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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Estudos em Saúde Coletiva

4º CURSO: APERFEIÇOAMENTO E FORMAÇÃO


PERMANENTE EM SAÚDE DO TRABALHADOR E
SAÚDE AMBIENTAL 2023

CONCEITOS, TEORIAS E MÉTODOS SOBRE AS


RELAÇÕES ENTRE A PRODUÇÃO, O AMBIENTE
E A SAÚDE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Rio de Janeiro, 15 de JUNHO de 2023.

Anamaria Testa Tambellini


Conhecimento

 Segundo Deleuze e Guattari: 3 formas de


conhecimento coexistem atualmente
– Filosofia – conceitos – elaboração/desenvolvimento
– Ciência – proposições – obtenção de verdades
provisórias
– Artes – obras – criação estética

 Outras formas – saberes populares, tradicionais, etc


I- De onde falo

Medicina Social Saúde Pública

Saúde Coletiva P/A/S


Campo de práticas

• Objetivos: Produzir conhecimentos –Ciência


Propor políticas – Querer
Realizar intervenções – Técnica
• Objeto: Processo saúde/doença nas coletividades
• Método:Articulações disciplinares/ profissionais/institucionais
• Produto: Renovação/inovação no campo de saúde rumo ao maior
controle dos processos envolvidos com o par saúde/doença em termos
coletivos
O Percurso do vir a ser da “Saúde Coletiva” (1)
Primórdios – década de 60: Ciência e Terceiro Mundo
 A pressão americana: guerra fria-Medicina Preventiva
 A ditadura: Saúde Pública
 Os resistentes: Medicina Social

Renomeação – década de 70: Política e Saúde


 Apoios internacionais
 A redemocratização
 A incorporação das Ciências Sociais
 Uma nova proposta: Saúde Coletiva –ABRASCO
 Regionalização – A importância da Pós-Graduação
O Percurso do vir a ser da “Saúde Coletiva” (2)
Consolidação – década de 80: Estado e Saúde
 A luta pela redemocratização – Movimento Sanitário
 O estado democrático – 8• Conferência (CNS) - CF
 Os novos parceiros – ALAMES / AIMS
 A rede de ensino e pesquisa em Saúde Coletiva – difusão e
articulação ensino/pesquisa/serviço

Estabilização – década de 90: Ciência e Saúde


 Os efeitos da globalização
 As grandes reuniões de Associações
 A institucionalização das PG “stricto sensu”
 Os mecanismos de avaliação
Crítica ao Modelo Preventivista
- Base: história natural da doença/descrição cronológica do
processo, causalidade linear, modelo biológico, o social como
fator.
- Como elemento da clínica médica (liberal/curativa/individual)
que se opõe à Saúde Pública (estatal/preventiva/coletiva) e a sua
forma alternativa, a Medicina Social;
- Como proposta ideológica de mudança de atitude dos
profissionais de saúde: “disciplina tampão” ocupando espaço
vazio de conteúdo e concretude.
- Como elemento de difícil e contraditória aplicação nos países
dependentes, desde que construído para solucionar problemas de
outra realidade social e de saúde (medicina liberal norte-
americana)
Saúde Coletiva 1
-Campo de práticas(teóricas, políticas e empíricas) articulado por dimensões
complexas/situado por responsabilidades ética, social e política (valor:saúde como bem
comum); limites em construção;
-Núcleo estrutural orientado por necessidades coletivas: cuidado;
-Campo de conhecimento- objeto: processo s/d e condicionantes definição teórica e
metodológica multi/inter/transdisciplinar;
-Campo de ação/intervenção- práticas multifacetárias em equipes;
- Ocupa espaços estratégicos renovando áreas tecnocientíficas;
- Pretende a indissociabilidade indivíduo/coletividade;
- Admite presença das ideologias e propõe como tarefa a identificação, explicitação e
debate destas presenças;
-Assume a necessidade do pensamento filosófico para a crítica de sua produção e
reelaboração dos conceitos (novos?) a serem (re)apropriados pela dimensão do
conhecimetno científico.
Saúde Coletiva 2
Decorrências/Tarefas
-Repensar o conceitos e definições da saúde e da doença;
-Reelaborar criticamente os pressupostos teóricos que
pretendem explicar os processos, elementos, relações e
mecanismos, bem como os fatos, eventos e acontecimentos
que compõem a questão saúde;
-Criar e adaptar metodologias e técnicas adequadas para
abordar, analisar e intervir no campo da saúde;
-Avaliar o uso/aplicação dos conhecimentos
produzidos/apropriados pelas coletividades organizadas nas
escalas institucionais, (multi)setoriais e no campo das políticas
do governo;
Saúde Coletiva e Reforma Sanitária
Movimento Sanitário: principal ator na condução
das medidas reformadoras.
Origem: (final da década de 60): Universidade –
Faculdade de Medicina – Departamentos de
Medicina Preventiva do Estado de São Paulo
Forma: Encontros para discutir Medicina Preventiva:
Fundamentos, objeto, objetivos, ações, limites e
espaço, problemas e alternativas no plano do
cuidado à saúde, docência e conhecimento.
Resultado: Documentos críticos sobre a falência do
Modelo Preventivista
Desenvolvimento do Movimento Sanitário

