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Unidade II
5 RESPOSTA IMUNE INATA
A resposta imune inata é a primeira linha de defesa do organismo. Ela é competente desde o
nascimento e está relacionada com o estabelecimento de uma resposta rápida e inespecífica contra os
corpos estranhos (substâncias e microrganismos) que adentram o organismo.
• pela inflamação;
As barreiras naturais do organismo são de natureza física, química e/ou biológica, e envolvem ou
não a atuação direta de leucócitos e de outros tipos celulares. Caso essas barreiras naturais não sejam
suficientes para conter a infecção, entra em cena a inflamação e o sistema complemento.
Vamos, agora, aprender mais sobre cada um dos componentes da resposta imune inata?
Entre as barreiras naturais do organismo temos a pele, as mucosas (como os revestimentos das vias
respiratórias e do intestino), o aparelho geniturinário, o pH ácido do estômago etc. De acordo com a sua
natureza, elas são classificadas em barreiras mecânicas, químicas ou biológicas.
A pele funciona como uma barreira mecânica contra organismos patogênicos e representa a
nossa primeira linha de defesa. A pele íntegra, por não apresentar lesões, impede a invasão de muitos
microrganismos patogênicos.
O microbioma da pele, que compreende bactérias, fungos e vírus comensais, tem efeitos benéficos
na proteção contra patógenos e na cicatrização de feridas.
As mucosas, como os revestimentos das vias respiratórias e do intestino, também constituem barreiras
naturais eficazes, pois geralmente estão cobertas de secreções que combatem os microrganismos. As
mucosas dos olhos estão banhadas em lágrimas, que contêm uma enzima, a lisozima, capaz de atacar
as bactérias, o que protege os olhos das infecções.
Se um microrganismo atinge as vias aéreas inferiores, o batimento coordenado dos cílios, associado
à ação do muco, faz com que os microrganismos e os corpos estranhos sejam transportados para fora
do pulmão, processo auxiliado pelo reflexo da tosse e do espirro.
O tubo digestório dispõe de uma série de barreiras eficazes, que incluem o ácido do estômago e a
atividade antibacteriana das enzimas pancreáticas, da bile e das secreções intestinais. O peristaltismo
intestinal e o desprendimento normal das células que o revestem (barreira da mucosa) também ajudam a
eliminar os microrganismos deletérios. O microbioma intestinal constitui uma importante defesa contra
microrganismos patogênicos, e participa da modulação do sistema imunológico.
O aparelho geniturinário feminino conta com a proteção do ambiente ácido da vagina, e o aparelho
geniturinário masculino encontra-se protegido pelo comprimento da uretra (aproximadamente 20 cm).
Além disso, o esvaziamento da bexiga gera um efeito de arrastamento, que é um mecanismo de defesa
natural de ambos os sexos.
Indivíduos nos quais as barreiras naturais estejam comprometidas são mais suscetíveis a infecções.
Por exemplo, pessoas cuja produção de ácido pelo estômago está comprometida, são particularmente
vulneráveis à infecção por Helicobacter pylori ou à infecção causada por Salmonella sp.
Os ácidos graxos do suor inibem o crescimento de bactérias e, portanto, são um exemplo de fator
químico que impede a invasão do organismo.
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IMUNOLOGIA BÁSICA
Existem bactérias que convivem em harmonia em nosso organismo. Elas são importantes para
manter a homeostase, pois ajudam a prevenir a colonização de bactérias que causam doenças. Essa
ação é efetivada:
• pela ligação à superfície da célula que ocorre entre o microbioma normal e as bactérias patogênicas.
Remoção de partículas
Lisozima nas lágrimas e pela rápida passagem
em outras secreções do ar através dos ossos
Comensais turbinados
Pele Brônquios
Barreira física muco, cílios
Ácidos graxos ácidos
Comensais
Rápida alteração do pH
Comensais
5.2 Inflamação
Caso as barreiras naturais não tenham sido suficientes para conter a entrada do patógeno, os
leucócitos entram em ação. A linha de defesa inicial mediada por essas células é caracterizada por uma
resposta generalizada e constituída por mecanismos de defesa que já fazem parte do repertório celular
do nosso organismo mesmo antes do estabelecimento de uma infecção.
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Unidade II
Na zona inflamada, as substâncias liberadas pelos leucócitos e pelas células lesadas atuam nas
terminações nervosas, causando dor e, em alguns casos, aumento da temperatura local.
A febre é uma resposta de proteção perante uma infecção ou uma lesão. É o resultado da ação
de pirógenos, que induzem a liberação de substâncias endógenas (como, por exemplo, a IL-1, a IL-6
e o TNFα), as quais aumentam o nível de termorregulação do hipotálamo a partir da produção de
prostaglandinas no sistema nervoso central.
Além disso, a IL-1, a Il-2 e o TNFα induzem a síntese e a secreção de proteínas de fase aguda,
como, por exemplo, a proteína C reativa, em resposta à injúria celular.
• A destruição tecidual, que leva à formação de restos de tecido a partir de danos mecânicos
(cortes, arranhões etc.), da exposição a compostos químicos (ácidos e álcalis) e de influências
físicas (frio, calor e radiação).
• As reações autoimunes.
para possibilitar os eventos que acabarão por cicatrizar o tecido danificado. Assim, a inflamação está
relacionada com os processos de reparação, que substituem o tecido danificado ou preenchem os
defeitos residuais com tecido cicatricial fibroso.
Embora tenha sido descrita pela primeira vez há mais de dois mil anos, a resposta inflamatória é
objeto de constantes estudos até os dias atuais. Hoje, sabe‑se que a patogênese de várias doenças está
ligada à resposta inflamatória, cuja consolidação acaba por danificar os tecidos. Um exemplo é o dano
articular decorrente do processo inflamatório característico da artrite reumatoide.
As doenças inflamatórias são nomeadas acrescentando‑se o sufixo -ite ao órgão ou sistema afetado.
Por exemplo, apendicite refere-se à inflamação do apêndice; pericardite é o nome dado à inflamação do
pericárdio; a neurite é a inflamação de um nervo.
Expressões mais descritivas do processo inflamatório podem indicar se o processo é agudo ou crônico
e que tipo de exsudato foi formado.
Ainda no primeiro século d.C., a reação local decorrente de uma lesão tecidual foi caracterizada e
percebeu-se que alguns sinais cardinais, ou flogísticos, estavam presentes na maioria dos casos. Esses
sinais são o rubor (vermelhidão), a tumefação (inchaço ou edema), o calor e a dor (hiperalgesia). No
século II d.C., foi incluído um quinto sinal cardinal, a functio laesa, ou perda de função.
Além dos sinais clássicos, que aparecem no local da lesão, podem ocorrer manifestações sistêmicas,
como, por exemplo, a febre. Elas são decorrentes da ação de mediadores químicos (citocinas e
prostaglandinas) sobre o sistema nervoso central.
O processo inflamatório pode ser dividido em dois tipos, agudo e crônico, que, frequentemente,
sobrepõem-se. O grau da resposta inflamatória pode ser influenciado por vários fatores, como a duração
da lesão, o tipo de agente estranho, o grau de lesão e o microambiente.
O processo inflamatório agudo tem curta duração, que varia de alguns minutos até vários dias, e
caracteriza-se pela exsudação de líquidos e componentes do plasma e pela migração de leucócitos,
predominantemente neutrófilos, para o local da lesão. A grande variedade de manifestações sistêmicas
durante um processo inflamatório agudo é conhecida como resposta de fase aguda.
O processo inflamatório crônico tem duração mais longa, que varia de um dia até anos, e está
associado à presença de linfócitos e macrófagos, à proliferação de vasos sanguíneos, à fibrose e à
necrose tecidual.
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Unidade II
Agente
inflamatório
Sinais
cardinais
Fenômenos
irritativos
Calor
Fenômenos
vasculares Rubor
Dor
Fenômenos alterativos
Fenômenos
exsudativos Tumor
Mediadores
Cura por
Fenômenos reabsorção
resolutivos do exsudato e
regeneração
Inflamação
crônica Inflamação
Lembrete
O processo inflamatório agudo é uma resposta imediata contra um agente nocivo. Tal resposta,
que serve para controlar e eliminar células alteradas, microrganismos e antígenos, inicia-se pelo
reconhecimento dos corpos estranhos pelos leucócitos residentes nos tecidos lesados, principalmente os
monócitos e as células dendríticas. Essas células realizam a fagocitose e liberam uma série de citocinas e
eicosanoides, responsáveis por estabelecer o processo inflamatório. A liberação desses mediadores resulta:
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IMUNOLOGIA BÁSICA
• a fase vascular, que resulta em aumento do fluxo sanguíneo e em alterações nos pequenos vasos
da microcirculação;
• a fase celular, que resulta na migração de leucócitos da circulação e sua ativação para eliminar o
agente nocivo.
Diversas células estão envolvidas na efetivação de cada uma das fases. Alguns exemplos são:
Músculo
liso
Membrana
basal
Matriz
do tecido
conjuntivo
Fibras elásticas Fibras colágenas Proteoglicanos
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Unidade II
Esses mediadores podem atuar sobre uma ou algumas células-alvo e exercem diferentes efeitos sobre
tipos distintos de células. Uma vez liberados, a maioria tem curta duração. Eles podem ser transformados
em metabólitos inativos, inativados por enzimas, ou eliminados de outro modo.
A vasodilatação, uma das primeiras manifestações do processo inflamatório, começa depois de uma
constrição transitória das arteríolas, que dura alguns segundos. A vasodilatação envolve primeiramente
as arteríolas e, em seguida, resulta na abertura dos leitos capilares na região afetada. Como resultado,
a área se torna congestionada, o que causa a vermelhidão (eritema) e o calor associados ao processo
de inflamação aguda. A vasodilatação é induzida pela ação de vários mediadores, como a histamina e
o ácido nítrico.
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IMUNOLOGIA BÁSICA
Arteríola
Vênula
Vasoconstrição
O deslocamento e a ativação dos leucócitos ocorrem de acordo com as seguintes etapas: adesão e
marginação, transmigração e quimiotaxia.
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Unidade II
Fluxo sanguíneo
Células endoteliais
Capilar
Neutrófilo
Neutrófilo
2 Transmigração
1 Marginação Bactérias
3 Quimiotaxia
Uma etapa importante da resposta celular é a ativação dos monócitos, dos neutrófilos e dos
macrófagos teciduais, que englobam e degradam as bactérias e os fragmentos celulares, em um processo
denominado fagocitose. Ela é iniciada pelo reconhecimento e pela ligação de partículas em receptores
específicos na superfície de células fagocíticas, seguida do englobamento e do processamento do
corpo estranho.
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IMUNOLOGIA BÁSICA
A etapa seguinte, nesse processo, é a liberação de substâncias que tentarão destruir a partícula
ingerida. Nessa etapa, ocorre grande consumo de oxigênio pela célula, o que resulta no aumento do
desvio da atividade da hexose monofosfato e gera NADPH. Como resultado, ocorre redução do oxigênio
molecular, o que dá origem a uma série de agentes microbicidas poderosos: o ânion superóxido, o
peróxido de hidrogênio e os radicais hidroxila.
Essas proteínas catiônicas são capazes de lesar a membrana dos microrganismos pela ação da
catepsina G e, também, pela aderência direta à membrana microbiana.
Outros fatores envolvidos nesse processo são a lactoferrina e os intermediários nitrogenados, como,
por exemplo, o óxido nítrico. Eles se ligam ao ferro e, assim, privam a bactéria de um elemento essencial
ao seu crescimento.
A lisozima, por sua vez, destrói os proteoglicanos da parede celular das bactérias, e outras enzimas
são responsáveis por degradar os componentes internos dos microrganismos. Assim que o processo
termina, os produtos resultantes são liberados para o exterior da célula.
Os linfócitos NK entram em ação quando ocorre invasão das células do nosso organismo por
agentes estranhos. Eles são grandes linfócitos granulares que se ligam a glicoproteínas que são
expressas na superfície das células infectadas por vírus e em algumas células tumorais. Uma vez
ligada à célula-alvo, as NK liberam o conteúdo de seus grânulos. Os elementos citotóxicos mais
importantes liberados são as perforinas, substâncias capazes de fazer furos na membrana da célula
infectada, o que resulta em citólise.
