Você está na página 1de 16

Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s

Ética Pr ofissional (12º ano)

Módulo 2 – O novo mundo do trabalho e as suas exigências.

a) O Trabalho: justificação e evolução.

Como os outros animais, estamos num mundo que é anterior ao nosso aparecimento. Mas,
ao contrário deles, este mundo que nos precede não é simplesmente dado, colocado à
nossa disposição para um relacionamento imediato.

Os animais vivem em harmonia com a sua própria natureza. Isso significa que todo o animal age
de acordo com as caraterísticas da sua espécie quando, por exemplo, acasala, protege a cria, caça
ou se defende. E algumas espécies organizam-se mesmo em “sociedades”, com
uma distribuição de «tarefas particulares», visando satisfazer a sobrevivência comum. Os seus
instintos regem-se por leis biológicas, pelo que podemos prever as reações típicas de cada
espécie. Os animais veem ao mundo com impulsos altamente especializados e firmemente
dirigidos, e por isso vivem praticamente determinados pelos seus instintos e, cada espécie, vive
no seu ambiente particular.

A etologia é a ciência que se ocupa do estudo comparado do comportamento dos animais, indicando
a regularidade desse comportamento. É evidente que existem grandes diferenças entre
os animais conforme o seu lugar na escala zoológica: enquanto um inseto como a abelha
constrói a colmeia e prepara o mel seguindo os padrões rígidos das ações instintivas, animais
superiores, como alguns mamíferos, agem por instinto, mas também desenvolvem outros
comportamentos mais flexíveis e portanto menos previsíveis.

O ser humano é imperfeitamente programado pela sua constituição biológica. A sua estrutura
de instintos no nascimento é insuficientemente especializada e não é dirigida a um ambiente que
lhe seja específico. Sugar e chorar são das poucas coisas que sabemos quando nascemos. O mundo
humano é um mundo aberto, isto é, um mundo que deve ser construído pela própria atividade
humana. O ser humano precisa de "organizar" o mundo para superar o "caos", necessita de
construir um mundo para si, um mundo que tenha um sentido humano, e, nesse processo,
construir-se a si mesmo.

Karl Marx consegue colocar essa ideia de uma forma extraordinariamente clara, quando faz
a distinção entre o trabalho humano e a atividade instintiva do animal:

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas Página 1 de 16.


NES
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

«Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera um arquiteto ao construir a sua colmeia. Mas
o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente a sua construção antes de a transformar em
realidade. No fim do processo de trabalho aparece um resultado que já existia antes, idealmente, na imaginação do
trabalhador. Ele não transforma apenas o material sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que
tinha conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu modo de operar e ao qual tem de subordinar
a sua vontade. E essa subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos órgãos que trabalham, é mister a
vontade adequada que se manifesta através da atenção durante todo o curso do trabalho.»

Assim, pelo trabalho, pela aplicação da energia humana (física e mental) numa determinada
atividade útil, o homem torna-se capaz de modificar a própria natureza, colocando-a ao seu serviço. Desde o
início da evolução humana que homens e mulheres trabalham, visando satisfazer
necessidades comuns. E quanto mais desenvolvidas se revelam as sociedades, mais urgente é a procura
pela satisfação dessas necessidades.

De um modo geral, o ser humano aspira a viver confortavelmente, com qualidade. Mas porque é ser
social, procura dar resposta não só às necessidades individuais, mas também às necessidades que a todos
dizem respeito (coletivas). Então, é fácil concluir que, se não houvesse necessidades humanas individuais e
coletivas a satisfazer, não haveria justificação para o trabalho.

Na era primitiva, o homem iniciou uma aventura que jamais parou em busca da satisfação das mais variadas
necessidades humanas, tentando dar resposta aos diferentes tipos de necessidades que se foram
desenvolvendo a par do próprio desenvolvimento social e cultural das comunidades. Isto porque, à
medida que o mundo vai evoluindo, vai desenvolvendo no ser humano um conjunto de desejos e
de vontades que se tornaram para o ser humano como o fundamento da procura de mais e melhores
soluções, provocando, dessa forma, maior e melhor desenvolvimento.

A maioria dos psicólogos está de acordo na afirmação de que «existe um conjunto de motivações comuns
a todos os homens, em todas as culturas». Há necessidades biológicas que visam o bem-estar físico:
comer, beber, dormir, manter a temperatura do corpo e fugir à dor. Mas, há também outras forças que
dirigem e orientam o comportamento humano. São as necessidades psicológicas. Adaptando
e desenvolvendo um esquema do psicólogo Abraham Maslow, salientam-se quatro grupos de
motivações (psicológicas) fundamentais que todas as pessoas procuram satisfazer: proteção
e segurança, convivência e afeto, estima e apreço, realização pessoal.

De acordo com Maslow, essas motivações dispõem-se em forma de pirâmide e cada pessoa
procura, regra geral, satisfazer prioritariamente as motivações mais básicas, passando, depois, às
do topo da pirâmide.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas Página 2 de 16.


