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Um foco de luz no centro do palco iluminando um homem em pé:

ALEX (confuso): Olá? Olá?! Ahm... tem alguém aí? Onde é que
eu estou? Oi?!
VOZ: Olá.
ALEX (assustado): Oi?! Quem está aí? Onde você está?
VOZ: Não sei é possível dizer. Creio que eu não me encontro em
um único local especifico. Ainda mais fisicamente.
ALEX: Quem você é? O que você é?
VOZ: Quem e o que são só a forma que deve ter um porquê. E o
que eu sou é uma voz.
ALEX (nervoso): Olha, eu não sei o que está acontecendo. Não
sei onde estou. Só tem você “aqui”! E quero saber onde é aqui e
como eu saio da... (pensativo e surpreso) Espera. Espera um
pouquinho. Você citou V de Vingança?
VOZ: Uma obra interessante, eu admito. Tanto os quadrinhos
quanto o filme. Uma mensagem poderosa. Perigosa em mãos
erradas, mas poderosa.
ALEX (nervoso): Escuta, será que pode me ajudar?! Onde eu
estou? Como eu saio daqui?
VOZ: Bem, até onde eu sei, não existe uma saída.
ALEX: Não. Não! Não, não, não, não, não, não, não, não, não,
não... Algum jeito, alguma saída deve ter.
VOZ: Acredite, se eu soubesse eu até diria. (Alex começa a sair
correndo do foco de luz pela direita e acaba voltando pela
esquerda) Na verdade eu sou tão novo nisso quanto você. (Alex
sai correndo do foco de luz pela esquerda e acaba voltando pela
direita) Podemos dizer que estamos ambos “presos” aqui. (Alex
sai da luz várias vezes, mas sempre volta para o mesmo lugar)
Talvez nós dois estamos passando pela mesma experiencia
existencial. A qual ainda o propósito ou descoberta ainda
precisamos descobrir.
ALEX: O que é que está acontecendo aqui?! Onde é aqui?! O que
você é? Um fantasma, um anjo ou... (pausa reflexiva) Espera...
Espera só um segundo. Isso... Eu... Eu morri? Eu... eu acho que eu
lembraria de morrer, mas... Isso é o Céu?
VOZ: Não, isso não é o Céu.
ALEX: (preocupado) Eu estou no Inferno?!
VOZ: Não, você também não está no Inferno.
ALEX: (Impaciente) Purgatório, Tártaro, Umbra, Limbo,
Valhala... O que quer que seja?!
VOZ: Você não está em nenhum plano de pós vida. E você não
morreu. Pelo menos, não ainda...
(As demais luzes se ascendem revelando um quarto de hospital.
Na cama se encontra alguém desacordado)
ALEX: Isso... Isso não pode ser real. Isso é um sonho, não é? Isso
não é real, está só na minha cabeça.
VOZ: Óbvio que isso está na sua cabeça. Mas isso não significa
que não é real.
ALEX: (sarcástico) Muito bom. Muito filosófico. O que é isso,
Aristóteles?
VOZ: Na verdade tirei isso do Dumbledore.
ALEX: Ótimo. Maravilha. Eu estou provavelmente morto, preso
onde parece um inferno em forma de hospital com um anjo que
fica fazendo citações da cultura pop.
VOZ: Eu poderia usar exemplos com melhor credibilidade, mas
achei que ficaria mais à vontade com exemplos mais conhecidos
por você.
ALEX: Bom, assim me sinto melhor.
VOZ: Sério?
ALEX: ÓBVIO QUE NÃO! Como você sabe o que me faz me
ficar mais à vontade? Você é o meu anjo da guarda por acaso?
VOZ: Se preferir me ver dessa forma...
ALEX: (respirando fundo) Ok, então, você pode me dizer o que
aconteceu comigo?
VOZ: Qual a última coisa da qual você se lembra?
ALEX: Nada demais, só mais um dia qualquer. Fui pra faculdade,
voltei pra casa e de noite fui dormir. Só isso.
VOZ: Você pode dar uma olhada no prontuário na cama.
(Alex pega o prontuário na frente da cama e folheia)
ALEX: Ahm... várias fraturas... Lesões... Eu acho, não entendo
muito disso. Mas para ele se machucar... Para EU me machucar
tanto assim pare um atropelamento. É isso? Fui atropelado?
VOZ: Precisamente.
ALEX: Mas como isso aconteceu?
VOZ: Eu sei tanto quanto você.
ALEX: Tá bom. Ok, é uma daquelas projeções astrais. Entendi.
Eu já vi isso antes.
VOZ: Sério mesmo?
ALEX: Sim. Bem, em filmes. E agora, como eu... volto?
VOZ: Bom, talvez se você pegar na sua própria mão e se
concentrar... (Alex junta suas mãos) Eu quis dizer com a sua mão
na cama.
ALEX: Ah, claro.
(Alex pega a mão de quem está na cama, fecha os olhos e se
concentra)
ALEX: (abrindo os olhos) Não funcionou.
VOZ: Tenta se concentrar mais.
ALEX: (fechando os olhos com mais força, fazendo uma careta)
Deu certo?
VOZ: Não, mas está divertido de ver.
ALEX: Tá brincando comigo?! Tem como você levar isso a
sério?
VOZ: Lamento, mas nem sempre tenho uma oportunidade como
essa para me divertir.
ALEX: Quantas vezes você já viu alguma coisa assim
pessoalmente?
VOZ: Contando com essa? (Alex confirma com a cabeça) Uma.
ALEX: Eu tô ferrado.

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