Você está na página 1de 8

Seminário- O processo de diagnóstico e de intervenção do psicólogo do

trabalho.

Introdução:
- A atuação do Psicólogo ainda é muito associada a clínica curativa, por conta da
urgência em pedir diagnósticos baseados em sintomas específicos e espera prescrição
de soluções rápidas e padronizadas.
-Tendo um olhar considerando só partes do que precisa ser investigado e não levando
em consideração toda ação por tras, gerando uma atuação reducionista e pouco
eficiente.
- Na área das organizações, o Psicólogo só é chamado quando há sintomas, entendidos
como consequências negativas para o processo de trabalho, queixas como à queda na
produtividade, relacionados à qualidade dos produtos, crescentes índices de absenteísmo
e rotatividade, desencadeamento de doenças, aumento da frequência ou da gravidade de
acidentes de trabalho, desmotivação, insatisfação, descomprometimento etc

-Com base nessa queixa procura-se uma lógica para um futuro diagnóstico, como que o
trabalhador ficou assim? Logo obtendo uma intervenção baseada em uma noção de nexo
casual, não olhando a real causa desses sintomas e quais são as motivações individuais
do indivíduo que estão inexistentes, levando a um intervenção superficial.

-Se não houvesse o desvio de cargos na atuação do Psicólogo do trabalho, sua real
atuação demonstraria uma contribuição consistente, de foco prevencionista, ressaltando
a subjetividade do indivíduo e as situações de trabalho como principais fatores
organizacionais que potencializam a produtividade do sistema e a saúde dos
trabalhadores.

-Nesse sentido, quando houver demanda ao Psicólogo do trabalho o mesmo deve


assegurar sua investigação eficiente, observando aspectos a composição e decomposição
da produção, desempenho, saúde, sendo eles positivos e negativos tendo em mente a
complexidade d inter-relação do trabalho e o processo de saúde-doença, observando as
principais variáveis que contribuem para prevalência de bem ou mal estar no trabalho.
-Objetivo do artigo: destacar os principais aspectos que devem ser considerados ao
longo do processo de diagnóstico e de intervenção do psicólogo nas organizações

O estudo da Psicologia do trabalho

-A Psicologia do trabalho é a área que se especializa nos processos psicológicos n


atividade do trabalho estabelecidas pelos meios técnicos e sociais, ou seja não tem como
pensar no trabalho dissociado da ação humana, por conta d vivencia do ser humano ser
objeto de estudo em como o mesmo se comporta no exercício de trabalho.

-Pra estudar o trabalho é necessário entender o contexto em que o mesmo ocorre


-Executando delimitações no contexto, sendo elas com quatro características:
exigência, risco, carga e desemprenho humano, devendo ser explorada independente da
natureza da atividade que esteja sendo enfocada.

- A Figura 1 ilustra o circuito do trabalho, destacando as variáveis inerentes em


qualquer atividade e assinalando que as decorrências, ou seja, as consequências que
ocorrem em função de determinadas exigências, trazem implícita a noção de
desempenho humano, pois é essa relação funcional que vai permitir a expressão das
competências individuais.

- Circuito do Trabalho (Fonte: Cruz, 2005).


-Ao investigar o trabalhador é necessário ter conhecimento das características do
trabalhador como as condições de execução do trabalho, as consequências geradas na
relação com a atividade e sobre a atuação do operador do ponto de vista das suas
competências e habilidades.

-Na execução de qualquer atividade há variáveis que se relacionam, logo gerando


consequências que são expressas a partir de mudanças no comum do dia a dia da
produção, desempenho humano e da saúde do sistema organizacional ou do próprio
trabalhador em questão. Portanto sendo necessário o estudo do sistema comportamental
dentro da condições oferecidas no trabalho.

-Nesse sentido é de responsabilidade do Psicólogo evitar uma abordagem reducionista


que só considere o posto de trabalho ou consequências geradas a partir de um longo
período naquele trabalho. A análise é complexa, sendo necessária estudo do conjunto
das variáveis que no caso é impossível estudo de todas, sendo necessário um recorte da
situação buscando identificar as mais críticas e como estão relacionadas entre si.

- É através da análise das exigências da atividade que se possibilita ao psicólogo elencar


o conjunto de variáveis que influenciam o desencadeamento de consequências;
consequências essas expressas nos indicadores de produção, desempenho e saúde.

