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Capacitação para

Abordagem Breve ao Tabagista


Material de Apoio
Apresentação

Uma equipe de saúde é composta por profissionais que atuam em diversos níveis e em conjunto,
de acordo com a função e a autonomia definidas para cada categoria, mas tendo em comum a
atribuição de colaborar e desenvolver atividades de promoção da saúde, prevenção de doenças e
agravos e auxílio da manutenção e recuperação da saúde.
O Programa Nacional de Controle do Tabagismo inclui participação multiprofissional e tem como
prerrogativa a capacitação dos profissionais para abordagem ao tabagista. Em razão das
reconhecidas consequências para a saúde, o tratamento para cessação do tabagismo deve ser
valorizado e priorizado nas unidades de saúde, tendo em vista que seu custo-efetividade é
padrão-ouro em comparação ao tratamento das doenças tabaco-relacionadas.
Este material de apoio foi elaborado pela Coordenação Estadual do Programa de Tabagismo
(Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas – CRATOD/São Paulo), com base no
conteúdo da Capacitação para abordagem breve ao tabagismo e da cartilha O agente comunitário de
saúde e o controle do tabagismo no Brasil, do Instituto Nacional de Câncer (INCA/MS), destinado a
profissionais de saúde de nível médio que atuem sob supervisão do responsável técnico.

Dr. Marcelo Ribeiro – Diretor Técnico do CRATOD/SES-SP


Dra. Sandra S. Marques – Coordenadora Estadual de Controle de Tabagismo – PECT/SES-SP
Maíra Rebouças – Assistente Farmacêutica
Éllis Ferreira Camacho – Enfermeira Facilitadora
Tabagismo
O que é?

É considerado um transtorno mental e comportamental decorrente do


uso de nicotina (substância psicoativa), com desenvolvimento de
dependência e doenças crônicas causadas pelos produtos e
subprodutos do tabaco.

• Tabagismo – primeira causa de morte evitável no mundo.


• Tabagismo passivo – terceira causa de morte evitável no mundo.
• O tabagismo é um fator de risco para seis das oito principais causas
de morte no mundo – doença isquêmica do coração, acidente
vascular cerebral (AVC), infecção respiratória baixa, doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), tuberculose, câncer de
pulmão, brônquios e traqueia.
• O tabaco mata até metade de seus usuários, cerca de 8 milhões de
pessoas a cada ano.
• Quase 80% dos 1,1 bilhão de fumantes do mundo vivem em países de
baixa e média renda.
A conta que não fecha
No Brasil, a arrecadação de
impostos sobre venda de
cigarros (R$ 13 bilhões ao ano)
abrange apenas 23% das
perdas geradas pelo
tabagismo para o país.
Gastos
Doenças tabaco-relacionadas

Fumar causa câncer de pulmão, laringe, rins, bexiga,


estômago, cólon, cavidade oral e esôfago, assim como
leucemia, bronquite crônica, DPOC, cardiopatia isquêmica,
acidente vascular cerebral (derrame), aborto, parto
prematuro, deformidades de nascimento e infertilidade,
entre outras doenças.
Boca e faringe
Cérebro
Laringe e traqueia Cancro
Acidente vascular cerebral
Cancro
Inflamação Cardíacas
Doença coronária
Esôfago e estômago Pulmão
Cancro Cancro
Úlcera Pâncreas Bronquite/enfisema
Cancro

Ginecológicas Testículos
Urinárias
Infertilidade Infertilidade
Cancro – bexiga
Aborto Impotência
Menopausa precoce
Cancro – colo do útero Ossos Pele Arteriais periféricas
Osteoporose Rugas e pele seca Arterite
Formas de consumo
Cigarro (4.700 substâncias)
Cigarros eletrônicos
e vaporizadores
Cachimbo Narguilé
Charuto

