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Gestão do Stress Ocupacional

Outubro de 2010

Paula Cristina Costa¨


Resumo
Este artigo tem como objectivo primário aferir a incidência
do Stress Ocupacional nas organizações e avaliar as situações e os
factores que contribuem para o seu desenvolvimento. Inicialmente será
exposto o Conceito de Stress e analisados os modelos teóricos
relacionados com esta temática, bem como os seus antecedentes e
causas. Expõem-se em ainda as consequências do Stress sobre os
indivíduos e as organizações. Por último, serão também apresentados
programas de gestão do StressOcupacional, quer de ordem preventiva
quer interventiva, bem como formas de eliminar e reduzir o Stress.

Palavras-chave: Stress; Gestão de Stress; Ginástica


Laboral; Stress Ocupacional.

1 Introdução

O Stress tornou-se numa das principais áreas de preocupação das


sociedades mais industrializadas, sendo já um modo de vida assumido e
aceite que foi evoluindo ao longo dos tempos e chegou aos dias de hoje
como um factor responsável pela diminuição da qualidade de vida das
pessoas.
A Gestão do Stress, é um tema muito importante para as organizações, e
como tal, deve ser integrada na definição da estratégia organizacional.
Em termos práticos, os gestores devem dar especial atenção às situações
relacionadas com o stress, visto que os factores a ele associados
influenciam directamente os níveis de produtividade e o sucesso
organizacional.
Para que organização possa oferecer aos seus clientes serviços e
produtos de qualidade, é fundamental que proporcione boas condições de
trabalho e qualidade de vida aos seus colaboradores, evitando expô-los a
elevados níveis de stress.
O principal objectivo deste artigo é auxiliar os profissionais na área da
Gestão de Recursos Humanos, no tratamento de factores relacionados
com a Gestão de Stress, de forma a criar valor acrescentado, para a
organização onde trabalham e maximizar as suas práticas, políticas e
ferramentas organizacionais.
2 Stress
Para Overell (2001, p.11), a “Investigação governamental
britânica sugere que a maior parte das empresas acredita que
os colapsos ou distúrbios psicológicos são uma prova de
fraqueza ou de incapacidade para aguentar trabalho
desafiante. A sua resposta é verem-se livres das pessoas.”

2.1 O que é o Stress?

O Stress está intimamente relacionado com a carga mental associada


normalmente ao trabalho e é causado por um desajuste entre o indivíduo e
o trabalho, pelos diferentes papéis que o indivíduo tem de desempenhar e
pela falta de controlo sobre a sua vida e sobre o trabalho.
As exigências do quotidiano, as necessidades, as metas e os objectivos
que se pretendem atingir, os prazos a cumprir, as expectativas que os
outros têm sobre nós, etc., são factores que potenciam o desencadear
do stress.
O termo Stress muitas vezes é utilizado para descrever os sintomas
produzidos pelo organismo como reposta à tensão provocada pelas
pressões e situações que as pessoas enfrentam.
Segundo Chiavenato (2005, p.390), “O estresse decorrente de quaisquer
circunstâncias que ameaçam ou são percebidas como ameaçadoras do
bem-estar da pessoa e que minam a capacidade de enfrentamento do
indivíduo. A ameaça pode afectar a segurança física – imediata ou mediata
– a reputação, auto-estima, tranquilidade ou aspectos que a pessoas
valorize ou deseje manter.”
2.2 Definição do conceito

A primeira definição de Stress foi feita por Hans Selye (1980) para
representar a propensão do organismo para reagir de forma idêntica a
estímulos diversos.
O Conceito Stress tem vindo a evoluir ao longo dos tempos e está a tornar-
se um problema cada vez maior para as organizações, devido à ocorrência
da complexidade do trabalho, devido às mudanças e transformações que
as mesmas têm sofrido, das incertezas provocadas por essas mesmas
mudanças, da carga de trabalho intensa, das responsabilidades acrescidas
que são imputadas aos trabalhadores, etc.
Segundo Dolan e Arsenaut (1980) “O stress advém, assim, do desajuste
entre o nível de estímulo desejado pelo indivíduo e o nível de estímulo que
ele interioriza subjacentemente.”
O Stress tem sido estudado como estímulo, como resposta ou como
interacção entre o estímulo e resposta, sob a forma de desequilíbrio entre
a pessoa e o seu meio envolvente. (COOPER, DEWE & O’DRISCOLL,
2001)
3 Níveis de Stress
Selye (1980) “referiu que nem sempre as reacções ao stress são más,
sendo mesmo necessário um certo nível de stress para a motivação, o
crescimento e desenvolvimento individual.”
O Stress normalmente é referido em três níveis:
· Eustress ou Stress Saudável
Este nível de stress está inerente à motivação suscitada pelos desafios
profissionais e duma actividade produtiva e propiciadora de realização, o
qual acarreta um sentimento de bem-estar.