A constituição de uma produção científica articulada


a práticas políticas e difusão ideológica, enquanto
peça de resistência de grupo profissional no interior
do regime ditatorial brasileiro.

Nascimento de nova consciência sanitária


Mérito do Movimento
 Elaboração do Paradigma analítico (Medicina
Social/Saúde Pública) que possibilitou a construção
da proposta da Reforma Sanitária.
 Nova ética profissional
 Ampliação do arco de alianças
 Novo instrumento de gestão democrática:controle
social
1986 - 8ª Conferência Nacional de
Saúde “Saúde Direito de Todos e
Dever do Estado” (1)

 Momento final da fase propositiva


ideológica do Movimento Sanitário

 Momento inicial da viabilização da


proposta da Reforma Sanitária assumida
democraticamente pela sociedade
1988 – Nova Constituição:
incorpora os princípios da 8ª
Conferência

 1. Assume a saúde como direito social

 2. Determina a responsabilidade do Estado


(ações e serviços) para a garantia do direito
à saúde (políticas para a redução de riscos e
acesso universal e igualitário – promoção,
proteção e recuperação da saúde)
PRODUÇÃO / TRABALHO
AMBIENTE / SISTEMAS SÓCIO-ECOLÓGICOS
SAÚDE / PROCESSOS SAÚDE-DOENÇA
Articulação de 3 elementos complexos:
 Desenvolvimento: processo econômico social
(particularmente a “produção”)
 Ambiente: sistema socio-ecológico
 Saúde humana: processo saúde-doença em sua
expressão coletiva
P/A/S - 1
--Região do campo, definida enquanto questão;
-- Limites em construção;
-- Define-se teórica e metodologicamente em termos
multi/inter/transdisciplinares;
-- Ocupa espaços estratégicos renovando áreas
tecnocientíficas;
-- Pretende a indissociabilidade indivíduo/coletividade;
-- Admite presença das ideologias e propõe como tarefa a
identificação, explicitação e debate destas presenças;
--Assume a necessidade do pensamento filosófico para a
crítica de sua produção e reelaboração dos conceitos (novos?)
a serem (re)apropriados pela dimensão do conhecimetno
científico.
P/A/S –2
Decorrências/Tarefas
-Repensar o conceitos e definições da saúde e da doença;
-Reelaborar criticamente os pressupostos teóricos que pretendem
explicar os processos, elementos, relações e mecanismos, bem
como os fatos, eventos e acontecimentos que compõem a questão
saúde;
-Criar e adaptar metodologias e técnicas adequadas para abordar,
analisar e intervir no campo da saúde;
-Avaliar o uso/aplicação dos conhecimentos produzidos/apropriados
pelas coletividades organizadas nas escalas institucionais,
(multi)setoriais e no campo das políticas do governo;
-Elaborar propostas e mecanismos de controle e prevenção de
doenças e agravos bem como de promoção da saúde e da segurança.
PROCESSO DE PRODUÇÃO (regime econômico)

BEM AMBIENTAL RESIDUOS AMBIENTAIS RESIDUOS AMBIENTAIS

CONSUMO
CONSUMO PRODUTIVO PRÓPRIAMENTE
DITO

OBJETO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO PRODUTO


MERCADORIA

INSTRUMENTOS
MATÉRIA PRIMA

E MEIOS
AGENTE
VALORES
uso troca

RELAÇÕES TECNICAS E SOCIAIS


PRODUÇÃO NO REGIME DO CAPITAL
CATEGORIA FUNDAMENTAL:A MERCADORIA
A TEORIA DO VALOR TRABALHO:
VALOR DE USO/VALOR DE TROCA
PROCESSO DE TRABALHO
RELAÇÕES TÉCNICAS E SOCIAIS
ESTRUTURA: ATIVIDADE/AGENTE
OBJETO
INSTRUMENTOS E MEIOS
PRODUTOS/RESULTADOS
PRODUÇÃO/REPRODUÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO
PROCESSO DE TRABALHO (em abstrato)

