Você está na página 1de 12

OS POUCOS EM NOME DE MUITOS

UM EXAME DOS CORAIS À LUZ DA ESCRITURA, HISTÓRIA DA


IGREJA E TEOLOGIA PRÁTICA

Cliff Blair1

Tradução: Rev. Alan Rennê Alexandrino Lima 2

João Calvino, cujo nome é frequentemente associado na mente popular com as


doutrinas da predestinação e reprovação, não considerou qualquer dessas doutrinas
como sendo de primeira importância na verdadeira religião. Nem deu Calvino um lugar
preeminente à justificação, a grande doutrina do campo de batalha da Reforma. Ele
escreveu: “Se é indagado, então, por quais razões a religião Cristã tem uma existência
permanente principalmente entre nós, e mantém a sua verdade, será encontrado que as
duas razões seguintes não só ocupam o lugar principal, mas será compreendido que
todas as outras estão abaixo delas, e, por conseguinte, a substância inteira do
Cristianismo: isto é, primeiro, um conhecimento do modo por meio do qual Deus é
cultuado apropriadamente; e, em segundo, a fonte de onde a salvação é obtida”. 3
Esta séria consideração sobre o culto achou expressão depois de um século na
Confissão de Fé de Westminster, que declara: “Mas o modo aceitável de adorar o
verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade
revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos
homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de
qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras” (21.1). Os divinos
entenderam esta doutrina do culto regulado por numerosos pontos nas Escrituras, sendo
que o principal deles é o segundo mandamento como indicado pelos seus catecismos. 4
Com esta alta concepção do lugar e conteúdo do culto em vista, os seguidores de
Calvino e a posterior Assembléia procuraram incluir nada que não tivesse autorização
bíblica. Enquanto bons homens podem diferir sobre a autorização bíblica para qualquer
elemento determinado para o culto corporativo (i.e., a Oração do Senhor, o uso de
hinos, etc.) todos os homens honestos que fazem uma reivindicação de se manterem na
sucessão teológica de Calvino e da Assembléia deveriam buscar justificar a inclusão ou
exclusão de elementos específicos em seu culto.
Este trabalho buscará apresentar uma justificativa para a rejeição do uso de
corais que são distintos da congregação como um todo no culto corporativo.5 Afirmando
positivamente, nós advogaremos que a congregação é o coral no culto do povo de Deus.
Para estabelecer essa posição, nós examinaremos os dados bíblicos pertinentes de
ambos os testamentos (seção 1). Esta posição também será mostrada com consoante
com a prática da Igreja nas fases mais fortes da sua história (seção 2). Por último,
responderemos algumas objeções populares e ofereceremos algumas considerações
práticas à luz da nossa tese (seção 3).
Os Dados Bíblicos
Antigo Testamento: Quando uma pessoa tem a intenção de examinar o papel e a
justificação de corais no moderno culto corporativo, ela logo descobre algo interessante:
a ausência quase total de todo e qualquer argumento contínuo em favor de sua posição.
Apesar da onipresença aproximada de corais nas igrejas nos vinte primeiros séculos, a
impressão opressiva com a qual a pessoa é deixada, é que os corais foram assumidos
como apropriados, mas não foi demonstrado que deveria ser assim. Em contraste com as
batalhas sobre a inclusão da hinódia e o uso de instrumentos musicais que surgiram no
século dezenove, e para manter um menor degrau, há um claro silêncio a respeito do
assunto dos corais. Quarenta anos atrás James White observou corretamente: “À luz de
tais desenvolvimentos difundidos [de corais] parece estranho que houve poucas
investigações sobre as pressuposições teológicas do coral no culto comunitário.
Raramente, até mesmo nas escolas de música sacra, é discutido o propósito do coral no
culto Protestante”.6 Nas raras ocasiões em que um argumento bíblico para a inclusão de
corais no culto é empreendido, eles são invariavelmente justificados pelo recurso dos
corais levíticos do Antigo Testamento.7
Os dados concernentes aos corais são um pouco espalhados, mas vêm
primariamente de passagens do tempo da monarquia (em Reis e Crônicas) e então
brevemente em passagens do período da restauração (em Esdras e Neemias). Reunindo
estas passagens discrepantes nós proveremos uma avaliação dos corais e seguiremos
esse material com observações pertinentes.
Os corais foram originalmente apontados dentre os três clãs levíticos (Coate,
Gérson e Merari) por Davi e serviram primeiro nos serviços do tabernáculo e por último
no templo (1 Crônicas 6.31-47; 16.37-42; 25.2-6, etc.). Além da liderança de seus clãs,
os corais também foram presididos por aqueles designados com base nas suas
habilidades musicais (1 Crônicas 15.22,27; 25.7-8; e os mais de cinquenta títulos de
Salmos dirigidos ao diretor do coro).8 Os corais eram compostos de cantores e músicos9
(1 Crônicas 15.16-21) usando uma variedade de instrumentos (címbalos, harpas, liras,
etc.; veja também 1 Crônicas 16.42).
Nos anos do declínio de Davi, e com uma visão para a vinda do templo, ele fez
mudanças envolvendo esses músicos. Ele decretou o seu número total como 4.000 (1
Crônicas 23.5); diminuiu a idade inicial de 30 para 20 (1 Crônicas 23.3,24,27); e
explicou suas funções: “Deviam estar presentes todas as manhãs para renderem graças
ao SENHOR e o louvarem; e da mesma sorte, à tarde; e para cada oferecimento dos
holocaustos do SENHOR, nos sábados, nas Festas da Lua Nova e nas festas fixas,
perante o SENHOR, segundo o número determinado” (1 Crônicas 23.30,31). Tão
integral era o trabalho do coral com os deveres do templo, que eles foram isentados de
outras exigências “porque, de dia e de noite, estavam ocupados no seu mister” (1
Crônicas 9.33).
Além de detalhar os seus deveres regulares, a Escritura registra a presença dos
músicos em várias ocasiões fundamentais. Realmente, estava no meio do serviço dos
músicos levíticos que o novo templo estava originalmente coberto com a nuvem (2
Crônicas 5.11-14). Eles estavam presentes quando o traiçoeiro Atalia foi subvertido (2
Crônicas 23.12-13); quando Ezequias purificou o templo (2 Crônicas 29.27-28); e eles
também são notados como estando “nos seus lugares, segundo o mandado de Davi”
durante a grande celebração da Páscoa de Josias (2 Crônicas 35.15).
Após essas passagens, os corais são largamente não-documentados na Escritura
até o retorno do exílio. Menção dos músicos retornando é feita na primeira (Esdras 2.41;
Neemias 7.44) e na segunda onda do exílio (Esdras 7.7).10 Nenhum grande detalhe é
dado acerca das suas atividades em Jerusalém até a dedicação do muro reconstruído ao
redor da cidade. Em Neemias 12 uma cerimônia ativa é descrita em que dois grandes
coros levíticos procedem ao longo dos muros e convergem na “Casa de Deus...
ofereceram grandes sacrifícios e se alegraram; pois Deus os alegrara com grande
