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CENTRO EDUCACIONAL HENRY DUNANT

Aluno: Deivid Wanderson Couto dos Anjos


Análises Clínicas – Profª.: Suely – Saúde Pública
TRABALHO: FUMO, ÁLCOOL, DROGAS, ABORTO, MÉTODOS CONTRACEPTIVOS

1. FUMO

 Tabagismo: um grave problema de saúde pública

É fator causal de quase 50 diferentes doenças incapacitantes e fatais. Responde por 45% das mortes por infarto
do miocárdio, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema), 25% das mortes por doença
cérebro-vascular (derrames) e 30% das mortes por câncer. E 90% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em
fumantes. Desencadeia e agrava condições como a hipertensão e diabetes. Também aumenta o risco das pessoas
desenvolverem e morrerem por tuberculose. Mata 5 milhões de pessoas anualmente no mundo. No Brasil são 200 mil
mortes anuais. Se a atual tendência de consumo se mantiver, em 2020, serão 10 milhões de mortes por ano e 70%
delas acontecerão em países em desenvolvimento. É mais do que a soma das mortes por alcoolismo, AIDS, acidentes
de trânsito, homicídios e suicídios juntos.

 Tabagismo – uma doença

A nicotina do tabaco causa dependência química similar à dependência de drogas como heroína ou cocaína. O
tabagismo está na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), no grupo dos transtornos
mentais e de comportamento decorrentes do uso de substância psicoativa. É considerado uma doença pediátrica, pois a
idade média da iniciação é 15 anos.
Comporta-se como uma doença crônica e seu tratamento deve ser valorizado fazendo parte das rotinas de
atendimento de unidades de saúde do SUS da mesma forma como é feito para hipertensão e diabetes.

 Tabagismo passivo

Mesmo as pessoas que não fumam correm sérios riscos. Quando submetidas ao tabagismo passivo em
ambientes fechados, têm um risco 30% maior de desenvolverem câncer de pulmão, 25% maior de desenvolverem
doenças cardiovasculares além de asma, pneumonia, sinusite, dentre outras. O tabagismo passivo é a 3ª causa de morte
evitável no mundo e o maior responsável pela poluição em ambientes fechados. Não existe sistema de ventilação para
ambientes fechados que seja eficiente para eliminar a exposição às substâncias tóxicas da fumaça ambiental do tabaco
nem seus riscos.

 Determinantes sociais do tabagismo

O tabagismo é uma epidemia construída por um comércio alimentado por várias estratégias para aumentar o
consumo dos produtos de tabaco:
• Propaganda e promoção – para atingir adolescentes associando imagens positivas ao produto e ao ato de
fumar;
• Baixo preço dos produtos – os baixos preços junto com propagandas facilitam e estimulam a iniciação entre
crianças e adolescentes;
• Facilitação do acesso aos produtos – o grande número de pontos de venda, a colocação dos produtos em
prateleiras de supermercados e lojas de conveniência, a venda de cigarros avulsos ou em máquinas automáticas de
venda, facilitam o acesso e dificultam o controle de venda a menores de idade;
• Mercado ilegal (contrabando e falsificação) – o mercado ilegal coloca no mercado produtos ainda mais
baratos e dificulta o controle do acesso aos produtos por menores de idade;
• Lobby econômico e político – incentivos fiscais e impedir medidas para reduzir o consumo. – a prática de
grandes transnacionais de cigarro de buscar incentivos fiscais junto aos governos, ajuda na redução de custos de
produção e na redução dos preços dos produtos junto aos consumidores; a prática de lobby junto a governantes,
políticos e legisladores visa criar um clima de boa vontade com o negócio de tabaco e interferir na adoção de medidas
para controle do tabagismo.
A globalização dessas estratégias faz com que o consumo de tabaco continue a crescer em todo o mundo,
sobretudo em países de baixa renda. A cada dia, 100.000 jovens começam a fumar e 80% deles vivem em países
pobres. A dinâmica de livre mercado global permite que companhias transnacionais de tabaco promovam um rápido
deslocamento de seus investimentos de países ricos para países pobres, na medida em que os primeiros vêm adotando
medidas cada vez mais rígidas para reduzir o tabagismo e o impacto das doenças crônicas tabaco-relacionadas sobre
seus sistemas de saúde.

 Tabagismo – um entrave para o desenvolvimento

No mundo e no Brasil, o tabagismo vem se concentrando cada vez mais em populações de menor escolaridade
e renda. Por serem dependentes da nicotina, muitos chefes de família gastam boa parte da renda familiar na compra de
cigarros. A incapacitação causada pelas doenças tabaco relacionadas gera perda de produtividade e exclui muitos
chefes de família do mercado de trabalho. Tabaco e pobreza formam um círculo vicioso difícil de escapar, a não ser
que os tabagistas sejam encorajados e apoiados para abandonar o consumo.
Esse cenário levou 192 países membros da Assembleia Mundial de Saúde a negociarem e adotarem o primeiro
tratado internacional de saúde pública sob a coordenação da Organização Mundial de Saúde (OMS): a Convenção
Quadro para Controle do Tabaco (CQCT). A adesão do Brasil a este tratado foi ratificada pelo Congresso Nacional em
novembro de 2005. A Convenção articula ações multissetoriais e transfroteiriças para responder a globalização da
epidemia. O seu objetivo maior é:
“Proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais,
ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco,
proporcionando uma referência para as medidas de controle do tabaco... a fim de reduzir de
maneira contínua e substancial a prevalência do consumo e a exposição à fumaça do tabaco”.
As principais medidas visam:
• proteger a população contra a exposição à fumaça do tabaco em ambientes fechados;
• regulamentar os conteúdos e emissões dos produtos;
• desenvolver programas de educação e conscientização sobre os malefícios do tabagismo;
• proibir a publicidade, promoção e patrocínio dos produtos de tabaco;
• implementar programas de tratamento da dependência da nicotina;
• promover medidas de preços e impostos eficientes para redução do consumo;
• eliminar o contrabando;
• restringir o acesso dos produtos para os jovens;
• promover alternativas econômicas para a produção de tabaco e proteger o meio ambiente e a saúde do
trabalhador dos riscos causados pelas atividades de produção de tabaco.

