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acecoa.pt/locacao-de-estabelecimento/
Texto
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1. – “AA” instaurou acção declarativa contra “BB – … Lda.” e CC, pedindo que se
declarasse a resolução do contrato de locação de estabelecimento que celebrou com a
1ª Ré, por falta de pagamento das rendas relativas aos meses de Agosto a Dezembro de
2010, Janeiro e Fevereiro de 2011 e que esta fosse condenada a entregar-lhe o
estabelecimento locado, bem como ambas as Rés – a 2ª enquanto fiadora – condenadas
a pagarem-lhe, solidariamente, as rendas mensais vencidas e não pagas, no valor de
7.000,00EUR, bem como das que se venceram até à entrega do estabelecimento, tudo
acrescido de IVA às taxas sucessivamente em vigor.
Alegou, para tal, que locou à 1ª Ré, por contrato escrito celebrado em 31/10/2009, o
estabelecimento de snack-bar melhor caracterizado na p. i., pelo prazo de cinco anos,
com início a 01/11/2009, renovável por períodos sucessivos de três anos, mediante a
contrapartida de 12.000,00EUR/ano, a pagar em duodécimos mensais de 1.000,00EUR,
acrescidos de IVA à taxa legal; que a 1ª Ré deixou de pagar os montantes mensais
relativos aos meses de Agosto a Dezembro de 1010, Janeiro e Fevereiro de 2011; que
ela e a 2ª Ré são solidariamente responsáveis pelo pagamento deste valor e dos
duodécimos vincendos, por esta última ter intervindo no dito contrato como fiadora da
locatária.
Ali, alegaram que o Autor lhes garantiu, aquando da outorga do contrato de locação, que
o estabelecimento dispunha de licença de utilização, o que vieram a verificar, em Agosto
de 2010, não corresponder à verdade; que perante esta situação a 1ª Ré deixou de
pagar as rendas desde então, direito que entende assistir-lhe ao abrigo do disposto pelo
428º do CCiv. – excepção do não cumprimento do contrato -, até que o A. lhe faculte a
licença do estabelecimento.
O Autor replicou, alegando que não tinha alvará de utilização mas possuía uma
declaração camarária que dela dispensava o estabelecimento, sendo que a falta dessa
licença nunca impediu a 1ª Ré de explorar o estabelecimento, pelo que não lhe assiste o
direito de não pagar as rendas enquanto não obtiver o alvará e que existiria abuso na
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invocação da excepção do não cumprimento do contrato, na medida em que a Ré,
apesar da falta de licença, continua a explorar o estabelecimento e a obter proventos da
sua actividade.
Agora é o Autor que pede revista, visando a reposição da decisão da 1ª Instância, para o
que argumenta nas conclusões da alegação:
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I. O Acórdão recorrido parte de uma premissa errada para fundamentar todo o seu
raciocínio que termina com a decisão proferida pelo Tribunal de Primeira Instância e que
se prende com a (des)necessidade da licença de utilização para o estabelecimento
comercial em crise nos presentes autos.
VII.O que a Recorrente transmitiu à Recorrida foi aquilo que a autarquia havia declarado,
que o referido estabelecimento se encontrava isento de licenciamento, nomeadamente
da licença de utilização.
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X.Motivo pelo qual, não se encontra a Recorrida legitimada para opor à Recorrente a
excepção de não cumprimento prevista no art. 428. ° do CC, impondo-se a revogação do
Acórdão proferido pelo Tribunal da Relação do Porto no que concerne à revogação do
contrato de cessão de exploração.
XI.De Agosto de 2010 até Junho de 2011, a Recorrente deixou de pagar não só as
rendas, mas também a água, gás e luz que consumia, obrigando a Recorrida a pagar os
consumos de água, gás e luz que a Recorrente fazia.
XII. Durante cerca de um ano, a Recorrida não pagou qualquer renda, não obstante
continuar a usufruir do estabelecimento.