https://pt.tobaccoatlas.org/
Snus
Fumo de corda
Cigarro de palha
Rapé
Cigarro
aquecido
Tuberculose × Tabagismo
• Associação desfavorável entre a epidemia global de tuberculose e o
tabagismo, sendo a exposição ao tabagismo associada a infecção
tuberculosa, tuberculose ativa e mortalidade relacionada à tuberculose.
• O papel que a fumaça do cigarro desempenha na patogênese da
tuberculose está relacionado a disfunção ciliar, resposta imune
reduzida e defeitos na resposta imune.
• Entre indivíduos sem história de tuberculose, o risco de morte por
tuberculose é nove vezes maior em fumantes do que em não fumantes.
• A OMS pretende erradicar a epidemia de tuberculose até 2035 (2015).
Covid-19 × Tabagismo
• Considerando o contexto epidemiológico decorrente da pandemia
do coronavírus, estudos indicam associação entre tabagismo e
desfechos mais graves da Covid-19.
• Aumento no consumo e na procura por tratamento durante a
pandemia.
• Fake news: efeito protetor.
• Campanha Dia Mundial sem Tabaco 2020:
https://www.inca.gov.br/campanhas/dia-mundial-sem-
tabaco/2020/tabagismo-e-coronavirus.
Fumantes Doença pulmonar

Risco de complicação Risco de complicação


45% maior 88% maior

Mortalidade por Covid-19 Mortalidade por Covid-19


38% 60%

Prevalence, severity and mortality associated with COPD and smoking in patients with Covid-19:
a rapid systematic review and meta-analysis.
Controle do tabagismo
Privados de liberdade

As abordagens terapêuticas e a farmacoterapia aumentam a chance


de cessação do tabagismo nos presídios, com resultados semelhantes
aos observados na população geral. É indicado, portanto, que a
população carcerária receba atendimento para tratamento dessa
dependência, que deve ser oferecido respeitando-se as regras,
estruturas e especificidades do sistema carcerário (Portaria Conjunta
nº 10, de 16 de abril de 2020).
Privados de liberdade

Facilitadores / multiplicadores / agentes de saúde


• Fornecer apoio interpessoal, suporte e informações, de maneira
breve e pontual, com estímulo do autocontrole ou manejo em
situações de crise.
• Para casos mais complexos, comunicar e acionar equipe
especializada.
Convenção-Quadro da OMS para
o controle do tabaco

CQCT/OMS
• É o primeiro tratado internacional de
saúde pública da história da OMS.
• Representa um instrumento de resposta dos 192 países-membros
da Assembleia Mundial da Saúde à crescente epidemia de
tabagismo em todo mundo.
Convenção-Quadro da OMS para
o controle do tabaco

• Seu objetivo é “proteger as gerações presentes e futuras das


devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e
econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do
tabaco” (artigo 3º). Fonte: Inca/MS

Informações adicionais
• OMS: https://www.who.int/tobacco/en/.
• CQCT/OMS: https://www.who.int/fctc/en/.
Medidas MPower

Pacote de políticas com base


nas medidas da CQCT/OMS,
cuja capacidade de reduzir a
prevalência do consumo de
tabaco já foi comprovada.
Medidas MPower
Medidas MPower

MPower: Um plano de medidas para reverter a


epidemia de tabagismo
https://actbr.org.br/uploads/arquivo/343_Tabaco_ebook.pdf
Política Nacional

Observatório da Política Nacional de


Controle do Tabaco
https://www.inca.gov.br/observatorio-da-politica-nacional-
de-controle-do-tabaco/politica-nacional
Tabagismo passivo
• Tabagismo passivo é a inalação da fumaça de derivados do tabaco
(tais como cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo, narguilé e outros
produtores de fumaça) por indivíduos não fumantes que convivem
com fumantes em diferentes ambientes, respirando as mesmas
substâncias tóxicas que o fumante inala.
• O fumo é a maior fonte de poluição em ambientes
fechados e não há níveis seguros de exposição.
• Metade das crianças no mundo estão expostas
a fumaça de cigarro em casa.
Nicotina
• A nicotina, presente em qualquer derivado do tabaco, é considerada
droga por possuir propriedades psicoativas, ou seja, ao ser inalada ela
produz alteração no sistema nervoso central, causando modificação no
estado emocional e comportamental do usuário, o que pode induzir a
abuso e dependência.
• O quadro de dependência resulta em tolerância, abstinência e
comportamento compulsivo para consumir a droga, estabelecendo-se
padrão de autoadministração caracterizado pela necessidade física e
psicológica da substância, apesar do conhecimento de seus efeitos
prejudiciais à saúde (Inca/MS).
Nicotina do tabaco
consumido por prazer,
melhora do desempenho,
regulação do humor
Tolerância e dependência
física (desejos
compulsivos de fumar)