 Controle do tabagismo no Brasil: avanços e desafios

Ações Estratégicas que vêm sendo desenvolvidas nacionalmente com a parceria da rede de controle do
tabagismo. São elas:
• Educação e Socialização do conhecimento:
- Campanhas: Dia Mundial sem Tabaco/Dia Nacional de Combate ao Fumo
- Ações em escolas – Saber Saúde – capacitação de professores para inclusão de discussão sobre o tema
tabagismo no currículo escolar como forma de prevenir a iniciação, tornar a escola livre de fumo, promover a cessação
do tabagismo, juntamente com outros temas de promoção de estilo de vida saudáveis.
- Ações em ambientes de trabalho: implantação de ações educativas e regulatórias para promover ambientes
de trabalho livres de fumo e tratamento para cessação de fumar para os trabalhadores. Nesse sentido, uma das
iniciativas do Ministério da Saúde para fomento de ações de promoção de ambientes livres de tabaco foi a criação da
Portaria nº 2.068/2005 que define incentivo financeiro para a adesão à Política Nacional de Promoção da Saúde pelos
Estados e Capitais.
Além disso, as vigilâncias sanitárias dos municípios vêm sendo capacitadas para fiscalização do cumprimento
da legislação nacional sobre ambientes livres de fumo. Trata-se de uma atividade desenvolvida pelo INCA, ANVISA,
Secretaria de Vigilância em Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.
• Tratamento para cessação de fumar em unidades de saúde SUS:
O tratamento do fumante foi assumido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, com isso, várias Portarias
Ministeriais foram publicadas:
- Portarias GM/MS Nº 1035/04 e SAS/MS/nº 442/ de 13 de agosto de 2004, definem que o tratamento do
tabagismo deve ser realizado através da abordagem cognitivo-comportamental obrigatória e apoio medicamentoso
quando indicado, e poderá ser realizado por qualquer unidade de saúde pertencente ao SUS, de qualquer nível
hierárquico, segundo critério do gestor municipal, desde que preencha os critérios de credenciamento definidos pelo
Plano de Implantação.
- Portaria nº 1.105/GM de 5 de julho de 2005, reiterada pela Portaria nº 2.084 de outubro do mesmo ano,
incorporaram os medicamentos utilizados no apoio à abordagem cognitivo-comportamental do fumante no
componente estratégico do Elenco de Medicamentos para Atenção Básica, passo fundamental no processo de
consolidação da atenção ao fumante no SUS.
Conforme pactuação na Comissão Intergestores Tripartite, o Ministério da Saúde está adquirindo e
encaminhando para as Secretarias Municipais de Saúde os medicamentos e os manuais a serem utilizados durante as
sessões da abordagem cognitivo-comportamenal. Mas para ter acesso a estes insumos os municípios precisam ter
unidades de saúde com profissionais capacitados e credenciadas para o atendimento ao fumante no CNES, e enviar
para as SES informações sobre as estimativas de atendimento para cálculo dos insumos a serem enviados. A Secretaria
Estadual da Saúde, com apoio do INCA/MS, é responsável pela articulação da implantação da rede de tratamento do
fumante no Estado, que envolve a capacitação dos profissionais de saúde e orientação aos gestores municipais.
• Promoção e defesa de medidas legislativas e econômicas: proibição da propaganda de produtos de tabaco;
obrigatoriedade de advertências sanitárias com fotos nas embalagens de produtos de tabaco; proibição de fumar em
ambientes fechados; restrição dos pontos de venda; fiscalização e controle de venda a menores de idade; aumento de
preços e impostos sobre os produtos de tabaco.
• Mobilização e controle social para proteção das ações de controle do tabagismo da interferência indevida da
industria do fumo;
• Fiscalização do cumprimento da legislação;
• Monitoramento e avaliação das ações;
• Vigilância epidemiológica de tabagismo na população geral, entre escolares, profissionais de saúde e
profissionais de educação.

 Resultados obtidos

Entre 1989 e 2005 o consumo per capita de cigarros caiu cerca de 32%. Já a prevalência de fumantes na
população acima de 18 anos, caiu de 34% em 1989 para 22% em 2003 e para 16% em 2006.

 Desafios

No entanto, ainda persistem vários desafios a serem enfrentados intersetorialmente para consolidação da
redução do consumo e de seu impacto. Dentre eles:
1. Os cigarros brasileiros são um dos mais baratos do mundo, o que facilita a iniciação entre jovens. Dados
nacionais ainda mostram uma elevada proporção de experimentação e iniciação no tabagismo entre adolescentes;
2. A legislação nacional que proíbe o fumo em ambientes fechados (Lei nº 9.294/96) encontra-se defasada em
termos de melhores práticas para proteção contra os riscos do tabagismo passivo, e ainda é pouco cumprida em alguns
setores, principalmente nos de entretenimento e hotelaria;
3. Menor redução da prevalência de tabagismo entre mulheres, quando comparada com a redução alcançada
entre homens;
4. Maior concentração do tabagismo na população de menor escolaridade, menor renda e na população rural;
5. Acesso ao tratamento para cessação de fumar ainda incipiente – apenas 6,8% dos municípios oferecem o
serviço no SUS;
6. Inclusão do tema controle do tabagismo na agenda de pactuação do SUS ainda incipiente;
7. Curso de graduação de profissionais de saúde ainda não insere sistematicamente o tema controle do
tabagismo na grade curricular;
8. A regulação dos produtos de tabaco no que tange seus conteúdos, emissões e das atividades de promoção
dos produtos enfrenta grandes resistências da indústria do tabaco, e é uma área que necessita de maiores investimentos
em pesquisa e geração de conhecimento;
9. O País é o segundo maior produtor e o maior exportador de fumo. 200 mil famílias de pequenos
agricultores inseridas na cadeia produtiva do fumo encontram-se em situação de grande vulnerabilidade econômica e
sanitária. A vulnerabilidade econômica se deve ao fato de que a maioria depende exclusivamente do fumo para
sobreviver. 85% da produção nacional de fumo é exportada, dependendo de uma conjuntura internacional de mercado,
num momento em que a Convenção Quadro mobiliza rápidas adesões dos países às suas medidas. A vulnerabilidade
sanitária e ambiental se relaciona ao alto risco de envenenamento agudo e crônico por agrotóxicos usados no cultivo
de tabaco em larga escala, e ao risco de desenvolvimento da doença do tabaco verde, causada pela absorção de
nicotina no contato das folhas com a pele durante a colheita;
10. Ações da indústria do tabaco para impedir medidas efetivas para controle do tabagismo ou para reverter
medidas já adotadas.

2. ÁLCOOL

Alcoolismo é a dependência do indivíduo ao álcool, considerada doença pela Organização Mundial da Saúde.
O uso constante, descontrolado e progressivo de bebidas alcoólicas pode comprometer seriamente o bom
funcionamento do organismo, levando a consequências irreversíveis. A pessoa dependente do álcool, além de
prejudicar a sua própria vida, acaba afetando a sua família, amigos e colegas de trabalho.
O abuso de álcool é diferente do alcoolismo porque não inclui uma vontade incontrolável de beber, perda do
controle ou dependência física. E ainda o abuso de álcool tem menos chances de incluir tolerância do que o alcoolismo
(a necessidade de aumentar as quantias de álcool para sentir os mesmos efeitos de antes).