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Unidade II
Figura 38 – Fagocitose
As bactérias produzem algumas substâncias, como a formil metionina, capazes de atrair os leucócitos.
Muitas vezes, esse estímulo químico não é suficiente para fazer com que os fagócitos reconheçam e
se liguem à superfície dos microrganismos e iniciem o processo de fagocitose. Nesses casos, ocorre a
ativação da cascata do complemento, a respeito da qual iremos discorrer mais adiante.
De maneira resumida, esse processo é caracterizado pelo revestimento de um antígeno por anticorpos
ou pelas moléculas do complemento, em um processo denominado opsonização. A endocitose mediada
por receptores é desencadeada pela opsonização e pela subsequente ligação do agente para fagocitar
receptores da superfície celular.
1
Fagossomo 2 Receptor Fc
Fc
C3b
Receptor
C3b
3
4
Fagolisossomo
Figura 39 – A opsonização dos microrganismos: (1) pelo fator de complemento C3b e anticorpo facilita o reconhecimento pelo
neutrófilo receptor de C3b e anticorpo Fc; (2) a ativação do receptor desencadeia a sinalização intracelular e a montagem de actina
no neutrófilo, levando à formação de pseudópodes que englobam o micróbio em um fagossomo; (3) este, então, se funde com um
lisossomo intracelular para formar um fagolisossomo, no qual enzimas lisossomais e radicais de oxigênio
(4) são liberados para matar e digerir o micróbio
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IMUNOLOGIA BÁSICA
As células endoteliais e as plaquetas, embora não façam parte do sistema imunológico, também
participam da inflamação. Os papéis dessas células no processo inflamatório são descritos a seguir.
Células endoteliais
Além disso, elas fornecem uma barreira de permeabilidade seletiva para estímulos inflamatórios
exógenos e endógenos; regulam o extravasamento de leucócitos pela expressão de moléculas de adesão
celular e receptores; contribuem para a regulação e a modulação da resposta imune pela síntese e
liberação de mediadores inflamatórios; e regulam a proliferação de leucócitos, a partir da secreção de
fatores estimuladores de colônias hematopoiéticas (CSF, do inglês colony stimulating factor). Também
participam do processo de reparo que acompanha a inflamação, por meio da produção de fatores de
crescimento que estimulam a angiogênese e a síntese da matriz extracelular.
Plaquetas
Plaquetas ou trombócitos são fragmentos de células circulantes no sangue envolvidos nos mecanismos
celulares de hemostasia primária. Plaquetas ativadas também liberam vários mediadores inflamatórios,
responsáveis por aumentar a permeabilidade vascular e alterar as propriedades quimiotáticas, adesivas
e proteolíticas das células endoteliais. Quando uma plaqueta sofre ativação, mais de 300 diferentes
mediadores são liberados.
Todas as reações inflamatórias agudas são caracterizadas por alterações vasculares e infiltração de
leucócitos. A intensidade da reação, no entanto, depende da natureza do estímulo. As manifestações
podem variar desde edema e formação de exsudato até a formação de abscesso ou de ulceração.
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Unidade II
O exsudato resultante do processo inflamatório agudo pode apresentar diferentes composições, que
variam principalmente em relação aos teores de proteínas plasmáticas e à presença ou não de células. De
acordo com esses parâmetros, eles podem ser classificados em exsudato seroso, hemorrágico, fibrinoso,
membranoso ou purulento. Muitas vezes, o exsudato é composto de uma combinação desses tipos.
• Exsudato seroso é um líquido com baixo teor de proteína resultante da entrada de plasma no
local inflamatório.
• Exsudato hemorrágico acontece quando existe lesão tecidual grave, que danifica os vasos
sanguíneos, ou quando há aumento da permeabilidade vascular.
• Exsudato fibrinoso contém grandes quantidades de fibrinogênio, que forma uma malha grossa
e pegajosa, semelhante às fibras de um coágulo sanguíneo.
Alguns microrganismos, como o Staphylococcus sp., apresentam maior propensão do que outros a
induzir a formação de exsudato purulento. Caso os fibroblastos cerquem o abscesso e formem uma rede
de colágeno ao redor dele, os antibióticos não conseguirão penetrar na parede dessa estrutura, o que
resulta na necessidade de se realizar incisão cirúrgica e drenagem para alcançar a cicatrização.
Ulceração se refere a um local de inflamação no qual uma superfície epitelial (por exemplo, a pele
ou o epitélio gastrointestinal) se torna necrótica e corroída, frequentemente associada à inflamação
subepitelial. Pode decorrer de um trauma na superfície do epitélio (um exemplo é a úlcera péptica) ou
ser resultado de alterações na vasculatura (por exemplo, as úlceras do pé associadas ao diabetes).
Observação
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IMUNOLOGIA BÁSICA
Lembrete
A) Inflamação
Capilares
Dilatação capilar, exsudação de líquido,
migração de neutrófilos
Neutrófilos
B) Supuração
Desenvolvimento de exsudato
Necrose tecidual supurativo ou purulento contendo
neutrófilos degradados e restos
de tecido
C) Formação de abscesso
Pus Compartimentalização de exsudato
purulento (pus) para formação do
Parede fibrosa abscesso
Figura 41 – Formação de abscesso: (A) invasão bacteriana e desenvolvimento do processo inflamatório; (B) continuação do
crescimento bacteriano, migração de neutrófilos, liquefação por necrose de tecidos e desenvolvimento de exsudato purulento;
(C) compartimentalização da área inflamada e seu exsudato purulento de modo a formar um abscesso
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Unidade II
• reações autoimunes.
De forma diferente do que se percebe na inflamação aguda, que é manifestada pelas mudanças
vasculares, edema e infiltração predominantemente neutrofílica, a principal característica da inflamação
crônica é a infiltração de macrófagos e de linfócitos. Os sinais típicos de vermelhidão e edema podem
não ser aparentes.
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IMUNOLOGIA BÁSICA
A inflamação crônica granulomatosa é uma resposta à infecção persistente que ocorre, por exemplo,
na tuberculose, na brucelose e em outras doenças causadas por bactérias, fungos ou parasitas. Pode
também ser decorrente da exposição a material particulado de difícil degradação, como, por exemplo,
a sílica e o amianto.
A reação granulomatosa pode se apresentar de maneira difusa, como, por exemplo, na hanseníase,
em que é observado grande número de macrófagos vacuolados, cheios de micobactérias no citoplasma,
e poucos linfócitos associados.
Os granulomas podem evoluir para um nódulo fibrótico ou calcificado ou, ainda, dar origem a
cavidades durante os processos resolutivos e reparativos, como resultado da necrose liquefativa, com
material que é absorvido pelo organismo ou é drenado para o exterior.
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Unidade II
O sistema complemento é um componente da imunidade inata que também atua na imunidade adaptativa.
O nome complemento foi dado a esse sistema por Jules Bordet, logo após a descoberta da molécula
de anticorpo. Ele demonstrou que, quando uma amostra de soro rico em anticorpos contra determinada
bactéria era incubada com essa bactéria à temperatura fisiológica de 37 °C, ocorria lise. No entanto,
quando esse soro era aquecido a 56 °C, a lise das bactérias não ocorria.
Bordet percebeu, então, que estava prestes a descobrir um novo fenômeno presente no soro. A fim
comprovar esse fenômeno, ele precisava demonstrar que a perda da atividade lítica do soro não era
acompanhada da perda da atividade do anticorpo. Para validar a sua hipótese, Bordet demonstrou que
o soro tratado pelo calor ainda era capaz de aglutinar as bactérias, o que confirmou que os anticorpos
mantinham as suas atividades preservadas. Assim, Bordet pôde concluir que o soro deveria conter
algum outro componente que fosse termossensível e responsável pela atividade lítica. Esse componente,
que assistia ou complementava a função do anticorpo, ou seja, acrescentava a função lítica a ele, foi
denominado sistema complemento.
A ativação do sistema complemento pode se dar por três vias distintas, conforme mostrado a seguir:
• Via clássica: a primeira via a ser descrita, depende de anticorpos para a sua ativação.
• Via das lectinas: similar à via clássica, mas não depende de anticorpos.
A ativação dessas vias resulta em diferentes mecanismos, que incluem a lise do patógeno ou da
célula-alvo, a opsonização do microrganismo, com consequente aumento da fagocitose, a quimiotaxia
de fagócitos, a indução da inflamação e a amplificação da resposta imune adaptativa do tipo humoral
(baseada em anticorpos).
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IMUNOLOGIA BÁSICA
A nomenclatura dos componentes se dá por letras seguidas de número, de acordo com a sua ordem
de descoberta, ou somente por letras. Veja o exemplo da via clássica do complemento, cujos componentes
são: C1p, C1r, C1s, C4, C2, C3, C5, C6, C7, C8 e C9. Já na via alternativa, alguns componentes são chamados
de fatores, tais como: fator B, fator D, fator H e fator P. Quando um componente é proteoliticamente
ativado, gera dois fragmentos: um maior, denominado “b”, e um menor, “a”, que é acrescido após o nome
do componente.
Vejamos o exemplo do componente C3. Ao ser ativado por processo de clivagem, ele se desdobra em
C3a e C3b, que correspondem aos fragmentos menor e maior, respectivamente.
Clivagem de C3
C3a
C3
C3b
As formas inativas dos componentes são identificadas pela letra “i”, de inativo, grafada antes de cada
fragmento, como, por exemplo, o C4b que, na sua forma inativa, é identificado por iC4b.
Todas as vias de ativação do sistema complemento convergem para o componente C3. A partir dele,
é desencadeada uma via única, que resulta na ativação do último componente, o C9.
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Unidade II
MBL
Carboidratos Imunecomplexos
C3 (H2O)
Mg++
C2b
C3a
C3 convertase C3 convertase
C3a
C5 convertase C5 convertase
C5a
MAC (C5b-9)
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IMUNOLOGIA BÁSICA
Tal complexo é chamado C3 convertase da via alternativa, que tem a função de clivar (ativar) mais
moléculas de C3, o que constitui uma alça de amplificação desse sistema.
As novas moléculas de C3b, geradas pela C3 convertase, podem se ligar à superfície do patógeno
e, dessa maneira, formar mais complexos C3bBb. É importante notar que alguns complexos da C3
convertase da via alternativa permitem a ligação de mais uma molécula de C3b, formando C3bBb3b.
Como resultado, ocorre a mudança da especificidade do complexo, que passa, agora, a atuar no próximo
componente da cascata, que é o C5. Esse novo complexo é denominado C5 convertase da via alternativa.
Ele inicia a etapa final da ativação do sistema complemento, que é comum às três vias, a chamada via
efetora ou terminal.
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Unidade II
1
iC3b
(célula do hospedeiro)
Superfície do
microrganismo
2
C3b inativo
Superfície do
microrganismo
3 Fator D
C5 convertase
C5a
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IMUNOLOGIA BÁSICA
• C3b ligada covalentemente à superfície celular. Ligação à C3bBb para formar C5 convertase.
A ativação da via clássica do sistema complemento se inicia pela ligação do primeiro componente
dessa via, o C1, nos domínios CH2 da IgG ou nos domínios CH3 da IgM que estejam ligadas a um
antígeno qualquer, formando imunocomplexo. Em humanos, a IgM e as subclasses IgG1 e IgG3 são as
imunoglobulinas que fixam complemento de forma mais eficiente.
O componente C1 é uma proteína grande, composta de cinco subunidades, sendo uma molécula de
C1q, duas de C1r e mais duas de C1s. A molécula C1q tem uma estrutura interessante, que se assemelha
a um buquê invertido com seis tulipas.
A molécula de C1q é composta de seis cabeças globulares, sendo cada uma ligada por uma estrutura
alongada, que se unem formando um cabo central. Para iniciar a ativação da via clássica, é imprescindível
que C1q se ligue a duas Fc da molécula de anticorpo. Para que a IgG ative a via clássica do complemento,
são necessárias duas moléculas, e, para a IgM, é preciso somente uma molécula.