XIII. Por sua vez, a Recorrente, uma associação desportiva sem fins lucrativos cujo
escopo social é, entre outros, a formação de jovens atletas, não recebeu da Recorrida
qualquer renda e ainda pagou os consumos de água, gás e electricidade que esta
consumiu.
XIV. Conforme bem refere o Acórdão recorrido um dos pressupostos para que se aplique
o instituto da excepção de não cumprimento prende-se com a necessidade das
prestações em causa serem reciprocas.
XV. Não existindo dúvidas que estando em crise nos presentes autos um contrato de
locação de estabelecimento cujo regime legal está previsto no artigo 1109.º e seguintes
do Código Civil e, na ausência de regulamentação própria, a solução terá de ser
encontrada por recurso às regras que regulam o arrendamento comercial.
XVII. Assim, ainda que se admita a necessidade da licença para o legal exercício da
actividade do estabelecimento comercial em causa nos presentes autos, certo é que a
Recorrida recebeu do Recorrente um imóvel devidamente equipado para o exercício da
referida, conforme contratado, tendo explorado o estabelecimento e do mesmo retirado
proveito económico, até à data que entendeu, nunca tendo ficado inibida de explorar o
estabelecimento por falta de licença de utilização.
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XIX. Ficou demonstrado que, apesar da inexistência da licença de utilização e da
consequente inexistência da licença para o exercício da actividade, a Recorrida não ficou
privada do gozo e da exploração do estabelecimento comercial, pelo que não tinha
legitimidade para deixar de cumprir a prestação a que estava obrigada, o pagamento das
rendas, nos termos do art. 428.º do Código Civil.
XX. Não existe uma correlação directa entre a falta de licença de utilização e o não
pagamento da renda para que a Recorrida pudesse opor ao Recorrente a excepção de
não cumprimento, essa correlação só existiria se houvesse um impedimento no gozo do
estabelecimento comercial.
XXIV. É certo que, como bem referiu o Tribunal de Primeira Instância a exploração do
locado possa ser vista como precária (admitindo-se a necessidade de licença de
utilização do estabelecimento comercial), uma vez que, de acordo com notificação
recebida, a Recorrida ficou a saber da possibilidade do estabelecimento ser encerrado.
XXV. A Recorrida jamais foi privada do gozo do locado devido à falta da licença de
utilização, caso em que lhe assistiria, então, o invocado direito ao não pagamento da
renda.
XXVI. Quer a sentença proferida pelo Tribunal da Primeira Instância quer o acórdão
proferido pelo Tribunal da Relação do Porto são unânimes em absolver a Recorrente do
pedido de indemnização efectuado pela Recorrida pelos prejuízos sofridos pela falta do
alvará de utilização.
XXVII. De resto, a própria Recorrida no seu pedido de indemnização pela falta do alvará
de utilização se refere a eventuais danos “se o estabelecimento vier a encerrar por
determinação das autoridades competentes”, o que demonstra que o mesmo ainda não
encerrou.
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XXVIII. Estarmos a equiparar a falta de licença de utilização à efectiva privação do gozo
do estabelecimento comercial, com todas as consequências e danos inerentes, é
exagerado, o que implica que a aplicação da excepção de não cumprimento no caso sub
judice seja desproporcionada.
XXIX. E não se diga que, a licença de utilização, em si, integra o próprio estabelecimento
comercial, e por isso não foi concedido o pleno gozo do estabelecimento comercial à
Recorrida, pois como já foi sobejamente defendido, a inexistência de licença de
utilização não impediu a Recorrida de explorar o estabelecimento, dele retirando lucros e
proveitos, não tendo o mesmo sido encerrado por falta da referida licença.