NES
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

É universal o desejo de viver em paz e segurança, esconjurar os medos, a doença e a morte. Este desejo
leva a criança indefesa a procurar refúgio junto da mãe e tem levado o homem, desde sempre, a
tomar medidas de precaução contra as ameaças (físicas ou psicológicas). Nasceram, assim, abrigos,
muralhas, instrumentos de guerra, sistemas de segurança social, companhias seguradoras…

Independentemente da necessidade de garantir a sobrevivência e a segurança, sentimos o impulso


para conviver, criar e manter relações afetuosas com alguém, para dar e receber afeto. Esta
tendência para o contato social é já revelada pela criança no primeiro sorriso (ela sorri a um rosto,
não sorri ao biberão). Procuramos a presença e a companhia dos outros. Agrada-nos o sentimento de
pertença a um grupo, onde se partilhem e defendam interesses comuns. Por isso nos integramos em
famílias, clubes, classes, comunidades e nações. O desejo de ser querido e aceite pelos outros explica o
conformismo e a acomodação do comportamento individual às normas sociais. Quem respeita as regras
será acolhido. Quem perturba a ordem será marginalizado.

Um dos mais profundos princípios da natureza humana é a sede de estima e apreço. Mesmo as pessoas
inteligentes não resistem a um elogio ou a um gesto de admiração por parte dos outros. Todos
nós gostamos da aprovação alheia. Vemos reforçada a autoestima sempre que os outros nos dão um sinal do
seu apreço ou da sua atenção. Basta que nos cumprimentem calorosamente ou que nos tratem pelo
nome para nos sentirmos como alguém importante e não como um anónimo qualquer. O
desejo de ser apreciado explica a facilidade com que as pessoas se deixam atrair e influenciar por quem
lhes oferece um elogio sincero.

A necessidade de obter a realização pessoal


parece dominar a existência humana. Por ela,
enfrentamos obstáculos. Superamos limites. Respondemos a
desafios. Pomos em exercício todas as nossas capacidades de
conhecimento e ação. Qualquer pessoa deseja desenvolver
as suas potencialidades com liberdade e
autonomia. Qualquer pessoa sente necessidade de
sobressair, chegar mais alto, atingir o máximo do sucesso
possível.
É como se, pelo trabalho, o homem, na condição de transformador da natureza, pudesse atingir o seu mais
elevado ideal de realização, com consciência e liberdade. Quando o homem age, cria e
empreende, produzindo objetos e saberes, bens materiais e simbólicos, atua não somente no campo
do fazer, mas também no campo do saber e do poder, ou seja, no campo da cultura e da política, dimensões
que carregam uma forte componente ética.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas Página 3 de 16.


NES
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s

E se o trabalho colabora para a realização pessoal do ser humano, a verdade é que a


origem da palavra e a evolução do próprio conceito, mostram-nos que nem sempre assim foi.
Senão, vejamos:
• A origem da palavra trabalho:
- Deriva do latim tripalium, que era o nome de um instrumento formado por três paus
aguçados, com o qual os agricultores batiam o trigo, as espigas de milho, o linho, para
os rasgar e esfiapar. A maioria dos dicionários, contudo, regista tripalium como um
instrumento de tortura, o que teria sido no início ou algo que se tornou depois. O facto é
que este termo está ligado à ideia de tortura e sofrimento, sentido esse que se perpetua
até hoje, principalmente nos povos de língua latina.

• Podem-se resumir aos seguintes momentos, a evolução do trabalho ao longo dos tempos:

- Nas sociedades primitivas o homem sentiu necessidade de lançar mão do trabalho que,
na sua função mais primordial, era a defesa da unidade do clã, numa luta
constante contra os perigos oferecidos pela natureza e pelos animais selvagens. Foi pelo
trabalho que, ainda na era Neolítica, o homem descobriu que agia melhor em
comunidade do que sozinho ou no seu pequeno grupo familiar. O trabalho aparece
assim como resposta às necessidades humanas. Para sobreviver, os primeiros
homens tiveram que caçar, construir abrigos, fazer roupas, domesticar animais…
Constatou que era um ser social, e adotou um estilo de vida comunitário, com fortes reflexos
sobre a vida moral da época.

- Na linguagem bíblica, a ideia de trabalho está ligada à de punição: "Ganharás o teu pão com
o suor de teu rosto". No (livro do) Génesis, Adão era expulso do Paraíso e condenado
a trabalhar. Assim, é através de um esforço doloroso que o homem sobrevive na natureza.