 Sintomas de Alcoolismo

A palavra alcoolismo é conhecida de todos. Porém, são poucos os que sabem exatamente o seu significado. O
alcoolismo, também conhecido como "síndrome da dependência do álcool", é uma doença que se desenvolve após o
uso repetido de álcool, tipicamente associado aos seguintes sintomas (que não necessariamente ocorrem juntos):
 Compulsão: uma necessidade forte ou desejo incontrolável de beber;
 Dificuldade de controlar o consumo: não conseguir parar de beber depois de ter começado;
 Sintomas de abstinência física, como náusea, suor, tremores e ansiedade, quando se para de beber;
 Tolerância: necessidade de doses maiores de álcool para atingir o mesmo efeito obtido com doses
anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância.

 Consequências em curto prazo

Quanto mais alta for a concentração de álcool no sangue, mais severas poderão ser as alterações da
consciência e os sintomas de intoxicação alcoólica:
 Comportamento desadequado;
 Humor instável;
 Falta de discernimento;
 Fala arrastada;
 Défice de atenção;
 Problemas de memória, incluindo-se “apagões” de memória
 Falta de coordenação.

 Consequências a médio e longo prazo

O alcoolismo tem vários efeitos e muito negativos sobre a saúde física e psíquica, que na maioria das vezes
causam prejuízos graves nos vários contextos em que a pessoa se move, sejam eles laboral, familiar ou social, e que
estão relacionados com exclusão social, acidentes de trânsito, comportamentos agressivos, etc.

 Problemas físicos:

Gastrointestinais: úlcera, varizes esofágicas, gastrite, gordura no fígado (esteatose hepática), hepatite,
pancreatite, cirrose;
Neuromusculares: cãibras, perda de força muscular, dormência, distúrbios de coordenação;
Cardiovasculares: hipertensão, arritmias, aumento do risco de acidente vascular isquêmico;
Sexuais: redução da libido, ejaculação precoce, disfunção erétil, infertilidade.

 Transtornos mentais:

Depressão
O álcool tem um efeito depressor sobre o sistema nervoso central e aumenta o risco de perturbações de humor
e de depressão, que se revelam pelos sintomas habituais, desinteresse, perda ou aumento de peso, perturbações do
sono, fadiga, perda de energia ou agitação, pensamentos negativos, diminuição da capacidade de pensamento ou
concentração, e nos casos mais severos, pensamentos suicidas.
Abstinência
Ocorre quando, após um período de alcoolismo intensivo, há uma paragem no consumo ou uma redução
abrupta e significativa das quantidades ingeridas. Pode revelar-se algumas horas depois ou surgir até quatro a cinco
dias após esse momento e os sintomas são: taquicardia, tremores nas mãos, insónia, náuseas e vómitos, alucinações,
inquietação, agitação e ansiedade. Nos casos mais graves, a situação de delirium tremens é acompanhada de febre,
convulsões e confusão mental.
Demência
A memória é frequentemente afetada não só pela ação do álcool como pela má nutrição, que torna frequente
nos alcoólicos a carência de vitamina B1, essencial para a manutenção da capacidade de armazenar novas memórias.
“A degradação da memória, causada pelo consumo excessivo de álcool, pode perdurar e inclusive agravar-se ao longo
dos anos”, alerta José Fernando Santos Almeida.
Psicose
Induzida pelo álcool, consiste sobretudo em alucinações e ideias delirantes (ideias falsas que resistem a toda a
argumentação lógica e ao teste da realidade). Afeta 3% dos dependentes do álcool. “Há pessoas mais suscetíveis a
sofrerem uma psicose do que outras e a durabilidade da psicose dependente de inúmeros fatores (manutenção do
consumo, vulnerabilidade, história prévia de psicose, concomitância de consumos de outras substâncias, etc.).”

 Tratamento de Alcoolismo

Reconhecer que precisa de ajuda para um problema com álcool talvez não seja fácil. Porém, tenha em mente
que, o quanto antes vier a ajuda, melhores serão as chances de uma recuperação bem-sucedida.
Em nossa sociedade prevalece o mito de que um problema com álcool é sinal de fraqueza moral. Como
resultado disto, você pode até achar que procurar ajuda é admitir algum tipo de defeito, que você deveria se
envergonhar. Contudo, o alcoolismo é uma doença como outra qualquer. Identificar um possível problema com álcool
tem uma compensação enorme, uma chance de viver com mais saúde.
Quando falar com seu médico sobre o uso de álcool, tente ser o mais completo e honesto possível. Isso é
necessário para que ele possa avaliar se você está ou não tendo problemas com o álcool. Você também pode passar
por exames físicos. Se o médico concluir que você é dependente de álcool, ele deve recomendar que você se dirija a
um especialista para tratar o alcoolismo, que vai explicar e indicar o tratamento mais adequado.

 Tratamento

A natureza do tratamento depende do grau de dependência do indivíduo e dos recursos disponíveis na


comunidade. O tratamento pode incluir a desintoxicação (processo de retirar o álcool de uma pessoa com segurança);
o uso de medicamentos, para que o álcool se torne aversivo, ou para diminuir a compulsão pelo álcool;
aconselhamento, para ajudar a pessoa a identificar situações e sentimentos que levam à necessidade de beber, além de
construir novas maneiras de lidar com essas situações. Os tratamentos podem ser feitos em hospitais, em casa ou em
consultas ambulatoriais.
O envolvimento e apoio da família são essenciais para a recuperação. Muitos programas oferecem
aconselhamento conjugal e terapia familiar como parte do processo de tratamento.

 Alcoólicos Anônimos

Quase todos os programas de tratamento do alcoolismo também incluem encontros de Alcóolicos Anônimos
(AA), cuja descrição é "uma comunidade mundial de homens e mulheres que se ajudam a ficarem sóbrios". Enquanto
o AA é geralmente reconhecido como um programa eficiente de ajuda mútua para recuperar dependentes de álcool,
nem todas as pessoas respondem positivamente ao estilo e mensagens do AA, e outras abordagens podem estar
disponíveis. Até mesmo os que vêm conseguindo ajuda pelo AA geralmente descobrem que a recuperação funciona
melhor com outros tratamentos juntos, inclusive aconselhamento e tratamento médico.

 Alcoolismo tem cura?


Embora o alcoolismo seja uma doença tratável, ainda não há cura. Isto significa que, mesmo que um
dependente de álcool esteja sóbrio por muito tempo, ele é suscetível a recaídas. Por isso deve-se evitar qualquer
bebida alcóolica, em qualquer quantidade. "Reduzir" o consumo pode até diminuir ou retardar problemas, mas não é
suficiente: a abstinência é necessária para que a recuperação seja bem-sucedida.
Recaídas são muito comuns. Mas isso não significa que a pessoa fracassou ou não irá se recuperar do
alcoolismo. No caso de uma recaída, é muito importante retomar o foco no objetivo e manter o apoio necessário para
não voltar a beber.
Algumas pessoas que pararam de beber depois de terem tido problemas relacionados ao álcool frequentam os
Alcóolicos Anônimos (AA) para obter informação e apoio, mesmo não sendo dependentes.