XXXI. Encontrando-se provado que a Recorrida não efectua o pagamento das rendas
desde Agosto de 2010, sempre poderia a Recorrente, conforme fez, lançar meio do
preceituado no art. 1083°,n º3 do Código Civil, por remissão do n.º 1 do art. 1109º do
mesmo diploma, com vista à resolução do contrato de locação por mora no pagamento
das rendas, sendo judicialmente declarada.
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4. Na qualidade invocada no item 1, a Autora, na pessoa do seu representante legal,
locou à 1ª Ré, também na pessoa do seu representante legal, que assim o tomou, o
aludido snack-bar, por contrato escrito celebrado em 31 de Outubro de 2009.
6. Tal “contrato de locação de estabelecimento”, foi celebrado pelo prazo de cinco anos,
com início no dia 1 de Novembro de 2009, e termo em 31 de Outubro de 2014, renovável
por períodos sucessivos de três anos, se nenhuma das partes entretanto o denunciasse.
11. A Autora enviou as Rés a declaração emitida pela Câmara Municipal da Póvoa de
Varzim na qual o estabelecimento em causa se encontra dispensado de licença
municipal [Das als. B. e C. de tal declaração, datada de 26/03/2009, consta,
respectivamente, “que o imóvel construído no âmbito desta empreitada incluía um
espaço destinado à instalação de um estabelecimento de bebidas” e “que, uma vez que
a obra de construção do imóvel vindo de identificar foi levada a efeito por esta autarquia,
esteve a mesma dispensada de licenciamento municipal, nos termos da alínea b) do n° 1
do artigo 3° do Decreto-Lei n° 445/91, de 20 de Novembro (JusNet 101/1991) (na
redacção introduzida pelo Decreto-Lei nº 250/94, de 15 de Outubro (JusNet 126/1994)),
pelo que a sua utilização não está igualmente sujeita a licenciamento nos termos do
mencionado diploma legal” – doc. fls. 62].
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12. A 2ª Ré solicitou ao Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim fotocópia
simples do processo relativo ao estabelecimento comercial [O teor deste documento é o
seguinte: “Exmo. Senhor, venho pelo presente solicitar fotocópia simples do processo
D/1 096/08 – Not. 4416/10].
13. Em finais de Fevereiro de 2011, a 1ª Ré enviou uma carta registada com aviso de
recepção ao Autor, na qual dava conhecimento ao mesmo dos danos sofridos,
resultantes do corte de abastecimento de energia, no período de 6 de Dezembro de 2010
a 9 de Janeiro de 2011.
17. Sendo a Autora AA conhecida como pessoa colectiva de utilidade pública, tem de
satisfazer os seus compromissos mensais de pagamento de salários a atletas,
treinadores, professores, funcionários e pagamentos a fornecedores, bem como
continuar a prestar o serviço que há mais de 60 anos presta à comunidade local.
19. Não fosse o pagamento das rendas pela Ré, não teria a Autora celebrado tal
contrato, atento o facto desse espaço poder ser-lhe útil para outros fins mais adequados
e adaptados à sua finalidade social.
20. A falta do recebimento do valor das rendas tem causado ao Autor dificuldades no
pagamento dos seus encargos, cuja situação financeira se tem vindo a agravar.
24. A 1ª Ré, logo que iniciou a laboração no estabelecimento, afixou no mesmo, de forma
bem visível, o documento junto a fls. 62 assinado pelo Sr. Presidente da Câmara
Municipal de Póvoa de Varzim, cujo teor se dá por reproduzido, que lhe foi fornecido pelo
autor.
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25. Quando o contrato foi celebrado entre Autora e Ré, o estabelecimento já estava em
funcionamento há muitos anos.
