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Estratégia Empreendedora: geração e

exploração de novas entradas

Apresentação
Os empreendedores são indivíduos proativos e que, a partir do seu nível de imersão, conhecimento,
acerca da realidade que o circunda, este é capaz de identificar novas oportunidades de negócios.
Entender como esses indivíduos desenvolvem estas competências é uma tarefa importante, a fim
de gerar uma cultura empreendedora. Ao se visitar a literatura do empreendedorismo, um ponto
fundamental diz respeito as práticas em torno da ação empreendedora, ou seja, os instrumentos
que um empreendedor faz uso para desenvolver conexões e criar significados que repercutam em
novos produtos, novos mercados, novos modelos de organizações etc.

Nesta Unidade de Aprendizagem você conhecerá uma das ações básicas do empreendedorismo,
denominada de nova entrada, que pode ser baseada em um novo produto, novo mercado ou nova
organização. Você aprenderá que as estratégias empreendedoras representam o conjunto de
decisões, ações e reações que primeiramente geram e, depois, exploram, no decorrer do tempo,
uma nova entrada, de modo a maximizar os benefícios da novidade e minimizar seus custos.
Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Entender que a ação básica do empreendedorismo abrange uma nova entrada.


• Identificar como os recursos estão envolvidos na geração de oportunidades.
• Analisar como uma empresa pode criar um pacote de recursos valioso, raro e inimitável.
Desafio
Uma das ações básicas do empreendedorismo é a nova entrada, que está relacionada a:

- Oferecer um novo produto a um mercado estabelecido ou novo;


- Oferecer um produto estabelecido a um mercado novo;
- Criar uma nova organização apesar de o produto ou o mercado ser novo para concorrentes ou
clientes.

Quer esteja associada a um novo produto, novo mercado e/ou nova organização, a novidade
representa um grande desafio para o empreendedor. Por um lado, a novidade apresenta algo raro,
que pode ajudar a diferenciar uma empresa de suas concorrentes. Por outro, a novidade pode
aumentar a incerteza dos empreendedores quanto à importância de um novo produto e colocar
uma tensão maior sobre os recursos necessários para uma exploração bem-sucedida.

Para realizar o desafio, você deverá identificar uma empresa que tenha estabelecido uma nova
entrada. Você poderá escolher entre um dos três tipos de nova entrada que apresentamos no
texto: oferecer um novo produto a um mercado estabelecido ou novo; oferecer um produto
estabelecido a um mercado novo; ou uma nova empresa que foi estabelecida apesar de o produto
ou o mercado ser novo para concorrentes ou clientes.

Você deverá produzir um texto descrevendo:


a) Qual é a empresa que você escolheu e seu negócio de atuação?
b) Qual o tipo de nova entrada que a empresa estabeleceu?
Infográfico
Em uma recente pesquisa desenvolvida pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), verificou-se
que o Brasil é um país com grande potencial para o empreendedorismo. Uma questão fundamental
que caracteriza esse potencial, decorre da maneira estratégica como os brasileiros percebem e
aproveitam novas oportunidades de negócio.

Neste infográfico você verá componentes importantes de uma estratégia empreendedora, que
possui três estágios principais: (1) a geração de uma nova oportunidade de entrada, (2) a exploração
de uma nova oportunidade de entrada e (3) uma malha de realimentação de informações sobre a
geração e a exploração de uma nova entrada voltada para o estágio 1.
Conteúdo do livro
As estratégias empreendedoras representam o conjunto de decisões, ações e reações que
primeiramente geram e, depois, exploram, no decorrer do tempo, uma nova entrada, de modo a
maximizar os benefícios da novidade e minimizar seus custos. A geração de uma nova entrada
resulta de uma combinação de conhecimento e outros recursos em um pacote que seus criadores
esperam que seja valioso, raro e de difícil imitação. Portanto, quem deseja gerar uma inovação deve
examinar as experiências exclusivas e o conhecimento existente de si mesmo e de suas equipes.