 Efeitos do álcool

O consumo excessivo e continuado de álcool aumenta o risco para complicações de saúde. Os efeitos do
álcool sobre cada indivíduo são diferentes e dependem de uma série de fatores, mesmo quando consumido em
quantidades iguais. Além disso, ainda que o consumo leve a moderado de álcool - até uma ou duas doses* por dia,
respeitando ao menos dois dias de intervalo em uma semana e não ultrapassando este limite - possa contribuir na
diminuição do risco de doenças cardiovasculares, maiores quantidades podem elevar esse risco.

 Os perigos do álcool

Apesar de ser aceito pela sociedade, o álcool oferece uma série de perigos tanto para quem o consome quanto
para as pessoas que estão próximas. Por essa razão o consumo abusivo de álcool é uma questão de saúde pública.
Parte dos acidentes de trânsito, comportamentos antissociais, violência doméstica, ruptura de relacionamentos e
problemas no trabalho são provenientes do uso nocivo de álcool.

3. DROGAS

De caso de polícia para uma questão de saúde pública. Quem acompanha o debate sobre as drogas no Brasil e
no mundo tem visto o esforço de especialistas para mudar o foco do problema nos últimos anos. Em vez de tratar
usuários e dependentes de drogas como delinquentes e marginais, cujo destino é a prisão ou a morte, médicos,
sociólogos, advogados, psicólogos e outros profissionais interessados no tema propõem uma abordagem
multidisciplinar capaz de aprofundar a discussão e oferecer um tratamento humanizado e de qualidade, com objetivo
de garantir uma rede de apoio e atenção integral a quem precisa.

 Contexto Político-Social e Ações Afirmativas

A mudança de paradigma vem acontecendo, sobretudo, após o retumbante fracasso da Guerra às Drogas, promovida
pelos Estados Unidos no século 20 e reproduzida em escalas nacionais mundo afora. A campanha de repressão às
drogas ilegais resultou na prisão e na morte de milhões de pessoas em todo o planeta, mas não conseguiu diminuir o
consumo ou desarticular as quadrilhas internacionais que lucram com o comércio ilegal de entorpecentes. Ao
contrário: criminalizar toda a cadeia de produção, comercialização e consumo de drogas agravou o problema da
violência e da corrupção, sobretudo em países pobres e em desenvolvimento.
Os trágicos desdobramentos da Guerra às Drogas provocaram reações de especialistas, políticos e da própria
sociedade civil em torno da necessidade de uma nova agenda para o tema no século 21. No Brasil, uma das iniciativas
de destaque foi a criação, em 2013, da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), liderada pelo
presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e que se inspirou na Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia,
fundada pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (Brasil), César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo
(México). A CBBD nasceu com o objetivo de buscar políticas e práticas que sejam mais humanas e eficazes no
enfrentamento do problema.
Apesar dos tabus que ainda cercam o tema das drogas, o debate sobre a descriminalização dos usuários ou
sobre a regulamentação do comércio de entorpecentes ganha cada vez espaço nas sociedades contemporâneas. De
acordo com especialistas, este seria um passo fundamental para tirar o assunto da esfera criminal e trazê-lo para o
âmbito da Saúde Pública. A construção de uma nova política de drogas, com a ampla participação da sociedade, em
seus mais diferentes segmentos, possibilitaria a troca de inócuas medidas repressivas por inovadoras medidas
preventivas, baseadas em estudos e evidências científicas.
A emergência de um novo olhar sobre as drogas também se caracteriza por incluir no debate as chamadas
drogas lícitas. Ao mesmo tempo em que se preocupam com os efeitos do uso de crack por populações vulneráveis, os
especialistas também investigam o a questão do álcool como um problema de Saúde Pública no país. Um dos
exemplos que inspiram esta virada são as campanhas de regulação da propaganda e do comércio de tabaco das últimas
décadas, que conseguiram diminuir consideravelmente o número de fumantes, sem proibir o consumo da substância.
Neste universo que se descortina, as campanhas de informação e conscientização ganham muito mais relevância do
que a tradicional repressão ao consumidor.

 Drogas como um caso de saúde pública ou caso de polícia?

Grande parte da sociedade civil e jurídica toma os usuários de drogas como criminosos, enquanto
especialistas no assunto consideram este um assunto de saúde pública. Ao se abordar o tema drogas, a sociedade
enfrenta um grande tabu, uma vez que grande parte das pessoas não busca entender o assunto, e tampouco buscam
se informar, criando um abismo que dificulta o amparo os dependentes. A Lei 11.343/06 instituiu o Sistema
Nacional de Políticas públicas sobre Drogas – SISNAD; a lei elenca medidas para a prevenção do uso indevido,
atenção e reinserção social dos usuários e dependentes químicos, bem como normas para repressão à produção,
distribuição e consumo de drogas ilícitas. Apesar do intuito do legislador em combater este problema, a lei se
mostrou completamente ineficaz, uma vez que não oferece tratamento digno e adequado aos “drogados”, nem tão
pouco realiza medidas efetivas para evitar a dependência. Contendo apenas medidas repressivas e poucas e
ineficazes medidas preventivas.
Existem aqueles que acreditam que a Lei 11.343/06 se mostra ineficaz uma vez que não pune os usuários
com o rigor necessário, acreditando que isto encoraja o usuário a pratica do crime. Este trabalho não compartilha
desta opinião, uma vez que a prisão do usuário não é garantia que este pare de consumir drogas, sendo que é fato
notório o consumo de drogas dentro dos presídios nacionais. Tal medida serviria apenas para aumentar o número de
pessoas encarceradas no País, piorando a situação de déficit de vagas em presídios, lembrando aqui que o Brasil
tem a segunda maior população carcerária do mundo, passando do 500 mil encarcerados.
A própria Lei 11.343/06 entende que o dependente químico não tem capacidade cognitiva e o discernimento
necessário para ser considerado capaz aos atos da vida civil. A lei considera o dependente químico isento de
culpabilidade quando comprovado que ao tempo do fato, o agente era incapaz de entender o caráter ilícito da
conduta, vejamos o artigo 45 da lei:
Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de
caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha
sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este
apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo,
poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.
O entendimento, que se desprende da lei, é o de que a dependência química não deve ser comparada a um
delito, pois quando ela está presente, atua na capacidade cognitiva do agente o tornando um incapaz.
Observa-se o despreparo de diversos agentes que estão em posições que exigem real entendimento do
assunto, chegando estes a proferir verdadeiros absurdos, exemplo claro é a menção por parte destes, da “cura” para
dependência química. O que estes não entendem, ou não buscam entender, é que a dependência química é uma
doença crônica, que acompanha o enfermo pelo resto de sua vida, sendo um problema recorrente na vida do
indivíduo por toda sua vida.
Partindo do pressuposto que a dependência química é considerada doença mental incurável e, como tal,
acompanha o indivíduo por toda sua vida, é onde entra a medida terapêutica, objeto do trabalho, tendo em sua
finalidade a desintoxicação do indivíduo, para que este assim possa continuar o tratamento adequado, acompanhado
e por fim possibilitar sua reinserção na sociedade.
O Brasil tem enfrentado um problema sério com a disseminação das drogas ilícitas, sendo o país uma rota
de tráfico internacional e um grande mercado consumidor. O problema mais alarmante é o do Crack, e o
significativo aumento dos crimes cometidos por usuários de drogas, tanto é um problema que em 2010 o governo
editou o decreto 7.179, instituindo o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas.
Hoje, o que se observa é que este plano não teve a eficácia desejada, visto que a quantidade de usuários da
droga aumentou, podendo ver o uso dela a qualquer hora do dia nas grandes cidades do país, justificando uma
medida mais energética do Estado para a solução deste problema.
Assim, percebe-se que a drogadição se tornou um problema sério de saúde pública, problema alarmante que
deve ser enfrentada pelos governos municipais, estaduais e federais em conjunto.

