da imunidade, o que a Corte tem
teresse para os usuários e o público em geral se afmnado, como S. Exas. comprovaram.
apresente evidente.
Se a lista telefônica integra a categoria dos pe- 6. Minha dúvida, porém, consubstancia-se
riódicos, pela regularidade da sua edição e se, pela quanto ao que constitucionalmente se deva entender
definição da legislação ordinária, visa, primordial- por periódico imune l imposição tributária, em
mente, l divulgação de informações indispensáveis, obediência ao 8ft. 19, m, d.
não há que se cogitar da sua exclusão do alcance da Baleeiro, que há de ser sempre invocado nas
regra constitucional. horas de perplexidade, porque aliava ao conheci-
mento amplfssimo a objetividade e o sentido teleo-
Cumpre distinguir a finalidade protegida (divul- lógico das normas legais - e, obviamente, constitu-
gação de informações sobre assinantes), do meio
acess6rio utilizado para persegui-la (veiculação de cionais - diz, nas Limitações (Limitações constitu-
publicidade), que de nenhum modo desnatura a cionais ao poder de tributar. 3. ed., Forense, ajusta-
da l Emenda n 2 1/1969, 1974, p. 204):
imunidade assegurada pela Constituição, seja o
anÓllcio inserido em livro, seja jornal ou outro pe- "A imunidade do art. 19, UI, d, da Emenda n 2
riódico." 1/1969 traz endereço certo l proteção dos meios de
Nessa mesma linha, votou o eminente Ministro comunicação de idéias, conhecimentos e informa-
Sydney Sanches, submetendo a pormenorizado ções, enfim de expressão do pensamento, como ob-
exame o texto da Lei n 2 6.874/80 e o Decreto n2 jetivo precípuo. Livros, jornais e peri6dicos são os
88.221/83 -que a regulamentou-e invocando o RE veículos Unlversais dessa propagação de idéias no
n2 77.867 (ftTJ, 73/189, relator Ministro Leitão de interesse social da melhoria do nível intelectual,
Abreu), que viu reiterado no RE n 2 86.026 (RTJ, técnico, moral, político e humano da comunidade.
81/270 - relator Ministro Djaci Falcão) e no Ag. n2 Não há regime democrático, como o que a Consti-
56.889 (relator Ministro Aliomar Baleeiro), conclui, tuição expressamente adota (arts. 12; e § 151, I; 125,
como o eminente relator, que a defInição de "publi- I, 153, §§ 82 e 36; 154 etc.), se não houver livres de-
cação técnica periódica" é do próprio Decreto n 2 bates e amplas informações sobre todos os interesses
88.221/83. a respeito dos neg6cios da coletividade.
Recusa, por isso, a decisão do RMSeg. n 2 17.804 Livros, jornais e periódicos são todos os im-
(RTJ, 47/240) - que "somente levou em considera- pressos ou gravados, por quaisquer processos tec-
ção a legislação ordinária existente l época (Lei n2 nológicos, que transmitam aquelas idéias, informa-
351/48) que tratava de isenção e apenas em favor de ções, comentários, narrações reais ou fIctícias sobre
livro e nos termos ali exr.ressos". todos os interesses humanos, por meio de caracteres
Após salientar que' a veiculação de propaganda alfabéticos ou por imagens e, ainda, por signos
e publicidade nos jornais, livros e revistas nunca foi braille destinados a cegos.
empecilho ao reconhecimento da imunidade em A Constituição não distingue nem pode o intér-
questão no Supremo Tribunal Federal invocando o prete distinguir os processos tecnológicos de elabo-
RE n2 87.049 (relator Ministro Cunha Peixoto), ração dos livros, jornais e periódicos, embora os
conclui, com o eminente relator, nestes termos: vincule ao papel como elemento material de seu fa-
"Como fIcou dito, a imunidade constitucional, brico. Isso exclui, parece-nos, os outros processos
além de ampla, nesse ponto, ficou mais clara, com o de comunicações do pensamento, como a radiodi-
tratamento dado pela lei e pelo decreto, já referidos, fusão, a TV, os aparelhos de ampliação de som,

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a cinematograíl3 etc., que não têm por veículos o "oicese (publicaci6n peri6dica) dei impreso que
papel. se publica, por 10 general, en fascfculos e entregas, a
Mas o papel e o formato convencional não bas- intervalos regulares o irregulares de menos de um
Iam a caracterizar o livro, o jornal e o peri6dico, se aiio de tiempo (•••)"
as publicações e gravações não se destinam ~ueles ou,
fms específicos de difuslio de idêias, conhecimentos, "PeritSdico, dÍcese, em general, de todo impreso
informações, narrações, enfim assuntos do interesse que apan:ce a intervalos regulares de menos de um
da comunidade. Excluem-se os que servem apenas l afio de tiempo y CODtinda por um período indefini-
propaganda comercial, ou profissional, que requesta do.
clientela ou serve aos interesses privados de empre- EI intervalo que media entre la saIida de un nd-
sas ou prestadores aulÓnomos de serviços. mero de peri6dico y el siguiente, constituye la fre-
Concede-se que os jornais, os peri6dicos e até cuencia. Segdn el ritmo de distancia cronol6gica, las
mesmo os livros possam conter andncios, que lhes publicaciones pueden ser diarias, interdiarias, heb-
possibilitem a sobrevivmcia ou lhes diminuam o domadarias, quincenales, mensuales, bimensuaIes,
preço. Sem a publicidade comercial, os jornais não trimestrales, semestrales, anuales etc."
poderiam custear o volume de informações presta- Frise-se que todas as definições se contêm num
das ao ptlblico, pois, nlo raro, a venda de um exem- perfodo nunca superior a um ano - anuais.
plar pão cobre, sequer, o valor do papel empregado. 8. Parece-nos, pois, que s6 se integram os pres-
E admissível que, por exceção, a publicação com supostos da imunidade constitucional do 3rt. 19, m,
objetivo de propaganda comercial, discre1amente d, quando, cumprindo aquela missIo no campo das
manifestada, goze da imunidade se, afinal, exercita idéias, se faz delas o vefculo em períodos, epocas
efetiva e eficientemente aqueles fins de divulgação certas, preestabelecidas, de conhecimento predeter-
de conhecimentos, idéias, informações de interesse minado, em geral, anuais, no máximo. Sem essas
geral. Se, por exemplo, uma empresa fornece gra- duas componentes, não há falar na imunidade no
tWlamente ao Estado, ou mesmo direlamente ao p4- texto em exame.
blico, cartilhas didáticas, com a simples e discreta Repugna-me, por isso, considerarar peri6dico -
menção de que é uma 'cortesia' ou 'colaboração' do com a conotação e o favor constitucional- o catálo-
banco X, ou da cia. Y, parece-nos admissível que tais go de telefone, a Iista telefônica, ainda que veicule o
publicações se enquadrem no conceito de livros, texto da Constituição, ou dados hist6ricos, como
para efeitos de imunidade do papel utilizado. lembrado por Baleeiro: falta-Ibe não s6 a caracte-
Mas não é livro, jomal ou peri6dico, para esse rística da missão de veicular idêias, como sua alega-
efeito jurídico, o catálogo impresso de mercadorias, da periodicidade não s6 não é predeterminada. como
os almanaques, boletins, estatutos, cartazes, posters, s6 se cumpre se o interesse do editor é satisfeito a
avulsos etc. que as firmas industriais ou comerciais tempo de mantê-Ia e se o Ministério das Comunica-
distribuem, quer entre seus subordinados, quer ao ções - como veremos - o estabelecer. E disso se sabe
pdblico. no Brasil, com a variabilidade das edições e dos pe-
O STF já decidiu que o corpulento guia ou indi- tiodos nos quais se cumprem.
cador de telefônicos ainda que utilfssimo acervo de 9. Já pressinto que os eminentes ministros relator
informações (no Brasil) já publicou a Constituição e e Sydney Sanches me objetarão com o texto da Lei
dados históricos; nos EUA, existem os das grandes n!? 6.874180 e do Decreto n'l 88.221183.
cidades nas bibliotecas ptlblicas), não é 'livro para Não me preocupa, tklID vemo, o texto desses di-
gozo da imunidade do papel em que o imprimem' plomas, que não imporiam definição do texto cons-
(ac. de 5 de dezembro de 1967, rei. Dr. Falcão, RTJ, titucional, mas procuram, isto sim, apenas estabele-
47n40). cer as condições a que devem obedecer essas publi-
Mas decidiu-se, por outro lado, que os editores e cações e s6 a elas se referem.
revistas técnicas (no caso, a Dirigentes, de São Pau- Com efeito, a Lei n!? 6.874180 apenas estabele-
lo) estão imunes ao imposto municipal de serviços ceu que "a empresa exploradora de serviços pdbli-
por força do dispositivo constitucional" (Agr. Instr. cos de telecomunicações é obrigada a divulgar, pe-
n!? 56.889-SP, de 24 de abril de 1973). riodicamente, a relação de assinantes, nas condições
definidas em reguIamento" (3rt. Il?).
7. Dessa longa transcrição, propositadamente 10. Nada mais. Nem se diga que as informações
feita, da íntegra do pronunciamento do mestre, para que veiculam são importantes e peri6dicas. Não há
possibilitar-lhe a exata compreensão, fica-nos a negar. Mas, a prevalecer este argumento, imunes - e
convicção de que o que identifica, distingue, carac- pela mesma razão - estariam os catálogos e almana-
teriza o peri6dico (que aqui nos interessa) que goza ques anuais e as agendas, de toda ordem, que apre-
da imunidade constitucional, é o que vefcula idéias, senlam informações da maior importAncia e são pe-
no interesse social da melboria do nível intelectual, ri6dicas.
técnico, moral, poIftico e humano da comunidade. Baleeiro, no Direito tribut4rio brasileVo (10. ed.
E mais: o que, cumprindo essa missão, se edita e revisada e atualizada por F. B. NoveIli, Forense,
publica em intervalos certos, predeterminados, co- 1981. p. 92) contribui para aclarar as diividas:
nhecidos; ou como define o Vocabulário jurfdico, de "A Emenda n!? I, de 1969, interpretada literal-
De PIácito e Silva (v. 3, vb. peri6dico), "se efetiva mente, parece beneficiar papel para qualquer im-
(•••) em épocas certas e determinadas", em dias de- pressão. Mas, cremos a ratio juris deve preponderar
terminados da semana. do mês ou do ano. São pe- sobre a letra, que não reproduz a cláusula introduzi-
ri6dicos, assim, os semanários, quinzenários, men- da em 1946: 'papel destinado exclusivamente?t im-
sárioS e anuários. presSão de livros, peri6dicos e jornais'. Este ainda é
Ou, como deÍme o Diccionario de bibIiotecolo- o objetivo constitucional de proteção ?t educação, ?t
gfa, de Domingo Buonocore - (Santa Fé, Libreria Y cultura e ?t liberdade de comunicação e de pensa-
Editorial CasteIlvi): mento. Não teve a Constituição Federal o prop6sito