Uso de tabaco para


autorregular os
sintomas de abstinência
Ficar sem fumar
produz sintomas de
abstinência
Adaptado de Talwar et al.
Efeitos da nicotina

Humor: ↑ sensação de prazer, estimulante, ansiolítico

Performance : ↑ atenção, melhora nas tarefas cognitivas

Peso corporal: ↓ apetite, ↑ processo metabólico

Neuroadaptação: tolerância e síndrome de abstinência


Efeitos da nicotina

Liberação da noradrenalina:
• efeitos cardiovasculares – aumento de frequência cardíaca e pulso;
• náuseas e vômitos;
• piloereção;
• melhora da atenção.
Parar de fumar
Por que não é fácil?

• O usuário de tabaco desenvolve relação de dependência global


com o cigarro, que se insere na rotina diária mais do que qualquer
outra droga.
• A dependência é física, psicológica ou emocional
e de condicionamento.
• Com a ausência da nicotina, o usuário pode
apresentar síndrome de abstinência e, em alguns
casos, passar por um processo de luto pela perda
do “amigo”. Tobacco Atlas 2018
Síndrome de abstinência

Com a queda dos níveis de nicotina no sangue, o usuário começa a


apresentar sinais e sintomas desconfortáveis, que são aliviados após
consumir novamente a substância.
• Inicia-se oito horas após o último cigarro e atinge o auge no
terceiro dia.
• Apoio interpessoal e uso de uso de estratégias e medicações
auxiliam nessa fase.
Síntese dos sintomas e sinais da síndrome de abstinência de nicotina
Psicológicos
Humor disfórico ou Ansiedade
deprimido Dificuldade para concentrar-se e para manter a atenção
Insônia e sonolência diurna Inquietação
Irritabilidade, frustração ou Fissura ou craving (vontade incontrolável de fumar, dura até
raiva 5 min)

Biológicos Sociais
Frequência cardíaca diminuída Ganho de peso Relacionamento social
Pressão arterial diminuída Incoordenação motora e instável em consequência
Aumento de apetite tremores do estado ansioso
Benefícios

Parar de fumar sempre vale a pena, em qualquer momento da vida,


mesmo que o fumante já tenha doença causada pelo cigarro, como
câncer, enfisema ou AVC. A qualidade de vida melhora muito ao parar
de fumar.

• Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao


normal.
• Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue.
Benefícios

• Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza.


• Após 12 a 24 horas, os pulmões funcionam melhor.
• Após 2 dias, o olfato melhora (percebem-se mais os cheiros), assim
como o paladar (degustam-se melhor os alimentos).
• Após 3 semanas, a respiração torna-se mais fácil e a circulação
melhora.
Benefícios

• Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à


metade.
• Após 10 anos, o risco de sofrer infarto é igual ao de pessoas que
nunca fumaram.

Quanto mais cedo parar de fumar, menor o risco de adoecer.