alegria” (Neemias 12.40,43).11
Quando estas passagens são consideradas como um todo, algumas conclusões
simples e pertinentes podem ser estabelecidas a respeito da relação dos coros levíticos e
os corais contemporâneos. Como implica o seu nome, eles eram constituídos
completamente por Levitas. Isto é, eles eram sacerdotes em constituição e função. Seu
serviço estava amarrado ao serviço do templo, especificamente aos sacrifícios. Como
Hughes Old comenta, “Era durante a imolação do sacrifício que o cântico de salmos era
tocado para o seu papel primário. Enquanto o sacrifício queimava no altar, um salmo de
louvor ou ações de graças era entoado pelos Levitas como aquele que ofereceu o
sacrifício ao redor do altar (Salmos 25, 26)”. 12 Assim sendo, aqueles que encontram
fundamento para os corais modernos nestes precedentes têm que se fazer algumas
perguntas: que ofício os membros dos modernos corais estão cumprindo? Quais são as
exigências para tal ofício? Os sacerdotes do Antigo Testamento serviram em um papel
mediando entre Deus e o Seu povo – os defensores dos corais modernos fazem tais
reivindicações a respeito de si? Se não, então como os corais levíticos justificam a
prática moderna? Estes músicos eram portadores de um ofício que possuía qualificações
específicas: varões13 levitas das famílias de Asafe, Hemã e Jedutum (1 Crônicas 25.1-7;
2 Crônicas 35-15, etc.), entre as idades de 20 e 50 anos, que, como levitas, eram
separados para seu trabalho por nomeação divina e pela solenidade de cerimônias
(Números 8.5-15). Realmente, existe alguma conexão entre isso e os coros modernos,
que estão baseados em pouco mais que aptidão (ou até mesmo em mera vontade) para
cantar publicamente?
Novo Testamento: Quando nós chegamos ao Novo Testamento o argumento
para o canto é facilmente estabelecido – mas o caso dos corais em distinção da
congregação fica mais difícil. Isto é particularmente verdadeiro se tal argumento é
baseado nos corais levíticos. O culto no templo não é mais a norma, não mais existe um
sacerdócio terreno distinto, não há nada que sirva como exemplo para a prática. Na
verdade, o que nós encontramos é a clara assunção do canto por todos os verdadeiros
adoradores.
Existem apenas dois exemplos de narrativas sobre o canto no Novo
Testamento.14 É dito que a Ceia do Senhor foi concluída com todos os participantes
“cantando um hino” (Mateus 26.30 e Marcos 14.26). A outra está em Atos 16 onde diz
que “Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de
prisão escutavam” (v. 25). É interessante notar que este é o único lugar do Novo
Testamento onde é dito que outros ouviam e não participavam externamente no cântico
de hinos – e eles eram prisioneiros incrédulos.
Existe uma passagem que ensina sobre o cântico, que pode ser tida como
didática: 1 Coríntios 14.15: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também
orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”. Este
verso diz pouco sobre o canto per se, e mais sobre o uso correto de nossas faculdades e
nosso comportamento no culto corporativo. É um chamado para “um equilíbrio entre
racionalismo e emoção. E... que o canto seja feito para edificação”. 15
Existem três passagens no Novo Testamento que são exortações para cantar:
Efésios 5.19; Colossenses 3.16, e Tiago 5.13.16 Tiago é manifestadamente privativo em
caráter e não toca em assuntos do culto corporativo, exceto com uma consideração: ele
assume uma familiaridade com canções de adoração. Onde seria mais provável que tal
familiaridade se desenvolveria? Mais naturalmente, se desenvolveria cantando no culto.
As passagens paralelas de Paulo em Efésios e Colossenses dependem da mesma
suposição como Tiago. Se elas imaginam um cenário privativo ou corporativo (ou
ambos) é discutível e imaterial. Se elas assumem um cenário privativo, os versículos
não falam sobre o assunto diante de nós. Mas, para o nosso argumento, se o cenário
corporativo é assumido, então, elas proveem um argumento contra corais em distinção
da congregação. Isto é tornado claro através de um exame da gramática subjacente. As
frases “falando entre vós” (Efésios) e “aconselhai-vos mutuamente” (Colossenses),
ambas empregam o mesmo pronome: heautou. Este é um pronome reflexivo. Wallace
nos lembra que a força do pronome reflexivo está “em indicar que o sujeito também é
objeto da ação do verbo. O pronome reflete, assim, no sujeito... o pronome reflexivo é
usado para realçar a participação do sujeito na ação verbal, como objeto direto, objeto
indireto, intensificador, etc.”.17 Assim, em ambos os versículos, o falando “entre vós” é
tal que identifica o orador e o ouvinte como inclusivos um do outro (como é o caso do
cântico congregacional) não exclusivos (como com um coral em distinção da
congregação).
Além das passagens consideradas aqui, há aquelas do livro de Apocalipse que
pode ser chamado de escatológico (Apocalipse 5.9-10; 14.3; 15.3).18 O que é
principalmente notável nestas passagens é que todos do povo de Deus são vistos como
adorando e cantando. Não existe nenhum coral distinto, as pessoas são o coral. Tal
observação se coaduna perfeitamente com a teologia geral do sacerdócio no Novo
Testamento. Enquanto o cântico no templo do Antigo Testamento era executado através
de corais sacerdotais (que serviam sob a ministração de um sumo sacerdote), assim
também no Novo. Mas agora o cântico é desempenhado por todo o povo de Deus que
são um reino de sacerdotes (1 Pedro 2.5,9; Apocalipse 1.6; 5.10; 20.6) e que servem sob
a ministração do Sumo Sacerdote (ver Hebreus, especialmente os capítulos 7-9). Esta
conexão entre o sacerdócio de todos os crentes e seu canto corporativo de louvor está
claro em Apocalipse 5.9-10 (ver a nota 16). Também pode ser percebido em Hebreus,
onde Cristo é retratado (pela citação do Salmo 22) conduzindo o louvor do povo de
Deus “no meio da congregação” (Hebreus 2.12); e também, o povo de Deus (não uma
porção dele) é exortado a oferecer “a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto
de lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13.15).
Assim nós vemos que os dados bíblicos de ambos os testamentos argumentam
fortemente a favor do coro congregacional. Aquela linha de raciocínio que, num
primeiro momento, parece oferecer um forte suporte para os modernos corais – um
apelo aos corais levíticos – na verdade, argumenta contra eles. Mais adiante, a grande
ênfase do Novo Testamento sobre a corporatividade19 é sublinhada pelo canto
congregacional e implicitamente negado pela segregação de uma porção da congregação
para cantar separadamente. As evidências textuais, gramaticais e teológicas apontam
para uma prática no culto corporativo: o cântico congregacional. Consideraremos que
direção foi seguida pela Igreja ao longo de sua história.

