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Unidade 7: O texto argumentativo

O que é argumentar?

Embora não nos demos conta, argumentar faz parte de nossa vida cotidiana.
Em uma conversa com amigos, por exemplo, é comum querermos expor nosso
ponto de vista – e convencê-los de que ele é o certo – sobre os mais variados
assuntos: desde a defesa da inocência da personagem de uma telenovela até a
ratificação da importância da participação social do indivíduo.
Muito além do que somente explicar, expor ou interpretar fatos e ideias, a
argumentação visa, sobretudo, a convencer, influenciar, persuadir nosso
interlocutor. Dessa forma, para que o objetivo seja alcançado, precisamos lançar
mão de bons argumentos. Ou seja: é necessário que haja uma seleção e
combinação dos fatos, dados e evidências que serão utilizados para a defesa de
uma tese, que nada mais é do que o posicionamento que assumimos acerca de
determinado tema.
Logo, toda vez que defendemos um ponto de vista por meio de
argumentos convincentes, debatendo ideias, discutindo assuntos e tecendo
opiniões, estamos argumentando.
Veja um exemplo de parágrafo argumentativo e responda oralmente as
questões que se seguem:

“A rotina na maioria das vezes, é criticada e desvalorizada. Tentamos


sempre evitá-la, pois a associamos à monotonia e à falta de criatividade, à falta de
emoção. Mas a rotina tem sua beleza. Ela nos traz segurança. A rotina nos propicia
a certeza, o sossego e evita surpresas que nem sempre podem ser agradáveis. A
rotina permite o planejamento, permite antecipar os fatos e se preparar.”
Parágrafo escrito por uma aluna do curso de Redação I – adaptado

PARA RESPONDER ORALMENTE

1) Qual o tema abordado no parágrafo?


2) Qual a ideia defendida pelo autor e como ele a defende?

Planejando um texto argumentativo

Já sabemos que o principal objetivo do texto argumentativo é convencer.


Para que ele seja alcançado, é necessário que nossos argumentos sejam precisos e
claros, o que só será possível por meio da organização prévia das ideias. Logo, é
importante que façamos, antes de começar a escrever o nosso texto argumentativo,
um planejamento, no qual haverá a previsão do que iremos expor.

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Sempre que queremos chegar a algum lugar, planejamos o melhor caminho
a seguir: o arquiteto faz a planta antes de construir a casa, o empresário projeta a
indústria antes de instalá-la. O mesmo deve ocorrer em um texto argumentativo.
Precisamos planejar as ideias a serem discutidas sobre o tema antes de começar a
escrevê-lo. Isso permitirá uma melhor seleção e organização dos argumentos, o
que diminuirá as chances de serem questionados e, consequentemente, aumentará
nosso poder de convencimento.
Dessa forma, um bom planejamento é o primeiro passo para um bom texto
argumentativo. O ponto de vista que será por nós defendidos, ou seja, nossa tese,
bem como as informações que serão usadas para que consigamos convencer
nossos interlocutores de nosso posicionamento deverão ser pensados antes de
começarmos a escrever. Claro que novas ideias poderão aparecer no decorrer da
produção textual, mas ter um esboço do que será feito nos permite organizar
melhor nosso pensamento, faz com que não nos esqueçamos de pontos
importantes a serem discutidos e diminui a chance de sermos repetitivos em nossa
redação.
Pensemos, por exemplo, no seguinte tema: as mudanças trazidas pelas
novas tecnologias. Antes mesmo de começar a escrever, já devemos saber qual será
o nosso posicionamento. Dentre as várias opções de tese existentes, poderíamos
afirmar que as mudanças trazidas pelas novas tecnologias facilitaram a vida do
homem, mas fizeram com que ele ficasse mais dependente delas. Para defendê-la,
precisaríamos, então, reunir informações que a comprovem. Uma alternativa seria
dizer o quanto a tecnologia facilita nossa vida, acelerando tarefas que, antigamente,
levariam muito tempo para serem cumpridas. Poderíamos apontar, também, que a
tecnologia permitiu que a comunicação humana avançasse, destruindo fronteiras e
diminuindo distâncias. Em contrapartida, mostraríamos o quanto as facilidades
trazidas pelas novas tecnologias fizeram com que o homem dependesse muito
mais delas, principalmente dentro de um contexto no qual o tempo é cada vez mais
escasso e importante.
Vamos ler, agora, o texto que se segue:

TEXTO I

Roleta-russa, agora no ar
São Paulo acrescenta continuamente requintes à roleta-russa em que se
transformou a vida na cidade. Antes, o paulistano já sabia que, se escapasse de
assalto, poderia cair em um sequestro (relâmpago ou duradouro, que a roleta-
russa é sofisticada).
Se não fosse sequestrado, teria o carro roubado. Se ficasse com o carro,
afundaria em algum dos alagamentos bíblicos do cotidiano. Se não naufragasse,
ficaria preso em um congestionamento cinematográfico. E, se nada disso ocorresse,
ainda haveria na agulha a bala de cair no buraco do metrô e ter o cadáver

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resgatado apenas uma semana ou dez dias depois. Soma-se agora à roleta-russa até
o ato de fugir dela ao deixar a cidade por via aérea. Sempre há o risco de levar para
ir ao Rio ou a Salvador o mesmo tempo que cidadãos normais tardam para ir de
Nova York a Londres (ou até Tóquio).
O caos aéreo serviu para acentuar outra característica dos paulistas (na
verdade, comum a 99% dos brasileiros): em vez de enfrentar o problema, tratam
de acomodar-se a ele. No lugar de drásticos protestos contra o apagão dos voos, o
brasileiro faz estoque de livros, de iPods ou de "games" para celular -e aguenta o
tranco na roleta-russa dos aeroportos. Já já alguém vai escrever o manual de auto-
ajuda: "Como passar o dia em Congonhas e ser feliz". Nem em aeroporto do interior
do Haiti admite-se que a chuva possa ser motivo para interrupção dos voos. Aqui,
aceita-se tranquilamente medir o volume de água na pista para autorizar ou não
voos no mais movimentado aeroporto da pátria esculhambada.
Coisa de comédia, que, no entanto, se incorporou aos usos e costumes do
país, como se fosse parte da paisagem. Como as favelas, as balas perdidas, os
assaltos, os sequestros, a educação em frangalhos, a saúde profundamente doente,
os políticos corruptos...
(ROSSI, Clóvis. Folha de São Paulo, 20/03/2007)

Podemos observar que ele se estrutura da seguinte forma:

TEMA: Caos aéreo


TESE: “Viajar de avião agora é parte da roleta-russa em que se transformou a vida
na cidade, além do que as pessoas mais se acomodam a ela do que a enfrentam.”
ARGUMENTOS:
1) “Sempre há o risco de levar para ir ao Rio ou a Salvador o mesmo tempo que
cidadãos normais tardam para ir de Nova York a Londres (ou até Tóquio).”
2) “No lugar de drásticos protestos contra o apagão dos voos, o brasileiro faz
estoque de livros, de iPods ou de “games” para celular – e aguenta o tranco na
roleta-russa dos aeroportos.”

EXERCÍCIO 1

SOCIEDADE VIOLÊNCIA URBANA DESEMPREGO

a) delimite-os, ou seja, faça um recorte do assunto, indicando que aspecto(s)


será(ão) abordado(s);

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b) elabore uma tese, isto é, uma frase verbal, que contenha seu posicionamento
sobre cada tema já delimitado.

Como elaborar argumentos?


Para produzirmos um bom texto argumentativo, não adianta apenas termos
uma boa tese: o mais importante é que o leitor seja convencido de que nossa tese é
válida. Então, fazemos uso dos argumentos. Quanto melhor eles forem, maior
poder de persuasão teremos. Mas, afinal, como elaborá-los?
Um meio de elaboramos argumentos é transformar a nossa tese em uma
pergunta. Por exemplo:

TEMA: A qualidade do ensino privado no Brasil


TESE: O ensino privado no Brasil não apresenta qualidade homogênea.

PERGUNTA: Por que o ensino privado no Brasil não apresenta qualidade


homogênea?
RESPOSTAS = ARGUMENTOS
ARGUMENTO 1: Porque há dois tipos básicos de instituições de ensino privado:
um que só visa ao lucro e outro que visa também à qualidade.
ARGUMENTO 2: Porque o ensino privado brasileiro destina-se a diferentes classes
sociais.

EXERCÍCIO 2
Escolha uma das teses elaboradas por você no exercício 1 e formule três
argumentos.

EXERCÍCIO 3
Agora, elabore um parágrafo para o tema que você escolheu, usando os
argumentos anteriormente planejados.