- Os gregos antigos desprezavam o trabalho físico, deixando-o para os escravos, e valorizavam


a única atividade que por eles era considerada digna de um homem livre: o
trabalho intelectual. Buscavam inclusive inúmeras justificações éticas para a
escravidão. Para Aristóteles, a diferença entre os homens era natural. Não havia
qualquer contradição na divisão existente entre o trabalho manual e as atividades
intelectuais e políticas. Segundo o filósofo, a superioridade dos cidadãos explicava-se pelo
facto de que eles definiam o sentido das coisas, fossem elas económicas, sociais ou
políticas. O cidadão grego não exercia o trabalho braçal pois tinha de ter tempo livre para se
dedicar à filosofia e ao exercício da cidadania. Para que isso fosse possível, os
escravos executavam todas as atividades inferiores determinadas pela vontade das
classes superiores.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 4 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
É tica Pr ofiss ional (12º ano)

- Do Império Romano à Idade Média, as relações de produção na Europa Ocidental evoluíram do


esclavagismo puro para o servilismo, ou seja, abrandava-se a sujeição homem/homem, passando-
se para outra menos direta, transformadora do homem em "servo de gleba", virtual prisioneiro da terra
em que vivia, consumindo quase tudo o que produzia, e produzindo pelas suas próprias mãos quase
tudo do que necessitava. A Igreja Católica, pregando a adoração a Deus defendia o desapego
às riquezas terrenas. Preocupada em organizar e manter o seu poder temporal, condenava o
trabalho como forma de enriquecimento. O trabalho era visto apenas como meio de subsistência, de
disciplina do corpo e purificação da mente. Assim, servia como instrumento de dominação
social e de condenação a qualquer rebeldia contra a ordem estabelecida. A ociosidade
entre as classes senhoriais, assim como ocorrera na Grécia antiga, não era sinónimo de preguiça,
mas de abstenção às atividades manuais para se dedicarem a funções mais nobres como a política,
a guerra, a caça, o sacerdócio ou o exercício do poder.

- O renascimento do comércio e das cidades afetou e foi afetado pelas transformações do trabalho
e das relações de produção. Daí até aos séculos XVI e XVII a economia passou, sucessivamente,
do âmbito local ao regional, deste ao nacional (com a formação dos chamados estados
nacionais modernos) e ao internacional: do quase nenhum mercado e escassa circulação monetária
da Idade Média, chega-se à economia do dinheiro e dos múltiplos mercados dos séculos XVII-XVIII,
com base no crescimento agrícola, na exploração colonial da América/África/Ásia e na diversificação do
artesanato que, cada vez mais, se vai diferenciando em indústrias diversas. A crise da ordem feudal,
fundada na subsistência e na servidão, e o desenvolvimento do comércio e das atividades de
manufaturação deu origem a uma nova estrutura social: a sociedade capitalista.

- Com a Revolução Industrial altera-se a atitude para com


o trabalho, passando este a ser visto como um meio
ao alcance do Homem para atingir um nível de
vida desafogado, digno e, economicamente
estável. Pela primeira vez, começava-se a encarar o
trabalho não como algo menosprezável, mas como um
meio de dignificação do Homem.

- No século XIX desenvolvem-se e aprofundam-se as


sociedades industriais, centradas no operário assalariado e na força de trabalho deste.

- Entrados no século XX, assistimos ao rápido florescimento das novas tecnologias e ao desenvolvimento
da chamada sociedade da informação. Com as exigências e os desafios dos

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 5 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

tempos modernos houve necessidade de recentrar a noção de trabalho para a noção de profissão.
Já não falamos apenas da força produtiva do trabalhador mas da especialização e desenvolvimento técnico
de trabalhador. A exigência de um trabalho tecnicamente perfeito e profissional passou a ser um
dos requisitos para o desenvolvimento de uma atividade laboral.

O trabalho exercido de forma qualificada, mediante uma formação técnico/científica,


específica para determinada atividade é comummente chamado profissão. A profissão supõe
continuidade e não uma atividade ocasional, e também, um status social. A atividade de
um engenheiro, por exemplo, é uma profissão, pois exigiu a formação de alguém para a exercer.

b) Trabalho e dignidade. O direito humano ao trabalho.

Sendo o trabalho a mais importante atividade fundadora de sentido da vida humana, é natural que e s t e
esteja diretamente relacionado com a dignidade humana. No entanto, só no século passado é que esta
relação, ganhou expressão positiva (de direito).

A OIT (Organização Internacional do Trabalho), que surgiu após a 1ª guerra mundial, teve um
papel preponderante na concretização do direito humano ao trabalho. Mas, é com o artigo 23º,
consagrado ao direito ao trabalho, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada a 10
de dezembro de 1948, que este direito ganha internacionalmente expressão positiva, sobretudo como
direito fundamental social. Note-se que, os Estados que subscreveram a Declaração, ficaram
obrigados a concretizar no seu próprio sistema jurídico, determinadas exigências ou direitos de acordo com
as possibilidades e necessidades locais.

Alguns Estados do Ocidente aprovaram também, em 1950, uma convenção de proteção dos direitos do
homem e, em 1961, foi votada a Carta Social Europeia que devia garantir a prática dos direitos sociais. E
muitos outros pactos e documentos surgiram para proteger este direito fundamental ao trabalho.