História da Igreja
Uma de nossas janelas antigas para a Igreja Primitiva vem da famosa carta do
governador da Bitínia, Plínio, o Jovem, ao Imperador Trajano (c. 112 d.C.). Nela ele
descreve o culto dos cristãos primitivos da seguinte forma: “no dia determinado,
costumavam se encontrar antes da alvorada, e recitavam em antífona um hino a Cristo,
como a um deus; ligavam-se por juramento, não para cometerem algum crime, mas para
se absterem de furto, assalto, adultério, perjúrio e sonegação de depósitos quando
reivindicados”.20 Assim, desde os dias mais antigos da Igreja pós-bíblica nós vemos o
canto congregacional como a norma para o culto do povo de Deus. 21 Na realidade, em
alguns séculos os corais seriam desenvolvidos. A maioria dos estudiosos concorda que
foi no período medieval antigo que a complexidade da música cresceu e “o canto se
tornou o privilégio dos monges e clérigos, e a congregação foi colocada na posição de
ouvinte e espectadora”.22 Old escreve sobre esse período: “Cada vez mais os monges
eram encarregados do louvor na igreja”. 23 Felizmente, isto não durou: “Com a Reforma
os louvores da igreja tomaram uma direção completamente diferente. Os Reformadores
quiseram que toda a congregação entoasse os louvores da igreja. Eles quiseram o povo
para cantar em sua própria linguagem e em melodia simples o bastante para que o povo
aprendesse”. 24 Focalizando em João Calvino, James Hastings Nichols observa que os
Reformadores não viram os seus esforços como uma inovação, mas sim como uma
restauração da prática da Igreja Primitiva com estava baseada nas Escrituras: “Calvino
sabia, como fez a igreja primitiva, que „cada cristão assume o exaltado título de
sacerdote‟ e tem lugar legítimo no oferecimento corporativo de louvor e intercessão. As
pessoas deveriam entender, e na medida do possível, unir suas vozes para cantar e orar
no serviço de culto. Assim eles fizeram no terceiro e quarto século”. 25
Assim, foi debaixo da liderança dos grandes Reformadores como Calvino,
Lutero e Bucer, que o canto foi legalmente restabelecido à congregação como um todo.
A era da Reforma e os séculos seguintes viram uma produção firme de Saltérios e hinos
designados com o grande objetivo de equipar o povo de Deus para fielmente cumprir o
seu chamado de cantar louvores a Ele.
Não foi até o século dezenove que este estado de coisas no Protestantismo
começou a mudar. A fonte desta regressão pode ser traçada até uma pessoa e um
movimento. A pessoa foi John Jebb, e o movimento foi o Anglo-Católico dentro da
Igreja da Inglaterra.26 James White descreve o papel de Jebb assim:
Em 1841, sob sugestão de Jebb, [Walter Farquhar] Hook introduziu
um completo serviço coral na nova paróquia que ele estava
construindo em Leeds. Antes deste tempo, a única forma comum de
coro nas paróquias inglesas era uma pequena faixa de músicos que
ficavam na galeria ocidental. Além de um hino ocasional, sua
participação no serviço era desprezível. Jebb convenceu Hook que os
serviços corais, mantidos desde os tempos antigos nas catedrais,
podiam ser usados amplamente nas igrejas da paróquia. Deve ser
notado que, nos serviços das catedrais os coristas e o clero eram
geralmente os únicos adoradores, além do que o serviço das catedrais
não era projetado para a participação da congregação. Não obstante,
Jebb sentiu que o serviço das catedrais poderia ser usado em algumas
igrejas da paróquia e advogou o seu uso no seu livro The Choral
Service of the United Church of England and Ireland (1843). Hook
fez uma inovação maior dando ao coro um lugar importante no culto
das igrejas da paróquia. Sua prática de vestir o coro de forma especial
e colocá-lo no santuário foi logo amplamente adotada, em grande
prática, por uma razão arquitetônica. Durante a década de 1840 a
Cambridge Camden Society estava ativamente promovendo a
“correta” construção de igrejas góticas do décimo-quarto século com
os seus fundos característicos. O coro investido muito nitidamente
resolveu o problema do que fazer com o santuário. Dentro de poucas
décadas, quase todas as paróquias Anglicanas tinham adotado a
moderna prática de encher o santuário com um coro de leigos.27

