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LÍNGUA E PODER: ENTRE O NORMAL E O ANORMAL

Luciano Amaral Oliveira

Em janeiro de 2016, o ator estadunidense Jaden Smith, filho do também ator


Will Smith, chamava a atenção da mídia no mundo ocidental mais uma vez. Ele
apareceu de saia e unhas pintadas com esmalte azul, mas isso não era novidade. A
novidade era o fato de ele estrelar não um filme, mas, sim, a campanha feminina da
coleção de verão da grife francesa Louis Vuitton. E isso era uma novidade. Por isso,
no mês seguinte, a revista estadunidense Teen Vogue publicou uma matéria sobre o
jovem ator com a manchete “Jaden Smith continues smashing gender norms in a midi
skirt”, ou seja, “Jaden Smith continua espatifando as normas de gênero em uma saia
midi”.
Continua espatifando as normas de
gênero... Hum... Uma pergunta é inevitável:
por que os homens não podem usar saia nem
usar vestido e sapatos de salto alto nem pintar
as unhas com esmaltes coloridos sem esses
comportamentos serem vistos como
transgressões das normas de gênero?
É curioso como as normas de
comportamento já foram diferentes. O
gladiador romano, por exemplo, símbolo do
machão da Antiguidade, já representado no
cinema por figuras emblematicamente
másculas como Russel Crowe e Kirk Douglas, é
mostrado com humor na imagem ao lado, de
1850, usando luvas de boxe e trajando algo
parecido com uma saia ou um vestido.
Atualmente, um homem que sai às ruas ou vai a eventos formais usando
sapato de salto alto frequentemente desperta curiosidade e suscita comentários. No
dia 20 de dezembro de 2016, o estudante Talles Oliveira Faria foi notícia por uma
razão curiosa: usou vestido rosa e sapato de salto alto durante a formatura da sua
turma de engenharia da computação no Instituto de Tecnologia da Aeronáutica. Seu
objetivo foi protestar contra a homofobia dessa instituição.
Contudo, no século XVI, os homens costumavam usar sapato de salto alto,
não apenas nas cortes, mas também durante as batalhas, pois o salto ajudava a
manter os pés do cavaleiro presos ao estribo da sela.
Os comportamentos linguísticos também mudam com o tempo. Palavras antes
ortografadas de uma maneira, hoje são ortografadas de outra, como theatro, çapato e
lingüística. Profissões outrora nomeadas de uma forma, hoje são chamadas de outra
maneira. Por exemplo, farmacêutico era conhecido como boticário. Algumas palavras
possuíam um determinado sentido tempos atrás e hoje possuem um sentido
diferente, como ocorreu com computador: até o final dos anos 1960, significava ‘uma
pessoa que faz cômputos’1; atualmente significa ‘máquina destinada ao
processamento de dados’.
Até comportamentos relacionados à escrita de determinados gêneros textuais
mudaram. Veja-se o caso das cartas comerciais: a frase venho por meio desta era
presença obrigatória. Hoje nenhuma empresa usa essa frase sem soar inadequada e
desatualizada em relação às normas de redação de cartas comerciais.
As mudanças de comportamentos ao longo da história, em todos os setores da
sociedade, mostram algo importante: os comportamentos são culturalmente
marcados e historicamente situados. Mostram também que eles são estáveis, mas não
imutáveis.
Então, como as sociedades determinam quais comportamentos são adequados
e quais são inadequados? Como elas decidem quais comportamentos são normais e
quais são anormais? Como norma e língua se relacionam? Para responder a essas
perguntas, é necessário definir norma. É esse o tópico da primeira seção.

1. DO CONCEITO DE NORMA AO PRECONCEITO CONTRA O ANORMAL

A palavra norma é usada de muitas maneiras. Em certos restaurantes, os


clientes, mesmo dispostos a pagarem uma taxa de rolha, são proibidos de levar seu
próprio vinho: “São normas da casa”, explica a gerente. Na área de construção civil,
engenheiras e engenheiros dizem e ouvem a frase “Siga as normas de segurança!”.
Quem está prestes a embarcar na estressante jornada de elaboração de dissertações e
teses ouve de suas orientadoras e de seus orientadores: “Siga as normas da ABNT.”
De vez em quando, taxistas recebem multas por seu taxímetro estar fora das normas
do Inmetro. Na educação básica, estudantes ficam às voltas com a norma culta, a
norma popular e a norma padrão. E não podemos nos esquecer de Jaden Smith, o
destruidor das normas de gênero.
Se observarmos atentamente os
Polissemia: fenômeno semântico em
que uma mesma palavra possui dois exemplos do parágrafo anterior e outros
ou mais significados inter- usos de norma, perceberemos uma
relacionados.
multiplicidade de sentidos possíveis dessa
Homonímia: fenômeno semântico em palavra. Mas, será norma uma palavra
que duas ou mais palavras de
polissêmica ou existem diferentes palavras
significados diferentes possuem a
mesma grafia e/ou a mesma normas, homônimos perfeitos? (Veja a
pronúncia. informação ao lado.) O que os diferentes
(OLIVEIRA, 2017b, p. 19)

1No filme Estrelas além do tempo, dirigido por Theodore Melfi, usa-se a palavra computador com esse
sentido, pois há um grupo de computadoras negras trabalhando para a NASA, das quais se destacam
as personagens brilhantemente interpretadas por Tarji Henson, Octavia Spencer e Janelle Monae.
usos dessa palavra possuem em comum em
termos semânticos?
Segundo o Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa (HOUAISS; VILLAR,
2008, p. 2027), norma é uma palavra polissêmica. Portanto, há um núcleo semântico
presente em todos os seus sentidos, o qual podemos resumir com três palavras:
regra, padrão, comportamento. Vemos isso, por exemplo, nas normas técnicas que
estabelecem regras de comportamento a ser adotadas como padrão, como as
determinadas pela ABNT e as constantes nos manuais de redação dos jornalões,
como o Estado de São Paulo. Até na área de estatística, costuma-se falar de norma ao
se referir ao padrão de comportamento de uma variável analisada.
Etimologicamente, qual a origem de norma? De acordo com The Merriam-
Webster new book of word histories (1991), a palavra norm, correspondente a norma, é
oriunda do latim nōrma. Esse termo, provavelmente entrou no latim a partir do
termo grego gnōmōn, cujo significado era ‘esquadro de carpinteiro’. Essa informação
etimológica não nos ajuda a entender os usos correntes da palavra norma.
Entretanto, o Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales fornece
uma informação importante: em 1867, a palavra norme foi introduzida no léxico
francês com o significado de ‘estado habitual, regular’.2 Obviamente, ela já estava em
uso na França antes de os dicionários a registrarem oficialmente naquele ano. Com
esse sentido, norma passou a ser usada para se referir a um comportamento habitual
das pessoas em um determinado grupo social e gerou os adjetivos normal e anormal,
muito importantes para as discussões acerca dos comportamentos humanos.
Vejamos como o Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa define esses dois
adjetivos:

normal adj. 2g. (1836 cf. SC) 1 conforme a norma, a regra; regular <a
homologação seguirá os que trâmites n.> 2 que é usual, comum; natural, <tráfego
n.> <reação n. a um medicamento> 3 sem defeitos ou problemas físicos ou
mentais <uma criança n.> 4 cujo comportamento é considerado aceitável e
comum (diz-se de pessoa) [...] (HOUAISS; VILLAR, 2008, p. 2027).

