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O PARECER PERICIAL MULTIDISCIPLINAR E ERGONÔMICO ENVOLVENDO

SOBRECARGA FÍSICA E MENTAL EM DEMANDA DE INCAPACIDADE


LABORAL NO TRABALHO BANCÁRIO

AUTORES: Marco Antônio de Souza Gama, fisioterapeuta, pós graduado em Ergonomia


pela COPPE/UFRJ, Perito Forense TJ/RJ (drmarcogamafisioperito@gmail.com); Elaine da
Silva Viola, psicóloga, mestra e doutora em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ,
Perita Forense TJ/RJ (esviola3@hotmail.com).

RESUMO: O diagnóstico em perícias ergonômicas requer uma visão do trabalho que dê voz
à queixa dos trabalhadores. Quando as queixas de dor são acompanhadas de relatos e dados
referentes à sobrecarga cognitiva, provavelmente já há sinais e consequências de estresse
mental capazes de implicar em dano à saúde, mas dar visibilidade e caracterizar o nexo com o
trabalho nem sempre é simples. O ergonomista não psicólogo carece de instrumentos que
possam auxiliá-lo em uma análise preliminar para fundamentar encaminhamento psicológico.
O presente artigo retrata experiência de um fisioterapeuta ergonomista que caracterizou a
necessidade de encaminhamento de demanda judicial de trabalhadora bancária a uma análise
psicológica, possibilitando a ela expressar inteiramente sua queixa. O fisioterapeuta utilizou-
se de um Inventário com o qual mapeou algumas das questões da organização do trabalho e
da percepção desta bancária sobre as exigências que lhe são impostas, captando indicadores
que justificaram iniciar investigação psicológica de estresse.

INTRODUÇÃO
Nas sociedades atuais, a apropriação das tecnologias de informação e de comunicação pelas
organizações vem exigindo que os trabalhadores operem com a mediação de elementos cada
vez mais complexos, o que põe em destaque os aspectos cognitivos das atividades e aviva o
interesse por pesquisas e intervenções neste campo. A análise ergonômica da atividade
explora as interações das pessoas com as tecnologias, com as normas, com a organização do
trabalho, e por oferecer uma leitura aprofundada da realidade do trabalho dentro de um ponto
de vista antropocêntrico, vem sendo um dado útil para o estudo dos possíveis nexos entre a
saúde do trabalhador, as situações de trabalho, doenças ocupacionais e acidentes laborais.
As doenças e acidentes de trabalho ocorrem por determinadas condições de trabalho ou por
agentes desencadeadores dentro do processo produtivo, podendo surgir a partir da execução
de determinada tarefa, da atividade, do uso de equipamentos, de material, ou mesmo por
características da organização do trabalho. Tais fatores, quando não estão ajustados às
capacidades das pessoas, resultam em sobrecarga mental; esta, por sua vez, é uma das
principais causas de estresse no trabalho (LIPP, 2001).
No Brasil temos regulamentações capazes de intervir em favor da saúde do trabalhador, como
a Norma Regulamentadora 17 de Ergonomia, que postula a necessidade de ajustar as
condições de trabalho às pessoas que o realizam. Além disso, relações de causa e efeito entre
saúde e sistema produtivo são previstas e têm seus princípios e regras de prevenção
discriminados em diversos documentos, como por exemplo, a lei nº 8.213 de 24 de julho de
1991, que define acidente de trabalho como “lesão corporal ou perturbação funcional que
cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho, estabelecendo, também, a perícia previdenciária como pré-requisito para
concessão de benefícios aos trabalhadores incapacitados ao labor”.
Levando-se em conta tais parâmetros normativos, legais, teóricos e da experiência com a
ergonomia, é usual que as queixas de incapacidade laboral contenham uma grande variedade
de dados, que não podem nem devem ser ignorados na elaboração do parecer. O caso que é
objeto deste artigo constitui um desses exemplos. Trata-se da situação de uma bancária que
vem a solicitar ao fisioterapeuta a assistência técnica, englobando perda funcional, dor física e
estresse mental. Uma eventual relação de nexo entre os graus de incapacidade físico-
funcionais e os documentos e relatos das condições ergonômicas de suas últimas funções na
empresa são os primeiros passos na análise que faz o fisioterapeuta, que inicia com o exame
cinesiológico e complementa-se com uma entrevista sobre o histórico da dor. É neste
momento que acresce-se ao relato o dado do estresse mental por sobrecarga cognitiva.
De uma forma geral, o estresse ocupacional define-se quando há um aumento de exigências
sensoriais e mentais, às vezes psíquicas, e quando se amplia o constrangimento devido à
flutuação das exigências da tarefa. Estes sintomas de sobressolicitação mental aparecem sob
diferentes nomes: sobrecarga informacional, “soterramento” sob a informação,
hipersolicitação, tratamento paralelo de tarefas múltiplas (FALZON, 2007).
É então que os ergonomistas não psicólogos se vêem diante de dados e de queixas que
apontam para o tema do estresse mental relacionado ao trabalho. Especialmente no contexto
onde o diagnóstico deve retratar uma incapacidade funcional, há que se prover este
profissional de uma formulação mínima para detectar a hipótese de fatores intervenientes
ligados ao estresse mental.
Visando avaliar aspectos cognitivos, relacionais e sociais que interfiram na saúde e qualidade
de vida dos trabalhadores, foi desenvolvido em tese de doutoramento (VIOLA, 2008) um
método de apreciação ergonômica de potenciais elementos estressores, que consiste em um
Inventário, um Questionário de Sinais e Sintomas, e uma Entrevista semi estruturada.
O Inventário que faz parte do método citado foi aplicado à bancária em questão para obter um
mapeamento preliminar das questões ergonômicas referentes ao esforço que lhe era
demandado pela organização do trabalho em termos de carga mental, cognitiva, emocional e
relacional, e daí poder estabelecer hipóteses sobre a importância de aprofundar pelo parecer
psicológico a pesquisa sobre tais fatores no surgimento ou intensificação da dor e
incapacidade.