· Distress ou Stress Disfuncional


O Distress é característico das situações de não cumprimento das
exigências das tarefas e outras solicitações que dão origem a
consequências de vária ordem: insatisfação, cansaço e doenças físicas e
psíquicas, entre outras.
· Esgotamento ou Burnout
O esgotamento decorre de uma situação de total exaustão física, mental e
emocional, fortemente condicionadora das tarefas diárias, originando um
estado de depressão e fadiga física grave.

4 Modelos Teóricos do StressOcupacional


Os resultados do Stress a longo prazo levam à necessidade de criar
mecanismos e soluções com o objectivo de o reduzir ou eliminar, levando
muitos investigadores a desenvolver modelos teóricos
de Stress Ocupacional.
4.1 Teoria dos Acontecimentos da Vida
Holmes e Rahe (1967), após uma investigação psiquiátrica, concluíram
que certos acontecimentos que exigem mudanças de ajustamento à vida
estão associados ao aparecimento de doenças. Elaboraram uma lista de
acontecimentos, Escala de Reajustamento Social ordenados pelas suas
unidades de mudança de vida, que reflectem o esforço de adaptação
exigido ao indivíduo.

O desenvolvimento de sintomas físicos de stress será proporcional ao


número e severidade das unidades de mudança de vida vividas num
determinado período de tempo.
O problema deste modelo é considerar apenas os acontecimentos
extraordinários que poderão ser fontes de pressão, ignorando os pequenos
eventos do dia-a-dia que são fontes de pressão.

4.2 Modelo de Ajustamento Pessoa-Ambiente


As teorias de ajustamento pessoa-ambiente fazem referência à
correspondência entre as características do indivíduo e as do ambiente. A
falta de ajustamento entre estas duas categorias dá origem ao stress.
Este modelo é centrado em interpretações subjectivas e não explicam as
relações dos desajustamentos, daí terem sido criticados pelo seu baixo
poder de previsão das características indutoras de stress.
De acordo com Fench, Caplan e Harrison (1984) existe ajustamento
quando os recursos motivacionais de trabalho são suficientes para
satisfazer os valores e motivações do indivíduo.

4.3 Modelo Exigência-Controlo


Karasek (1979) desenvolveu um modelo de conteúdo que realça o papel
da capacidade individual de controlo como moderadora na relação entre as
exigências do trabalho e ostrain. Neste modelo existem dois factores
envolvidos na experiência de stress, o primeiro diz respeito às exigências
psicológicas do trabalho (sobrecarga de trabalho), o segundo está
relacionado com o grau de controlo que a pessoa tem sobre o seu
trabalho, que inclui a autoridade para decidir e para utilizar uma variedade
de competências no trabalho.
Ainda de acordo com este modelo, o strain resulta da combinação de
elevadas exigências de trabalho e de baixa latitude de decisão, uma vez
que restringe as probabilidades de o indivíduo cumprir as exigências
funcionais, originandoconsequências psicológicas negativas.
A combinação de elevadas exigências de trabalho e elevada latitude de
decisão provocaresultados psicológicos positivos, como a motivação e o
desenvolvimento pessoal, porque o indivíduo tem a possibilidade de
enfrentar com sucesso as fontes de stress.

4.4 Modelo Cooper


Figura 1
Fontes de Stress
Doenças
Sintomas de Stress
Modelo da Dinâmica do Stress Laboral
Intrínseca ao trabalho
Papel na organização
Relações no trabalho
Desenvolvimento na carreira
Sintomas individuais
- Aumento da pressão arterial
- Estado depressivo
- Irritabilidade
- Excesso de álcool
- Dores no peito
Estrutura e clima
organizacionais

Interface casa trabalho


Sintomas Organizacionais
- Absentismo elevado
- Elevada rotação
- Relações de trabalho diferentes
- Mau controlo de qualidade
Indivíduo
- Cardiopatias cronárias
- Doenças do foro psíquico

- Greves prolongadas
- Acidentes frequentes e graves
- Presentismo
- Apatia

Fonte: Adaptado de Cooper, (1976)