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de beneficar a impressão de catálogos, anúncios e Em suma, não é porque o catálogo ou lista tele-
papéis de interesse mercantil exclusivo. Prevalece, fônica seja fisicamente parecido com o livro ou a
pensamos, a restrição da lei ordinária, pois a reserva revista, ou então porque seja publicado periodica-
da Constituição anterior deve ser subentendida pelo mente, que se lhe pode estender a citada imunidade,
fim evidente almejado pelo constituinte." pois isso constituiria uma interpretação literal do
O fato de ser peri6dica a publicação, por si 56, referido dispositivo constitucional, totalmente
não lhe confere o direito à imunidade. Importa que inadmissível. "
preencha a finalidade teleol6gica que a Constituição 13. A declaração de voto vencedor do Juiz Nel-
implicitamente deu à seqüência: "o livro, o jornal e son Schiavi aduziu (fls. 1382-3):
os peri6dicos" • "Assim, à evidência. a expressão 'pericSdicos',
11. Mais ainda, a publicação se faz remunera- não abrange apenas publicações feitas com regulari-
damente, isto é, cobrada dos assinantes a insercão de dade, mas aquelas que, como o livro e o jornal, te-
seus nomes etc. nas contas telefônicas (ver fi. 51); e nham conteódo cultural.
sujeita a exploradora - como expresso nas Condi- O sentido teleológico da norma não admite outra
ções gerais (fls. 53) - aos 'tributos incidentes'; e interpretação, de sorte que a ratio juris deve prepon-
disso tinha e tem pleno conhecimento a recorrente, derar sobre a letra.
inscrita no Cadastro de contribuintes mobiliários Na real verdade, o objetivo da Constituição é de
etc. (fls. 1270/1), recolhendo tributos (ISS e taxas). proteção à educação, à cultura e à liberdade de co-
E, obviamente, a isenção não redundará em be- municação e de pensamento.
neftcio de qualquer natureza para os usuários; por- Portanto, como adverte Aliomar Baleeiro, 'não
que, ao contratar, conhecia suas obrigações, inclusi- teve a Constituição de 1967 o propósito de benefi-
ve fiscais; mas apenas benefícios para a empresa, no ciar a impressão de catãIogos, anÓDcios e papéis de
seu lucro comercial, que, se é de desejar ocorra - interesse mercantil exclusive' (cf. Direito tributário
e faz parte da essência do regime capitalista -, nem brasileiro. 3. ed. p. 94).
por isso deve advir ou crescer à custa de favores que De qualquer forma, não se enxerga nos pericSdi-
onerem o erário. cos editados pela impetrante matéria de conteMo
12. Por isso, o ac6rdão recorrido citou o voto do cultural, literário, científico ou educativo, em or-
eminente Ministro Osvaldo Trigueiro, no RMS n 2 dem a gozar da pretendida imunidade.
17.804, aduzindo que este tribunal (fls. 138011), Poderão ter caráter informativo, mas isso, por si
s6, não autoriza a imunidade, tanto mais em razão
"(•••) já decidiu que o guia telefônico, por conter da predominante fmalidade lucrativa."
além dos endereços dos assinantes, publicidade co- 14. Argumenta-se com o texto do Decreto n2
mercial, não goza da isenção prevista na Lei n 2 351, 88.221, de 7 de abril de 1983, em especial o § 12, do
de 1948. ~ bem verdade que se trata de ac6rdão an- art. 12, verbis (fl. 1392):
tigo, que decidiu questão sob a égide da Carta Mag- "§ 12 As listas telefônicas, sob qualquer forma
na de 1946, mas as definições dadas por ele, atra- ou denominação, se conceituam como publicações
vessando os tempos, ajustaram-se aos dispositivos técnicas periódicas, destinadas à divulgação de in-
da nova Constituição. E o que se verifica no voto do formações sobre assinantes do serviço póblico de
eminente Ministro Oswaldo Trigueiro: 'Está claro, telefonia, em que o interesse preponderante seja a
assim, que a lei distingue dois tipos de li~: os de consulta do nómero do telefone."
leitura de qualquer natureza, lançados ou nao no
comércio do ramo, e os volumes destinados a mera Não me parece tenha a invocação o alcance que
divulgação ou publicidade de interesse comercial. se lhe emprestou: a classificação técnica significa
Nesta última classe parecem-me incluídos os catálo- apenas que deve obedecer a certas condições especí-
gos em geral, editados por casas de comércio. Tenho ficas, tecnicamente estabelecidas no contrato, obje-
como fora de dúvida que um catálogo telefônico é tivando a padronização desse tipo de publicações.
publicação que se destina, tipicamente, li divulgação 15. E quanto as periódicas,. vem ele explicitado
das empresas concessionárias de serviço telefônico' no art. 4 2, 11, do decreto:
(Revista Trimestral de Jurisprudência, 47/240). .. 11 - a periodicidade da edição das listas será fi-
Dal porque, ao contrário do que sustentou a im- xada pelo Ministério das Comunicações, conside-
petrante, não apresenta o menor interesse para o rando os acréscimos e alterações a serem procedidos
desfecho da questão o fato de prestar ela um serviço nas listas e as demais conveniências técnicas opera-
pdblico obrigatório de orientação aos usuários de cionais e econômico-fmanceiras."
telefones e ao público em geral, gratuitamente, nos Basta a leitura desse item para verificar o alcance
casos enumerados na Lei n 2 6.874, de 3 de dezem- da expressão publicação técnica periódica do § 12 do
bro de 1980. Este serviço, contudo, não é prestado art. 1: é técnica, porque obedece a certas conveniên-
sem nenhuma retribuição, como evidenciam os cias de realização; e é periódica não em períodos
contratos anexados à inicial, pois além da publicida- certos, determinados, mas de acordo com as "con-
de cobrada dos assinantes, os catálogos telefônicos veniências técnicas, operacionais e econômico-fi-
também se destinam a incentivar o uso do telefone, nanceiras"; e ao arbftrio do Ministério das Comuni-
aumentando a receita da empresa que o explora. cações.
Assim, não resta a dúvida de que eles constituem Não me parece se possa subordinar a imunidade
volumes impressos para a divulgação e publicidade constitucional à variabilidade e instabilidade desses
de interesse exclusivamente comercial, sem qual- dados de conveniência, e dependente da fIxação pelo
quer conteádo ideol6gico ou cultural que os tornem Ministério das Comunicações; nem - ainda que as-
equiparáveis aos livros, definidos como obras de sim não fosse - se haveria de buscar a inteligência de
conteMo literário, artfstico ou cientffico, ou então norma constitucional de tal magnitude em decreto
com jornais, revistas ou pericSdicos de idêntico con- executivo que nem mesmo se além aos limites da lei
teMo. que regulamenta.

