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RBSO

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional


Artigo
ISSN: 2317-6369 (online)
http://dx.doi.org/10.1590/2317-6369000003416

1
Relação entre saúde mental e trabalho: a concepção
Mariana Pereira da Silvaa de sindicalistas e possíveis formas de enfrentamento
Marcia Hespanhol Bernardoa
Heloísa Aparecida Souzaa
Relationship between Mental Health and Work:
unionists’ conception and possible confrontation practices

a Pontifícia Universidade Católica de

Campinas. Pós-Graduação em
Psicologia. Campinas, SP, Brasil.
Resumo
Contato:
Objetivo: apresentar as concepções de sindicalistas a respeito da relação entre
Mariana Pereira da Silva trabalho e adoecimento mental, bem como algumas de suas ações, que possam
E-mail: indicar rumos para abordagens do movimento sindical que favoreçam o en-
mariananox@gmail.com frentamento do adoecimento mental relacionado ao trabalho. Método: foram
realizadas entrevistas reflexivas em profundidade com cinco representantes
sindicais de diferentes categorias profissionais, do estado de São Paulo, que
possuem um histórico de comprometimento com a saúde dos trabalhadores.
Resultados: a concepção predominante entre os sindicalistas entrevistados é
de que as causas dos adoecimentos do trabalhador são de caráter multifatorial.
O trabalho não é baseado em tese Assim, esses líderes sindicais reconhecem a organização do trabalho, os pro-
e não foi apresentado em reunião cessos produtivos, as relações trabalhistas e as condições físicas do ambiente
científica.
de trabalho como alguns dos fatores que podem gerar sofrimentos ou ado-
As autoras declaram que o trabalho não ecimentos psíquicos nos trabalhadores. Discussão: os participantes indicam,
foi subsidiado e que não há conflitos de como possíveis estratégias de enfrentamento do adoecimento mental provoca-
interesses. do pelo trabalho, a união dos trabalhadores e dos sindicatos, o restabelecimen-
to de laços de solidariedade, maior investimento do Estado e conscientização
de toda a sociedade a respeito da relação entre a saúde mental e o trabalho.
Palavras-chave: saúde mental; trabalho; sindicatos.

Abstract
Objective: to present the trade unionists’ conceptions regarding the relationship
between work and mental illness, as well as some of their actions, that
can indicate directions for union’s movement approaches that favor the
confrontation of work-related mental health. Method: reflective in-depth
interviews were conducted with five union leaders who represent different
professional categories from the state of São Paulo which are historically
committed to workers’ health. Results: among the interviewed unionists the
predominant conception is that work-related disease has multifactorial causes.
They consider work organization, manufacturing processes, labor relations
and workplace environmental conditions as some of the factors that can cause
workers’ mental disorders. Discussion: the participants indicated – as possible
strategies to confront work-related mental disorders – the alliance of workers and
unions, the reestablishment of solidarity bonds, higher state investments, and
consciousness-raising of the whole society regarding the relationship between
work and mental health.
Keywords: mental health; work; trade unions.
Recebido: 03/03/2016
Revisado: 25/05/2016
Aprovado: 01/06/2016

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Introdução bem como algumas de suas ações que podem indicar
rumos para abordagens do movimento sindical que
O mundo do trabalho na contemporaneidade favoreçam o enfrentamento do adoecimento mental
gera impactos significativos na saúde física e men- relacionado ao trabalho. Para tal, o texto está organi-
tal dos trabalhadores. As diversas mudanças provo- zado da seguinte forma: inicialmente, apresentamos
cadas pela globalização financeira, pelas inovações uma reflexão sobre a relação existente entre saúde
tecnológicas e pelas novas formas de gestão interfe- mental e trabalho e traçamos um rápido panorama
rem diretamente no bem-estar dos trabalhadores, na do movimento sindical na atualidade brasileira. Em
forma como trabalham e, inclusive, na maneira em seguida, apresentamos os aspectos metodológicos
que se organizam coletivamente. adotados, para finalizarmos com a discussão dos
resultados da pesquisa.
Franco et al.1 apontam que o trabalho na moder-
nidade é marcado pela flexibilização e pela precari- A saúde mental relacionada ao trabalho como um
zação social, ambos possuem diversos aspectos que problema de saúde pública
repercutem negativamente na subjetividade do traba-
lhador. Segundo as autoras, a precarização no mundo O crescimento do desgaste mental dos trabalha-
do trabalho é caracterizada por ritmos intensos e dores pode ser verificado nas estatísticas oficiais,
aumento da competitividade, falhas na prevenção como as da Organização Mundial de Saúde (OMS) e
e diluição das responsabilidades em relação a aci- do Ministério da Previdência Social (MPS). A OMS8
dentes de trabalho, falta de reconhecimento e valo- mostra que os transtornos mentais podem atingir até
rização social, fragilização dos vínculos, rupturas 40% dos trabalhadores, sendo que 30% são conside-
de trajetórias profissionais, banalização da injustiça rados transtornos “menores”, e entre 5 e 10% são de
social, dentre outras características que degradam as nível grave. Dados do MPS9 mostram que os afasta-
condições de trabalho e podem levar o trabalhador mentos por problemas de saúde mental cresceram
ao adoecimento físico e mental. muito nos últimos anos e que já são a terceira maior
Seligmann-Silva et al.2 também ressaltam que causa de afastamento do trabalho no país. Tais dados
o contexto de precarização e flexibilização faz os apontam a relevância em compreender como ocorre
trabalhadores vivenciarem seu trabalho de forma o desgaste mental do trabalhador, e quais ações
insegura, altamente competitiva, individualizada e podem ser realizadas pelos sindicatos – enquanto
em “tensão permanente”, conforme afirma Linhart3. entidades representativas dos trabalhadores – para
Essas condições de trabalho podem conduzir a sérios mudar esse quadro.
problemas relacionados à saúde mental, como sín- Devemos ressaltar que o nexo causal entre des-
drome de burnout, depressão, suicídios, abuso de gaste mental e trabalho ainda é um grande desafio.
álcool e drogas, psicossomatização, workstress, fadi- Como apontam Paparelli et al.10, é raro que sejam
gas, entre outros. considerados os elementos sociais presentes no pro-
Mesmo tratando-se de uma situação que pode ser cesso de saúde/doença psíquica. Assim, as razões
considerada séria e urgente, as pautas de negociações do adoecimento são, muitas vezes, atribuídas ao
e lutas dos sindicatos ainda são tímidas com relação indivíduo, culpabilizando-o e individualizando um
aos aspectos referentes à relação entre saúde mental problema que é, essencialmente, social. O traba-
e trabalho, inclusive entre aqueles que, na década lhador é tratado, nesse sentido, como descuidado e
de 1980, tiveram uma participação importante na irresponsável frente a acidentes e ao adoecimento,
incorporação do campo da Saúde do Trabalhador desconsiderando-se pressões, exigências, prazos
no Sistema Único de Saúde (SUS) e reconhecem os e outras formalidades que caracterizam o trabalho
efeitos deletérios dos modelos de trabalho atuais, contemporâneo, especialmente em países de econo-
conforme se vê em Sato e Bernardo4. mia dependente como o Brasil e outros da América
Latina11,12. Além disso, é comum que se entenda o
Com base nas abordagens da Psicologia social do
trabalho como algo naturalmente penoso, como se
trabalho e da Saúde mental relacionada ao trabalho
não fosse possível modificar os aspectos que geram
(SMRT), foi realizada uma pesquisa que teve como
adoecimento ao trabalhador.
objetivo compreender as concepções de sindicalis-
tas sobre a relação entre saúde mental e trabalho. Os Em contraposição a essa perspectiva, Seligmann-
resultados desse estudo mostraram que, no contexto Silva5 desenvolve o conceito de “desgaste mental”
geral, apesar do tema da SMRT ser negligenciado em para analisar o processo de saúde/doença psíquica
muitos sindicatos, conforme diversos estudos indi- relacionado ao trabalho. Esse conceito tem origem
cam4-7, existem sindicalistas sensíveis e comprome- nas proposições de Laurell e Noriega13 sobre a Saúde
tidos com a temática. Desse modo, busca-se, neste do Trabalhador. Os autores – utilizando-se da pers-
artigo, apresentar as concepções desses sindicalistas, pectiva dialética do materialismo histórico – buscam