28. Pelo menos, desde aí a 1ª Ré ficou a saber que a C. M. da Póvoa de Varzim havia
instado o autor a legalizar o estabelecimento para a pretendida utilização como
estabelecimento de restauração, nomeadamente através da carta datada de 29.8.2008
que constitui o documento junto a fls. 352 a 353 cujo teor se dá por reproduzido, e havia
comunicado ao autor a intenção da autarquia em proceder ao encerramento do
estabelecimento locado por falta de licença de utilização, nomeadamente através das
cartas que constituem os documentos juntos a fls. 356, 370 e 264, cujo teor se dá por
reproduzido, datadas de, respectivamente, 21.1.2009, 24.3.2010 e 23.8.2010 [Do doc. de
fis. 352-353 destacam-se os seguintes excertos: ” … cumpre informar que: 2.1. as obras
de construção do edifício foram promovidas pela autarquia – (. . .} – e estão, de acordo
com o disposto na alínea a) do n° 1 do art. 7° do DL 555/99, de 16.12 (JusNet
270/1999), ( …), isentas de licença administrativa; 2.2. o alvo da pretensão – emissão de
alvará de utilização de estabelecimento de restauração – carece de licenciamento
específico para a instalação, pelo que o requerente deverá apresentar um pedido de
licença de obras de instalação do estabelecimento, em conformidade com o definido no
art. 9° do DL 555/99 (…), devidamente instruído com os elementos definidos no art. 11°
da Portaria 232/2008, de 11.03 (JusNet 497/2008) e em cumprimento do disposto no
Regime Jurídico da Instalação e do Funcionamento dos Estabelecimentos de
Restauração ou de Bebidas (DL 234/2007, de 19.06 (JusNet 1457/2007))”. Do doc. de
fls. 356 consta, nomeadamente, que “fica V. Exa. notificado para, querendo, no prazo de
dez dias, a contar da recepção do presente oficio, dizer o que se lhe oferecer acerca da
projectada ordem de cessação de utilização ( …) do estabelecimento sito na Rua …, s/n,
nesta cidade” e que “caso não se pronuncie no prazo supracitado, a ordem de cessação
de utilização assume carácter definitivo”. No doc. de fls. 370 diz-se, designadamente,
que “notifico V. Exa. a cessar a utilização do estabelecimento ( … ), devendo a mesma
ocorrer no prazo de 15 dias” e que “caso não cesse a utilização do estabelecimento, no
prazo fixado, será determinado o despejo administrativo ( …)”. O doc. de fls. 264 é igual
ao de fls. 61, já referido no n° 10 supra].
29. Pelo menos a partir da consulta de tal documentação referida em M) [ora n° 12), a 1ª
Ré ficou a saber que o estabelecimento poderia ser encerrado compulsivamente pela
autarquia ou por outras entidades competentes, a qualquer momento.
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31. Autora e lª Ré acordaram que os atletas do AA fariam as suas refeições que são
custeadas pelo Clube, no estabelecimento comercial locado e, em contrapartida, o valor
destas mesmas refeições seria mensalmente descontado no valor da renda mensal
estipulada, o que ocorreu até Agosto de 2010.
33. O autor ainda não emitiu nem apresentou às RR. as facturas correspondentes às
mensalidades de Agosto de 2010 em diante.
36. O quadro eléctrico em questão deixou de funcionar durante cerca de 30 dias situados
entre os meses de Dezembro de 2010 e Janeiro de 2011, em consequência do que o
estabelecimento locado deixou de receber energia eléctrica, o que lhe causou a perda de
bens consumíveis susceptíveis de deterioração em valor não apurado.
4. – Mérito do recurso.
Assim, conclui (cfr. conclusão IX), “conforme decorre desse documento … a utilização do
estabelecimento em crise “não necessita de qualquer licenciamento”.
Está em causa a afirmação dos Julgadores da 2ª Instância em que se escreve: “Não vem
questionado e está provado que o estabelecimento cuja exploração foi cedida pelo autor
à recorrente se destinou à actividade de restauração (snack-bar), que o alvará ou a
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licença de utilização era e é necessário para o exercício dessa actividade (é imposição
do art. 10º do DL 234/2007, de 19/6 (JusNet 1457/2007)), que aprovou o regime de
instalação e funcionamento dos estabelecimentos de restauração e bebidas que anda
vigora) e que o autor (a quem competia diligenciar pela obtenção dessa licença e a quem
a competente autarquia a vinha exigindo desde finais de Agosto de 2008, quando o
estabelecimento ainda era explorado por ele) não diligenciou pela obtenção do
respectivo alvará de utilização (…)”.