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16. Invoca a recorrente a jurisprudência deste . "N,? que ~ ao ~xto constitucional, que defere
Supremo Tribunal Federal como favorecendo sua a lIDumdade tnbutária ao livro, ao jornal e aos pe-
pretensão. Vejamos: riódi~os, .assim como ao papel destinado à sua im-
O primeiro ac6rdão pr6ximo à questão é o do p~ao, lIDporta saber se revista, no caso revista
RMS n 2 17.804 - relator Ministro Djaci Falcão técnica, se compreende entre os periódicos a que
(ft.TJ, 47/240-2). Não serve às teses da recorrente: alude a cláusula que outorga a imunidade. '
embora diga respeito explicitamente a papel, em seu . A regra ~nnenêutica, para detenninar, na espé-
voto o eminente relator não deixa de assinalar ci- Cie, ~ ac:ePçao do vocábulo periódico, no texto
tando o Ministro Cunha Melo, que a Lei n 2 351 :'te- COnstItuCIOnal, é a regra comum: cumpre perquirir
ve como desideratum o favorecimento de livros re- se o legislador constituinte usou esse tenno no seu
~stas e jornais de diwlgação proveitosa para ~ re- si~ficadO ~, com~ ou se quis atribuir-lhe
gime, para as justificações (deve ser instituições), senbdo peculIar, que a Ciência ou a técnica lhe em-
para a cultura nacional". E conclui: presta. Parece evidente que o sentido desse vocábu-
"É de ponderar ainda que se trata de favor legal. lo, no caso vertente, deve ser pedido ao uso comum
Portanto, a reclamar interpretação estrita." ao significado usual que a língua corrente lhe con~
E, mais explícito ainda, o voto do eminente Mi- fere.
nistro Oswaldo Trigueiro, já transcrito, em parte.
Vale completá-lo (ft.TJ, 47/241 ): Ora, no seu significado comum, ligado à idéia de
"Em favor de sua pretensão, a impetrante invoca publicação, periódico é tenno que indica 'publica-
ção que aparece a intervalos iguais' (Freire, Laude-
dois textos legais: o Decreto-lei n2 8.644, de 1946, e lino. Dicionário da lIngua ponugueSD. vb: periódi-
aLein2 351,de 1948. co. In: Caldas Aulete Dicionário contempordneo da
Quanto à primeira, não me parece que resolva a
controvérsia. Refere-se ela h situação das empresas lIngua ponuguesa) quanto à mesma palavra. registra
editoras de jornais e revistas. Como esclarece a au- este sentido: 'jornal, revista, almanaque etc. que se
publica em dias fixos e determinados'. Assinala, por
toridade alfandegária, não é o caso da impetrante, sua vez, Aurélio Buarque de Holanda, no Pequerw
que certamente não se qualifica como editora de pe- dicionário brasileiro da IIngua ponuguesa, acerca,
riódicos, obrigada a organizar-se como empresa de també~, do tenno periódico: 'designativo da obra
capital representado por ações nominativas, perten- ou publicação que aparece em tempos detenninados;
centes a brasileiros (art. 160, da Constituição de jornal com dias fixos para a sua publicação' •
1946).
A lei aplicável à hipótese seria a de n2 351, cujo Esse mesmo sentido é consignado na Lei n!!
art. 12 isenta de direitos o papel com linha d'água, 5.250, de 9 de fevereiro de 1967, que regula a liber-
destinado à impressão de livros. dade de manifestação do pensamento e de informa-
A alfândega baseou o ato impugnado na exceção ções. 'São empresas jornalísticas, para os fins da
do art. 2 2, segundo o qual não se consideram livros, presente lei' - preceitua o art. 3 2, § 42, desse ato le-
para os efeitos dessa lei, os volumes impressos para gislativo - 'aquelas que editarem jornais, revistas ou
diwlgação ou publicidade de interesse comercial. outros periódicos'. Não im~rta que a definição se
Está claro, assim, que a lei distingue dois tipos haja aí estabelecido para os fins da disciplina da li-
de livros: os de leitura de qualquer natureza, lança- berdade de manifestação do pensamento e de infor-
dos ou não no comércio do ramo, e os volumes des- mações. O que conta, no que diz respeito à q.uestão
tinados a mera diwlgação ou publicidade de inte- ora examinada, é que, na prescrição legal ai men-
resse comercial. Nesta última classe parecem-me in- cionada, ~ incl~ o pe!iódico no gênero a q'ue per-
cluídos os catálogos em geral, editados por casas de tencem os JOrnaIS e reVIStas, uma vez que outra coisa
comércio. Tenlw como fora de dúvida que um catá- não quer dizer o art. 3 2, § 4 2, quando se refere a em-
logo telefônico é publicação que se destina, tipica- presas que editarem jornais, revistas ou outros pe-
mente, à divulgação de interesse comercial dar em- riódicos.
presas concessionárias de serviço telefônico" (grifo Isto posto, nada faz ao caso o tratar-se de revista
nosso). técnica, já pela suma importAncia de que se pode re-
De parte as diferenças de dados, os votos autori- vestir a publicação de matéria técnica ou científica,
zam conclusões não favoráveis h recorrente. já porque revistas desse gênero alcançam, por vezes,
17. Outro, no Ag. n2 56.889 (relator Ministro circulação até maior do que a de muito jornal bene-
Aliomar Baleeiro, RTJ, 67/44112), afirma que "es- ficiário da imunidade."
tão protegidos pela imunidade do art. 19,111, d, da
Constituição Federal, quanto ao imposto municipal Ainda que não me parece sirva à recorrente.
de serviços, os editores que publicam revistas técni- 18. O RE n 2 86.026 (relator Ministro Djaci Fal-
cas ou científicas". E explicita que essa imunidade cão, RTJ, 84/270-3) cuidou também de revistas téc-
"objetiva o resguardo do mandamento tutelar da li- nicas ou científicas e invoca os dois precedentes an-
berdade de imprensa". E embora invocado, de pas- 1eriores (Ag. n2 56.889 e RE n2 77 .867).
sagem, em arrazoado da recorrente não se há de O RE n2 87.049 (relator para o acórdão o Minis-
pretender que a lista telefônica se equipare, ou avi- tro Cunha Peixoto -RTJ, 87/608-12) entendeu que
zinhe de "revista técnica ou científica". "a imunidade estabelecida na Constituição é ampla,
Outro, muito citado, o RE n2 77.867 (relator abrangendo os serviços prestados pela empresa jor-
Ministro Leitão de Abreu, RTJ, 721189-94), reafrr- nalística na transmissão de ant1ncios e de propagan-
ma a tese: de que "revista técnica se inclui entre os da".
periódicos, a que alude esse preceito constitucio- Nesse caso, examinou-se, sobretudo, o aspecto
nal" . indicado nessa ~menta, como integrante, compo-
A preocupação, in casu, é com revista técnica nente, da necessidade de amparar a atividade cultu-
periódica e daí o voto, na parte conclusiva, do emi- ral a que serve e facilitando-lhe a edição e circula-
nente relator (RTJ, 721193/4): ção.