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integrar o processo biopsicossocial saúde/doença, socioeconômica, políticas econômicas e conexas,
correlacionando poderes e cargas de trabalho viven- políticas sociais e intersetorialidade, territoriali-
ciadas pelos trabalhadores. Laurell e Noriega13, dade, dentre outras questões. Além disso, a indi-
afirmam que o desgaste pode ser entendido como vidualidade também é um patamar de análise, que
“a perda da capacidade potencial e/ou efetiva corpo- envolve a trajetória histórica e pessoal do trabalha-
ral e psíquica do trabalhador”, que pode ou não se dor, que se confronta com os demais patamares por
expressar no que a medicina reconhece como pato- meio de seu trabalho.
logia. Para Seligmann-Silva5, o trabalho no capita-
lismo implica a deformação do corpo e das potencia- Vemos, assim, que a abordagem do desgaste
lidades psíquicas. Assim, o componente desgastante mental, enquanto perspectiva de estudo, rompe
no trabalho faz-se maior do que o componente de com concepções biologicistas e individualizan-
reposição e de desenvolvimento das capacidades no tes. Essa abordagem integra o campo da SMRT, no
trabalho. A autora sintetiza, qual o trabalhador é compreendido como um indi-
víduo dotado de subjetividade e que está imerso
o desgaste é visualizado como produto de uma corre- em macro e microcontextos sociais, econômicos
lação desigual de poderes impostos sobre o trabalho
e políticos. Com isso, não é possível entender o
e sobre o trabalhador, acionando forças que incidem
no processo biopsicossocial saúde-doença. Ou me- trabalhador sem que se entenda o seu trabalho, e
lhor, uma correlação de poderes e forças em que o vice-versa.
executante do trabalho torna-se perdedor.
Devemos, portanto, compreender a complexi-
Dessa forma, Seligmann-Silva5, baseada na teo- dade dos diversos patamares, para que os aspec-
ria da medicina social latino-americana, mostra- tos do trabalho – que podem afetar a saúde mental
-nos que o desgaste é vivenciado pelo trabalhador do trabalhador – sejam tomados como objetos de
em situações em que o trabalho consome seu corpo reflexão, pois, apesar das discussões e dos estudos
e seu potencial psíquico, devido, principalmente, sobre o tema, os adoecimentos no trabalho conti-
às cargas de trabalho às quais estão expostos e às nuam em crescimento, configurando-se como um
condições precárias encontradas nos ambientes de importante problema de saúde pública na atuali-
trabalho. No que se refere especificamente ao des- dade. Tal fato aponta a importância dos sindica-
gaste mental, a autora afirma tratar-se da integra- tos, enquanto legítimos representantes dos traba-
ção entre os fatores ambientais e psicossociais, do lhadores – inclusive, no âmbito do controle social
mundo subjetivo e da identidade do trabalhador no SUS – na luta por condições de trabalho menos
em seus micro e macrocontextos, e também das insalubres.
relações de poder presentes em todas as esferas
sociais. Assim, além do desgaste físico, há ainda O campo da Saúde do Trabalhador e os sindicatos
os diversos impactos na saúde mental do trabalha-
dor, que correspondem tanto ao desgaste mental No Brasil, o campo da Saúde do Trabalhador se
literal – orgânico, que envolve, por exemplo, danos desenvolveu no mesmo contexto histórico do res-
corporais, biológicos e neurológicos devido à expo- surgimento do movimento sindical. Em ambos, as
sição a substâncias neurotóxicas – como à fadiga reivindicações e a participação dos trabalhadores
mental e física, que envolve alterações psicológicas foram essenciais, refletindo a força das reivindica-
e fisiológicas transitórias e cumulativas; e, por fim, ções sociais que eclodiram no período final da dita-
desgastes que afetam a subjetividade e a identidade
dura militar. Nesse período, o movimento sindical,
do trabalhador, mediante a corrosão de seus valo-
combativo e classista, obteve maior relevância, e a
res e de seu caráter, conforme aponta Sennett14.
luta pela saúde do trabalhador foi uma das pautas
Tendo como base o que propõe Seligmann- que culminaram em diversas conquistas.
Silva 5, a compreensão do processo de desgaste
mental do trabalhador deve considerar a análise Atualmente, com as contradições do trabalho
de diferentes patamares, que incluem o contexto contemporâneo e sua precarização, tanto as ações
internacional, os contextos nacionais, as empre- reivindicativas do movimento sindical quanto a
sas, o espaço microssocial do local de trabalho e luta pela saúde dos trabalhadores acabaram por se
as características individuais dos trabalhadores. enfraquecer. De modo geral, podemos dizer que o
Desse modo, existem aspectos importantes a serem individualismo e a alta competitividade dentro do
analisados, tais como o ambiente físico, químico e âmbito do trabalho, seguindo os valores propagados
biológico, as relações de trabalho, relações inter- pelo capitalismo contemporâneo, colaboraram para
pessoais, sistemas sociais, posição no mercado e o enfraquecimento da luta pelo coletivo, que carac-
atual situação da empresa, cultura organizacional, terizou a história de muitos sindicatos no Brasil. Nas
política de pessoal, uso de tecnologias, conjuntura palavras de Rodrigues15:

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É verdade que o sindicalismo, mesmo vivendo mun- assegurados aos trabalhadores, que possam garantir
dialmente uma situação defensiva, bem diferente a preservação de sua saúde, especialmente, de sua
daquela que era a norma até meados dos anos de
saúde mental, que, como já apontado neste texto, fica
1970, no nível da empresa, dadas certas condições,
discute/negocia o tema da participação nos lucros e bastante vulnerável nos modelos de trabalho predo-
nos resultados, nas orientações dos investimentos, minantes na atualidade.
em alguns casos, notadamente no âmbito da cidade
ou da região onde o sindicato está estabelecido, bem
No entanto, um recente documento elaborado
como o tema da tecnologia. No entanto, no horizonte pelo Departamento Intersindical de Estatística e
do movimento operário ou do sindicalismo - atual- Estudos Socioeconômicos (DIEESE)18 – ao analisar
mente - o móvel de sua luta é menos a busca pelo o conteúdo das cláusulas negociadas e das reivin-
controle da produção e pela emancipação socialista dicações sindicais – sinaliza que a saúde do traba-
a partir do local de trabalho e mais a tentativa de lhador pouco aparece nas pautas. A maior parte da
inclusão na chamada sociedade de consumo.
luta sindical ainda se refere a questões salariais e de
benefícios. Ao tratar da saúde, as pautas sindicais,
Segundo o autor, as grandes organizações sin-
no máximo, fazem referência à eliminação de riscos
dicais foram perdendo força e, nesse sentido, a
físicos do ambiente de trabalho. A partir desse diag-
capacidade de confrontação com o capital foi se
nóstico, a entidade também destaca a necessidade de
enfraquecendo. Com a competição do mundo glo-
incorporar as questões da saúde mental dos trabalha-
balizado, a instabilidade e as incertezas econômicas
dores nas discussões e nas pautas sindicais.
– características da contemporaneidade –, as insti-
tuições sindicais foram extremamente desestabiliza- Desse modo, este artigo parte do pressuposto de
das. Rosso16 indica que, atualmente, o Brasil possui que a participação dos sindicatos é essencial para
um alto número de sindicatos de trabalhadores. Em que se entenda a complexidade do desgaste mental
2012, o Ministério do Trabalho e Emprego registrou do trabalhador e se faça frente às condições que o
9.954 entidades com certificado ativo, cerca de 8% geram, considerando o contexto de flexibilização
a mais do que em 2001. Em um contexto de enfra- e precarização no qual o mundo do trabalho está
quecimento do poder de combate sindical, essa frag- imerso atualmente.
mentação das entidades revela a busca por espaços Também levamos em conta as afirmações de
políticos, por verbas do imposto sindical, por divi- Bihr19, segundo o qual, os sindicatos devem buscar
são territorial e por puro corporativismo, e isso, no formas criativas de luta e romper com ações tradicio-
entanto, não resulta na elevação da capacidade de nais. Esse autor afirma que, apesar do sindicalismo
luta do movimento sindical como um todo. passar por uma crise, ele ainda pode ser o principal
Tanto Rosso16 quanto Rodrigues15 afirmam que movimento de emancipação humana nas próximas
a postura defensiva e a fragmentação do movimento décadas. Para isso, é necessário que sejam adotadas
sindical têm implicado poucas ações propositivas – vias de renovação, que permitam enfatizar os desa-
ações que, no máximo, têm sua atenção voltada para fios globais a serem superados e tragam reivindica-
a manutenção dos direitos já conquistados. Além ções que sejam dignas de credibilidade, capazes de
disso, a terceirização também colabora para dividir restabelecer a esperança e a confiança nos trabalha-
os trabalhadores. Para Sant’Annab, a contratação de dores, dando origem a um movimento alternativo,
funcionários por meio de serviços terceirizados é diferente do tradicional.
uma forma de enfraquecer o movimento sindical, já Acreditamos que ações mais criativas, com foco
que coloca dentro do mesmo ambiente trabalhado- em questões de saúde vivenciadas pelos trabalhado-
res filiados a diferentes sindicatos, o que acaba por res na atualidade – especialmente a saúde mental –
diminuir a coesão grupal17. poderiam, inclusive, fortalecer os próprios sindicatos
Lacaz6 aponta a fragilidade do movimento sindi- junto às suas bases.
cal na atualidade como um dos elementos que impe-
dem o avanço do campo da Saúde do Trabalhador.
Cabe lembrar que, historicamente, o movimento sin-
Considerações sobre o método da
dical contribuiu muito para as conquistas no âmbito pesquisa
do trabalho, inclusive para a implantação do campo
da Saúde do Trabalhador no Brasil. Sendo assim, A pesquisa teve caráter qualitativo e as informa-
podemos afirmar a necessidade de fortalecimento ções foram obtidas por meio de entrevistas reflexi-
dos sindicatos, a fim de que sejam desenvolvidas vas em profundidade, como propõe Hammersley
práticas de enfrentamento da precarização, para que e Atkinson20. Os entrevistados foram incentiva-
se consiga melhores condições de trabalho e direitos dos a falarem livremente, favorecendo, assim, a

b Juiz do Trabalho e presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho.