Papel do profissional
diante do tabagismo
• Realizar ações de prevenção de doenças e de promoção da saúde
voltadas para o paciente, a família e a comunidade.
• Contribuir para a melhora da qualidade de vida da população.
• Orientar tabagistas sobre tabagismo passivo e suas consequências.
• Alertar adultos para não fumarem em locais fechados e na presença
de crianças e para não as estimularem a comprar cigarros.
• Enfatizar aos comerciantes que a venda de cigarros e outros
produtos derivados do tabaco a menores de 18 anos de idade é
proibida pela legislação federal (Lei nº 8.069/1990).
• Aconselhar os tabagistas, sempre que oportuno, a pararem de
fumar, esclarecendo sobre os malefícios dos produtos fumígenos
em abordagem mínima ou breve ou de encaminhamento para
unidade de saúde da Rede SUS, de seu município ou município
próximo, credenciada para abordagem e tratamento do tabagismo.
• Apoiar e motivar os tabagistas que se encontram em tratamento na
Rede SUS para que continuem frequentando as reuniões semanais,
quinzenais e mensais nas unidades de saúde e para que
permaneçam sem o cigarro.
Adaptado de O agente comunitário de saúde e o controle do tabagismo no Brasil
Tratamento do tabagismo
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) é o órgão do Ministério da Saúde
(MS) responsável por:
• Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT);
• articulação da rede de tratamento do tabagismo no SUS, em
parceria com estados, municípios e Distrito Federal.
Considerando que fumar é um comportamento extremamente
reforçado diariamente, a abordagem com base no modelo cognitivo-
-comportamental é a técnica recomendada para o tratamento do
tabagista.
Entre suas premissas está o entendimento de que o ato de fumar é um
comportamento aprendido, desencadeado e mantido por
determinadas situações e emoções, que leva à dependência em razão
das propriedades psicoativas da nicotina.
O Ministério da Saúde oferece tratamento gratuito aos tabagistas
brasileiros que desejam parar de fumar, em unidades de saúde
integrantes do SUS, por meio da abordagem intensiva ao fumante
realizada por profissionais capacitados.
O objetivo é a aprendizagem de um novo comportamento, mediante
promoção de mudanças nas crenças e desconstrução de vinculações
comportamentais ao ato de fumar, combinando intervenções
cognitivas, treinamento de habilidades comportamentais e apoio
medicamentoso após avaliação e indicação do profissional.
O apoio medicamentoso inclui os seguintes medicamentos:
• nicotina (adesivo, goma e pastilha), em Terapia de Reposição da
Nicotina (TRN) isolada ou em combinação;
• cloridrato de bupropiona 150 mg (comprimido).
Abordagem ao tabagista
Abordagem intensiva ao tabagista

• Deve ser incluído no programa aquilo pelo qual o usuário manifestar


interesse nessa abordagem.
• O agendamento de consulta inicial deve ser feito conforme fluxo da
unidade.
• O acompanhamento tem duração de um ano, de forma individual ou
em grupo, com quatro sessões iniciais estruturadas semanais, duas
sessões quinzenais e sessões mensais de manutenção.
Abordagem intensiva
ao tabagista
Abordagem mínima ou breve ao tabagista

• Todos os envolvidos deverão ser treinados para perguntar sobre o


uso de tabaco, registrar as respostas nos prontuários dos pacientes,
dar breves conselhos sobre o abandono do hábito de fumar e
encaminhar os fumantes para o tratamento mais adequado e eficaz
disponível no local.
Cartilha do agente comunitário da saúde
Abordagem mínima ou
breve ao tabagista
Deve ser implementada como
componente essencial do
protocolo de atuação na área da
saúde.
Abordagem breve
• Tem como objetivo conhecer situações de risco que levam o
indivíduo a fumar e fazer com que ele consiga enfrentar tais
momentos sem acender o cigarro.
• É estratégia de atendimento com tempo limitado.
• Foca a mudança de comportamento; sensibiliza para a busca de
tratamento.
• Intervenções breves (IB) bem-sucedidas não incluem medicações,
treino de habilidades, condicionamentos ou psicoterapia.
• O primeiro impacto da IB é motivacional; seu efeito é desencadear a
decisão e o comprometimento com a mudança.
• Abordagem breve/mínima
PAAP
Perguntar – Avaliar – Aconselhar – Preparar

• Abordagem básica
PAAPA
Perguntar – Avaliar – Aconselhar – Preparar – Acompanhar
• Quem? Qualquer profissional de saúde e/ou capacitado.
• Quando? Breve abordagem na rotina de atendimento do
profissional de saúde (3 a 5 min).
• Como? Você fuma?
Deseja parar?
Estímulo à mudança de comportamento.
Intervenção breve: princípios básicos e aplicação passo a passo
http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201704/20170424-
095204-001.pdf
Passo 1: Pergunte

1. Você fuma? (Reconhecimento do tabagista no território)


2. Há quanto tempo?
3. Qual é a quantidade de cigarro usada por dia?
4. Em quanto tempo após acordar você acende o primeiro cigarro?
5. Você está interessado em parar de fumar? Caso afirmativo: Quando?
6. Você já tentou parar de fumar antes?
7. O que aconteceu?
Passo 2: Pergunte e avalie