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19. Mais recentemente, no RE n2 87.633 (relator ção de pensamento, art. 153, § 82, da Constituição
Ministro Cordeiro Guerra -RTJ, 89/278-81), a Se- Federal.
gunda Turma decidiu: Por peri6dico há de se entender qualquer outra
"ICM. Os calendários comerciais não consti- forma impressa de publicação, al~m dos livros e
tuem periódicos para os efeitos da imunidade cons- jornais, que veiculem noticias, id~ias ou pensamen-
titucional assegurada pelo art. 19, 111, d, da Consti- tos.
tuição Federal, pois não se destinam a veicular pen- Os calendários comercias, como as folhinhas e
samentos e id~ias. RE não conhecido." agendas, não são livros,jomais, revistas ou peri6di-
Vale transcrever algumas passagens. De início, cos, no sentido de vefculos da manifestação do pen-
do despacho do Vice-Presidente do Tribunal de samento humano. Constituem uma simples merca-
Justiça de São Paulo, Milton Evaristo dos Santos, doria de consumo, periodicamente posta em circula-
transcrevendo a sentença, mantida pelo acórdão re- ção, mas não são peri6dicos no sentido legal e cons-
corrido (RTJ, 891279»: titucional, de modo a autorimr a pretendida imuni-
.. A sentença, mantida pelo v. ac6rdão, salientou: dade'."
'A atividade do impetrante ~ a edição de calendários 20. Como se vê, não é da orientação da Corte a
comerciais, sem nenhum valor de 'peri6dico', como ampliação do alcance da imunidade, que o ponha
pretende. além da fmalidade teleol6gica que teve sua assegu-
Não~, assim, jornal, revista ou peri6dico. Sim- ração no texto constitucional.
plesmente ~ calendário comercial e qualquer inter- O teleologismo da norma se fixa como o alcance
pretação de alcance, seria tecnicamente condenável cultural ("a fim de facilitar sua divulgação, e, com
e, o que ~ mais grave, legalmente inadmisstvel, ela, a cultura nacional" (Ferreira Filho, M. G. Co-
merecendo condenação unânime da doutrina, nos mentários à Constituição brasüeira. 3. ed. Saraiva,
estados de direito" (fi. 63) •. 1983. p. 155). Não o tem a pretensão da recorrente,
Por.seu turno, a recorrente, com base no pareceI, que a norma não cobre, porque a isso não se amolda.
aduz ser o calendário 'uma publicação periódica, Ampliá-lo para atender aos interesses da recor-
porque sai cada ano, o seu perlodo ~ evidente e co- rente seria conferir-lhe elastério que não tem, data
mo tal não foge ao conceito de periódico, ~ exata- venia dos que afirmam o contrário (fls. 366-85).
mente uma publicação peri6dica e está compreendi- Pouco tenho que acrescentar a essa exposição,
do, por força conceitual irretorqutvel, na isenção le- que pouco se aduziu a mais no debate desta hipótese;
gal. Não seria possfvel ao diploma máximo isentar nem, data venia, os argumentos contrários me con-
de impostos os peri6dicos (sic) e querer excluir venceram do meu erro.
qualquer publicação periódica, seja qual seja o pe- Dentre estes devo especial atenção a algumas
ríodo, em que se publique. Quando a Constituição afirmações feitas na discussão.
Federal isentou de impostos o livro, qualquer que A primeira é a de que periódico é "qualquer pu-
seja, sem maior ou menor distinção, abrangendo to- blicação, reiterada de tempos em tempos" (p. 30 do
do e qualquer livro, isentou também não só o jornal, voto do relator - Parecer do Prof. Geraldo Ataliba).
publicação que se conhece pelo papel, pelo formato Ora, a prevalecer esta interpretação, há que re-
ou forma e pelo gênero reconhecidamente efêmero conhecer a imunidade a todas as publicações, ou
de seu conceito de notfcias, mas estendeu a isenção quase todas: a começar dos calendários e folhetos de
aos peri6dicos, gênero de material impresso, a que casas comerciais, dos panfletos e outros papéis dis-
chamamos muitas vezes revista, menos efêmero que tribufdos com propaganda de vendas de objetos, das
o jornal e que não se publica diariamente mais em agendas, dos almanaques etc. que, periodicamete, se
cfrculos ou perfodos outros' (fls. 38-9)." fazem, conforme a conveniência dos donos, e que
E, depois, trecho do parecer da Procuradoria- também servem ao esclarecimento dos comprado-
GeraI da Reptfblica (RTJ, 281279/80): res.
"Para se ver inclutda na imunidade do art. 19, A segunda, provém do memorial do ilustre pa-
111, d, da Magna Carta, insiste a recorrente em con- trono da recorrente, Prof. Ives Gandra da Silva
fundir a edição de calendários de fudole comercial Martins, partindo da afirmação inicial de que as lis-
com a de peri6dicos. tas telefônicas "são livros, em seu aspecto formal,
A disposição constitucional citada especifica ex- porque não se distinguem de outras publicações do
pressamente os casos de imunidade, que são: gênero, assim como em seu conteúdo material, pois
'O livro, o jornal e os periódicos, assim como o fornecem informações e divulgam cultura editados
papel destinado h sua impressão.' periodicamente" •
Objetivando, para fins principalmente culturais, A partir dat, também, todos os textos que se pu-
a difusão dos mesmos em todas as camadas da po- blicassem, de tempos em tempos, seriam periódicos
pulação. e gozariam do favor legal.
Conforme acentuado, são por sua própria natu- Assim, diz o eminente Ministro Célio Borja, que
reza insuscetiveis de interpretação, por indispont- "qualquer publicação que tenha forma de livro,
veis, as normas constitucionais relativas h mat~ria de jornal ou de peri6dico e preste informações está a
tributária, não havendo, pois: duplo dtulo protegido, já porque ~ livro, jornal ou
'Como prolongar a vontade da norma constitu- periódico, já porque presta informações" (p. 11 do
cional, numa abrangência que, em momento algum, voto).
seria razoável admitir na mens legis (•••) (fi. 63): Com essa amplitude, abolir-se-á o ISS, ou qual-
E no voto do eminente relator: (RTJ, 89/280): quer outro imposto sobre tais publicações, de qual-
'Creio que bem observou o ilustre Procurador de quer natureza: agendas, propagandas turísticas de
Justiça Durval Cintra Carneiro, fi. 145, a imunida- firmas comerciais e hot~is, libretos de programação
de assegurada no art. 19, IH, d, da Constituição Fe- . distribufdos para conhecimento de hóspedes, cardá-
deral deve ser entendida como instrumento da reali- pios de restaurantes, bulas de medicamentos ou
mção da garantia constitucional da livre manifesta- prospectos de propaganda de produtos - de cosméti-