Com a ligação de C1q ao anticorpo, o qual está, por sua vez, complexado ao antígeno, ocorre uma
mudança conformacional em C1q, a qual acaba por ativar C1r. Quando C1r é ativada, passa a exibir
uma atividade enzimática do tipo serino-protease, ativando C1s. É importante ressaltar que a completa
ativação desse complexo é dependente de íons Ca2+ e Mg2+.
O complexo C1qrs ativado também apresenta atividade serino-protease, o que os capacita a atuar
sobre o próximo componente, a proteína C4, clivando-a em C4a e C4b. Consequentemente, a molécula
de C4b atua clivando C2, em C2a e C2b, e o complexo resultante, C4b2a, forma-se e é denominado de
C3 convertase da via clássica, o qual irá atuar no próximo componente, o C3.
A molécula de C3 liga-se ao complexo da C3 convertase pela molécula de C4b e é clivada pela C2a,
resultando em C3a e C3b. O fragmento menor, C3a, fica solúvel no plasma e desempenha algumas
funções biológicas, que veremos a seguir, enquanto o C3b formado pode se ligar covalentemente à
superfície celular ou ao anticorpo que iniciou a ativação da via clássica do complemento. Algumas das
moléculas de C3b geradas ligam-se ao complexo anterior, o que vai resultar na formação do complexo
C4b2a3b. Esse complexo funciona como C5 convertase da via clássica, que vai ativar o componente C5,
iniciando a via comum.
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Unidade II
• Clivagem do C4 pela enzima C1rs. Ligação covalente de C4b aos anticorpos e à superfície
do antígeno.
• Clivagem do C5. Início da via terminal da ativação do complemento efetora ou via terminal comum.
A) C1q B)
Imunocomplexo α
Haste C1 1
C1s
C1r
Cabeça
3
C4a
C2a
C3 convertase
4
C2b
5 C3a
C5 convertase
6
C2a
C5a
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IMUNOLOGIA BÁSICA
A via das lectinas é a última das vias de ativação do sistema complemento. Essa via, basicamente,
consiste numa forma distinta de ativar os componentes C2 e C4 da via clássica.
A ativação dessa via se inicia com a ligação de lectinas, presentes na circulação, a resíduos de açúcares
dos microrganismos. Essa proteína, denominada MBL ou MBP, que significa lectina (proteína) ligadora
de manose (manana), do inglês mannose binding lectin ou mannose binding protein, respectivamente,
liga‑se principalmente a resíduos de manose, fucose e N-acetilglicosamina de polissacarídeos
encontrados, em abundância, na superfície microbiana. Por ser estruturalmente semelhante a C1q, a
MBL pode disparar a ativação do sistema complemento, ativando os componentes C1r e C1s de forma
similar ao C1q da via clássica.
A outra forma de disparar essa reação é pela ligação da MBL a uma outra enzima chamada MASP
(serino-proteinase associada a MBP), do inglês mannose binding lectin associated serine-protease.
Em humanos, são conhecidas como MASP-1 e MASP-2 e encontram-se fisicamente ligadas à MBL.
A MASP‑1 e a MASP-2 são ativadas, provavelmente, quando a MBL se liga a qualquer resíduo de açúcar
na superfície de algum microrganismo. Como consequência, há a clivagem de C4, dando origem a C4a e
C4b, e de C2, dando origem a C2a e C2b. A partir da formação do complexo C4bC2a, essa via prossegue
igual à via clássica de ativação do sistema complemento
MBL
C3a
Carboidratos
Superfície do microrganismo
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Unidade II
As C5 convertases geradas pelas vias alternativa, clássica e lectina iniciam a etapa final da ativação
do sistema complemento pela clivagem do componente C5, o que gera os fragmentos C5a e C5b.
O fragmento menor, C5a, fica solúvel no soro, enquanto o fragmento maior, C5b, permanece ligado
às outras proteínas do complemento na superfície microbiana. A molécula de C5b, na superfície do patógeno,
permite, agora, a ligação dos componentes restantes da cascata C6, C7, C8 e C9, que são estruturalmente
relacionadas e não apresentam atividade enzimática, concluindo a formação do complexo de ataque
à membrana MAC, do inglês membrane attack complex, que é um canal transmembrânico formado na
superfície microbiana. Esse canal, inserido na superfície do patógeno, resulta na perda da integridade da
membrana e, por consequência, o desequilíbrio iônico, com a saída de Ca2+, entrada de K+ e água, que
resulta no aumento do volume intracelular e culmina na lise da célula-alvo.
Inflamação
Várias moléculas
C5a de C9
C5 convertase
Lise da
célula
Membrana plasmática
MAC - complexo de
ataque à membrana
O resultado final da ativação do sistema complemento é induzir a lise da célula-alvo. Além disso,
esse sistema participa de outras funções biológicas importantes, que são mediadas pela ligação de
fragmentos derivados da sua ativação a receptores expressos em vários tipos celulares. No quadro a
seguir, estão apresentados, de forma sucinta, os receptores do sistema complemento, as células em que
eles estão presentes e as consequências biológicas decorrentes da ligação desses receptores.
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IMUNOLOGIA BÁSICA
Como afirmamos anteriormente, o sistema complemento atua tanto na imunidade inata quanto na
adaptativa, e resulta em funções efetoras bastante importantes, que serão detalhadas a seguir.
Opsonização e fagocitose
Os microrganismos nos quais o sistema complemento é ativado pela via clássica ou alternativa são
alvos da ligação dos fragmentos C3b, iC3b ou C4b e têm a sua fagocitose facilitada pela existência de
receptores para esses componentes na superfície dos macrófagos e dos neutrófilos. Os fragmentos
C3b e C4b ligam-se ao receptor CR1, enquanto o iC3b liga-se aos receptores CR3 e CR4. O CR1, por
si, é ineficiente em promover a fagocitose de microrganismos ligados por C3b. No entanto, a fagocitos
e é incrementada caso esse organismo esteja também ligado a uma IgG que, simultaneamente, liga CR1
com o receptor de Fc (receptor de Fc de anticorpo) na superfície dos fagócitos. A fagocitose de
microrganismos, via C3b e iC3b, constitui-se como um mecanismo importante de defesa inata e
adaptativa nas infecções.
Nas infecções que ocorrem por bactérias encapsuladas, tais como pneumococos e meningococos,
que apresentam cápsula rica em polissacarídeos, a proteção é mediada pela imunidade humoral. Nessas
infecções, os anticorpos IgM direcionados contra os polissacarídeos bacterianos ativam o complemento
pela via clássica, e os componentes opsonizantes, gerados por sua ativação, induzem a eliminação desses
patógenos, via fagocitose, que ocorre no baço. Esse é o motivo pelo qual indivíduos que não têm o baço
(esplenectomia cirúrgica após traumas, por exemplo) são mais susceptíveis a infecções generalizadas
por pneumococos ou meningococos.
101
Unidade II
Opsonização e fagocitose
Macrófago
Microrganismo
Microrganismo Fagocitose do
Ligação de C3b (ou C4b) ao
microrganismo (opsonização) Reconhecimento do C3b microrganismo
ligado ao microrganismo, pelo
receptor de C3b do fagócito
Figura 49 – Funções biológicas do sistema complemento: na parte superior está representada a opsonização e fagocitose de
microrganismo; na parte inferior está representada a lise de microrganismo mediado pelo complemento
Resposta inflamatória
Os fragmentos peptídicos resultantes da ativação do sistema complemento C5a, C4a e C3a induzem
inflamação aguda pela ativação de mastócitos e neutrófilos. Todos esses três peptídeos podem se ligar
a mastócitos e induzem a sua degranulação, liberando mediadores vasoativos, tais como a histamina.
Em neutrófilos, o C5a aumenta a motilidade e, associado aos mediadores vasoativos liberados pelos
mastócitos, modulam positivamente a expressão de moléculas de adesão (CAMs) no endotélio dos vasos
e no próprio neutrófilo, que resulta na sua migração ao sítio da inflamação. Um mecanismo similar
acontece com outras células que também são atraídas para o foco inflamatório, a fim de combater o
patógeno presente no local.
O MAC, formado pela via terminal do sistema complemento, pode induzir a lise de bactérias,
principalmente Gram-negativas, parasitas, vírus, eritrócitos e células nucleadas.
102
IMUNOLOGIA BÁSICA
A maioria dos vírus envelopados são susceptíveis à lise mediada pelo complemento, uma vez que o
envelope viral é derivado da membrana plasmática da célula infectada.
Em relação às bactérias, a maioria das Gram-negativas são passíveis de lise mediada pelo
complemento, com exceção da Escherichia coli e Salmonella que, por exemplo, são resistentes. Já as
Gram-positvas, geralmente, são resistentes à ação do sistema complemento devido a uma camada
espessa de peptidoglicana na parede celular, que previne a inserção do MAC.
Uma resposta imune com níveis elevados de anticorpos contra antígenos circulantes resulta na
formação de uma pequena quantidade de imunocomplexos. Se esses imunocomplexos se acumularem
na circulação, podem formar agregados, serem depositados na parede dos vasos e induzir inflamação,
causando uma flebite (inflamação de vasos sanguíneos).
Na imunidade adaptativa, atuam vários tipos de leucócitos e, dentre eles, destacam-se os linfócitos T
e os linfócitos B.
Existem diversos subtipos de linfócitos T efetores. Os dois principais subtipos são os auxiliares (Th) e
os citotóxicos, que apresentam um receptor TCR e as moléculas correceptoras, CD4 ou CD8, respectivamente.
103
Unidade II
Os linfócitos T CD4+, ou auxiliares, são responsáveis por enviar mensagens de ataque, por meio
da liberação de citocinas, para outras células da resposta imune. São também muito importantes na
ativação dos linfócitos B, dos macrófagos ou mesmo dos linfócitos T CD8+, citotóxicos.
Os linfócitos T CD4+ são subdivididos funcionalmente pelo padrão de citocinas que produzem
a partir do reconhecimento de fragmentos antigênicos apresentados pelas células apresentadoras
de antígenos (macrófagos, células dendríticas e linfócitos B ativados). Os linfócitos Th1 estimulam a
resposta citotóxica, mediada por linfócitos T CD8+, enquanto os linfócitos Th2 estimulam a produção
de anticorpos pelos linfócitos B.
Em função da natureza do agente infectoparasitário e da forma com que seus antígenos são
processados, pode ocorrer predomínio da resposta citotóxica, que é mediada pelos linfócitos CD8+
e efetiva no combate a microrganismos intracelulares, ou pode haver predomínio da resposta
humoral, mediada pela produção e secreção de anticorpos pelos plasmócitos e efetiva no combate a
microrganismos extracelulares. No entanto, é importante salientar que essas respostas, muitas vezes,
ocorrem concomitantemente.
Os linfócitos T CD8+ (linfócitos T citotóxicos) estão envolvidos principalmente nas respostas antivirais
e apresentam ainda atividade antitumoral. Eles também reconhecem os antígenos a partir da interação
com células apresentadoras de antígenos e, a partir desse reconhecimento, proliferam e podem eliminar
qualquer célula que apresente esse antígeno, a partir da indução da apoptose mediada por perforinas
e granzimas.
Os linfócitos B, por sua vez, desencadeiam a produção de anticorpos, que são as substâncias
que o organismo produz para neutralizar os antígenos. São globulinas glicoproteicas que se formam
especificamente para um determinado antígeno, capazes de reagir a ele e bloquear sua ação.
Os anticorpos se ligam de forma específica aos antígenos, inativando-os. Assim, atuam diretamente
sobre as bactérias e os vírus, prevenindo que eles se fixem e invadam as células ou, ainda, inativando
as substâncias tóxicas produzidas pelas bactérias. Além disso, auxiliam os fagócitos a incorporarem os
antígenos, ativam o sistema do complemento e ajudam os linfócitos NK a matarem as células infectadas
ou as células cancerígenas.