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compreensão de suas concepções a respeito da Minayo22, que defende a união de elementos da her-
SMRT e das ações realizadas ou que poderiam ser menêutica e da dialética, que facilitam a compreen-
empreendidas pelos seus respectivos sindicatos são e interpretação dos textos, das falas e dos depoi-
sobre questões relativas a esse tema. mentos, como resultado de um processo social e de
conhecimento, fruto de múltiplas determinações.
Foram realizadas cinco entrevistas com represen-
tantes sindicais legitimamente eleitos junto a sindi-
catos de diferentes categorias profissionais, sendo:
professores da rede privada, químicos, bancários,
Resultados e discussão
petroleiros e metalúrgicos. Tais sindicatos estão vin-
culados a diferentes centrais sindicais, entretanto, A apresentação dos resultados da pesquisa divide-
não iremos fornecer maiores especificidades para -se em dois tópicos: um dedicado às concepções dos
garantir o sigilo e o anonimato contratado com os representantes sindicais a respeito da relação entre
entrevistados. É importante ressaltar, ainda, que a saúde mental e trabalho e, outro, às possíveis formas
seleção dos participantes se deu de forma intencio- de enfrentamento adotadas na prática sindical em
nal. Segundo Duarte21, na pesquisa qualitativa, o relação ao processo de saúde/adoecimento mental
pesquisador pode escolher os participantes por juízo do trabalhador.
particular, como conhecimento do tema ou represen-
tatividade subjetiva. Assim, buscamos representan- Concepções dos representantes sindicais acerca da re-
tes de sindicatos com histórica e reconhecida traje- lação entre saúde mental e trabalho
tória na defesa da saúde do trabalhador, priorizando
os sindicalistas responsáveis pela área de saúde da É interessante destacar que, ao tomarem conhe-
entidade, que apresentassem proximidade com esse cimento da temática da pesquisa, todos os entre-
tema ou que tivessem participado da luta pela cons- vistados iniciaram suas falas fazendo referência ao
trução da Saúde do Trabalhador no Brasil. contexto social mais amplo e suas análises, na maior
parte das vezes, foram próximas ao que se encontra
A pesquisa foi aprovada por comitê de ética na literatura crítica sobre o tema.
(CAAE: 20792913.1.0000.5481) e, em todas as entre-
vistas, foi entregue um termo de consentimento livre O maior destaque, apresentado por todos os entre-
e esclarecido, que, depois de lido, foi assinado pelos vistados, diz respeito ao fato de vivermos em um
participantes. As entrevistas, realizadas no período mundo guiado pela lógica neoliberal, que defende a
de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015, tiveram participação mínima do Estado nas questões sociais
duração entre 45 minutos e 2 horas e 30 minutos e e econômicas e cujas características refletem nas
propiciaram rico conteúdo para análise. Com exce- relações interpessoais, nos valores das pessoas e,
ção de uma entrevista, que foi realizada no local de inclusive, na organização e na forma com que o tra-
trabalho do entrevistado, todas as outras ocorreram balho é concebido. O trabalho assalariado atual foi
caracterizado de forma individualizada e competi-
nas sedes dos respectivos sindicatos, de forma tran-
tiva e, além disso, sua crescente precarização gera
quila, sem interferências significativas. Foram entre-
fortes implicações no processo de saúde/doença do
vistados três homens e duas mulheres. No entanto,
trabalhador. Essas afirmações condizem com os estu-
para garantir o anonimato dos sujeitos, optamos por
dos de Franco et al.1 e de Bernardo11, que discutem o
referenciá-los por meio de sua categoria profissional
trabalho na contemporaneidade, com características
no gênero masculino, o que também simplifica a
como a flexibilização e a precarização social, que,
identificação da filiação dos participantes ao longo
por sua vez, repercutem na subjetividade e na saúde
do texto.
mental dos trabalhadores.
Os entrevistados trouxeram falas pautadas na
Conforme destaca o Professor:
vivência com os trabalhadores da sua base, que
refletem toda sua experiência no movimento sin- As condições de trabalho estão cada vez mais difí-
dical. Um deles, inclusive, chegou a se emocionar, ceis para o trabalhador, e estão cada vez mais favo-
ao longo de suas falas, ao contar sobre sua trajetória recendo o adoecimento dos docentes, adoecimento
profissional e suas experiências com trabalhadores tanto mental, psicológico, emocional quanto físico.
adoecidos. Estamos vivendo um período de muito individua-
lismo, os professores estão trabalhando muito, eles
Por fim, cabe ressaltar que as entrevistas foram não têm tempo mais para a assembleia, ou não valo-
gravadas, transcritas e posteriormente analisadas. rizam mais, porque, politicamente, estão com uma
consciência muito rebaixada, estão sobrecarregados
Basicamente, buscamos atribuir sentido às falas dos
de trabalho, então não há tempo para isso. Coletivos
participantes entrevistados, relacionando-as com a que não se reúnem, não pensam sobre sua condição.
teoria estudada e com as percepções das pesquisado- É fundamental os coletivos se reunirem […]. A gente
ras. Essa forma de análise aproxima-se à proposta de adoece com a competitividade entre nós, porque se

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você fica muito obstinado a fazer um caminho muito com relação às centrais de atendimento, o sindica-
próprio, você acaba que não vê quem tá ao lado. lista apontou que, para atingir a quantidade estipu-
lada, os bancários, muitas vezes, recorrem à venda
Em suas falas, os representantes sindicais apon- de produto sem que os clientes tenham pedido, bem
tam a complexidade do contexto de trabalho contem- como a mentiras ao consumidor, o que acaba por
porâneo e, assim, reconhecem que conseguir esta- ferir seus valores e sua ética profissional e pessoal.
belecer o nexo causal entre trabalho e adoecimento
mental é um desafio a ser vencido – o que está de Tais situações indicam o que Sennett14 descreve
acordo com o que discutem Bernardo e Garbin23. como “corrosão do caráter”, situações que acabam
Além disso, eles destacam que a organização do tra- por corromper nossos valores éticos e que podem
balho e dos processos produtivos, as relações traba- ser vistas na relação que estabelecemos com nós
lhistas e as condições físicas do ambiente de trabalho mesmos e com os demais, enquanto resultado das
são fatores que podem gerar um desgaste intenso à condições do sistema capitalista. Seligmann-Silva5
saúde do trabalhador e prejudicar sua organização nos lembra que, além das repercussões sociais, esse
coletiva. contexto também pode provocar sofrimento e afetar
a saúde mental dos trabalhadores.
Para o Petroleiro, um possível causador de adoeci-
mento, no contexto atual, está nas relações de poder A concepção de que, hoje, é considerado normal
e na competição estabelecidas dentro dos locais de ser workaholic também esteve presente na fala de
trabalho, com a chefia e com os demais colegas, todos os representantes sindicais, revelando preocu-
podendo acarretar em isolamento, assédios, humi- pação com a intensificação do trabalho. Seligmann-
lhações, dentre outros elementos que podem condu- Silva et al.2 discutem essa questão e apontam que,
zir os trabalhadores ao sofrimento ou adoecimento atualmente, os comportamentos de workaholic ou
mental. workaddict são comportamentos esperados dos tra-
balhadores. A invasão de outros espaços da vida pelo
O Bancário e o Petroleiro destacaram também a trabalho foi especialmente destacada pelo Professor,
quebra de laços de solidariedade entre os trabalhado- para quem o trabalho dos docentes tem imposto cada
res, decorrente dos modelos de trabalho atuais, como vez mais a necessidade de realizar atividades fora
um fator que favorece o adoecimento. Em suas falas, do local de trabalho – fato que está de acordo com
afirmaram que, muitas vezes, as empresas valo- a pesquisa de Bernardo25, referente a essa categoria
rizam tanto a competição, que isso se torna o guia profissional.
dos trabalhadores no desempenho de suas ativida-
Também os representantes dos petroleiros e dos
des. Assim, eles são estimulados a tentar conquistar
metalúrgicos destacam que existe muita pressão
cargos e espaços superiores aos dos colegas, mesmo
sobre os trabalhadores para alcançarem o maior
que, para isso, tenham que trapacear e/ou desrespei-
ritmo de produção possível. As metas fazem parte da
tar a integridade do outro. O Bancário exemplifica
organização do trabalho no mundo atual e, de acordo
esse aspecto ao se referir às metas que estão muito
com Bruno26, essa pressão vivenciada para atingir
presentes no setor na atualidade. Segundo ele,
os objetivos propostos é uma das principais causas
a gente também percebe a quebra dos laços de solida-
de adoecimento do trabalhador que podem levar à
riedade entre os trabalhadores, que pavimenta muito vivência de conflitos morais.
um caminho para a questão do assédio moral. E aí
Outro aspecto abordado pelo Bancário refere-
não tem uma reação coletiva dos trabalhadores. De
repente, você está muito bem nas metas e eu não, e -se ao fato de muitos trabalhadores irem trabalhar
você começa a ter algum tipo de problema. Eu vou mesmo estando com a saúde mental muito compro-
torcer para que você se atrapalhe no meio do cami- metida, devido à cultura do medo que se instaurou
nho, pois nós somos competidores. E tem trabalha- nas empresas. O entrevistado afirmou que, muitas
dor que, agora os bancos possuem uma grande parce- vezes, “os trabalhadores encontram-se presentes em
la de jovens, que vem muito com essa ideologia, vem
muito com essa cara de competição.
seus locais de trabalho, ainda que estejam deforma-
dos por dentro”. Segundo ele, o trabalhador toma
É interessante notar o destaque desse entrevis- diversos remédios e, mesmo com o psiquismo muito
abalado, continua trabalhando por medo de ficar
tado para o fato de os jovens já chegarem “com essa
marcado, de perder benefícios ou de ser demitido.
ideologia” da competição, evidenciando como tal
Seligmann-Silva5 discute essa condição, denomi-
lógica ultrapassa os espaços de trabalho. Esse mesmo
nada “presenteísmo”, e afirma que, apesar de se tra-
sindicalista também afirmou que, além dessas carac-
tar de um sério problema de saúde pública, é pouco
terísticas, atualmente, os bancários acabam se tor-
conhecida e debatida no Brasil.
nando vendedores de serviços oferecidos pelo banco,
tais como créditos, cartões, investimentos e seguros. As questões da falta de segurança e da violência
Em uma análise similar a de Sznelwar e Uchida24, no trabalho foram abordadas tanto pelo Bancário