68
cos a preservativos -, cartazes etc., pois, tudo in- comercial, ou profissional, que requeste clientela ou
forma, para esta ou aquela finalidade, abstraído o serve aos interesses privados de empresas ou presta-
conteúdo ético da informação, e quase sempre, pe- dores autônomos de serviços" (Limitações constitu-
riodicamente, de tempos em tempos: nas tempora- cionais ao poder de tributar. 3 ed. Forense, 1974.
das de turismo, nas saisons das grandes companhias p.205).
de teatro, ou nas eleições, também periódicas etc. E acrescentava:
E tudo sem verificar a natureza da informação, "Mas não E livro, jornal ou peri6dico, para esse
moral ou imoral, boa ou má, simplesmente infor- efeito jurfdico, o catálogo impresso de mercadorias,
mação. Ao contrúio, aliás, do que sustenta o mesmo os aImanaques, boletins, estatutos, cartazes,posters,
e ilustre Prof. lves Gandra da Silva Martins no seu awIsos etc. que as firmas industriais ou comerciais
Teoria da imposição tribut4ria, quando afmna: distribuem quer entre seus subordinados, quer ao
...
"( ) pttblico.
O STF já decidiu que o corpulento guia ou indi-
Por outro lado, a interpretação finalística leva à
consideração de relevância, qual seja, a de que, ao cador de telefônicos ainda que utiUssimo acervo de
falar o constituinte em livro, jornal, pericSdico e pa- informações (no Brasil já publicou a Constituição e
pel de imprensa, pretendeu exclusivamente tornar dados históricos; nos EUA existem os das 2flIIldes
imunes atividades destinadas a formar culturalmente cidades nas bibljotecas pttblicas), não· E 'Uvro para
ou informar isentamente o povo brasileiro. Preten- gozo da imunidade do papel em que o imprimem'"
deu, inequivocamente, impedir que o Estado, por (ac. de 5 de dezembro de 1967, reI. D. Falcão,RTJ,
meio da imposição tributAria, manipulasse a verdade 471240 (fls. 371).
cultural ou a informática noticiosa, dificultando ao Tanto assim que no Direito tributário brasilei-
povo receber imparcialmente notícias e cultura. ro (lO. ed. revista e atualizada por Flávio B. Novel-
Parece-nos, também, que a interpretação teleo- li. Forense, 1981. p. 92)explicitou:
lógica, pela conseqüência meridiana do intuito le- "A Emenda n~ 1, de 1969, interpretada literal-
gislativo, não permitiria que entre tais fatos coloca- mente, parece beneficiar papel para qualquer im-
dos sob a proteção da imunidade constitucional pu- pressão. Mas, cremos, a rotio iuris deve preponderar
dessem ser colocadas publicações que visassem sobre a letra, que não reproduz a cláusula introduzi-
exatamente o 0fOsto, ou seja, desculturar o povo e da em 1946: 'Papel destinado exclusivamente à im-
desinformá-lo.' pressão de livros, pericSdicos e jornais'. Este ainda é
Trazem-se em abono da tese da recorrente pare- o objetivo constitucional de proteção ~ educação, à
ceres dos eminentes Ministros Cunha Peixoto, Cor- cultura e à liberdade de comunicação e de pensa-
deiro Guerra e Tbompson Flores, aos quais nos mento. Não teve a Constituição Federal o propósito
prendem não apenas a admiração irrestrita como a de beneficiar a impressão de catálogos, andncios e
estima imensurável. papEis de interesse mercantil exciusivo. Prevalece,
Analisemos, contudo, o tema nos aspectos que pensamos, a restrição da lei ordinária, pois a reserva
propõem. da Constituição anterior deve ser subentendida pelo
O eminente parecerista Cunha Peixoto começa fim evidente almejado pelo constituinte.
por assinalar que a imunidade Eobjetiva, não subje- Não E imune papel para imprimir guia telefônico
tiva, citando Pontes de Miranda, lves Gandra, (RMS n~ 17.804167, Falcão, RTJ, 471240), nem es-
Aliomar Baleeiro, Moreira Alves e Carlos Madeira. capa ao imposto de transmissão (, imcSvel de jornal,
Pontes de Miranda, no trecho citado no parecer, Hahnemann (RMS n~ 10.114165, RTJ, 34/578). Ver
afirma: Comentário sob n~ 11 ao 8ft. 14.
"A Constituição de 1967, art. 20, m, d, pri- Os livros são os de leitura, não os pautados para
meira parte, foi alEm da Constituição de 1946, por- escrituração e fins análogos. O boletim distribufdo
que, em vez de somente falar do papel destinado regularmente por empresas privadas, para difusão
à impressão de livros, jornais e outros periódicos, se de seus negócios, propaganda, orientação de a~tes
referiu aos livros, aos jornais e aos outros periódi- e empregados etc., não E 'periódico' no sentIdo da
cos. O imposto não pode recair no papel, nem no li- Constituição. Admitir-se-á que o livro dtil, o didá-
vro' nem no jornal, ou em qualquer outro periódico. tico, por exemplo, para distribuição gratuita e cola-
A imunidade é objetiva; não subjetiva (Comentdrio.s boração com os serviços pdblicos de educação,
d Constituição de 1967. v. 2, p. 413).10 possa conter diScreta propaganda do ofertante ou de
Há, porém, ainda um pequeno trecho no co- terceiros, como meio de prover"lhe o custo."
mentArio de Pontes que não se transcreveu no pare- Não se lhe convoque, portanto, a lição, que Eex-
cer: pressamente contrária..
"O imposto de renda incide quanto às rendas do Quanto à opinião do eminente Ministro Moreira
impressor, ou do encadernador, ou do editor, ou do Alves, . a que vem citada no parecer, não examina
autor. Os cartazes, como os folhetos de propaganda esta questão, mas a da não incidência sobre a publi-
e o ~l em que se imprimem, esses, não são imu- cidade nos jornais, decidida no RE n~ 87.049 (ftTJ,
nes' (Comentários d Constituição de 1967 - com a 87/(j(J8 e segs.).
Emenda n~ 1, de 1969, 2. ed. revista, RT. v. 2, p. Da mesma forma que o voto do eminente Mi-
429). nistro Carlos Madeira, no RE n~ 102.141 (JU'J,
Como admitir a restrição do mestre, se objetiva a 116/267 e segs.) refere-se mais diretamente ao livro
imunidade, e se, como salientam, nesta Corte, os e aos serviços que envolve, fora do alcance que aqui
defensores da tese da recorrente, de amplitude total? assumiu a imunidade. E scS vale com o voto que,
Quanto a Aliomar Baleeiro, já lhe examinamos a neste caso, S. Exa. proferiu.
posição em nosso voto transcrito, e, como vimos, o Como não colhe a invocação do RE n~ 77.867
eminente e saudoso jurista não reconhecia a amplia- (ftTJ, 72/193), no qual o eminente Ministro Leitão
ção da imunidade que aqui se pretende, excluindo de Abreu cuidou de imunidade tributAria de revista
expressamente "os que servem apenas à propaganda técnica, à qual não se negará a condição de pericSdi-