anormal adj. 2g. (sXV cf. OrdAf) PSIQ 1 que desvia claramente de uma norma
(diz-se de manifestação, comportamento, vivência etc.) • adj. 2g. s. 2g. 2 que
ou o que está fora da norma, da ordem habitual das coisas; diferente, irregular
<a influência foi considerada a.> <o a. foi a vitória do time mais fraco> 3 que ou o que
gera surpresa ou inquietação pelo seu caráter imprevisto ou inexplicável;
excepcional, insólito 3.1 que ou o que é de intensidade excepcional 3.2 que ou
aquele que apresenta desenvolvimento físico, intelectual ou mental defeituoso
4 infrm. pej. que ou aquele que é tarado, depravado [...] (HOUAISS; VILLAR,
2008, p. 227).

2 Cf. essa informação em: <http://www.cnrtl.fr/etymologie/norme>.


É interessante observarmos a primeira acepção de normal: ‘conforme a norma,
a regra; regular’. Já a primeira acepção de anormal está vinculada à área da
psiquiatria: ‘PSIQ. que desvia claramente de uma norma (diz-se de manifestação,
comportamento, vivência etc.)’. Ou seja, a primeira acepção apresentada de anormal é
relacionada a patologias médicas.
Podemos fazer duas inferências a partir dessas informações.
A primeira diz respeito à maneira como a palavra norma era usada quando
passou a se referir a um estado habitual e, depois, a um comportamento habitual:
não valorativa. Não se julgavam os comportamentos normais como sendo bons e
certos e os anormais como sendo ruins e errados.
Na Grécia Antiga, os filósofos discutiam muito acerca da criação de palavras e
da sua relação com as coisas por elas nomeadas.3 Provavelmente, algum deles tenha
se apropriado do termo gnōmōn para se referir aos comportamentos caracterizadores
da maioria dos membros dos grupos sociais. O uso dessa palavra para se referir a
tais comportamentos não visava ao julgamento valorativo. Então, quando o juízo de
valor passou a marcar os usos de normal e anormal?
Bem, aí surge a segunda inferência a partir das informações fornecidas pelo
dicionário: o uso valorativo de normal e de anormal parece ter surgido na área
médica, mais especificamente na área de psiquiatria. E, se assim foi, muito
provavelmente isso ocorreu no século XIX, no qual se intensificou a normalização da
profissão médica e das populações urbanas europeias, como lembra Michel Foucault
(2009). Da área médica, os conceitos de normal e de anormal se estenderam para
outros setores da sociedade: algo normal passou a ser visto como saudável, correto e
bom; algo anormal passou a ser visto como patológico, errado e ruim.
Ficava, portanto, aberto o caminho para a consolidação social de juízos de
valor disfarçada de normalização: uma instituição ou um grupo de pessoas
detentoras de poder em uma determinada área não apenas decide o que é a norma,
mas também estabelece a norma como o modelo de correção a ser seguido. A partir
daí, se um comportamento se desviar da norma, será considerado anormal, errado,
patológico até.
Referindo-se à sociedade francesa, George Canguilhem expressa isso de
maneira inequívoca:

Entre 1759, data do aparecimento da palavra normal, e 1834, data do


aparecimento da palavra normalizado, uma classe normativa conquistou o
poder de identificar a função das normas sociais com o uso que ela própria
fazia das normas cujo conteúdo determinava. (CANGUILHEM, 2009, p. 112).

Assim, por exemplo, em uma sociedade dominada por heterossexuais


LGBTfóbicos, a homossexualidade é discursivamente construída por eles como
sendo anormal e, logo, errada. Há inclusive os extremistas religiosos no Brasil para

3 A esse respeito, veja Platão ([360 a.C.] 1970).


quem a homossexualidade é uma patologia e, por isso, chegam ao cúmulo de propor
uma “cura gay”. Ora, como afirma Canguilhem:

Definir a anormalidade a partir da inadaptação social é aceitar mais ou menos


a ideia de que o indivíduo deve aderir à maneira de ser de determinada
sociedade, e, portanto, adaptar-se a ela como a uma realidade que seria, ao
mesmo tempo, um bem. (CANGUILHEM, 2009, p. 129).

E é importante lembrarmos o alerta de Foucault (2009) ao tratar do poder


disciplinar: as normas sociais não se confundem com as leis. Sobre a questão da
soberania, ou seja, do poder oriundo da autoridade, e da instituição das normas
sociais, ele comenta o seguinte:

As disciplinas são portadoras de um discurso que não pode ser o do direito; o


discurso da disciplina é alheio ao da lei e da regra enquanto efeito da vontade
soberana. As disciplinas veicularão um discurso que será o da regra, não da
regra jurídica derivada da soberania, mas o da regra “natural”, quer dizer, da
norma; definirão um código que não será o da lei mas o da normalização;
referir-se-ão a um horizonte teórico que não pode ser de maneira alguma o
edifício do direito mas o domínio das ciências humanas; a sua jurisprudência
será a de um saber clínico. (FOUCAULT, 2009, p. 189; grifos do autor).

