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AULA 1

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA NA PERSPECTIVA
HISTÓRICO-SOCIAL BRASILEIRA

Prof ª Joice Martins Diaz


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, trataremos dos diferentes períodos que marcaram a trajetória


da educação especial: desde a antiguidade Clássica, no Século VIII a.C., com o
período do extermínio, seguido pelo período de segregação, no Século XVI, e pelo
período de integração, no qual há a retomada dos importantes ideais da
Revolução Francesa (1789). O objetivo dessa aula é, além de retomar a trajetória
da pessoa com deficiência no que diz respeito à ocupação de papéis sociais
significativos, refletir sobre a organização histórica de cada época.

TEMA 1 – BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL: MARCOS TEÓRICOS


DA RELAÇÃO SOCIEDADE DEFICIÊNCIA

Os períodos históricos representam mudanças relacionadas às


concepções concernentes às pessoas com deficiência. Assim, temos como
objetivo compreender as determinantes sociais que vieram motivar tais pontos de
vista.

1.1 Período do extermínio

Na antiguidade clássica, a cidadania era concedida somente aos nobres,


de corpo perfeito, saudável, forte, com capacidade retórica e que estivessem
dispostos a guerrear. Todos que não apresentavam essas características e perfil
eram considerados subumanos e sem utilidade para a vida em sociedade e
deveriam ser submetidos à morte. Os nascidos com algum tipo de deficiência
visível eram atirados de penhascos ou abandonados em montanhas e florestas
(Fernandes, 2007).
Essa atitude de sacrifício e morte dos deficientes por não terem nenhuma
utilidade já era registrada há muito tempo, no livro de Platão. Segundo Gugel:

A República, Livro IV, 460 c - Pegarão então os filhos dos homens


superiores, e levá-los-ão para o aprisco, para junto de amas que moram
à parte num bairro da cidade; os dos homens inferiores, e qualquer dos
outros que seja disforme, escondê-los-ão num lugar interdito e oculto,
como convém. (Gugel, 2007, p. 63)

Aristóteles também indicava a eliminação dos anormais no livro A política.


Gugel relata que:

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A Política, Livro VII, Capítulo XIV, 1335 b – Quanto a rejeitar ou criar os
recém-nascidos, terá de haver uma lei segundo a qual nenhuma criança
disforme será criada; com vistas a evitar o excesso de crianças, se os
costumes das cidades impedem o abandono de recém-nascidos deve
haver um dispositivo legal limitando a procriação se alguém tiver um filho
contrariamente a tal dispositivo, deverá ser provocado o aborto antes
que comecem as sensações e a vida (a legalidade ou ilegalidade do
aborto será definida pelo critério de haver ou não sensação e vida).
(Gugel, 2007, p. 63)

Para Guebert (2007), na época do período Feudal, esses indivíduos eram


considerados os “bobos da corte”.
Hitler considerava os tempos de guerra os melhores momentos para
exterminar as pessoas com doenças incuráveis. Os alemães, considerados a
“raça superior”, não queriam ser comparados com os indivíduos incompatíveis
com esse conceito. Pessoas com deficiência física e mental, além de
consideradas inúteis, eram uma ameaça à pureza genética ariana dessa
sociedade, portanto indignos de viver.
O programa chamado pelos nazistas de T-4 ou Eutanásia era designado à
execução dos sujeitos que apresentavam algum tipo de deficiência física, mental
ou retardamento. Contava com a cooperação de médicos alemães, responsáveis
por analisar os arquivos dos pacientes e seus respectivos laudos e, então,
determinar quais deveriam ser mortos. Os pacientes condenados eram colocados
em câmaras de gás, construídas para este fim. Bebês e crianças eram mortas
com injeções de doses letais de drogas, ou por abandono, morrendo de fome ou
por falta de cuidados. Os corpos das vítimas eram queimados em grandes fornos
chamados de crematórios.
Algumas datas marcaram esse período, como:

 Outubro de 1939 - Hitler autoriza o extermínio de deficientes;


 3 de agosto de 1941- Bispo católico denuncia a eutanásia;
 24 de agosto de 1941 - Hitler determina oficialmente o fim do programa de
“eutanásia”.