69
co, na acepção constitucional, como decidiu a 2! Mas, o que é mais importante, no Anexo I -
Turma. Condições gerais de contrato para edição de catálo-
A seguir, exemplifica o eminente parecerista. gos e guias telefônicos (fls. 48 e segs.), consta, à fl.
citando o Prof. Ives Gandra, com as separatas de li- 82, no item 19 - Dos tributos, subitem 19.2: "Sem-
vros, as "plaquetes", os fascículos de revistas técni- pre que solicitada, a Mitora apresentará à CRT p~­
cas e até com o Diálogo de Platão e outras obras, vas de regularidade de débitos fiscais, previdenciâ-
para dize!; que não deixam de ser livros. rios, trabalhistas e do ISS QN" •
Creio, contudo, que todos os diferenciarão de Este dado parece-nos suficiente: sabia a empresa
um catálogo de utilidades, ou eletrodomésticos de recorrente da obrigação quanto ao ISS, como dela
uma cadeia de lojas, ou supermercados, por exem- sabia a contratante-concessionma. Trata-se, agora e
plo. aqui, apenas de aumentar a receita, ou antes, dimi-
Diz, aliás, o ilustre parecerista, que têm as listas nuir a despesa e aumentar os lucros. À custa da mu-
telefônicas todas as características de livro e são pe- nicipalidade e dos munfcipes.
ri6dicas, como dispõem o 3rt. 12 da Lei n 2 6.874, de Este STF, nas vezes nas quais se pronunciou a
3 de dezembro de 1980, e o 3rt. 12 do Decreto n2 respeito da questão, expressa e diretamente, o fez
88.221, de 7 de abril de 1983. contrariamente à pretensão que ora se renova.
Dar, conclui pela imunidade. No RMS n 2 17.804-GB, rei. o eminente Minis-
Ora, um dos fundamentos da nossa discordância, tro Djaci Falcão, com declaração de voto do emi-
data venia, é precisamente a submissão da periodi- nente Ministro Osvaldo Trigueiro (RTJ, 47/240-42).
cidade à fixação pelo Ministério das Comunicações, E, recentemente, no RE n2 104.563, na Primeira
isto é, ao alvedrio de autoridade administrativa, com Turma, com os votos do relator e dos eminentes mi-
o que fica o texto constitucional com a interpretação nistros Néri da Silveira e Rafael Mayer, vencidos os
dele dependente quanto à periodicidade. ~ periódico eminentes ministros Octavio Gallotti e Sydney San-
ou não, conforme o Ministério das Comunicações. E ches.
se não se pode admitir ao legislador infraconstitu- No RE n2 102.141-1, relator o eminente Minis-
cional fixar o alcance do texto constitucioal, menos tro Carlos Madeira. o que se decidiu foi que na in-
ainda autoridade administrativa. terpretação da imunidade do livro se incluem os ser-
O parecer do eminente Ministro Cordeiro viços.
Guerra, ap6s salientar a importância do serviço Nem a amplitude de imunidade leva a admitir
prestado e de analisar os textos legais jâ citados e in- como peri6dicos todas as publicações que se fazem
vocar os mesmos precedentes, coincidentemente - de perfodos em perfodos. E quem o diz é o mesmo e
porque são os que existem - insiste na imunidade, eminente Ministro Cordeiro Guerra, no RE n2
peri6dico que é a lista telefônica e autêntico livro de 87.633-SP (RTJ, 89/278) assim ementado:
telefones. "ICM - Os caIendârios comerciais não consti-
E invoca decisões que, resolvendo situações as- tuem peri6dicos para os efeitos da imunidade cons-
semelhadas, viriam em prol da tese que defende. titucional assegurada pelo art. 19, m,d, da CF, pois
E renova argumento que lhe parece importante: não se destinam a veicular ou transmitir pensamen-
sem a publicidade e sem a imunidade, as publicações tos e idéias."
das listas - que incluem gratuitamente os nomes dos A essa definição o eminente Ministro Cordeiro
assinantes - teriam preço mais elevado, onerando- Guerra faz agora, no seu Idcido parecer, retificação,
os. para "modestamente aperfeiçoar a definição", que
Bem. Com isso, em verdade, se desoneram (tal- passarâ a ser:
vez, quem sabe!) os assinantes. "Por peri6dico há de se entender qualquer outra
Mas, oneram-se todos os contribuintes, princi- forma impressa de publicação, além dos livros e
palmente os que não têm telefone, ou pouco se utili- jornais, que veiculam notícias, informações, idéias
zam dele, porque o ISS que não se arrecada emagre- ou pensamentos" (parecer junto ao Memorial).
ce a receita pública e, possivelmente, engorda a·re- Desta forma, retificando o pensamento anterior,
ceita particular dos publicadores das listas. Que, o calendmo comercial passarâ a ser peri6dico, no
além do mais, ainda recebem a publicidade nelas sentido constitucional e gozando da imunidade por
inserida. veicular informações?
Tanto que não são as entidades prestadoras do Não é esta, contudo, a questão, mas a das listas
serviço de telefonia que pagam a publicação das lis- telefônicas.
tas; mas empresas gráficas, editoras que lutam - em Nessa mesma linha, o parecer do eminente Mi-
licitação - para publicâ-Ias, se comprometem a pa- nistro Thompson Flores, no qual, ap6s o exame da
gar àquelas concessionârias quantias pelo direito à .jurisprudência - em casos - data venia, diversos,
publicação; e depois vêm pleitear a imunidade tri- como vimos, S. Exa. encampa conclusões dos ou-
butâria. tros pareceres para admitir que como livros ou li-
Prova disso, aliás, é o contrato celebrado neste vros técnicos, não haveria como lhes negar a imuni-
caso e que serve de didâtico instrumento de exame - dade.
apenas para o nosso convencimento. E afirma:
Dele se vê que os lucros serão partilhados entre a ...
"( )
concessionâria do serviço - a Cia. Riograndense de Não fora assim, certamente não se tomariam
Telecomunicações (CRT) e a Guias Telefônicos do credores da imunidade, em comentârio, as relações
Brasil Ltda. (recorrente - CfB). Com bases cons- que os jornais, em forma de separata, vendidos à
tantes da clâusula sexta, explicitamente, conforme o parte, costumam publicar, em dias próximos ~ elei-
caso: 25% e 75%, respectivamente; 10% e 90% etc. ções, contendo a nominata dos eleitores, com indi-
(fl. 45) assegurando participação mínima à CRT cação das seções onde devem votar. Igualmente, os
(em 16.5.1978) - Cr$ 119.000.000, na I! edição e livros-índice, em volumes distintos, e referentes a
Cr$ 193.000.000, na 2! e segs. (fls. 46). tratados, a exemplo, como existe do Tratada de di-