Características que tem que ser levada em consideração no processo de diagnostico


de determinada situação de trabalho:

Noções de exigência
-A forma como o trabalho é organizado e o contexto que ele está inserido, pois assim
podemos entender quais são as exigências que os gestores pedem para os trabalhadores
visando alcance do objetivo organizacional.
-Contudo, a subjetividade do individuo influenciam o grau das exigências, contribuindo
para ocorrência de outras exigências formuladas pelo indivíduo em qualquer momento d
execução das atividades.
-Assunção(2003) exemplifica tais intervenientes como o caso da matéria-prima que não
foi fornecida a tempo ou na qualidade desejada, os desgastes das ferramentas, a
desregulação ou quebra das máquinas, as faltas de colegas ou a entrada de novatos na
empresa, as modificações dos modelos dos produtos etc.
-Para Leplat e Cuny(1977), o psicólogo, ao conhecer detalhadamente a situação de
trabalho, obtém subsídios para elaborar descrições dos seus diferentes componentes
tanto em termos materiais, como organizacionais, ambientais e humanos relacionados à
atividade que está sendo analisada.

-Os mesmos autores sugerem que a investigação das exigências ocorra a partir da
identificação de aspectos referentes às categorias: esquemas de processo, esquemas da
organização homem-máquina e esquemas do funcionamento homem-máquina.

-Nessas três categorias poderão estar presentes: a) Exigências físicas: relacionadas à


tarefa e à situação (esforços dinâmicos e estáticos); relacionadas com o organismo
humano (posturas, movimentos, dispêndio de energia, reações cardiovasculares, reações
respiratórias e térmicas); b) Exigências ambientais (iluminação, temperatura, ambiência
sonora); c) Exigências sensoriais (relativas às fontes de informações e aos órgãos
sensoriais); d) Exigências sensoriomotoras (relativas aos dispositivos sinais-comandos e
as características antropométricas do trabalhador); e) Exigências mentais (avaliações
relativas às características da tarefa e relacionadas com o operador).

Noções de risco

-A probabilidade de ocorrer dano ou risco de trabalho está presente em qualquer


situação de trabalho, em diferente graus e níveis, podendo ser eles riscos ambientais e
decompostos em agentes físicos, químicos e biológico, que devido a natureza podem
levar a danos á saúde do trabalhador.

-Agentes físicos: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações


ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som

-Agentes químicos: são as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no


organismo pelas vias respiratórias na forma de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases
ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser
absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.
-Agentes biológicos: bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, dentre
outros.

Noção de carga de trabalho

-Relacionada ao conceito de trabalho prescrito: tarefa e trabalho real: atividade, pois o


trabalho que foi prescrito pela empresa demanda um maior o menor custo humano ao
trabalho.
-Caracterizando duas dimensões de cargas de trabalho o prescrito e o real.
-No inicio pensavam que a carga estava relacionada a exigência da atividade, então por
tempo ela foi confundida com conceito de risco, contudo entendendo que quando o
trabalhador responde as exigências da atividade ainda é necessária controlar os efeitos
de sua ação.

-Para Ferreira e Freire (2001) o conceito de carga aprece de duas formas Primeiro, às
variáveis presentes na situação de trabalho que agem de forma combinada e geram
impacto no trabalhador, exigindo dele um esforço contínuo de regulação e adaptação.
Segundo, à função mediadora da carga para compreender a inter-relação trabalho-
desgaste vivenciada pelos trabalhadores.

-Sendo assim carga expressa a relação do sujeito com o trabalho o realizar as exigências
presentes de situação do trabalho e as consequências geradas pelas estratégias
escolhidas para que os objetivos prescritos ou seja, dados pela organização sejam
desenvolvidas, além da competência profissional que quanto mais desenvolvida mais
melhor preservam o bem-estar.

-Segundo Wisner(1994) a carga se define em física e mental, sendo a física com


posturas, gestos e deslocamento e a mental mais difícil de ser avaliada, pois se refere a
percepto-cognitiva do indivíduo incluindo aí os processos de atenção, concentração,
memorização, tomada de decisão e os afetos mobilizados para atender às exigências da
atividade.
- carga estando presente em maior ou menor grau ao longo de todo circuito de trabalho,
mediando as exigências e consequências para assegurar e evitas mal estar do indivíduo
no trabalho.

-As cargas dão início a como o trabalho é tensionado, reconhecidas nas sobrecargas e
subcargas, ambas ocorrendo subjetivamente em cada trabalhador, a partir do momento
que surge desiquilíbrio em o que é exigido pela organização e a capacidade individual
de respostas a essas exigências. Esses desiquilíbrios são relacionados a sintomas de
desprazer , queda na produtividade, na qualidade, absenteísmo, rotatividade, licenças
para tratamento de doenças, incidentes e acidentes de trabalho.

- quanto maior o desprazer percebido, maior é grau de risco do trabalho e maior do


desequilíbrio da carga e sofrimento do trabalhador.