Neste capítulo Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas da obra


Empreendedorismo que servirá de base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você
compreenderá como a ação básica do empreendedorismo abrange uma nova entrada. Igualmente,
você verá maneiras de como identificar importantes recursos envolvidos na geração de
oportunidades. Finalmente, você entenderá como um empreendimento pode criar um pacote de
recursos que seja valioso, raro e imitável.

Boa leitura.
EMPREENDEDORISMO

Ligia Maria Affonso


Estratégia empreendedora:
geração e exploração
de novas entradas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer que a ação básica do empreendedorismo abrange uma


nova entrada.
 Identificar como os recursos estão envolvidos na geração de
oportunidades.
 Analisar como uma empresa pode criar um pacote de recursos valioso,
raro e inimitável.

Introdução
O ambiente turbulento, a volatilidade dos mercados, as mudanças de
comportamento do consumidor, os ciclos de vida mais curtos de pro-
dutos e serviços, o avanço da tecnologia e o crescente aprimoramento
da concorrência exigem das empresas atitudes proativas no sentido de
lançar novidades que atendam às necessidades do mercado, saindo na
frente e se destacando junto à concorrência. No entanto, as empresas
devem estar atentas a todos os aspectos que envolvem a geração e a
exploração de novas entradas, uma vez que qualquer falha nesse sentido
pode expor o empreendedor a um grande risco, tornando o novo produto,
serviço ou empresa inviável financeiramente.
Neste capítulo, você vai estudar aspectos relacionados à nova entrada
de um produto, serviço ou empresa no mercado. Você vai também
verificar o papel dos recursos na geração de oportunidades e como
a empresa pode criar um pacote de recursos valioso, raro e inimitável.
2 Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas

Empreendedorismo e a nova entrada


O cenário atual tem sido marcado por muitas transformações, que acontecem
em um ritmo cada vez mais acelerado e que afetam diretamente a vida das
pessoas, das sociedades e das empresas. Tais transformações têm modificado
também a forma como as pessoas consomem produtos e serviços, que se tornam
ultrapassados mais rapidamente, gerando nos consumidores novas necessidades
a serem atendidas. Essas necessidades exigem das empresas maior capacidade
de adaptação e de inovação e novas formas de fazer negócio. Nesse sentido,
todo o esforço direcionado para a satisfação das necessidades do mercado é
fundamental para a sobrevivência e competitividade das empresas. Ou seja,
todo esforço empreendido pode ser considerado estratégico e necessário para
que a empresa continue no mercado.

Estratégia é a ação ou o caminho que guia as decisões e ações da empresa no sentido


de seus objetivos. Ou seja, sua explicitação mostra o que se deseja para o futuro da
empresa e os meios para alcançar o objetivo desejado, conforme lecionam Nickels
e Wood (1999). Por sua vez, a competitividade é a capacidade que a empresa possui
de elaborar e implementar estratégias que lhe permitam ampliar ou conservar, de
forma duradoura, sua sustentabilidade no mercado frente à concorrência, conforme
apontam Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1995).

Assim, a criação de algo novo é o que alimenta a expectativa de as empresas


aumentarem sua participação no mercado e sua lucratividade. Cabe destacar
que a vantagem competitiva de uma empresa está diretamente relacionada à
sua capacidade de introduzir algo novo no mercado que atraia a atenção dos
consumidores e que remunere os investimentos feitos pela empresa, conforme
leciona Baxter (2003).
Mas, você sabe o que é vantagem competitiva? Vamos destacar aqui duas
definições do termo:

 Para Maximiano (2012), trata-se do conjunto de atributos da empresa


e de seus produtos e serviços que influenciam a decisão do cliente, ou
seja, é o motivo pelo qual os clientes preferem um produto ou serviço,
em vez de outro.
Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas 3

 Para Porter (1985), a vantagem competitiva é o resultado do valor que


a empresa cria para seus clientes em oposição ao custo que tem para
criá-la. Dessa forma, a elaboração de uma estratégia competitiva é
essencial para a empresa criar uma posição única e valiosa.