REFERENCIAIS TEÓRICOS
O ponto central da análise, coincidindo com a teoria ergonômica, está na captação do dado da
realidade do trabalho, desde a percepção do trabalhador. Afinal, o estresse mental se
intensifica nas demandas que são percebidas pelo trabalhador, e conforme elas são percebidas
(o trabalho real, buscando dar conta de um trabalho que foi prescrito). Uma rigidez excessiva
da organização do processo de trabalho pode constituir um agente estressor, na medida em
que impede a própria realização do trabalho pelo funcionário, que se vê forçado a ter que
conviver com as incoerências das normas. A tensão no indivíduo surge, em última instância,
das lacunas que ele percebe existir entre o sistema normativo da organização e as condições
objetivas de trabalho, pois estas geram problemas aos quais ele deve constantemente dar
respostas, sob pena de sofrer consequências, principalmente se algo sair de seu controle. As
incoerências das tarefas, as opressões impostas pela organização do trabalho podem não se
concretizar em problemas mentais, mas a busca por manter a normalidade nesse sistema
implica sofrimento, que, por sua vez, pode significar problemas somáticos. “Quando se
coloca face a face o funcionamento psíquico e a organização do trabalho, descobre-se que
certas organizações são perigosas para o equilíbrio psíquico e que outras não o são.”
(DEJOURS, DESSORS & DESRIAUX, 1993).
E quais seriam os fatores da Organização do Trabalho, não previstos na tarefa, que demandam
constantemente ao trabalhador respostas que excedem suas possibilidades, resultando em
tensão? COOPER, COOPER & EAKER (1988) nos respondem a partir de um modelo
dinâmico que mescla características do trabalho e individuais para explicar o processo de
estresse, integrando uma visão da organização que pode ser descrita como funcionalista.
As fontes de pressão no trabalho estão divididas, segundo este modelo teórico, em cinco
grupos básicos, que se subdividem em diversos pontos de análise. De acordo com os autores,
os grupos de variáveis intervenientes a considerar são os fatores intrínsecos ao trabalho, o
papel na organização, o relacionamento interpessoal, a carreira/realização, e o
clima/estrutura organizacional.
As fontes de pressão, do ponto de vista da interação entre indivíduo e trabalho, são
consideradas na perspectiva da Ergonomia Cognitiva (Canas e Waerns, 2001), disciplina
científica que estuda os aspectos cognitivos e comportamentais da relação entre o homem e os
elementos físicos e sociais do ambiente, quando esta relação está mediada pelo uso de
artefatos, compreendendo, ao menos, três níveis de cognição:
- a cognição mental, que diz respeito ao conhecimento que uma pessoa possui.
- a cognição comunicativa, referida ao modo e possibilidades de comunicação de
conhecimentos entre as pessoas que realizam tarefas compartilhadas.
- a cognição distribuída, definida como a transferência de conhecimento entre uma pessoa e
um artefato.
Dentro dessa perspectiva e através de uma leitura ergonômica, o Inventário define e explora
as seguintes classes ou dimensões de interações cognitivas, nas atividades de trabalho:
- a carga mental, plano da cognição que diz respeito à convocação de conhecimentos,
procedurais, declarativos, tácitos, que o trabalhador maneja em conjunto com as
variabilidades que identifica no curso da ação;
- a tomada de decisão, dimensão onde se dá a conexão dos conhecimentos de forma a
estruturar hipóteses em uma perspectiva de causa e efeito, onde o trabalhador tem uma
posição de sujeito da ação.
- a cooperação, plano que focaliza as estratégias relacionais que o trabalhador põe em marcha
para realizar tarefas compartilhadas, e que exige recursos psicológicos e sociais, sejam
visando comunicação com pares, subordinados ou chefias.
O objetivo da ferramenta aqui denominada Inventário (Anexo 1) é colocar em evidência o
mecanismo de estresse em jogo na atividade de trabalho, pois, de um ponto de vista
ergonômico, ele constitui risco tanto à saúde como à segurança. Assim é possível retratar