Se a resposta inata é suficiente para anular a ação de um agente infeccioso, não ocorre ativação da
resposta imune adaptativa e, portanto, não há formação de memória imunológica. No entanto, caso
ocorra persistência da infecção, há a necessidade da ativação da resposta imune adaptativa.
Para iniciar nosso estudo, vamos entender como os linfócitos são originados e diferenciados em
diferentes padrões, por meio de um processo de maturação finamente controlado.
104
IMUNOLOGIA BÁSICA
Após sua produção, alguns linfócitos migram para os órgãos linfoides secundários, os linfonodos e o
baço, a fim de realizar a vigilância imunológica contra os patógenos.
Um adulto médio possui aproximadamente 2 x 1012 diferentes tipos de linfócitos, sendo que cada
um deles representa um clone. As células linfoides, após o seu amadurecimento, têm uma longa vida e
podem persistir por muitos anos como células de memória imunológica.
Menos de 1% dos linfócitos estão na circulação. A maioria deles está se deslocando entre os tecidos
e são sintetizados e mortos diariamente, o que mantém o equilíbrio do sistema linfoide. Além disso,
como eles são muito heterogêneos, variam em tamanho e morfologia, principalmente na relação
núcleo‑citoplasma, no formato do núcleo e na presença ou não de grânulos azurófilos.
Os linfócitos T e B, que são os subtipos envolvidos na resposta imune adaptativa, apresentam diversos
marcadores específicos na membrana plasmática e no citoplasma. Experimentalmente, é possível utilizar
anticorpos monoclonais para a distinção dessas moléculas, o que permite a sua caracterização, uma vez
que, visualmente, com técnicas microscópicas normais, não é possível diferenciar os linfócitos T dos
linfócitos B.
Linfócito
Granulócito basófilo
Monócito
Granulócito eosinófilo
Basófilo
Todas as células do sangue, incluindo os linfócitos, têm a sua origem na medula óssea, de uma
célula-tronco hematopoiética; são inicialmente sintetizadas sem expressarem nenhum receptor em sua
superfície, ou seja, indiferenciadas. Nessa etapa, as células ainda não são responsivas aos antígenos.
Ainda na medula óssea, os linfócitos expressam duas proteínas, a CD34 e o antígeno-1 da célula
tronco (Sca-1). A proliferação dessas células é estimulada por citocinas, como, por exemplo, os fatores
estimuladores de colônias. Durante esse processo, tanto as futuras células B como as futuras células T
são estimuladas a iniciar um programa de expressão gênica que irá levar a sua diferenciação e futuro
amadurecimento.
Célula-tronco hematopoiética
Mieloblasto Linfoblasto
Linfócito B
Granulócitos
Basófilos
Eosinófilos
Hemácias
Neutrófilos Linfócito T
Plasmócito
Plaquetas
Leucócitos
Figura 51 – Hematopoiese
A hematopoiese ocorre na medula óssea, dentro dos ossos longos. Todas as células sanguíneas têm
a sua origem a partir de uma célula-tronco comum, a proliferação dessas células é dependente
de citocinas, entre elas os fatores de estimulação de colônia (GSM). No início da síntese das células de
defesa, em especial os linfócitos, não há ainda resposta imune, as células são irresponsivas e precisam
passar por algumas etapas de diferenciação e amadurecimento até se tornarem células maduras.
O processo do desenvolvimento dos linfócitos começa nos órgãos linfoides geradores ou centrais,
onde as células progenitoras indiferenciadas sofrem um processo de rearranjo dos genes geradores de
receptores. Após episódios de seleção, que irão garantir que apenas as células viáveis e não reagentes ao
próprio organismo sejam liberadas na corrente sanguínea, ocorre a proliferação. Durante o processo de
geração e amadurecimento, as células serão nomeadas de forma diferente: pró-linfócito, pré-linfócito,
linfócito imaturo. A maturação final, que dá origem aos linfócitos maduros, ocorre nos órgãos periféricos.
106
IMUNOLOGIA BÁSICA
Como podemos ver na figura, tanto os linfócitos T quanto os linfócitos B têm suas origens na medula
óssea, a partir de uma célula-tronco comum, que irá diferenciar em pró-linfócito. Após isso, ocorre o
rearranjo dos receptores e eles serão expressos na membrana, essa célula será o pré-linfócito, que ainda
na medula será diferenciado em linfócito imaturo. Depois dessas etapas, os linfócitos irão terminar seu
processo de amadurecimento nos órgãos periféricos.
O desenvolvimento dos linfócitos a partir das células progenitoras é estimulado, inicialmente, pela IL-17.
Essa interleucina é produzida por células do estroma da medula óssea e do timo. Em seguida, o estímulo
pela IL-17 cessa e, então, ocorre o rearranjo dos receptores de antígenos na superfície dessas
células. A partir dessa etapa, somente as células que têm receptores funcionais podem prosseguir
o desenvolvimento.
As sequências genéticas que irão codificar os receptores dos linfócitos B e dos linfócitos T estão
localizadas em três regiões e são nomeadas genes V(D)J, os mesmos que, mais tarde, serão responsáveis
pela produção de anticorpos funcionais pelos linfócitos B.
Lembrete
Observação
107
Unidade II
L V1 L V1 L Vn D1 D2 D3 Dn J1 J2 J3 J4 J5 Cµ C6
P P P E
Rearranjo DJ
L V1 L V2 L Vn D1 D2 J4 J5 Cµ C6
P P P E DNA
Rearranjo VDJ
V2 D2 J4 Cµ C6
L V1 L J5
P P E
DNA
Transcrição
V2 D2 J4 J5 Cµ C6
L
Transcrito primário RNA
E
Figura 53 – Representação dos genes que compõem as regiões V, D e J e alguns rearranjos gênicos
É possível observar que o loci gene que irá sintetizar os receptores é da família das imunoglobulinas,
possui alguns poucos genes que se rearranjarão em diferentes éxons, permitindo a transcrição de
receptores e imunoglobulinas diversas e específicas, característica de imunidade adquirida.
Milhares de diferentes receptores dos linfócitos são responsáveis pelas características de diversidade
e especificidade da resposta imune adaptativa. Para a expressão de cada receptor antigênico, ocorre o
rearranjo entre os fragmentos desses genes, em um processo denominado recombinação V(D)J.
Vamos agora entender como ocorre a diferenciação das células progenitoras em linfócitos B e T.
108
IMUNOLOGIA BÁSICA
Célula-pluripotente
Progenitor linfoide
B zona marginal
Pró-T
B-1
TγB
TσB
Os progenitores de células B na medula óssea são encontrados adjacentes ao endósteo das lamelas
ósseas. Um precursor poderá gerar até 64 descendentes, que migrarão para o centro da cavidade de osso
esponjoso e alcançarão a luz de um sinusoide venoso.
109
Unidade II
Célula
Arteríola
mesenquimal
Célula endotelial
Célula
Capilar sinusoide
endotelial
Linfoblastos
Megacarócito
Célula de
gordura Eritoblastos
Figura 55 – Medula óssea: à esquerda, vemos, após coleta, a fixação e a coloração; à direita,
vemos a representação ilustrada das componentes da medula óssea
Todas as células do sangue, tem sua síntese na medula óssea, inclusive os linfócitos e para a síntese
e amadurecimento do linfócito B o contato com as células não precursoras que compõem a medula
óssea é essencial.
Tais receptores, conhecidos como BCR (do inglês B cell receptor) são constituídos de duas cadeias de
imunoglobulinas, denominadas Igα e Igβ, de uma cadeia µ e de uma IgM, que permanece em contato
com o meio externo. O complexo ITAM (do inglês immunoreceptor tyrosine-based activation motif),
presente nessa estrutura, é responsável pela ativação do complexo B após o reconhecimento de um
antígeno não próprio pela IgM que constitui o receptor.
110
IMUNOLOGIA BÁSICA
IgM
Ig-a–IG-b
ITAM
Complexo receptor do linfócito B, BCR, é uma molécula de IgM ligada à membrana plasmática,
junto com outras moléculas de superfície formam o motivo ITAM, que é responsável pela ativação do
linfócito B.
As células que não expressam o pré-BCR morrem por apoptose, mas aquelas que expressam
corretamente o pré-BCR continuam a se diferenciar pelo processo de seleção positiva. Na sequência,
duas cadeias μ pareiam e formam a IgM monomérica que ficará inserida na membrana, cuja função é a
ligação aos epítopos antigênicos.
Um terceiro evento pode ainda ocorrer: a célula B é preservada, e apenas o receptor é alterado por
mutações somáticas, o que evita a autorreatividade.
Esses três eventos são nomeados de seleção negativa, e são descritos com mais detalhes na unidade III.
Mais de 75% dos linfócitos B que amadurecem na medula não irão atingir a corrente sanguínea, pois
parte dessas células sofrerá apoptose, devido à seleção negativa.
111
Unidade II
Saiba mais
Para entender o que é a tolerância imunológica, leia o texto indicado
a seguir.
MATOS, A. C Tolerância e imunidade. UFBA.
Disponível em: https://cutt.ly/cbB5zjY. Acesso em: 17 maio 2021.
Para a formação do linfócito B maduro, a célula B IgM+ precisa se diferenciar em uma célula B IgM+IgD+
ainda na medula óssea. Tanto a IgM quanto a IgD associadas à membrana apresentam a mesma
especificidade antigênica, pois foram produzidas a partir de um mesmo rearranjo V(D)J.
Menos de 10% das células B circulantes expressam IgG, IgA ou IgE em sua superfície. Nas mucosas,
por exemplo, os linfócitos B expressam IgA.
Já quando há a interação com um antígeno, será formado um centro germinativo, que será o
local de diferenciação e proliferação. O estágio final de diferenciação dos linfócitos B ocorre em locais
conhecidos como cordões medulares, nos linfonodos. Nessa etapa, os plasmócitos produtores de IgG de
memória migram para a medula óssea, onde continuarão a secretar anticorpos.
Lembrete
Inicialmente, ocorre a secreção de anticorpos da classe IgM pelos plasmócitos. Contudo, devido à
interação direta com linfócitos T e a sinalização emitida por citocinas, ocorre a troca de isotipo ou troca
de classe, na qual essas células passam a sintetizar e a secretar IgA, IgE ou IgG.
Durante o processo de ativação dos linfócitos B, um conjunto dessas células permanece na periferia,
como células B de memória de vida longa. Essas células são essenciais para reiniciar a produção de
anticorpos frente a exposições subsequentes ao antígeno.
112
IMUNOLOGIA BÁSICA
Plasmócito
IgM
IgM
IgA
IgM IgE
IgA Célula de memória
Plasmócito
IgE
Como podemos ver, as fases de célula-tronco, Pró-B, Pré-B e célula B imatura estão presentes na
medula óssea. O receptor é expresso a partir da fase pré-B, dependente do rearranjo VDJ, e na célula
imatura o receptor de superfície é a IgM monomérica. Após o amadurecimento na circulação, além de
113
Unidade II
IgM, o IgD de superfície estará expresso. Quando houver o reconhecimento do antígeno específico, os
linfócitos B ativados, plasmócitos, secretarão inicialmente IgM e, em seguida, ocorrerá a troca da classe
dos anticorpos com a secreção de IgG, IgA ou IgE, dependendo do tipo de resposta imune necessária.
A presença de plasmócitos não é comum na corrente sanguínea. Eles representam menos de 0,1%
dos linfócitos circulantes e são encontrados principalmente nos órgãos e tecidos linfoides secundários
e na medula óssea. Como sua única função é produzir anticorpos, eles apresentam poucos receptores
de superfície e não respondem a antígenos. Os anticorpos produzidos por um plasmócito apresentam
uma única especificidade e, além disso, essas células circulantes têm vida curta, sobrevivem poucos dias
e morrem por apoptose.
Para a geração da célula B de memória, ocorre a troca de classe, por hipermutação somática,
naqueles linfócitos B que foram ativados, mas ainda não se diferenciaram em plasmócitos. Assim, o
linfócito B de memória terá outro isotipo de imunoglobulina, que não o IgM. Essas células não se
dividem nem permanecem vivas em estado quiescente por muito mais tempo, constituindo nosso
repertório imunológico, que permite o reconhecimento e a ação efetora rápida e eficaz contra uma
ampla variedade de antígenos.