70
reito comerr:ial brasileiro, de Carvalho de Mendonça. jornais que se adstringem a publicar anáncios, e que
ou do Tratado de direito privado, de Pontes de Mi- são imunes a impostos porque visam a divulgar in-
randa. E bem assim os livros contendo a tábua de formações ao pI1blico em gerai?
logaritmos, ou os atlas geogrificos e publicações Porventura os catálogos de biblio1ecas não pres-
outras e idênticas que se pOderiam declinar. Não tam informações de inleresse pI1blico?
contem eles qualquer matéria que se compreendem . Para mim, Sr. Presidenle, em matéria de infor-
na exemplificação de Baleeiro, nem mesmo na níação, desde que se trate de informação no inleresse
enumeração procedida por Amilcar de Ara4jo Fal- pt1blico, considero que os livros, jornais ou pericSdi.-
cão no bem deduzido parecer que se encontra na cos que exclusivamenle as veiculem gozem da imu-
RDA, 66/368/9. nidade tributária.
Ninguém, todavia, neP,d imunidade a qualquer' Por isso, Sr. Presidente, enlendo que essa imu-
das referidas publicações. ' nidade abarca os catãJogos telefônicos que prestam
Ora, não hi, data venia do eminente juriscon- informações no interesse do pI1blico em geraI.
sulto, como comparar os indicados com as listas te- Ademais, Sr. Presidenle, não me aflige a questão
lefônicas, aquelas publicações intrínsecas e extrinse- de saber se o pericSdi.co tem que ser regularmente
camenle livros, e, como tal, abrangidos pela imuni- editado. Revistas bã - e são elas peri6dicos - de pe-
dade. riodicidade muito irregular, como, a título exem-
Essa inklpretação dos eminentes pareceristas plificativo, as de instituições científicas. Nem por
assegura a imunidade extensamente, lendo-se am- isso deixam de ser peri6dicos. A periodicidade é
pliativamente o favor constitucional, contra, data inerenle a publicações da natureza de catálogos Ie-
venia, a regra de hermenêutica que ensina que as lefônicos, que têm de ser, periodicamenle, atualiza-
concessões de prerrogativas, ou favores se interpre- dos.
tam estritamente. E beneficia-se o inleresse patri- Para concluir, Sr. Presidenle, também não me
monial particular com ônus para os cofres pI1blicos. assalta a preocupação com referência ao problema
Não tenho, Sr. Presidenle, o que retificar no do lucro. Se formos levar em consideração isso,
voto que proferi no RE n~ 104.563, que, ao contrá- chegaremos à conclusão de que, a não ser as publi-
rio, ratifico. cações oficiais, que são deficitárias, todas as mais,
Data venia dos que votaram em sentido contrá- em geral, visam, também, a lucro. Não cobram os
rio, conheço do recurso pela divergência, porEm lhe jornais, as revistas e, às vezes, até as editoras de li-
nego provimento. vros para que se coloquem neles anáncios. E deixam
~o voto. eles de ter, por isso, a imunidade tributária? NIo.
Por tudo isso, Sr. Presidenle, com a devida v&ria
VOTO dos que sustentam em contrário - e nIo estou indo
contra a cultura nacional, porque entendo que E
o Sr. Ministro Moreira Alves: Sr. Presidenle, muito pior conceder imunidade para toda esta para-
para caracterizar o que seja livro,jornal ou pericSdi.- fernália pornográfica que existe em nossas bancas de
co, levo em consideração, precipuamente, o conle4- jornal' do que outorgá-la a catálogo que, como ou-
do: é livro, jornal ou fCri6dico toda publicaç.ão.q!,le, tros catãJogos de prestaçio de informações do inle-
de acordo com o § 8- do art. 153 da COnstitulÇao, resse p4blico, se encontram no Ambito do § 8!! do
traduz a manifestação de pensamento, de convicção art. 153, que lhes protege, inclusive, da censura prE-
poIrtica ou fIlos6fica, bem como a prestação de in- via -, conheço do recurso e lhe dou provimento.
formações. Com relação à manifestação de pensa-
mento, de convicção poIftica ou fIlos6fica, não há VOTO
que fazer considerações, no caso. Elas são necessá-
rias com referência à prestação de informação. E, O Sr. Ministro Djaci Falcão: Sr. Presidenle, há
pelos votos que se proferiram até então, observo que quase 20 anos atrlil, em dezembro de 1967, tive
os tributaristas salientam que a imunidade abarca oportunidade de votar, como relator no Recurso de
publicação que informa no interese p4blico. E, a Mandado de Segurança n'2 17.804, em tomo do tema
meu ver, esse é o ponto capital em matéria de in- da imunidade de que agora também se cogita.
formação. ~ oportuno observar que a Carta poUtica de 46
A informação quando é feita por meio de livro, limitava a proibição do lançamento do imposto so-
jornal ou peri6dico, no interesse p4bliço, dá mar- bre papel destinado exclusivamenle à impressão de
gem à imunidade prevista no art. 19. E isso justa- jornais, peri6dicos e livros. Por isso o legislador or-
mente o que explica a razão por que agenda, cardá- dinário não exorbitava de sua competência, quando
pio, catálogo de comerciante não estão abrangidos tributava livros e peri6dicos. Tanto assim que a Lei
por essa imunidade. Agenda não visa a informar_ n~ 351, de 1948, estabelecia a isenção de papel ~
Uma agenda se destina a anotações, e 56 subsidia- impressão de jornais, revistas e livros, nlo cODSlde-
riamente presta informações para dar-lhe maior in- rando livros os volumes impressos, por qualquer
1eresse, facilitando-lhe a comercialização. O objeti- forma, para divulgaçlo ou publicidade de interesse
vo de catálogo de propaganda de comerciante não comercial. Daf a decisão proferida pela antiga Pri-
é informar o pI1blico no interesse gerai, mas, sim, no meira Turma, no Recurso de Mandado de Segurança
interesse do comerciante para aumentar suas vendas. n'2 17.804, como consta daKTJ, 47/240-2.
Nessa ordem de idéias, Sr. Presidente, não tenho O constituinte de 67, a meu ver, ampliou a imu-
d4vida em capitular como livro ou peri6dico, con- nidade, alcançando não s6 o papel como o pr6prio
forme o caso, os catálogos de bibliotecas, os catálo- livro, o jornal e todos os pericSdi.cos. Não há ddvida
gos de museus, os catálogos ou guias de ruas. Um de que a empresa exploradora de serviços p4blicos
catálogo guia de rua não visa a prestar informações de telecomunicações está obrigada a divulgar, pe-
de interesse p4blico? O mesmo não sucede com os riodicamente, a relação de assinanles, nas condições
peri6dicos que dão informações turísticas? Não há defInidas em regulamento, segundo dispõe a Lei n~