alguns enlaces entre percepção de sobrecarga mental e situações de trabalho impostas ao
trabalhador, o que interessa ao parecer pericial para justificar o aprofundamento com uma
análise psicológica. O método de apreciação ergonômica de potenciais elementos estressores
incorpora e traduz o dado de estresse pelo olhar do modelo de processamento de estresse e
coping (Lazarus e Folkman, 1984), esquematizado na Figura 1, onde se observa o início do
processo de estresse no ponto onde o sujeito realiza uma avaliação de um evento
(relativamente aos seus objetivos) e infere que este lhe pode causar um prejuízo, ameaça ou
desafio. É neste caso que o sujeito recorre aos recursos de coping (enfrentamento), sejam de
natureza sócio-ecológica (externa) e/ou pessoal (interna) que lhe pareçam menos custosos e
que mais eficazmente atendam seus objetivos.
Destacamos na descrição do modelo a preponderância dos processos subjetivos sobre uma
realidade “absoluta” e exterior. O que estressa é a avaliação, a inferência, ou seja, o estresse
surge da interpretação dos eventos internos e externos, motivo pelo qual o Inventário focaliza
a percepção que o trabalhador tem da permanência dos fatores de carga mental, tomada de
decisão e cooperação no curso da atividade.
As questões abordadas dizem respeito a condições de trabalho que podem ser acessadas pela
observação do ergonomista, especialmente através do relato do trabalhador, uma vez que a
percepção do sujeito é o fator preponderante na formação do processo de estresse. É através
desse relato que se torna viável a identificação do nexo entre as pressões do ambiente ou
ritmo de trabalho e os estados psicológicos e emocionais dos trabalhadores. No caso estudado,
o Método de apreciação ergonômica de potenciais elementos estressores e o Inventário para
apreciação da queixa de estresse foram utilizados como guias para explorar os aspectos da
queixa. Quando aplicados em maior escala, torna-se possível não somente preservar o
anonimato dos respondentes como obter resultados consolidados por setor da empresa ou tipo
de atividade, trazendo à tona um panorama da qualidade de vida laboral. Assinalamos que o
instrumento contém espaços para expressão livre, o que gera material suficientemente
específico e amplo para inspirar temas para dinâmicas de grupo e treinamentos que abordem
as questões psicológicas de real relevância para o grupo, como já foi o caso do Programa de
Gestão das Preocupações, em empresa terceirizada, e de Oportunidades de Melhorias, em
indústria (VIOLA, 2008), com resultados bastante satisfatórios.
O Quadro 1 (abaixo) indica os temas aos quais se referem as dezoito perguntas que compõem
o Inventário (Anexo 1), e que foram idealizadas de forma a explicitar os indicadores de
estresse ocupacional segundo Dolan (2006), França (2005), Grandjean (1998) e Cooper
(2005), cuja leitura recomenda-se, para aprofundar o entendimento dos quesitos.
Quadro 1 – Temáticas das perguntas do Inventário(Viola,2008)
Pergunta 1: atenção e memória (exigências sensoriais).
Pergunta 2: simultaneidade das tarefas (sobreposição, imposições de tempo).
Pergunta 3: fatores psicossociais (bullying, assédio, aspectos relacionais, comunicações)
Pergunta 4: monotonia, repetição (vigilância)
Pergunta 5: pausas e gestão da tarefa
Pergunta 6: fadiga, exaustão, burn out
Pergunta 7: organização do trabalho e prescrição da atividade
Pergunta 8: apoio da supervisão e grau de autonomia para a tomada de decisões
Pergunta 9: capacitação e treinamento
Pergunta 10: instrutivos e regras (pede exemplos)
Pergunta 11: dados operacionais (pede exemplos)
Pergunta 12: cooperação, senso de equipe
Pergunta 13: estratégias coletivas
Pergunta 14: funcionalidade do sistema hierárquico de gestão dos processos
Pergunta 15: comunicação e liderança da supervisão
Pergunta 16: apoio psicológico e social
Pergunta 17: sistema de recompensas e reconhecimento/ RH
Pergunta 18: sistema de recompensas e reconhecimento/ técnico