Cabe destacar que a empresa pode obter vantagem competitiva pelos se-
guintes meios:

 inovação, eficiência na administração de custos, eficácia de suas ope-


rações e qualidade de seus produtos, serviços e processos;
 informação e conhecimentos disponíveis;
 tecnologia;
 relacionamento que mantém com seus clientes;
 estratégias de diferenciação de produtos e serviços; entre outros.

Obter vantagem competitiva por meio da diferenciação de produtos e


serviços, por exemplo, é oferecer produtos ou serviços que agreguem valor
ao cliente e que atendam exatamente às suas necessidades — nem mais,
nem menos do que elas. É também trabalhar com preços que aumentem a
lucratividade da empresa — compreendendo todos os custos envolvidos — e,
principalmente, criar um diferencial que seja difícil de ser imitado, conforme
apontam Kotler e Keller (2007).

A diferenciação, em sua forma mais básica, refere-se aos atributos que um produto
possui e que o distinguem do produto da concorrência, tornando-o único e difícil de
ser copiado, conforme lecionam Kotler e Keller (2007).

Você já sabe que o empreendedorismo possui papel importante na economia


de um país, uma vez que a criação de novas empresas impulsiona o mercado,
gerando novas opções de produtos ou serviços que atendam às necessidades
dos consumidores. Nesse sentido, podemos definir empreendedorismo como
a capacidade de reconhecer uma oportunidade para a criação de algo novo,
um novo mercado, um novo modo de produção ou o uso de uma nova matéria-
-prima, conforme lecionam Baron e Shane (2007).
4 Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas

Assim, conforme Hisrich, Peters e Shepherd (2014), a nova entrada é con-


siderada umas das ações mais básicas do empreendedorismo e se refere à:

 oferta de um novo produto em um novo mercado ou em um mercado


já existente;
 oferta de um produto existente em um mercado novo; ou
 criação de uma nova empresa.

É preciso ter em mente que o “novo”, seja um produto, um mercado ou uma


empresa, possui dois lados antagônicos. De um lado, o “novo” representa a
possibilidade de a empresa se diferenciar da concorrência. Por outro lado, o
“novo” pode ser um desafio para o empreendedor, pois gera incerteza em torno
do novo produto ou serviço, requerendo a mobilização de mais recursos que
permitam que a nova entrada seja explorada com sucesso, conforme lecionam
Hisrich, Peters e Shepherd (2014).

A criação de algo novo, seja um produto, serviço ou empresa, ou a extensão destes em


uma nova versão, deve representar uma melhoria radical das opções atuais, capaz de
captar novos clientes e mercados, não se limitando a substituí-las, conforme apontam
Norton e Kaplan (1997).

Cabe destacar que, para gerar e explorar uma nova entrada, é necessário
ter uma estratégia empreendedora, que podemos definir como um conjunto
de decisões, ações e reações cujo foco está nos benefícios do novo produto,
serviço, mercado ou empresa, bem como na redução de seus custos, segundo
Hisrich, Peters e Shepherd (2014). Veja na Figura1 os componentes de uma
estratégia empreendedora e seus principais estágios.
Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas 5

Estágio 3: malha de realimentação de recursos


Estratégia
de entrada

Conhecimento
Avaliação
Pacote da nova Estratégia
Desempenho
de recursos oportunidade de redução
da empresa
de entrada de riscos
Outros
recursos

Organização

Estágio 1: geração da nova entrada Estágio 2: exploração da nova entrada

Figura 1. Estratégia empreendedora: geração e exploração de oportunidades de novas


entradas.
Fonte: Hisrich, Peters e Shepherd (2014, p. 47).

