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Introdução
As igrejas locais têm sido, já há muito tempo, confrontadas com uma questão
que tem levado, de forma recorrente, a muita polêmica e debates acalorados,
nos quais muitos chegam a ficar magoados com seus irmãos, sem que se tenha
chegado a um posicionamento coerente com os princípios revelados por Deus à
Sua igreja. Este assunto é a remuneração dos músicos convidados a participar,
de forma eventual, nos cultos de adoração e louvor ou em programas especiais.
Como em qualquer outra situação em nossa vida cristã, e especialmente por ser
um assunto polêmico e, mais ainda, que afeta diretamente fontes de ganho de
algumas pessoas, devemos buscar uma posição bíblica a respeito deste
assunto. Não vamos entrar aqui no mérito da questão se esses convites são
apropriados ou não. Nosso intuito com este estudo é compreender a
argumentação utilizada por aqueles músicos que exigem algum pagamento para
se apresentarem, comparando-os com os conselhos e recomendações divinas
que temos sobre este assunto.
A Argumentação Levítica
O ministério dos músicos levitas está bem definido em I Crônicas 16:4: “E pôs
alguns dos levitas por ministros perante a arca do Senhor; isto para recordarem,
e louvarem, e celebrarem ao Senhor Deus de Israel”. Os três verbos usados
neste texto – “recordar”, “louvar”, e “celebrar” – sugerem que o ministério da
música era uma parte vital na experiência de adoração do povo de Deus.
Contextualizando o Argumento
O texto de I Crônicas 23:3-5 é claro em dizer que haviam 38 mil levitas, sendo
que, dentre esses, apenas 4 mil eram músicos, ou seja, a grande maioria deles
era responsável por outras funções no templo.
Entendendo as Diferenças
Tendo em mente apenas o que já foi exposto, vemos diferenças marcantes entre
a prática musical atual nas nossas igrejas e o sacerdócio levítico. Mas ainda há
outros pontos importantes:
Diante do que foi exposto, podemos compreender que os músicos levitas eram
os ministros da música no templo (I Crônicas 6:31-32; 16:4,37; II Crônicas
8:14; 23:6; 31:2) os quais, após intensa preparação técnica e aprendizado do
discipulado espiritual, ministravam ordenadamente e estavam sujeitos a uma
hierarquia rígida.
Os levitas não eram músicos convidados para o entretenimento da congregação,
com participações especiais esporádicas ou pontuais. Eles não eram chamados
para “abrilhantar” algum programa especial, mas para adorarem diretamente a
Deus. Notemos que não havia uma “plateia” ouvindo-os cantar durante os
sacrifícios da manhã e da tarde, já que ninguém, exceto os próprios sacerdotes,
podia entrar no templo. Apenas nas três grandes festas nacionais – a Páscoa, o
Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos – quando a congregação de todo o
Israel era chamada a comparecer perante o Senhor em Jerusalém, é que o povo
tinha oportunidade de ouvir os levitas cantando, pois aparentemente eles se
apresentavam do lado de fora do templo.
O texto acima mostra claramente que os levitas atuavam não como artistas a
serem admirados a aclamados, sendo o centro das atenções, mas como líderes
da manifestação de louvor congregacional em adoração a Deus.
Após uma análise exaustiva, notamos também que não existe qualquer texto
bíblico que, analisado dentro de seu contexto, possa ser utilizado pelos músicos
atuais, convidados a apresentar-se eventualmente nas igrejas, para justificar a
exigência de que estas os remunerem financeiramente. Na verdade, embora
possamos extrair do sistema ministério levita do Antigo Testamento princípios
valiosos para a ordem e a prática do ministério musical da igreja hoje, é possível
(e até mesmo necessário) questionar se ele realmente oferece um embasamento
tão sólido quanto alguns músicos na igreja atual gostariam que oferecesse.
Também podemos destacar que a igreja atual não segue o formato de culto do
Templo do Antigo Testamento. Nossa forma litúrgica extrai suas raízes da forma
como eram organizadas as reuniões nas sinagogas. No templo, não havia uma
congregação que se reunia ali, apenas os sacerdotes podiam entrar seus portais.
Mas as sinagogas eram vistas como locais de reunião semanal, aos sábados,
das pessoas que moravam no seu entorno, a fim de se dedicarem à adoração e
ao estudo da Palavra. E este é o modelo que seguimos hoje em nossas casas
de oração.
Conclusão
Porém, a pergunta que surge é: Encontraremos músicos com esse espírito nos
dias atuais? [1]
Outra Perspectiva
Na verdade, nem mesmo nos escritos de Ellen G. White existe algum texto que
autorize a igreja a contratar músicos eventuais, com a finalidade de abrilhantar
programas especiais (ainda que evangelísticos) ou, menos ainda, cultos de
adoração. Pelo contrário, há um texto que contradiz especificamente este tipo de
procedimento:
“Não se deve negligenciar o canto nas reuniões realizadas. Deus pode ser
glorificado por esta parte do culto. E quando cantores oferecem seus
préstimos, devem ser aceitos. Dinheiro, porém, não deve ser usado para
contratar cantores. Muitas vezes o canto de hinos simples pela
congregação tem um encanto não possuído pelo canto de um coro, por
mais hábil que seja. ” (Evangelismo, p. 509).
Aliás, em todo o capítulo 15, intitulado “Evangelismo do Canto” que vai da página
496 até a página 512, há muitos conselhos valiosos, e que devem voltar a ser
seguidos pela liderança das igrejas locais. Vamos destacar alguns desses
parágrafos na ordem em que aparecem no texto do livro, e não na ordem relativa
de importância ou relevância:
“O canto não deve ser feito apenas por uns poucos. Todos os presentes
devem ser estimulados a tomar parte no serviço de canto.” (Evangelismo,
p. 507)
“Como pode Deus ser glorificado quando confiais para o vosso canto em
um coro mundano que canta por dinheiro? Meu irmão, quando virdes essas
coisas em seu verdadeiro aspecto, só tereis em vossas reuniões apenas o
canto suave e simples, e pedireis a toda a congregação que se una a esse
canto. Que importa, se entre os presentes há alguns cuja voz não é tão
melodiosa como a de outros! Quando o canto é de molde a que os anjos
se possam unir com os cantores, pode-se causar no espírito uma
impressão que o canto de lábios não santificados não pode produzir.”
(Evangelismo, p. 509)
“Exibição não é religião nem santificação. Coisa alguma há, mais ofensiva
aos olhos de Deus, do que uma exibição de música instrumental, quando
os que nela tomam parte não são consagrados, não estão fazendo em seu
coração melodia para o Senhor. A mais aprazível oferta aos olhos de Deus,
é um coração humilhado pela abnegação, pelo tomar a cruz e seguir a
Jesus. Não temos tempo agora para gastar em buscar as coisas que
agradam unicamente aos sentidos. É preciso íntimo esquadrinhar do
coração. Necessitamos, com lágrimas e confissão partida de um coração
quebrantado, aproximar-nos mais de Deus; e Ele Se aproximará de nós.”
(Evangelismo, p. 510)