Humano
(cromossomo 14)
Primeira unidade de duplicação 3’a1E
Segunda unidade de duplicação 3’a2E
VH DJH iEµ Iµ Sµ Cµ Cδ Iγ3 Sγ3 Cγ3 Iγ1 Sγ1 Cγ1 Ve Ia1 Sa1 Ca1 Vγ Iγ2 Sγ2 Cγ2 Iγ4 Sγ4 Cγ4 Ie Se Ce Ia2 Sa2 Ca2
Cδ
Ve Geração de DSBs e
Cµ Ia1
3’a1E sinapse de S-S 3’a2E
VH VH iEµ Iµ Sµ Sa1 Ca1 Vγ Iγ2 Sγ2 Cγ2 Iγ4 Sγ4 Cγ4 Ie Se Ce Ia2 Sa2 Ca2
Iγ1 Cγ3
Sγ1 Sγ3
IgM
Cγ1 Iγ3
Resolução de DSBs
Círculo de troca
Ve Cδ de DNA
Ia1 Cµ
VH VH iEµ Iµ Sµ Sa1 Ca1 Vγ Iγ2 Sγ2 Cγ2 Iγ4 Sγ4 Cγ4 Ie Se Ce Ia2 Sa2 Ca2
Transcrito de pós-recombinação de Iμ-Cα1
Transcrito de VMDJM-Cα1
IgA1
114
IMUNOLOGIA BÁSICA
O gene que expressa a imunoglobulina IgM, muta, perdendo uma região, o círculo de DNA, em
uma nova transcrição desse gene a classe expressa de imunoglobulina será de IgA, na hipermutação a
troca do isotipo do anticorpo, contudo a especificidade da região variável é conservada para o mesmo
antígeno da classe expressa inicialmente.
Outras moléculas presentes na superfície dos linfócitos B são importantes para a efetivação das
funções dessas células. Os linfócitos B participam da apresentação de antígenos para linfócitos TCD4+,
graças à expressão da classe II do complexo principal de histocompatibilidade (MHCII) e das proteínas
coestimulatórias B7 e CD40 por essas células, assunto que será abordado com mais detalhes ainda
nesta unidade.
Antígeno
BCR
BCR
CD
0L 40
CD4
IL2/4/5
Figura 60 – Linfócito B como célula apresentadora de antígeno (APC, antigen presenting cell)
O linfócito B tem a função de APC, quando o BCR reconhecer o seu antígeno específico, ocorrer
a fagocitose e a posterior apresentação de peptídeo antigênico na molécula de MHC classe II para o
linfócito TCD4+, a participação de outras moléculas de superfície, o CD40 e o CD40L, são essenciais para
a ativação da célula T.
A proteína CD40 também está envolvida na troca de classe de imunoglobulina. Ao interagir com o
CD154, também conhecido como CD40L (ligante de CD40), presente na superfície dos linfócitos TCD4+,
ocorre início da produção de IgG, mais duradoura. Quando não há essa interação, como ocorre, por
exemplo, na síndrome humana de hiper-IgM, ligada ao cromossomo X, os linfócitos T não expressam o
CD154 e, como resultado, não ocorre a troca do isotipo do anticorpo, e o indivíduo produz somente IgM,
o que o leva a um quadro de imunodeficiência primária.
115
Unidade II
A proteína CD32 atua como receptor da fração Fc da IgG, o que tem um importante papel no
processo de retroalimentação negativa pelos anticorpos que ocorre em decorrência do término de uma
resposta imune.
Molécula Função
BCR, IGM OU IGD Receptor do antígeno
CD79a e CD79b, OU IGα E IGb Transdução de sinal
CD19, CD21, CD81 Aumenta o sinal da transdução, para ativação da célula B
MHC CLASSE II Apresenta antígenos para o linfócito T CD4+
CD40 Troca de classe do anticorpo
CD21 Ativação da célula B e ligação do componente C3d do sistema complemento
CD32 Receptor Fc da IgG, sinal negativo
Todo o processo descrito até agora é responsável por gerar um grupo de linfócitos B denominado B-2.
No entanto, existe um outro grupo, denominado B-1, que se caracteriza pela expressão de moléculas CD5
na sua superfície. Nos adultos, essa população representa uma minoria das células B presentes no baço e
linfonodos, mas predominante nas cavidades pleural e peritoneal. Os linfócitos B-1 são responsáveis por
produzir anticorpos naturais, principalmente IgM de baixa afinidade e avidez, geralmente polirreativos,
em resposta a antígenos polissacarídeos de bactérias.
Os linfócitos B-1 CD5+ respondem bem a antígenos independentes de linfócito T, podem estar
envolvidos no processamento e na apresentação de antígenos às células T e, provavelmente, participam
na tolerância e na resposta de anticorpos. Os anticorpos naturais produzidos por essas células atuam na
primeira linha de defesa contra os microrganismos e na depuração de componentes próprios danificados.
Recentemente, uma nova classe de linfócitos B, os linfócitos B reguladores ou BReg, foi identificada
em animais de experimentação. Esses linfócitos, uma vez ativados, produzem IL-10 e TGF-β, o que suprime
a ativação e a diferenciação dos linfócitos T CD4+, CD8+ e NK, inibe a ativação de células dendríticas e
estimula a diferenciação de linfócitos T reguladores.
O estudo dos linfócitos BReg em modelos animais deixa claro o papel regulador dessas células
nas diferentes enfermidades. A comprovação da existência dessas células no homem será de grande
relevância para a compreensão das doenças autoimunes.
Mais do que entender a diversidade de efeitos das citocinas anti-inflamatórias que asseguram as
funções dos linfócitos BReg, o seu estudo reforça as evidências da produção de autoanticorpos de modo
fisiológico com finalidade protetora.
A figura a seguir demonstra as várias ações das células BReg e a interação com mecanismos de
resposta inatos e adaptativos.
116
IMUNOLOGIA BÁSICA
Células B reguladoras
IL-10
TGF-b CD-1
Efeitos celulares
Células dendríticas
– Inibição da ativação
– Inibição de B7-1, B7-2 e MHC
Linfócitos T naive
– Inibição da via TH1
– Indução da via TH2
Macrófagos
– Clearance de células apoptóticas e auto-antígenos
mediado por auto-anticorpos
– Redução no processamento de auto-Ag
– Indução de macrófagos supressores
Linfócitos T CD4
Linfócitos T CD8
Células NK
Células NK/T
– Supressão da ativação e diferenciação
Figura 61 – Mecanismos de regulação da resposta imune induzidos por células B reguladoras (BREGs)
117
Unidade II
A interação dos linfócitos com outras células dos órgãos linfoides tem importante papel no
amadurecimento, na seleção, na função e no descarte de células em diferenciação terminal. Essas
células são as células acessórias, as células apresentadoras de antígenos (APCs), as células reticulares e
as células epiteliais.
É no timo que ocorre o desenvolvimento e a maturação dos linfócitos T. Esse processo ocorre
durante toda a vida, mas é reduzido significativamente após a puberdade, em um processo conhecido
como involução tímica. A atrofia cortical está relacionada à sensibilidade dos timócitos corticais aos
corticosteroides e a todas as condições associadas ao aumento agudo de corticosteroides como a
gravidez e o estresse.
As células linfoides, ou timócitos, são precursoras dos linfócitos T e estão na região do córtex do timo.
Na região medular desse órgão, essas células estão na forma mais madura. Quando as células-tronco
chegam até o timo, é ainda controverso se elas já são pré-células T ou não. Acredita-se que as células
pré-tímicas, que são derivadas da medula óssea, entram no timo rudimentar e são multipotentes.
Tanto no córtex como na medula do timo, os progenitores das células T passam por processos de
proliferação e diferenciação, que levam à geração de células T maduras por meio de um gradiente
corticomedular de migração.
As células não linfoides são responsáveis por determinar interações importantes na superfície, que
são necessárias para o desenvolvimento das células T maduras. As células não linfoides mais importantes são
as células corticoepiteliais e as células dendríticas interdigitais.
Três tipos de células epiteliais tímicas são importantes na produção de células T: as células nurse
tímicas, localizadas no córtex externo; as células epiteliais tímicas corticais, que formam uma rede de
células epiteliais; e as células epiteliais tímicas medulares, que são organizadas em grupos.
• As células epiteliais tímicas corticais participam do processo de seleção positiva dos timócitos e
amadurecimento.
118
IMUNOLOGIA BÁSICA
CD4- CD8-
CD4+ CD8+
CD4+ CD8-
CD4- CD8+
Os linfócitos T entram no timo na região cortical para o seu amadurecimento, são nomeados de
timócitos, durante o processo de amadurecimento e diferenciação, os timócitos migram do córtex para
a medula e interagem com diferentes células até se tornam linfócitos T näive.
Exemplo de aplicação
No timo, ocorrem também os eventos do rearranjo de genes, que irão determinar se uma célula T irá
expressar γδ ou αβ como receptor, e qual será a especificidade do receptor da célula T (TCR, do inglês T
cell receptor) para um determinante antigênico.
Assim como ocorre na geração do BCR dos linfócitos B, os TCRs reconhecem o antígeno via regiões
variáveis geradas através da recombinação V(D)J. A região variável codificada por esse conjunto
119
Unidade II
Va N Ja
Vb N Db N Jb
A sequência V(D)J se recombina para formar um éxon que será expresso na proteína TCR, para cada
TCR específico haverá uma recombinação.
O TCR é o principal marcador dos linfócitos T. São moléculas heterodiméricas que apresentam
estrutura semelhante à região de dobradiça dos anticorpos. Inclui cadeias glicoproteicas, α (40 a 50 kDa)
e β (35 a 47 kDa). Para cada clone de linfócito T, há um TCR com especificidade diferente. Esse receptor
está presente na membrana dos linfócitos T, apresenta uma porção citoplasmática curta e uma porção
extracelular semelhante ao fragmento Fab dos anticorpos.
TCR
Local de ligação do antígeno
Regiões variáveis
Regiões constantes
Região transmembranar
120
IMUNOLOGIA BÁSICA
O TCR é composto de uma cadeia α e uma cadeia β, possui uma região transmembrana que o mantém
na superfície celular, além disso, cada cadeia que compõe o receptor possui uma região constante e uma
região variável, onde ocorre a ligação do antígeno.
Várias moléculas são associadas ao TCR. Um exemplo é o CD3, que tem a função de auxiliar
no transporte da molécula TCR sintetizada para a superfície da célula. O complexo CD3 associa-se
aos heterodímeros αβ ou γδ de ligação de antígeno para formar o TCR completo e funcional na
superfície da célula.
O CD3 não tem função de se ligar a antígenos, mas participa da sinalização celular, o que resulta na
ativação do linfócito T após a ligação do TCR ao antígeno não próprio.
Para que ocorra a transdução de sinal o TCR precisa estar associado ao complexo CD3, constituído
de cadeias δ, ε, γ, ζ e na sua porção citoplasmática irá fazer a ativação do ITAM, importante via de
transdução de sinal do linfócito T.
121
Unidade II
• Os linfócitos T reguladores também expressam CD4 e, como o próprio nome diz, regulam a
resposta imune.
• Os linfócitos T citotóxicos apresentam moléculas CD8 em sua superfície (são, portanto, CD8+), e
são especializados em desencadear resposta citotóxica específica, durante a imunidade adaptativa.
• Os linfócitos Tγδ protegem as superfícies e as mucosas do nosso corpo e constituem a maior parte
dos linfócitos intraepiteliais. Eles expressam o marcador CD8, que não é encontrado nas células Tγδ
circulantes. Nas mucosas, algumas dessas células podem reconhecer antígenos diretamente, sem
a necessidade da interação com a molécula do MHC, e, assim, participam das respostas imunes
primárias contra certos tipos de vírus e bactérias. Além disso, participam da imunorregulação
e reduzem a inflamação potencialmente prejudicial, ou seja, as células são capazes de realizar
proteção imunológica.