Perguntas 1 e 2
Além de informar se a pessoa entrevistada é fumante, essas questões
são importantes, pois, quanto mais cedo se começa a fumar e quanto
maior a quantidade de cigarros fumados na vida, maior é a
probabilidade de desenvolver doenças relacionadas ao tabagismo.
Passo 2: Pergunte e avalie

Perguntas 3 e 4
Juntas, essas perguntas servem para conhecer o grau de dependência
da nicotina que o fumante apresenta. Caso fume 20 ou mais cigarros
por dia e acenda o primeiro cigarro até 30 min após acordar, o paciente
apresenta provável dependência física à nicotina elevada. Isso reforça a
necessidade de encaminhá-lo a uma unidade de saúde da Rede SUS
credenciada para abordagem e tratamento do tabagismo.
Passo 2: Pergunte e avalie

Perguntas 5, 6 e 7
Indicam o interesse, ou não, do fumante em deixar de fumar.
Quem está interessado em parar de fumar encontra-se motivado e
certamente será mais receptivo à abordagem do profissional.
Também é importante saber se o fumante já tentou parar de fumar
antes, bem como a razão de não ter conseguido, para que, desta vez,
ele alcance seu objetivo.
Passo 3: Aconselhe

• Aconselhar todo paciente tabagista a parar de fumar.


• Informar o paciente sobre os malefícios de fumar.
• Reforçar os benefícios de parar de fumar.
• Falar do tabagismo passivo e sugerir não fumar dentro de casa.
• Orientar e encaminhar o paciente para avaliação e tratamento.
Passo 3: Aconselhe

• Abordar o paciente com firmeza, porém sem agressividade nem


preconceito, sempre com postura acolhedora.
• Dirigir a intervenção aos fatores que tornam a cessação de fumar
relevante para o paciente.
• Utilizar dicas de acordo com o estágio motivacional do paciente
(etapa de estratificação).
Estágios motivacionais
Etapas de estratificação
Etapas de estratificação
Podem ser identificadas no discurso da pessoa quando indagada
acerca de sua vontade de mudança de hábito e de seus planos para
buscar tratamento (se quer ou não parar e se está pronta para tentar).
A identificação é simples e tem como base informações que podem
ser coletadas por qualquer profissional da equipe de saúde no
acolhimento ao usuário com utilização do modelo de identificação dos
estágios motivacionais.
Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: o cuidado da pessoa tabagista
(Cadernos de Atenção Básica, 40)
Pré-contemplação
Usuário não pensa na possibilidade de mudança; é o “usuário feliz”.

Frases típicas O que fazer


Estou bem assim. Não confrontar.
Não quero parar de fumar. Oferecer orientações sobre riscos do
Eu sei que faz mal, mas pelo menos não bebo. tabagismo e os benefícios de parar de fumar.
Minha mulher tá mandando... Mostrar disponibilidade de apoio e tratamento
caso mude de “opinião”.

“Caso mude de ideia, pode contar com a equipe de saúde.”


Uma abordagem com vistas à redução de danos pode ser utilizada,
desde que não seja encarada como meta final, mas como possível
estratégia para a cessação definitiva.
Deve lembrar-se de que a redução de cigarros fumados não reduz o
risco de doenças relacionadas ao tabaco.
Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: o cuidado da pessoa tabagista
(Cadernos de Atenção Básica, 40)
Contemplação
Usuário pensa na possibilidade de mudança, começa a perceber algum
prejuízo causado pelo tabagismo.
Frases típicas O que fazer
Tenho me sentido mal. Relacionar o mal-estar com o tabagismo.
O cheiro está me incomodando. Incentivar a cessação como opção de melhora.
Estou com medo de adoecer. Oferecer orientações sobre o tratamento e
encaminhar, se necessário.

“Sabia que o SUS oferece tratamento gratuito


com acompanhamento profissional?”
Ambivalência
Usuário indeciso, não sabe ao certo o que quer.
Frases típicas O que fazer
Eu quero parar, mas não agora. Reforçar os benefícios.
Tenho medo da síndrome de abstinência. Estimular bons motivos para cessar.
E se eu engordar... Oferecer apoio interpessoal e da equipe em
momentos de crise.

