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contra
I. DA MATÉRIA FACTUAL
1. O Autor é proprietário de uma moradia tipo V2 sito na Rua de Cedofeita, nº45, 4620-
031 Lousada, inscrita na respetiva matriz sob o artigo 8076, estando o mesmo imóvel
descrito na conservatória do registo predial de Lousada, sob o nº 5762 do livro C-19
(cfr. Docs. 1 a 3, que se juntam e se dão por integralmente reproduzidos para os efeitos
legais).
9. Perante esta inusitada situação, o Autor contactou via telefone o responsável pela
realização da obra, também gerente da sociedade Ré, o Sr. Manel Pinto.
10. Tendo-o informado do cenário com que se deparava na sua habitação, o Autor não
obteve qualquer resolução imediata do problema.
12. No dia 08 de Outubro do mesmo ano, o engenheiro civil Serôdio Silva, funcionário
da Ré, dirigiu-se ao imóvel do Autor, e, após verificação do telhado, alegou que os
danos não seriam da responsabilidade da sociedade, mas antes de Eustáquio Silva,
jardineiro do Autor, que havia procedido à limpeza das caleiras.
13. Facto esse curioso, já que Eustáquio Silva não havia prestado qualquer tipo de serviço
na moradia do Autor, desde a data de celebração do contrato de empreitada.
14. Não tendo mais notícias da Ré, o autor efetuou várias chamadas telefónicas para o
número do Sr. Manel Pinto, 910 000 000, bem como para o número da sociedade
222 222 222, não tendo obtido qualquer resposta.
16. A missiva RU23422442PT foi entregue a Manel Pinto no dia 16 de Outubro de 2022.
17. Agindo cautelosamente, o Autor procedeu à retirada dos móveis que estariam a ser
danificados da sua habitação, transferindo-os para a garagem da mesma habitação,
evitando o seu deterioramento.
18. A inércia por parte da Ré manteve-se, obrigando o Autor a recorrer a uma outra
empresa de construção, “Júlio Constrói, Lda”, no dia 27/10/2022, de modo a proceder
à reparação efetiva e integral do telhado (cfr. Doc. 6, que se junta e se dá por
integralmente reproduzido para os devidos efeitos legais).
20. Tal consubstanciou-se num montante total de 5.000,00€ (cinco mil euros).
22. A habitação de Rui Moreira, irmão do Autor, situa-se na Rua Nossa Sr. De Fátima, nº
68, 4585-020 Paredes.
1. DA MATÉRIA DE DIREITO:
A- DO CONTRATO DE EMPREITADA
25. Nos termos do art. 1218.º do CC, “O dono da obra deve verificar, antes de a aceitar,
se ela se encontra nas condições convencionadas e sem vícios”.
26. De facto, o Autor, em agosto de 2022, momento em que a obra foi realizada, verificou
que se encontrava nas condições convencionadas,
29. Assim, de acordo com os arts. 1221.º do CC, o Autor, como dono de obra, pode exigir
que os defeitos sejam eliminados e, caso tal eliminação não seja possível, pode exigir
nova construção.
30. Não sendo eliminados os defeitos ou construída de novo a obra, à luz do art. 1222.º
do CC, pode o Autor exigir a redução do preço ou a resolução do contrato, na medida
em que os defeitos tornem a obra inadequada ao fim a que se destina.
A este propósito,
32. Neste sentido, a finalidade do Autor, como descrito nos pontos 4 e 24, não foi
cumprida, não tendo a Ré realizado a obra em conformidade com o que as partes
tinham convencionado, já que não isolou o telhado da forma como tinha sido
acordado.
33. Contudo, com a realização da obra não só o seu objetivo se viu completamente
frustrado, como se verificou um cenário muito mais degradante do que aquele em que
a habitação se encontrava antes da obra.
35. Todavia, o exercício destes direitos não pode fazer-se de forma aleatória ou
discricionário.
36. Com efeito, o Autor terá o direito a exigir a reparação da obra pela Ré, e, no caso de
recusa por parte desta, a título subsidiário, a restituição do valor já pago, acrescido de
juros, contados desde a data de 10 de outubro de 2022.
37. Na verdade, não obstante o primeiro contacto telefónico do Autor à Ré ter sido
efetuado com sucesso, como descrito supra no ponto 9, os contactos posteriores não
foram bem-sucedido, não tendo o Autor conseguido obter qualquer tipo de resposta
da Ré.
38. Tal significa que o Autor respeitou a ordem que o legislador estabeleceu, uma vez que
exigiu, no dia da ocorrência, a reparação do telhado, vindo, no presente, exigir a
restituição do valor já pago.