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ATIVIDADES COMPLEMENTARES

1) Para cada um dos temas a seguir, redija um parágrafo:

a) (UFF-RJ): “Televisão – sua influência nos padrões de comportamento humano.”

b) (UFF-RJ): “Homem e mulher se complementam.”

c) “O ensino da Língua Portuguesa no Brasil.”

2) Faça uma conclusão para o texto seguinte, de maneira que se encaixe


coerentemente com as ideias apresentadas:

Doenças do magistério
Professor sofre males no exercício da profissão

É evidente que uma boa saúde não depende de uma boa situação financeira.
No entanto, é claro também que o empobrecimento profissional tem sido uma das

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causas do chamado mal do século, na avaliação de alguns especialistas, o estresse.
No caso do magistério, a perda do poder aquisitivo da categoria tem resultado em
graves problemas em relação à saúde de cada profissional, sobretudo as questões
de ordem emocional.
A questão da saúde do professor tem sido uma preocupação constante deste
sindicato. Em consultas a especialistas do assunto, conseguimos detectar como
principais doenças do magistério, entre outras a Síndrome do Burnout (distúrbio
de fundo emocional); problemas de coluna e nas articulações – lombalgias, LER;
problemas nas cordas vocais; osteoporose precoce; rinite alérgica e asma.
Entre as principais causas dessas doenças, estão as péssimas condições de
trabalho oferecidas em muitos de nossos estabelecimentos de ensino; o trabalho
em excesso do professor; a má alimentação; o uso de giz de baixa qualidade;
superlotação das turmas, principalmente entre os professores de 40h nos Cieps
(salas de aula em meia parede); insatisfação profissional, insegurança e medo.

(Jornal UPPE Sindicato, ano XI, nº. 20, agosto de 2004)

3) Faça o desenvolvimento e a conclusão do texto abaixo, de modo que fique coeso


e coerente com a introdução apresentada:

Rendimento escolar

O professor no Estado do Rio, como em grande parte do país trabalha com


toda a abnegação, mas ao mesmo tempo vê-se frustrado por não ter o seu trabalho
verdadeiramente reconhecido. A falta de condições de trabalho, o empobrecimento
geral da população, fazendo de cada aluno um pequeno ser problemático, vítima
dos desajustes familiares e do meio social violento em que muitos vivem,
prejudicam a atuação do professor em sala de aula, resultando na perda de
rendimento da turma.

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(Jornal UPPE Sindicato, ano XI, nº 20, agosto de 2004)

4) O texto a seguir é bastante claro quanto à determinação de cada uma de suas


partes e quanto às ideias contidas em cada um de seus parágrafos. Leia-o
atentamente e identifique o tema, a tese e os argumentos.

Texto 1:
A qualidade de vida na cidade e no campo

É de conhecimento geral que a qualidade de vida nas regiões rurais é, em


alguns aspectos, superior à da zona urbana, porque no campo inexiste a agitação
das grandes metrópoles, há mais possibilidades de se obterem alimentos
adequados e, além do mais, as pessoas dispõem de maior tempo para estabelecer
relações humanas mais profundas e duradouras.
Ninguém desconhece que o ritmo de trabalho de uma metrópole é intenso.
O espírito é de concorrência, a busca de se obter uma melhor qualificação
profissional, enfim, a conquista de novos espaços lança o ambiente urbano em
meio a um turbilhão de constantes solicitações. Esse ritmo excessivamente intenso
torna a vida bastante agitada, ao contrário do que se poderia dizer sobre os
moradores da zona rural.
Por outro lado, nas áreas campestres há maior qualidade de alimentos
saudáveis. Em contrapartida, o homem da cidade costuma receber gêneros
alimentícios colhidos antes do tempo de maturação, para garantir maior
durabilidade durante o período de transporte e comercialização.
Ainda convém lembrar a maneira como as pessoas se relacionam nas zonas
rurais. Ele difere da convivência habitual estabelecida pelos habitantes
metropolitanos. Os moradores das grandes cidades, pelos fatos já expostos, de
pouco tempo dispõem para alimentar relações humanas mais profundas.
Por tudo isso, entendemos que a zona rural proporciona a seus habitantes
maiores possibilidades de viver com tranquilidade. Só nos resta esperar que as
dificuldades que afligem os habitantes metropolitanos não venham a se agravar
com o passar do tempo.

TEMA:

29
TESE:

ARGUMENTOS:

30

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