A escala de avaliação das dezoito proposições está representada no quadro abaixo:

FREQUENTEMENTE (F) – Mais de 70% do tempo. Equivale dizer que sempre ou quase sempre é assim, e
que você considera este fato ou evento como uma rotina em seu trabalho.
ÀS VEZES (AV) – 70% a 40% do tempo. Equivale a dizer que esta é uma ocorrência ocasional, mais ou menos
normal.
RARAMENTE (R ) – Menos de 40% do tempo. Equivale dizer que se trata de fato eventual, algo que nunca ou
poucas vezes ocorre.

Há ainda perguntas abertas de natureza projetiva, e um “auto check” de sinais e sintomas.

-Se você pudesse tomar uma decisão de caráter gerencial, qual tomaria, e por quê?

Se você pudesse realizar uma mudança na organização do trabalho ou nos procedimentos, qual seria, e por quê?

Assinale os sintomas que você apresenta minimamente uma vez na semana:

dor de cabeça dor nas costas


dor de estômago ou gastrite dor nos membros inferiores
dor nas mãos, dedos ou punho insônia – depressão – irritabilidade
apatia dor no peito
falta ou excesso de apetite falta de ar

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Inventário foi apresentado à trabalhadora sob a forma de perguntas, durante a entrevista
para apuração da incapacidade e dor relacionada aos membros superiores. Ao final, iniciou-se
a pontuação e compilação dos dados estratificando-se os quesitos marcados com F
(frequentemente) e analisando-os qualitativamente, de acordo ao Quadro 1, com o objetivo de
compreender o padrão de risco cognitivo relacionado a estresse mais iminente para esta
pessoa. Encontraram-se marcadas com F as questões 1,2,3,4,6,8,9,11,15 (nove marcações em
um total de dezoito opções – o que já é bastante sugestivo). A seguir, buscou-se entender e
consolidar os conteúdos que a respondentes selecionou, através da leitura do Quadro 1. O
instrumento apontou predominância de sentimentos e percepções de exigências sensoriais,
imposições de tempo, exaustão, falta de apoios, de capacitação, de liderança, e como estão
marcados com F, sabe-se que tais estados acompanham o sujeito mais de setenta por cento do
seu dia de trabalho. Como ocorrência AV (às vezes), mais ou menos normal e dentro da
rotina, estão marcadas seis proposições (nºs 7,10,12,13,14,17), que reportam percepção de
uma falta de apoio no sistema e no ambiente, ressaltando fatores como a organização do
trabalho, os instrutivos, sentimento de equipe, estratégias coletivas, sistema hierárquico,
liderança, recompensas e reconhecimento. Os únicos três fatores marcados com R (raros)
referem-se à gestão de pausas, relacionamento humano com a chefia e investimento na
formação, o que define um sofrimento no trabalho ligado a questões organizacionais, e exclui
do rol a relação interpessoal com a chefia, que fica classificada como positiva.
Estabelecendo um prisma de análise incluindo o achado de LER/DORT em braço, ombro e
mão dominantes, e considerando que o trabalhador não exerce esforços repetitivos ou uma
sobrecarga biomecânica especialmente intensa, é possível entender a lesão como
consequência de uma contratura muscular crônica e constante, eliciada por estado emocional
de tensão (BALLONE, ORTOLANI E NETO, 2007) que acompanha essa pessoa o tempo
todo e a mantém permanentemente no estado de “alerta”, que é o que Lipp (2001) define
como “Fase II do Estresse”, cujas características são: “Mãos e/ou pés frios; boca seca; dor no
estômago; suor; tensão e dor muscular, por exemplo, na região dos ombros; aperto na
mandíbula/ranger os dentes ou roer unhas/ponta da caneta; diarréia passageira; insônia;
batimentos cardíacos acelerados; respiração ofegante; aumento súbito e passageiro da pressão
sanguínea; agitação” (grifo nosso).
Assim, o risco de estresse torna-se uma hipótese cada vez mais consistente; e sendo o estresse
uma síndrome de origens e causas biopsicossociais (SELYE, 1974), o prosseguimento na
investigação dos impactos dessa atividade no organismo da cliente se faz necessário. O
método de apreciação que foi utilizado pode dar forma ainda mais consistente à queixa
quando chegou à questão 21, um check list de sinais e sintomas, no qual a reclamante
assinalou a insônia e a dor de cabeça como constantes, fortalecendo a hipótese de estresse
mental relacionado ao trabalho e apontando a necessidade de posterior aprofundamento
através de uma análise psicológica.

