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EXMO SENHOR JUIZ DO


TRIBUNAL JUDICIAL DA
COMARCA DE PORTO
JUÍZO LOCAL CÍVEL DE PORTO

PROCESSO N.º 0000/PRT00

OBRAS-PRIMAS DO MANEL E DO JOAQUIM, LDA, Ré no Processo, em


que é Autor ANTÓNIO FELISMINO MOREIRA, ambos melhor identificados nos
autos à margem dos presentes autos, notificado da petição inicial por este impetrada, vem
apresentar, nos termos dos arts. 569.º e ss do CPC,

CONTESTAÇÃO

Nos termos e com os fundamentos seguintes:

I – POR EXCEÇÃO – INEPTIDÃO DA PETIÇÃO INICIAL

1. O Autor, na Petição Inicial, não expõe os factos que sustentem o pedido relativo aos
danos não patrimoniais, no valor de 1.000€ (mil euros).

2. Peticiona “o pagamento do Réu em uma quantia nunca inferior a 1.000€, a título de


danos não patrimoniais melhor elencados no artigo 30.º da presente Petição Inicial”.

3. O Autor não alega, nem demostra, com a Petição Inicial, que os pretensos danos
tenham sido efetivamente incorridos pelo Réu.

4. A forma como o autor peticiona o ressarcimento pelos danos não patrimoniais não
permite ao Réu conhecer, de forma efetiva, os prejuízos que por aquele foram sofridos
em virtude da conduta deste.

5. Com efeito, o Autor não categoriza, não qualifica e não descreve os danos que
importam o direito ao ressarcimento a título de danos não patrimoniais.
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6. Assim, o art. 496.º, n. º1 do CC limita a obrigação de compensação por danos não


patrimoniais aos casos em que estes, pela sua gravidade, mereçam tutela jurídica.

7. Ora, se o Autor não descreveu, nem especificou os danos por ele sofridos em virtude
da conduta do Réu, podemos crer que ele próprio não considera esses danos
suficientemente graves para merecerem tutela jurídica.

8. De acordo com o Ac. do STJ, de 07/06/2022, Processo n.º 3786/16.7T8BRG.L1. S3,


Relator Manuel Capelo, disponível em www.dgsi.pt, “A causa de pedir como
conjunto de factos concretos donde emerge o direito que o autor inova e pretende
fazer valer, deve conter todos os factos essenciais, que por indicação do art. 5.º, n.º1
do CPC são os que constituem a causa de pedir”.

9. O douto Acórdão acrescenta que “Sendo essenciais, a falta de um deles implica a


incompletude da causa de pedir e por isso mesmo a ineptidão da mesma, porque essa
falta e essencialidade compromete o conhecimento do mérito”.

10. Pelo exposto, se tais danos não estão alegados nem concretizados na Petição Inicial,
obviamente é impossível averiguar a sua real dimensão, para se poder, na sequência,
concluir ou não pela suscetibilidade de condenação numa obrigação de compensação
pelos mesmos.

11. Concluímos, portanto, que o pedido é manifestamente inepto, improcedente e


inaceitável.

12. Estando em falta a causa de pedir ou sendo esta inteligível, a consequência é a


nulidade de todo o processo, nos termos do art. 186.º, n. º1 e n. º2, al. a) do CPC, o
que obsta a que o tribunal conheça o mérito da causa, dando lugar à absolvição do
Réu da instância, em conformidade com os arts. 576.º e 577.º, al. b) do CPC.

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II - POR IMPUGNAÇÃO

DOS FACTOS
13. Corresponde à verdade o vertido nos artigos 1, 3 a 12 e 14 da Petição Inicial.

14. Desconhecendo a Ré o vertido na segunda parte do artigo 2 e 13 e, o que por ser factos
pessoais ou de que deva ter conhecimento equivale a impugnação,

15. A ré impugna o conteúdo dos artigos 13, 15 a 50, todos da Petição Inicial, porquanto,
se tratam, grosso modo, de factos que não correspondem à verdade.

16. É certo que, no dia 25 de Julho de 2022, foi celebrado um contrato de prestação de
serviços, mais especificamente um contrato de empreitada, entre as partes, nos termos
do art. 1207º CC.

17. Aquando da celebração do contrato, ficou acordado que a Ré se obrigava à reparação


do telhado da habitação própria e permanente do Autor, durante o mês de Agosto de
2022, mediante o pagamento de 4.800,00€ (quatro mil e oitocentos euros), o que
assim fez.

18. As respetivas obras iniciaram-se a 05 de Agosto de 2022, tendo sido finalizadas a 20


de Agosto do mesmo ano.

19. Nesse mesmo dia, o Autor pode comprovar que a obra estaria efetivamente concluída,
tendo afirmado com convicção que estaria de acordo com o pretendido.

20. A Ré é uma sociedade por quotas com objeto social de construção e reparação de
obras, exercendo a sua atividade com sucesso há cerca de 20 anos, sendo certo que,
nunca haviam sido apresentadas quaisquer reclamações por parte de clientes no que
concerne à qualidade da mesma.

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21. Deste modo, a obra entregue ao Autor foi livre de quaisquer vícios, defeitos ou
anomalias que pudessem, de certo modo, prejudicar a sua finalidade, conforme
documento assinado pelo Autor (Doc. 1 que se junta e se dá por integralmente reproduzido para
os devidos efeitos legais1).

22. Tudo isto foi presenciado pelo funcionário da sociedade, o Sr. Joaquim Almeida.

23. Após dia 20 de Agosto a Ré nunca foi contactada ou interpelada de qualquer forma
por parte do Autor.

24. A sociedade, portanto, ficou num estado de total surpresa ao receber a citação em
como seria Ré nos presentes autos, porquanto estaria convicto que o cliente teria
ficado satisfeito com o trabalho realizado.