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como pelo Petroleiro como importantes geradores do a culpabilização da vítima: “Ah, foi a pessoa que
de desgaste mental. Segundo o Bancário, os assal- falhou no procedimento. Foi ela que rompeu com o
padrão de segurança”. Não, pô. O trabalho tá conce-
tos às agências e aos caixas eletrônicos, cada vez
bido para ser perigoso, já está totalmente relativizada
mais comuns, fazem os trabalhadores se sentirem a questão da proteção absoluta da vida do cara ou
inseguros e desprotegidos em seus locais de traba- não, e aí a culpa é de uma pessoa que foi lá executar
lho. Esse representante sindical oferece, inclusive, o trabalho que era uma rotina?
alguns exemplos, como o sequestro de um tesoureiro
do banco, que teve sua saúde mental intensamente Como complemento a essa fala, podemos res-
afetada. saltar as afirmações do Metalúrgico, que diz que as
tecnologias, cuja presença é inevitável no mundo do
Já o Petroleiro afirmou que, na sua categoria pro-
trabalho atualmente, deveriam estar presentes em
fissional, os trabalhadores de refinarias e de plata-
situações em que os trabalhadores correm risco e
formas petroquímicas convivem com diversos riscos,
em que as condições são insalubres. Assim, pode-
como a exposição a produtos tóxicos, o manejo de
riam colaborar para garantir qualidade de vida e
equipamentos que, se tiverem falhas, pode resul-
não para desumanizar ou para produzir ainda mais
tar em explosões, ferimentos, mortes, dentre outros
risco, como, segundo ele, ocorre em grande parte das
exemplos. Essa vivência gera uma tensão perma-
empresas do seu setor. Essa afirmação encontra per-
nente, tanto com relação à possibilidade de comete-
feita sintonia com o estudo de Praun29, que demons-
rem algum erro que possa gerar consequências gra-
tra que a reestruturação dos processos produtivos
ves quanto pela possibilidade de eles mesmos serem
– incluindo o advento das avançadas tecnologias –,
vítimas, situação que é corroborada pelos estudos de
ao contrário do que se esperava, intensificou a degra-
Alvarez et al.27.
dação do trabalho e da saúde dos trabalhadores.
O Petroleiro relatou, ainda, que alguns trabalha-
dores exercem suas atividades nas plataformas de A questão do trabalho em regime de turnos foi
extração de petróleo, que ficam cerca de 300 a 400 especialmente destacada pelo Petroleiro, o que,
quilômetros da costa. Lá, eles estão isolados e em segundo ele, compromete muito a vida pessoal do
condições mais precárias do que nas refinarias. Isso trabalhador, seu lazer e seu descanso, bem como
também pode contribuir com o adoecimento mental relacionamentos familiares e sociais. Isso pode gerar
desses trabalhadores, conforme destacam Moreno et isolamento, solidão excessiva e prejudicar, portanto,
al.28 e Alvarez et al.27, que afirmam que, no cenário sua saúde. Moreno et al.28 afirmam que exercer ati-
nacional, as condições de vida nas plataformas são vidades em horários noturnos e/ou irregulares gera
consideradas “perversas” ou de “sacrifício”, já que efeitos significativos na saúde e no bem-estar orgâ-
as plataformas, em sua maioria, estão localizadas em nico e social do trabalhador. O Petroleiro comple-
áreas de risco. Assim, até tarefas cotidianas, consi- mentou sua fala dizendo ter conhecimento, inclu-
deradas simples, devem se pautar em procedimentos sive, de casos de suicídio relacionados ao isolamento
que envolvam certa rigidez de conduta, o que acaba que o trabalho em turno de revezamento proporcio-
por desorganizar a vida social dos trabalhadores, nava a esses trabalhadores.
desgastando-os física e mentalmente. O Químico lembrou também que o adoecimento
Analisando esse contexto, o Petroleiro destaca mental dos trabalhadores pode ser derivado de
outro aspecto importante: a forma como se tende uma doença física, como as LER/DORT (Lesões por
a naturalizar esses riscos, como se o trabalho fosse Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares
essencialmente perigoso e coubesse apenas ao traba- Relacionados ao Trabalho)c , que foi produzida
lhador a responsabilidade para prevenir os aciden- pelo trabalho. Assim como afirmam Silva et al.31, o
tes. Ele lembra que os riscos são uma criação social. Químico ressalta que os lesionados sofrem assédio
Segundo ele, moral interpessoal e organizacional, por meio de
humilhações, exclusão e pressão dentro do ambiente
é um troço que está sendo desenhado por seres hu- de trabalho. Alguns trabalhadores não suportam
manos, que está sendo construído e operado por se- viver sob essas condições e preferem pedir demissão,
res humanos, as intervenções são pensadas e execu- enquanto outros ultrapassam seus próprios limites,
tadas por seres humanos, que, em tese, são uns dos
para tentar suportar tal situação, acarretando agravos
melhores técnicos da indústria do país e até mesmo
internacionalmente. […] E essa coisa é tão terrível, à sua saúde mental.
tão complexa e perversa que, quando acontece um
O Bancário, o Petroleiro e o Metalúrgico tam-
acidente desse tipo, assim como em várias outras
ocasiões, da sociedade em geral, acaba acontecen- bém ressaltaram tal questão, além de apontarem a

c De acordo com Lima30, as LER/DORT consistem em lesões desencadeadas por movimentos repetitivos e rápidos, realizados pelos traba-
lhadores sob pressão, para aumentar a produção, que impactam no ritmo de trabalho e também na saúde mental do portador.