1.2 Período de segregação

Frente a este cenário de extermínio, abandono e desprezo, segundo


Fernandes (2007), “as primeiras iniciativas de proteção a esses indivíduos
começam a surgir com a criação de asilos e abrigos e, como um ato de caridade,
as pessoas com deficiência recebiam esmolas e assistência. ”

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Assim, teve início, no Século XVI, o chamado período de segregação. A
característica desse período era enclausurar os que não estivessem dentro dos
“padrões” de normalidade, como por exemplo, os leprosos e os doentes mentais.
A Igreja então passa a dividir com a medicina o tratamento dos “anormais”,
ganhando status científico e fortalecendo as teses que explicavam a deficiência
por origens naturais e não mais por fatores espirituais. A primeira explicação
científica, com base na herança genética, partia de princípio que a deficiência é
uma condução inata, que determina os traços dos sujeitos, descartando-se assim
a ideia da alteração dessa condição (Fernandes, 2007).
No período de segregação:

Até os anos de 1960, as pessoas com deficiência eram impedidas de


frequentam as instituições de ensino regular sendo privados da
socialização com seus pares devido aos estigmas existentes na
sociedade da época. O atendimento destinado a elas era restrito as
instituições especializadas em que o objetivo principal era de cunho
assistencialista e não educacional, pois prevalecia a ideia de que as
pessoas com deficiência não conseguiam e não tinham capacidade para
avançar no processo educacional. (Santos; Reis, 2015, p. 114)

Somente no Século XX se tem início na alteração da concepção de


atendimento às pessoas com deficiência. Vários fatores contribuíram para o
avanço dessa mudança, sendo um deles o científico, pois permitia uma análise
mais ampla da questão sobre a deficiência. Após o término da Segunda Guerra
Mundial, os deficientes passaram a contar também com o atendimento prestado
pelos movimentos sociais.

1.3 Período de integração

Em decorrência da mobilização, Fernandes (2007) retoma a importância


dos ideais da Revolução Francesa (1789), que buscou o fortalecimento da
fraternidade entre os seres humanos, e então, em 1948, é promulgada a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento este que passa a inspirar
as políticas públicas e os instrumentos jurídicos de diversos países.
Diante desse contexto, na década de 1980, o Brasil vivencia o processo de
integração. Segundo Glat (1995): “a integração deve ser um processo espontâneo
e subjetivo, que envolve diretamente o relacionamento entre seres humanos. ”
Para Rodrigues (2006): “a integração visa uma ‘participação tutelada’, uma
estrutura que possui valores próprios e que o aluno ‘integrado’ tem que se
adaptar. ”

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A integração sofreu influência dos movimentos que consideravam outras
ideias importantes, entre elas as escolas, a educação e a sociedade. O
fortalecimento das lutas pelos direitos e valores dos seres humanos refletiu
diretamente nos sistemas educacionais que passou a dar importância à igualdade
entre os seres humanos (Guebert, 2007).
O Estado, então, adquire a função de valorizar a educação, incentivar a
inserção de todos em diversos programas educacionais com o intuito de
oportunizar o acesso a conhecimentos que determinam a condição desses
indivíduos.
Segundo Fernandes (2007, p. 31):

A educação especial passou a ser compreendida como um sistema


paralelo e localizado hierarquicamente subalterno ao ensino regular. Aos
alunos que não tivessem condições acadêmicas de aprendizagem, isto
é, de acompanhar em igual tempo a metodologia e de entender os
objetivos, os conteúdos e a avaliação, deveriam ter seu atendimento
realizado em outros espaços cuja programação estaria voltada a
minimizar as dificuldades apresentadas e se possível oportunizar o
(re)ingresso ao contexto regular o que via de regra, não acontecia.

Destacam-se alguns pontos que caracterizam o processo de integração: as


pessoas com deficiência eram inseridas socialmente e também inseridas na
escola, por meio dos méritos profissionais e pessoais, na qual se prevê o
atendimento, desde classes comuns até locais específicos, como classes e
escolas especiais. Outra característica da integração é entender que o fator
determinante corresponde às condições individuais de cada aluno e suas
possibilidades de participação e acompanhamento das atividades escolares. Mais
um ponto são as terapias, reabilitações e cirurgias, criando assim um modelo
médico de deficiência que utiliza esses meios como forma de correção e
normalização.
O fato de desconsiderar a necessidade de modificação na estrutura física
comum e nas práticas e programas desenvolvidos para atender às necessidades
das pessoas com deficiência, também é um ponto que caracteriza o processo de
integração. A normalização e a tentativa de fazer com que as pessoas com
deficiência se pareçam o mais próximo possível ao padrão de normalidade
imposto socialmente é a principal crítica de Fernandes (2007), pois elas não são
consideradas diferentes. Assim, ele entende também que a educação especial
tem que se organizar com práticas voltadas a viabilizar as modificações, tornando
assim a pessoa com deficiência o mais “normal” possível.