25. Ainda sem qualquer contacto por parte do Autor, a Ré apenas teve conhecimento que
este teria recorrido a uma outra empresa com a finalidade de reparação do telhado
através dos autos.

DE DIREITO

A- DA FALTA DE INTERPELAÇÃO

26. Nos termos do art. 1218º CC, o Autor procedeu à verificação da obra, antes de a
mesma ser entregue, não tendo encontrado qualquer vício ou defeito.

27. Assim, a partir do momento em que, alegadamente, verificou-se algum problema no


telhado, o mesmo deveria ter sido comunicado à sociedade.

28. Até porque, de acordo com o disposto no art. 1221º, o Autor teria o direito de exigir
à Ré o suprimento do defeito, fosse através de reparação ou substituição.

1
Documento assinado pelo Autor, no qual consta que aceitou, sem qualquer reserva, a obra realizada pela
Réu, reconhecendo a falta de vícios, defeitos ou anomalias.
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29. À luz do Ac. do Tribunal da Relação de Lisboa de 27/01/2013, proc. nº
1139/10.0TJLSB.L1-1, cujo relator foi Pedro Brighton, disponível em www.dgsi.pt,
“O dono da obra tem de interpelar o empreiteiro em ato autónomo para este proceder
à sua eliminação, podendo-lhe fixar um prazo razoável para esse efeito, e logo
conferir-lhe carácter admonitório, de tal modo que, não procedendo o empreiteiro à
reparação nesse prazo, entre em incumprimento definitivo, podendo, então, o dono
da obra recorrer a terceiro para levar a efeito a reparação, solicitando, após, ao
empreiteiro, o pagamento do respetivo custo.”

30. Neste sentido, e de acordo com o Ac. do Tribunal da Relação de Lisboa de 08-09-
2022, proc. 24660/20.7T8LSB.L1-8, cujo relator foi Teresa Sandiães, disponível em
www.dgsi.pt, “sem ter efetuado qualquer advertência de que, se não cumprisse nesse
prazo, a sua obrigação se tinha por definitivamente não cumprida, não logrou
converter a mora em incumprimento definitivo, por inexistência daquela admonição
ou cominação.”

31. Posto isto, ainda que no artigo 42 da Petição Inicial, o Autor tenha alegado a existência
de urgência na reparação por se tratar de habitação própria e permanente, em boa
verdade, se tivesse havido a comunicação ou interpelação quanto à existência de
danos na obra, no imediato momento em que foram detetados, esta teria sido
prontamente reparada, não chegando a existir a situação de urgência.

32. Porquanto, as primeiras chuvas ocorreram em outubro de forma muito ténue, não
comprometendo a integridade da construção e, consequentemente, o recheio do
imóvel.

33. Neste sentido, requerer-se a prova pericial, nos termos do art. 467º e ss CPC.

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B- DO VALOR DESPROPORCIONAL

34. No que diz respeito ao orçamento apresentado pelo empreitado contratado pelo Autor,
“Telas e Telhados do Armindo, Lda”, o valor de 72.000,00€ é desproporcional e
excessivo.

35. Tal desproporcionalidade resulta, desde logo, pela comparação dos preços praticados
no mercado português para a realização do concreto trabalho a que o empreiteiro se
vinculou.

36. Após pesquisa e pedidos de orçamentos a várias empresas relacionadas com a


reparação de telhados, foi-nos transmitido que este trabalho em termos de valores
varia entre 50€/m2 até aos 200€/m2.

37. Uma vez que a moradia tipo V2 possui 100m2 e, ainda que se praticasse o preço por
m2 mais elevado do mercado, o valor total da reparação nunca seria superior a
20.000€ Euros.

38. A desproporcionalidade é, também, notória e evidente quando comparada com o valor


primeiramente cobrado pela Ré, pelo mesmo trabalho e serviço,

39. na medida em que o primeiro orçamento apresentado tinha um valor de 4.800€, ao


passo que o segundo tinha um valor de 72.000€, o que configura uma diferença de
67.200€, para o mesmo serviço.

40. Na verdade, mesmo que os materiais fossem de uma qualidade muito superior, no
momento da celebração do contrato de empreitada o Autor acordou com a Ré que os
materiais utilizados na reparação fossem aqueles que, de facto, vieram a ser utilizados
(cfr. Doc 22 e 33, que aqui se junta e se dá por integralmente reproduzido para os devidos efeitos legais).

2
Contrato celebrado entre Autor e Ré, por escrito, donde constam os materiais que a Ré se obrigou a utilizar
na reparação do telhado.
3
Fotografias do final da obra de reparação do telhado, onde se constata que a Ré utilizou os materiais que
se obrigou a utilizar.
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Nestes termos, face a todo o supra exposto, requer-se a V.ª Exª se digne:

Julgar totalmente improcedente, por não


provada, a Petição Inicial, julgando os autos
totalmente improcedentes e absolvendo a Ré do
pedido.

MEIOS DE PROVA:
DOCUMENTAL: 3 (três) documentos

TESTEMUNHAL:
— Belarmina Moreira, residente na Rua das Flores, nº101, 4588-020 Lousada
— Joaquim Almeida, residente na Rua da Floresta, nº200, 4000-080 Porto

PERICIAL:
— Jorge Vale, indicado pela ré, residente na Rua D. Manuel I, nº1100, 4000-080 Porto

JUNTA: procuração forense, DUC, comprovativo de pagamento e 3 documentos.

As Advogadas,
Inês Castro
Joana Campos
Márcia Durães
Vera Vale

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