Uma ideia muito clara nos nossos dias é a de que existe um direito humano ao trabalho e que este está
diretamente relacionado com a dignidade humana. Mas, este conceito de dignidade humana, envolve
uma complexidade de aspetos. Se por um lado, é intolerável o trabalho como escravidão, na medida em
que uma situação dessas atenta contra a dignidade intrínseca (inerente à natureza humana), por
outro, é inaceitável a discriminação salarial por género, uma vez que atenta à dignidade extrínseca
(construída na relação interpessoal). Assim, cabe à sociedade criar as condições

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 6 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

necessárias para que o homem possa crescer em valores e em formação no sentido de poder exercer uma
profissão que seja conveniente à pessoa humana, possibilitando-lhe crescer plenamente, quer enquanto
ser individual, quer enquanto ser social. Daí que o direito humano ao trabalho signifique, sem discriminação
alguma:

• Direito ao trabalho, enquanto atividade conveniente à


Pessoa e à sociedade, e que não seja uma mera
ocupação de um posto ou uma atividade de tempos
livres;
• À livre escolha do trabalho;
• À retribuição do trabalho, segundo a quantidade,
natureza e qualidade, observando-se o princípio de que para
trabalho igual salário igual, de forma a garantir
uma existência condigna;
• A condições equitativas, satisfatórias e dignificantes de
trabalho;
• Direito a formação especializada;
• À prestação do trabalho em condições de higiene,
segurança e saúde;
• A um limite máximo da jornada de trabalho (com as necessárias pausas), ao descanso semanal e a
férias periódicas pagas. O tempo de trabalho deve permitir um espaço não só para
o descanso/repouso, mas também para a vida familiar e para o lazer;
• À assistência material, completada por outros meios de proteção social, quando
involuntariamente se encontre em situação de desemprego, em situação de doença temporária ou
causadora de invalidez, ou tenha atingido o limite de idade para trabalhar. Assim,
no desemprego, na doença ou invalidez e na velhice, deve haver um rendimento que possibilite
uma vida digna;
• A assistência e justa reparação, quando vítimas de acidente de trabalho ou de doença
profissional;
• Liberdade de associação, ou seja, de constituir sindicatos e neles se filiar para defesa das
condições de trabalho.
Assegurar o direito humano ao trabalho é da competência de cada Estado através da educação, da
formação profissional e de todos os outros meios que ajudem a preparar as pessoas para o trabalho. Já o
acesso ao mercado de trabalho não pode ser garantido unicamente pelo Estado pelo que outras entidades,
empregadores públicos e privados, devem dar uma boa colaboração nesta matéria.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 7 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

Preocupada com estas questões, e a propósito da publicação do Código de Trabalho, em 2002, a


Conferência Episcopal Portuguesa, publicou a 14 de novembro, desse ano, uma Nota Pastoral de seu nome “O
trabalho na sociedade de transformação” e onde se pode ler:

«A agudização da competitividade, a inovação tecnológica, a expansão espetacular das telecomunicações, enfim, o


conhecido fenómeno da globalização, são alguns dos fatores que deram origem a questões e a interrogações que parecem
pôr em causa o que a Europa tinha como aquisições assentes em bases firmes e duráveis: emprego generalizado, estável e
bem remunerado, e um sistema de proteção social apto a defender os cidadãos, sobretudo os trabalhadores, dos
principais riscos sociais.
Do mesmo modo, veio ganhando apoio crescente, sobretudo nas áreas da teoria política e da política económica, o
pensamento neoliberal, de cariz individualista, fortemente crítico da intervenção reguladora do Estado e confiante
na intrínseca bondade dos mecanismos do mercado.
Sabemos como, de um momento para outro, o desemprego atingiu na Europa níveis médios verdadeiramente
preocupantes, o emprego existente tornou-se mais precário e mais instável.
Paralelamente, a proteção social vê-se sujeita a reformas tendentes, sobretudo, a enfraquecer a defesa contra os riscos.
A agravar este quadro, as finanças públicas debatem-se com dificuldades geralmente reconhecidas e que têm justificado
medidas restritivas com inegáveis consequências sociais.
Uma vez que, mediante o trabalho, o homem deve ganhar o pão de cada dia, a ordem social do trabalho é indissociável
da ordem económica. Desde sempre, uma e outra se influenciaram reciprocamente. Nos tempos mais recentes, porém, tem
sido a última a condicionar, cada vez mais fortemente, a primeira.
A Igreja tem a firme convicção de que “o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida económico-social”.
Esta afirmação, aparentemente consensual, só ganha o seu verdadeiro significado quando o termo «homem» é entendido
em sentido universal: todos os seres humanos. Quer isto dizer que a vida económico-social deverá ser concebida de modo a
que todos os homens e mulheres participem dos benefícios e dificuldades resultantes da atividade económica, segundo os
princípios da justiça e da equidade.
Nunca será admissível que aqueles que menos têm em tempos de prosperidade sejam os que, proporcionalmente, mais
sofram em tempos de crise. Ter o homem como fim da atividade económica e social significa, ainda, ter presente que,
nesse campo, como aliás noutros, a liberdade não pode separar-se da verdade do homem.
O protagonismo na atividade económico-social implica que todos tenham as condições para ser autênticos protagonistas
da atividade económica, e não meros sujeitos passivos de uma atividade em que não possam participar
responsavelmente e cujos centros de decisão lhes escapam. Não se trata apenas de protagonismo como consumidor e
produtor de bens e serviços, mas sobretudo como sujeito que produz, consome e participa na gestão. Doutro modo, a
liberdade económica, que é apenas um elemento da liberdade humana, “perde a sua necessária relação com a pessoa
humana e acaba por a alienar e oprimir”.»