Das palavras de Foucault pode-se depreender que as normas sociais possuem


uma natureza distinta da natureza das leis: enquanto estas são negativas no sentido
de proibirem determinados comportamentos e acenarem com punições para quem
transgredir as proibições, aquelas são positivas no sentido de levarem as pessoas a
adotarem determinados comportamentos. Ou seja, as normas sociais servem para
fazer as pessoas se comportarem de uma determinada maneira e, ao mesmo tempo,
acreditarem que estão assim se comportando por livre e espontânea vontade.
Aparelho Ideológico de Estado Foucault usa aspas em “natural” para
evidenciar o fato de as normas sociais não serem
Louis Althusser (1970) designa comportamentos naturais, mas, isto sim,
por AIE um certo número de
realidades apresentadas sob a comportamentos naturalizados e não impostos à
forma de instituições distintas e força. Isso implica a mobilização de distintos
especializadas: o AIE religioso aparelhos ideológicos de Estado. A educação
(o sistema das diferentes
igrejas); o AIE escolar (o doméstica, a educação formal, a literatura, o
sistema das diferentes escolas); cinema, a imprensa, as recomendações médicas,
o AIE familiar; o AIE jurídico; o tudo isso contribui para as normas sociais se
AIE político (o sistema político
do qual fazem parte os disseminarem e se naturalizarem, inculcando-se
diferentes partidos); o AIE na mente das pessoas não apenas a norma, mas
sindicato; o AIE da informação também maneiras de como lidar com a
(imprensa, rádio, televisão,
etc.); e o AIE cultural (Letras, anormalidade. Vejamos dois exemplos de
Belas Artes, desportos, etc.). comportamentos naturalizados.
No século XVI, andar sem roupas era uma das normas existentes entre os
povos autóctones nas terras hoje chamadas de Brasil. Ora, o conceito de roupa como
os europeus o entendiam sequer existia para aqueles povos. O choque provocado por
essa norma causou nos portugueses cristãos ficou marcado nas palavras de Pero Vaz
de Caminha (2017 [1500]) sobre as índias e os índios nos quais deitou os olhos: “Eram
pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas”.
Hoje, andar nu pelas ruas brasileiras é considerado uma prática anormal,
patológica, ou, até mesmo, criminosa: uma pessoa correndo nua pelas ruas de uma
cidade será vista como alguém com problemas mentais ou como alguém cometendo
o crime de atentado ao pudor. Ou seja, ela terá o seu comportamento normalizado
por uma instituição disciplinadora, como o hospital psiquiátrico e a penitenciária.
Contudo, andar sem roupas em público não é um ato inerentemente certo ou errado.
Muitas normas sociais são marcadas por questões morais. E isso ocorre por
conta da forte influência das instituições religiosas sobre a sociedade. A Igreja
Católica sempre tentou normalizar os comportamentos sexuais e os comportamentos
relacionados ao corpo. Ela conseguiu fazer isso, mas parece ter produzido também
um efeito inesperado: quanto mais ela tratava desses temas publicamente numa
tentativa de reprimir as pessoas e, assim, consolidá-los como tabus, mais ela atiçava
a curiosidade e a imaginação das pessoas acerca do sexo.
Como já escreveu Clarice Lispector (1998, p. 70), “o pecado me atrai, o que é
proibido me fascina”. No frigir dos ovos, a Igreja indiretamente incentivou o
aumento do número de supostos pervertidos, contribuiu para o surgimento da
pornografia e forneceu um tema importante para artistas renascentistas: o corpo nu.
No Renascimento, os artistas
desafiaram as normas relativas à nudez
e o pudor dos cristãos repressores
redescobrindo a cultura greco-romana.
Jean Sorobella (2017) comenta sobre o
entusiasmo com o qual Michelangelo
direcionou sua energia artística para o
nu masculino em pinturas religiosas. É
possível ver esse entusiasmo nos
afrescos da Capela Sistina e na escultura
Davi, localizada na Galeria da Academia
de Artes em Florença (veja a imagem ao
lado4).
O segundo exemplo de comportamento naturalizado está relacionado ao
vestuário masculino. Em Salvador, Manaus e Rio de Janeiro, o calor no verão é muito
forte, insuportável às vezes. Por isso, pergunto: quais as peças de vestuário mais
adequadas para um homem usar durante o verão nessas capitais? Terno e gravata?

4 Imagem de arquivo pessoal.


Camisa de manga longa e calça? Camiseta e bermuda? A resposta é óbvia, não?
Então, qual a razão para não se liberar o uso da bermuda nos locais de trabalho?
Imaginem-se dois professores universitários entrando em suas salas de aula,
não climatizadas, no primeiro dia letivo. Um deles está usando calça, camisa de
botão e sapato; o outro, bermuda, camiseta e tênis. Imagine agora como seria a
reação da turma de cada um desses professores. Provavelmente, os alunos do
professor de bermuda sentirão, no mínimo, um estranhamento. Afinal, onde já se viu
um professor universitário dar aulas de bermuda, camiseta e tênis, mesmo estando a
temperatura na sala de aula beirando os 38o C?!
Ora, algumas perguntas são inevitáveis. Por que um professor universitário
não pode dar aulas de bermuda, camiseta e tênis? A calça transmite seriedade e
profissionalismo? E a bermuda, não? E quanto aos professores que usam calça e
faltam a muitas aulas e não respeitam seus alunos? Ora, políticos do PSDB, do
PMDB, do PSL, do DEM, do PP e do PT e executivos e donos da Odebrecht, da OAS
e da Camargo Correa, com seus ternos de luxo e gravatas de seda são suspeitos de
terem roubado tanto dinheiro da sociedade brasileira. Qual a relação entre vestuário
e moral, entre roupas e honestidade, entre roupas e competência? Enfim, como
justificar o uso de terno e gravata em pleno verão soteropolitano, manauense ou
carioca?
Racionalmente, não faz o menor sentido usar terno e gravata em tais
circunstâncias. Podemos até considerar esse comportamento como um resquício da
influência da metrópole portuguesa, ou seja, um comportamento típico de um povo
mentalmente colonizado. Entretanto, sejamos intelectualmente honestos: não há
nada inerentemente errado em se usar terno e gravata no verão de 38 oC. Contudo,
isso não é, de maneira alguma, racionalmente justificável do ponto de vista do bem-
estar físico e do conforto dos habitantes das zonas tropicais.
E não adianta alguém acenar com uma justificativa baseada no dress code de
locais de trabalho porque a questão sempre será esta: por que o dress code para
tribunais, escritórios e universidades no Brasil é baseado em normas europeias
ocidentais e não nas normas tropicais das sociedades deste lado da linha Equador?
Dessa questão não se escapa. E ela indiscutivelmente aponta para relações de poder.
Não se trata aqui de um poder concentrado na mão de determinados indivíduos,
mas de um poder que dissemina, na sociedade, ideias, valores e normas por meio
dos aparelhos ideológicos de estado, e.g. mídia, escolas, universidades, hospitais,
estúdios de cinema, igrejas.
Em suma, os comportamentos sociais são normalizados e se transformam em
normas. Quem delas fugir será alvo de julgamentos e, muito frequentemente, será
alvo de preconceito e discriminação.
Isso ocorre também nos usos da língua. Afinal, há normas a serem seguidas em
cada situação de interação social e há preços a pagarmos se delas nos desviarmos.
Vimos isso tangencialmente no primeiro capítulo. Na próxima seção, trato
especificamente das normas linguísticas.
2. NORMAS LINGUÍSTICAS: O CULTO, O INCULTO E O IRREAL

A sociedade é marcada pela diversidade cultural, logo a língua também é


marcada por ela. O corolário disso é o fato de as pessoas se comportarem
linguisticamente de maneiras diversas.
Diante desse fato, surge uma questão: é necessário normalizarem-se os
comportamentos linguísticos? Uma situação real pode ajudar a responder a essa
pergunta.
Em fevereiro de 2014, cartazes bilíngues foram afixados em diferentes pontos
da Avenida Agamenon Magalhães, em Recife. Era parte de uma campanha do
coletivo Diretório Artístico de Liberdade Estética para chamar a atenção da
população para os problemas de saneamento básico da cidade.5 No cartaz, criado
por Camila Storck, no qual se percebe uma intertextualidade com os cartazes de
alerta aos ataques de tubarões nas praias de Recife, lia-se esta mensagem em
português:

PERIGO

ÁREA
SUJEITA
A ATAQUE
DE GABIRU

Você entendeu o alerta? Se não o entendeu, é porque você não sabe o


significado de gabiru. Provavelmente você mora em uma cidade onde não se usa essa
palavra. No cartaz original, o desenho de um gabiru nos ajuda a entender a
mensagem. A imagem a seguir representa um gabiru:

Gabiru é sinônimo de rato e é uma palavra usada em algumas cidades de alguns


estados do Nordeste. Para ser exato, gabiru é um rato grande, uma ratazana.
Agora, imagine uma cientista recifense. Ela publica um artigo sobre sua
pesquisa no qual se lê o seguinte enunciado: “12 gabirus foram usados como grupo
controle”. Provavelmente, leitoras e leitores em universidades de diferentes regiões
brasileiras não saberiam que animais a pesquisadora usou como cobaias.
E como essa situação nos ajuda a responder se é necessário normalizarem-se
os comportamentos linguísticos? Exatamente por causa de problemas pontuais de

5Se você quiser ver o cartaz, acesse este site: <http://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2014/02/25/perigo-


ataque-de-gabiru-arte-como-instrumento-de-reflexao/>.
inteligibilidade provocados por construções sintáticas ou por escolhas lexicais
marcadas por regionalismo, como a escolha feita pela pesquisadora fictícia recifense
de nosso exemplo: gabiru é uma variante diatópica bem específica e, por isso, como
não a conhecem, algumas leitoras e leitores, momentaneamente, teriam de desviar
sua atenção do conteúdo do artigo para a busca do significado dessa palavra. Por
essa razão, a pesquisadora deveria usar uma palavra não marcada regionalmente:
rato ou ratazana.
As pessoas têm consciência da existência de determinadas marcas temporais
ou geográficas na língua. Evidência disso são os comentários metalinguísticos feitos
acerca de determinadas expressões ou palavras, e.g. “como se diz na minha terra” e
“como os antigos diziam”. Por isso, a normalização da língua usada em
determinados gêneros textuais é necessária para as pessoas de diferentes regiões do
país e de diferentes gerações lerem os textos sem dificuldades, mesmo que sejam
dificuldades pontuais.
A normalização dos comportamentos relativos à linguagem extrapola a esfera
da linguagem verbal, escrita e falada, e açambarca todos os elementos semióticos
constitutivos das linguagens utilizadas em diferentes esferas sociais. Os sinais de
trânsito são um exemplo disso. Imagine, leitora ou leitor, uma pessoa viajando de
carro do Oiapoque ao Chuí, passando por Ponta de Seixas e por Cruzeiro do Sul.
Agora imagine esta situação surreal: cada cidade pela qual ela passa possui seus
próprios sinais de trânsito e suas próprias cores para quantidades diferentes de luzes
nos semáforos. Essa pessoa teria dificuldades em várias situações, não é? Para evitar
esse tipo de situação, o Código de Trânsito Brasileiro normaliza os sinais de trânsito.
Similarmente, existe um código internacional de linguagem marítima usado por
navegadoras e navegadores de todos os países para possibilitar a comunicação entre
navios e entre navios e portos, independentemente das línguas faladas pelas pessoas
envolvidas nessas situações.
A rigor, não há nenhum problema inerente à normalização linguística. Pelo
contrário, ela faz todo sentido quando pensamos na diversidade linguística e na
necessidade de se produzirem textos para circularem em todo o território nacional. O
problema surge quando a normalização se transforma em prescritivismo purista, ou
seja, quando se transforma na tentativa de imposição de determinadas normas
linguísticas como sendo as únicas possíveis, como sendo as únicas corretas,
discriminando-se outras normas linguísticas.
O prescritivismo purista é a concretização de ideologia da padronização, cujo
objetivo persuadir:

[...] os falantes de língua inglesa a acreditarem, contra todas as evidências


contrárias, que a uniformidade é a condição normal enquanto a variação é
desviante; e que qualquer variação residual no inglês padrão deve, portanto,
ser o resultado contingencial e deplorável da falta de cuidado, preguiça e
incompetência de alguns usuários.6 (CAMERON, 2006, p. 39).

Embora Cameron esteja se referindo à língua inglesa e aos seus falantes, a


ideologia da padronização se aplica a qualquer língua e a seus falantes. Não por
acaso, Celso Cunha (1983, p. 44) critica a faceta ideológica subjacente ao
prescritivismo purista: “justificação da norma prescritiva é de caráter nitidamente
ideológico e baseia-se no conceito de ‘uso’, manipulado com intenções definidas”.
Ele deixa clara a ambiguidade da palavra norma: “costuma ser empregada em dois
sentidos bem distintos: um, correspondente a uma situação objetiva e estatística,
fruto da observação; outro, relacionado com uma atitude subjetiva, envolvendo um
sistema de valores” (CUNHA, 1985, p. 52).
Por causa dessa ambiguidade, as normas linguísticas tomaram dois caminhos
distintos no Brasil: o descritivo e o prescritivo. De um lado, linguistas têm se
esforçado para descrever as diferentes maneiras como a língua portuguesa é usada
na fala e na escrita, sem emitirem juízos de valor. Do outro lado, puristas
prescritivistas, com base em critérios subjetivos atravessados por relações de poder,
têm se esforçado para ditar a maneira como a língua portuguesa deve ser usada na
fala e na escrita. Dentre esses puristas, destacam-se alguns gramáticos, professores e
jornalistas.
A palavra gramática, vale notar, também designa um livro com regras de usos
linguísticos. Joaquim Mattoso Camara Jr. faz o seguinte comentário a respeito das
gramáticas de língua portuguesa:

Em português, desde Fernão de Oliveira e João de Barros, no século XVI, vêm


se multiplicando as gramáticas pautadas pelo modelo greco-latino, intituladas
quer descritivas quer expositivas. Ora, mais propriamente normativas, se
limitam a apresentar uma norma de comportamento linguístico, de acordo
com a sempre repetida definição – “arte de falar e escrever corretamente”.
Ora, mais ambiciosas e melhor orientadas, procuram ascender a um plano que
bem se pode chamar científico em seus propósitos, pois procuram explicar a
organização e o funcionamento das formas linguísticas com objetividade e
espírito de análise. (CAMARA JR., 1994, p. 11).

Na visão de Camara Jr., as gramáticas que alegam apresentar a “arte de falar e


escrever corretamente” não são ambiciosas, científicas e analíticas, mas têm seu lugar
e não se anulam diante da gramática descritiva, pois “a língua em sentido lato se
subdivide em dialetos regionais, dialetos sociais e registros. Em cada um deles há
uma gramática normativa” (CAMARA JR., 1994, p. 18).