-Mecanismos de defesa para lidar com o excesso de carga: individuais ou coletivos,


expressos mediante condutas de negação, eufemização, burla, somatização, isolamento,
esquiva etc. Tais estratégias de defesa são desenvolvidas como tentativas para controlar
a carga de trabalho e enfrentar a sobrecarga. Dejours (1994)

Noção de desempenho humano:

-é percebido em relação funcional entre as exigências e as consequências da situação de


trabalho. O trabalho traz diversas exigências para seu exercício a favor da organização,
esses desempenhos exigidos podem ser positivos e negativos, implicando na presença
de riscos e da carga de trabalho.

Análise da atividade a partir de seu propósito


Na análise do trabalho o psicólogo considera também o objetivo da atividade e, a partir
desse propósito, identifica as variáveis presentes nas seguintes categorias: indivíduo,
condições de execução, consequências e competências e habilidades do trabalhador.
Variabilidade humana
-Os trabalhadores são diferentes, tendo as características físicas, padrões emocionais,
estilos cognitivos e os níveis de representação do conhecimento e dos graus de
qualificações divergentes, onde cada um enfrenta e é influenciado pela suas dimensões
individuais, estrutura, gênero, alterações de estado aos ritmos biológicos, fadiga aos
acontecimentos do dia, entre outros.
-A individualidade precisa ser observada cuidadosamente ao analisar o trabalho, pois o
indivíduo chega o trabalho com histórico de vida, marcas cumuladas de vivencias e
sofrimentos na vida, além de seus próprios costumes pessoais e étnicos e aprendizados,
todos eles refletindo no trabalho.

Condições de execução do próprio trabalho


-Meios de trabalho, a maneira como o mesmo deve ser executado a partir do meio dísico
em que se situa, de modo a todas envovlencis do trabalho como: materiais a serem
utilizados, turnos, regras e normas, remuneração etc...
-Ou seja a tarefa prescrita em termos formais e informais, se definindo em tudo o que
sta posto ao trabalhador e tudo que se espera que ele faça.
-Ferreira(2004) aponta o ser e fazer
Ser: objetivos e metas a serem atingidas, respeito aos prazos, modalidades de
instrumentação e dos critérios de quantidade e qualidade.
Fazer: regras de relações socioprofissionais, modos de conduta organizacional,
responsabilidade diversas, respeito a hierarquia de comando e disciplina para objetivos.

Consequências geradas na relação com a atividade


-As consequências geradas há de serem estudadas a partir das cargas de trabalho, pois a
analise ocorre a partir das exigências que a tarefa requer do trabalhador.
-Os desiquilíbrios entre as exigências e consequências refletem negativamente na
empresa pela sobrecarga e subcarga de trabalho, sendo expressadas por sentimentos de
desprazer, frustações, sintomas de doenças e rotatividade. Entretanto se não há esse
desiquilíbrio há um processo de satisfação, sentimentos de prazer e bem-estar no
trabalho e aumento da produtividade.
-Então, é de grande importância o conhecimento dos componentes de cargas para que o
Psicólogo avalie para o diagnóstico e a intervenção, pois é notório que o processo de
saúde tem repercussão imediata no desempenho e produção.
Competência e habilidade
-Compreender a competência é compreender a capacidade do trabalhador de regulação
ou de ser variável nas particularidades da situação, se adequar.
-Para avaliar as competências é necessário avaliar como o indivíduo lida com
determinada situação, sua aptidão.
- Zafirian cita que um trabalhador competente é aquele que é capaz de assumir
iniciativas, ir além do prescrito e ser capaz de compreender e dominar novas situações
do trabalho, ser responsável e reconhecido por isso.

-Sendo as competências as pistas que o Psicólogo há de avaliar as cargas de trabalho,


demonstrando a capacidade do trabalhador pra agir, tendo também subjacente as
competências a habilidade e experiência individual do trabalhador.

-Cabe então ao psicólogo descobrir os modos operatórios e os processos cognitivos que


o trabalhador desenvolve para lidar com as consequências do próprio trabalho.

Conclusão:
O psicólogo do trabalho, ao assentar sua atuação no modelo clínico curativo, incorre no
equívoco de iniciar sua investigação pautada apenas nas conseqüências da atividade,
bem como de centrar suas intervenções em lógicas reducionistas, que contribuem para
resultados pouco eficientes ou, ainda, com efeitos contra-producentes pelo
desconhecimento das repercussões de suas ações. Descobrir a forma, o grau, a
freqüência e a intensidade de relacionamento dessas principais variáveis críticas é o
principal desafio do psicólogo, pois ao elaborar seu plano de ação, tendo como
subsídios essas informações, aumentam suas chances 97 O processo de diagnóstico e de
intervenção do psicólogo do trabalho de atuar de maneira mais consistente e com
melhores resultados para o sistema produtivo e para os trabalhadores.

Você também pode gostar