Nichols reconta muitos dos mesmos detalhes, e afirma que, “Jebb explicitamente
se opôs ao cântico congregacional como „uma noção errada e moderna‟. As
congregações deveriam ficar sentadas e ouvir os profissionais fazerem corretamente”. 28
Nichols opina: “Talvez o legado mais infeliz do movimento Anglo-Católico para as
igrejas reformadas, em geral, tenha sido essa epidemia de santuários e corais teatrais”. 29
De forma esquisita, essa “epidemia” não foi desafiada e documentada. Dentro do
Presbiterianismo Americano, existe pequena evidência de um grande debate sobre esse
ponto – que é ainda mais impressionante quando alguém considera as implicações
sacerdotais do empreendimento. Julius Melton simplesmente diz desse período: “O
século dezenove estava testemunhando mudanças mesmo na piedade e no culto da
Velha Escola Presbiteriana. Mas poucas pessoas parecem estar perturbadas com isso”.30
As atas da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana (Velha Escola) de 1867 registraram
pelo menos um comentário sobre esse assunto:
A introdução de coros ou instrumentos musicais só pode ser
justificada se eles servem a este fim (inspirar e expressar devoção) e
ajudar e acompanhar a música sacra; e não para nenhuma exibição de
habilidade artística, nenhuma delicadeza de treinamento vocal,
nenhuma medida de habilidade musical, compensa a violação, ou
mesmo a negligência, dos decoros do culto divino. Sendo assim, a
Assembléia não pode observar, sem séria preocupação, o grande e
crescente mau, que a música do santuário, em vez de auxiliar a
adoração a Deus, frequentemente é pervertida para fins carnais, sendo
secular em caráter e associações, inadequada ao uso congregacional...
A Bíblia não reconhece o serviço musical como sendo executado por
poucos no lugar de muitos; mas ela nos ensina que Deus se deleita nos
louvores entoados por todo o povo. 31
As décadas que seguiram as grandes mudanças trazidas pela febre reavivalista
do Segundo Grande Despertamento não eram auspiciosas para seguir tal raciocínio
contido. Como Melton descreve a terceira parte do século dezenove: “A história tinha
desafiado as igrejas presbiterianas americanas por criar, repentinamente, „públicos‟ nos
seus serviços de domingo, que incluíam grande número de pessoas sem igreja. para
responder a esse desafio, os serviços começaram a mudar de períodos de adorar a Deus
e edificar os crentes em oportunidades para convencer e persuadir o não-salvo”.32 Essas
mudanças incluíram (entre outras coisas) a difundida inclusão de corais no culto. Estes
corais, admitidos nos dias do reavivalismo por motivos estéticos e sem o exame dos
motivos teológicos arraigados no movimento Anglo-Católico, permanece como a vasta
maioria da Igreja Protestante de hoje. Poucos afirmariam que o culto da Igreja
significativamente próspero nestes anos.