CONCLUSÕES
Os instrumentos e técnicas de avaliação biomecânica aplicados com uma visão ergonômica e
multidisciplinar privilegiam a escuta do trabalhador, abrindo espaço para a construção precisa
da queixa. O fisioterapeuta, no momento da entrevista, obteve suficiente rapport para ter
acesso a uma descrição mais precisa da queixa, indicada pela menção à sobrecarga cognitiva.
Consciente do risco de estresse mental, e de que a queixa não se esgota e não se explica
unicamente por um diagnóstico biomecânico, o fisioterapeuta, na perspectiva de ergonomista,
lançou mão do “Inventário para apreciação da queixa de estresse” (VIOLA, 2008), e obteve
dados relacionando frequências temporais e situações de trabalho, com os quais pode traçar
um quadro de entendimento mais amplo sobre a dor de sua assistida. Diante da complexidade
do ser humano em situação de trabalho, é fato que o tratamento das lesões osteomusculares,
para ser efetivo, dependerá de uma abordagem psicológica, biomecânica e ergonômica que
englobe o tratamento do estresse ocupacional, tanto físico quanto mental. O corpo dá os sinais
daquilo que se instalou e que agride através da vivência mental. Técnicas cognitivo-
comportamentais (BECK, 1997) e a reestruturação da atividade através da análise ergonômica
do trabalho (VIDAL, 2003) poderão ser essenciais para que os objetivos de assistência e de
reabilitação desta reclamante sejam atingidos. Ao final, o mais relevante e positivo da
experiência foi constatar que, mesmo em uma entrevista durante o exame biomecânico,
tornou-se possível ao fisioterapeuta abrir caminhos para a escuta e o atendimento da queixa
dentro de uma perspectiva ergonômica e biopsicossocial, enunciando a necessidade de
encaminhamento para aprofundamento em uma análise psicológica.

REFERÊNCIAS

BALLONE J., ORTOLANI I., NETO E. Da emoção à lesão, um guia de medicina


psicossomática. 2ª edição. São Paulo. Editora Manole. 2007.
BECK, J. S. Terapia Cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.
CANAS, J., WAERNS, Y. Ergonomía Cognitiva: aspectos psicológicos de la interacción de
las personas con la tecnología de la información. Madrid: Editoral Medica
Panamericana,2001.
COOPER, C.L. Handbook of Stress, medicine and health. Florida: CRC Press, 2nd edition,
2005.
DOLAN S.L – Estresse, Auto Estima, Saúde e Trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark,
2006.
FALZON, P. Carga de Trabalho e Estresse. In: FALZON, P. (Ed.). Ergonomia. São Paulo:
Edgard Blucher, 2007.
FRANÇA A. C. L., RODRIGUES A. L. R. Stress e Trabalho: uma abordagem
psicossomática. 4ª ed., São Paulo: Editora Atlas, 2005.
GRANDJEAN E. Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre:
Bookman, 4ª ed, 1998.
LAZARUS R. S., FOLKMAN S. Stress, Appraisal and Coping. New York: Springer, 1984.
LIPP, M. E. N. Estresse emocional: a contribuição de estressores internos e externos.
Rev. Psiq. Clín. V. 28, n. 6, 2001.
SELYE H. Stress without Distress. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins Publisher,
1974.
VIDAL M. C. Guia para Análise Ergonômica (AET) na Empresa. Rio de Janeiro: Editora
Virtual Científica, 2003.
VIOLA, E. S.. Integração da Abordagem Ergonômia e da Técnica Cognitivo-
Comportamental para a Análise do Distresse no Trabalho. Tese (doutorado) –
UFRJ/COPPE/ Programa de Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, 2009.