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Guebert (2007) afirma que a integração insere a pessoa com necessidades
especiais no espaço educativo, mas não faz o atendimento às suas necessidades
e desrespeita as suas limitações, pois não há nenhuma adequação no mecanismo
de acessibilidade na parte educacional, cultural, física e social.
Para Fernandes (2007, p. 37):

A concepção de inclusão requer mudanças nas atitudes e nas práticas


relacionadas a grupos excluídos, dentre eles, as pessoas com
deficiência. Com relação às atitudes, evidencia-se a necessidade de
reverter à ótica de seres dependentes, incapazes e dignos de piedade à
compreensão que podem ser capazes e participativos. Para isso são
necessárias mudanças estruturais que envolvem a remoção de barreiras
físicas e materiais e a organização de suportes humanos e
instrumentais, para que todos possam ter a participação social em
igualdade de oportunidades e condições.

Para viabilizar esta concepção de inclusão, Guebert (2007) destaca


aspectos fundamentais, como: a vontade, a consciência política, a presença de
profissionais qualificados e o envolvimento da sociedade civil. O auxílio técnico
aos professores envolvidos com esses alunos é de extrema importância, bem
como a conscientização dos demais alunos com relação ao aprendizado em
conjunto e o atendimento às necessidades específicas de cada um, e com isso
envolver realmente os deficientes no processo educativo e não apenas colocá-los
no espaço escolar.

TEMA 2 – A EDUCAÇÃO ESPECIAL, A DIFERENÇA E A TRANSIÇÃO ENTRE


INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO

O movimento de transição entre integração e inclusão revela diferença


entre seus conceitos e impactos sobre o sistema de ensino.
Quando se fala de integração, faz-se referência ao esforço da família,
instituições especializadas, da sociedade bem como da própria pessoa com
deficiência, estando preparada e disposta a se integrar a sociedade, escolas etc.
Cabe à sociedade deixar de lado o preconceito e aceitar a integração
dessas pessoas com deficiência.
Soder (1981) apresenta quatro graus de integração:

1. Física (compartilham espaços);


2. Funcional (utilizam os mesmos espaços e recursos);
3. Social (integram a classe regular);
4. Comunitária (continuam a integração na juventude e vida adulta).

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Segundo Sanches e Teodoro

A integração escolar retirou as crianças e os jovens em situação de


deficiência das instituições de ensino especial, em defesa da sua
normalização, o que lhes permitiu o usufruto de um novo espaço e novos
parceiros de convívio, de socialização e de aprendizagem (a escola
regular). As práticas pedagógicas foram também transportadas das
instituições de ensino especial para a escola regular, numa vertente mais
educativa, configuradas num programa educativo individual, de acordo
com as características do aluno, desenhado e desenvolvido,
essencialmente, pelo professor de educação especial. (Sanches;
Teodoro, 2006, p. 66)

No Brasil, no período imperial, percebe-se uma mobilização da sociedade


civil, na organização de associações, nas reivindicações dos governos com
relação à criação de centros de reabilitação, clínicas e hospitais com classes
anexas, nas quais se ofereciam serviços, como fonoaudiólogo, fisioterapeutas etc.
Na década de 50 fundou-se, por exemplo, a APAE (Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais), apoiada pela elite social e política, que possibilitou o
crescimento e consolidação desta associação ao ponto de se opor as diretrizes
de inclusão total, emanadas na legislação educacional pós-1990.
A integração escolar e a adoção de um novo conceito desencadeiam um
subsistema de educação especial nas escolas do ensino regular, voltado para os
alunos com necessidades educativas especiais, bem como para os professores
de educação especial que os acompanham. O sistema mantém-se a todos os
níveis e se faz necessário um grande esforço por parte tanto dos alunos quanto
dos professores para aceder às regras e ao funcionamento do sistema regular.
A educação especial por sua vez é entendida como evolução do ensino
especial, por ser um conjunto de meios postos à disposição das crianças e jovens
com necessidades educativas especiais com o intuito de disponibilizar acesso à
aprendizagem. Uma educação especial para alunos considerados especiais.
Toda essa experiência e reflexão adquirida no período da integração,
relacionada à exclusão de uma boa parte dos alunos, contribuiu para o
desencadeamento do movimento da inclusão, que tem como objetivo promover o
sucesso pessoal e acadêmico dos alunos, em um contexto de escola inclusiva.
Pode-se dizer que inclusão é a palavra que:

Pretende definir igualdade, fraternidade, direitos humanos ou


democracia, conceitos que amamos, mas que não sabemos ou não
queremos pôr em prática. A inclusão escolar teve as suas origens no
centro das pessoas em situação de deficiência e insere-se nos grandes
movimentos contra a exclusão social, como é o caso da emancipação
feminina, tendo como princípio a defesa da justiça social, celebrando a
diversidade humana. Por isso, muitos pensam que a inclusão escolar é

