Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
No estudo antropológico dos povos locais na visão de Antônio Rita Ferreira, Moçambique
possui 12 grandes grupos étnicos. Apesar de o país ter escolhido como língua nacional, o
português, a maioria da população se comunicava através das línguas maternas, cerca de
18 línguas. Outro dado importante é a sua variedade de sistema de parentesco. Segundo a
teoria antropológica é um sistema de organização social muito diverso, apesar de
possuírem alguns aspectos comuns. Mas basicamente esse sistema define a pertença das
pessoas ao grupo de descendência que se estabelece por filiação transmitida pela família da
mãe, matrilinear ou do pai, patrilinear. Moçambique agrega esses dois tipos de sistema
familiar, ao menos no período estudado, a etnia somada ao sistema de parentesco era
fundamental para a existência social tanto dos homens quanto das mulheres.
As mulheres, habitantes das áreas rurais ou urbanas, ainda que de forma variada
estavam envolvidas em teias de relações familiares, nas quais, lhes eram exigidos certos
comportamentos em respeito aos princípios ancestrais, alguns destes, demarcadores de sua
existência social. Para Sheldon, o controle sobre a produção e reprodução das mulheres foi
essencial para o patriarcalismo rural e a mudança da sua posição na sociedade ameaçava o
poder político e econômico dos chefes11.
membros do governo e líderes da OMM que a Frelimo havia flexibilizado a sua política de
combate. Obviamente que essa mudança do governo se deveu a vários fatores, mas, as
resistências manifestadas pela população por necessidade de garantir a sua existência
social e sobrevivência atuaram como um motivo determinante da mudança do governo26.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1
A Frelimo foi fundada em 25 de junho de 1962 e surgiu como um resultado da “fusão” de
outros três grupos nacionalistas, organizados em países vizinhos a Moçambique: a
UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique) formada em 1960, em
Salisbury, capital da então Rodésia e atual Zimbábwè; a MANU (Mozambique African
National Union) fundada em Tanganica que fica na atual Tanzânia em 1961 e a UNAMI
(União Africana de Moçambique Independente) fundada em Niassalândia, atual Malauí em
1961. Embora estes grupos tivessem como interesses comuns, o anti-colonialismo e a
conquista da independência, havia entre eles diferentes correntes políticas que
caracterizavam estes anseios. Assim, este acordo de união não significou ausência de
contradições dentro do novo grupo nacionalista.
2
ENTREVISTA com o presidente Samora. Tempo. n. especial, 25 jun. 1975.
3
Maputo. Departamento de trabalho ideológico Frelimo. História da Frelimo. Maputo: DTIF, [197-?]. p 13-
22. (Coleção conhecer 4)
4
CASIMIRO, Isabel. Paz na Terra, guerra em casa: feminismo e organizações de mulheres em
moçambique. Maputo: Promédia, 2004. pp 52-54.
5
MACHIANA, Emídio. A revista Tempo e a revolução Moçambicana: da mobilização
popular ao problema da crítica na Informação, 1974–1977. Maputo: Promédia, 2002. p. 78
(Coleção identidades); SEMINÁRIO NACIONAL DE INFORMAÇÃO, 1977, 1.
1977,.Maputo. Anais... Maputo: ONJ, 1977. p. 15, 23, 81, 123-124.
6
MACHEL, 1979 ibid. p. 16-26.
7
A Frelimo na IIª Conferência da OMM definiu o liberalismo como um entendimento equivocado do que
seria a emancipação feminina que ocasionava um “comportamento irresponsável perante a sociedade” e a
adoção de valores burgueses.
8
A Frelimo definiu como obscurantismo, as diversas práticas relacionadas a visão religiosa ancestral,
consideradas em seu conceito como supersticiosas e um obstáculo ao acesso das mulheres ao conhecimento
material e científico. O tribalismo impedia a população de se definir enquanto nação porque continuava sendo
relevante a organização em sub-grupos de povos, a exemplo, Macuas, Macondes, Nianjas, Ajáuas, Tsongas
etc...
9
CONFERÊNCIA DA ORGANIZAÇÃO DA MULHER MOÇAMBICANA, 2 ibid.
10
Tempo. n.508, p.11, 6 jul. 1980;. n.361, p.59, 4 set. 1977; ISAACMAN, 1984, ibid. p. 71.
11
SHELDON, 1994, ibid. p. 41, GEFFRAY, 1991, ibid. p 18-21; CASIMIRO, 2004, ibid. p 180-183.
12
DOMINGOS, Luis Tomas. L'impact du Christianisme au Mozambique: Le cas des Senas de la Vallée
du Zambèze,
1997. Dissertação ( Mestrado em Etnologia) - Université Paris 8, França, 1997. p. 27-32.
13
Para Christian Geffray, o nihimo ainda corresponde a uma dívida para com os mortos
expressa na garantia de proteção do sofrimento mediante obediência e adequado
comportamento no grupo social. Porém, em caso de irreverência à essência encarnada pela
iniciação males podem ameaçar a vida do indivíduo ou torna-la difícil; Tempo, n. 681, p.18, 30
out. 1983; GEFFRAY, Ibid., 2000, p. 14.
14
LOFORTE, ibid., p. 201.
15
DOMINGOS, 1997, ibid, p. 30; JUNOD. Ibid., p. 77; ISAACMAM, ibid., p. 94.
16
A campanha do Abaixo era uma das medidas tomadas pelo governo em concentrações públicas, onde os
presentes eram incentivados a gritar pelo fim de práticas culturais consideradas um entrave a emancipação
feminina e a construção da sociedade socialista. O abaixo significava, fora ou o fim e por isto gritavam
“abaixo os ritos de iniciação”, ao lobolo entre outras práticas sociais.
17
Tempo. n. 681 p. 15; 18. 30 out. 1983.
18
Tempo n. 694, 29 jan. 1984.
10
19
Tempo , n. 734, p.15, 18 nov. 1984; ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES MOÇAMBICANAS.
Resolution Generale Adoptee Lors de La Conference Extraordinaire de L’Organization de La Femme
Mozambicaine (OMM). 1984 in: Agência de Informação deMoçambique, Maputo, n. 6, p. 8, nov., 1984;
Tempo. n. 675, 18 set. 1983.
20
Tempo. n. 606, p. 50, 23 maio 1982; JUNOD, ibid., p. 121.
21
Tempo. n. 598. p. 48, 28 mar. 1982.
22
ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES MOÇAMBICANAS, 1984, ibid., p.8.
23
GRANJO, Paulo. O lobolo do meu amigo Jaime: um velho idioma para novas vivências conjugais. In:
Travessias. Revista de ciências sociais e humanas em língua portuguesa. n. 4/5. Lisboa, p. 47-51, julho de
2004.
24
Tempo. n 734, p15, 18 nov. 1984; n 512, p 43, 3 ago. 1980.
25
Tempo. n.510, p.9, 20 jul. 1980.
26
GEFFRAY, 1991, ibid., p. 10– 13.