39. Posto isto, a jurisprudência tem entendido que “não será necessário estabelecer
qualquer prazo para o cumprimento da obrigação de eliminação de defeitos, se o
empreiteiro desde logo se recusar perentoriamente a efetuar os respetivos trabalhos,
considerando-se então definitivamente incumprida a obrigação” (cfr. Ac. do
Tribunal da Relação do Porto, de 8 de junho de 2022, Processo n.º
7859/21.6YIPRT.P1, Relator Judite Pires, disponível em www.dgsi.pt).
42. Não obstante a falta de necessidade de estabelecer um prazo razoável para a reparação
por parte do empreiteiro, no dia 15 de Outubro de 2023, a Autora interpelou-o,
mediante carta registada com aviso de receção, de que teria 10 dias para reparar a
obra.
43. Este é um prazo razoável, visto ser o estabelecido pelo legislador como o prazo geral
supletivo, nos termos do art. 29.º do CPC.
47. Estando em causa a habitação permanente do Autor, parece-nos que a situação reveste
a manifesta urgência exigida, ficando este possibilitado a recorrer a outro empreiteiro,
de modo a reparar o telhado.
48. Se assim não se entendesse, os danos patrimoniais sofridos pelo Autor teriam um
valor muito superior àquele que, efetivamente, se verificaram.
49. Além disso, de acordo com Ac. do Supremo Tribunal de Justiça, de 7 de dezembro de
2005, Processo n.º 05ª3423, Relator Azevedo Ramos, disponível em www.dgsi.pt, “O
exercício dos direitos conferidos pelos arts. 1221.º e 122.º do CC não exclui o direito
a ser indemnizado nos termos gerais”.
Destarte,
54. Desde logo é necessária a verificação de um facto voluntário do agente, que não se
revela num mero facto natural causador de danos, significando, objetivamente, que o
facto voluntário corresponde a um ato controlável ou dominável pela vontade do
agente.
56. o que revela uma má-fé por parte da Ré, na medida em que, como explicado no ponto
13, o jardineiro não prestou serviços na moradia do Autor desde a data de celebração
do contrato de empreitada.
58. Foram exatamente essas omissões que provocaram os danos sofridos na habitação,
59. pois, no caso de a obra ter sido, desde logo, realizada em conformidade com aquilo
que tinha sido acordado pelas partes, nomeadamente no que as materiais a ser
utilizados diz respeito, o isolamento do telhado não teria permitido a infiltração da
água, tendo os danos sido evitados.
Assim,
61. O Autor, como explicado no ponto 18, viu-se obrigado a contratar com um outro
empreiteiro, “Júlio Constrói, Lda”, contrato esse que foi celebrado sob o preço de
5.000€ (cinco mil euros).
63. Além disso, conforme descrito supra no ponto 23, o Autor passou a residir na
habitação pertencente ao irmão, em Paredes, Conselho do Porto.
66. Em virtude desta ocorrência, de forma cautelosa, o Autor decidiu reunir toda a mobília
na sua garagem, de modo que os danos não fossem superiores àqueles que se
verificaram.
67. O Autor atuou, assim, de forma prudente, com vista a minimizar os danos sofridos.
68. No que concerne à indemnização, deve atender-se aos danos não patrimoniais que, de
acordo com a gravidade verificada, mereçam tutela do direito, nos termos do art. 496º
CC.
71. Neste sentido, o Autor viveu grandes momentos de ansiedade e angústia, em virtude
da incerteza que se instaurou na sua vida.
72. O Autor, que outrora era uma pessoa bem-disposta e extrovertida, passou a ser uma
pessoa mal-disposta e introvertida.
73. A sua habitação própria e permanente que deveria ser um local de refúgio e conforto,
com boas memórias, acabou por se tornar num local de agonia.
74. Os móveis que outrora havia escolhido ou que lhe haviam sido oferecidos, alguns
deles com elevado valor sentimental e insubstituíveis, nomeadamente por se tratar de
prendas de entes já falecidos, foram destruídos.
75. Nestes termos, havendo uma ofensa a bens de caráter imaterial, insuscetíveis de
avaliação pecuniária, porque atinge bens que não integram efetivamente o património
do Autor lesado, temos de atender a uma valoração casuística, orientada por critérios
de equidade (art. 494º ex vi art. 496º, 1º parte do CC).
76. “A indemnização por danos não patrimoniais, a fixar por equidade, visa, além
compensar o dano sofrido, reprovar a conduta culposa do autor da lesão. Tal
compensação deve traduzir a ponderação da extensão e gravidade dos danos
causados, do grau de culpa do lesante, da situação económica deste e a do lesado e
das demais circunstâncias relevantes do caso (...)”, cfr Ac. Tribunal da Relação do
Porto, proc. nº 3924/18.5T8AVR.P1, cujo relator foi Eugénia Cunha, disponível em
http://www.dgsi.pt.
REQUERIMENTO PROBATÓRIO:
I. PROVA TESTEMUNHAL
António Felismino (a notificar)
Eustáquio Silva (a notificar)
As Advogadas,