Com efeito, como bem sabe, e consta do facto 28., foi informado pela Câmara Municipal,
pela carta datada de 29.8.2008, que constitui o documento junto a fls. 352 a 353, que:
“2.1. as obras de construção do edifício foram promovidas pela autarquia – (. . .) – e
estão, de acordo com o disposto na alínea a) do n° 1 do art. 7° do DL 555/99, de 16.12
(JusNet 270/1999), ( …), isentas de licença administrativa; 2.2. o alvo da pretensão –
emissão de alvará de utilização de estabelecimento de restauração – carece de
licenciamento específico para a instalação, pelo que o requerente deverá apresentar um
pedido de licença de obras de instalação do estabelecimento, em conformidade com o
definido no art. 9° do DL 555/99 (…), devidamente instruído com os elementos definidos
no art. 11° da Portaria 232/2008, de 11.03 (JusNet 497/2008) e em cumprimento do
disposto no Regime Jurídico da Instalação e do Funcionamento dos Estabelecimentos de
Restauração ou de Bebidas (DL 234/2007, de 19.06 (JusNet 1457/2007))”.
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Como esclareceu a Câmara Municipal, não está em causa a isenção de licença
administrativa, que se mantém, mas a falta de “licenciamento específico para a
instalação” do estabelecimento de restauração, a impedir a continuação da sua
utilização.
Numa palavra, não há qualquer dúvida que a falta de licença ou autorização é, como
bem se refere no acórdão, a atinente à instalação ou modificação do estabelecimento,
prevista nos aludidos 6º a 12º do DL 234/2007, respeitando, por expressa remissão
desses preceitos do mesmo DL, os procedimentos previstos no DL 555/99.
Não merece, portanto, qualquer censura a premissa de que partiu a decisão recorrida,
improcedendo a conclusão do Recorrente segundo a qual o estabelecimento não precisa
de qualquer licenciamento.
O Recorrente sustenta não existir reciprocidade entre as prestações contratuais, que são
o gozo do prédio em conjunto com a exploração do estabelecimento e o pagamento das
rendas e não entre a existência da licença para o exercício da actividade
Por isso, mantendo-se a Ré no gozo do locado, jamais poderia opor como exceptio a
retenção das rendas.
Ter-se-ia como aceitável a posição proposta pelo Recorrente se, como o mesmo
pretende, tudo se reconduzisse a uma questão de cumprimento das prestações
recíprocas de um típico contrato de arrendamento comercial.
Aí, sim, não caberia ao locador, mas ao locatário obter, a licença de utilização para a
específica actividade que se proporia exercer no local arrendado.
Tem-se entendido, de facto, ser de proceder à distinção entre licença de utilização para o
exercício de uma actividade genérica (v.g., habitação, comércio, indústria, etc.) e a
licença de utilização ou de funcionamento para o exercício de qualquer espécie desse
género (restaurante, farmácia, consultório médico, etc.).
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Acontece, porém, que como do referido preceito consta, a locação de estabelecimento
(cessão de exploração comercial) não abrange apenas a transferência temporária e
onerosa do gozo dum imóvel, mas inclui, em conjunto, a exploração de um
estabelecimento nele instalado, regendo-se pelas regras do arrendamento, com as
necessárias adaptações.
Ora, de um tal objecto contratual híbrido, bem se vê que tanto a prestação de cedência
do gozo como a de retribuição não coincidem com as típicas do contrato de
arrendamento, na medida em representam um misto que abrange, mediante
contraprestação única, o gozo do prédio e o da universalidade de direito.