Ainda de acordo com Hisrich, Peters e Shepherd (2014), os principais


estágios da estratégia empreendedora são:

 Estágio 1 — geração de uma nova oportunidade de entrada: é decorrente


da combinação de conhecimentos e outros recursos que o empreendedor
possui, que gera um pacote raro, valioso e difícil de ser imitado.
 Estágio 2 — exploração de uma nova oportunidade de entrada: exige
uma estratégia de entrada e de redução de riscos e depende da organi-
zação da empresa e da competência do empreendedor e de sua equipe
administrativa para o bom desempenho nesse sentido.
 Estágio 3 — malha que retroalimenta as informações sobre a geração e
a exploração de uma nova entrada voltada para o estágio 1: o empreen-
dedor deve estar sempre preparado para gerar e explorar várias novas
entradas ao longo do tempo, pois, ao se limitar a apenas uma nova
entrada, corre o risco de levar a empresa a uma situação de declínio,
quando o ciclo de vida útil do produto entrar na maturidade e decair.
Isso quer dizer que as empresas precisam introduzir continuamente
algo novo para evitar que concorrentes mais agressivos tomem parte
de seu mercado, conforme aponta Baxter (2003).
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Segundo Porter (1985), não existe uma receita ou método padrão para as empresas
alcançarem vantagem competitiva, mas é preciso saber onde buscar os ingredientes.

Recursos na geração de novas oportunidades


Você sabe que uma empresa não funciona sem recursos, certo? São eles os
elementos básicos para que qualquer empresa possa ter um desempenho
satisfatório e sustentável. Podemos definir recurso como uma força que ajuda
a empresa a por em prática suas estratégias competitivas. Trata-se de ativos
tangíveis e intangíveis de uma empresa, como os profissionais e a cultura
organizacional, respectivamente, que ajudam no alcance dos objetivos de
forma eficiente e eficaz. Assim, é possível dizer que os recursos são fontes de
vantagem competitiva, uma vez que exercem impacto direto na atratividade da
empresa, levando a mesma a alcançar altos níveis de rentabilidade, conforme
apontam Barney e Hesterly (2010) e Oliver (1997).
Você pode estar se perguntando: de que forma os recursos podem influen-
ciar a rentabilidade da empresa? Existem quatro pontos de vista que podem
explicar esse fato, segundo Wernerfelt (1984):

 Recursos como inputs (entradas): a produção e o controle a montante


dos recursos por um número reduzido de produtores (ou mesmo por
um grupo monopolista) leva à redução dos retornos para quem adquire/
utiliza tais recursos.
 Recursos como outputs (saídas): a empresa que utiliza determinado
recurso para atender a um único mercado de escoamento (ou seja, um
único cliente) ganha menos do que ganharia caso tivesse mais clientes
a quem vender o seu produto.
 Recursos alternativos fazem com que os retornos esperados do detentor
de determinado recurso sejam diminuídos.
 O fato de uma empresa dispor de um recurso ainda não disponível
aos seus concorrentes (ou seja, a posição de pioneiro) cria vantagens
competitivas na forma de custos adicionais e/ou limitação nos bene-
Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas 7

fícios para os adquirentes posteriores, caracterizando-se como uma


proteção ou barreira de posição do recurso, permitindo, assim, retornos
potencialmente elevados.

Assim, quanto maior for a capacidade de um recurso, de forma direta ou


indireta, de aumentar as dificuldades dos concorrentes, aumentar os ganhos
da empresa que o detém e gerar vantagem competitiva, maior será sua atrati-
vidade. A experiência de produção, as patentes e a liderança tecnológica são
exemplos de recursos, conforme aponta Wernerfelt (1984).
Os recursos podem ser classificados de diversas formas. Veja a classificação
de acordo com Grant et al. (2006):

 recursos financeiros;
 físicos;
 humanos;
 tecnológicos;
 reputação;
 organizacionais.