Objeções respondidas com algumas Observações Práticas


O argumento contra corais não está sem objeções. Nesta seção responderemos
algumas das objeções comuns, e faremos algumas observações práticas mencionando o
assunto em geral.
Objeção: John Frame afirma que corais são justificados por exemplos bíblicos
de salmos organizados como antífonas: “As Escrituras não exigem que todo o cântico
seja entoado por toda a congregação. Na realidade, alguns salmos parecem ter sido
escritos em forma de antífona, isto é, dois grupos que alternam, apresentando uma
afirmação e uma resposta. Veja, por exemplo, o Salmo 136 e a alternância de maldições
e bênçãos em Deuteronômio 27.12,13 e em Josué 9.30-35. Coros e solistas representam
apenas uma divisão de trabalho no culto. É bom cantar, é bom também meditar
enquanto outros cantam”.33
Resposta: Esta objeção descansa em algumas suposições duvidosas. Em
primeiro lugar, ela assume que o cântico congregacional deixa de ser tal a menos que
cada membro da congregação cante cada palavra. Em segundo lugar, esta objeção
assume que qualquer razão (incluindo estética) é o direto equivalente de um grupo de
pessoas que não estão participando de nada. Ambas as suposições são patentemente
ridículas. É como sugerir que o motorista de um carro se torna um passageiro sempre
que ele tira o pé do acelerador. Quando alguém ouve um trabalho coral com uma porção
antífona, ele não conclui que a porção do grupo que cantou com intermitência
alternando a sua participação deixou de ser uma parte do grupo e passou a ser uma parte
do público. Ademais, a afirmação de Frame que corais e solistas são apenas meios para
dividir o trabalho do culto implica o quê? Que enquanto o coral canta, o ouvinte
descansa do culto? A sua afirmação final, de que é “bom também meditar enquanto
outros cantam” é meramente uma pressuposição, sem qualquer evidência de que Deus
chamaria tal meditação de culto. Se tais coisas, como descansar enquanto outros
cultuam, e meditar enquanto outros cantam, são necessárias no culto, então, quando os
membros do coral estiverem trabalhando eles irão desfrutar? Além disso, onde está a
autorização bíblica para tal filosofia musical no culto?
Objeção: Joe Morecraft, em seu recente livro sobre culto, agrupa os argumentos
do professor Benjamin Shaw que questiona as pressuposições da rejeição de corais. 34
Shaw argumenta que a rejeição dos corais descansa sobre a suposição de que no Antigo
Testamento “corais e instrumentos são inerentemente cerimoniais e não podem ser
qualquer outra coisa. A razão pela qual a lei cerimonial foi abolida é que ela foi
cumprida em Cristo. Mas onde é dito que os corais apontam para Cristo?”35
Resposta: Nós remetemos o leitor de volta à seção 1 para ver que os corais do
Antigo Testamento realmente eram inerentemente cerimoniais – não como objetos, mas
em função. Os cantores e os músicos foram designados da classe sacerdotal para
funções sacerdotais. Todas estas funções foram cumpridas em Cristo, o verdadeiro
Sumo Sacerdote. Além disso, o Salmo 22.22 que é citado em Hebreus 2.12, pinta Cristo
conduzindo o louvor do povo de Deus “no meio da congregação”. Como uma
descrição, vemos o ofício de cantor levítico (sem dúvidas o mestre do coro) cumpriu-se
em Cristo.
Objeção: Frequentemente, corais no culto são justificados por fundamentos
estéticos. “Muitas pessoas”, afirma White, “declaram que o real propósito da música
coral é acrescentar beleza ao culto”.36
Resposta: A resposta simples para tal atração é exigir a autorização bíblica como
o padrão para determinar do que se deve fazer ou não no culto. “O relacionamento da
beleza e a adoração comum é altamente ambíguo. A Bíblia não aprova a beleza como
uma abstração... Certamente, a beleza não é o objetivo da adoração cristã”. 37 A segunda
resposta é questionar o padrão para beleza: não é algo poderosamente belo o canto
uníssono de todo o povo de Deus, homens e mulheres, jovens e velhos? Terceiro, a
pessoa precisa fazer esta pergunta: bonito para quem? Deus tem chama o seu povo para
cantar os Seus louvores para Ele (Salmos 9; 27; 47), para fazer um alegre barulho para
Ele (Salmos 66; 81; 95, etc.), para entrar por seus átrios com ações de graças (Salmo
100) – se Ele é agradado por meio de tais coisas, quem somos nós para rejeitá-las.
Objeção: Alguns que desejam ter corais afirmam que é uma importante
oportunidade para as pessoas exercitarem seus dons no serviço do Senhor. Ou
semelhantemente, alguns afirmam que os fundamentos dos corais estão na ajuda que
eles proporcionam à congregação em seu canto.
Resposta: Estes são motivos excelentes, e como tais deveriam ser encorajados.
Entretanto, a pergunta que a pessoa abençoada com dons musicais precisa fazer não é se
pode ou se deve servir o Senhor com seus dons na adoração corporativa – mas sim, qual
o melhor modo para fazer isso? Um caso pode ser feito, em que um coral canta em
uníssono com o restante da congregação, servindo para guiar as vozes dos menos
talentosos. Dessa maneira, um coral estaria restringido de cantar à parte da congregação,
então, ele não estaria em conflito direto com o princípio bíblico do cântico
congregacional discutido neste trabalho. De forma adicional, devemos observar que, se
a ajuda ao cântico congregacional é o objetivo de um coral, parece manifestadamente
claro que eles se reuniriam na parte de trás da assembléia, e não na frente como é a
prática comum. Melhor ainda, por que se ajuntar? Não seria melhor se um coral de
cantores talentosos se encontrasse regularmente, a fim de melhorar seus dons naturais,
e, então, servisse à assembléia sendo disperso no meio dela? G. Vandooren imagina
esse cenário em sua obra The Beauty of Reformed Liturgy: “O único uso para um coral
que eu posso ver é no apoio ao cântico congregacional. Lembro da minha juventude que
os corais se preparavam bem cantando os Salmos, e você poderia notar isso na igreja!
Agora, com várias novas melodias, um coral poderia executar alguma diakonia ou
serviço aqui. Nem mesmo seria necessário sentar como um coral na igreja. Espalhado
ao longo da congregação, o apoio do coral seria notável”. 38
Ainda sobre esse ponto, precisamos examinar a mesma premissa de que os
corais, necessariamente, cantarão melhor cantando congregacionalmente. Melton,
comentando a música da igreja que surgiu no século dezenove, diz, “os avançados
gostos de organistas e corais, frequentemente, transformaram os leigos comuns de
participantes em observadores confusos durante porções musicais do serviço de
culto”.39 Argumentos a favor (ou contra) a noção de que corais distintos da congregação
aumentará o cântico da congregação é inerentemente problemático. Tais argumentos são
necessariamente, anedotais, subjetivos e sujeitos a um monte de variáveis. Ainda,
sugerir que um público passivo (de quem os melhores cantores foram segregados)
melhorará a medida do seu canto observando os outros cantarem parece, na melhor das
hipóteses, improvável.