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 8 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

c) Os valores e as virtudes profissionais.

Pelo exposto anteriormente, a concretização de um direito humano ao trabalho é, nos nossos dias,
alcançável por dois caminhos: o primeiro é o do trabalho/profissão, e o segundo, reside na fundação
de instituições que levem à criação de empregos. Ora, nesta rede complexa de inter-relações e,
dada a importância e o sentido do trabalho para o ser humano, é fundamental não perder de
vista a realização dos valores humanos.

Tal como no passado, também hoje, na sociedade de informação e comunicação, o mundo do trabalho exige
aos profissionais a salvaguarda dos valores humanos. Os valores são essenciais para criar um ambiente ético
e estes devem prevalecer nas atitudes dos profissionais e das respetivas organizações.

Tal como reconhecido no módulo 1, todos nós aspiramos à realização de valores na nossa própria vida quando
nos parece importante distinguir entre uma ação justa e outra que é injusta, quando apreciamos
e reconhecemos o valor da honestidade, bem como quando criticamos ou recusamos o
comportamento desonesto.

Quando as condutas profissionais refletem a prática e a interiorização dos valores, as


virtudes profissionais desenvolvem-se. Senão vejamos, no decorrer da atividade profissional o ser humano ao
buscar e praticar valores ético-morais como o justo, o honesto e o respeito para consigo mesmo e para
com os outros, entende a vida em função de direitos e de obrigações e desenvolve virtudes
profissionais como a imparcialidade, a confiança e o sigilo profissional.

Ora, para ser justo é preciso ser imparcial; logo, a


justiça depende muito da imparcialidade. Esta é uma
qualidade importante pois assume as caraterísticas
do dever, contrapondo-se aos preconceitos e aos mitos
(na nossa época: dinheiro, técnica...), defendendo os
verdadeiros valores sociais e éticos, assumindo
principalmente uma posição justa nas situações que terá que
enfrentar.

A honestidade está relacionada com a confiança que nos é


depositada, com a responsabilidade perante o bem de
terceiros e a manutenção dos seus direitos. É muito
fácil encontrar falta de honestidade quando existe o fascínio pelos
lucros, privilégios e benefícios fáceis, pelo enriquecimento ilícito em cargos que outorgam autoridade e que
têm a confiança coletiva de uma organização. Já ARISTÓTELES na sua "Ética a Nicómaco"

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 9 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

analisava a questão da honestidade. Outras pessoas excedem-se no sentido de obter qualquer coisa e
de qualquer fonte, fazendo negócios sórdidos… Todas as pessoas deste tipo obtêm mais do que
merecem e de fontes erradas. O que há de comum entre elas é obviamente uma ganância sórdida. São
inúmeros os exemplos de falta de honestidade no exercício de uma profissão. Um psicanalista, abusando da
sua profissão ao induzir um paciente a cometer adultério, está a ser desonesto. Um contabilista que,
para conseguir aumentos de honorários, retém os livros de um comerciante, está a ser desonesto. A
honestidade é um valor ético-moral, e, como tal, fundamental no campo profissional. É um princípio que
não admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.

O respeito pela dignidade da Pessoa Humana é um valor primário e universal. Demonstrar respeito
pela dignidade humana, pela intimidade, pelo direito à livre determinação, pelas leis e pela
consciência social, é fundamental no exercício profissional. E a primeira forma de verificar o seu
cumprimento é o sigilo profissional. O respeito pelos segredos das pessoas, dos negócios, das
empresas, deve ser desenvolvido na formação de futuros profissionais, pois trata-se de algo
muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de
silêncio é obrigatória. Revelar detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos locais de trabalho, em
geral, nada interessa a terceiros e ainda existe a agravante de que planos e projetos de uma empresa
ainda não colocados em prática possam ser copiados e colocados no mercado pela concorrência antes
que a empresa, que os concebeu, tenha tido oportunidade de os lançar. Documentos, registos
contabilísticos, planos de marketing, pesquisas científicas, hábitos pessoais, entre outros, devem ser
mantidos em sigilo e a sua revelação pode representar sérios problemas para a empresa ou para os clientes.