Ligação do Ligação do
antígeno antígeno
a b g d
Região
variável (V)
Região
constante (C)
Região
transmembrana
Cauda citoplasmática
a:b g:d
Ambos são expressos nas superfícies celulares e vão precisar de moléculas acessórias para exercerem
suas funções de reconhecimento de antígenos.
122
IMUNOLOGIA BÁSICA
Lembrete
Após a síntese dos TCR nas superfícies dos timócitos αβ que são inicialmente CD4+CD8+, as células T
serão submetidas a um processo de múltiplas etapas, para que apenas linfócitos T com receptores viáveis
e que não sejam autorreativos circulem na corrente sanguínea e nos órgãos linfoides secundários.
A primeira etapa é conhecida como seleção positiva, na qual o TCR irá interagir com a molécula do
MHC expresso nas células epiteliais do córtex tímico. Toda célula em que não houver interação entre o
TCR e a molécula MHC irá sofrer apoptose.
Os linfócitos que forem mantidos ao final da seleção positiva irão proliferar. A seleção positiva, assim,
garante que todos os linfócitos T que serão liberados saibam reconhecer o complexo MHC e respondam
somente a antígenos apresentados pelo MHC. Esse evento é nomeado de resposta de célula T restrita ao
MHC, que será discutido posteriormente.
A seleção negativa é a etapa seguinte. Ela ocorre em contato com as células dendríticas interdigitais
na junção corticomedular do timo. Os TCR CD4+ e CD8+ interagem com as moléculas MHC classes I e II,
que apresentarão antígenos próprios gerados da própria célula dendrítica interdigital. Esses antígenos
são peptídeos, expressos pelo próprio timo ou trazidos para o timo.
A célula que reagir com alta afinidade ou muito baixa afinidade ao antígeno apresentado é eliminada
por apoptose. Já as que reconhecerem os antígenos com afinidade intermediária são resgatadas do
processo de apoptose e continuam o processo de amadurecimento, a fim de constituir repertório
imunológico e, assim, participar de respostas imunológicas contra antígenos não próprios.
Os timócitos que sobreviverem à seleção negativa têm a expressão do CD4 ou do CD8 inibida, o que
resulta no desenvolvimento de linfócitos T CD4+CD8-, ou linfócitos T CD4-CD8+, com a expressão de um
único correceptor. Essas células, então, deixam o timo e passam a fazer parte das linhagens periféricas
de linfócitos TCD4+ ou TCD8+.
São características das células no final do processo de seleção serem restritas ao MHC e tolerantes
aos antígenos próprios.
123
Unidade II
Célula T
imatura
Timo
TCR MHC
Periferia
Os eventos que ocorrem tanto na seleção positiva como na seleção negativa irão garantir que após
as etapas finais de amadurecimento e diferenciação dos linfócitos T, as células saiam com a capacidade
de reconhecer antígenos apresentados pelas moléculas do MHC, ao mesmo tempo que não reagirão a
antígenos próprios.
Menos de 5% dos timócitos irão deixar o timo como linfócitos T maduros. O restante morre, ou
pelo processo de seleção, ou por não conseguirem fazer o rearranjo produtivo dos genes dos receptores
de antígenos.
O processo de seleção negativa também acontece fora do timo, nos tecidos linfoides secundários.
Esse evento é responsável por desativar células autorreativas e é chamado de tolerância periférica.
124
IMUNOLOGIA BÁSICA
CD4+
GITR CD25
Treg
CTLA-4
A célula T reguladora é uma célula T CD4+CD25+, também tem como molécula de superfície de
membrana o CTLA-4, que exerce função inibitória. Além disso, apresenta a proteína que é induzida por
glicocorticoide, GITR.
Saiba mais
O conhecimento da capacidade inibitória do CTLA-4 atualmente está
sendo usado nas imunoterapias para tratamento do câncer. Para entender
melhor esse assunto, assista ao vídeo indicado a seguir.
NOBLE prize 2018 - Physiology and Medicine. 2018. 1 vídeo (0:57).
Publicado por Focus Medica.
Disponível em: https://bit.ly/3vIZyJY. Acesso em: 2 maio 2021.
Observação
Você deve ter percebido que, várias vezes ao longo do texto, referimo-nos ao complexo principal de
histocompatibilidade, ou MHC, que é um conjunto de proteínas frequentemente necessárias para que haja o
reconhecimento dos antígenos pelos linfócitos T. Esse complexo é essencial para o bom funcionamento
do sistema imunológico. Só para ter uma ideia, nos transplantes, é necessário que o complexo MHC do
doador e do receptor seja o mais semelhante possível, a fim de evitar o desenvolvimento de resposta
imune contra o órgão doado.
125
Unidade II
São duas as classes de MHC, e ambas são resultado da expressão de várias proteínas diferentes na
membrana das células. O MHC classe I está presente em todas as células nucleadas do nosso corpo, e
o MHC classe II está presente apenas nas células apresentadoras de antígenos ditas profissionais, que
são as células dendríticas, os macrófagos e os linfócitos B. O papel das moléculas de MHC é a ligação
aos fragmentos de peptídeos derivados de antígenos proteicos, de maneira seletiva e, assim, iniciar a
resposta imune adaptativa.
A importância do MHC foi originalmente reconhecida e descrita em estudos com camundongos, nos
quais se observou que havia rejeição de tecidos transplantados entre membros de uma mesma espécie.
Essa rejeição deve-se a diferenças no complexo MHC entre indivíduos.
Doador Receptor
MHCa MHCa
MHCa MHCb
Mesmo quando o transplante é entre a mesma espécie, há diferença entre as moléculas de MHC
expressas na superfície das células nos tecidos, podendo haver a rejeição do transplante entre o doador
e o receptor.
A expressão de diferentes moléculas de MHC na superfície das células permite a interação com
os linfócitos T, o que possibilita a apresentação de antígenos. Assim, se os MHC expressos nas células
do doador do órgão e do receptor são diferentes, o linfócito T identifica-o como sendo não próprio, e
determina o estabelecimento da resposta imune contra as células estranhas. Quando o MHC das células
é idêntico ao dos linfócitos T, por outro lado, são reconhecidos como não próprios somente os antígenos
estranhos apresentados por essas proteínas. Em humanos, as proteínas responsáveis por apresentar
antígenos às células T são conhecidas como Antígeno Leucocitário Humano, o HLA.
O número de loci gênico para as moléculas de MHC varia entre espécies e entre diferentes haplótipos.
O principal locus gênico do complexo principal de histocompatibilidade é composto de mais de 100
diferentes genes. A região, no cromossomo 6, onde estão localizados os genes do MHC humano, já foi
caracterizada, e os genes do complexo MHC são herdados como uma unidade.
126
IMUNOLOGIA BÁSICA
Exemplo de aplicação
Cromossomo 6
Tel Braço longo Cen Braço curto Tel
Região HLA
6p21.1-21.3
Classe II Classe III Classe I
Bf
DP DM DQ DR C4 C2Hsp70TNF B C E A G F
Diferentes indivíduos em uma espécie podem ter formas levemente diferentes, alelos, de cada
classe do MHC. Nos humanos, esses alelos distintos são nomeados de HLA-B1 ou B27. A possibilidade
de existir múltiplas formas estáveis em um mesmo gene de uma população é conhecida como
polimorfismo genético.
O MHC é o sistema gênico mais polimórfico na população, o que faz com que seja pouco provável
que dois indivíduos expressem grupos de moléculas MHC idênticas, o que é a base para a rejeição de
transplantes, assunto que será discutido com mais detalhes na unidade III.
A expressão das moléculas do MHC I é codominante ou seja: três genes são do cromossomo de
herança materna e, os outros três, do cromossomo de herança paterna. Já a codominância para a
molécula de MHC classe II permite maior combinação de genes e, assim, maior variabilidade. Assim,
cada molécula de MHC, após a sua expressão, apresenta um formato ligeiramente diferente e irá
apresentar um conjunto diferente de peptídeos antigênicos.
As variações genéticas nas moléculas de MHC irão afetar: a capacidade de induzir a resposta imune
de um indivíduo, incluindo a produção de anticorpos e a resistência a doenças autoimunes, alergias e
doenças infecciosas.
127
Unidade II
Observação
Covid-19 é o nome dado à doença causada pelo coronavírus, o
Sars‑CoV-2, que teve início no final do ano de 2019.
A expressão de alelos específicos do MHC constitui um fator importante à suscetibilidade e a
resistência a agentes infecciosos. Essa característica da resposta imune adquirida, nomeada diversidade,
torna os humanos, por exemplo, capazes de manifestar ou não diferentes doenças. A suscetibilidade à
infecção pelo vírus T-linfotrópico humano (HTLV-1), pelo vírus da hepatite B, pelas micobactérias da
hanseníase e da tuberculose e pelo protozoário causador malária são alguns exemplos. Em humanos,
a variabilidade do HLA, além de interferir na manifestação das doenças infecciosas, pode estar
relacionada com o risco de desenvolvimento de algumas doenças autoimunes e inflamatórias.
O próprio MHC pode servir como receptor para a adesão e para a entrada de patógenos nas células.
Assim, indivíduos que não expressarem determinada molécula não serão infectados. Além disso, há
mimetismo entre antígenos patogênicos e os antígenos do MHC, que pode ocasionar falha da resposta
imune e desenvolvimento de doenças autoimunes.
A região que expressa as moléculas do MHC tem 118 genes, compostos de, aproximadamente 1,8 milhões
de bases de DNA.
Nos humanos, a molécula do MHC classe I é resultado do produto de três genes, que expressam os
produtos HLA-A, HLA-B e HLA-C na superfície da célula. Elas são sempre expressas como uma cadeia α,
em associação com uma molécula nomeada de β2-microglobulina.
Todas as células nucleadas do nosso corpo expressam molécula de MHC classe I, que tem como função
apresentar peptídeos que estão dentro da célula, tais como peptídeos virais ou de um patógeno intracelular.
Os genes HLA-E, HLA-F, HLA-G e HLA-H também expressam moléculas MHC classe I. São genes da
classe das imunoglobulinas e apresentam menos polimorfismos que os genes HLA-A, -B e -C. A função
desses genes ainda não é completamente entendida, mas acredita-se que os HLA-G e HLA-E podem
estar envolvidos no reconhecimento de antígenos pelas células NK.
128
IMUNOLOGIA BÁSICA
Os produtos dos genes da classe II do MHC estão localizados na região HLA-D, que apresenta cerca
de 1000 kb de DNA. Esses genes codificam pelo menos seis cadeias α e dez cadeias β, que irão constituir
três moléculas de superfície: HLA-DP, HLA-DQ e HLA-DR, cada uma delas constituída de duas cadeias,
uma α e uma β, sempre aos pares, ou seja, um DPα com um DPβ, e o mesmo processo para os demais
pares. A família DR dispõe de um único gene α, o DRA, e de até nove genes β, nomeados de DRB1 a
DRB9; já quanto à DP e à DQ, cada uma tem um gene expresso para cadeia α e um para cadeia β.
Cromossomo 6
HLA
DP DM LMP TAP DQ DR
B1 A1 A B 2 1 7 2 B1 A1 B1 B3 B4/5 A C4 C2 HSP TNF B C A
No cromossomo 6 estão presentes os genes que irão codificar as moléculas do HLA, todos os genes
estão no mesmo loci gene, os responsáveis pela expressão do HLA-A, HLA-B e HLA-C, que traduzem as
moléculas do MHC classe I, e os HLA-DR, HLA-DP e HLA-DQ, que traduzem as moléculas do MHC classe II.
As moléculas do MHC fornecem um sofisticado sistema de vigilância para antígenos que estão
localizados no meio intracelular. Existem dois tipos de antígenos que podem ser apresentados na fenda
das moléculas de MHC: os endógenos, que são provenientes de vírus ou outros patógenos intracelulares,
e os exógenos, que são provenientes de patógenos extracelulares que foram fagocitados pelas células
apresentadoras de antígenos profissionais. As moléculas MHC classe I entram em contato com
antígenos endógenos, ou intrínsecos, e as moléculas do MHC classe II entram em contato com os antígenos
exógenos, ou extrínsecos.