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Anexo I – Inventário para apreciação da queixa de estresse


Nota explicativa
Este questionário é sigiloso e anônimo. Os formulários serão recolhidos, avaliados e
destruídos. Somente os resultados consolidados serão devolvidos à empresa, com o objetivo
de impedir a identificação dos depoimentos.
Responda sinceramente, e coloque exemplos, cite fatos. Lembre que o objetivo é criar
condições para um trabalho mais saudável e compatível com o seu bem estar.

Inventário de frequência

Para responder, utilize as opções:


FREQUENTEMENTE (F) – Mais de 70% do tempo. Equivale a dizer que sempre ou quase
sempre é assim, e que você considera este fato ou evento como uma rotina em seu trabalho.
ÀS VEZES (AV) – 70% a 40% do tempo. Equivale a dizer que esta é uma ocorrência
ocasional, mais ou menos normal.
RARAMENTE (R ) – Menos de 40% do tempo. Equivale a dizer que se trata de fato
eventual, algo que nunca ou poucas vezes ocorre.
Comente suas respostas no final do documento, sempre que julgar relevante.
Questões F AV R
1. Seu trabalho exige emprego constante de atenção e memória para X
discriminação de sinais e padrões?
2. Seu trabalho requer realizar duas ou mais tarefas importantes X
simultaneamente?
3. As exigências da tarefa que você executa induz a um estado de ânimo X
preocupado e ansioso, que o acompanha inclusive após a jornada de trabalho?
4. Seu trabalho é monótono ou repetitivo? X
5. É possível fazer pausas, quando há tarefas que exigem alta concentração? X
6. Ao final de uma jornada de trabalho, você se sente esgotado e fatigado? X
7. Durante uma jornada de trabalho, existe tempo suficiente para realizar todas as X
tarefas que você julga necessárias?
8. Você recebe informações, instruções e dados precisos e suficientes para tomar X
as decisões que necessita nos momentos certos?
9. Considera sua capacitação suficiente para controlar os riscos decorrentes de X
suas decisões, garantindo segurança e produtividade para a empresa?
10. Você realiza tarefas para as quais são insuficientes, incompletas, X
desatualizadas ou muito genéricas as orientações institucionais (PE, PP, ...) ?
Caso positivo, cite.
11. Considera claros os formulários impressos e virtuais que utiliza diariamente X
(PT, software de operação das unidades, etc.) ? Caso negativo, explique .
12. Em sua equipe de trabalho, você julga contar com uma cooperação X
espontânea e rápida para a realização de ações conjuntas?
13. Existe um momento de consulta e consenso no qual todos encontram espaço X
para opinar quanto às decisões ou medidas a serem tomadas?
14. O sistema de comunicação hierárquica (operador – supervisor – gerente – X
instâncias) funciona de forma ágil para dar suporte às exigências de tempo?
15. Seu supervisor inspira suficiente confiança para que você solicite seu apoio X
quando tem dúvidas ou dificuldades em seu trabalho?
16. Você se sente estimulado a confidenciar a seu supervisor problemas pessoais, X
na expectativa de apoio e compreensão?
17. Considera justo o reconhecimento que a empresa manifesta com respeito a X
sua atuação, em termos de avaliação, promoção ?
18. Como você identifica o reconhecimento que a empresa expressa no que tange X
ao e investimento na sua formação?

19. Se você pudesse tomar uma decisão de caráter gerencial, qual tomaria, e por quê?

20. Se você pudesse realizar uma mudança na organização do trabalho ou nos procedimentos, qual
seria, e por quê?

Há necessidade de respeitar as pausas do trabalho. Para melhorar a pressão psicológica e


trabalhar melhor.

21. Assinale os sintomas que você apresenta minimamente uma vez na semana:

dor de cabeça X dor nas costas


dor de estômago ou gastrite dor nos membros inferiores
dor nas mãos, dedos ou punho X insônia – depressão – irritabilidade X
apatia dor no peito
falta ou excesso de apetite falta de ar

Espaço para comentários adicionais

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