Também, a propósito dos valores intelectuais, foi possível perceber que o ser humano busca a verdade
para compreender a realidade que o rodeia. A veracidade ou qualidade moral do que é verdadeiro, deve
refletir a realidade sem alterações. Este é um valor profissional a defender. É importante ter boas
fontes quando estamos a transmitir dados e a dar a nossa opinião sobre factos, pessoas ou
situações. A veracidade tem benefícios do ponto de vista económico porque as pessoas preferem
fazer negócios com quem é verdadeiro e não com quem só diz meias verdades.

Mas só a incorporação dos valores pelo indivíduo particular não são suficientes para a retidão da ação ética.
O autoconhecimento de si mesmo, das suas qualidades e defeitos, em busca da correção e
do autoaperfeiçoamento, é condição essencial para o desenvolvimento das virtudes pessoais e que
são fundamentais no exercício de toda e qualquer profissão. Ou seja, atuar na direção correta em
todos os aspetos da vida, conhecendo e utilizando ao máximo as capacidades e as qualidades
pessoais e desenvolvendo-as, tanto a nível pessoal como a nível profissional, numa linha de coerência de
vida e de aspirações, contribui para uma vivência virtuosa.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 10 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

As qualidades pessoais vão sendo desenvolvidas ao longo da vida nas relações interpessoais. E se
umas parecem estar “enraizadas desde o nascimento” na personalidade de cada um, outras há que
podem ser adquiridas com esforço e boa vontade. No entanto, só o autoconhecimento de si mesmo
permite ao ser humano, preservar umas e desenvolver mais outras, de forma a construir-
se solidamente em qualidades. O certo é que a nível profissional, no primeiro caso as
qualidades pessoais irão naturalmente facilitar o exercício da profissão, e, no segundo
caso, o autodesenvolvimento de outras aumentará o mérito do profissional que, no decorrer da sua
atividade consegue incorporá-las na sua personalidade, procurando vivenciá-las enquanto profissional.

Num artigo publicado na revista EXAME, o consultor dinamarquês Clauss MOLLER (1996, p.103-104) faz
uma associação entre as qualidades responsabilidade, lealdade e iniciativa como fundamentais
para o exercício profissional, afirmando mesmo que «o futuro de uma carreira depende dessas
qualidades, que solidamente praticadas se revelam como virtudes».

A consciência de que se possui uma influência real constitui uma experiência pessoal
muito importante. É algo que fortalece a autoestima de cada pessoa. Só pessoas que tenham autoestima
e um sentimento de poder próprio são capazes de assumir responsabilidade. Elas sentem um sentido na
vida, alcançando metas sobre as quais concordam previamente e pelas quais assumiram responsabilidade
real, de maneira consciente. Um profissional responsável é aquele que assume as consequências das
suas ações e responde pelos resultados e esforços. Um profissional que se sinta responsável pelos
resultados da equipa terá maior probabilidade de agir de maneira mais favorável aos interesses da
equipa e dos seus clientes, dentro e fora da organização. Gera-se confiança nestes profissionais pois
as suas ações são previsivelmente
éticas. O sentido de responsabilidade é para
Clauss Moller, prestigiado consultor dinamarquês, o
elemento fundamental da empregabilidade.
Sem responsabilidade a pessoa não pode
demonstrar lealdade, nem espírito de iniciativa.

Um funcionário leal alegra-se quando a organização ou


o seu departamento é bem sucedido; defende a
organização, tomando medidas concretas quando ela é
ameaçada; tem orgulho de fazer parte
da organização; fala positivamente sobre ela e defende-a
das críticas. Lealdade não é necessariamente fazer o que a pessoa ou organização, à qual se quer ser fiel,
quer que seja feito. Lealdade não é sinónimo de obediência cega. Lealdade significa fazer
críticas construtivas, mas dentro do âmbito da organização. Significa agir com a convicção de que o

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 11 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

seu comportamento vai promover os legítimos interesses da organização. Assim, ser leal,
às vezes, pode significar a recusa em fazer algo que a pessoa acha que poderá prejudicar
a organização, ou a equipa de funcionários. No Reino Unido, por exemplo, essa ideia é expressa
pelo termo "Oposição Leal a Sua Majestade". Por outras palavras, é perfeitamente possível ser
leal a Sua Majestade e, mesmo assim, fazer parte da oposição. Do mesmo modo, é possível ser
leal a uma organização ou a uma equipa mesmo que se discorde dos métodos usados
para se alcançarem determinados objetivos. Na verdade, seria desleal deixar de expressar o
sentimento de que algo está errado, se é isso que a pessoa sente. A lealdade obriga
a procurar alternativas a tudo o que não seja ético nas nossas relações profissionais.
Ser leal é ser transparente e honesto com os colegas, com os superiores e com os clientes.

