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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO


“METODOLOGIA DO ENSINO JURÍDICO COM CASOS TEORIA E PRÁTICA”

Jaqueline Vitória Arão Xavier Soares

Resenha crítica apresentada como exigência


parcial para aprovação no XVIII Processo de
Seleção e Formação de Monitores da
Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.
Professores Orientadores:
Mônica C. F. Areal
Nelson C. Tavares Junior

Rio de Janeiro
2023
METODOLOGIA DO ENSINO JURÍDICO COM CASOS TEORIA E PRÁTICA
ZITSCHER, Harriet Christiane. Metodologia do ensino jurídico com casos: teoria e
prática (com exemplos do direito do consumidor e do direito civil). Apresentação de
Cláudia Lima Marques. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.
Harriet Christiane Zitcher foi Pesquisadora Assistente do Instituto Max-Planck de
Hamburgo de Direito Internacional Privado e colaboradora da RabelsZeitschrift, Revista
Jurídica de Direito Comparado em língua alemã. Mestra em Direito Comparado e Direito
Internacional Privado. Foi Professora visitante do Programa DAAD/CAPES na Faculdade de
Direito da UFRGS e Doutora em Direito pela Universidade de Hamburgo, na Alemanha.
Cláudia Lima Marques é Doutora em Direito (Heidelberg), Mestre em Direito
(Tiibingen), Especialista em Integração Europeia (Saarbriicken), Alemanha. Presidiu o
Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor - BRASILCON de 1998 a 2000. Foi
Professora na Academia de Direito Internacional de Haia, em 2009 e Árbitra do Mercosul e
jurista-colaboradora da SENACON-MJ na OEA e Conferência de Haia. Atualmente, é
diretora e Professora Titular da Faculdade de Direito da UFRGS.
O livro fora estruturado em três capítulos. No primeiro, a autora inicia diferenciando
a importância dada ao uso do caso concreto no Brasil onde foi professora visitante pelo
programa DAAD/CAPES na UFRGS e na Alemanha, seu país de origem. Aponta que o
ensino brasileiro dedica-se a transmitir ao aluno a estrutura do sistema dominante em cada
matéria, inexistindo interesse geral na solução de casos concretos. Já o sistema de ensino
alemão trabalha com casos concretos, cuja solução se busca não só no ensino, mas também
nos livros e, majoritariamente, nas palestras acadêmicas.
Outrossim, a autora apresenta a função do caso dentro do sistema da common law de
forma geral e de forma específica para o ensino. No modo geral, esclarece que o juiz, na
solução do caso concreto, considera decisões anteriores na matéria e analisa resultados,
soluções finais e fatos que foram base de cada um deles. A análise abrange os casos anteriores
suficientemente semelhantes àquele que tem de solucionar. É a partir dela que se obtém a
regra concreta: a ratio decidendi. A autora sinaliza que dessa forma busca-se a mínima
abstração necessária para chegar à solução e que, atualmente, o método é transferido à
interpretação das leis, de maneira que o juiz é impelido a voltar à jurisprudência para saber
como entender uma palavra ou uma construção gramatical na norma aplicável.
Quanto ao ensino, a autora expõe que grande parte concentra-se em analisar,
entender e saber de cor os casos mais importantes em cada matéria. As provas universitárias
contêm uma quota considerável de casos práticos a ser solucionada pelos candidatos.
Igualmente, a autora apresenta a função do caso dentro do sistema romano-
germânico, tanto de forma geral, quanto de forma específica para o ensino. De forma geral,
destaca que diante de um caso concreto para solucionar, o juiz deve procurar a norma certa no
Código ou na Lei, e indagar seu conteúdo. Se os fatos nela cabem, já se providencia a solução.
A autora ressalta que enquanto nos sistemas romanos há linhas de jurisprudência
contraditórias sobre determinada questão; no sistema alemão as linhas de jurisprudência são
mais firmemente estabelecidas e, mesmo que haja linhas contraditórias, são mais integradas
numa linha só, através de um acórdão do Supremo Tribunal.
Quanto ao ensino jurídico, Zitcher relata que os sistemas romanos preferem o método
dedutivo: o professor apresenta o sistema doutrinário aos alunos e alerta para a possível
dificuldade que isto pode trazer a aprendizagem do aluno pela maior abstração que carrega.
Salienta também que o sistema alemão prefere um sistema misto, com elementos dedutivos e
indutivos, uma vez que nas aulas usa-se muito o caso abstrato (construído) e o concreto
(extraído da vida forense).
Em seguida, a autora apresenta a estrutura de ensino jurídico e da formação
profissional na Alemanha. Relata que no Século XVIII, prevaleceu o pensamento acadêmico