6Cf. o trecho original: [...] English speakers, against all evidence to the contrary, that uniformity is the
normal condition whereas variation is deviant; and that any residual variation in standard English
must therefore be the contingent and deplorable result of some users’ carelessness, idleness or
incompetence.
As palavras de Camara Jr. dão muito pano pra manga e servem de ponto de
partida para algumas reflexões. Ele usa o conceito de língua como um conceito
guarda-chuva no qual estão incluídos os dialetos. Não há como não pensar aqui na
frase de Max Weinreich, quase um lugar-comum na área de linguística: “Uma língua
é um dialeto com exército e marinha”. Em outras palavras, uma língua, na verdade,
é um dialeto. Mais especificamente, uma língua é o dialeto de um grupo social
hegemônico o qual foi alçado à posição de língua nacional por conta de fatores
históricos relativos ao processo de invenção das nações.
Segundo Mario Pei (1940, p. 46), “não há nenhuma diferença intrínseca entre
uma língua e um dialeto, sendo a língua um dialeto que, por alguma razão especial,
como, por exemplo, ser a fala de uma localidade que é o assento do governo,
adquiriu proeminência em relação aos outros dialetos do país”. 7 Vale lembrar o caso
do dialeto de Florença na unificação da Itália: como era o dialeto da região
hegemônica, liderada pelo imperador Vítor Emanuel II, ele foi alçado à condição de
língua da Itália e sofre resistência até hoje.
Retomemos aqui um comentário de Alexandre Garcia, apresentado no
primeiro capítulo, sobre os usos linguísticos não abonados pelas gramáticas
normativas: a língua está “virando um dialeto confuso”. Isso está duplamente
errado. Em primeiro lugar, um dialeto é tecnicamente uma língua e vice-versa.
Portanto, um dialeto não pode ser confuso nem uma língua pode ser confusa pelo
fato de serem sistemas semióticos regidos por regras socialmente (e tacitamente)
estabelecidas as quais permitem a construção de sentidos. Em segundo lugar, ele faz
alusão ao dialeto como se fosse algo inferior à língua em termos qualitativos. E isso
não procede pelo fato, repito, de a língua ser tecnicamente um dialeto.
É necessário deixar claro aqui o conceito de dialeto. Para isso, vejamos a
definição oferecida por Jean Dubois et al. em seu Dicionário de linguística:

O dialeto é uma forma de língua que tem o seu próprio sistema léxico,
sintático e fonético, e que é usada num ambiente mais restrito que a própria
língua.

1. Empregado correntemente como dialeto regional por oposição a língua,


dialeto é um sistema de signos e de regras combinatórias da mesma origem
que outro sistema considerado como língua, mas que se desenvolveu,
apesar de não ter adquirido o status cultural e social dessa língua,
independentemente daquela: quando se diz que o picardo8 é um dialeto
francês, isso não significa que o picardo nasceu da evolução (ou, mais
exatamente, da “deformação”, do francês). (DUBOIS et al., 2014, p. 174;
grifos dos autores).

7 Cf. o trecho original: [...] there is no intrinsic difference between a language and a dialect, the former
being a dialect which, for some special reason, such as being the speech-form of a locality which is the
seat of the government, has acquired preeminence over the other dialects of the country.
8 Dialeto francês da região da Picardia.
Aqui cabe uma pequena digressão, pois é curioso vermos que há quem use o
termo dialeto como sinônimo de dialeto regional. Há quem fale, por exemplo, de
dialeto caipira, dialeto carioca, dialeto gaúcho, dialeto nordestino. Entretanto, é
preciso ter cuidado com tais classificações. Afinal, se pensarmos em uma região
como o Nordeste, composta por nove estados, cada um com mais de 100 municípios
(à exceção de Sergipe), como é possível colocarmos todos os diferentes falares das
pessoas desses municípios em um mesmo balaio e rotulá-las de “dialeto nordestino”
ou de “dialeto baiano”, por exemplo? É uma homogeneização inválida, não é?
Jacques Derrida, comentando sobre a distinção entre língua, idioma e dialeto,
aceita a existência de diferenças entre eles, mas recusa a existência de diferenças
estruturais entre eles:

Não ignoro a necessidade destas distinções. Os linguistas e os sábios em geral


podem ter boas razões para se agarrarem a elas. Em absoluto rigor, e até ao
seu limite extremo, eu não as creio, todavia, sustentáveis. Se, num contexto
sempre muito determinado, não forem tidos em consideração critérios
externos, sejam eles “quantitativos” (antiguidade, estabilidade, extensão
demográfica do campo de palavra) ou “político-simbólico” (legitimidade,
autoridade, domínio de uma “língua” sobre uma palavra, um dialecto ou um
idioma), não sei onde é que se podem encontrar traços internos e estruturais
para distinguir rigorosamente entre língua, dialecto e idioma. (DERRIDA,
2016, p. 33).