“Você não está sozinho! Caso tenha dúvidas,


posso marcar uma consulta com o profissional.”
Preparação
Usuário apresenta comprometimento com a mudança, deseja parar de
fumar ou se interessa pelo tratamento.
Frases típicas O que fazer
Estou pronto. Incentivar e apoiar a decisão.
Gostaria de participar do programa. Perguntar como gostaria de parar (sozinho ou
Não quero mais fumar, me ajuda. com tratamento).
Agendar primeira avaliação profissional.

“Excelente escolha! Você pode ser inserido no programa,


caso deseje, e farei o encaminhamento.”
Passo 4: Prepare

• Estimular o paciente a marcar a data de parada nos próximos 10 dias.


• Métodos de parada: gradual ou abrupta.
• Analisar os motivos que levam o paciente a fumar.
• Informar sobre a síndrome de abstinência e os momentos de fissura
que duram até 5 min.
• Estimular a adoção de hábitos de vida saudáveis.
• Oferecer material de autoajuda.
Passo 5: Acompanhe

• A partir da data do abandono do fumo, o usuário entra na fase da


ação.
• A avaliação é feita por equipe multiprofissional.
• O objetivo é identificar as situações de risco e oferecer alternativas
para superá-las.
• Deve-se marcar e estimular consultas de retorno.
Ação
Usuário coloca em prática as estratégias para mudança de
comportamento e marca o dia para parar de fumar. Pode apresentar
síndrome de abstinência nos primeiros dias.
Frases típicas O que fazer
Estou confiante. Estimular o paciente a se manter firme em seu
Me sinto muito irritado. propósito.
O remédio não tá fazendo efeito. Encaminhar o paciente para profissional de
referência, em caso de falha no manejo.
Sugerir estratégias simples.
Parabenizar sempre.
Dicas simples
• Se estiver acostumado a fumar depois de tomar café,
evitar a bebida diminui a vontade de fumar. Nesses
casos, pode-se substituir o café por sucos e,
principalmente, por bastante água gelada.

• Escovar os dentes logo após as refeições ajuda a


resistir à vontade de fumar nesses momentos.
Dicas simples
• Chupar gelo ou balas dietéticas, mascar chicletes
dietéticos ou cristais de gengibre são boas
alternativas para resistir à fissura.
A fissura dura 5 min.

• Praticar atividades físicas, se possível e aconselhado


por profissional específico.
Manutenção
O usuário consegue estabelecer nova rotina sem o tabaco. Sintomas
de abstinência podem ser leves ou ausentes.
Frases típicas O que fazer
Me sinto bem melhor. Continuar parabenizando.
Acho que estou ganhando peso. Reforçar os benefícios que o paciente sente,
Às vezes sonho com cigarro. valorizando sua autoestima.
Estimular o paciente a identificar situações de
risco que o fazem fumar.
Recaída × lapso

Durante o processo após a ação, o paciente pode apresentar:


• lapso: um “deslize” seguido de retomada do padrão de não
consumo;
• recaída: retomada do padrão de uso, mesmo que em menor
quantidade (o usuário não consegue se manter sem o consumo por
tempo prolongado).
Algumas vezes, o paciente sinaliza ou “planeja” a recaída.
Lapso × recaída