Barney e Hesterly (2010), por sua vez, subdivide os recursos em três grupos:
recursos físicos, que são os equipamentos, máquinas e materiais; recursos
humanos, que são as pessoas, com suas experiências e relações; e recursos
organizacionais, como o planejamento, a coordenação, etc.
Com relação aos atributos dos recursos, conforme lecionam Dierickx e Cool
(1989), para que os recursos sejam capazes de atingir vantagem competitiva,
eles devem ser não comercializáveis, sendo produzidos e criados internamente
na empresa, não imitáveis, ou seja, difíceis de serem imitados, e não substituí-
veis, ou seja, serem únicos. Já para Grant et al. (2006), os recursos devem ser:

 duradouros, ou seja, demorar a perder sua utilidade;


 ocultos, dificultando sua cópia pela concorrência;
 não transferíveis, ou seja, difíceis de serem adquiridos;
 não imitáveis, sendo desenvolvidos internamente pela empresa.

No entanto, para que os recursos atuem como vantagem competitiva sus-


tentável para uma empresa, ou seja, para que se forme um pacote de recursos
que leve a empresa a um desempenho superior, segundo Barney e Hesterly
(2010) e Hisrich, Peters e Shepherd (2014), tais recursos devem ser:
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 Valiosos: devem possibilitar a busca de oportunidades, minimizando os


efeitos das ameaças, bem como permitir que a empresa ofereça produtos
ou serviços com valor agregado aos clientes e aumentar a rentabilidade
da empresa, reduzindo os custos.
 Raros: devem ser escassos, ou seja, disponíveis a poucos ou a nenhum
concorrente ou possível concorrente.
 Inimitáveis: devem ser difíceis de serem reproduzidos, ou onerosos
demais para a concorrência ou os possíveis concorrentes.
 Não substituíveis: ou seja, devem ser únicos.

Cabe destacar que esses recursos, para que se traduzam em um pacote


de recursos significativo para o empreendedor, devem ser combinados. Isso
quer dizer, por exemplo, que uma equipe de profissionais altamente experien-
tes e competentes, combinada a uma cultura organizacional que estimule o
trabalho em equipe, a comunicação e a criatividade, pode gerar um impacto
muito maior na empresa. Ou seja, os recursos assumem maior amplitude se
combinados adequadamente.
Em resumo, para que contribuam para o alto desempenho de uma empresa,
destacando-se como um diferencial competitivo junto à concorrência e por um
longo período de tempo, os recursos devem ser valiosos, raros, inimitáveis e
insubstituíveis, conforme lecionam Barney e Hesterly (2010) e Hisrich, Peters
e Shepherd (2014).

Segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2014), o termo recurso empreendedor corresponde


à possibilidade de se obter e, depois, recombinar os recursos em um pacote valioso,
raro e inimitável.

Pacote de recursos
Você já viu que os recursos são componentes fundamentais para o sucesso de
qualquer empreendimento, seja ele pequeno, médio ou grande, principalmente
quando estes são combinados e bem administrados, formando um pacote de
recursos valioso, raro e inimitável. Porém, você já se perguntou qual seria a
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base desse recurso empreendedor tão relevante e essencial nos dias de hoje?
Se você respondeu que é o conhecimento, acertou!
O conhecimento é a base do recurso empreendedor e, por si só, já é valioso.
O conhecimento adquirido ao longo do tempo, por meio da experiência, e que
está na mente do empreendedor, é diferenciado, ou seja, é único na vida dessas
pessoas e, por isso, é raro. Este é um conhecimento difícil de ser transmitido
a outras pessoas e, por isso, é mais difícil de ser copiado. Isso explica o por-
quê de o conhecimento ser tão importante para gerar um pacote de recursos
que possibilite que um novo empreendimento seja criado com sucesso e se
mantenha sustentável.
Mas, você pode estar se perguntando: apenas os empreendedores e/ou em-
presas experientes é que geram as novas entradas? Claro que não! Pesquisas
afirmam que as inovações mais radicais surgem no ambiente externo às empresas.
Cabe destacar que o conhecimento formal também é importante para o empre-
endedor, pois o reconhecimento de uma oportunidade resulta da combinação
entre conhecimentos formais e as experiências que o empreendedor possui.
Assim, o conhecimento é importante não só no processo de reconheci-
mento de uma oportunidade como também na geração de novas entradas.
Geralmente, ao pensar em criar algo novo, o empreendedor recorre primeiro ao
conhecimento adquirido com a experiência, aquele que está nele, que é único
e não está em nenhum manual ou sala de aula, conforme lecionam Hisrich,
Peters e Shepherd (2014).