Derrida e Dubois et al. estão corretos. Língua e dialeto são tecnicamente,


estruturalmente, linguisticamente, a mesma coisa. Entretanto, politicamente, são
duas coisas diferentes. E são as relações de poder que diferenciam uma do outro em
termos políticos. Por isso, não se deve pensar que o dialeto é algo inferior à língua:
deve-se buscar entender qual é a real diferença entre eles.
Outra reflexão que é preciso ser feita a partir da citação que fiz de Camara Jr.
alguns parágrafos atrás diz respeito às palavras que passaram a constar em muitas
gramáticas normativas: “arte de falar e escrever corretamente”. Talvez os mitos e
equívocos que envolvem a língua portuguesa no Brasil não existissem se ninguém
tivesse colocado essas palavras nas gramáticas. Elas contribuem para provocar
efeitos terríveis para o ensino de português e para as discussões sobre essa língua.
Afinal, essas palavras contribuem para reforçar a ideologia da padronização,
levando muitas pessoas a acreditarem que as gramáticas normativas publicadas no
Brasil trazem os comportamentos linguísticos corretos, que supostamente seriam os
mesmos na oralidade e na escrita, o que acaba gerando a patrulha e o preconceito
linguísticos.
Dessa forma, o termo gramática normativa passou a representar uma figura
retórica curiosa à qual os patrulheiros linguísticos se referem quando julgam a fala
de alguém: “isso aí não está de acordo com a gramática”. Ora, que gramática?
Normativa? Qual? Há várias delas! Mas sobrepõe-se uma ideia de senso comum
segundo a qual não apenas existe uma autoridade que atende pelo nome de
gramática, mas também qualquer gramática normativa apresenta exatamente os
mesmos comportamentos linguísticos que se espera dos usuários do português.
Entretanto, conforme explica Britto (1997, p. 55), “quando alguém faz alguma
referência a uma questão de gramática, raramente diz de que gramática fala, qual
seu autor etc. Sem autoria, a gramática ganha foros de verdade absoluta, ainda que
possa haver, no detalhe, muita disputa entre os autores”.
Amini Hauy (1987) já mostrou não apenas a disputa entre os autores de
gramáticas normativas, mas também os sérios problemas que as permeiam, como a
má explicação de conceitos e a presença de falsas definições. Hauy analisa a falta de
consistência conceitual entre as gramáticas escritas por autores tão diversos quanto
Rocha Lima, Evanildo Bechara, Celso Pedro Luft, Celso Cunha, Napoleão Mendes de
Almeida, Domingos Cegalla, Eduardo Carlos Pereira, Carlos Góis, Herbert Palhano,
Donato Parisotto, Adriano da Gama Kury, Cândido de Oliveira, Maximiano
Augusto Gonçalves e Gladstone Chaves de Almeida.
Afinal de contas, qual gramática de qual autor é a gramática normativa da
língua portuguesa? Como elas apresentam inconsistências conceituais, simplesmente
não existe a gramática normativa, embora essa gramática inexistente tenha se
transformado em uma poderosa figura retórica de senso comum.
É importante deixar claro que uma gramática normativa, em princípio,
apresenta normas, ou seja, comportamentos linguísticos, e não regras prescritivas.
Por isso, Camara Jr. afirma que existe uma gramática normativa para cada dialeto. O
corolário disso é duplo: em primeiro lugar, existem gramáticas normativas, assim, no
plural, da língua portuguesa; em segundo lugar, os termos normativo e prescritivo, a
rigor, não são sinônimos.
Contudo, existe o mito segundo o qual o português brasileiro tem apenas uma
gramática: a que está registrada nas gramáticas normativas, com divergências
conceituais convenientemente ignoradas pelos puristas. Além disso, existem teóricas
e teóricos que tratam normativo e prescritivo como sinônimos (e.g. GARCIA, 2011;
VELOSO, 2014; CORRÊA, 2010). E, por serem assim tratados na prática, esses dois
termos passaram a ser sinônimos na área de ensino de língua portuguesa.
Camara Jr. acredita que uma gramática normativa não é algo necessariamente
ruim e que ela tem lugar na sociedade juntamente com a gramática descritiva.
Concordo com ele. Em nossa sociedade, há práticas formalizadas, ou seja, há práticas
que são realizadas por meio da língua escrita e, por essa razão, a normalização
linguística é necessária, conforme afirmo no início desta seção. E, mesmo em termos
da oralidade, a normalização é necessária por conta das diferentes relações
hierárquicas que se estabelecem entre os membros da sociedade e dos diferentes
contextos de uso, que exigem determinadas formas linguísticas. Entretanto, as
gramáticas normativas precisam ser usadas com todo o cuidado conceitual e
ideológico possível, pois se baseiam em uma língua escrita lastreada em exemplos
ilustrativos oriundos de textos literários canônicos, o que é muito limitado e
limitador.
É possível abordar os
DOIS CONCEITOS LINGUÍSTICOS DE
NORMA comportamentos humanos a partir de uma
perspectiva objetiva, descritiva, ou a partir
1. Chama-se norma um sistema de
de uma perspectiva subjetiva, valorativa.
instruções definidoras do que deve ser
escolhido entre usos de uma dada Conforme esclarece Camara Jr., uma
língua se se quiser conformar a um gramática normativa trata dos
certo ideal estético ou sociocultural. A
norma implica a existência de usos comportamentos linguísticos dos membros
proibidos e fornece seu objeto à de uma comunidade. Então, ela pode
gramática normativa ou gramática no
apresentar esses comportamentos de
sentido corrente.
maneira objetiva, descritiva – e aí não cabe
2. Chama-se norma tudo que é de uso a frase “arte de falar e escrever
comum e corrente numa comunidade
linguística; a norma corresponde, corretamente” –; ou pode apresentá-los
então, à instituição social que constitui como sendo os comportamentos a serem
a língua.
seguidos por todas as pessoas por
(DUBOIS et al., 2014, p. 405) representarem a “arte de falar e escrever
corretamente”.
Tradicionalmente, o viés de norma presente nas gramáticas normativas é o
valorativo, fazendo com que elas não tenham um caráter puramente descritivo.
Sejamos justos: as gramáticas normativas descrevem comportamentos linguísticos,
sim, mas, repito, comportamentos de escritores literários clássicos.
Por essa razão, elas apresentam comportamentos linguísticos não observados
na oralidade. Por exemplo, quase ninguém usa a ênclise em frases imperativas, a voz
passiva analítica, a voz passiva sintética e o pretérito mais-que-perfeito simples. E
quanto à colocação da preposição em orações adjetivas? Por se basearem na língua
escrita, os autores das gramáticas normativas tentam vincular os fenômenos da
escrita aos fenômenos da oralidade, como a vírgula, criando o mito segundo o qual
ela indica pausa. (Lembra-se daquela explicação ridícula? “A vírgula indica pausa; o
ponto indica uma pausa mais longa que a da vírgula; o ponto e vírgula indica uma
pausa mais longa que a da vírgula e mais breve que a do ponto.” Imagine a criança
tentando mensurar a duração de cada uma dessas pausas aí...)
Além disso, como só apresentam comportamentos de escritores literários
clássicos, os autores das gramáticas normativas cometem um erro teórico sério:
estendem a todos os gêneros textuais as marcas prototípicas de determinados
gêneros literários. Conforme lembra Cunha (1985, p. 24), “é essa língua literária,
observada em sua morosa evolução, que, bem ou mal, tem sido descrita pelas
gramáticas do idioma”. Obviamente, ninguém escreve um cartão postal, um bilhete,
uma carta pessoal e mensagens de WhatsApp da mesma forma como Visconde de
Taunay, Padre Antônio Vieira ou Castelo Branco redigiam seus textos literários.
Com a chancela das escolas públicas e privadas, da mídia, do Ministério da
Educação e das secretarias municipais e estaduais de educação ao longo do século
XX, as gramáticas normativas se tornaram um parâmetro para o estabelecimento das
normas linguísticas no universo escolar no Brasil. E quase todos os comportamentos
delas desviantes passaram a ser tachados de errados. Se uma pessoa das classes
socialmente desfavorecidas se comporta linguisticamente de uma maneira diferente
dos comportamentos prescritos pelas gramáticas normativas, ela será alvo de
julgamento, de crítica e até de ridicularização pública (principalmente em épocas de
redes sociais).
Um exemplo disso está relacionado ao verbo haver. Quem não se lembra de
professoras e professores de português nos dizendo para não flexionar esse verbo
em número se ele denotar existência? Esse ensinamento faz parte do conjunto de
regras apresentadas pelas gramáticas normativas. Realizar essa flexão ainda é
considerado um erro terrível, uma pedrada, um pecado linguístico por muitos
devotos da prescrição gramatical. Contudo, muitas pessoas, inclusive as totalmente
escolarizadas das classes dominantes, já estão flexionando o verbo haver na terceira
pessoa do plural. Em 2001, numa das crises energéticas mais graves da história do
Brasil, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o fantasma do apagão
rondava os lares brasileiros, nos quais os televisores estavam sintonizados nos
noticiários. Em dois desses noticiários, o Jornal Nacional e o Jornal da Globo, o então
Ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o secretário responsável pelas questões
energéticas, Pedro Parente (o mesmo à frente da Petrobras quando estourou a greve
dos caminhoneiros em 2018) usaram, em alto e bom som, o verbo haver flexionado:
enquanto Malan justificava a situação porque, no passado, “já houveram
problemas”, Parente defendia o governo, pois “houveram investimentos” no setor
de energia.
Ninguém comentou o pecado linguístico de Malan e de Parente. Afinal,
porque os pecadores fazem parte das classes dominantes, cujos membros também
cometem atos de corporativismo linguístico. Provavelmente, devido ao fato de os
membros dessas classes flexionarem o verbo haver em número, essa flexão será
considerada normal daqui a algumas décadas, figurando inicialmente em notas de
rodapé e posteriormente em uma seção específica de novas edições das gramáticas
normativas.
Você pode estar se perguntando por que houve reações à fala do Ministro da
Educação do Governo Michel Temer, Mendonça Filho, em 19 de fevereiro de 2018,
ao proferir o enunciado “Haverão mudanças.” A razão foi política: a patrulha
linguística é seletiva; logo, ela escolhe quem critica e quem poupa das críticas a
depender da sua conveniência política. Como Mendonça Filho fazia parte de um
governo atolado em escândalos de corrupção e extremamente impopular, houve má
vontade por parte da imprensa, e de outros setores, a qual repercutiu negativamente
aquela construção sintática.
Uma situação semelhante aconteceu em 1993, no Governo Itamar Franco,
como relata Britto (1997). O Ministro da Previdência, Rogério Magri, fez uma
afirmação para acalmar a classe trabalhadora: “o salário do trabalhador é imexível”.
E a imprensa o criticou veemente por usar uma palavra, até então, inexistente:
imexível. Entretanto, o Ministro da Fazenda do mesmo governo, Fernando Henrique
Cardoso, tentava tranquilizar a população quanto a situação ruim da economia: “a
inflação é convivível”. Ora, a palavra convivível supostamente também não existia,
mas não provocou críticas da imprensa. Pelo contrário, o ombudsman da Folha de São
Paulo redigiu uma coluna defendendo o convivível de Cardoso em 22 de agosto
daquele ano.
Tanto uma palavra quanto a outra são neologismos feitos rigorosamente de
acordo com as regras morfológicas da língua portuguesa. Então, por que a diferença
de tratamento? Exatamente por causa da má vontade da imprensa para com Magri,
oriundo da classe operária e sindicalista, e da boa vontade dela para com Cardoso,
oriundo das elites e sociólogo. (Detalhe: o corretor automático do Word sublinhou
com uma linha laranja a palavra convivível, mas não sublinhou imexível.)
Um terceiro caso ocorreu no dia 17 de outubro de 2014, quando Ricardo
Amorim, economista e apresentador da GloboNews, postou, em seu perfil no
Facebook, sua opinião sobre os eleitores de Dilma Rousseff: “Quem estuda, não vota
em Dilma”. Uma pessoa comentou logo em seguida: “Quem estuda não separa o
sujeito do verbo com a vírgula”. Amorim, repito, trabalha para a Rede Globo,
representa as elites.
Curiosamente, revista Veja veio em sua defesa. Em um texto publicado em
dezembro do mesmo ano, Sérgio Rodrigues defende Amorim com a seguinte tese: o
uso da vírgula para separar o sujeito oracional do verbo está correto. Seu argumento:
“Mais do que uma possibilidade à disposição de quem escreve, talvez chegue a ser a
forma preferível – embora não obrigatória – de lidar com tal tipo de construção no
português moderno”9. Em seguida, faz uma crítica aos críticos de Amorim: “Eis o
erro fundamental dos críticos do economista na tal polêmica internética: o de tratar a
pontuação como um conjunto de regras férreas, quando sua função básica é
contribuir para a clareza do texto – o que em muitos casos inclui uma margem de
manobra para o autor” (RODRIGUES, 2018). Ora, no caso da postagem de Amorim,
a ausência da vírgula não causaria nenhuma dificuldade para leitoras e leitores. Isso
derruba o argumento usado por Rodrigues para defender o uso daquela vírgula.
De qualquer forma, eu gostaria de ver como a Veja se comportaria se quem
separasse o sujeito oracional do verbo com uma vírgula fosse um operário e se, em
vez de “Dilma”, tivesse se referido a um candidato de um determinado partido
político.
Esses três episódios são evidências de algo irrefutável: uma construção
linguística não é inerentemente certa ou errada. É necessário olhar para quem realiza
uma construção linguística para considera-la certa ou errada. Como afirma
argutamente Maurizio Gnerre (2009, p. 6): “Uma variedade linguística ‘vale’ o que
‘valem’ na sociedade os seus falantes”.
A norma prescritiva, em algum momento, passou a ser chamada de norma
padrão. Isso, por si só, não é problemático. Se ela fosse apresentada como padrão de