Uma única molécula de MHC pode ligar diferentes peptídeos, porém as ligações com maior afinidade
são aquelas que envolvem peptídeos que contêm resíduos de aminoácidos âncora na sua sequência.
Isso explica o porquê de as respostas mediadas pelos linfócitos T serem direcionadas. As variações na
sequência de aminoácidos mudam o formato da fenda de ligação presente no MHC e dão origem a
diferenças importantes no formato da fenda e dos peptídeos antigênicos que farão ligação nessa região.
Cada gene para as moléculas de MHC classe I codifica para uma glicoproteína transmembrana de
peso molecular de 45 kDa, nomeada de cadeia pesada, que apresenta três domínios: α1, o α2 e o α3.
Essas moléculas são expressas na superfície de uma célula e associadas de forma não covalente com a
129
Unidade II
β2-microglobulina, que apresenta semelhança com os anticorpos. A molécula classe I pode ser dividida
em duas regiões, não polimórfica ou invariante e polimórfica ou variante. A molécula CD8 das células T
se liga à região invariante das moléculas classe I do MHC.
Na porção mais distante da membrana, a molécula de MHC I contém uma fenda profunda, que é o
local de ligação dos peptídeos processados no interior da célula. Ao observar a estrutura das diferentes
moléculas do MHC, é possível observar que a diferença entre os alelos está nos aminoácidos dessa
abertura, enquanto o resto da molécula é relativamente constante. A carga dos aminoácidos dessa fenda
determina quais peptídeos podem se ligar à molécula de MHC e, além disso, auxilia no posicionamento
desses peptídeos para que ocorra o reconhecimento pelos receptores específicos do linfócito T.
Os genes das moléculas classe II do MHC codificam duas cadeias, α e β, com pesos moleculares entre
30 e 34 kDa e 26 e 29 kDa, respectivamente. Assim como as moléculas de classe I, são glicoproteínas
transmembranares com caudas citoplasmáticas hidrofílicas e domínios semelhantes às imunoglobulinas.
Os seus domínios são nomeados α1 e α2, e β1 e β2. Dispõem, também, de duas regiões, a invariável, ou
não polimórfica, e a variável, ou polimórfica.
As moléculas CD4 das células T se ligam à porção invariante na molécula classe II do MHC. O domínio
β1 contém uma ligação dissulfeto, que forma uma estrutura como uma alça de 64 aminoácidos, e o
domínio β2 não é glicosilado e contém a região para uma ligação com o CD4.
Cadeia a Cadeia b
a1 a2 a1 b1
H2N NH2
NH2 NH2
b2 a2 b2
microglobulina
Espaço
extracelular
HOOC
Membrana
plasmática
130
IMUNOLOGIA BÁSICA
As ilustrações das estruturas das moléculas de MHC classes I e II estão representando a porção
citoplasmática, a porção da membrana plasmática e a do extracelular. O MHC classe I possui uma cadeia
na membra plasmática e no citosol, enquanto o MHC classe II possui duas cadeias, além disso, o MHC
classe I é composto da cadeia β2-microglobulina, que é menor que a cadeia β2 da molécula MHC classe II.
Diferentemente da molécula de MHC de classe I, a molécula de classe II tem uma abertura em suas
terminações, o que permite a ligação de peptídeos maiores na sua fenda, com 13 a 24 aminoácidos, em
um arranjo linear. O peptídeo ligado na fenda e parte da própria molécula MHC interagem com a região
Vα e Vβ do TCR.
a1 a2 a1 a2 a1 b1
N NN a1 b1
N
a3 a2 b2
a3
b2m b2
b2- a2
microglobulina Região
transmembrana Região
C transmembrana
A fenda da molécula do MHC classe I é composta das cadeias α1 e 2, enquanto a do MHC classe II é
composta das cadeias α1 e β1, em ambas moléculas o peptídeo liga na fenda na região variável.
Quando os patógenos, como as bactérias e os vírus, penetram nas células e infectam nosso organismo,
é necessário que uma resposta imune com a participação das células T seja organizada. Essas células
terão que ser capazes de diferenciar uma célula infectada de uma não infectada, e essa diferenciação
será possível porque as moléculas de MHC apresentam, nas suas fendas, peptídeos não próprios, o que
“marca” essa célula como infectada. Esses peptídeos são derivados de antígenos patogênicos, e somente
células que apresentam peptídeos não próprios na sua superfície, associados a uma molécula de MHC,
iniciam a resposta.
Esses peptídeos que alcançam a superfície são uma amostra do patógeno e servem para sinalizar
que a célula está infectada. Os eventos envolvidos na geração desses peptídeos e a sua ligação na
superfície na molécula de MHC é conhecido como processamento e apresentação de antígenos. As
moléculas de MHC transportam esses peptídeos do meio intracelular para o extracelular. O complexo
peptídeo-antígeno do MHC pode então ser reconhecido pelo linfócito T, a partir da ligação de um TCR
com especificidade para esse antígeno.
131
Unidade II
Lembrete
Aproximadamente 105 diferentes TCRs estão expressos na superfície dos linfócitos. Essa é mais ou
menos a quantidade de moléculas de MHC expressa na superfície de uma célula apresentadora de
antígenos. Contudo, são necessárias apenas 100 ligações específicas, não simultâneas, que envolvem
aproximadamente 0,1% das moléculas de MHC, para iniciar a ativação do linfócito T. As moléculas
auxiliares, o CD4 e o CD8, também são importantes para a ativação, uma vez que serão essas moléculas que
irão ajudar a estabilizar a ligação peptídeo-MHC e TCR.
APC APC
TCR TCR
132
IMUNOLOGIA BÁSICA
O CD4 e CD8 irão participar da ligação entre a molécula MHC e o TCR. A ligação dos coestimuladores
ocorre na região conservada do MHC, e sempre será entre a molécula do MHC classe I e o CD8 e a
molécula do MHC classe II com CD4.
As etapas do processamento dos antígenos e da apresentação via complexo MHC estão representadas
na figura a seguir. Lembre-se que o MHC I é responsável por apresentar antígenos intracelulares e, o MHC II,
antígenos extracelulares. Na figura a seguir, notamos que os peptídeos intracelulares que são
processados pelo complexo de proteassomas no citoplasma das células são adicionados à fenda da
molécula de MHC I, e que os antígenos extracelulares fagocitados são adicionados à molécula de MHC II
das células apresentadoras de antígenos. Em seguida, as moléculas de MHC, já ligadas aos respectivos
epítopos antigênicos, são transportadas para a membrana das células.
Peptídeos
no citosol TAP
MHC
Proteína classe I CTL CD8+
citossólica Proteassoma
Célula T
CD4+
Endocitose de Cadeia invariante (Ii)
uma proteína
extracelular Via do MHC classe II
ER MHC classe II
Os antígenos podem ter duas fontes, a endógena, representada na parte superior da figura, que são
processados no citosol pelo proteassoma e posteriormente apresentado pela molécula do MCH classe I
para os linfócitos TCD8+. Ou origem exógena, que entraram na célula por endocitose e são processados
em vesículas ácidas para a posterior apresentação na molécula do MHC classe II para os linfócitos TCD4+.
133
Unidade II
Lembrete
As células dendríticas são as mais eficientes para a apresentação de antígenos para os linfócitos T
näives, não sensibilizados. Os macrófagos e as células B, por sua vez, apresentam os antígenos para os
linfócitos T não virgens.
Os antígenos exógenos são capturados pelos fagócitos por endocitose ou por fagocitose. Esses
antígenos podem ser bactérias, vírus capturados por macrófagos ou até mesmo proteínas estranhas.
Alguns peptídeos, no entanto, são resistentes à hidrólise total e serão posteriormente apresentados
pelas moléculas do MHC classe II. Agentes alcalinos, tais como a cloroquina ou cloretos de amônio,
diminuem a atividade proteolítica das proteases do fagolisossoma e, com isso, interferem no
processamento de antígenos.
134
IMUNOLOGIA BÁSICA
• Os antígenos exógenos irão atingir o MIIC pelas vesículas ácidas, onde já foram previamente
degradados por proteases. A cadeia Ii é então clivada em pequenos fragmentos por catepsinas.
APC Endossoma
20-30%
MIIC
Proteína Autofagossoma
endógena
CLIP
Golgi
HLA-DM
Ii MHC-II
ER
A proteína antigênica de fonte exógena irá entrar na célula por endocitose e proteínas endógenas irão
para autofagossoma, em ambos casos serão degradadas nas vesículas ácidas. Após os peptídeos gerados
se ligarem à molécula do MHC classe II, que é sintetizada no retículo endoplasmático e transportada
pelo complexo de Golgi, o MHC-CLIP, que é a molécula ligada a peptídeo exógeno, será clivada e o
peptídeo exógeno se ligará à molécula do MHC classe II, para a posterior apresentação na superfície da
célula para os linfócitos T CD4+.
Nos complexos antígeno-MHCII, que estão na membrana plasmática, são constantemente reciclados
os compartimentos endossomais, o que mantém a proporção ideal de moléculas nos meios intracelular
e extracelular. Esse equilíbrio é mantido por ubiquitinação, que é variável entre as células.
As células apresentadoras de antígeno e os linfócitos T CD4+ podem permanecer unidas por até
12 horas via interação MHC-TCR, o que caracteriza a sinapse imunológica. Após a ativação, essas células
se dissociam e, então, o linfócito T ativado é submetido a vários ciclos de divisão e de diferenciação.
135
Unidade II
CD4
Célula MHC
apresentadora LFA-3 ICAM-1 B7-1/B7-2
classe II
de antígeno (CD80/CD86)
Para que aconteça a ativação do linfócito T, além da ligação da molécula do MHC com o TCR, a
ligação da molécula coestimuladora CD4+, conforme vemos no exemplo mostrado na figura, precisará
de ligação de LFA-3 e ICAM-1 das células apresentadoras de antígenos com moléculas da superfície do
linfócito, CD-2 e LFA-1, respectivamente. A segunda ligação em especial permite que as interações entre
as células duram até 12 horas, permitindo a ativação do linfócito T.
Observação
A formação da sinapse imunológica é importante, pois a proliferação dos linfócitos T CD4+ ativados
vai depender da formação de aglomerados centrais estáveis com as moléculas de MHC. Entretanto,
somente a interação entre o MCH-peptídeo-TCR não é o suficiente para a ativação completa da célula T.
É necessário um segundo sinal, conhecido como coestimulador.
136
IMUNOLOGIA BÁSICA
Os receptores B-7 fazem ligação com o CD28 ou com o seu homólogo CTLA-4 (CD152). O CD28 é o
principal coestimulador expresso em células näive. Sua estimulação é prolongada com a produção de
IL-2 e outras citocinas, o que evita que ocorra a indução à tolerância imunológica.
Já quando o CTLA-4 se ligar ao B7, com maior afinidade em relação ao CD28, ocorrerá a inibição
das células T, com menor produção de IL-2. O CTLA-4 reduz o tempo de ligação entre o TCR e a célula
apresentadora de antígeno e, como o tempo de ligação é essencial para a ativação celular, a ligação de
B-7 com CTLA-4 gera uma sinalização incompleta, que resulta em inibição.
Outro receptor com função inibitória nas células T é o PD-1 (morte celular programada-1, ou CD279).
Ele está associado a fenótipos celulares que são incapazes de produzir citocinas ou serem submetidas
à divisão celular. O PD-1 se liga ao PD-L1 e PD-L2 (CD273 e CD274, respectivamente) nas células
apresentadoras de antígenos, o que inibe o sinal do coestimulador CD28.
Proteínas que geram peptídeos que podem se ligar à molécula do MHC classe I seguem uma via de
processamento diferente, pois são originados de proteínas intracelulares. Esse processamento é realizado
em compartimentos citosólicos. No citoplasma, o processamento de proteínas é comumente efetuado
por um complexo proteico gigante denominado proteassoma.