 Internar não é prender

A grande preocupação com a internação compulsória é a alegação de que esta configura uma espécie de
privação de liberdade ao indivíduo, constituindo uma prisão. Entretanto, deve-se entender que tal medida visa única
e exclusivamente a desintoxicação do dependente químico, sendo que a internação é o primeiro passo no
tratamento, visando a reinserção deste na sociedade. Sendo assim o caráter punitivo da pena se perde, não
configurando uma privativa de liberdade. O dependente será tratado com doente mental e não como criminoso.
Ainda existem aqueles que se posicionam contra a medida alegando que está além de violar direitos
fundamentais, resgata o modelo manicomial do século XX. Respeitando a opinião destes que assim o pensam, este
modelo manicomial não trata de internar nem tratar o doente, e sim de segregar, isolar e recolher o indivíduo de
forma desumana e inadequada.
O tratamento em si vai além da internação, sendo esta um primeiro passo em uma jornada longa e árdua. Se
alguém está doente, ela deve ser hospitalizada e não recolhida do convívio social. A dependência química é uma
doença grave que deve ser tratada progressivamente, e sem o devido cuidado pode levar a morte.
Dito isto, deve-se observar as medidas adotadas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, no referente a
internação compulsória, uma vez que estas não parecem serem adequadas ou condizentes com a política de
internação compulsória, tanto no tocante a realização da internação e intervenção, quanto no local onde os
dependentes têm sido alocados.
O foco do problema gira em torno do recolhimento quase selvagem dos dependentes promovido pelas
polícias de São Paulo e Rio de Janeiro. Estes recolhimentos caracterizam uma política higienista de assepsia social,
que buscam mascarar o problema enquanto os direitos fundamentais dos indivíduos são tolhidos. Deve se elucidar
aqui que a internação nunca deve ter esta conotação. O recolhimento não conduz o doente a um tratamento
adequado, como visto no Rio de Janeiro, onde os dependentes são conduzidos, não para clinicas de recuperação, e
sim para albergues e espaços de acolhimento sem nenhum preparo para tratamento do enfermo.
A internação compulsória, esta sim, conduz os dependentes a locais especializados e fiscalizados que
permitem um efetivo tratamento.
Os recolhimentos realizados nestes estados (Rio de Janeiro e São Paulo), são ilegais, uma vez que os Caps
(Centro de Atendimento Psicossocial) são insuficientes, dado o número elevado de viciados que vagam as ruas das
capitais. Assim os usuários são recolhidos a abrigos, os quais não dispõem de estrutura nem de equipes
multidisciplinares que possam dar apoio ao viciado.
A forma como a internação é conduzida hoje, não representa a internação compulsória, constituindo apenas
mero recolhimento.

 Internação como forma de tratamento

O envolvimento do Estado é imprescindível para o sucesso da internação, uma vez que este deve
disponibilizar leitos, estrutura e equipes preparadas, dessa forma propiciando um ambiente onde seja possível
combater a dependência.
As internações devem ser feitas em comunidades terapêuticas (CT’s), que prestem serviços a pessoas com
transtornos decorrentes do uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas. Podendo durar de poucas
semanas, a vários meses, onde aparentemente quanto maior a estadia, maior a chance de continuar a abstinência
após receber alta.
Antes do encaminhamento para as comunidades terapêuticas, é necessário a passagem pelos CAPs – Centro
de Atenção Psicossocial, estes compostos por equipes multidisciplinares, compostos de psiquiatras, enfermeiros,
psicólogo, assistentes sociais, entre outros profissionais da saúde. Estes centros tem o papel fundamental de atender
a população, oferecendo acompanhamento especializado com o intuito de reinserir o indivíduo na sociedade.
No Brasil o número de comunidades terapêuticas habilitadas é muito pequeno, se mostrando um problema
frente ao número assombroso de usuários dependentes químicos. E além, independentemente de habilitação o poder
público tem o dever de fiscalização sobre estas comunidades terapêuticas, a fim de evitar irregularidades e
arbitrariedades no curso do tratamento. Essa fiscalização deve ser feita por membros do Ministério Público, da
Defensoria Pública, da Ordem dos Advogados do Brasil, bem como de órgãos de saúde pública e assistência social.

 Capacidade civil do dependente químico

O Código Civil decreta que toda pessoa é capaz de direitos e deveres, porém, em seu artigo 4º elenca os
relativamente incapazes:
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
(...)
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento
reduzido; [...]
Dessa forma o Código Civil considera os dependentes químicos relativamente incapazes no cumprimento
dos atos da vida civil, dessa forma eles devem ser assistidos por um representante legal.