O empreendedor precisa ter o hábito de pesquisar e buscar conhecimentos na área


em que atua para poder inovar. A criatividade, sozinha, não é capaz de transformar
boas ideias em oportunidades de negócios e boas oportunidades em novas entradas
que criem um diferencial competitivo e gerem valor ao cliente, conforme aponta
Dornelas (2013).

Agora eu lhe pergunto: que tipo de conhecimento é relevante para a geração


de novas entradas? Se você respondeu que é o conhecimento do mercado e
da tecnologia, você está correto. Conhecer o mercado significa possuir infor-
mações, tecnologia, know-how e competência necessárias para analisá-lo e
aos seus clientes. Conhecer o mercado e os clientes desse mercado possibilita
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uma análise mais aprofundada, necessária para a identificação dos problemas


dos clientes em relação aos produtos ou serviços existentes. Isso vai permitir
aos empreendedores a criação de algo novo, que solucione o problema, ou
seja, algo novo que satisfaça por completo às necessidades dos consumidores.
É importante destacar que esse conhecimento que o empreendedor deve
ter sobre o mercado deve ser mais amplo do que aquele que se obtém por
meio da pesquisa de mercado. Esta possui uma eficiência limitada, uma vez
que, geralmente, é difícil para os clientes apontarem os problemas básicos
enfrentados com um produto ou serviço. Assim, é condição fundamental para
os empreendedores conhecer o mercado, os consumidores, suas atitudes e
seu comportamento, para que oportunidades atraentes para novos produtos,
serviços ou mercados possam ser criadas, conforme lecionam Hisrich, Peters
e Shepherd (2014).
O conhecimento tecnológico também é uma base essencial para gerar novas
oportunidades de negócio e também requer do empreendedor informações,
tecnologia, know-how e competência necessárias para que uma análise mais
aprofundada possa ser realizada e novas formas de criar conhecimento pos-
sam ser identificadas. Ou seja, o conhecimento tecnológico pode gerar nova
tecnologia, que servirá de base para a criação de uma nova entrada, mesmo
que a sua aplicação no mercado não seja óbvia. Um exemplo disso é o laser,
inventado há mais de 30 anos e que estimulou o surgimento de novas opor-
tunidades de negócio, uma vez que quem possui conhecimento sobre a sua
tecnologia pode adaptá-la para ser utilizada em várias áreas, como navegação,
cirurgias, fibra óptica, entre outras. Ou seja, o empreendedor que conhece
sobre tecnologia terá mais chances de fazer uso das que já existem para criar
algo novo e que atenda às necessidades dos consumidores, conforme apontam
Hisrich, Peters e Shepherd (2014).
O empreendedor não precisa ser um expert em tecnologia, mas, para poder
identificar e explorar boas oportunidades e novas entradas, precisa ser curioso
e buscar informações sobre tendências, estando atento aos problemas que a
evolução tecnológica vem gerando, para que possa sair na frente e buscar
soluções. Ou seja, mesmo que o mundo da tecnologia não seja a área em que
o empreendedor deseja investir, é necessário ter a consciência de que a evo-
lução da tecnologia impacta diretamente em seu trabalho e negócio. Por isso,
é recomendável que o empreendedor acompanhe de perto os acontecimentos
na área, para não se tornar refém dessa evolução que vem transformando o
mundo, conforme leciona Dornelas (2013).
Quanto maior for o conhecimento prévio que o empreendedor possui
do mercado e da tecnologia utilizada para criar um possível novo negócio,
Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas 11