O proteassoma não é o único envolvido na produção de peptídeos que será apresentado pelas
moléculas de MHC I. Evidências mostram o envolvimento de outros complexos enzimáticos, como, por
exemplo, o tripeptidil aminopeptidase II (TPPII), na degradação de proteínas intracelulares que serão
apresentadas na molécula de MHC I.
137
Unidade II
a subunidades
b subunidades
Rpn subunidades (ATPase)
Rpn1 e Rpn2
Rpn subunidades
É um complexo com diferentes subunidades proteicas, que tem a função de degradar proteínas, com
gasto de ATP.
O proteassoma irá cortar as proteínas em peptídeos com oito a nove resíduos de aminoácidos.
Esses resíduos serão seletivamente transportados pelo retículo endoplasmático pelos transportadores
TAP-1 e TAP-2.
Os linfócitos T CD4+ (Th) são subdivididos funcionalmente pelo padrão de citocinas que produzem
após sua ativação. Durante o estímulo fornecido por uma célula apresentadora de antígeno, um linfócito
precursor Th0 pode se tornar um linfócito Th1, Th2 ou Th17, na dependência do tipo de estímulo e do
ambiente de citocinas presente. Embora morfologicamente indistinguíveis, essas células apresentam
diferentes respostas efetoras.
138
IMUNOLOGIA BÁSICA
Os linfócitos Th1 produzem grandes quantidades de IL-2, que induz a expansão clonal dos próprios
linfócitos T CD4+, de maneira autócrina, e também induz a proliferação e aumenta a capacidade
citotóxica dos linfócitos T CD8+. A outra citocina produzida em grandes quantidades pelos linfócitos
Th1 é o INF-γ, que ativa os macrófagos infectados com patógenos intracelulares, como micobactérias,
protozoários e fungos. Assim, concluímos que os linfócitos Th1 são importantes no direcionamento
da resposta imune adaptativa para um padrão citotóxico, importante na eliminação de patógenos
intracelulares e de células neoplásicas.
Os linfócitos Th2 produzem IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10, o que favorece a produção de anticorpos, ou seja,
a resposta imune humoral. A resposta Th2 está envolvida na eliminação de antígenos extracelulares.
Essa resposta é de especial importância nas doenças alérgicas e nas infecções por helmintos, uma vez
que a IL-4 induz a troca de classe de imunoglobulinas nos linfócitos B para IgE e a IL-5 induz a produção
e ativação de eosinófilos. No entanto, também ocorre estímulo para a produção de IgG.
Os linfócitos Th17 representam um novo subtipo de linfócitos T efetores importantes na proteção contra
infecção por microrganismos extracelulares, e apresenta atividade pró-inflamatória. A resposta Th17,
quando desregulada, pode levar a condições autoimunes como esclerose múltipla, doença intestinal
inflamatória, psoríase e lúpus.
Timo
IL-12
TGF-b
IL-4 TGF-b
+ IL-6
139
Unidade II
A resposta imune humoral é baseada na ação dos anticorpos que, por não penetrarem as células, são
especialmente efetivas no combate de microrganismos e/ou de moléculas estranhas presentes no meio
extracelular. Uma vez que a maioria das bactérias, fungos e protozoários se multiplicam fora das células
e, mesmo no caso de infecção intracelular, ocorre a secreção de moléculas para o meio extracelular, essa
via da imunidade adaptativa constitui importante mecanismo de defesa do organismo.
A ação dos anticorpos resulta na destruição dos microrganismos extracelulares e dos seus produtos,
como, por exemplo, as toxinas. Além disso, os anticorpos facilitam o reconhecimento de microrganismos
pelos fagócitos e ativam o sistema complemento.
A seguir, vamos estudar as etapas envolvidas na produção de anticorpos. Lembre-se que todas essas
etapas acontecem em linfócitos B2, efetores da resposta humoral clássica.
Lembrete
A imunoglobulina presente na superfície dos linfócitos B, que constitui o BCR, funciona como
receptor de antígenos extracelulares. A partir da ligação desses epítopos antigênicos à IgM do BCR,
inicia-se uma cascata de eventos, conhecida como transdução de sinal, que é responsável por ativar o
linfócito B.
Os antígenos reconhecidos pelo linfócito B são internalizados e processados para, em seguida, serem
apresentados, ligados a uma molécula de MHC II, para os linfócitos T CD4+. O reconhecimento faz com
que esses linfócitos T se diferenciem no padrão Th2, que irá direcionar a síntese de anticorpos específicos
pelos linfócitos B ativados. Porém alguns antígenos, como os lipopolissacarídeos (LPS) bacterianos,
podem ativar diretamente linfócitos B, e tal resposta é chamada de timo-independente.
As respostas timo-dependentes podem ocorrer de várias formas distintas, sendo a mais comum a
apresentação do MHC de classe II ao linfócito B por uma célula apresentadora de antígeno, na presença
de linfócitos T CD4+. Nesse processo, a proteína B7 presente nos linfócitos B se liga à proteína CD28 na
superfície dos linfócitos T, o que resulta no aumento da expressão de moléculas de adesão na membrana
do linfócito B (CD25, HLA Dr, CD40, B7). Para a efetivação da ligação entre os linfócitos B e T CD4+, é
essencial a interação entre a CD40, do linfócito B, ao CD40L, do linfócito T CD4+.
Em seguida, ocorre a proliferação dos linfócitos B nos centros germinativos dos linfonodos, baço
e tonsilas. Em um primeiro momento, essas células começam a proliferar rapidamente, crescem e
são denominadas blastos. Posteriormente, elas proliferam e se tornam centroblastos, os quais sofrem
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IMUNOLOGIA BÁSICA
hipermutação somática nos genes das imunoglobulinas. Os centroblastos, então, dão origem a células
menores, que não se dividem e são denominadas centrócitos.
A ligação da IL-4 e da IL-6 ao CD23 do linfócito B faz com que essa célula amadureça e se transforme
no plasmócito, que é a célula especializada na síntese e na liberação de imunoglobulinas. Dependendo da
interleucina liberada no processo de ativação da célula B é que vamos ter a produção de IgG (estimulada
por IL-1, IFN-γ, IL-12) ou de IgE (estimulada por IL-4 e IL-6).
Os linfócitos B têm como principal função efetora a produção de anticorpos, o que acontece a partir
da ligação de antígenos estranhos aos receptores das células B (BRC). No entanto, quando um antígeno
se encontra no meio intracelular, esses anticorpos não conseguem neutralizá-lo e/ou eliminá‑lo.
Por isso, se os anticorpos fossem a única linha de defesa da resposta imune, os patógenos poderiam
escapar à vigilância imunológica, ao se “esconderem” dentro das células – estratégia que, de fato, muitos
microrganismos utilizam. Com isso, há a necessidade de um segundo mecanismo de resposta imune
adaptativa que permita a eliminação das células infectadas por microrganismos intracelulares. Trata-se
da resposta citotóxica.
Os principais mediadores da resposta citotóxica são os linfócitos T CD8+. Eles estão envolvidos
principalmente nas respostas antivirais e apresentam, também, atividade antitumoral – afinal, as células
neoplásicas expressam, em sua superfície, uma série de moléculas que não estão presentes nas células normais
e, por esse motivo, são consideradas antígenos não próprios.
Os linfócitos T CD8+ induzem à apoptose essas células, em um processo mediado pela ação de
perforinas e granzimas ou, ainda, pela expressão do receptor Fas L (CD95).
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Unidade II
As perforinas são proteínas formadoras de poros que, na presença de Ca2+, sofrem polimerização.
Essa polimerização forma um canal permeável a íons na membrana plasmática da célula-alvo, o que
leva ao desequilíbrio osmótico e à consequente lise celular. Os linfócitos T CD8+ produzem, ainda, IFN-γ,
responsável por estimular a atividade fagocitária de macrófagos, inibir a replicação dos vírus e induzir
a expressão de MHC I.
Algumas células mieloides, como os monócitos e eosinófilos, tomam parte nesse estímulo mediado
por anticorpo, o que é importante na reação contra parasitas extracelulares, especialmente helmintos.
Nesse caso, os anticorpos envolvidos são da classe dos IgE. O mecanismo básico pelo qual essas células
exercem sua função citotóxica é bem parecido e envolve três fases distintas: a ligação à porção Fc dos
receptores que envolvem o patógeno, a liberação do conteúdo citotóxico das vesículas e a morte da
célula-alvo.
A resposta imune pode ser regulada de várias maneiras, como explicado a seguir.
• Regulação por anticorpos: os mecanismos pelos quais os anticorpos regulam a resposta imune
ainda não estão totalmente definidos, mas sabe-se que essas moléculas são capazes de induzir
um processo de retroalimentação negativa na resposta imune.
• Regulação por linfócitos: embora as respostas Th1 e Th2 coexistam, as duas populações de
linfócitos T exercem resposta antagônica uma sobre a outra. Os linfócitos Th1 produzem IFN-γ,
que inibe as células Th2, enquanto os linfócitos Th2 produzem IL-10, que inibe as células Th1.
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IMUNOLOGIA BÁSICA
Observação
Por fim, é importante relembrar que, muitas vezes, as respostas Th1 e Th2 coexistem. Um mesmo antígeno
pode apresentar diferentes epítopos, que podem ser apresentados nas moléculas de MHC I ou II. Por
exemplo, se um vírus for fagocitado e processado nas vesículas ácidas, são gerados peptídeos que
serão apresentados pela molécula MHC II. Contudo, esse mesmo vírus, ao infectar uma célula, terá seu
processamento ocorrendo no citoplasma, com a apresentação na molécula MHC I. Como resultado,
ocorre ativação tanto da resposta humoral quanto da resposta citotóxica.
TNF
IFN-g
CD40L IL-2
CD40 IL-4
APC IFN-g
MHC I
SLAM TCR
B7-1
CD8+
LFA-3 CTL
B7-2
CD40
A APC apresenta o antígeno pelas moléculas do MHC classes I e II, simultaneamente, com isso há a ativação
do linfócito T CD4+ e TCD8+, que irão realizar a função auxiliadora e de citotoxicidade, respectivamente.
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Unidade II
Resumo
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IMUNOLOGIA BÁSICA
Exercícios
A) Os anticorpos opsonizam as bactérias, o que induz a ação fagocítica dos macrófagos e/ou a lise
mediada pelo sistema complemento.
B) Os anticorpos impedem a ligação dos macrófagos à bactéria e, portanto, inibem a fagocitose. No
entanto, induzem lise mediada pelo sistema complemento.
C) As bactérias opsonizadas não estão disponíveis para ativar a imunidade adaptativa e, portanto, os
anticorpos monoclonais devem ser administrados até que haja a total eliminação dos microrganismos.
D) Os anticorpos funcionam, nesse caso, como agentes quelantes, que se ligam à bactéria e promovem
sua excreção.
E) Os anticorpos promovem a ativação da imunidade adaptativa a partir da fagocitose das células
opsonizadas pelos linfócitos T CD4+.
Análise da questão
Os macrófagos são um dos principais fagócitos do sistema imunológico. Nessas células, a fagocitose
pode ser induzida pelo reconhecimento de antígenos presentes na superfície da bactéria; ou pela ligação
à porção Fc dos anticorpos que opsonizam determinado microrganismo.
É importante lembrar que os anticorpos que opsonizam as bactérias também ativam a via clássica
do sistema complemento e, como consequência, ocorre a lise do patógeno.
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Unidade II
D) Caso o órgão que sofreu rejeição seja transplantado uma segunda vez no mesmo receptor, ocorre
rejeição hiperaguda, caracterizada pela oclusão trombótica da vasculatura do aloenxerto em
resposta à ação de anticorpos preexistentes.
A) Alternativa incorreta.
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IMUNOLOGIA BÁSICA
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: eventualmente, restos celulares provenientes de células mortas são fagocitados pelas
células dendríticas ou pelos macrófagos e, ao ocorrer o processamento e a apresentação dos aloantígenos
para os linfócitos T auxiliares, ou CD4+, ocorre reforço e direcionamento da resposta imune adaptativa.
C) Alternativa correta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
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