Cooper (1993), definiu o stress ocupacional como “um problema de


natureza perspectiva, resultante da incapacidade de lidar com as fontes de
pressão no trabalho, tendo como consequências problemas na saúde
física, mental e na satisfação no trabalho, afectando o indivíduo e as
organizações”.
5 Antecedentes e Causas do Stress Ocupacional
Existem três conjuntos de factores que são os principais potenciadores
de Stress, são eles os factores ambientais, os organizacionais e os
individuais. No entanto, se o Stressse concretiza ou não, depende das
diferenças individuais, da experiência do trabalho e dos traços de
personalidade.
Quando os indivíduos passam por situações de Stress, os seus sintomas
podem ser físicos, psicológicos ou comportamentais.
5.1 Principais Causas do Stress no Trabalho:
· Sobrecarga do trabalho;
· Pressão do tempo e urgência;
· Supervisão de baixa qualidade;
· Clima de insegurança;
· Autoridade inadequada na delegação de responsabilidades;
· Ambiguidade de papéis;
· Diferenças entre os valores individuais e organizacionais;
· Frustração;
· Mudanças dentro da organização;
· Não evoluir na carreira, etc.
5.2 Stressors Organizacionais
Existem uma grande variedade de factores stressantes, nomeadamente as
características do papel, as características da tarefa, o estilo de liderança,
as relações de trabalho, a estrutura, o clima organizacional e as condições
físicas de trabalho.
5.3 Stressors Extraorganizacionais
As ocorrências da vida podem ser importantes fontes de pressão. As
circunstâncias da vida (individual, familiar ou social) podem induzir níveis
mais ou menos elevados destress e provocar problemas na saúde física e
psicológica dos indivíduos. Mas os factores do dia-a-dia, podem também
ser altamente stressantes.
Os problemas do quotidiano extra-laboral não ficam fora da organização e
os problemas do âmbito organizacional não se podem prender no seio da
organização, impedindo-os de influenciarem a vida pessoal dos indivíduos.

6 Respostas ao Stress
Distinguem-se três tipos de respostas ao Stress: fisiológicas, psicológicas
e comportamentais. Estas respostas estão inter-relacionadas, havendo
muitas variáveis que exercem um efeito de “almofada” ou que as podem
agravar, quando há fontes destress.
· Respostas Fisiológicas: aumento do nível de colesterol, hipertensão, úlceras gástricas, dores
de cabeça, reumatismo, contribuição para o aparecimento ou evolução de cancro.

· Respostas Psicológicas: baixa satisfação, baixo envolvimento com o trabalho, tensão,


ansiedade, depressão, fadiga psicológica, frustração, irritabilidade eburnout.

· Respostas Comportamentais: menor desempenho, acidentes de trabalho, erros, consumo de


álcool e drogas, roubo, absentismo, rotatividade, tabagismo e degradação da vida familiar e da
qualidade geral de vida.

7 Consequências Negativas do Stress


O Stress é um facto da vida, cada vez mais presente nas organizações
modernas, com as suas exigências de produtividade, redução dos custos,
orientação para o cliente e inovação, têm consequências negativas a nível
individual e organizacional, estas consequências negativas representam
elevados custos para as organizações.
7.1 Consequências Individuais
As consequências individuais manifestam-se em termos da saúde física e
mental. Dado que o stress afecta o sistema nervoso, endócrino e
imunológico do organismo, pode causar doenças. Situação que ocorre
quando se trata de situações muito prolongadas, intensas ou frequentes,
ou quando o indivíduo não goza de recursos adequados de adaptação e
resistência.
7.2 Consequências Organizacionais
As consequências organizacionais do stress provêm das individuais, uma
vez que as organizações são compostas por pessoas, causando um
significativo aumento de custos, quer directos quer indirectos.
Nos custos directos, temos os decorrentes do aumento do absentismo, da
rotatividade, da quebra de performance dos trabalhadores, do aumento do
número de acidentes de trabalho e dos erros de produção. Os custos de
saúde e o pagamento de indemnizações por lesões relacionadas com
o stress, também contam como custos directos.
Segundo Moore (1994), o Stress dos indivíduos acarreta consequências
para o bom funcionamento da organização. “Um indivíduo sujeito a stress
trabalha menos com menos rigor, de maneira menos segura e mais
agressiva, o que pode contribuir para a redução da produtividade,
diminuição da qualidade do bem ou serviço, aumento de riscos

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