Pode, assim, concluir-se que o sinalagma do preço locativo, que se apresenta como uma
prestação com a natureza de obrigação indivisível, é o misto de cedência do gozo do
imóvel (arrendamento) mais, de forma também indissociável, o da exploração do
estabelecimento.
Não pode, pois, perder-se de vista essa especificidade, para, em conformidade, dever
aceitar-se que, em sede de reciprocidade de prestações, se está para além do linear
vínculo do contrato de locação, tal como o define o art. 1022º C. Civil e ressalva o art.
1109º-1, parte final.
No caso, a licença em falta, para a valência que foi cedido o estabelecimento, constitui, a
nosso ver, um dos seus elementos incorpóreos essenciais, por sem ela ser impossível a
continuação da exploração e imposto o encerramento, cuja existência deve ser
assegurada pelo locador.
Sem ela, só pode manter-se uma laboração em termos precários, a cada dia dependente
da efectiva intervenção das autoridades administrativas, no sentido da materialização do
anunciado encerramento.
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E tal precaridade acontece porque o Autor, enquanto devedor na obrigação de
titularidade da licença, não realizou a prestação a que estava vinculado nem se propôs
realizá-la, assim incumprindo o seu dever contratual – art. 762º-1 C. Civil.
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Havendo vínculo sinalagmático a excepção é oponível desde que um dos contraentes
não esteja obrigado por lei ou pelo contrato a cumprir a sua obrigação antes do outro.
É, assim, seguro que o Recorrente, a quem a excepção foi oposta, não cumpriu a
prestação a que estava adstrito contratualmente, encontrando-se demonstrada a
desconformidade entre a prestação devida e a realmente efectuada.
Por outro lado, porque, como também se deixou dito, não se cuida de um mero contrato
de arrendamento, não se tem por afastado o sinalagma contratual.
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Resta dizer que, a uma inexecução parcial, como é a que deve corresponder a um
cumprimento defeituoso, só poderá, em regra, ser oposta uma recusa de prestação
também parcial.
Ora, porque assim é, postula o princípio do equilíbrio das prestações (art. 237º C. Civil)
que a parte da prestação recusada se apresente em relação de proporcionalidade com a
parte incumprida pela outra parte.
Nesta conformidade, perante a oferta de uma prestação parcial defeituosa, deverá ter-se
por legitimada a recusa do pagamento da contraprestação convencionada até que seja
oferecida, por inteiro, a prestação devida, sem que se mostrem desrespeitados os
princípios da proporcionalidade, da adequação e da boa fé a que se aludiu supra.
O acórdão impugnado não merece, assim, a censura que lhe vem dirigida.
4. 3. – Resolução do contrato.
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Não são confundíveis as licenças de construção e de utilização, e respectivo regime de
isenção, previstas no art. 3º-1-b) do DL 445/91, de 20-11 (JusNet 101/1991) e no art.
7º-1-a) do DL 555/99, de 16-12 (JusNet 270/1999), por um lado, e o licenciamento de
autorização para estabelecimento de restauração ou de bebidas, exigido pelo DL
234/2007, de 19-6 (JusNet 1457/2007), a conceder também nos termos do DL 555/99,
como decorre do disposto nos arts. 6º-2 e 10º do DL 234/2007, por outro lado.
Por isso, o sinalagma do preço locativo, como prestação com a natureza de obrigação
indivisível, é o misto de cedência do gozo do imóvel (arrendamento) mais, de forma
também indissociável, o da exploração do estabelecimento.
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da contraprestação convencionada até que seja oferecida, por inteiro, a prestação
devida, sem que se mostrem desrespeitados os princípios da proporcionalidade, da
adequação e da boa fé.
5. – Decisão.
– negar a revista;
DL n.º 47344, de 25 de Novembro de 1966 (Código Civil) (JusNet 1/1966) art. 428; art.
762.1; art. 1109
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