4. ABORTO

O aborto é um tema que se manteve na pauta de pesquisas brasileiras nos últimos vinte anos. Há uma
abundância de fontes, o que constitui um forte indício da importância do tema para a saúde pública no País. Grande
parte das publicações é de ensaios, artigos de opinião e peças argumentativas: para cada estudo baseado em evidências
de pesquisas empíricas, há 5 sem evidências. Os estudos com evidências são quase todos relativos ao campo da Saúde
Pública. Os resultados confiáveis das principais pesquisas sobre aborto no Brasil comprovam a tese de que a
ilegalidade traz conseqüências negativas para a saúde das mulheres, pouco coíbe a prática e perpetua a desigualdade
social. O risco imposto pela ilegalidade do aborto é majoritariamente vivido pelas mulheres pobres e pelas que não
têm acesso aos recursos médicos para o aborto seguro. O que há de sólido no debate brasileiro sobre aborto sustenta a
tese de que “o aborto é uma questão de saúde pública”. Enfrentar com seriedade esse fenômeno significa entendê-lo
como uma questão de cuidados em saúde e direitos humanos, e não como um ato de infração moral de mulheres
levianas. E para essa redefinição política há algumas tendências que se mantêm nos estudos à beira do leito com
mulheres que abortaram e buscaram o serviço público de saúde: a maioria é jovem, pobre, católica e já com filhos.
Essa descrição não representa apenas as mulheres que abortam, mas as mulheres brasileiras em geral. Por isso, a
compreensão do aborto como uma questão de saúde pública em um Estado laico e plural inaugura um novo caminho
argumentativo, no qual o campo da saúde pública no Brasil traz sérias e importantes evidências para o debate.
Algumas pessoas acham que o aborto deve continuar sendo proibido, outras, que deve ser legalizado. Cada um
tem seus próprios argumentos para defender sua posição, e dificilmente um lado um dia conseguirá convencer o outro,
tornando o consenso algo praticamente impossível de atingirmos. Não que isso represente um problema, pois, na
verdade, a opinião pessoal pouco importa quando tratamos dessa questão. E por quê?
Porque as mulheres já abortam, independentemente do que pensemos. Segundo o IAG, Instituto Alan
Guttmacher, entidade americana que estuda a questão do aborto no mundo, cerca de 1 milhão de mulheres abortam no
Brasil todos os anos. As católicas e as evangélicas abortam; as loiras, as morenas, as afrodescendentes, as pobres, as
ricas, as adolescentes, as casadas, as que saem com vários parceiros, as que tiveram apenas uma relação sexual na vida
e as que são mães, também. E vão continuar abortando, pois a decisão de interromper uma gravidez é pessoal e
envolve várias questões que não podemos controlar.
Mas se as opiniões pessoais não importam, como tratar o problema?
As medidas de saúde pública adotadas pelo Estado levam em consideração, entre outros aspectos, o art. 196 da
Constituição da República Federativa do Brasil, que afirma que o Estado tem o compromisso com a tomada de
medidas políticas, sociais e econômicas no sentido de promover e recuperar a saúde da população, de modo a reduzir
os agravos que causem mal à coletividade.
Então, relacionemos cada um desses aspectos com a criminalização do aborto, a começar pelos políticos:
temos uma lei da década de 1940 que não atende mais às necessidades da sociedade, pois considera crime o
abortamento provocado, pela própria gestante e/ou terceiros, cuja pena varia de 1 a 4 anos de cadeia. Impensável punir
com detenção milhares de mulheres e pessoas que ajudam na indução do aborto quando mal damos conta dos crimes
mais graves.
Agora vejamos a questão social. Vivemos em um país extremamente desigual, e essa disparidade aparece
quando analisamos o aborto no Brasil. As moças e mulheres que podem pagar até cerca de 5 mil reais pelo
procedimento conseguem realizá-lo com um mínimo de segurança do ponto de vista médico. As pobres, infelizmente,
estão sujeitas a todo tipo de agressão física e psicológica a que a situação clandestina lhes inflige.
Do ponto de vista econômico, segundo o ginecologista Jefferson Drezett, coordenador do Ambulatório de
Violência Sexual e de Aborto Legal do Hospital Pérola Byington, em São Paulo, “os recursos que gastamos para tratar
as graves complicações do aborto clandestino são muito maiores que os recursos de que precisaríamos para atender as
mulheres dentro de um ambiente seguro e minimamente ético e humanizado”.
Outro argumento bastante utilizado por quem é contra a descriminalização do aborto é que as mulheres iriam
passar a adotá-lo como método anticoncepcional. Ainda segundo o dr. Drezett, “em quase trinta anos de ginecologia,
não conheci uma única mulher que quisesse experimentar uma gravidez indesejada para saber se é bom fazer um
abortamento. Usar esse argumento é tratar a mulher como estúpida”. Bem, é o que temos feito em larga escala.
Portanto, quem é contra o aborto tem uma saída simples: não o pratique. Ninguém é nem nunca será obrigado
a abortar. Por outro lado, a mulher deve ser dona do próprio corpo e ter o direito de decidir se deseja ou não seguir
com uma gravidez. E, acima de tudo, como cidadã, tem o direito de ser amparada, acolhida e cuidada qualquer que
seja sua decisão.

 As pesquisas

Os estudos descritivos adotam como variáveis: idade, classe social, religião, tempo gestacional, tipo de aborto,
procedimento abortivo, tempo de internação e complicações de saúde. As variáveis médicas são mais regulares entre
os estudos, o que permite melhor comparação e síntese, ao passo que as variáveis sociais, em particular conjugalidade,
educação e inserção no mundo do trabalho, apresentam diferentes sistemas classificatórios, o que dificulta a síntese.
Raça e deficiência são temas largamente ignorados nos estudos. Os estudos que recuperam variáveis demográficas e
médicas foram realizados em todos os anos do período pesquisado, e os dados permitem traçar um perfil das mulheres
que abortaram nos últimos 20 anos em grandes cidades brasileiras. Houve variações no nível educacional, com
acréscimo nos anos de estudo das mulheres, o que correspondeu às mudanças da sociedade brasileira. É difícil inferir
particularidades regionais entre as mulheres, uma vez que os estudos comparativos são raros. As desigualdades
regionais tendem a se reproduzir no perfil das mulheres em situação de abortamento, em especial em temas como
educação, procedimentos abortivos e seqüelas do aborto, mas foram raros os estudos que correlacionaram renda e
trajetórias reprodutivas das mulheres.