Conclusão
Nós vimos que o argumento para corais no culto público não é nenhum
argumento, mas uma mera suposição. Ela não pode descansar no precedente dos corais
levíticos sem participar de uma teologia sacerdotal que está em total conflito com o
sacerdócio de todos os crentes ensinado no Novo Testamento. A história da Igreja
mostrou que o avanço dos corais se deu nas épocas em que a teologia sacerdotal estava
elevada (no período medieval e em conexão com o movimento Anglo-Católico do
século dezenove). Além disso, nas estações mais vigorosas e frutíferas da história da
Igreja (i.e., os séculos primitivos e a Reforma) foram distintamente marcadas pelo
cântico congregacional no culto do povo de Deus. Por último, nós vimos que muitas das
objeções contra os princípios bíblicos aqui defendidos já são conhecidas; caem diante
do fracasso de suas próprias suposições; ou podem ser respondidas na maneira em que
comporta com nossa tese.
Quando todas estas coisas são consideradas, não resta lugar para corais no culto
independente do povo de Deus unido em Cristo. É bastante, que permaneça para esse
povo unir suas vozes em louvor como nós respondemos ao chamado dEle: “Saiu uma
voz do trono, exclamando: Dai louvores ao nosso Deus, todos os seus servos, os que o
temeis, os pequenos e os grandes” (Apocalipse 19.5).

Fonte: Joseph A. Pipa (Org.), The Worship of God: Reformed Concepts of


Biblical Worship. Christian Focus Publications, pp. 219-235.