maior sua capacidade de avaliar se o novo é atrativo ou não. Dessa forma,


o empreendedor pode aumentar seu conhecimento por meio de pesquisas.
Quanto maior for seu conhecimento, mais eficiente será seu processo de
pesquisa, uma vez que saberá onde buscar as informações necessárias para
transformá-las em conhecimento útil para a avaliação. Em relação ao tempo
de pesquisa, quanto maior for o período de pesquisa, maiores as chances de
o empreendedor obter informações seguras que o permitam avaliar se seus
recursos são valiosos, raros e inimitáveis.
Ou seja, a maior quantidade de informações permite ao empreendedor
avaliar com precisão a quantidade necessária do produto e impedir que a
concorrência o imite. Por outro lado, quanto maior for o tempo gasto com
pesquisa, maiores os custos financeiros e de tempo, pois o tempo que o empre-
endedor gasta pesquisando para tomar a melhor decisão quanto à atratividade
do produto pode fazê-lo perder uma oportunidade promissora. Isso quer dizer
que as oportunidades surgem e, se não forem aproveitadas, o empreendedor
poderá perdê-las. É a chamada janela de oportunidades.

Segundo Hisrich, Peters e Shepherd (2014), quando a janela de oportunidades se abre,


significa que o ambiente está propício à exploração de algo novo ou de um novo
mercado para algo que já existe. No entanto, essa janela pode se fechar, tornando o
ambiente desfavorável para a exploração de oportunidades.

Assim, após combinar recursos, verificar seu valor e avaliar o poder de


atração do produto, serviço ou mercado, o empreendedor pode explorar a
oportunidade e desenvolvê-la. Lembrando que todas essas ações dependem do
nível de informações obtidas pelo empreendedor ao longo de suas pesquisas,
possibilitando a tomada de decisão mais precisa, conforme lecionam Hisrich,
Peters e Shepherd (2014).
Podemos dizer, então, que a base de sustentação para um novo negócio é
um pacote de recursos valioso, raro e inimitável, formado pelo empreendedor
a partir de seus conhecimentos sobre o mercado e sobre a tecnologia, que,
combinados a outros recursos, permitem à empresa alcançar um desempenho
superior.
12 Estratégia empreendedora: geração e exploração de novas entradas

BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva: conceitos


e casos. 3. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. (Edição do Kindle).
BARON, R. A.; SHANE, S. A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo:
Thompson Learning, 2007.
BAXTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. 2. ed.
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DIERICKX, I.; COOL, K. Asset stock accumulation and sustainability of competitive
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Leituras recomendadas
DORNELAS, J. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 7. ed. São Paulo:
Empreende, 2018.
SILVA, F. A. Geração de valor. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.
Conteúdo:
Dica do professor
Assista ao vídeo a seguir e veja algumas estratégias empreendedoras.

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Exercícios

1) As afirmações abaixo representam o que pode ser considerado em uma nova entrada:

I. Oferecer um produto novo a um mercado já estabelecido.


II. Oferecer um produto já estabelecido a um mercado já estabelecido.
III. Oferecer um produto já estabelecido a um mercado novo.
IV. Criar uma nova organização.
V. Expandir o portfólio de produtos ofertados.

Marque a alternativa correta:

A) Somente as alternativas I, II e III estão corretas.

B) Somente as alternativas II, IV e V estão corretas.

C) Somente as alternativas I, II e V estão corretas.

D) Somente as alternativas I, III, IV estão corretas

E) Somente as alternativas III e V estão corretas.

2) Os recursos são os componentes básicos para o funcionamento e desempenho de uma


empresa. Esses recursos podem ser combinados de várias maneiras, o que denominamos
pacote de recursos. Para que um pacote de recursos seja a base para um desempenho
superior de uma empresa em relação aos concorrentes durante um período de tempo
prolongado, os recursos devem ser valiosos, raros e inimitáveis.

Com base nas informações expostas, marque a alternativa correta:

A) Um recurso pode ser considerado valioso quando permite que a empresa busque
oportunidades, neutralize ameaças e ofereça produtos e serviços valorizados pelos clientes.

B) Um recurso pode ser considerado valioso quando a réplica desta combinação de recursos
seria difícil ou dispendiosa para os possíveis concorrentes.