71
6.874, de 3 de dezembro de 1980. A seu turno, o implicitamente deu r. seqüência: '0 livro, o jornal e
Decreto n2 88.221, de 83, foi claro ao conceituar as os periódicos'.
listas telefônicas como publicações técnicas peri6di- Com efeito, não colhe a interpretação gramatical
cas, destinadas r. divulgação de infonnações sobre do vocábulo, tomado isoladamente, pois há de ser
assinantes do serviço ptiblico de telefonia, em que o considerado no contexto para alcançar o seu exato
interesse preponderante seja a consulta do nmnero sentido.
do telefone. A interpretação do texto constitucional reclama
A lista de assinante é, sem dtivida, relação nomi- a indagação do intento da norma e a apreensão do
nal e gratuita dos detentores de aparelhos telefôni- valor que a informa, r. luz dos princ!pios básicos do
cos, para possibilitar intercomunicações entre os regime.
usuários. A publicidade que se lhe arbitra, como A proteção constitucional a essas entidades se
afmna Hely Lopes Meirelles, é meramente acess6- faz, sem dúvida. em obs&juio r. difusão das idéias,
ria, visa apenas reduzir os custos operacionais dos dos conhecimentos e das informações como instru-
serviços, e, conseqüentemente, baratear as tarifas mentos da cultura. na realização dos valores sociais
telefônicas em proveito dos próprios usuários. e humanos.
As listas telefônicas, no mundo moderno da pu- As listas telefônicas, ainda que sejam material-
blicidade, situam-se como periódicos, no sentido mente publicações periódicas, não o são no sentido
amplo, e prestam serviços de interesse ptiblico, não da forma essencial, pois falta ~ informações que fa-
visando exclusivamente o interesse mercantil. Há, zem seu objeto, simples registro de assinantes e de
nas listas telefônicas informações de interesse ptibli- ntimeros de telefones, o teor ou contetido cultural,
co como há nos livros e nos jornais, como também que no entanto se apreende mesmo nas simples not!-
se vê nos catálogos, em bibliotecas, guias turísticos. cias jornalísticas, que fazem a história do cotidiano.
Da!, a meu ver, além dos fundamentos já espo- Não se nega a relevante utilidade ptiblica das
sados pelos eminentes ministros relator, Octavio listas telefônicas, mas disso não resulta que elas se-
Gallotti e Moreira Alves, no que toca ao § 82 do art. jam um consistente meio de comunicação de idéias,
153 da Constituição da Reptiblica, o catálogo tele- endereçadas ao espfrito humano, destinação que a
fônico é, sem dtivida, um periódico, que não tem Constituição contempla, quando dá tratamento pri-
fim meramente mercantil, presta informações de vilegiado aos livros, jornais e periódicos, fatores da
interesse geral, de interesse ptiblico. integração e dinâmica cultural da sociedade e do
Afigura-se exata a conclusão do voto do emi- chamado Estado de Cultura, realidade e desígnio
nente Ministro Octavio Gallotti ao dizer: dos quais não participam as publicações de listas te-
"Se a lista telefônica integra a categoria dos pe- lefônicas.
riódicos, pela regularidade da sua edição e se, pela Está demonstrada a dominância da linha juris-
definição da legislação ordinária, visa, primordial- prudencial desta Corte, no sentido de afastar a in-
mente, r. divulgação de informações indispensáveis, clusão de tais listas dentre os periódicos protegidos
não há que se cogitar da sua exclusão do alcance da pela imunidade, e essa linha deve ser corroborada,
regra constitucional. pois é a que atende ao propósito constitucional.
Cumpre distinguir a finalidade protegida (divul- Ao conceituar as listas telefônicas como 'publi-
gação de informações sobre assinantes), do meio cações técnicas periódicas', o Decreto n2 88.221 não
ilcess6rio utilizado para persegui-la (veiculação de pretendeu inseri-las nas categorias constituc;.>nal-
publicidade), que de nenhum modo desnatura a mente imunes, e somente se o flzesse é que !>C pode-
imunidade assegurada pela Constituição, seja o ria cogitar de sua inconstitucionalidarle, poIS, na
antincio inserido em livro, seja jornal ou outro pe- verdade, bem distinto é esse conceitc do de periódi-
riódico." co, que é tomado, no texto constitucional, no seu
De modo que, nesta síntese, acompanho os votos sentido usual, que é também c histórico-cultural, de
que dão provimento ao recurso a partir do exaustivo imprensa periódica, de revistas que se editam com
votO do Relator Sydney Sanches data venia dos vo- certa regularidade para a transmissão de manifesta-
tos em contrário. ções do espfrito humano, em busca de comunicação
de idéias.
VOTO Tendo em vista os fundamentos do regime de-
mocrático, aspectos inafastáveis da interpretação do
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Presidente): No texto constitucional, o que ar se visa em tiltima ins-
julgamento da turma a que se referiu o eminente tância, é o resguardo da livre expressão do pensa-
Ministro Oscar Corrêa, aderi a seu voto com uma mento, da liberdade de imprensa e do direito de in-
breve fundamentação. formação, afastando a coarctação e o constrangi-
mento que poderia advir das imposições fiscais.
Vou-me permitir reiterar agora, apenas para A interpretação sistemática leva r. mesma con-
marcar o meu pensamento, a minha colocação a res- cepção do que seja o periódico, pois o § 82 do art.
peito, e ainda com maior satisfação intelectual, por- 153 da Constituição, sobre a liberdade de manifesta-
que S. Exa. enriqueceu ainda mais o voto que pro- ção de pensamento, indica as mesmas categorias,
ferira com argumentos que tanto mais me conven- que teve como imunes ao imposto no art. 19, IH,
ceram. Disse eu, na parte final do meu voto, acom- d, isto é, a publicação de livros, jornais e periódicos,
panhando o de S. Exa., na turma, que tomava como como imunes r. censura e independente de licença da
pedra de toque daquela minha adesão a exata con- autoridade.
clusão do voto do Ministro Oscar Corrêa neste tó- Rui Barbosa Nogueira refere-se r. imunidade
pico. objetiva de que gozam, 'como impressos e vefculos
"O fato de ser periódica a publicação, por si scS, da liberdade do pensamento', ou ainda, que 'todas as
não lhe confere o direito r. imunidade. Importa que espécies desses gêneros de vefculos do pensamento,
preencha a finalidade teleol6gica que a COnstituição em razão da liberdade de imprensa foram e estão

72
abIIotucameote libertos da escravidão do imposto' Madeira, retifii:ando o meu voto, para conhecer do
(Dir. tribo atuoJ. 4n73). ante as oonsideraçóes do Sr. Ministro Oscar
J'CCUISO,
Pelo exposto, pedindo vênia aos eminentes Mi- eonea. DO refereme 1 divergência jurisprudencial.
BÍItroI GalIotti e Sanches, em que pese lIOI seus Nego~ contudo, provimento do recurso.
dou~ e RSpeit4veis votos, acompallhO os eminen-
tes Ministros Oscar Conta e N&i da SilveiIa, co- EXTRATO DA ATA
nhecendo do recurso e.lhe negando provimento."
Assim, colICluo meu voto, pedindo Vênia aos
eminentes colegas que votaram em sentido conri- RE n 2 101.441-RS - ReL: Mino Sydney San-
rio, acompanhando com muita satisfaçio intelec- ches. Recte.: Guias Telef&icos do Brasil Ltda.
(Advs.: Celso Alves Feitosa, Carlos Robichez
tual, o voto ainda agora proferido pelo eminente
Ministro Oscar Corrêa, conhecendo do recurso, mas Penna, Ives Gandra da S. Martins, Luiz Carlos Bel-
lhe negando provimento. tiol, Rosa Maria M. Brochado e outros). Recda.:
Prefeitura Municipal de Porto Alegre (Adv.: WaI-
kirio U~ Bertoldo).
VOTO (RETIFICAÇÃO) DecisIo: conheceu-se do recurso unanimemente,
e se lhe deu provimeuto, 'leDcidos os ministros
O Sr. -Ministro Carlos Madeira: Sr. Presidente, Carlos Madeira, A1dir Passarinho, Oscar Corrêa,
em face da divec~@acia jurisprudencial ressaltada N&i da Silveira e Rafael Mayer.
pelo eminente Ministro Oscar Corrêa, retifico a Presidência do Sr. Ministro Rafael Mayer. Pre-
conclusão do meu voto para conhecer do J'CCUISO sentes 1 seasão os SI'S. Ministros Djaci Falcão, Mo-
mas a ele negar provimento. reira Alves, NEri da Silveira, Oscar Corrêa, A1dir
Passarinho, Sydney Sancbes, Octavio GaUotti,
RETIFICAÇÃO DE VOTO Carlos Madeira e C&io Barja. Ausente, justificada-
mente, o Sr. Ministro Francisco Rezeck. Procura-
O Sr. Ministro AJdir Passarinho: Sr. Presidente, dor-GeraI da Repdblica, o Or. J~ Paulo SepdI~
igualmente me posiciono com o Ministro Carlos Pertence.

:TAXA DE LOCAliZAÇÃO - PODER DE POliCIA - BASE De cÁLCuw

- Taxa para localização e funcionamento de estabelecimentos


comerciais e industriais, profissionais e similares (abrangendo, in-
clusive, prevenção de incêndios).
O STF, de há muito (assim, já noRE n~ 80.441- RTJ, 88/882 e
segs.), tem admitido a constitucionalidade de taxas dessa natureza
que abarquem a localização -e a autorização anual para .funciona-
mento e permanência de estabelecimentos comerciais e similares,
desde que haja órgão administrativo que exercite essafaceta do p0-
der de polfcia do municfpio, e que a base de cálculo não seja ve-
dada.
Por outro lado, a circunstância de a base de cálculo da taxa ser
a área ocupada pelo imóvel não afaz idêntica à do IPTU (valor ve-
nal do imóvel), não incidindo, assim, na proibição do § 2~, do art.
18, da Carta Magna. lnexisthlcia, inclusive, de inadequação entre
essa base de cálculo e a taxa de que se trata.

SUPREMO TRmUNAL FEDERAL

RCCUISO Extraordinúio n 2 115.664


Recorrente: Banco Itad S.A.
Recorrida: Prefeitura Municipal de Sorocaba
RelDtor:Sr. MinistroMoreiroAJves

ACÓRDÃO Tribunal Fedem, na conformidade da ata do julga-


mento e das notas taquigrificas, por unanimidade de
votos, nIo conhecer do recurso.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acor- BrasOia, 22 de março de 1988 -MoreiroAJves,
dam os ministros da Primeira Turma do Supremo Presidente e Relator.

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