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organização do trabalho como principal responsável O Bancário também traz um relato que revela a
pelo adoecimento dos trabalhadores. A seguinte fala seriedade dos agravos à saúde mental no seu setor:
do Bancário exemplifica essa concepção:
Vemos na nossa experiência sindical trabalhadores
Na nossa opinião, o adoecimento acontece por conta que se afastam e conseguem um tratamento e re-
da organização do trabalho, por conta dos processos cuperam parte da sua capacidade de trabalho. Mas
de trabalho dentro dos bancos, da forma de se geren- tem outra parte dos trabalhadores que não consegue
ciar o trabalho […] Mas a gente tinha muitos bancá- voltar ao local de trabalho, que ficam mais incapa-
rios com LER/DORT também e vimos que, a partir da citados. A gente tem casos de depressão, motiva-
LER/DORT, o trabalhador também pode desenvolver da por práticas de assédio moral, que viram uma
um problema e um transtorno mental. síndrome do pânico. A pessoa não consegue nem
pisar mais naquele local de trabalho. Então, nossa
A partir das entrevistas, é possível notar que prática sindical, que não é muito rigorosa ou muito
sistematizada, revela que os bancos não mexem um
todos os participantes da pesquisa foram extrema-
milímetro na questão da organização de trabalho e
mente sensíveis à saúde mental do trabalhador, de formas de trabalhar, e isso sempre recai sobre a
apontando negligência por parte das empresas e do pessoa.
Estado, e se mostrando incomodados com a atribui-
ção de culpa individual aos trabalhadores por seus De acordo com os entrevistados, o trabalha-
problemas de saúde. De acordo com Jackson Filho et dor adoece por conta do trabalho e, quando busca
al.32, a culpabilização da vítima, nesses casos, acaba auxílio em serviços públicos, sente-se ainda mais
por produzir grandes injustiças sociais. Os traba- desamparado, pois o próprio Estado não conse-
lhadores, em geral, são considerados, pela ideologia gue lhe dar o auxílio necessário e não reconhece
capitalista vigente, como pessoas de pouca respon- o nexo do seu problema de saúde com o trabalho.
sabilidade, desprovidas de conhecimentos e educa- Esse duplo desamparo, por parte da empresa e do
ção. Considerando esses aspectos, os sindicalistas Estado, é destacado especialmente pelo Bancário:
entrevistados destacaram a importância da cons-
cientização dos trabalhadores para ações coletivas. A situação que os bancos criam é de não querer
A seguinte fala do Professor é bastante ilustrativa: assumir o trabalhador, não querer assumir a sua
responsabilidade enquanto empregador, né? Isso
O professor vai adoecendo e muitas vezes ele não também é outro fator de extremo desgaste mental,
tem consciência de que ele está adoecendo por con- porque a pessoa se sente desamparada.
ta de suas condições de trabalho. Ele não atribui ao
trabalho, ele atribui a outras questões […] Tomar Em síntese, podemos dizer que todos os entre-
consciência de que as condições de trabalho e esse
vistados mostraram possuir uma visão crítica sobre
adoecimento aparentemente individual […] é um
problema coletivo, que não acomete só a ele, mas a relação entre as características do trabalho na atu-
que acomete a ele também. Claro que ele vai procu- alidade e o comprometimento da saúde mental dos
rar se cuidar, enfim, mas enquanto ele estiver sub- trabalhadores. A ideia da relação trabalho-saúde-
metido sistematicamente a condições de trabalho ad- -doença como um “processo” de desgaste rela-
versas, ele vai ter poucas chances, digamos assim, de
cionado à organização e ao ambiente de trabalho,
ganhar imunidade emocional e física, para enfrentar.
E o enfrentamento não é sozinho, o enfrentamento conforme defendem Laurell e Noriega13, pode ser
é coletivo. identificada na fala de todos os entrevistados, ainda
que nenhum deles tenha feito qualquer referência
Os representantes sindicais afirmam que tentam teórica nesse sentido. O mesmo ocorre com a ideia
combater o olhar essencialmente individualizante de “desgaste mental”. Suas falas apontam aspec-
com relação às causas do adoecimento e da culpa- tos relativos aos diferentes patamares destacados
bilização da vítima, mas ressaltam que isso é ainda por Seligmann-Silva5 e destacam os componentes
mais difícil com relação aos problemas de saúde sociais, que costumam ser ignorados na visão pre-
mental. Conforme afirma o Químico: dominante na sociedade.

Se, para as empresas, uma LER/DORT não é por con- Eles ainda defendem o papel dos sindicatos com
ta do trabalho, imagina então uma doença mental. relação à luta pela saúde dos trabalhadores, inclu-
Para as empresas, você adquire a LER/DORT através sive, porque, devemos lembrar, trata-se de sindica-
de um filho pequeno [por ter de carregá-lo], o filho tos com histórico engajamento nesse campo. Mesmo
é que é o culpado então […]. Mas a doença mental é
apontando dificuldades para desenvolver ações de
pior ainda. Faz nove anos que eu estou no sindicato
e, somente num caso, nós conseguimos provar, dian- enfrentamento em um contexto bastante adverso,
te da justiça, que o trabalhador adoeceu por conta do característico da contemporaneidade, eles apresen-
trabalho com a questão da doença mental. tam possibilidades, conforme veremos a seguir.