1
O autor é pastor da Redeemer Orthodox Presbyterian Church em Charlotte, Carolina do
Norte.
2
E-mail para contato: alanrenne@hotmail.com. Traduzido em abril de2010.
3
John Calvin, The Necessity of Reforming the Church, (1544; reprint, Dallas: Protestant
Heritage Press, 1995), 15.
4
Catecismo Maior, perguntas 107-110 e Breve Catecismo, perguntas 49-52.
5
Particularmente, tem-se em mente os corais que cantam no culto enquanto a congregação
está em silêncio. Alguma consideração será dada na seção 3 aos corais distintos da
congregação, mas que cantam em uníssono com ela. Especificamente, neste trabalho não se
abordará concertos corais ou outras performances musicais fora dos serviços de culto da
Igreja.
6
James F. White, “The Church Choir: Friend or Foe?” The Christian Century, 23 March, 1960,
355.
7
John Frame, Worship in Spirit and Truth, (Phillipsburg, NJ: P&R, 1996), 127-9 [John Frame,
Adoração em Espírito e em Verdade, (São Paulo: Cultura Cristã, 2006)]; Joe Morecraft III, How
God Wants Us to Worship Him, (San Antonio: Vision Forum, 2001), 193-5; e com menor
precisão Robert Webber, Worship Old and New, (Grand Rapids: Zondervan Publishing House,
1982), 178, que afirma que, “as raízes do som na igreja antiga são encontradas na herança do
Antigo Testamento”.
8
O New Brown, Driver and Briggs Hebrew-English Lexicon diz da ambígua frase
lamenatseach: “nos títulos dos Salmos existe um provável e simples significado, de diretor
musical ou mestre do coro” (664). NASB: diretor do coral; KGV: Músico-chefe; NIV diretor de
música.
9
Daqui em diante, as referências aos corais levíticos ou músicos devem ser entendidas como
se referindo a ambos.
10
É importante distinguir os cantores levíticos mencionados em Esdras 2.41,70; 7.7; Neemias
7.1,44,73, etc., dos “cantores e cantoras” em Esdras 2.65 e Neemias 7.67. Comentando Esdras
2, Derek Kidner observa: “Os cantores eram distintos dos corais do templo do verso 41 e eram
simplesmente uma adição agradável para um rico estabelecimento”: cf. 2 Samuel 19.35” “Ezra
and Nehemiah”, Tyndale Old Testament Commentaries, Vol. 11 (Downers Grove, Ill.: Inter-
Varsity Press, 1979), 44. Semelhantemente, C. F. Keil afirma: “Os israelitas empregaram
homens e mulheres cantores... estes, porque cantaram e tocaram por contrato, são nomeados
juntamente com os servos e as servas, e distintos dos cantores e músicos levíticos”. Ezra,
Nehemiah, and Esther, trans. Sophia Taylor (reprint; Grand Rapids: William B. Eerdmans
Publishing Co., n.d.), 47. Tais observações da menção separada de ambos os grupos na
mesma passagem deveriam ser óbvias, mas nós as sublinhamos aqui pois elas serão
importantes para a nossa discussão posterior sobre os coros levíticos.
11
O esplendor do evento é destacado no original por uma mudança de vocabulário. A
expressão traduzida “as companhias deles renderam graças” (KJV) ou “corais” (NASB) (vv.
31,38,40) é o substantivo hattodoth (significando ações de graças ou confissões) em lugar da
palavra habitual para cantores ou corais hammeshorrim (piel plural particípio de shir). “Era
como se esses corais fossem a incorporação do que eles cantavam” Kidner, 126.
12
Hughes Oliphant Old, Worship That is Reformed According to Scripture (Atlanta: John Knox
Press, 1984), 41.
13
É importante sublinhar que estes não eram corais mistos como às vezes é afirmado. Por
exemplo, sobre a discussão de “Hemã”, um dos líderes dos coros levíticos, o NIV Dictionary
cita 1 Crônicas 25 e declara: “Suas... três filhas estavam no coral”. Semelhantemente, The New
Nave’s Topical Bible sobre o assunto “mulheres” afirma que elas serviam nestes corais, citando
a mesma passagem e as de Esdras e Neemias, que mencionam as cantoras femininas em
distinção dos corais levíticos (veja a nota nº 8). Ambas as fontes interpretam mal a passagem,
o que acontece se os versos 5 e 6 são tirados do seu contexto. 1 Crônicas 25.5-6 diz em parte:
“dando-lhe catorze filhos e três filhas. Todos estes estavam sob a direção respectivamente de
seus pais, para o canto da Casa do SENHOR...”. O contexto maior mostra claramente que
apenas os seus filhos estavam no coral. O “todos estes” do verso 6 é a “subscrição à
enumeração dos versos 2-5”. C. F. Keil, Chronicles, trans. Andrew Harper (reprint; Grand
Rapids: William B. Eerdmans Publishing Co., n.d.), 272. Que as filhas são nomeadas como
uma indicação da bênção de Deus sobre Hemã e não como participantes do coral fica claro no
versículo 1, que afirma: “Davi... separou para o ministério os filhos de Asafe, de Hemã e de
Jedutum”, e também do final do capítulo que lista o serviço de todos os vinte e quatro filhos
nomeados nos versos 2-4 – mas não diz nada a respeito das filhas.
14
Além dessas duas passagens, Old sugere que Atos 4.23-31 pode se tratar do canto
congregacional de um salmo (v. 24: “Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus...). O
ponto é discutível; se está correto, apenas sublinha a tese do presente trabalho. Veja a
discussão de Old, 43-44.
15
Mary Hopper, “Music and Musical Instruments” in Baker Encyclopedia of the Bible, (1997).
Uma nota adicional em 1 Coríntios 14.26: “… Quando vos reunis, um tem salmo, outro,
doutrina...”. Este verso não dá nenhuma indicação se o salmo era cantado ou falado, se era de
origem carismática ou não, ou que uso adicional do salmo seria feito em reuniões posteriores.
O certo, é que nenhum argumento para solos pode descansar em uma fundação tão vaga (e
em uma preocupação tangencial de Paulo nesta passagem). Menor crédito é dado à noção de
que o salmo trazido “quando vos reunis” seria dado, então, apenas a uma porção da
congregação para cantar. Hughes Old, Worship That is Reformed According to Scripture, 43,
especula que este verso “provavelmente significa que toda a congregação estava cantando um
salmo, mas pode indicar que os primeiros cristãos tinham cantores como na sinagoga. O cantor