 Compreendendo as causas: dados epidemiológicos do aborto

Predominantemente, mulheres entre 20 e 29 anos, em união estável, com até oito anos de estudo,
trabalhadoras, católicas, com pelo menos um filho e usuárias de métodos contraceptivos, as quais abortam com
misoprostol.
Magnitude
Um estudo recente sobre a magnitude do aborto no Brasil estimou que 1.054.242 abortos foram induzidos em
2005. A fonte de dados para o cálculo da estimativa foram as internações por abortamento registradas no Serviço de
Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde. Ao número total de internações foi aplicado um multiplicador
baseado na hipótese de que 20% das mulheres que induzem aborto foram hospitalizadas. A grande maioria dos abortos
induzidos ocorreu no Nordeste e Sudeste do País, com uma estimativa de taxa anual de aborto induzido de 2,07 por
100 mulheres entre 15 e 49 anos.
O maior desafio para o cálculo da magnitude do aborto no Brasil é a dificuldade de acesso a dados fidedignos,
além do alto número de mulheres que omitem ter induzido um aborto em questionários com perguntas diretas. Em
finais dos anos 1980, foi testada a técnica de resposta ao azar para estimar a indução do aborto em uma amostra
populacional ampla de mulheres. Pela abordagem direta, encontrou-se a incidência de 8 abortos a cada 1.000
mulheres, ao passo que com a técnica de resposta ao azar, chegou-se a 42 a cada 1.000, ou seja, uma incidência cinco
vezes superior.
Um estudo em meados dos anos 1990 comparou duas metodologias para a estimativa do aborto induzido para
pesquisas de base populacional: o método da urna e o método das questões indiretas. Os resultados mostraram que,
entre as mulheres entrevistadas pelo método da urna, 7,2% relataram ter induzido pelo menos um aborto, ao passo que
para aquelas entrevistadas pelo método das questões indiretas, 3,8%. A razão entre os dois métodos foi de 1,89.
Idade
Os cortes etários não são homogêneos, mas a vasta maioria dos estudos inclui mulheres entre 10 e 49 anos.
Grande parte das metodologias estabelece a seguinte segmentação etária: 15-19 anos; 20-24 anos; 25- 29 anos; 30-34
anos; 35-39 anos; 40-44 anos; e 45-49 anos, havendo variações que impedem a comparação dos cortes etários entre
todos os estudos. Alguns deles segmentam de 10 a 25 anos, outros de 20 a 35 anos. A faixa etária com maior
concentração de abortos é de 20 a 29 anos, com percentuais variando de 51% a 82% do total de mulheres de cada
estudo.
Houve um crescimento na quantidade de estudos sobre aborto e adolescência nos anos 2000, um possível
reflexo da emergência das pesquisas sobre reprodução e sexualidade nesse grupo etário. Os estudos com adolescentes
ampliam o recorte etário inferior das pesquisas tradicionais, incluindo meninas entre 10 e 14 anos. Há uma
concentração da experiência de aborto induzido entre as adolescentes mais velhas, no segmento de 17 a 19 anos.
Do total de abortos induzidos na adolescência, os estudos registram uma concentração entre 72,5% e 78% na
faixa etária de 17 a 19 anos. É no conjunto dos estudos com adolescentes que surgem pesquisas tanto com novas
metodologias, em especial sobre temas originais à saúde pública, como saúde mental, bem-estar e reprodução, quanto
com técnicas longitudinais.
Religião
Questões simbólicas são pouco exploradas nos estudos de perfil das mulheres que abortam. A religiosidade é
um tema superficialmente analisado nos estudos de base populacional e nos estudos qualitativos com grupos reduzidos
de mulheres. Uma possível explicação para essa lacuna é que a vasta maioria dos estudos com base populacional
foram realizados com dados de prontuários ou outras fontes documentais, e a informação sobre religião está ausente
dessas fontes. Os poucos estudos analíticos com amostras selecionadas de mulheres indicam que entre 44,9% e 91,6%
do total de mulheres com experiência de aborto induzido declaram-se católicas. Entre 4,5% e 19,2% declaram-se
espíritas, e entre 2,6% e 12,2% declaram-se protestantes. É possível sugerir algumas tendências regionais, havendo
uma maior concentração de mulheres católicas nos estudos da Região Nordeste e de mulheres espíritas nos da Região
Sul. Um estudo com 21 mulheres que induziram o aborto identificou que 9,8% delas não tinham religião.
Conjugalidade
A pergunta de alguns instrumentos de pesquisa é sobre o estado civil, o que leva a uma prevalência de
mulheres não-casadas nos resultados. Esse dado é revisado por estudos que recuperam a situação conjugal das
mulheres ao invés do estado civil, indicando que a vasta maioria delas encontra-se em relação conjugal estabelecida.
Os poucos estudos que corrigiram esse viés de pergunta indicam que mais de 70% de todas as mulheres que decidem
abortar vivem uma relação considerada estável ou segura. Essa foi uma mudança nos instrumentos de pesquisa
verificável a partir de meados dos anos 1990, em particular com os estudos comparativos de aborto entre adolescentes
e adultas.
Educação e Mundo do Trabalho
Educação e trabalho são temas tangenciais aos estudos, em particular aos que se baseiam em dados
documentais, como prontuários ou registros de bases de dados nacionais. Poucos estudos de base populacional e
realizados com técnicas mistas (documentos e entrevistas) recuperaram esses temas. Conduzidos com pequenos
grupos de mulheres, são os estudos qualitativos que analisam o significado da educação e do trabalho para as
trajetórias reprodutivas. As pesquisas indicam que a maioria das mulheres participa do mercado de trabalho, uma
mudança significativa caso se considere que os estudos do final dos anos 1980 registram mais da metade das mulheres
com experiência de aborto induzido fora do mercado de trabalho. Não há surpresas na descrição do universo do
trabalho das mulheres que realizam aborto: trabalhos femininos (emprego doméstico), comércio, ofícios informais
(cabeleireira e manicure), além de estudantes, com renda familiar de até três salários mínimos. O perfil educacional
das mulheres variou no percurso de vinte anos: houve um acréscimo no número de anos na escola e uma significativa
diminuição da quantidade de mulheres analfabetas. Estudos com coortes populacionais da década de 1980 e repetidos
nos anos 1990 mostram uma redução de até 50% no número de mulheres sem escolaridade com experiência de aborto
induzido. No entanto, esse é um tema com pouca possibilidade de síntese, pois a classificação de escolaridade é
bastante diversificada. Alguns estudos agrupam mulheres analfabetas e mulheres que cursaram o ensino fundamental,
outros segmentam os grupos por anos de estudos declarados. Ainda assim, há concentração nos registros: mais da
metade das mulheres com experiência de aborto induzido tem até oito anos de estudo. Os estudos sobre aborto na
adolescência seguem as tendências sociais de gravidez nesse período da vida, mostrando adolescentes fora da escola e
do mundo do trabalho, em situação de dependência econômica de familiares e/ou do companheiro. Apesar de essas
serem questões importantes para a análise da vulnerabilidade feminina frente a uma gestação, os estudos que
apresentam evidências ou análises de como elas atuam na decisão pelo aborto são ainda raros. Nos anos 2000, um
estudo com ampla base populacional analisou os fatores associados ao aborto como desfecho da primeira gestação
entre jovens de 18 a 24 anos. A pesquisa mostrou que renda familiar e escolaridade foram fatores associados à indução
do aborto na primeira gravidez: quanto maior a renda e a escolaridade, maiores as chances de a primeira gravidez
resultar em um aborto.
Métodos Abortivos
O início dos anos 1990 marcou uma mudança significativa no perfil dos métodos abortivos adotados pelas
mulheres nas grandes cidades. Métodos encontrados nos estudos dos anos 1980, como venenos, líquidos cáusticos ou
injeções, passaram a ser inexpressivos nos relatos das mulheres. O misoprostol passou a ser o método preferencial
para realizar o aborto em casa ou para iniciá-lo em casa e terminá-lo nos hospitais. É sobre a redução da
heterogeneidade dos métodos abortivos que os estudos mais têm convergido nos últimos vinte anos. Entre as mulheres
que declaram haver induzido o aborto, os estudos indicam que entre 50,4% e 84,6% utilizaram o misoprostol, havendo
maior prevalência do uso dessa substância no Nordeste e Sudeste. Considerando que os estudos de meados dos anos
1980 registram entre 10% e 15% de uso de medicamentos como método abortivo e altas taxas de morbimortalidade
por aborto induzido, a entrada do misoprostol no cenário das práticas abortivas provocou uma mudança: passa a ser o
método preferencial das mulheres, com menores riscos à saúde, menor tempo e custo de internação hospitalar pós-
finalização do aborto.

5. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS

Os métodos contraceptivos são recursos que podem ser comportamentais, medicamentosos, ou cirúrgicos,
usados pelas pessoas para evitar a gravidez indesejada. Existem métodos femininos e masculinos, reversíveis e
irreversíveis. Os métodos reversíveis são aqueles que, como diz o nome, podem ser revertidos. Ou seja, quando a
pessoa deixa de utilizá-los, poderá engravidar. Já os métodos irreversíveis, como a ligadura de trompas uterinas/
laqueadura e a vasectomia, são aqueles que, após utilizados, é muito difícil a pessoa recuperar a capacidade de
engravidar. Por isso, para optarem por esses métodos as pessoas precisam estar seguras de que não querem mais ter
filhos. É importante lembrar que dentre todos os métodos contraceptivos, os preservativos feminino e masculino são
os únicos que oferecem proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, inclusive o HIV/AIDS e as hepatites
virais.
A escolha do método anticoncepcional deve contar com o auxílio e orientação de um profissional de saúde
que oriente quais os métodos disponíveis, como utilizá-los, quais as vantagens e desvantagens de cada um e avalie
junto com a mulher, o homem ou os dois qual o método mais indicado para cada situação. Estar bem informado é
fundamental para se fazer a melhor escolha.
Os e as adolescentes também têm direito ao acesso aos métodos contraceptivos, inclusive a pílula de
emergência, e à confidencialidade e sigilo sobre sua atividade sexual e prescrição de métodos contraceptivos, não
sendo necessário o consentimento ou participação dos pais/responsáveis nas consultas, conforme Estatuto da Criança e
do Adolescente.
Ao longo dos anos, as mulheres foram ganhando autonomia em relação à saúde reprodutiva e à livre escolha
sobre ter ou não filhos, quantos filhos desejam ter e em qual momento da sua vida. Além disso, ganharam informação
e liberdade para cuidarem da própria saúde, evitarem infecções sexualmente transmissíveis, e têm à disposição
diversos tipos de métodos contraceptivos. Entretanto, ainda existem muitas dúvidas a respeito de qual a melhor
maneira de usar, qual o mais adequado, restrições e efeitos colaterais dos contraceptivos. Com o objetivo de garantir
que as mulheres e homens, adultos, jovens e adolescentes possam viver plenamente a sexualidade sem medo,
vergonha e culpa, independente da condição física, idade e estado civil, o Ministério da Saúde (MS) oferece no SUS
uma série de serviços que garantem acolhimento e sigilo sem discriminação.
Além disso, também disponibiliza mais de um tipo de contraceptivo. São eles: preservativo masculino e
feminino, pílula combinada, anticoncepcional injetável mensal e trimestral, dispositivo intrauterino com cobre (DIU T
Cu), diafragma, anticoncepção de emergência e minipílula.
É sempre importante lembrar, que antes de decidir qual método usar, ou se não quer usar nenhum, é
importante procurar orientação de um profissional da saúde para verificar riscos e benefícios para o seu corpo. Esse
processo é muito importante para que se adquira informação de qualidade e haja segurança na decisão. O processo de
escolha, os riscos e benefícios são individuais e variam de pessoa para a pessoa.

 Diafragma e Camisinha

O diafragma não é muito conhecido. Por ser considerado um método de barreira, ele se assemelha a camisinha
masculina e feminina, exceto pelo fato de que não previne Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Não há nenhum tipo de efeito colateral, nem contra indicações. Além disso, é uma opção para quem não se
adaptou ou não gostou de métodos hormonais. Se a mulher optar por usar este método, a consulta com o profissional é
essencial, pois as mulheres são diferentes, e existem diversos tamanhos de diafragma. Este método também pode ser
usado combinado com um preservativo.
Já a camisinha masculina e feminina é distribuída em Unidades Básicas de Saúde (UBS) para qualquer pessoa
e em qualquer momento. O preservativo é o único método capaz de prevenir IST, como HIV e Hepatite C, mas o
masculino e o feminino nunca devem ser usados ao mesmo tempo, porque o atrito entre elas aumenta o risco de
rompimento.

 Pílula anticoncepcional e injeção combinada

A pílula ofertada pelo SUS deve ser tomada por 21 dias sem interrupções e sempre no mesmo horário. Depois
que os comprimidos acabam se faz uma pausa de sete dias e começa uma nova cartela da mesma maneira. Este tipo de
pílula contém dois hormônios produzidos pelos ovários: o estrogênio e a progesterona.
Podem ser usadas por quase todas as mulheres com segurança e eficácia, mas alguns fatores de risco devem
ser observados antes de iniciar o uso. Pode ser utilizada desde a primeira menstruação.
Um alerta importante, é que este tipo de medicação deve ser usado para prevenir uma gravidez, e só servir
como regulador menstrual, ou evitar espinhas, por exemplo, com avaliação e indicação criteriosa.
A pílula também não é o melhor método para todas as mulheres e, por isso, não deve ser considerada sempre
como a primeira opção.
A medicação injetável funciona quase da mesma forma, mas é aplicada de forma mensal, que pode ser usada
desde a primeira menstruação, ou trimestral, recomendada a partir dos 16 anos. Ela é aplicada por um profissional de
saúde.

 Minipílula e pílula de emergência

A pílula anticoncepcional chamada de minipílula possui apenas um tipo de hormônio: a progesterona. Por
possuir uma quantidade pequena desses hormônios, o uso contínuo sempre no mesmo horário, todos os dias, se faz
ainda mais essencial. Há restrição no uso para meninas menores de 16 anos, e é mais indicada durante a amamentação,
iniciando o seu uso na 6ª semana após o parto.
Já a anticoncepção de emergência, ou “pílula do dia seguinte”, como é conhecida popularmente, não deve ser
usada como método regular, somente em casos como: falha do preservativo, falha em relação ao uso de algum outro
método, ocorrer relações sexuais sem uso de método anticoncepcional, e por vítimas de violência sexual.
A eficácia maior se dá em até 72 horas, mas ela pode ser utilizada até cinco dias depois da relação
desprotegida. Ela só tem efeito se a fecundação ainda não tiver ocorrido. Se a mulher já estiver grávida, a pílula não
tem efeito abortivo.

 Dispositivo Intra Uterino (DIU)

O DIU de cobre é considerado um método eficaz e de longa duração, visto que previne a gravidez por até 10
anos depois de inserido na mulher. Também é reversível, pois assim que a mulher retirar o dispositivo, já está apta a
engravidar novamente. Pode ser usado por quase todas as mulheres, desde adolescentes que ainda não possuem filhos
e até mulheres mais velhas, com exceção de poucas restrições, como malformações uterinas ou miomas
intracavitários. Entre os mitos que cercam este método estão o desenvolvimento de infecções e cânceres, o que já se
sabe que não é verdade.

Independente do método, é importante conhecer o próprio corpo e tomar uma decisão baseada em informação
segura. No SUS, as medicações são oferecidas em Unidades Básicas de Saúde (UBS).

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