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Possibilidades de enfrentamento apresentadas pelos de cultura, o sindicato promovia para os docentes e
representantes sindicais para os cidadãos da região, atividades culturais, ofi-
cinas de artesanato, de canto, oficinas culturais. Foi
Em relação às iniciativas que promovem o enfren- um momento em que o sindicato mais esteve com
os docentes circulando lá dentro. Então, eu tendo a
tamento às questões de SMRT, podemos notar, pelo
achar que essas iniciativas, que não são tidas como
discurso dos entrevistados, que eles acreditam que maçantes como uma assembleia, são atividades que
a principal forma de atingir os trabalhadores e a atraem os docentes.
sociedade como um todo é por meio da conscienti-
zação, rompendo com as concepções hegemônicas, Já o Petroleiro afirmou que uma forma de enfren-
que acabam por ser assimiladas por toda a sociedade, tamento seria a atuação dos sindicatos para o acolhi-
incluindo os próprios trabalhadores. Devemos ressal- mento dos trabalhadores que tiveram algum tipo de
tar que, de acordo com Boltanski e Chiapello33, essas vivência negativa no trabalho ou que apenas quei-
concepções predominantes configuram o “espírito do ram discutir coletivamente os problemas identifica-
capitalismo” de cada época, o qual, por sua vez, pode dos. Essa proposta parece seguir na direção apontada
ser definido como um “conjunto de crenças associa- por Bihr19, ou seja, incorporar questões que fazem
das à ordem capitalista, que contribui para justificar sentido para os trabalhadores da base. Um exemplo
tal ordem e para sustentar, através da legitimação, significativo foi trazido pelo Bancário, ainda que a
os modos de ação e as disposições que são coerentes atividade apresentada não tenha se prolongado por
com ela”. Ainda, segundo os autores: muito tempo:

Enquanto ideologia dominante, o espírito do capita- Nós fundamos um grupo chamado Grupo de Ação
lismo tem, teoricamente, a capacidade de penetrar Solidária em Saúde para discutir o trabalho [e o dis-
em um conjunto de representações mentais próprias cutíamos] tanto individualmente quanto coletiva-
de uma época determinada, de infiltrar-se nos dis- mente. Foi uma experiência muito rica, pois foi nesse
cursos políticos e sindicais e de proporcionar repre- momento que nós conseguimos juntar os trabalha-
sentações legítimas e esquemas de pensamento aos dores. E é sério, todas as reuniões que nós fizemos,
jornalistas e investigadores, de tal forma que sua lotavam o auditório, vinha muita gente […]. O Grupo
presença é, ao mesmo tempo, difusa e generalizada. se tornou um espaço em que as pessoas conseguiam
fazer terapia, porque elas conseguiam perceber, ali
na coletividade, que o problema dela não era único,
Trata-se, portanto, de uma questão que vai muito
então eram muito interessantes as reuniões, porque
além da relação com os empregadores, trata-se de a gente fazia palestra e tal. A gente procurava não
uma ideologia difundida por toda a sociedade. tomar todo o tempo da reunião para deixar espaço
para que eles falassem, e falavam.
Ainda segundo os autores, na contemporanei-
dade, estaríamos vivendo o “terceiro espírito do
Ressalta-se que, de forma geral, os entrevistados
capitalismo”, o qual se vale da globalização e de
admitem que os sindicatos não conseguem resol-
novas tecnologias para promover uma ideologia
ver sozinhos as questões relativas à saúde, espe-
que se pauta no individualismo e na competitivi-
cialmente, à saúde mental dos trabalhadores. Para
dade, entre outras características. Nesse sentido, os
o Bancário, as ações voltadas para esse tema não
entrevistados reconhecem que o movimento sindical
devem se limitar aos sindicatos, mas devem contar
pouco conseguiu avançar no enfrentamento dessas com a presença do Estado, especialmente do setor
características que permeiam os diversos âmbitos da da saúde. Para ele, as ferramentas existem, mas as
sociedade. Por outro lado, trazem algumas experiên- estruturas de saúde pública ainda não estão prepa-
cias significativas, principalmente no que se refere à radas para cuidar do trabalhador, seja em nível de
busca do restabelecimento da união e da solidarie- promoção, prevenção e/ou tratamento. O Químico
dade entre os trabalhadores. e o Professor mostraram estar de acordo com essa
Todos os entrevistados destacaram a importância avaliação, pois ressaltam que a troca de experiên-
de promover ações que incentivem a união – seja dos cia e a união dos sindicatos auxiliam em tais ques-
próprios trabalhadores, como também de sindicatos tões, mas se faz necessária uma forte parceria com o
e de outros âmbitos da sociedade – para conscien- poder público, para haver algum avanço. Segundo o
tizar e combater as causas do adoecimento físico e/ Bancário:
ou mental dos trabalhadores e a maior parte deles
aborda a importância de desenvolver ações para con- A gente tem muitos instrumentos do ponto de vista
da legislação, vamos dizer assim. Por outro lado, têm
seguir a aproximação dos trabalhadores. O Professor as convenções da OIT, em que o Brasil é signatário,
traz um exemplo interessante: que entram por ordenamento jurídico. As ferramen-
tas existem. Nós temos a RENAST, que é a Rede Na-
O sindicato dos professores, por conta até de uma cional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador,
iniciativa do Ministério da Cultura, se tornou um temos os CERESTs, que têm a ver com a política da
ponto de cultura aqui na cidade. Enquanto ponto RENAST, você tem o Conselho Nacional de Saúde