MOTIVAÇÃO: necessidades
satisfação
IDÉIA do processo do trabalho

Estrutura: Objeto do trabalho ( bem natural / matéria prima)


Agente do processo (trabalhador / força de trabalho)
Instrumentos e meios (técnicas)
Produto (valor / mercadoria)

Dinâmica: Processo de transformação do objeto em um produto pela ação


de um agente munido de instrumentos e meios adequados, de
acordo com relações técnicas e sociais.
•Ambiente
3 conceitos/ 3 modelos/ 3 possibilidades
de entender a relação com a saúde
Modelo 1- o ambiente como exterioridade ao homem – agressor/ agredido
– Unidisciplinar modelo biologicista
Características: fragmentação com exclusão de partes antropocêntrismo
Relação com a Saúde- Modelo epidemiológico clássico para DIP
Hospedeiro (homem susceptível)
(doença)

(Espécie biológica) Agente Ambiente


(condições)
Causa- efeito (linear)
Conseqüências - positivas/ negativas
Modelo 2 – O ambiente como sistema ecológico
Sistema complexo organizado hierarquicamente e
composto por elementos bióticas e abióticos em relação, dada
fonte de energia (solar) que o percorre – fluxos alimentares/ nichos
Multidisciplinar: biologia + ciências da natureza
Homem: espécie animal
Lógica da Natureza
Relação com a saúde – Modelo ecológico:
Teoria da Nidalidade: doença resultante da penetração do homem
em nichos de espécies patógenas falência adaptativa
(parasitismo)
Modelo 3 – Ambiente como sistema sócio-ecológico

Organização hierárquica/ componentes sociais- biológicos-


físico-químico
Multidisciplinar / alta-complexidade/ incerteza
Homem: anima sócio-político
• Fluxo de energia (alimentares)
• Fluxo de relações sociais (afetivos)
Lógicas em Relação: Lógica da natureza e lógica da sociedade
Relação com a saúde: modelo eco-sócio- sanitário
ALGUNS ELEMENTOS PARA PENSAR A SAÚDE E A
DOENÇA

O CURSO DA MATÉRIA: orgânico/inorgânico


Bio-ecológico
(lógica da natureza) fluxo de energia
cultura
O CURSO DA VIDA HUMANA Psicológico
técnica
(lógica da sociedade) fluxo de relações Sócio-técnico
O CURSO DA HISTÓRIA: - sociais
-econômicos
vida/morte
-políticos
saúde/doença
PENSANDO A PARTIR DA DOENÇA
DOENÇA

PROCESSO EPISÓDIO CONCRETO


coletivo individual
ciência experiência do ser
objeto do conhecimento CONCEITO momento de crise
proposição morte/vida sofrimento
exposição, cura,
prevenção, incapacidade
,cronicidade
CIÊNCIAS FILOSOFIA TÉCNICAS/ARTES
(epidemiologia) (clínica)
determinação/causação nosologia/etiologia
relações mecanismos
UM EXEMPLO: A PARTIR DO CAMPO DE RELAÇÕES P/A/S
- ALGUNS CONCEITOS E DEFINIÇÕES:

Saúde: - estado/ condição/ situação/ atributos


- Ausência de doença
- Bem estar (bio-psico-social)
- Vida digna e prazerosa
- Realização de potencialidades
Dimensões – ciência
experiência concreta de vida
valor/ ideal busca
ELEMENTOS DO CONTROLE DOS PROCESSOS E SEUS USOS: O CASO
DAS VIGILÂNCIAS.

• VIGILÂNCIA: conceito, significado e dimensões – a idéia de vigiar


1 - Vigilância como cuidado: cuidar / estar perto / zelar – a
dimensão do afeto : uma vigilância amorosa, aberta para o outro
porque carrega como princípio o crescimento solidário e a
realização de potências e projetos coletivos consensuais,
respeitadores de desejos e expectativas fundadas no bem querer.
2 – Vigilância como controle: cercear / restringir / delimitar – a
dimensão aversiva: uma vigilância instrumental, fechada por
possibilidades estratégicas de domínio sobre o outro porque
reivindica a coerção/punição como elemento de realização de
projetos de poder elaborados por facções/ grupos particulares
contra formas de ser e estar de outros grupos.
• Ambas as formas supõem a observação de outro, num caso a
observação amorosa e no outro, belicosa.
VIGILÂNCIA EM SAÚDE

TIPOS DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE DE ACORDO COM O OBJETO DA VIGILÂNCIA

VIGILÂNCIA DA DOENÇA/AGRAVO
•VIGILÂNCIA DO DOENTE
•VIGILÂNCIA DOS EXPOSTOS
•VIGILÂNCIA DOS FATORES DE RISCO
•BIOMARCADORES