Também designada de pró-atividade, a iniciativa é a virtude capaz de colocar as


duas anteriores em movimento. Tomar a iniciativa de fazer algo no interesse da
organização significa, ao mesmo tempo, demonstrar lealdade pela organização. Num
contexto de empregabilidade, tomar iniciativas não quer dizer apenas iniciar um projeto no
interesse da organização ou da equipa, mas também assumir responsabilidade pela sua
implementação. Assim, é a capacidade de agir e não apenas reagir. É a decisão firme de tomar
iniciativas, correr riscos razoáveis, planificar e lutar para alcançar as nossas metas e ideais. A
pró-atividade de um profissional é particularmente importante para fazer cumprir o desejo de
alcançar metas que se propõe e para apoiar os outros no esforço para alcançar objetivos.

Além das qualidades humanas referenciadas por Clauss Moller, e que se revelam
como virtudes também profissionais, há que destacar alguns exemplos de qualidades
individuais que em contexto profissional se revelam importantes:

- Prudência: Todo trabalho, para ser executado, exige muita segurança. A prudência,
fazendo com que o profissional analise situações complexas e difíceis com mais facilidade e de
forma mais profunda e minuciosa, contribui para uma maior segurança, principalmente nas
decisões a serem tomadas. A prudência é indispensável nos casos de decisões sérias e
graves, pois evita os julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis.

- Coragem: Todo o profissional precisa de ter coragem, pois "o homem que evita e teme tudo, não enfrenta
coisa alguma, torna-se um cobarde" (ARISTÓTELES). A coragem ajuda-nos a reagir às críticas,
quando injustas, e a defender-nos dignamente quando estamos cientes do nosso dever. Ajuda-nos a
não termos medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando estas forem do real interesse
para outrem ou para o bem comum. Temos que ter coragem para tomar decisões,

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 12 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

indispensáveis e importantes, para a eficácia do trabalho, sem levar em conta possíveis atitudes ou atos de
desagrado dos chefes ou colegas.

- Perseverança: Qualidade difícil de ser encontrada, mas necessária, pois


todo trabalho está sujeito a incompreensões, insucessos e fracassos
que precisam de ser superados, prosseguindo o profissional o seu
trabalho, sem se entregar a deceções ou mágoas. É louvável a
perseverança dos profissionais que precisam de enfrentar os problemas do
subdesenvolvimento…

- Compreensão: Qualidade que ajuda muito um profissional, porque é


bem aceite pelos que dele dependem, em termos de trabalho,
facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no
relacionamento profissional. É bom, porém, não confundir compreensão com
fraqueza, para que o profissional não se deixe levar por opiniões ou
atitudes, nem sempre válidas para a eficácia do seu trabalho, para
que não se percam os verdadeiros objetivos a serem alcançados pela
profissão. Vê-se que a compreensão precisa de ser condicionada, muitas
vezes, pela prudência. A compreensão que se traduz, principalmente, em
calor humano pode realizar muito em benefício de uma atividade profissional,
dependendo de ser convenientemente doseada.

- Humildade: O profissional precisa de ter humildade suficiente


para admitir que não é dono da verdade e que o bom senso e a
inteligência são propriedade de um grande número de pessoas. Representa
a autoanálise que todo o profissional deve praticar em função da sua atividade
profissional, a fim de reconhecer melhor as suas limitações, buscando a
colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver essa
necessidade, dispor-se a aprender coisas novas, numa busca constante
de aperfeiçoamento. Humildade é uma qualidade que carece de melhor
interpretação, dada a sua importância, pois muitos confundem-na com
subserviência, dependência, quase sempre atribuindo-lhe um sentido
depreciativo. Como exemplo, ouve-se frequentemente, a respeito de
determinadas pessoas, frases como estas: Fulano é muito humilde,
coitado! Muito simples! Humildade significa, nestas frases, pessoa carente
que aceita qualquer coisa, dependente e até infeliz. Conceito errado que
precisa ser superado, para que a humildade adquira definitivamente a sua
autenticidade.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 13 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

- Otimismo: Face às perspetivas das sociedades modernas, o profissional precisa e deve ser otimista, para
acreditar na capacidade de realização da pessoa humana, no poder do desenvolvimento, enfrentando o
futuro com energia e bom-humor.

Daqui se depreende que, para o desenvolvimento das virtudes profissionais, colaboram:

• por um lado, a incorporação dos valores;


• por outro, o autoconhecimento e autodesenvolvimento das qualidades pessoais/individuais.

Resta mencionar a caraterística que todo o profissional deve refletir ao longo da sua vida:
a competência profissional. Competência, sob o ponto de vista funcional, é o exercício
do conhecimento adequado e persistente para um trabalho ou profissão. Devemos buscá-la sempre. «A
função de um citarista é tocar cítara, e a de um bom citarista é tocá-la bem.» (ARISTÓTELES). É de
extrema importância a busca da competência profissional em qualquer área de atuação. Apesar de nem
sempre ser possível acumular todo o conhecimento exigido por uma determinada tarefa, é necessário
que se tenha a postura ética de recusar serviços quando não se tem a devida capacitação para o executar.
Pacientes que morrem ou ficam incapacitados por incompetência médica, causas que são perdidas pela
incompetência de advogados, prédios que desabam por erros de cálculo em engenharia, são apenas
alguns exemplos de quanto se deve investir na busca da competência.