C) Um recurso pode ser considerado valioso quando é possuído por poucos ou por nenhum dos
concorrentes.
D) Um recurso pode ser considerado raro quando a réplica desta combinação de recursos seria
difícil ou dispendiosa para os possíveis concorrentes.

E) Um recurso pode ser considerado inimitável quando é possuído por poucos ou por nenhum
dos concorrentes.

3) Um recurso que traz vantagem competitiva para uma organização, é aquele que reúne
algumas características: ser valioso, raro e imitável. Porém, há a possibilidade de obter e,
depois, recombinar os recursos em um pacote valioso, raro e inimitável. Quando isso ocorre,
trata-se de:

A) Um recurso empreendedor.

B) O conhecimento do mercado.

C) Uma estratégia empreendedora.

D) Uma nova entrada.

E) Um conhecimento tecnológico.

4) Para que o processo empreendedor tenha êxito e possa gerar vantagem competitiva, é
fundamental se investir em inovação e procurar integrar todos os recursos disponíveis na
organização, a fim de gerar resultados mais alinhados com os propósitos da organização. Por
esse motivo, o conhecimento particularmente relevante para a geração de novas entradas é
aquele relacionado a:

A) Questões técnicas sobre o produto que se deseja ofertar.

B) Mercado e tecnologia.

C) Administração de empresas.

D) Legislação de pessoal.

E) Legislação ambiental.

5) O conhecimento do mercado por parte do empreendedor é mais abrangente do que aquele


que poderia ser assimilado em uma pesquisa de mercado, porque:
A) Devido aos altos custos de realização de uma pesquisa de mercado, ela acaba sendo
inacessível ao empreendedor.

B) A pesquisa de mercado tem uma eficiência limitada porque geralmente é difícil para os
clientes apontar os problemas básicos enfrentados com um produto ou serviço.

C) O conhecimento de mercado não leva em consideração as experiências pessoais do


empreendedor.

D) O conhecimento de mercado não possibilita que o empreendedor faça uma análise profunda
dos problemas enfrentados pelos clientes com os produtos atuais do mercado.

E) A pesquisa de mercado não é bem aceita pelos empreendedores.


Na prática
Um dos grandes desafios para muitos empreendimentos é sobre como identificar vantagens
competitivas em seu modelo de negócio. Ou, em outras palavras, conhecer os valores que a
empresa entrega ao seu cliente. Igualmente, qual destes recursos é realmente um diferencial para o
negócio? Eles são recursos considerados raros e difíceis de imitar? Essas são boas questões a serem
elucidadas.

Neste na prática você conhecerá o caso de um dos criadores do aplicativo (app) WhatsApp, que
saiu de faxineiro a bilionário.

De faxineiro a bilionário, conheça a história do criador do WhatsApp.

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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Empreendedorismo e Visão Baseada em Recursos: Uma Nova


Perspectiva de Análise
O artigo faz uma análise sobre como a vantagem competitiva de uma organização é criada e
sustentada. Nessa dinâmica, o estudo aborda algumas interfaces interessantes, porém, ainda pouco
exploradas nesse universo, como os elementos chaves Visão Baseada em Recursos.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

VRIO: Vantagem competitiva sustentável pela organização


O estudo aborda teorias explicativas do desempenho superior de organizações, em torno de
questões sobre o valor, a raridade e a imitabilidade. Além disso, o estudo discute maneiras de como
estimular o desenvolvimento da criatividade, inovação etc. no ambiente organizacional.

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Recursos competitivos no empreendedorismo internacional:


uma análise qualitativa em empresas exportadoras
O estudo analisa quatro casos de empresas que tem procurado identificar e potencializar os seus
recursos competitivos como forma de alcançarem a vantagem competitiva em seus respectivos
mercados de atuação. O estudo identificou que os recursos conhecimento, equipe, liquidez, marca,
produção, qualidade e relacionamentos são os que se destacam nos resultados.
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