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Invalidade de formalidades;
Licença de Utilização.
Em consequência deste pedido deve a ré ser condenada a pagar aos autores a quantia de 594
mil euros correspondente ao valor do sinal em dobro, acrescendo os juros desde a citação ate
ao pagamento integral da quantia mencionada.
Ser a ré condenada a restituir aos autores os montantes entregues por conta da celebração do
contrato promessa no montante de 297 mil euros.
Os autores alegaram que assinaram um contrato promessa sobre imóvel ainda em construção
com o valor total de 990 mil euros; deram a titulo de sinal e principio de pagamento a quantia
de 148 mil e 500 euros (tal como previsto no art.º 441.º do CC). E também a titulo de reforço de
sinal e parte de pagamento igual quantia em 27 de dezembro de 2019, devendo ser o restante
pago aquando da assinatura do contrato prometido (o de Compra e Venda).
A data de celebração do contrato-promessa seria meramente indicativa uma vez que o projeto
da habitação ainda sofreria algumas alterações.
Além disto os autores alegam que a transmissão do imóvel estaria sempre legalmente
impossibilitada por falta de licença de utilização do imóvel para o efeito sendo nulo o contrato
celebrado.
CONTESTAÇÃO
A ré começa a contestação por dizer que a não celebração da escritura de compra e venda no
prazo previsto no Contrato-Promessa e no prazo posteriormente concedido para o efeito se cou
a dever exclusivamente aos autores atribuindo responsabilidade aos autores por não terem
assinado o contrato de compra e venda até ao dia 1 de junho de 2020;
Diz também que os autores “encenaram” arti cialmente o agendamento de uma escritura em
setembro 2020 sabendo já que estavam em incumprimento do contrato promessa.
A ré acaba alegando que o contrato de compra e venda do imóvel em fase inicial de construção
podia ser realizado sem qualquer impedimento legal, uma vez que se tratava de uma
construção com alvará e licença (de construção).
SENTENÇA 1ª INSTÂNCIA
A primeira instância considera procedente o pedido dos autores condenado assim a ré à
resolução do contrato-promessa, com fundamento imputável, de modo exclusivo à ré/sociedade.
Bem como a restituição em dobro do valor do sinal pago pelos autores no montante de 594 mil
euros com os devidos juros vencidos e vincendos.
O tribunal da relação decide absolver a ré da instância. Desta feita os autores não contentes
com a decisão decidem recorrer para STJ, de referir que o tribunal da relação não se pronunciou
acerca do pedido subsidiário dos autores.
Os autores mais uma vez inconformados interpuseram novo recurso de revista, desta feita do
último recurso do Tribunal da Relação, entre outras vicissitudes processuais os autores alegam
que os Juízes Desembargadores zerem confusão e fazem até uma interpretação errónea do
que é uma licença de utilização e licença de construção, sendo conceitos manifestamente
diferentes, quer em termos leigos, quer em termos jurídicos.
Os autores fazem também a distinção entre licença de construção que consiste num alvará de
licença para a construção de um imóvel, já a licença de utilização é um documento emitido pela
Câmara Municipal da área onde se insere a respetiva construção atribuindo assim o tipo de
utilização que aquele imóvel terá, podendo ser de m diverso do da habitação, nomeadamente,
de comércio, serviços ou indústria. A atribuição deste tipo de licenças é da mais alta
importância na medida da organização do território e para evitar o surgimento de con itos
(pense-se nos efeitos de uma industria altamente poluídora ou ruidosa num local de destinado
à habitação, situação muito recorrente).
A ré faz aqui uma adaptação conveniente do previsto no art.º 410/n.º3 do CC, na medida em que
o que é exigido e consta da certi cação do notário a exigência legal de apresentação da licença
de utilização (único documento admissível no caso em apreço) e não a apresentação da licença
de construção que é ardilosamente apresentado como documento “supletivo” na falta da
licença de utilização. Além disto a ré sempre transmitiu sempre aos autores que o imóvel para a
sua transmissão não necessitava de licença de utilização, o que face ao exposto não
corresponde à verdade e à legalidade.
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Os autores referem e bem que por se tratar de um prédio em construção que apenas a licença
de construção seria exigida, de nada serviria uma construção de uma moradia unifamiliar que
depois não pudesse ser utilizada como tal (caso a licença de utilização fosse noutro sentido, daí
a sua importância aquando da assinatura do contrato promessa ou quando não apresentada
nesse momento, em momento posterior, nomeadamente na assinatura do contrato-prometido).
A ré ocultou tais factos aos autores, fazendo constar do contrato promessa a não
obrigatoriedade legal da licença de utilização no caso concreto induzindo os autores em erro,
mesmo sabendo que estavam a prometer transmitir um prédio, uma moradia unifamiliar
destinada a habitação NOVA, pelo que é exigido a licença de utilização, não se enquadrando o
referido caso nas exceções previstas no DL supracitado que excluiriam a necessidade de
apresentação de licença de utilização.
Nessa medida sendo o contrato-promessa concluído e estando este apenas em causa, não o
contrato prometido, está em causa a impossibilidade legal do objeto negocial, por via da
Invalidade, a que sempre corresponderá a nulidade do art.º 280.º do CC, uma vez que o contrato
promessa celebrado tinha um objeto legalmente impossível, contrário à lei, sendo ainda
aplicável o art.º 294.º do CC, pois foi celebrado contra disposição legal de caráter legal
imperativo e insuperável, in casu, a necessidade de licença de utilização, sendo assim nulo,
ainda que já tenha sido concluído.
Refere também a ré que era impossível a existência da licença de utilização (da futura
construção) era impossível que existisse aquando da outorga do contrato-promessa.
(Argumento que sustenta a nulidade do negócio);
O negócio não se concretizou porque os autores não cumpriram com as obrigações do contrato-
promessa.
A ré diz ainda que o imóvel dispunha de todos os documentos necessários para que pudesse ser
outorgado o contrato promessa e a respetiva escritura de compra e venda.
FUNDAMENTAÇÃO
FACTOS 6 A 9