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para os jovens em situação de deficiência, mas não, ela deve contemplar
todas as crianças e jovens com necessidades educativas. (Sanches;
Teodoro, 2006, p. 69)

Em resumo, o processo de integração não considera as diferenças das


pessoas com deficiência e não busca a normalização. Em consequência, a
pessoa com deficiência se põe mais distante do padrão de normalidade imposto
pela sociedade. Já a inclusão tem como objetivo a ação receptiva e acolhedora,
não só em relação às pessoas com deficiência, mas também para com os grupos
marginalizados, para que todos sintam-se totalmente integrados.

TEMA 3 – DOCUMENTOS QUE ESTIMULARAM A ADOÇÃO DO PARADIGMA


INCLUSIVO

Com a mudança considerável no contexto da educação especial, em que


se deixa de estar preocupado somente com um tipo de aluno, passando a assumir
um conjunto de recursos e serviços humanos, físicos, entre outros, postos a
serviço da educação para contribuir com o processo de aprendizagem do aluno,
removendo barreiras que impedem a aprendizagem, representam o diferencial na
educação no contexto inclusivo.
Todos esses princípios contam com o respaldo de políticas de diversos
países, que são guiados pelos documentos que trazem inspiração às políticas
inclusivas dos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU).
Três documentos se destacam pela importância e incorporação de
diretrizes no campo da legislação educacional, correspondente as décadas de
1990 e 2000.
Veremos, então, um resumo dos respectivos documentos:

1. Declaração de Jomtien (Unesco, 1990) – Proclamado na Tailândia, na


Conferência Mundial de Educação pata Todos, o documento reafirma a
educação como um direito de todos e destaca os desenvolvimentos social,
econômico e cultural como elementos determinantes que contribuem para
a tolerância e cooperação internacional. Considerado um dos principais
documentos mundiais relacionado à educação, ressalta que cada pessoa,
seja ela criança, jovem ou adulto, deve estar em condições de usufruir as
oportunidades educativas que estão voltadas para cumprir e satisfazer
todas as necessidades básicas de aprendizagem.

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2. Declaração de Salamanca (Brasil, 1994) – este documento é oriundo da
Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: acesso e
qualidade. O evento aconteceu na Espanha e o seu objetivo é a atenção
aos alunos com necessidades educativas especiais. Contaram com a
participação de noventa e dois governos, bem como diversas organizações
não governamentais, em que acordaram a união de todos os esforços em
defesa da escola única e para todos, independentemente de suas
diferenças individuais. Esta declaração mostra a preocupação da escola ter
foco em todas as diferenças e não apenas as oriundas de deficiência.
3. Convenção de Guatemala – este documento, que foi transformado em
decreto presidencial (decreto n. 3.956, de 8 de outubro de 2001), reafirma
as liberdades fundamentais das pessoas com deficiência e seus direitos
humanos, sobretudo o direito de não ser discriminada em razão da sua
deficiência. Este documento repudia também todas as formas de
discriminação e tem sido utilizado como justificativa e defesa da escola
comum para os alunos com deficiência sob o argumento da discriminação
que se manifesta na diferenciação, no caso de proposição de locais
específicos para escolarização

TEMA 4 – A INCLUSÃO E O NOVO OLHAR SOBRE A PESSOA COM


DEFICIÊNCIA

Após refletirmos, mesmo que brevemente, sobre a trajetória da Educação


Especial, é possível imaginar e projetar os principais objetivos da Educação
Inclusiva, bem como os principais obstáculos que todo esse processo enfrentou e
ainda enfrentará.
Para complementar esta ideia, Fernandes (2007) ressalta que

Se considerarmos as reflexões realizadas até o momento, deduzimos


que cumprir uma agenda inclusiva significa subverter velhas crenças,
concepções, práticas sociais, em direção a universalização de direitos
de todas as pessoas, o que não é uma ideia absolutamente nova. A
proposta inclusiva pressuporia uma nova sociedade, já que, no atual
modo de produção capitalista, seria um anacronismo supor que todos
terão acesso aos bens e serviços produzidos ao longo da história da
humanidade. (Fernandes, 2007, p. 86)

O processo de inclusão deduz um movimento voltado à valorização de


todas as pessoas, sem exceções, e tem como base a transformação das
estruturas vigentes nas quais se garanta a participação de todos.