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e, por sua vez, lá dentro, tem a CIST, que é a Comis- Ainda que apresentando diferentes propostas,
são Intersetorial de Saúde do Trabalhador, que é só todos os entrevistados foram unânimes em afirmar
pra discutir a saúde do trabalhador. Só que você não que a conscientização dos trabalhadores sobre as
consegue ter uma integração de tudo isso e […] não
características do trabalho na atualidade e suas con-
chega na ponta […]. Apesar da gente entender que o
Estado tem vários instrumentos, não tem uma efe- sequências para a saúde é fundamental. Tal perspec-
tividade como nós necessitamos. A mão do Estado, tiva é corroborada pelo DIEESE, para o qual, a possi-
a participação do Estado na saúde do trabalhador é bilidade do trabalhador intervir no processo saúde/
fundamental. doença está diretamente relacionada à capacidade
de intervenção sobre seu trabalho18. Nesse sentido,
Dois entrevistados relataram fatos que mostram trabalhadores conscientes da sua exploração e da
que, nas últimas décadas, seus mais importantes relação entre trabalho e saúde/doença poderiam se
parceiros no poder público para o enfrentamento de fortalecer coletivamente para conseguir intervir nas
problemas relativos à saúde têm sido os Centros de condições e nas formas de organização do trabalho,
Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). O de modo a evitar o comprometimento da sua saúde.
Metalúrgico, por exemplo, é categórico ao afirmar Por outro lado, nesse mesmo documento do
que, nessa questão, o sindicato conta com o CEREST DIEESE, é possível perceber que a maior parte do
da sua cidade e ressalta que é o único órgão público movimento sindical brasileiro ainda tem suas reivin-
com o qual se pode contar, o que acaba por sobre- dicações voltadas para questões salariais e de bene-
carregá-lo. Ele afirma ainda que, socialmente, existe fícios. Por isso, a SMRT ainda carece da conscien-
um ideário de que os serviços de saúde pública são tização dos próprios sindicatos. Com relação a esse
demorados e ineficazes, o que não seria verdade. aspecto, é importante dizer que alguns dos entrevis-
tados, especialmente aqueles que estão inseridos no
O Bancário ressalta que não é possível esperar
setor de saúde dos seus sindicatos, apontam, inclu-
apenas ações do Estado e reforça que a conscientiza-
sive, a dificuldade de sensibilizar seus próprios cole-
ção dos trabalhadores é o que faria diferença na luta
gas sindicalistas para questões relativas à saúde do
pelas questões da saúde. Para isso, afirma que, hoje
trabalhador de um modo geral e, mais ainda, para
em dia, as greves não são suficientes e que a visibi- aquelas relativas à saúde mental. Assim, apesar das
lidade das ações deve ser ainda maior do que o que ações citadas por eles, a pauta de reivindicações
elas podem propiciar. O entrevistado refere-se a uma dos seus respectivos sindicatos, ainda que incluam
paralisação nos sistemas do banco que realmente aspectos relativos à saúde, acabam também por prio-
comprometesse o lucro das empresas e não apenas rizar as questões que dizem respeito à remuneração
alguns serviços para os usuários. Para ele, algo que nas negociações com as empresas.
afetasse os programas de tecnologia da informação
seria uma ação mais eficaz. Por isso, os entrevistados destacaram a importân-
cia da formação de sindicalistas para a prática sindi-
Para o Químico, o enfrentamento, além da união cal relativa à saúde, o que, segundo eles, favoreceria
dos sindicatos, deve dar-se também por meio da um olhar diferenciado frente à SMRT. O Professor
mídia, que auxiliaria na conscientização da popula- afirmou que, muitas vezes, nas universidades, os
ção em geral sobre as questões de SMRT. Entretanto, professores sequer sabem o que o sindicato de sua
ele não sabe dizer como conseguir isso em um con- categoria faz e as questões pelas quais ele luta. O
texto em que os meios de comunicação também per- Químico frisou, diversas vezes, a importância da for-
tencem, na grande maioria, a empresas privadas e, mação de novos quadros nos sindicatos. O Bancário,
portanto, com interesse em propagar o “espírito do por sua vez, possui discurso semelhante, dizendo
capitalismo” e não em conscientizar trabalhadores. que a saúde do trabalhador não pode estar disso-
ciada da formação, sob a ótica dos trabalhadores,
Para o Metalúrgico, a forma mais eficiente de das centrais sindicais e de partidos políticos, ou seja,
lutar e combater certas questões, tal como o adoe- envolve tanto a formação acadêmica quanto profis-
cimento relacionado ao trabalho, continua sendo “ir sional e política. Todavia, parece que, junto com a
para as ruas”, referindo-se à greve. Ressaltou tam- informação, é necessária a sensibilização para a
bém outras medidas, como a realização de assem- temática da SMRT.
bleias e a divulgação da causa em jornais e revistas.
Contudo, frente aos demais entrevistados, vemos que
essas medidas são mais tradicionais, podendo ser Considerações finais
consideradas menos criativas diante de um contexto
em que as empresas estão sempre criando novas for- O contato com os participantes propiciou rico
mas de exploração e inibição da organização coletiva conteúdo a ser analisado, já que os entrevista-
dos trabalhadores. dos trouxeram diversas reflexões e experiências

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vivenciadas dentro do movimento sindical, que O que foi possível concluir é que, mesmo entre
ilustram bem como a atual conjuntura capitalista sindicalistas que se mostram conscientes da influ-
proporciona condições de trabalho precárias, que ência do trabalho sobre o processo saúde-doença
acabam por degradar o bem-estar dos trabalhadores, mental e apresentam sensibilidade para seu enfren-
afetando sua saúde mental, já que as prioridades são tamento, existe a constatação de uma enorme difi-
o produto e a produção e não o trabalhador e sua culdade para a adoção de ações sindicais efetivas
saúde. nesse sentido. Tal constatação indica que o enfren-
Frente a esse complexo contexto, os representan- tamento das condições que geram agravos à saúde
tes sindicais destacaram as dificuldades enfrentadas mental dos trabalhadores é ainda um grande desa-
diariamente para estabelecer o nexo causal entre fio a ser enfrentado.
adoecimento e trabalho e para adotarem ações de Seria incorreto afirmar que os entrevistados
prevenção dos agravos à saúde. Em sintonia com a desta pesquisa sejam representativos dos sindica-
literatura crítica referente à saúde do trabalhador, tos em geral, visto que são sindicalistas que têm
além das condições físicas do ambiente de trabalho, aproximação com a questão da saúde do trabalha-
da organização do trabalho e dos processos produ- dor. Todavia, o objetivo desse texto não foi analisar
tivos e das relações trabalhistas, eles também des-
as concepções e práticas de uma mostra represen-
tacam características do atual “espírito do capita-
tativa de sindicalistas sobre a relação entre saúde
lismo”, como individualidade e competição extrema,
mental e trabalho e, sim, de alguns que já apresen-
que têm consequências diretas sobre a subjetividade
tam uma sensibilidade com relação à saúde do tra-
do trabalhador.
balhador. Cremos que essas reflexões possam ser-
A conscientização, a solidariedade e a união dos vir de inspiração a outros sindicatos que ainda não
trabalhadores e de alguns setores da sociedade são priorizam as ações de prevenção da saúde mental
alguns dos principais meios de enfrentamento dessa dos trabalhadores, bem como de outros movimen-
temática, segundo os entrevistados, já que o adoeci- tos sociais.
mento ainda é visto, hegemonicamente, como fruto
de propensões individuais e genéticas, e não decor- Considerando esses aspectos, espera-se, com
rente da forma como o trabalho é organizado e viven- este artigo, propiciar uma reflexão acerca da SMRT
ciado. Contudo, por mais que esses sindicatos apre- enquanto um problema social, que deve ser mais
sentem avanços e consigam construir medidas mais bem discutido, a fim de proporcionarmos a cons-
inovadoras e criativas para atingir os trabalhadores cientização da sociedade como um todo, incluindo
e favorecer a conscientização da sociedade sobre a os trabalhadores, os próprios sindicalistas, a acade-
saúde do trabalhador, fica difícil designar somente mia, entre outras instâncias. Reconhecendo o pro-
às entidades sindicais tamanha responsabilidade. É blema, compreendendo suas causas sociais, pode-
necessária uma aproximação dos diferentes movi- remos avançar na busca de ações que evitem ou, ao
mentos sociais que lutem pela superação do modelo menos, amenizem o sofrimento de um enorme – e
de sociedade imperante na contemporaneidade. crescente – contingente de trabalhadores.

Contribuições de autoria

As autoras contribuíram igualmente na concepção do estudo e no levantamento e interpretação de dados,


na elaboração do manuscrito e na sua aprovação final.

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