9 Confira o texto de Rodrigues neste endereço: <https://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/quem-


estuda-separa-sujeito-de-predicado-com-virgula/>.
escrita formal, acadêmica e científica, não haveria problema. Infelizmente, ela é
apresentada por gramáticos (com raras e honrosas exceções) e por jornalistas como
sendo a norma linguística a ser seguida por todos nós, tanto na fala quanto na
escrita. Isso é comentado por Cunha ao tratar da norma prescritiva:

A norma passa a identificar-se com o “bon usage” da língua, e ambos, ao fim


e ao cabo, se confundem com a própria língua, reduzida à parte
normativamente legitimada. Daí o percurso de estigmas que vão desde “isso
não é bom português” até “isso não é português”. (CUNHA, 1985, p. 45).

A produção de estigmas é constante. Existem até blogs cuja razão de ser é fazer
patrulha linguística (digite “matando o português” no Google e você verá os
resultados). E estigmatizar alguém é algo terrível, pois o estigma é “a situação do
indivíduo que está inabilitado para a aceitação social plena”, como lembra Erving
Goffman (2008, p. 7).
As consequências do estigma relacionado à língua são concretas. Um exemplo
disso é o fato de crianças, por não dominarem a norma padrão, serem julgadas
negativamente ao chegarem à escola e terem sua capacidade de aprendizagem
colocada sob desconfiança. Isso já é uma barreira a ser superada por elas.
As poucas crianças oriundas de famílias cujos membros frequentemente se
envolvem com artefatos da cultura escrita, como livros, jornais e revistas, terão
menos dificuldades para interagirem com as regras prescritas pelas gramáticas
normativas se comparadas com as muitas crianças oriundas de famílias socialmente
excluídas, para quem livros, jornais e revistas representam uma realidade distante.
Mesmo assim, tanto um grupo de crianças quanto o outro perceberão discrepâncias
entre a língua que falam e a língua apresentada nessas gramáticas. Elas saem da
escola, vão para casa, e não ouvem ninguém falar coisas como “Dê-me...”, “A
bicicleta foi roubada...”, “O brinquedo quebrou-se...”, “O doce de que mais gosto...”.
Como professoras e professores reagiriam se uma aluna perspicaz lhes
perguntasse a razão pela qual ela não ouve ninguém, fora da escola, falar do jeito
ensinado na escola. Talvez se comportassem como Mário Henrique Simonsen,
Ministro da Fazenda do governo Geisel, durante a ditadura militar. Segundo reza a
lenda, ele respondeu assim às críticas ao fracasso de um dos seus pacotes
econômicos: “a realidade está atípica”. Pois é... No final das contas, a culpa é da
realidade, pois ela não se comportou como deveria.
Não por acaso, Marcos Bagno (2011) lança mão do conceito de hipóstase para
se referir à norma padrão. De acordo com o Grande dicionário Houaiss da língua
portuguesa, hipóstase significa um “equívoco cognitivo que se caracteriza pela
atribuição de existência concreta e objetiva (existência substancial) a uma realidade
fictícia, abstrata e meramente restrita à incorporalidade do pensamento humano”
(Houaiss; Villar, 2008: 1540). Para Bagno, houve um processo de hipostasiação da
língua portuguesa: a língua real, esse conjunto de sons, palavras e significados
materializados na interação social, foi transformada em uma norma padrão, em um
conjunto de comportamentos a serem seguidos. E isso gerou o equívoco de se
confundir a norma padrão com a língua:

Nesse processo de hipostasiação, a língua passa a ser identificada com esse


modelo, com essa norma padrão, e deixa de ser um artifício sociocultural para
se tornar “a Língua”, com artigo definido e inicial maiúscula, uma entidade
dotada de vontade e consciência, envolta numa cosmogonia que se perde no
tempo, como se “a Língua” existisse assim, perfeita em seus contornos, desde
o início do mundo. (BAGNO, 2011, p. 360).

Comentando sobre a questão do inglês padrão, Norman Fairclough faz uma


provocação contundente:

Há um elemento de esquizofrenia acerca do inglês padrão, no sentido de ele


aspirar ser (e certamente é retratado como) uma língua nacional pertencente a
todas as classes e seções da sociedade, e mesmo assim permanece, em muitos
aspectos, o dialeto de uma classe (FAIRCLOUGH, 1989, p. 57, grifos do autor).10

Conforme escrevo alhures Para ele, uma indicação clara dessa esquizofrenia é
o fato de as pessoas sentirem e saberem que “a língua padrão é a língua de outra
pessoa e não a delas, apesar das afirmações contrárias” (FAIRCLOUGH, 1989, p. 57).
Em outras palavras, a norma padrão, veiculada de maneira inconsistente pelas
gramáticas normativas, não representa a realidade linguística das pessoas falantes de
português no Brasil. Portanto, ela não deixa de ser irreal até certo ponto, justificando
o rótulo de hipóstase atribuído por Bagno, para quem as consequências da
hipostasiação de língua são concretas, pois, conforme o teorema de Thomas, “no
âmbito das ciências sociais, se os homens definem as situações como reais, elas são
reais em suas consequências”.
Há dois pontos do parágrafo anterior para serem esclarecidos. Em primeiro
lugar, por que considero a norma padrão irreal “até certo ponto”? Porque ela
representa, sim, os comportamentos linguísticos de determinados escritores
literários clássicos. Então, nesse sentido, ela é real. Mas ela é irreal no sentido de
supostamente representar os comportamentos linguísticos das pessoas tanto na fala
quanto na escrita em todos e quaisquer contextos de uso da língua. Em segundo
lugar, quais as consequências reais da hipóstase? Posso pensar em três: (1) ela
prejudica as políticas linguísticas por levar muitos planejadores a ignorarem as
variedades não padrão; (2) ela reforça a ideologia da padronização e o discurso
purista; (3) ela potencializa a discriminação contra as variedades não padrão e
reforça o preconceito linguístico.

10Cf. o trecho original: There is an element of schizophrenia about Standard English, in the sense that it
aspires to be (and is certainly portrayed as) a national language belonging to all classes, and yet remains
in many aspects a class dialect.
E, antes de encerrar este capítulo, preciso fazer um comentário sobre uma
consequência conceitual dessa hipóstase. Os linguistas, obviamente, já perceberam a
não realização concreta da norma padrão porque as pessoas apresentam
comportamentos linguísticos diferentes. Em outras palavras, perceberam que a
norma padrão é abstrata e não condiz com a realidade linguística brasileira,
especialmente na fala. Por isso, criaram os conceitos de norma culta e de norma
popular para se referirem aos comportamentos linguísticos reais das brasileiras e dos
brasileiros.
É possível inferir uma definição de norma culta a partir das informações
fornecidas por Cunha sobre o Projeto de Estudo Conjunto e Coordenado da Norma
Linguística Oral Culta de Cinco das Principais Cidades Brasileiras, mais conhecido
como Projeto NURC, cujos informantes são mulheres e homens de quem se exigem
os seguintes requisitos:

a) ser nascido ou residente na cidade objeto do estudo desde os cinco


anos;
b) ter residido na cidade pelo menos durante ¾ partes da sua vida;
c) ser filho de brasileiros, preferentemente nascidos na cidade;
d) haver recebido sua instrução primária, secundária e universitária
na própria cidade. (CUNHA, 1985, p. 26).

Bem, a norma culta parece ser o conjunto de comportamentos linguísticos das


pessoas com a escolaridade completa, ou seja, com o grau universitário, as quais
moram em centros urbanos. Mas, embora o Projeto NURC foque a fala, a norma
culta não se limita à fala: inclui os comportamentos linguísticos na escrita também.
E norma popular? Por contraste com a norma culta, ela é o conjunto de
comportamentos linguísticos, na oralidade, das pessoas com escolaridade
incompleta ou sem escolaridade.
Ora, um problema surge a partir dessa nomenclatura. Se uma norma é
rotulada de culta e a outra, de popular, isso implica que há pessoas cultas e outras
incultas? Bem, os termos norma culta e norma popular deixam transparecer isso. E
pessoas preconceituosas podem facilmente se apropriar do primeiro termo em
benefício do seu preconceito.
Certamente, as pesquisadoras e os pesquisadores do NURC não pensaram
nesse termo com o viés preconceituoso em mente. Contudo, não há como se negar o
sentido potencialmente preconceituoso veiculado pela escolha do atrelamento do
adjetivo culta ao substantivo norma implicando a existência de uma norma não culta.
As pessoas não usuárias da norma culta não são incultas porque
simplesmente não existem pessoas incultas. A falta de escolaridade ou a sua
incompletude não é demérito para ninguém, não é baliza para julgamentos de nível
de inteligência ou de cultura, se é que existe algo como nível de cultura.
Para evitar esse problema, é possível usar outro termo: norma de prestígio. É
um termo adequado, pois, do ponto de vista sociológico, diz respeito às pessoas
pertencentes a classes sociais privilegiadas, não atingidas pela exclusão social. De
qualquer forma, do ponto de vista linguístico, a norma de prestígio não é superior à
chamada norma popular.
Chego ao final deste texto com a sensação de ter esclarecido as diferenças
entre língua e dialeto e entre norma descritiva e norma prescritiva, e de ter
provocado uma reflexão sobre a(s) gramática(s) normativa(s) e sobre as normas
linguísticas. Mostrei que a diversidade cultural se reflete na língua e não escapa das
questões de poder, as quais permeiam a sociedade brasileira na discussão sobre
essas normas.

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