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AO DOUTO JUIZO DA 15ª VARA CÍVEL E EMPRESARIAL DE BELÉM

PROCESSO Nº: 0857478-38.2020.8.14.0301

EDITH MARIA CONTENTE NOBREGA, já qualificada nos autos do processo

em epígrafe vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por sua
procuradora signatária, apresentar IMPUGNAÇÃO AO LAUDO PERICIAL,
elaborado pelo nobre perito Dr. PABLO VINICIUS RANGEL CANTO, nos termos
que seguem:

I. DOS FATOS
Busca a Autora desta demanda a reparação dos prejuízos ocasionados pela
parte ré com a realização de sua obra. Ocorre que a Requerida deu início em suas
obras na data de 16 de novembro de 2017, e por falta de técnica e estudos
aprofundados, iniciou-se os transtornos para o imóvel da autora que ora pleiteia.
Frente ao problema, que já perdura há anos, o mencionado expert foi
designado por este d. Juízo e, no dia 27/07 do corrente ano, dirigiu-se ao imóvel
paradigma e realizou perícia com o fito de constatar os danos causados pela obra
realizada no terreno lateral ao imóvel em questão.
Porém, não obstante o conhecimento técnico do ilustre perito, descabida se
apresenta alguns pontos em sua conclusão, uma vez que destoam da realidade dos
fatos, porquanto se passa a expor.

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II. DA ESPECIFICAÇÃO DOS DANOS OCORRIDOS

O laudo técnico solicitado, ao que se caracteriza pela inspeção predial, tem
como foco central o diagnóstico geral sobre as patologias identificadas no imóvel.
Todavia, não restou condizente ao caso concreto.
Em princípio, cabe salientar os danos de comprometimento estético do
imóvel, A construtora, sem pudor e zelo, iniciou sua obra sem se sequer realizar um
projeto que não afetasse o imóvel vizinho, apenas construindo seu empreendimento
sem sequer analisar os riscos futuros. Destarte, é óbvio que a Ré já realizou outras
construções, e deveria ter experiência com a qualidade prestada em seu serviço no
modo que não ocasionasse danos a terceiros.
Frente a isto, consta no referido laudo a desobediência da requerida com
relação a NR 18, que impõe a obrigatoriedade de proteção das edificações vizinhas
caso haja risco de quedas de materiais e outros objetos.
Veja Excelência:

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Sem a devida instalação da proteção, o imóvel da autora recebe constantes

resíduos de obra, no que seria sua área de lazer. Ora, como manter essa área do
imóvel, que se encontra em exposição diária da imperícia da requerida, recebendo
pedras, sujidades, fora o risco a que se expõe a autora de, ao estar nessa área, ser
atingida pelos detritos de obra. Em decorrência de restos da construção nas
dependências da residência, seria necessário limpeza diária de uma, ou até duas
vezes no imóvel.
Sem considerar o fato acima, o ilustre perito imputou a autora a
responsabilidade de manutenção, como exemplo, no item. 7.5: “As ocorrências de
acúmulo de matéria orgânica e sujeira nas paredes internas e no pergolado são
características de manutenção ausente ou deficiente, de responsabilidade da
Autora”. Apenas não se utilizou do nexo existente entre despejos diários de
sujidades de obra, com a impossibilidade de manutenção em decorrência disto.
As restrições ao direito de vizinhança decorrem da necessidade de se
estabelecer limites dentro dos quais o proprietário pode atuar sem causar prejuízos
aos seus vizinhos, haja vista o preceito encartado no artigo 1311 do Código Civil,
segundo o qual não é permitida a execução de obra ou serviço suscetível de
provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que comprometa a segurança
do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas as obras acautelatórias, sendo

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que o proprietário do prédio vizinho tem direito a ressarcimento pelos prejuízos que
sofrer, até mesmo nos casos em que tenham sido realizadas as obras
acautelatórias.
Ainda, são apontados no laudo falha na manutenção pela parte autora, no
que concerne aos itens 7.2, 7.7, 7.11, 7.12. Pelos mesmos motivos expostos
anteriormente, a falha na manutenção está diretamente relacionada à obra da
Requerida. Não há como manter limpas áreas que recebem constantemente
sujidades, respingos de argamassa, dentre outros já citas no referido laudo.
Frente ao exposto, impugna-se veementemente a conclusão do ilustre perito
no que se refere a manutenção destas áreas, visto que as inúmeras fotografias
demonstram, sem qualquer dúvida, a relação de causalidade entre a conduta
negligente e imperita da ré, e os danos sofridos pela autora.
Ainda, resta comprovado que o responsável pela construção não se atentou
para o dever de cuidado necessário ao promover a construção do seu prédio, o que
resultou em recalque da fundação em razão da desestabilização do terreno,
ocasionando fissuras, trincas e rachaduras nas paredes, piso e telhado do imóvel
vizinho. É o caso dos itens 7.1, 7.2, 7.4, 7.6, 7.10, 7.12, 7.13, 7.14, 7.15, 7.16.
Conclui-se, assim, o quanto a obra em questão vem danificando o imóvel
paradigma. Os Direitos de Vizinhança manifestam limites ao Direito de Propriedade,
de modo que o exercício da propriedade não é absoluto especialmente quando viola
ou ameaça a propriedade vizinha, sendo ilegal a construção que cause danos
estruturais ao imóvel vizinho. No caso concreto, há anos a autora tem molestado o
seu bem-estar, situação que supera o mero dissabor do dia a dia
Ora, com tanto a ser reparado, a autora discorda do laudo pericial, que aponta
valores não condizentes com o necessário em se fazer no concernente às
benfeitorias. Veja o valor apontado no laudo, in verbis: “(...) totalizando montante
para a correção de todas as ocorrências constatadas no imóvel da Autora durante a
Vistoria Pericial, estimou-se o valor total de R$ 60.880,79 (sessenta mil e oitocentos
e oitenta

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reais e setenta e nove centavos), tendo como valores unitários de base oficiais e
tem como base o mês de novembro/2022 (...)”.

Excelência, tal valor não condiz com os praticados no mercado atual.

APONTAR UM VALOR?

Nada obstante o direito de o proprietário construir no seu imóvel, há de ser

observado que, na forma disciplinada no artigo 187 do Código Civil comete ato ilícito
o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Assim, tem-se configurado além do dano decorrente do permanente estado
de perturbações, além de graves prejuízos materiais e morais, colocando-a em
situação de desconforto e incômodos desnecessários, os quais desbordaram daquilo
que se considera meros dissabores da vida cotidiana, configurando a obrigação de
fazer e a reparação dos danos causados. Portanto, resta demonstrado o direito da
Requerente em ser reparada por todos os danos causados em decorrência da obra
realizada, principalmente em ver seu imóvel no status quo, em perfeitas condições.
Sendo assim, não há como acolher o laudo do Perito Judicial, que ora resta
legitimamente impugnado pelo Autor, visto que claramente ALHEIO às demais
provas apresentadas.
Ainda, considerando que o Juiz não está adstrito ao laudo pericial, nos termos
do artigo 479 do CPC, é de se prestigiar todos os demais elementos de prova e
reconhecer o nexo entre a obra e os inúmeros danos causados no imóvel da
requerente, a fim de garantir-lhe as condições necessárias para que realize as
correções necessárias.
Pelo narrado, REQUER o julgamento PROCEDENTE da lide para o
deferimento do todos os pedidos ventilados em sede de inicial.

Termos em que pede e espera deferimento.

Belém, 14 de dezembro de 2022.

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KAROLINY VITELLl SILVA

OAB/PA 18.100

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