Algumas situações podem deixar o paciente mais vulnerável ao uso, por


exemplo:
• perda de ente querido;
• separações afetivas;
• festas e baladas;
• alteração da condição emocional ou psicológica;
• uso de outras substâncias.
Consulte:
Abordagem breve
http://books.scielo.org/id/sj9xk/pdf/nunes-9788572166751-05.pdf
Apoio interpessoal
O que fazer
• Aceitar sem críticas.
• Diferenciar lapso de recaída.
• Estimular a tentar de novo.
• Identificar os fatores que contribuíram para a recaída.
• Traçar estratégias para nova tentativa.
Apoio interpessoal
O que fazer
• Avaliar causas e circunstâncias do insucesso:
• Que situação o fez acender o primeiro cigarro?
• O que estava fazendo nessa hora?
• Como se sentiu ao fumar esse primeiro cigarro?
• O que aconteceu depois?
• Já pensou em nova data?
• Agendar nova consulta para reiniciar o tratamento.
Considerações
• É importante entender que o tabagismo é um transtorno causado
pela dependência da nicotina, e não um desvio de caráter.
• Para criar vínculo com o paciente, é necessário acolhimento,
respeito e empatia.
• Nem sempre o paciente tem êxito nas primeiras tentativas, e o
apoio interpessoal é necessário para superar a frustração.
• Não há nada mais poderoso que você possa fazer por seus pacientes
do que ajudá-los a parar de fumar.
Links para consulta
Convenção-Quadro da OMS para o controle do tabaco
https://www.inca.gov.br/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-
tabaco/convencao-quadro
Programa Nacional de Controle do Tabagismo no Brasil: avanços e desafios
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/Programa_nacionaL_de_controle
_do_tabagismo.pdf
Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco
https://www.inca.gov.br/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-tabaco
Portaria nº 571, de 5 de abril de 2013. Atualiza as diretrizes de cuidado à pessoa
tabagista no âmbito da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças
Crônicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e dá outras providências.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt0571_05_04_2013.html
Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: o cuidado da pessoa
tabagista (Cadernos de Atenção Básica, 40)
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_40.pdf
Portaria Conjunta nº 10, de 16 de abril de 2020. Aprova o protocolo clínico e
diretrizes terapêuticas do tabagismo.
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-conjunta-n-10-de-16-de-abril-de-2020-
253756566
Resolução SS nº 100, de 18 de outubro 2019. Aprova o protocolo clínico e as
diretrizes para o controle do tabagismo, inserido no programa respectivo, e dá
providências correlatas.
http://www.imprensaoficial.com.br/DO/GatewayPDF.aspx?link=/2019/executivo%2
0secao%20i/outubro/19/pag_0027_6b8f5db1ddfdde9047809d99ef89a260.pdf
Resolução SS nº 47, de 7 de abril de 2020. Aprova norma técnica concernente à
abordagem ao paciente tabagista à vista da pandemia do Covid-19 (novo
coronavírus), e dá providências correlatas.
http://www.saude.campinas.sp.gov.br/lista_legislacoes/legis_2020/E_R-SS-
47_070420.pdf
O agente comunitário de saúde e o controle do tabagismo no Brasil
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//cartilha-do-
agente-comunitario-2014.pdf
Publicações Inca/MS
https://www.inca.gov.br/publicacoes?title=&field_ano_value=All&field_assuntos_t
id%5B0%5D=795&page=3
Folheto Você está querendo parar de fumar?
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//voce-quer-
parar-de-fumar.pdf
Locais de tratamento no estado de São Paulo
http://www.saude.sp.gov.br/cratod-centro-de-referencia-de-alcool-tabaco-e-
outras-drogas/tratamento
Dia Nacional de Combate ao Fumo 2020 – tabagismo e coronavírus
https://controlecancer.bvs.br/vitrinas/post_vitrines/dia-nacional-de-combate-ao-
fumo-2020-tabagismo-e-coronavirus
ACT – Promoção da saúde
https://actbr.org.br
Referências bibliográficas
WHO global report on trends in prevalence of tobacco smoking 2000-2025.
2. ed. Geneva: WHO, 2018. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/272694/9789241514170-eng.pdf?ua=1.
Acesso em: 28 ago. 2020.

WHO framework convention on tobacco control. Disponível em:


https://untobaccocontrol.org/intro. Acesso em: 28 ago. 2020.

OPAS. Tabaco. Disponível em: https://www.paho.org/pt/node/4968. Acesso em: 27


ago. 2020.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Programa


Nacional de Controle do Tabagismo. Rio de Janeiro: Inca/MS, 2019.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria nº 571, de 5 de abril de 2013. Atualiza as
diretrizes de cuidado à pessoa tabagista no âmbito da Rede de Atenção à Saúde
das Pessoas com Doenças Crônicas do Sistema Único de Saúde (SUS) e dá outras
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