na formação jurídica (que era universitária) e que havia grande diversidade de ordens jurídicas
na Alemanha. Explica que embora o pensamento acadêmico tivesse peso considerável na
prática de Direito, os bacharéis mostravam-se inaptos para desempenhar funções na Justiça e
no serviço público. Zitcher expõe que no fim do Século XVIII, fora introduzido um sistema
de provas estaduais e de estágio obrigatório, usado até hoje, visto que todos os juristas passam
por um exame ao fim do curso universitário, seguido de um estágio obrigatório de dois anos e
mais um exame ao final de estágio.
Ao analisar elementos do método alemão, a autora ratifica a existência de traços
dedutivos na aplicação do Direito, por se tratar de uma inclinação genérica para o pensamento
abstrato e sistemático dominante na Europa Continental. Igualmente, salienta que há
elementos dedutivos no ensino do Direito, pois usa o caso como base, mas não deixa de
apresentar ao aluno o sistema do Direito.
No que tange ao segundo capítulo, Zitcher estabelece que o caso concreto é útil para
aulas magistrais (ou palestras) e para aulas especiais dedicadas à prática da aprendizagem das
técnicas de solução de caso. Ressalta que o mais adequado para o sistema brasileiro, pela
adaptação a ele, é o tipo dedutivo de aula magistral. Ele se baseia mais no princípio de
apresentar ao aluno, de início, o sistema e a doutrina geral. Já o tipo indutivo, a autora
esclarece que fica restrito ao professor universitário mais aventurado ou àquele que ensina
para formação profissional. Nesse tipo, concentra-se no caso e só no fim da aula são
apresentadas a doutrina geral e o sistema. Quanto à aula prática, sinaliza a autora que seu
objetivo é preparar o aluno para solucionar casos de qualquer tipo, levando-o até aí, passo a
passo, o que permite que ele entenda o sistema. Logo, tal tipo poderia ser aplicado só na
formação de profissionais.
Ademais, Zitcher demonstra como descobrir a solução do caso junto com os alunos
através do uso das perguntas “quem quer o quê de quem?” e “por quê?” Ato contínuo,
exemplifica cada elemento que compõe tais perguntas e destaca que suas respostas preparam a
solução do caso, implementando o estilo de pareceres. Este processo de estabelecer os
pressupostos preenchidos deve repetir-se até alcançar todos os pressupostos da norma.
Salienta que se os fatos apresentados não preencherem todos os pressupostos da norma, deve-
se recomeçar os passos do método de pareceres com apoio em dispositivo legal diverso.
Derradeiramente, no terceiro capítulo, a autora apresenta esquemas para aula
magistral de tipo dedutivo e indutivo e esquema para aula prática, indicando para ambas as
aulas passos e subpassos a serem seguidos. Igualmente, apresenta dois casos e suas
respectivas soluções-padrão para ilustrar uma aula prática.
Verifica-se que o livro é um texto denso, cuja leitura não será feita com facilidade
por qualquer auditório. Resta evidente que a autora busca dialogar com um auditório
específico que corresponde a indivíduos que se dedicam ao ensino jurídico de algum modo. A
finalidade é produzir no leitor o refinamento do ensino jurídico brasileiro, através do método
já usado no ensino alemão. Para tanto, demonstra como o uso do método do caso, eixo central
no sistema de ensino alemão, tem aplicabilidade útil na resolução das lides apresentadas aos
juízes, tanto no sistema da common law, quanto nos sistemas romano-germânicos.
A autora também ressalta a prestabilidade do uso do método do caso no ambiente
acadêmico, ao demonstrar minuciosamente como o caso é capaz de estruturar o raciocínio
jurídico tanto numa aula magistral, como numa aula prática. E, a fim de incentivar a
replicação do uso do caso no sistema brasileiro, a autora preocupou-se em deixar um roteiro
de como utilizar o caso de forma adequada mediante os esquemas do terceiro capítulo.
Observa-se que a Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro integra o
auditório a que se destina o conteúdo do texto, considerando que a instituição busca
essencialmente refinar operadores do direito ao ponto de capacitá-los a construção de um
raciocínio jurídico tal, apto a solucionar qualquer caso jurídico que lhe seja apresentado.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ZITSCHER, Harriet Christiane. Metodologia do ensino jurídico com casos: teoria e


prática (com exemplos do direito do consumidor e do direito civil). Apresentação de
Cláudia Lima Marques. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.

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