cantaria o texto enquanto a congregação respondia cantando „Aleluia‟ depois de cada verso.
Seguramente, não quer dizer que cada um se levantava e cantava um solo”. Mesmo se a
especulação de Old acerca de um cantor estiver correta, ainda assim, isso requereria a
participação de toda a congregação.
16
Efésios 5.19: “falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor
com hinos e cânticos espirituais”; Colossenses 3.16: “Habite, ricamente, em vós a palavra de
Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com
salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”; Tiago 5.13: “Está
alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores”.
17
Daniel B. Wallace, Greek Grammar Beyond the Basics (Grand Rapids: Zondervan Publishing
House, 1996), 350.
18
Apocalipse 5.9-10: “e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-
lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem
de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e
reinarão sobre a terra”; Apocalipse 14.3: “Entoavam novo cântico diante do trono...”; Apocalipse
15.3: “e entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro”.
19
Romanos 12.5: “somos um só corpo em Cristo”; Efésios 4.16: “de quem todo o corpo, bem
ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta”; Colossenses 2.19: “e não retendo a cabeça,
da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o
crescimento que procede de Deus”.
20
Henry Bettenson, ed., Documents of the Christian Church (London: Oxford University Press,
1943), 4-5.
21
A carta de Plínio não é uma testemunha singular da Igreja Primitiva. Eusébio faz numerosas
referências a tal na sua História Eclesiástica (e.g. V, xxviii, 5; VII, xxx, 10; X, iii, 3) como faz
Sócrates Scholasticus (VII, viii) e Sozomen (em referência à hinódia de Santo Efraim, III, xvi)
em suas obras de mesmo título. Terry Johnson (provavelmente confiando no Velho) afirma
que, “abundam numerosas referências [para o canto congregacional dos Salmos] nos sermões
de Agostinho, Basílio, o Grande, e Crisóstomo”. Terry L. Johnson, ed., Leading in Worship (Oak
Ridge, TN: Covenant Foundation, 1996), 11, n. 16.
22
Webber, Worship Old and New, 179.
23
Old, Worship That is Reformed According to Scripture, 47.
24
Ibid.
25
James Hastings Nichols, Corporate Worship in the Reformed Tradition (Philadelphia:
Westminster Press, 1968), 15. A citação é da Operi Calvini, ed. por G. Baum, E. Cunitz, E.
Ruess (Brunsvigae, 1884), XXVII, 407. Realmente, tão clara era a intenção de Calvino de
reformar as práticas da sua época de acordo com o padrão da igreja antiga que ele intitulou o
seu livro de culto como A Forma das Orações de Acordo com o Costume da Igreja Primitiva.
26
Nota do Tradutor: O movimento Anglo-Católico foi um protesto contra o domínio da Igreja
pelo Estado. Foi iniciado por Edward Pusey, John Keble e John Henry Newman, que viam o
relacionamento da igreja com o estado como uma verdadeira ameaça. Eles insistiam em que a
autenticidade da igreja achava-se na natureza essencial do episcopado. A ordenação pelos
bispos era, portanto, considerada a essência da igreja, sem a qual uma igreja não é aceita
como tal. De acordo com C. F. Allison, nos tempos modernos foram discernidas quatro linhas
do anglo-catolicismo, de maneira que a enfatizada neste trabalho é a da Sociedade Camden de
Cambridge e seus sucessores, que de acordo com ele, “enfatizam bastante, e com um pouco
de romantismo, a história da Inglaterra e os ritos e vestimentas ingleses da pré-Reforma”. Isso
explica o apego aos corais católicos. Cf. Walter A. Elwell (Ed.), Enciclopédia Histórico-
Teológica da Igreja Cristã, Vol. 1, (São Paulo: Vida Nova, 2009), 70. Comentando as ênfases
do movimento Anglo-Católico, Cairns afirma: “O movimento romântico, com seu destaque das
glórias do passado gótico e seu amor pela beleza ritual para estimular as emoções estéticas no
culto, fomentou as ideias ritualistas do movimento”. Cf. Earle E. Cairns, O Cristianismo Através
dos Séculos, (São Paulo: Vida Nova, 2003), 382. Com tais ênfases, os defensores da prática
de corais no culto encontraram um terreno muito fértil.
27
White, “The Church Choir: Friend or Foe?”, 355.
28
Nichols, Corporate Worship, 161. A citação é de G. W. O. Addleshaw e F. Etchells, The
Architectural Setting of Anglican Worship (London: Faber & Faber, Ltd., 1948), 219.
29
Ibid., 161-62.
30
Julius Melton, Presbyterian Worship in America (Richmond, VA: John Knox Press, 1967), 42.
31
Citação de William E. Moore, Presbyterian Digest, (1873), 781, citado em Joseph A. Pipa, Jr.,
“Unpublished lecture notes of Covenantal Worship”.
32
Melton, Presbyterian Worship, 57.
33
Frame, Worship in Spirit and Truth, 129. Nota do Tradutor: A citação foi retirada da edição
em português: John Frame, Em Espírito e em Verdade, (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 174-
75.
34
Interessantemente, enquanto Morecraft adere aos argumentos de Shaw, Shaw não mais. Em
uma recente conversa particular, ele disse a este autor que mudou significantemente a sua
posição e já não acredita que há autorização bíblica para os corais no culto.
35
Benjamin Shaw, Studies in Church Music (Taylors, SC: GPTS Press, 1993) citado em
Morecraft, How God Wants Us to Worship Him, 194.
36
White, “The Church Choir: Friend or Foe?”, 355.
37
Ibid.
38
G. Vandooren, The Beauty of Reformed Liturgy, (Winnipeg: Premier Publishing, 1980), 51-52.
White, “The Church Choir: Friend or Foe?”, The Christian Century, 23 (Março, 1960), 356, faz
um comentário parecido: “Não existe nenhuma razão porque o coro não pode ser usado para
encorajar o cântico congregacional... Algumas experiências notáveis foram feitas, nas quais
membros de corais treinados se espalharam ao longo da congregação com a intenção de
encorajar o cântico por parte de todos os adoradores”.
39
Melton, Presbyterian Worship, 101.

Você também pode gostar