No passado ainda recente, o que era requerido a um trabalhador competente centrava-


se, essencialmente:

• no conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas profissionais para a prestação de


serviços de boa qualidade e que se resume a ser UM BOM TÉCNICO, ou seja, dotado de um saber
científico-tecnológico (saber fazer):
- capaz de executar com eficiência as tarefas inerentes aos processos produtivos concretos típicos
da sua profissão ou função profissional, na empresa/organização em que trabalha.
- ter uma significativa capacidade de mobilidade profissional, entendida como facilidade
de adaptação à diversidade tecnológica e de organização do trabalho, o que implica que a
cultura científica e tecnológica lhe permita uma suficiente compreensão do sistema de produção, da
sua lógica de funcionamento e das várias modalidades tecnológicas típicas em se concretiza.

• na capacidade de responder/adaptar-se bem às condições ambientais de exercício da sua


profissão (saber estar) e que permitem designar esse profissional de UM BOM TRABALHADOR.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 14 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)
Para o poder ser, o profissional terá de acrescentar às suas qualidades técnicas as
qualidades inerentes:
- ao saber estar no seu posto de trabalho, ou seja, no envolvimento estrito de aplicação
das suas competências técnicas;
- ao saber estar na empresa/organização em que trabalha, ou seja, no
envolvimento mais alargado da vida do trabalhador, no seio da sua empresa;
- ao saber estar no mercado do trabalho, ou seja, saber gerir a sua vida profissional, a
sua carreira, quer o seu projeto seja de trabalho por conta de outrem quer por conta
própria, num mercado de emprego/trabalho/qualificações muito complexo,
competitivo, difícil.
Na verdade, existem profissionais que, como
técnicos, são excelentes (sabem executar o trabalho com
perfeição, têm uma notável cultura técnica), mas
que, como
«trabalhadores», apresentam deficiências graves,
por exemplo: faltam com frequência, chegam
atrasados, só se aplicam ao trabalho quando lhes apetece,
etc. Nestes casos, obviamente que têm dificuldades em
manter os seus empregos, e não são, não podem ser,
considerados como profissionais verdadeiramente competentes.

No contexto atual, e para o contexto futuro previsível do mercado das qualificações, resumir
a competência profissional a apenas estes dois saberes (saber fazer e saber estar) é
demasiado simplista.

Há que caraterizar um último conjunto de qualidades que um profissional, um adulto


ativo verdadeiramente competente apresenta como pessoa, como cidadão, tendentes a assumir um
caráter estrutural na personalidade do indivíduo e que perpassam o saber fazer e o saber estar e
que se revelam no saber ser:
• O profissional verdadeiramente competente, para além de «um bom técnico» e de «um bom
trabalhador», será aquele que se revela como UMA BOA PESSOA. Senão vejamos,
alguns profissionais considerados «bons técnicos» e «bons trabalhadores», no sentido
anteriormente sugerido, apresentam caraterísticas pessoais pouco consentâneas com a atribuição da
qualidade de
«profissional verdadeiramente competente»; revelam por exemplo: falta de cultura (geral e
específica), insuficiente capacidade de autonomia, falta de bom senso, insuficiente capacidade de
iniciativa e/ou decisão, falta de sabedoria, insuficiente sentido ético ou valorativo, entre outros.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 15 de 16.
Co lé g io In te r n a to d o s Ca r va lh o s
Ética Pr ofi ssional (12º a no)

Contribui para a qualificação de competência profissional, também o facto do


profissional ser uma boa pessoa. Isto é, revelar:
- sólidos valores ético-morais que lhe permitem reconhecer-se como cidadão do mundo, um
ser entre os demais, promovendo de forma crítica e fundamentada valores como a
equidade, a justiça social, o bem comum, etc.;
- conhecimentos culturais gerais e específicos, típicos da sociedade em que o profissional
se encontra inserido e que concorrem para a valorização das aprendizagens retiradas
do passado e do presente histórico, no sentido de um enriquecimento de si e das gerações
atuais e futuras;
- qualidades humanas relacionais que se espelham na vida social e que contribuem para uma
melhoria da sua autonomia e das suas opções devidamente ponderadas e fundamentadas;
- competências transversais relacionadas com as novas condições e caraterísticas
do mercado de trabalho/carreira profissional, e com a gestão individual da família, dos grupos
e do lazer, e que lhe permitem realizar-se plenamente.
Apesar de ser sempre um artifício metodológico qualquer esforço por diferenciar em partes
separadas aquilo que se encontra integrado num todo único e indissociável, como o é
a personalidade humana, o facto é que na confluência do saber fazer, saber estar e saber
ser, encontra-se a competência profissional.

Grupo Disciplinar de Ciências Humanas


Página 16 de 16.

Você também pode gostar