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Esse processo inclui também a unificação da educação regular e especial,
em que não haja espaços distintos, como as classes e escolas especiais.
Diante desse contexto, para que a escola inclusiva se torne realidade, é
necessário pensar em um mundo globalmente inclusivo, no qual todos os
envolvidos (família, escola, sociedade etc.) estejam prontos e dispostos a, de fato,
pôr em prática a ideia e intenção da educação inclusiva. Além disso, outro grande
desafio se impõe ao processo de inclusão em relação ao “forte caráter excludente
que caracteriza a sociedade capitalista, a qual se alimenta da pobreza e da fome
de mais de dois terços da população para manter sua lógica de existência via
concentração de riquezas nas mãos de uma minoria” (Fernandes, 2007, p. 87).
O movimento pela inclusão abrange uma defesa ampla, que inclui: grupo
de marginalizados em decorrência das diferenças étnicos-raciais, de orientação
sexual, de gênero e outras que são agravadas por sua situação de classe.
É evidente, então, a necessidade de reverter o conceito de que esses
alunos são seres dependentes, incapazes e dignos de piedade e compreender
que são seres capazes e participativos.

TEMA 5 – ALGUMAS MUDANÇAS NECESSÁRIAS NAS ESCOLAS PARA O


CONTEXTO INCLUSIVO

Reverter alguns possíveis impedimentos que são gerados pelas limitações


iniciais decorrentes de deficiência seria a tarefa principal dos envolvidos na escola
inclusiva. Parte dos suportes e práticas deveriam ser disponibilizados pela
educação especial e todos os profissionais envolvidos; outros por meio do esforço
do redimensionamento do projeto político pedagógico da escola comum.
Fica evidente a relação que se estabelece entre “acessibilidade e
diversificação de concepção, recursos e abordagens metodológicas na produção
e apropriação do conhecimento pelos alunos, no contexto escolar” (Fernandes,
2007, p. 92).
Pressupõe-se, então, que a educação inclusiva não é uma ação da
educação especial, mas, sim, da escola comum. Para Blanco (1998):

Implica transformar a Educação Comum no seu conjunto e, assim,


deveremos transformar a Educação Especial para que contribua de
maneira significativa ao desenvolvimento de escolas de qualidade para
todos, com todos e entre todos. Não poderemos impulsionar a inclusão
a partir da Educação Especial; esse é um desafio da escola comum.

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É necessário ensinar todas as crianças em um mesmo contexto escolar,
observando a dificuldade particular de cada aluno, e ver as diferenças como
diversidade e não como problema.
Para que a inclusão seja firmada, é necessário também um olhar
diferenciado dos professores do ensino comum com relação ao trabalho
desenvolvido em sala de aula, incluindo alunos que apresentam deficiência
intelectual.
A escola inclusiva deve ser pensada e organizada para oferecer qualidade
no ensino para todos, pressupondo a organização de propostas pedagógicas
eficazes, que estejam relacionadas às dificuldades dos alunos, contemplando os
diversos níveis de aprendizagem.
Com relação à acessibilidade, outro fator importante no processo de
inclusão, esta deve ser avaliada de acordo com os elementos arquitetônicos. Com
base nesta avaliação, é necessário organizar as rotas de acesso, facilitando então
a condução do aluno durante suas atividades escolares.

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REFERÊNCIAS

BLANCO, R. Aprendendo na diversidade: implicações educativas. In: Congresso


Ibero Americano De Educação Especial, 3., 1998, Foz do Iguaçu. Anais...
Disponível em:
<http://entreamigos.org.br/sites/default/files/textos/Aprendendo%20na%20Diversi
dade%20-%20Implica%C3%A7%C3%B5es%20Educativas.pdf>. Acesso em: 4
set. 2019.

FERNANDES, S. Fundamentos para Educação Especial. Curitiba: IBPEX,


2007.

GLAT, R. A integração social dos portadores de deficiência: uma reflexão. Rio


de Janeiro: Sette Letras, 1995.

GUEBERT, M. C. C. Inclusão: uma realidade em discussão. Curitiba: IBPEX,


2007.

RODRIGUES, D. Educação Inclusiva: as boas e as más notícias. In: _____. (Org.).


Perspectivas sobre a inclusão: da educação à sociedade. Porto: Porto, 2006.

SANCHES, I.; TEODORO, A. Da integração à inclusão escolar: cruzando


perspectivas e conceitos. Revista Lusófona de Educação, [S.l.], v. 8, n. 8, jul.
2009. ISSN 1646-401X. Disponível em:
<http://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/view/691>. Acesso em:
4 set. 2019.

SODER, M. Devolver o deficiente à comunidade de onde foi excluído. Correio


da Unesco, v. 9, n. 8, 1981.

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