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FICHAMENTO E ANÁLISE DE IMAGEM

Manuella Bonotto

200023578

Universidade de Brasília (UnB)

Teoria Critica e História da Arte

Teoria Critica e História da Arte 2

bonottomanu@gmail.com

FICHAMENTO

MUSEU CONTEMPORÂNEO E OS GABINETES DE CURIOSIDADES

Introdução

• O objetivo do presente texto é desmistificar a noção de Museu como lugar de


“velharias” ou lugar onde podem ser encontrados objetos únicos e maravilhoso, e
abordar uma herança cultural deixada pelos Gabinetes de curiosidades do século XVI e
XVII, e a necessidade de se compreender os referenciais desse grande público, com
vistas a orientar o trabalho museológico no sentido de atraí-lo para a instituição Museu.
Os Gabinetes de curiosidades

• Na Europa do século XVI e XVII, coleções de objetos raros ou curiosos eram


classificados como Gabinetes de Curiosidades ou Câmaras de Maravilhas. Alguns
exemplares são: Gabinete dos Médicis em Florença, as coleções do Imperador
Rodolpho em Praga e a coleção do Arquiduque Ferdinando em Viena.

• No geral os Gabinetes possuíam uma coleção de objetos diversificados. Para grandes


coleções existiam salas específicas para cada tipo de objeto: Gabinete das medalhas,
Gabinete das curiosidades naturais entre outros. Para coleções menores os objetos eram
separados em categorias: “raridades do homem”, “pássaros” e “antiguidades” por
exemplo.

• Há três grandes categorias que consta em catálogos e inventários dos Gabinetes: Obras
de Deus (homens, animais, plantas), produtos da natureza (pedras) e objetos de
fabricação humana (artefatos).

• Esse sistema classificatório reflete como o homem, inserido na cultura erudita do


século XVII, percebe o mundo a sua volta e o categoriza.

• Gabinete “Microcosmo”: “Um Gabinete é então o universo inteiro que se pode ver de
um só golpe, é o universo reduzido por assim dizer a dimensão dos olhos.”( Pormian,
1982:342)

• Gabinete de Borel: carrega muitos elementos fantásticos e curiosos como: monstros


marinhos, fragmentos de múmia, chifres de unicórnio etc.

• Objetos de cultura material provenientes do Novo Mundo como tecidos, exemplares


da fauna e flora e pedras, são recolhidos não por seu valor de uso, mas pelo o que
representam: países exóticos, sociedades diferentes e outros climas.

• Objetos etnográficos são representantes do universo que se deseja conhecer, possuir,


apresentar o que não se pode ver, o que está distante.

• Buscava-se exemplares etnográficos que contivessem todos os traços representativos


de determinada cultura, ao invés de abranger uma série de elementos representativos.

• Ana Cristina Guilhotti observa a disparidade de objetos que compunham o gabinete de


Antônio Gigante. Alguns dos objetos encontrados são: um mapa pré-colombiano, dois
cocares de penas da Flórida, nove ídolos de pedra do Novo Mundo entre outros.
• “As gravuras de época que retratam os gabinetes ilustram a mesma diversidade nas
coleções.”

•” Mesmo não sendo o ponto forte dos Gabinetes de curiosidades, os objetos de cultura
material, provenientes do mundo recém-descoberto, aparecem em muitos deles, como
objetos curiosos de um mundo ainda desconhecido, remoto.”

• A cultura da curiosidade, presente na Europa devido ao seu contato com povos


desconhecidos, se tornou uma das características da cultura erudita dos séculos XVI e
XVII.

• A cultura da curiosidade é banida no final do século XVII.O saber científico necessita


do método e a curiosidade pode ser um” vício capaz de perverter o conhecimento, na
medida em que ela não traça limites não tem regras nem um método.” Os gabinetes de
curiosidades se transformam em gabinetes de histórias natural subordinados ao saber
científico.

A curiosidade no Museu Contemporâneo

• Na visão de Bettelheim o Museu deve instigar a curiosidade, não transmitir um


conhecimento acabado, fechado e sim algo que possa ter a participação do público.

• O principal papel do Museu seria: “... independente do conteúdo que possa ter:
estimular- e o que é mais importante, cativar – a sua imaginação, despertar a sua
curiosidade para que deseje aprofundar o significado daquilo a que se expõe no
Museu...” ( Bettelheim, 1991:144)

• Pensando no Museu como um “espaço onde se dá a relação com peças raras,


maravilhosas que transcendem nossa realidade, poderemos conquistar este público, para
que ele usufruindo da instituição Museu, inicie a construção do seu conhecimento.”
ANALISE DE IMAGEM

Os gabinetes de curiosidades foram retratados em obras de muitos artistas entre os


séculos XVI e XVIII. Podemos citar o artista alemão Georg Hainz e sua obra "Gabinete
de curiosidades". Nessa obra vários objetos estão dispostos sobre uma estante. Ao
centro da pintura temos uma taça em marfim decorada com figuras humanas. Dois
medalhões, um de cada lado da taça estão dispostos, também no compartimento ao
centro da obra, um dos medalhões representa um rosto de perfil enquanto o outro seria
um casal, também de perfil. Vários objetos decorativos se encontram por toda obra
como conchas, pedras, estatuetas assim como adornos, caixa de joiás entre outros. No
compartimento a direita encontra-se a cabeça de uma caveira, o que estabelece uma
relação com as representações de natureza morta e pode representar um contraponto
com as figuras das crianças ao centro. O contraste de luz e sombra nos objetos, assim
como na estante, confere profundidade a ela, tornando-a mais realista. Esse artista se
dedicou a pintura de naturezas mortas. Hainz costumava utilizar objetos reais para as
suas pinturas, que posteriormente eram retratadas com liberdade artística. Essa pintura é
um tipo de natureza morta denominada vanitas.

Outro artista que retratou gabinetes de curiosidades foi o artista Domenico Remps. Em
sua obra " Gabinetes de Curiosidades" de 1689, vários objetos curiosos estão dispostos
em um armário com porta de vidro, um tinteiro com penas entre o vão da primeira e
segunda porta do armário, contribuem para a totalidade de tridimensionalidade na obra.
As telas são muito presentes nessa obra, se destacando as de paisagens e muitos quadros
com navios, o que pode ser referência as grandes navegações. Assim como na obra de
Hainz temos uma caveira disposta na prateleira superior, a sombra que cobre a caveira a
torna sombria e quase imperceptível.

Tanto na obra de Hainz como na de Remps temos o fenômeno "Trompe-


l'oeil"(enganador) um termo de origem francesa para denominar um fenômeno antigo:
quando a "percepção" tridimensional provocada por uma superfície plana, gera um
momento intrigante de insegurança e reflexão.
ANEXO
Figura 1

HAINZ, Georg, "Gabinete de curiosidades" l, 1666. Óleo sobre tela. 115 x 93 cm


Figura 2

REMPS, Domenico, "Gabinete de Curiosidades". 1689. Óleo sobre tela. 99 x 137 cm

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