VIGILÂNCIA DE AGENTES
•VIGILÂNCIA DO AGENTE PROPRIAMENTE DITO
•VIGILÂNCIA ENTOMOLÓGICA

VIGILÂNCIA DE PROCESSOS
•VIGILÂNCIA DE AMBIENTES
•VIGILÂNCIA DO TRABALHO
•VIGILÂNCIA DE SITUAÇÕES DE RISCO/PERIGO
•VIGILÂNCIA DO PRODUTO/ MERCADORIAS
•VIGILÂNCIA DOS RESÍDUOS / PASSIVOS
•INDICADORES BIOLÓGICOS DE EXPOSIÇÃO E EFEITOS

VIGILÂNCIA DE COMPORTAMENTOS “ PREJUDICIAIS” À SAÚDE

VIGILÂNCIA DE SISTEMAS: ECO/ SÓCIO/SANITÁRIA


A PRODUÇÃO DE RISCOS À SAÚDE E OS CAMPOS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE

RISCOS 1

RISCOS 2 PRODUÇÃO VIGILÂNCIA


PROCESSO DE DO
A2 TRABALHO
BENS/ MERCADORIAS TRABALHO
EXCEDENTES VIGILÂNCIA DO
REPARTIÇÃO A1 AMBIENTE

DISTRIBUIÇÃO
RISCOS 3 CONSUMO A3 VIGILÂNCIA
SANITÁRIA
PRODUÇÃO/ REPRODUÇÃO
SOCIAL

A4 A5 A6
LEGENDA
r5a
RISCOS 4 r4a
RISCOS SÓCIO-AMBIENTAIS
RISCOS 5 RISCOS 6
RISCOS DO TRABALHO
r4b r5b
RISCOS DE CONSUMO
RISCOS HISTÓRICOS/CULTURAIS
RISCOS GENÉTICOS/NATURAIS
VIGILÂNCIA VIGILÂNCIA DO
RISCOS PSÍQUICOS
EPIDEMIOLÓGICA COMPORTAMENTO
MOMENTO HISTÓRICO ATUAL
CRISE ECONÔMICA
CRISE AMBIENTAL
CRISE POLÍTICA
CRISE SANITÁRIA

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ?
O QUE É A SUSTENTABILIDADE?
PARADIGMA DE TRANSFORMAÇÃO:
Sustentar/Fundamentar

PARADIGMA DE CONTINUIDADE:
Manter/Continuar
Crises recorrentes do sistema econômico:
1929 – 1987 – 1997 – 1998 – 2000/2002 - 2008
embolso privado dos lucros/socialização das perdas

 Ciclo vicioso: falta de crédito, fechamento de empresas, reduções (massa


salarial, rendimentos, consumo e demanda de bens e serviços),demissões
(diminuição da solidariedade), falência do sistema produtivo (aumento do
mercado informal). Desemprego
 Problema de Saúde Pública

 Estratégias de enfrentamento
– empresas: reengenharia e enxugamento da produção
– governos: flexibilização da legislação trabalhista e afrouxamento das leis
e normas ambientais
 Depredação ambiental
Sustentabilidade Critérios
1. Necessidade de produção/consumo de bens em
quantidade/qualidade adequadas
2. Exigência de que a produção/consumo
- Não contamine o ambiente
- Não exerça pressão inadequada sobre os recursos naturais
(capacidade de regeneração dos ecossistemas.
3. Considere a equidade social
4. Considere a dimensão cultural
5. Considere os juízos éticos
6. Pense/observe/ analise de uma perspectiva temporal e
espacial (escalas: do local ao global) – não hierárquica/
considere a não linearidade das teias de relações que
constituem o mundo.
Avanços no conceito de desenvolvimento sustentável
Articulações de lógicas
Economicamente viável
Economicamente equitativo
Ecologicamente sustentável

Condições fundamentais
Democracia política
Equidade social
Eficiência econômica
Diversidade cultural
Proteção/conservação do meio ambiente

Dimensões do desenvolvimento sustentável


Econômica, ecológica/ambiental, social, cultural, ética, política,
temporal/espacial
CONCEPÇÕES DO DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL (dada a condição crucial para
promover a transformação)
 MERCADO: como força reguladora do desenvolvimento:
abordagem econômico liberal de mercado.

 SUSTENTABILIDADE PLANEJADA: abordagem ecológica


tecnocrata do planejamento em direção a sustentabilidade
ambiental.

 SUSTENTABILIDADE ASSUMIDA SOCIALMENTE:


abordagem política da participação social.
OBRIGADO PELA ATENÇÃO

ANAMARIA TESTA TAMBELLINI


anattambellini@gmail.com

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